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INTERCESSÕES
Huub Oosterhuis
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os que, sofrendo os reveses da vida, buscam uma solução em Deus,
desejando aplainar os seus caminhos pela Palavra do Senhor.
Aos necessitados, amados de Jesus, que esperam visualizar uma luz no final do túnel.
Aos que, apesar de ventos e tempestades, continuam com seus pés firmes na Rocha Eterna,
Jesus Cristo, que pode levá-los a um lugar seguro.
Aos que estão no fundo do poço e ainda crêem que ali existem águas abundantes, suficientes
para trazê-los de volta à terra firme.
Uma noite, após orar com os meninos e deixá-los dormindo, entrei naquele quarto
cheio de móveis e caixas, onde havia somente um espaço para se ficar em pé, entre a porta e um
armário. Ali me escondi, colei meu rosto junto ao móvel e falei com Jesus: “Senhor, não resta
em mim condições para dar um passo sequer, nesse vale escuro que estamos atravessando”.
Lágrimas copiosas desciam dos meus olhos e soluços abafados me sufocavam a garganta.
Foi então que o Senhor me envolveu em um êxtase espiritual e tive uma visão
maravilhosa. Vi uma rocha firme, alta. Sobre ela estávamos nós cinco: meu marido e eu
abraçados e nossos filhos agarrados em nossas pernas. Soprava um vento ameaçador,
pavoroso, e nós balançávamos sob a ação de sua força. Chegávamos quase a roçar o chão com
os rostos, porém nossos pés estavam fincados naquela rocha e não podíamos ser lançados fora
e nem despedaçados. Notei que, quanto mais sopravam os ventos, mais nossos pés fincavam
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na rocha, até que fomos totalmente imersos nela. Chegou o momento que não se enxergava
mais nenhum de nós, somente a rocha.
Entendi, naquele momento sublime, que Deus estava conosco nos momentos
angustiantes por que passávamos. Ele tinha um propósito glorioso em toda aquela situação.
Algo haveria de acontecer em nossas vidas e ministério que O glorificaria. Lembrei-me do
texto em Isaías 43.1-3, que diz:
[...] não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando
passares pelas águas estarei contigo; e quando pelos rios, eles não te submergirão;
quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu
sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador.
Como já disse, até hoje essa experiência alenta minha alma e sustenta a minha vida.
Tenho verificado, com certeza, que o homem não “vive só de pão, mas de toda palavra que
sai da boca de Deus”. Como o pão que nos sustenta o corpo, a Palavra de Deus revelada e
aquela que é escrita particularmente em nosso coração, sustenta a nossa fé e esperança de dias
melhores, de vida feliz com Jesus, aqui na terra e, no porvir, no céu de glória que Ele foi
preparar para nós. Minha esperança é que a Rocha apareça e nós sejamos diminuídos,
conforme a visão, e que até o fim de nossas existências possamos colher muitos frutos no
reino de Deus e para a Sua glória.
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AGRADECIMENTOS
- Aos filhos: Eliel, Ariel e Claudio Júnior; às noras Maheli Jaqueline, Geisy Carla e Ariela;
aos netos João Vítor e Ana Vitória, fontes permanentes de inspiração.
- Ao ITEPAR, especialmente o Pr. Luiz César, que tanto favoreceu para atingirmos este ideal.
- Aos pastores e mestres que Deus colocou em meu caminho para o ensino da Palavra, o
aconselhamento e aperfeiçoamento na fé.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10
Metodologia ....................................................................................................................... 11
Objetivos............................................................................................................................. 11
1. A UNIVERSALIDADE DO SOFRIMENTO ...................................................................... 12
1.1. A DÚVIDA UNIVERSAL....................................................................................... 12
1.2. A REALIDADE UNIVERSAL .............................................................................. 12
1.3. TEODICÉIA ........................................................................................................... 14
2. ACONSELHAMENTO PASTORAL ........................................................................ 15
2.1. A atividade conselheira ........................................................................................... 15
2.1.1. Psicologia Pastoral ......................................................................................... 16
2.1.2. Poimênica ....................................................................................................... 17
3. AS PRINCIPAIS RELIGIÕES E O SOFRIMENTO ............................................... 20
3.1. Cristianismo - Catolicismo Romano ........................................................................ 20
3.1.1. A Missa........................................................................................................... 21
3.1.2. A Regra Beneditina ....................................................................................... 22
3.1.2. O Purgatório.................................................................................................... 24
3.2. Budismo ................................................................................................................... 26
3.3. Espiritismo ............................................................................................................... 28
3.4. A filosofia Hinduísta - Os Vedas e o Vedanta ......................................................... 31
3.5. O Movimento Nova Era ........................................................................................... 34
3.6. Islamismo ................................................................................................................. 38
3.7. A visão de Freud (Psicanálise) ................................................................................. 40
4. TEOLOGIAS DA MODERNIDADE X SOFRIMENTO .......................................... 49
4.1. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE ........................................................................ 49
4.2. QUEBRA DE MALDIÇÕES .................................................................................. 53
4.2.1. Maldições hereditárias .................................................................................. 53
4.2.2. Maldições de nomes próprios ....................................................................... 54
4.2.3. Maldições recebidas de terceiros .................................................................. 60
4.3. BATALHA ESPIRITUAL ...................................................................................... 62
4.4. UM FUNDO DE VERDADE .................................................................................. 66
5. O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE O SOFRIMENTO .................................................. 70
5.1. A REALIDADE DA DOR, NO CORPO, NA ALMA E NO ESPÍRITO ............... 71
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INTRODUÇÃO
Por que o homem sofre tanto? Por que Deus permitiu que o sofrimento e a dor
entrassem na vida do homem? Qual a razão do sofrimento? Onde fica Deus quando e
enquanto estamos sofrendo? Por que Deus não nos livra de imediato de todos os sofrimentos?
Que explicações as diferentes religiões dão acerca do assunto? Que resultados o sofrimento
pode trazer no caráter e na personalidade do ser humano? Qual o remédio para mitigar a dor
que enfraquece a carne e dilacera a alma? Haverá um final feliz para o homem sofredor? Qual
a postura cristã diante do sofrimento?
Ou Deus deseja remover o mal deste mundo, mas não pode fazê-lo, ou ele pode
fazê-lo, mas não o quer; ou não tem nem a capacidade e nem a vontade de fazê-lo;
ou, finalmente, ele tem tanto a capacidade como a vontade de fazê-lo. Ora, se ele
tem a vontade, mas não a capacidade de fazê-lo, então isso mostra fraqueza, o que é
contrário à natureza de Deus. Se ele tem a capacidade, mas não a vontade de fazê-lo,
então Deus é mau, e isso não é menos contrário à sua natureza. Se ele não tem nem a
capacidade e nem a vontade de fazê-lo, então Deus é ao mesmo tempo impotente e
mau e conseqüentemente, não pode ser Deus. Mas se ele tem tanto a capacidade
como a vontade de remover o mal do mundo (a única posição coerente com a natureza
de Deus), de onde procede o mal (unde malum?), e por que Deus não o impede?
(CHAMPLIN, 2001, pg.5067)
Estas e tantas outras perguntas afligem o ser humano e nos desafiam todos os dias,
em trabalhos de aconselhamento. Muitos tentam explicar esse dilema com filosofias,
pensamentos, fórmulas, doutrinas, como veremos no decorrer do trabalho. Porém existe
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somente uma fonte fidedigna de onde podemos extrair respostas convincentes e satisfatórias
para tal assunto: a eterna e infalível Palavra de Deus. Como escreveu o apóstolo Paulo: “Toda
a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação em justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente
habilitado para toda boa obra”, 2 Tm 3.16,17.
As formas com que o ser humano reage ao defrontar-se com a dor são fundamentais
para os próximos passos a dar na sua caminhada terrena, bem como essenciais para o seu
encontro com a eternidade. O sofrimento pode contribuir para que o mal se instale
completamente na personalidade do indivíduo, ou pode melhorar sensivelmente o seu íntimo e
aperfeiçoar definitivamente o seu caráter. Tal observação justifica a nossa tentativa de
explicar o sofrimento e buscar o sentido bíblico de sua existência, bem como a maneira
correta de reagir perante a sua realidade.
