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Abraham Shapiro

PARENTE COMPETENTE
Uma empresa familiar costuma virar cabide de emprego de parentes. Será isto certo?
A resposta não é fácil, nem simples. Há situações e situações. Não se pode
generalizar. Um parente pode superar as expectativas e fazer os negócios irem além
do que conseguiria seu fundador de sucesso. Outras vezes – por falta de aptidão,
capacidade e habilidade – herdeiros e familiares dilapidam patrimônio de esforço
sobrepujante.
Havia uma empresa tradicional, que cresceu e enriqueceu no interior, onde as coisas
estavam apertadas para o gerente de RH. Ele tinha um trabalho colossal, e não
conseguia atingir os resultados esperados.
Após  longos e rigorosos processos de seleção ele via seus esforços invalidados
pelos caprichos do proprietário e  fundador, um chefe centralizador e sabe-tudo, cujo
hábito consistia em desqualificar qualquer funcionário contratado. Ninguém era bom
para ele.
Certo dia, diante da necessidade de contratação de um novo gerente comercial e
sabendo que todas as tentativas acabariam em nada, o RH levou um determinado
currículo para apreciação do patrão. Este não poupou as piores críticas. Declarou que
o candidato não tinha perfil sequer para atuar como auxiliar de escritório na empresa,
e que jamais aceitaria alguém com formação tão medíocre.
Neste momento, o RH declarou algo que o deixou atônito. Disse ao arrogante patrão
que o currículo em foco era de seu filho, diretor de vendas há três anos. Apenas o
nome havia sido trocado por pura necessidade de ajustar definitivamente a visão de
ambos, já que todos os critérios de seleção adotados nunca atendiam às expectativas
do diretor.
A verdade a ser perseguida nestes dias pós crise – e talvez às portas de uma nova
grande crise mundial – é que nunca a necessidade por competências reais e “bem
afiadas” foi tão crucial como hoje na gestão dos negócios. Observe o caso da fraude
bilionária que pôs abaixo o império financeiro construído por um personagem
importante da mídia brasileira, há poucos meses. É um exemplo típico. A demissão de
parentes do tal empresário, incluindo sua mulher, à direção do banco que geria
grande parte de um patrimônio de dácadas foi a base da complicada proposta de
recuperação. Todas as saídas estudadas para solução do impasse têm como ponto
comum o fim do nepotismo, já que, na maior parte das vezes, a relação entre
parentesco e competência é muito improvável.
Um dado muito simples complementa minha breve análise. Ele é emitido pela mais
conhecida e respeitada consultoria em empresas familiares do país: "As empresas
familiares dominam o mundo dos negócios e são também as que concentram os
maiores problemas. Pesquisa revela que 65% das falências ocorrem por conflitos
entre os membros da família e 87% por inépcia dos herdeiros, e não por problemas
com o mercado”.
Preciso dizer mais alguma coisa?
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Escreve às segundas-feiras na Folha de
Londrina. shapiro@shapiro.com.br

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