Metodologia
Objetivos
a) Geral
b) Específicos
1. A UNIVERSALIDADE DO SOFRIMENTO
Como o sol brilha sobre todos, justos e injustos, bons e maus, também as intempéries
atingem a todos: fomes, guerras, terremotos, vendavais, maremotos, abalos sísmicos,
desabamentos, inundações, frio ou calor intenso, o efeito estufa, alimentação prejudicada pelos
inseticidas, afinal, o caótico quadro de desolação que abala o universo. O profeta Isaías teve essa
visão do sofrimento generalizado e dos transtornos sofridos pela terra em sua totalidade. Assim
lemos em 24.1-5a:
Eis que o Senhor esvazia a terra, e a desola, e transtorna a sua superfície, e dispersa
os seus moradores. E o que suceder ao povo, sucederá ao sacerdote; ao servo, como
ao seu senhor; à serva, como à sua senhora; ao comprador, como ao vendedor; ao
que empresta, como ao que toma emprestado; ao que dá usura, como ao que paga
usura. De todo se esvaziará a terra, e de todo será saqueada, porque o Senhor
pronunciou esta palavra. A terra pranteia e se murcha; o mundo enfraquece e se
murcha; enfraquecem os mais altos do povo da terra. Na verdade a terra está
quebrantada por causa de seus moradores.
Além desse quadro pintado pela natureza principalmente pela ação inconseqüente do
ser humano na utilização da mesma, existe a triste realidade dos problemas emocionais,
sentimentais, desajustes familiares, doenças, deformidades, herança genética, acidentes e tudo o
mais que afeta a integridade do ser humano. Tudo isto causa dor, sofrimento, tristeza, vexame.
condições subsistam?”; “Se Deus sabia que o homem sofreria tanto com a tentação do Éden,
por que Ele não impediu, sendo bom e justo em Seu caráter?”.
O clamor é geral: “Por favor, me ajudem!”. O apelo por ajuda indica que existem
pessoas submetidas a muitos sofrimentos, que desejam entender a razão deles em face de um
Deus que é Pai de misericórdia: “Compassivo e misericordioso é o Senhor, paciente e cheio
de misericórdia; o Senhor é suave com o mundo todo, e suas misericórdias se estendem sobre
todas as suas obras”, Sl 144.8-9. Como explicar, então, que Deus permita que soframos? Se
somos Seus filhos e Ele é Todo-Poderoso, por que não impede que a aflição nos atinja? Jó
também perguntava, em seu sofrimento: “Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a
minha transgressão e o meu pecado. Por que escondes o teu rosto, e me tens por teu
inimigo?”, Jó 13.23,24.
O sofrimento é uma realidade tão clara, que a ciência cristã desenvolveu uma área
chamada de Teodicéia, a qual analisa e justifica a aparente discrepância entre a bondade de
Deus e a maldade presente na existência humana.
1.3. TEODICÉIA
Segundo define Champlin, a palavra Teodicéia vem do grego theos (Deus) + dike
(justiça). No uso, ela designa a controvérsia sobre como podemos reconciliar a existência do
mal com a bondade e onipotência de Deus. Leibniz, citado pelo autor, usou o termo pela
primeira vez em 1710. A teodicéia é a “Teoria para justificar a bondade de Deus em vista da
existência de maldade no mundo”. Na teodicéia examinamos e justificamos a conduta de
Deus no mundo. (CHAMPLIN, Dicionário, 2001, p.5067).
O autor ainda expõe que esta palavra também designa o ramo da filosofia que trata
do ser, das perfeições e do governo de Deus e da imortalidade da alma. Sendo muito ampla, a
teodicéia, neste sentido, naturalmente trata do problema do mal, especialmente nas discussões
sobre conceitos do governo divino, mas a primeira definição é aquela que é especificamente
envolvida no problema do mal.
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Portanto, existe um ramo da ciência cristã que trata acerca da existência da dor, do
sofrimento, e o papel que Deus desempenha dentro desse quadro caótico vivenciado pela
humanidade.
2. O ACONSELHAMENTO PASTORAL
Embora existam muitos aspectos em que o trabalho pastoral deve ser direcionado,
como finanças, administração, edificações, contatos com lideranças, o homem e a mulher de
Deus jamais podem se alhear do seu principal desempenho, que é o cuidado com as almas
humanas. O pastor dirige um rebanho - o rebanho do Senhor: “[...] somos o seu povo e o
rebanho do seu pastoreio”, Sl 100.3c. Como disse Paulo em 1 Co 3.9: “Somos cooperadores
de Deus”. E Pedro: “Quanto a nós (os pastores), nos consagraremos à oração e ao ministério
da palavra”, At 6.4.
costumam avisar quando aparecem. Elas são reais, palpáveis, e precisam de soluções
plausíveis ou, pelo menos, sustentáveis para o coração sofredor.
O referido pastor admite que a psicologia pastoral tenha surgido num momento
oportuno, no qual se observa um fracionamento crescente da psicologia em escolas
psicoterapêuticas as mais diversas, cada uma com premissas, métodos e objetivos diferentes,
sendo que a psicanálise de C. G. Jung, a terapia centrada no paciente de Carl Rogers e mais
recentemente a logoterapia de Victor Frankl são as escolas que mais têm encontrado
ressonância nos meios eclesiásticos e poimênicos.
E não será com atitudes arrogantes e auto-suficientes de lado a lado que iremos
avançar na tarefa comum de curar males. Isso não significa, por outro lado, diluir
diferenças e deixar de apontar com clareza e objetividade crítica as limitações, as
possibilidades e as características de cada uma dessas disciplinas [...] Neste nosso
mundo globalizado, se faz cada vez mais necessário o diálogo interdisciplinar,
visando ao bem-estar de todos os homens e do homem como um todo.
As pessoas procuram ajuda pastoral nas mais diferentes situações de suas vidas. No
caso específico da depressão, p.ex., chamada “a doença do século”, a psicologia pastoral tem
uma contribuição importante a dar. Diz o Pr. Waldir:
Isto significará a mudança, de uma rotina ocupada, externa e ritualística, para uma
participação interna do genuíno sofrimento humano, empático. Ao invés de trabalhar
para o seu povo, trabalhará com ele, e, em lugar de meramente tentar fornecer
respostas, ajudará as pessoas a formularem as próprias perguntas. Ao invés de
simplesmente lhes indicar o caminho, ele caminhará juntamente com elas. E quando
o horizonte subitamente enegrecer de vaticínios realísticos, ele não se limitará a
incentivar, piedosamente, o seu rebanho a prosseguir, mas marchará na escuridão
com ele e fará cintilar qualquer pequenina luz que em si haja. Estas novas
percepções da parte do servo que ministra, redundam no estabelecimento de novas
relações. E quando o ministro começar a perceber as dimensões mais profundas do
seu ministério, começará a colocar-se dentro destas significativas relações e a operar
reverentemente naqueles níveis. (MANNÓIA, Aconselhamento Pastoral, Prólogo, p.
12, 1995).
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2.1.2. Poimênica
Poimênica é uma relação que se dá entre o Pastor e a pessoa interessada: (1) que
deseja conversar sobre os seus problemas, conflitos e dificuldades; (2) que tem necessidade de
avaliar o sentido de sua existência; (3) que busca uma motivação espiritual para si mesma. A
poimênica se dá pela dinâmica da conversação entre o Pastor (ou o Conselheiro) e a pessoa
que busca um acompanhamento espiritual. Essa conversação se caracteriza por
acompanhamento individual ou, em casos especiais, por acompanhamento grupal, encontros
regulares, previamente agendados, e por sigilo absoluto.
A comunidade cristã atua num contexto ambivalente: por um lado ela acolhe as
mudanças vertiginosas que o desenvolvimento produz, como novas possibilidades de
atualização da fé cristã no mundo e, por outro lado, acolhe, de forma perplexa, as sombras
deixadas por essas mudanças vultosas. A poimênica é o ato de acolhimento por parte da
comunidade cristã das pessoas expostas a essas mudanças. Isto significa, entre outras coisas,
ajudar as pessoas a alcançarem o equilíbrio psíquico, em seu sentido cognitivo, emocional e
comportamental, diante dos desafios que lhes são impostos pelas mudanças.
constituição de uma “consciência relacional”, onde a pessoa, pelo convívio cristão e a comunhão
com Deus, encontrará um novo motivo para viver, criando um novo universo referencial.
O Pr. Russel Shedd (internet) analisa que o fato de a vida não ser fácil para a maioria
das pessoas confunde a cabeça de ímpios e cristãos. Para os que não acreditam que Deus, se
existe, interessa-se pelo que passa na vida dos homens, o sofrimento atinge as pessoas por
acaso. “Não tem propósito”. Se um indivíduo sofre em acidente ou é acometido por uma
grave doença, que provoca dores terríveis e constantes, ele suporta tudo porque não tem
escolha. Se decidir, por força de vontade, aceitar o mal e conviver com o sofrimento que lhe é
imposto, o benefício é difícil de abraçar. A esposa de Jó, o grande homem de Deus, disse, em
momento de intenso sofrimento: “Amaldiçoa a Deus, e morre!”, Jó 2.9.
acerca do sofrimento (em razão de este ter apenas a Bíblia como sua regra de fé e prática,
dispensando os “dogmas” do catolicismo e os livros chamados “apócrifos”).
3.1.1. A missa
O simples fato de estar presente à missa traz muitos benefícios para o indivíduo.
Assim se expressou Agostinho de Hipona:
Na hora da morte, as Missas, às quais tiveres assistido, serão a tua maior consolação.
Um dos fins da Santa Missa é alcançar para ti o perdão dos teus pecados. Toda
Missa implora o teu perdão junto da justiça divina. Em cada Santa Missa, pois,
podes diminuir a pena temporal devida aos teus pecados - pena essa que será
diminuída na proporção do teu fervor. Será ratificada no céu a benção, que do
sacerdote receberes na Santa Missa. Assistindo a Santa Missa com devoção, prestas
a maior das honras à Santa Humanidade de Jesus Cristo. Ele se compadece de
muitas das tuas negligências e omissões. Perdoa-te os pecados veniais não
confessados, dos quais, porém, te arrependes; preserva-te de muitos perigos e
desgraças que te abateriam. Diminui o império de satanás sobre ti mesmo. Sufraga
as almas do Purgatório da melhor maneira possível. Uma só Missa a que houveres
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assistido em vida, será mais salutar que muitas a que os outros assistirão por ti
depois da morte, pois pela Missa participas da Paixão, morte e Ressurreição de Cristo.
Encontramos na internet um relato de algumas “visões” que o Padre Reus teve acerca
da celebração da missa, as quais ele chama “A festa no céu”. Nas tais visões, sempre que a
missa é celebrada, Maria vem, com um cortejo de anjos, até o altar. Os santos canonizados
formam um semicírculo ao redor do sacerdote celebrante e o acompanham até o altar e ficam
atrás dele durante todo o ofício da missa. Outra multidão de anjos cerca os assistentes da
missa, para impedir a penetração de demônios. Ao lado do sacerdote está Maria e ela é quem
o serve e lava as suas mãos. Entre ela e o sacerdote é convidado o santo do dia para se
aproximar do altar. Maria convida todas as almas do purgatório a permanecerem durante a
missa aos pés do altar, entre o celebrante e os assistentes. Segundo o Padre Reus, uma chuva
cai sobre o purgatório, “abençoando” as almas presas ali, durante a missa. Estas, quando vêem
o Senhor Jesus no ato da transubstanciação, desejam sair “das chamas do purgatório” e se
atirar em Seus braços, mas não conseguem por não estarem ainda purificadas. Após a
consagração, acontece a libertação do purgatório, das almas que já atingiram a purificação, e é
Maria quem as autoriza a “subir para o céu”.
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Esta é uma tremenda fantasia, que diviniza a missa ao ponto de esse ritual, ao ser
praticado, trazer para os homens alívio, cura, perdão, proteção e outros benefícios que a
pessoa necessita. O simples fato de participar desse ato já abençoa a pessoa. Sabemos
perfeitamente que a mera realização de um culto a Deus não traz nenhum benefício ao
assistente, se ele não for um verdadeiro adorador. A Bíblia é farta em relatos de pessoas
abençoadas, transformadas e libertas de suas dores, mediante a fé e a adoração a Jesus Cristo.
É a “pessoa” de Cristo, e não de Maria e dos “santos”, que está presente não só nos atos do
culto, mas “todos os dias da nossa vida”, que nos garante a vitória (Mt 28.20).
Assim, nunca nos afastando de Deus, nosso Mestre, e cada dia perseverando no
mosteiro até a morte, continuaremos a fazer o que Ele nos ensina. E assim, pela
paciência, participaremos dos sofrimentos de Cristo e mereceremos assim estar com
Ele em seu reino. Amém.
Para Bento (529 d.C.), autor da Regra Beneditina, jamais se alcança a felicidade sem
enveredar pelo caminho que o próprio Cristo tomou, que é o da cruz. Pela cruz se vai à
ressurreição. Aos postulantes que se apresentam ao mosteiro, é necessário, segundo Bento,
ensinar desde o início os dura et aspera pelos quais se vai a Deus. Isto inclui a auto-
flagelação, o recolhimento solitário, a pobreza determinada, a aceitação do sofrimento (até
mesmo o auto-infligido) como extremamente necessário para alcançar a felicidade eterna.
No texto em que Bento expressa sua teologia do sofrimento, podemos separar dois
tópicos. O primeiro é o capítulo 36, sobre o cuidado a dar aos irmãos enfermos. Neste
capítulo, Bento manifesta que é preciso ser paciente com os doentes, mesmo quando eles se
tornam difíceis de trato ou exigentes. Pois eles foram assimilados a Cristo, participando em
sua própria carne dos sofrimentos do Senhor, o qual aí está neles presente de um modo todo
especial. Pelo sofrimento, o enfermo é melhorado em seu caráter cristão e o que lhe presta
cuidados alcança créditos na eternidade.
No capítulo 72, Bento exorta sobre o bom zelo dos monges, já que outra forma de
enfermidade é a do caráter. Ele fala de início de duas formas de zelo. Há um zelo mau e
amargo, que separa de Deus e conduz para longe dele para sempre.
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Cada vez que nos sentimos amargos, devemos temer e rezar a Deus para que ele nos
livre deste amargor, pois ele separa de Deus e nos separa também da comunhão com os
outros e conduz ao inferno, pois o inferno é a ausência de comunhão com Deus e com os
outros.
Ele admite também um “bom zelo”, aquele que leva a Deus e à vida eterna, isto é, à
vida de eterna comunhão com Deus e com os outros. E, certamente, este é o zelo que os
monges devem desenvolver com um amor fervoroso: “Cada um desejará ser o primeiro a mostrar
respeito por seu irmão”. O bom zelo que conduz a Deus consiste então, primeiramente, em se
respeitar mutuamente. Este respeito começa pelas boas maneiras; mas exige muito mais. Consiste,
diz Bento, de “suportar com muita paciência as fraquezas dos outros, as do corpo e as do caráter”
e a “se obedecer mutuamente de todo coração”. Assim o homem alcança as bênçãos eternas por
seus próprios méritos.
Para o catolicismo a expiação deve ser feita aqui na terra, através dos sofrimentos,
misérias e julgamentos desta vida e, acima de tudo, através da morte. Mas deve ser feito
também no além, depois da morte.
3.1.3. O purgatório
O cristianismo papista ensina que, se não houver purificação durante a vida, por meio
principalmente das boas obras, a expiação deve ser feita após a morte através do fogo e
tormentos, ou castigos purificadores. Os que se destacam pelas boas obras são “canonizados”
ou declarados “santos”, com o poder inclusive de receber adoração! Os demais são colocados
debaixo do estigma de um futuro aterrador no fogo intermediário. As razões de sua imposição
são que nossas almas necessitam ser purificadas, a santidade da ordem moral precisa ser
reforçada e a glória de Deus deve ser restaurada à sua completa majestade. Para isso criaram o
“purgatório”, um lugar de tormento e purgação dos pecados.
Florença. Esta doutrina aumentou muito o poder da Igreja sobre os seus membros e
acrescentou grandemente os seus lucros. A ameaça do purgatório mantém os católicos
subjugados, os quais vão dando repetidas ofertas à Igreja, por meio de missas e ofícios, em
troca da sua ajuda em retirá-los desse lugar de tormento. Uma aceitação passiva de um
sofrimento pós-morte, com aceitação também passiva do uso de numerários, tanto em vida,
como depois pelos vivos a eles relacionados, a fim de diminuir a sua pena!
Esta cláusula admite que o sofrimento humano aqui neste mundo é necessário para
pagar o débito do pecado cometido. Após decisão no Concílio de Trento, o Catolicismo
ensina que enquanto a morte de Cristo tornou possível o perdão dos pecados, o pecador
perdoado deve sofrer após a morte uma pena indefinida ou tormento de intensidade e duração
desconhecidas a fim de ser purgado e então ficar pronto para entrar no céu.
A Igreja oferece o sacrifício pascal pelos mortos de modo que [...] os mortos possam
ser auxiliados pelas orações e os vivos consolados pela esperança. Dentre as missas
pelos mortos está a Missa de Corpo Presente que tem a maior importância [...] Uma
missa pelos mortos deve ser celebrada logo que chega a notícia da morte [...].
(Código de Lei Canônica).
Não bastam os sofrimentos terrenos, para os quais nem sempre a igreja dá solução,
uma vez que apresenta uma gama enorme de “santos” que devem ser buscados para operação
de milagres, o purgatório promete uma continuidade à dor, como meio de purgação dos
pecados. Assim, não há uma libertação dos pecados na terra, invalidando a obra de Cristo e
contrariando o ensino da Palavra. Também não há uma solução única em Cristo, uma vez que
o rol de “santos” é mais ou menos como os especialistas médicos: cada qual cuida de uma
parte do corpo humano ou da atividade humana. Descobrir qual “santo” atua em determinada
área, é outro “sofrimento”.
3.2. BUDISMO
- O sofrimento comum é aquele que todos enfrentam: nascimento, velhice, doença, morte,
associação com pessoas e condições indesejáveis, separação dos entes queridos e das
condições agradáveis, frustrações, tristezas, lamentações e tensões.
A primeira nobre verdade baseia-se na palavra páli “dukkha”, que, em seu uso
comum, significa “sofrimento”, “dor”, “tristeza”, ou “miséria”. Consiste na tomada de
consciência de que os problemas são reais e deve-se buscar uma saída para a sua solução. Esta
verdade lembra a “roda viva de sofrimentos e renascimentos sem fim”, que os budistas
chamam da Roda da Vida ou Samsara. Admitindo a verdade da existência dos sofrimentos,
Buda apregoa que os homens devem despertar para essa realidade, não a vendo como natural
e impossível de mudança, mas procurando buscar a libertação mediante a constatação realista,
imparcial e objetiva da situação vivenciada.
A maioria dos budistas acredita que uma pessoa tem centenas ou milhares de
reencarnações, todas trazendo aflição. É o desejo por felicidade que causa a reencarnação da
pessoa. Conseqüentemente, a meta de um budista é purificar o seu coração e ver-se livre de
todos os desejos. O budismo fornece algo que é verdadeiro na maioria das religiões:
disciplina, valores e diretrizes pelos quais a pessoa possa viver melhor. Para Buda, o alcance
da sabedoria conduz ao fim do sofrimento. A Sabedoria ou Pañña corresponde à compreensão
das Quatro Nobres Verdades e também das Três Características da Existência, que são: (1)
todos os fenômenos condicionados são “impermanentes”; (2) todos os fenômenos
condicionados são impessoais, carecem de um “eu”; (3) o apego dos desejos por todos os
fenômenos impermanentes leva ao sofrimento ou insatisfatoriedade.
Concluindo, aderir aos preceitos morais e éticos (“sila”), é essencial para a proteção
da pessoa e do seu próximo. Tais preceitos se resumem contra o homicídio, o roubo, a má
conduta sexual, a mentira e a ingestão de substâncias tóxicas. A Lei do Karma ensina que a
responsabilidade dos atos é de quem os realiza: para cada evento que ocorre, ocorrerá outro
evento cuja existência foi causada pelo primeiro e este evento será agradável ou desagradável
conforme suas raízes sejam benéficas ou não. Tais princípios de “bem viver” também
constam em muitas páginas da Bíblia Sagrada, porém o Budismo deixa um vácuo enorme
entre o homem e o Seu Criador, que bem o conhece e tem todo poder para atuar em sua vida
segundo a sua real necessidade e possibilidade.
3.3. ESPIRITISMO
ego é a soma dos muitos defeitos psicológicos que vivem no mundo interior do homem, e que
foram criados e são alimentados inconscientemente por ele mesmo.
Eles definem que, no antigo Egito o ego era referido como os “demônios vermelhos
de Seth” aos quais Osíris deveria combater. No Bagavad-Gita o “ego” são os “parentes” com
os quais “Arjuna” teria que travar terríveis batalhas. Na mitologia o ego é, entre outros
simbolismos, representado pela Medusa, causadora de todo tipo de sofrimento aos homens e
que é decapitada pela espada de Perseu. Na religião, reconhecem o ego nos chamados pecados
capitais: luxúria, ira, inveja, cobiça, gula, preguiça e orgulho. Enquanto o homem mantiver
em seu interior essa natureza inumana, será criatura limitada, inconsciente, sofredora e vítima
das circunstâncias.
O corpo astral ou perispírito é o corpo invisível e que modela o tipo: alto, magro,
sadio ou enfermo. Na gravidez o espírito é ligado ao feto e daí passa a comandar o crescimento,
ficando ligado pelo “cordão de prata” até a morte do corpo físico. Toda distorção no psiquismo
e deformações no corpo astral do passado aparecem logo após a reencarnação, à medida que o
espírito se apossa do corpo físico. Para os tais, “a medicina, a ciência material e as religiões
ignoram quase por completo os elos do passado”.
Eles têm explicação para tudo. O punhal fatídico ou o tiro mortal que dilacera o
coração do trânsfuga da vida humana cria-lhe em nova encarnação incurável lesão cardíaca a
torturá-lo incessantemente com a ameaça da morte.
Como o homem tem que purgar as suas deformidades por meio das reencarnações, os
espíritas encaram as dores como elementos vitais para a conquista da felicidade futura. As
“reencarnações” como meio de aperfeiçoamento possuem o mesmo objetivo do “purgatório”
católico: “melhorar o homem pecador”, a fim de que possa ter felicidade perfeita na
eternidade do “outro lado da vida”.
Para as ações sem intenção, tais como caminhar, dormir, respirar, não existem
conseqüências morais, portanto elas constituem um karma neutro. As ações prejudiciais que
devem ser evitadas estão relacionadas com as chamadas três portas da ação, que são: corpo,
mente e voz. Existem três ações prejudiciais do corpo, quatro da voz e três da mente. As três
ações prejudiciais do corpo são: matar, roubar e comportamento sexual impróprio. As quatro
ações prejudiciais da voz são: mentir, discurso cruel, calúnia e fofoca maliciosa. As três ações
prejudiciais da mente são: avareza, raiva e ilusão. Evitando-se estas dez ações prejudiciais as
pessoas podem evitar as suas conseqüências similares.
A alma é a única coisa que importa, pois um dia será livre do ciclo da reencarnação e
descansará. Para se ver livre desse ciclo, o hindu acredita que existem três caminhos
possíveis: 1. Ser devoto afetuoso de qualquer um dos deuses hindus (podendo ser até um
animal); 2. Crescer em conhecimento através da meditação de Brahma (identidade), a fim de
compreender que as circunstâncias da vida não são reais, que a individualidade é uma ilusão e
somente o Brahma é real; 3. Ser dedicado a várias cerimônias e ritos religiosos,
principalmente a prática da yoga.
de inúmeras misérias (duhkalayam). Esta é a compreensão a priori que se deve ter sobre o
mundo, para abolir falsas esperanças e ilusões quanto a este. Todos os seres nascem confusos
e iludidos pelo prazer e pela dor. São forçados a envelhecer, adoecer e morrer. Seus planos
são frustrados pela natureza material, seus apegos arrancados e seus medos, muitas vezes
realizados. Este mundo é o samsara, o ciclo de nascimentos e mortes.
Os Vedas apregoam que o sofrimento é inevitável. Pode ser causado pelo corpo ou
pela mente humana, por outros seres vivos, ou por fenômenos naturais que estão além do
poder individual. O mundo constitui o inferno, e os homens formam, em parte os
atormentados, e noutra, os demônios. Reconhecendo tal característica e vivenciando-a, a
pessoa pode começar a se interessar em buscar o Absoluto. O papel da filosofia dos Vedas é
conduzir os homens à mais perfeita saúde do espírito e à conseqüente felicidade que dela
advém, dando-lhes o conhecimento do funcionamento da “máquina do mundo”.
na esperança de atingir uma casta mais elevada. O mundo físico é uma ilusão: no mundo
tridimensional, designada de maya, o homem e sua personalidade não passam de um sonho.
Para se ver livre dos sofrimentos (pagamento daquilo que foi feito na encarnação
passada), a pessoa deve ficar livre da ilusão da existência pessoal e física. Através da yoga e
meditação transcendental, a pessoa pode transcender este mundo de ilusões e atingir a
iluminação, a liberação final. O hinduísmo ensina que a yoga é um processo de oito passos, os
quais levam à culminação da pessoa transcender ao universo impessoal, no qual o praticante
perde o senso de existência individual. A salvação do homem consiste na liberação do ciclo
de reencarnações e na fusão final com Deus, de quem emana. Assim, o destino do homem não
depende de nenhum dos seus deuses, mas do esforço pessoal (incluindo a prática do sacrifício
aos deuses, até mesmo dos próprios filhos).
O que dificulta a aceitação da doutrina hinduísta, bem como de todas as que admitem
a reencarnação, é a constatação da pobreza e miséria que assola a terra, principalmente as
regiões onde elas são professadas. Quanto mais o tempo passa, mais aumenta a criminalidade,
os desvios de personalidade, a violência, os prejuízos ecológicos. Se a reencarnação é para a
melhoria da pessoa, como entender o quadro caótico por que passa a humanidade?
Muito disseminado nas últimas décadas, o Movimento Nova Era (MNE) tem trazido
uma variedade enorme de doutrinas acerca da origem, razão e formas de vencer o sofrimento.
Altamente eclética, panteísta e monista, a Nova Era apresenta-se como uma coleção de
tradições espirituais antigas. Na verdade ela conseguiu reunir conceitos e crenças milenares
que colocam em confronto a verdade bíblica. Reconhece vários deuses e deusas, como o
hinduísmo. A Terra é vista como a fonte de toda espiritualidade e tem sua própria inteligência,
emoções e divindade. Mas acima de tudo está a existência do Eu, que é o criador, o
controlador e o deus de tudo. Não existe realidade fora do que a pessoa determina.
da natureza, de cores, aromas, uso de símbolos, enfim, práticas esotéricas múltiplas, até
mesmo a bruxaria.
A essência floral da Glassy Hyacinth [...] traz consolo para aquele que viveu ou vive
situações pessoais de extrema dor, trauma, devastação e de profundo desespero e
sofrimento, mesmo quando essa não tenha sido uma experiência pessoal e sim
originária do testemunho da dor coletiva de povos assolados pela violência, miséria
ou pela guerra [...] ajuda-nos na re-conexão com nosso Eu Superior [...] ajudando-
nos a renunciarmos à dor, ao sofrimento que carregamos dentro de nós e que nos
impede de seguir em frente, para renascermos para a vida com uma nova e
inigualável força.
Diz a autora que estudar sobre essa flor levou-a a meditar mais profundamente sobre a
natureza da vida na Terra, onde existem grandes forças de criação ou construção da vida em
ação, sendo que parte dessa força é instintiva. Para ela, as forças de criação põem em luta outras
energias poderosas e primais para construir a vida ou estabilizá-la. Até mesmo o caos
provocado por intempéries diversas do tempo, traz a pacificação e o surgimento de algo novo,
muitas vezes completamente metamorfoseado. Estas forças construtoras utilizam-se dos
parasitos, vírus, bactérias, dos elementos físicos e etéreos da natureza, da perfeição e da
36
imperfeição humana, para criar e recriar vida. Quando em ação em oposição à vida humana
temporária e perecível geram desastres, mudanças, mortes, que vivenciamos como sofrimento.
decidindo sobre alguns caminhos de sua vida. Assim a aprendizagem do livre arbítrio se
instala, e a consciência do amor como fonte de construção da vida surge, mas as leis de ação e
reação ainda estão presentes, mesmo que de forma menos violenta.
Os conflitos internos entre o bem e o mal, tomam corpo e são vivenciados com
bastante intensidade, sendo fonte de muita dor mental, emocional e espiritual chegando, às
vezes, a minar as forças físicas. O desafio aqui é não se ater ao mal, mas desenvolver o bem.
Bem mais amadurecido, desenvolvendo o amor amplamente, em conjunto com a expansão de
sua consciência, torna-se o homem livre através do uso do livre arbítrio e chega ao ponto onde
o sofrimento na Terra, quando ocorre, tem sempre o cunho de escolha pessoal, de missão em
prol da humanidade, onde ensina aos demais, lições preciosas.
Da mesma forma que a Glassy Hyacinth, que para surgir em seu esplendor precisa
antes encontrar um solo que tenha passado por uma grande devastação, onde forças
criadoras da vida tenham travado uma luta intensa, também o homem encontra um
solo propício nesta Terra, onde as forças divinas criam possibilidades para que nós
alquimicamente transformemos nossa natureza humana de bestas ou feras em anjos e
possamos deixar que nossa alma humana floresça em todo seu esplendor.
Não temos noção de como uma simples fragrância pode mudar um homem em toda a
sua essência, acabar com o seu sofrimento e eliminar suas dores, mas como a Nova Era crê na
teoria da reencarnação, no samsara, no karma e no darma, acabam por explicar essa doutrina
da mesma maneira que o espiritismo e outras seitas o fazem. Assim, o homem é o dono do seu
próprio sofrimento e o responsável único para o fim do mesmo. Só fica difícil explicar porque
o justo sofre, porque o bom passa por diferentes provações, como Jó, os apóstolos do Senhor
Jesus e tantos outros mártires que passaram pela terra. Se as pessoas justas e boas são frutos
de reencarnações e já estão em fase final de aperfeiçoamento, que resposta dar a elas quando
são atingidas pelas intempéries da vida? Se tais religiões não possuem respostas satisfatórias,
a Bíblia o faz, como veremos nos próximos capítulos.
3.6. ISLAMISMO
Os muçulmanos acreditam que haja um Deus todo-poderoso, chamado Alá, o qual é
infinitamente superior e transcendente à espécie humana. Alá é visto como o criador do
universo e a fonte de todo o bem e de todo o mal. Tudo o que acontece é a vontade de Alá. O
relacionamento de um seguidor com Alá é o de servidão. Ele é um juiz severo e poderoso, o
qual será misericordioso com os seguidores, dependendo do quão suficiente forem suas boas
obras e sua devoção religiosa.
Ramadã), jejuar comida, bebida, sexo e fumo desde o nascer do sol até o pôr do sol; 5. Uma
vez na vida peregrinar até Meca e adorar no lugar santo. Ao morrer - baseado na fidelidade desta
pessoa para com esses deveres - o muçulmano tem a esperança de entrar no Paraíso, um lugar de
prazeres sensuais e permanentes bacanais. Se não, eles serão punidos no inferno eternamente.
interrompendo suas obrigações, o Cristianismo ensina seus adeptos a “orar sem cessar”, a
estar sempre meditando na lei do Senhor e a manter seu espírito em comunhão permanente
com Deus, o qual pode aliviar em todos os momentos a sua alma das aflições cotidianas.
Não é necessária muita perspicácia analítica para supor que Deus e o demônio eram
originalmente idênticos - uma figura única que foi mais tarde partida em duas figuras
com atributos opostos [...]. Assim, o pai, ao que parece, é o protótipo individual tanto de
Deus como do Demônio. (id, p.25).
Para Freud, Deus não criou o mundo num ato de amor, mas sim de castigo, portanto,
“não há nenhum Deus, nenhuma natureza bondosa”. O psicanalista diz que o mundo e a
humanidade seriam frutos do caos e do acaso descuidado que provoca um instável sofrimento.
Recorrendo à obra de Freud podemos compreender melhor este desalento de existir. Ao falar
sobre técnicas para afastar o sofrimento, o pai da psicanálise acaba por concluir: “Não cria
uma armadura impenetrável contra as investidas do destino e habitualmente falha quando a
fonte de sofrimento é o próprio corpo da pessoa”. (Id, Ibid, p. 29).
A pergunta lançada por Freud depois de colocar a tecnologia como contrária aos
efeitos benéficos da seleção natural também nos diz muito sobre o assunto: “Enfim, de que
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nos vale uma vida longa se ela se revela difícil e estéril em alegrias e tão cheia de desgraça
que só a morte é por nós recebida como libertação?”. (Id, ibid, p. 40).
Como conseqüência ao seu desafeto pelo Deus Criador, Freud despreza as criaturas,
e principalmente o homem, que foi feito à sua imagem e à sua semelhança, como ele próprio
confessa numa carta a Lou Andreas-Salomé: “uma certa indiferença pelo mundo. (...) Nas
profundezas do meu coração, não posso deixar de me convencer de que meus queridos
irmãos homens, com poucas exceções, são destituídos de valor”, (WEBSTER, p. 297, 1999).
E ainda, como escreve Freud ao amigo e seguidor, o ministro protestante Oskar Pfister:
Não quebro demais a cabeça sobre o bem e o mal, mas tenho encontrado poucas
coisas ‘boas’ nos seres humanos em geral. Em minha experiência, a maioria deles é
lixo, não importa se publicamente aceitam essa ou aquela doutrina ética, ou
nenhuma [...] Se formos falar de ética, aceito um ideal elevado do qual a maioria dos
seres humanos que encontrei lamentavelmente se desvia. (Id, p.298).
Além do fato de Freud, segundo autores e biógrafos, ter sido influenciado por
escritores e poetas ateus e racionalistas, Webster (1999) aponta como outro ponto importante,
que contextualiza a psicanálise, o fato de que “... no final do século XIX, as ‘verdades’ das
religiões foram sendo cada vez mais desacreditadas, (...) começou a surgir uma aguda
necessidade de teorias seculares da natureza humana”, (p. 22). Dentre estas novas teorias
seculares o autor aponta a psicanálise e a antropologia estrutural, como dois exemplos de
doutrinas religiosas contemporâneas.
[...] O objetivo da luta empreendida por Freud durante toda a sua vida resume-se em
ajudar-nos a adquirir uma compreensão de nós próprios, de modo que deixássemos
de ser impelidos por forças que nos eram desconhecidas (p. 28) [...] A história da
Psique pode ter sido especialmente atraente para Freud porque ele teve de entrar no
Inferno, e aí recuperar algo antes de poder atingir sua apoteose. Freud também tinha
que se atrever a penetrar nas profundezas tenebrosas - em seu caso, as da alma - para
obter sua revelação. (p. 25).
42
Nas palavras da autora: “Não há dúvida de que Freud acreditava que sua missão era
tão importante quanto à de Moisés e de que ele se identificava total e explicitamente com o
patriarca” (p. 175). Ela cita parte de uma carta que Freud escreveu a Jung em 17.01.1909:
“Nós certamente estamos tendo êxito, se sou Moisés, então você é Josué e irá se apossar da
terra prometida da psiquiatria, que eu apenas vislumbrei à distância”. (RIZZUTO, Freud e
Jung, 1974, p. 196 - 197).
Freud passou à Jung a árdua tarefa de conduzir sua doutrina e seu povo, pois assim
como Josué, Jung seria fiel, forte e corajoso. Nas palavras do discípulo: “Ainda me lembro do
entusiasmo com que Freud me disse: - Meu caro Jung prometa-me jamais abandonar a
teoria sexual. De todas, é a coisa mais crucial. Veja, temos de fazer dela dogma, um baluarte
inabalável”. Max Graf, participante da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, colocou: “Eu
era o apóstolo de Freud, que era meu Cristo!”.
Não sei se você percebeu o vínculo oculto entre Análise Leiga (1926) e O Futuro de
uma Ilusão (1927). No primeiro livro, quero proteger a análise dos médicos e, no
segundo, dos padres. Quero confiá-las a uma profissão que ainda não existe, uma
profissão de pastores seculares de almas, que não têm por que ser médicos e não
devem ser sacerdotes. (BETTELHEIM, p. 50).
A realidade que, segundo Freud, transcende toda a natureza, somente pode ser
compreendida pelas “livres associações” e os sonhos. Isto é, o ID deixa emergir seus
43
conteúdos para o EGO, “deixando transparecer essa realidade mágica que liga o homem a
toda humanidade”. A psicoterapia psicanalítica é apresentada como a única saída para
conhecer a realidade psíquica:
Segundo Freud, o homem pode se iludir com um prazer parcial, mas a plenitude, a
união com o absoluto lhe foi negada, quando a inteligência calou o saber natural intuitivo; o
homem, depois disto, viveria uma grande ilusão, deixando-se levar pelas falsas ambições do
ego e pelas aparências falseadas que a nossa inteligência captaria do mundo externo.
Demonstrando doutrinas agnósticas, ele defende que o Demiurgo (criador), ao criar cada
homem único, inteligente e diferente, lançou uma maldição sobre a humanidade:
44
O homem foi lançado numa errância, já que não dispunha mais do sinal inequívoco
do objeto anteriormente natural e adequado. Com isto, a satisfação tornou-se
impossível, pelo menos enquanto satisfação plena. Nota-se que a impossibilidade de
satisfação deficiente ou ambígua, ou ainda a uma carência natural do objeto, mas ao
fato de que a ordem natural foi perdida, e, em decorrência, não há mais objeto
específico. Daí por diante, apenas uma satisfação parcial passou a ser possível.
(GARCIA-ROZA, 1999, p. 17).
Este objeto perdido que, embora nunca tenha sido possuído, deve ser reencontrado,
Freud o chamou de “das Ding - A Coisa”, um tesouro que “nos permitiria atingir a plenitude
e recuperar o absoluto que existiria dentro de cada um de nós”. Em cada coração estaria o
segredo: o indivíduo é a humanidade. “Mas o Demiurgo nos cegou, e por isso a psicanálise
‘garimpa’ nossas falas, nossas ações, pois elas emergem desta luz magnífica e inefável que
nos une com o universo”. (Id, p.18).
Assim, mais uma vez, segundo o autor, o estado original onde “todos eram um” foi
negado e mais um corpo cindido surgiu. Contudo, o elo que liga o humano ao absoluto está
dentro dele mesmo. O que alguns chamam de éon, outros de “germe divino”, a psicanálise
chama de ID, e mesmo sendo impossível conhecê-lo, a teoria freudiana sugere uma
introspecção profunda.
pecados pela sessão psicanalítica. Dar aos sofrimentos apenas uma conotação de sexualidade
reprimida é radicalizar uma área que tem profundas e diferentes conotações.
Uma atitude mental que introduz fatores imateriais e trans-mundanos, que sustenta
uma noção como a de uma alma espiritual e que acredita na revelação, torna-se, para
o espírito materialista, ininteligível, estranha e perigosa. Tal mentalidade é,
verdadeiramente, o oposto do materialismo e, ao passo que as atitudes religiosas
existem e permanecem eficazes na vida humana, o materialismo sente a sua posição
ameaçada. Os defensores de uma explicação ‘científica’ da realidade vêem na
religião, ou um inimigo, ou, pelo menos, um estádio rudimentar da evolução, que
tem de acabar por triunfar para assegurar o ‘progresso’ definitivo da raça humana.
Uma filosofia que nega o livre arbítrio; que ignora a espiritualidade da alma; que,
com um oco materialismo e sem qualquer tentativa de prova, identifica os
fenômenos mentais e corporais; que não conhece outro fim senão o prazer; que se
entrega a um confuso e obstinado subjetivismo e que se mostrou cega à verdadeira
natureza da pessoa humana — não pode ter qualquer ponto comum com o
pensamento cristão. É-lhe completamente oposta.
Tal antagonismo é percebido por aqueles que procuram suplantar a religião pela
psicologia, fazer o analista ocupar o lugar do conselheiro cristão e defendem que o homem
encontrará alívio para os seus sofrimentos físicos, morais e espirituais no divã do psicanalista
e não na intimidade da confissão de pecados e do arrependimento sincero diante de Deus.
Allers afirma que a confissão de pecados e a busca de libertação é um ato consciente, sem
nenhuma exploração do inconsciente. O salmista entendia assim, quando rogava: “Quem há
que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas”, Sl 19.12. O autor
ainda diz: “A esperança e a boa vontade, um profundo conhecimento e, finalmente, a graça
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de Deus irão ajudar o penitente a dominar os seus hábitos pecaminosos, a evitar as recaídas,
a fugir às tentações e a progredir no caminho da perfeição”.
Para a psicanálise aquilo que o paciente tem consciência de nada vale; o que importa
é o inconsciente. Considerando a vontade como um epifenômeno, entende que o que é real
esteja escondido nas profundezas do inconsciente. A existência de uma constelação de
tendências instintivas, o conflito entre o superego e o id, anula o sentimento de culpa pela
infração ou rejeição de uma ou outra lei moral objetiva. Na verdade, grande parte dos
sofrimentos humanos encontra alívio no arrependimento, na confissão de pecados e na
conseqüente libertação deles, como prometeu Jesus em Jo 8.32,36.
Sabemos que a ciência tem o seu lugar de importância na vida do homem e contribui
em muito para que seus sofrimentos sejam minimizados, poupando o desgaste físico,
oferecendo meios de cura e facilitando a locomoção, porém ela jamais ocupará o lugar de
influência que a religião e o contato com o sagrado podem oferecer. A própria Psicologia
fornece meios para facilitar o aconselhamento pastoral, mas ela jamais pode se alhear da
verdade bíblica, muito pelo contrário, deve buscar nela orientações seguras para o aflito.
cura, liberta, reverte situações, remove cativeiros, transforma o caráter e faz tudo o que o
crente Lhe pedir com fé (Mt 21.22).
À parte das considerações bíblicas que apresentaremos acerca do sofrimento nos
próximos capítulos, temos contemplado uma série de modismos teológicos que surgiram nas
últimas décadas, que de certo modo as contradizem. É importante analisar tais doutrinas, porque
elas exercem uma influência sobre as pessoas, apresentando causas e soluções para o
problema do sofrimento. Seus ensinos se dizem baseados na Bíblia Sagrada e estão inseridos
nos debates modernos da Apologética, com refutações também fundamentadas nas Escrituras.
O Pr. Paulo Romeiro, em entrevista concedida à revista Resposta Fiel (2005, p.10-
12), cita, dentre tais novidades: a Teologia da Prosperidade, Quebra de Maldição, e as
distorções na área de Batalha Espiritual, colocando a ênfase da vida cristã nos demônios e
“espíritos territoriais”. Cita, ainda, os “abusos na área dos milagres” e os Movimentos dentro
das igrejas seculares que absorvem tais ensinos inovadores.
Segundo o Pr. Romeiro, essa doutrina, nascida na América do Norte, “prega o que as
pessoas querem ouvir”, oferecendo uma ajuda imediata para problemas imediatos, nas
diferentes áreas de necessidades humanas. Ele entende que tal doutrina, já em declínio nos
Estados Unidos, deve permanecer por bom tempo no Brasil, “por causa da tirania do
mercado. Ela precisa de dinheiro para sobreviver e as igrejas que pregam a Teologia da
Prosperidade conseguem arregimentar a multidão". Para o autor, a ênfase na prosperidade
provoca um grande problema na área evangélica, pois deixam de pregar a salvação, a vida
eterna, o céu, a santificação, e a volta de Cristo, conceitos básicos da fé cristã.
a) Autoridade espiritual – nesta área defendem três pontos: (1) Deus tem dado autoridade
(unção) a profetas nos dias atuais. Isto contraria o ensino de Mt 11.13; Ef 4.11 e 1 Co 12.10.
Estes textos demonstram que o crente recebe o “dom de profecia”, o que não lhe confere
autoridade profética. (2) Autoridade das revelações, com ênfase em visões, profecias,
“entrevista com Jesus”, curas, palavras de conhecimento, nuvens de glória, rostos que
brilham, cair no Espírito e outras práticas. Quem rejeitar tais ensinos receberá a sentença da
50
morte, como Ananias e Safira em At 5. É certo que a Palavra de Deus confere autoridade aos
servos do Senhor, mas esta, derivada da fé no Nome de Jesus e da Sua Palavra, e não das
experiências pessoais, de visões e revelações muitas vezes extra bíblicas. (3) Os homens são
deuses, uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o foi. Esta afirmativa já fora feita no
Jardim do Éden por Satanás, quando tentou o homem e a mulher à desobediência: “Sereis
iguais a Deus”, Gn 3.5. Zoe Hagin escreveu: “Eis quem somos: Jesus Cristo!”. Kenneth
Hagin escreveu: “Eu sou um pequeno Messias” (in: HANEGRAFF, Cristianismo em Crise.
pp. 57, 119).
Vários autores cristãos de respeito analisam que aumenta consideravelmente o número
de crentes desiludidos e frustrados com a fé cristã, por terem acreditado na Teologia da
Prosperidade. Esta ensina que o crente verdadeiro deve ser próspero financeiramente, possuir
a melhor casa do bairro, ter sempre carros novos e conseguir tudo o que quiser. Como “filho
do rei”, deve “reivindicar” que as coisas assim aconteçam em sua vida. Ele não pode ter
doenças, nem aceitar o sofrimento, mas deve “determinar” que o mal saia de sua vida.
51
“Exige” de Deus que lhe dê tudo o que pede, porque esta é uma prerrogativa bíblica que tem
que se cumprir em sua vida.
Particularmente, tive a oportunidade de presenciar, em uma cidade onde fomos, uma
pessoa em péssima situação, por ter acreditado na doutrina da prosperidade. Essa pessoa
encontrava-se endividada, cheia de problemas, ou, como dizem, “no fundo do poço”. Nova
convertida e muito sincera e fiel, ainda não alcançara a vitória nas áreas financeira e
sentimental. Aderindo a uma dessas igrejas, foi desafiada a investir uma soma muito alta
(diante da sua realidade), para que seu pedido fosse levado a um monte em Israel, onde seria
queimado numa fogueira. Sem recursos, sem avalistas, ela vendeu o que tinha em casa:
aparelhos de vídeo, de som, forno de microondas e alguns outros bens. A promessa é que teria
sua vida restaurada e conheceria a prosperidade em pouco tempo. O resultado, no final da
história, foi o de uma pessoa frustrada, ainda mais pobre do que quando entrara ali e
duvidando da bondade de Deus, achando que Ele tivesse preferências dentro do Seu Reino.
Duvidando até da sua conversão e fé, já que não possuía “autoridade e poder contra o mal”.
Francisco Belvedere Neto, em artigo publicado pelo CACP intitulado “Modismos e
Heresias Ameaçam Igrejas Brasileiras”, escreve que a Teologia da Prosperidade “trata-se de
uma substituição do Evangelho da Graça, pelo 'evangelho' da ganância”. Ele cita o livro
“Curai Enfermos e Expulsai Demônios”, onde T.L.Osborn escreve que Paulo jamais foi
doente, contradizendo o seguinte texto: “E vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez
por causa de uma enfermidade física. E, posto que a minha enfermidade na carne...”, Gl 4.13.14.
promessas de prosperidade para Seus filhos, porém em primeiro lugar vem a prosperidade
espiritual, depois a material. Para o autor, refutar a doutrina da prosperidade não representa
aceitar a “doutrina da miserabilidade”:
O crente em Jesus tem o direito de ser próspero espiritual e materialmente, segundo
a bênção de Deus sobre sua vida, sua família, seu trabalho. Mas isso não significa
que todos tenham de ser ricos materialmente, no luxo e na ostentação. Ser pobre não
é pecado nem ser rico é sinônimo de santidade. Não devemos aceitar os exageros da
'Teologia da Prosperidade' e nem aceitar a 'Teologia da Miserabilidade'. Deus é fiel
em Suas promessas. Na vida material, a promessa de bênçãos decorrentes da
fidelidade nos dízimos aplica-se à igreja. A saúde é bênção de Deus. Contudo,
servos de Deus, humildes e fiéis, adoecem e muitos são chamados à glória, não por
pecado ou falta de fé, mas por desígnio de Deus. Que o Senhor nos ajude a entender
melhor essas verdades. (www.solascriptura.com.br).
O Pr. Paulo Romeiro, na entrevista citada anteriormente, fala sobre aquilo que os
pesquisadores e sociólogos chamam de “trânsito religioso”. Existe na atualidade um número
muito grande de crentes que não conseguem mais parar em igreja nenhuma. “Eles transitam.
Qual a igreja que oferece a melhor proposta ou o melhor entretenimento? Qual a igreja que
vai oferecer o melhor show daquele fim de semana?”. Ele faz tal assertiva, considerando que
hoje muitos que pregam a prosperidade chamam o culto evangélico de “show”, buscando
formas alternativas de atrair e segurar as multidões que “engordam os bolsos de seus líderes”.
Tais sistemas doutrinários ensinam os crentes a não aceitarem as provações em suas
vidas. O fato de alguém estar em crise, representa que está debaixo de maldição. Os
problemas são mostra de que Deus não está ao lado deles e que devem entrar em “batalha
espiritual”, ignorando o poder do sangue e da fé simples no nome de Jesus. O crente não pode
sofrer, ficar doente, ter dívidas, entrar em falência, ter problemas no casamento e outras
provações, porque tais situações são prova de maldição, falta de autoridade e domínio
satânico. Embora reconheçamos a guerra espiritual travada entre o crente e sua carne, o
mundo e os demônios, ele deve preocupar-se primordialmente com o conhecimento de Deus e
seu relacionamento com Ele, em vez de ter sua fé centralizada em ataques demoníacos.
É óbvio que tais ensinamentos contrariam aquilo que constatamos no contexto
bíblico acerca do sofrimento. Os adeptos da Teologia da Prosperidade citam os patriarcas e
usam muitos textos a eles referentes, porém poucos falam de Jó, de sua justiça, fidelidade e
postura nas horas de dores, aflições e angústias multiplicadas por que passou. Apenas citam a
sua “restauração”. Sei, por experiência própria, que os momentos de sofrimento que a vida
nos proporcionou foram de extrema valia para nossa edificação, confirmação, crescimento e
53
fortalecimento na fé. “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua
eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará,
confirmará, fortificará e fortalecerá”, 1 Pe 5.10.
Um dos modismos doutrinários mais difundidos entre o povo cristão na atualidade é
o ensino das “maldições hereditárias”, conhecido também como “maldição da família” ou
“pecado de geração”. Os pregadores desta doutrina afirmam que, se o indivíduo tem algum
problema relacionado com alcoolismo, pornografia, depressão, adultério, nervosismo,
divórcio, diabetes, câncer e muitos outros, é porque algum antepassado viveu aquela situação
ou praticou aquele pecado e transmitiu tal pecado ou maldição a um descendente. A pessoa
deve então orar a Deus para que revele qual é a geração no passado que a está afetando.
Descobrindo-a, pede-se perdão por aquele antepassado ou pela geração revelada e a maldição
estará desfeita. Não será isso um apoio velado ao mormonismo?
A maldição é a autorização dada ao diabo por alguém que exerce autoridade sobre
outrem, para causar dano à vida do amaldiçoado... A maldição é a prova mais
contundente do poder que têm as palavras. Prognósticos negativos são responsáveis
por desvios sensíveis no curso da vida de muitas pessoas, levando-as a viver
completamente fora dos propósitos de Deus [...] As pragas se cumprem.
(LINHARES, 1994, pg. 16).
Se você ou algum dos seus ancestrais deu lugar ao diabo, sua família poderá estar
sob a ‘Maldição Hereditária’ e esta se transmitirá aos filhos. Não permita que sua
descendência seja atingida pelo diabo através das maldições de geração. Os
pecados dos pais podem passar de uma a outra geração, e assim consecutivamente.
Há na sua família casos de câncer, pobreza, alcoolismo, alergia, doenças do
coração, perturbações mentais e emocionais, abusos sexuais, obesidade, adultério?
Estas são algumas das características que fazem parte da maldição hereditária nas
famílias. Contudo, elas podem ser quebradas! (in: NETO, Francisco Belvedere,
CACP).
área das dificuldades humanas. Ele ensina, sim, que o fato de repassar às gerações o ensino da
idolatria, pode trazer uma geração inteira debaixo da maldição do pecado, que só Deus pode
perdoar mediante o sangue de Cristo, e da condenação eterna, que só Deus pode livrar,
também pela aceitação de Cristo como único e suficiente Salvador.
Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de
Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos
filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais
direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do
pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá, (Ez 18:1-4).
Seria o mesmo que afirmar nos dias atuais: os pais comeram chocolate e os dentes
dos filhos formaram cárie. O capítulo 18 de Ezequiel dá a entender que havia se tornado um
costume em Israel colocar a culpa dos fracassos pessoais nos antepassados ou em outros. Isso
faz lembrar o que aconteceu no jardim do Éden, quando, por ocasião da Queda, o homem
colocou a culpa na mulher e a mulher na serpente. Parece ser próprio do ser humano não admitir
seus erros, buscando evasivas para não tratá-los de forma responsável à luz da Palavra de Deus.
Infelizmente, alguns acham mais fácil culpar os antepassados do que enfrentar suas tendências
pecaminosas e cobiças do coração.
O ensino da maldição de família mais escraviza do que liberta. Até crentes que há
vários anos viviam alegres, evangelizando, servindo ao Senhor e dando frutos, agora estão
preocupados, deprimidos, pensando que talvez as tentações, as dificuldades e lutas pelas quais
estão passando sejam de fato reflexo de pecados ou do comportamento dos seus ancestrais.
Todos os cristãos sofrem tentações, numa ou outra área. Quando tentados para a
pornografia, o álcool, o adultério ou quando a depressão bate à porta, devem buscar respaldo e
formas de vencer na Bíblia Sagrada. Não adianta tomar atalhos ilusórios, voltando a um
passado que Jesus já perdoou e lançou no fundo do mar, nem buscando a culpa de tais
55
Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo escreveu aos irmãos de Corinto, na sua primeira
carta, uma palavra tremendamente elucidativa quanto a esta questão:
Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem
impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem
avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais
fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados,
em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus. (1 Co 6:9-11; leia também
Gl.5:17-21).
Pode-se notar que Paulo não afirmou no versículo onze: “Mas haveis quebrado as
maldições hereditárias, mas haveis pedido perdão pelos pecados dos antepassados” ou algo
similar. Não, de modo algum, este não é o seu pensamento. Paulo afirma que aqueles que
estiveram presos nos pecados haviam sido lavados, haviam sido santificados e justificados,
sem qualquer necessidade de quebrar maldições dos antepassados. Cabem aqui algumas
perguntas: Qual é a maior das maldições? Sem dúvida é estar fora de Cristo. Qual a maior das
bênçãos? Certamente é estar em Cristo. Como se elimina a maior das maldições?
Introduzindo a maior das bênçãos, que é a pessoa de Cristo na vida do ser humano.
Se tiver base o ensino da confissão de pecados das gerações passadas, teríamos que
chegar em Adão e Eva, de onde procedem todos os seres humanos e toda a miséria que eles
56
conhecem ou enfrentam. Mas já naquela ocasião o Senhor mostrou qual a solução para o
pecado e para os males do homem: o sangue do animal sacrificado, que cobriria as vergonhas
do transgressor. Mais explicitamente: o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo
o pecado (1 Jo 1.7).
A crença de que a violência é provocada por espíritos familiares também não tem
base bíblica. O apóstolo Paulo foi um homem violento: “Saulo, porém, assolava a igreja,
entrando pelas casas, e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere”, At 8:3. O
apóstolo João, antes de se tornar o discípulo do amor, não hesitava em dar vazão à sua ira.
Certa vez ele chegou a desejar que caísse fogo do céu para consumir os samaritanos que se
recusaram a receber Jesus (Lc 9:52-54). Paulo passou de violento ao que morre por amor e
João teve o seu temperamento vingativo transformado por meio da conversão, da operação do
Espírito Santo e de uma caminhada sincera com Cristo. Nenhum dos seus escritos afirma que
tenham sido transformados por meio da “quebra de maldições”.
Segundo artigo escrito no site do CAPC, há os que dizem que devemos pedir perdão
pelos pecados de políticos acusados como corruptos. Outros estão sugerindo que, ao se
encontrar uma pessoa negra na rua, deve-se chegar a ela e pedir perdão pelos pecados dos que
promoveram a escravidão no Brasil. Há até aqueles que afirmam que os carros roubados no
Brasil e levados ao Paraguai são uma maneira de Deus fazer os brasileiros pagarem aos
paraguaios pelo mal que lhes fizeram em guerras passadas. Lemos, em uma apostila sobre
esta doutrina, que os alemãs que sofrem hoje devem pedir perdão pelo pecado de Hitler e
outros, os quais levaram milhares de judeus ao holocausto! E chineses sofredores, devem
pedir perdão pelo massacre ocorrido na Praça da Paz Celestial, em Pequim, no ano de 1989.
É assombroso tal ensinamento, pois a vida cristã, em vez de aliviar nossos fardos,
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nos traria mais fardos, pesos de pecados cometidos por outras pessoas e pela nação. A Bíblia
nos ensina, sim, a interceder pelos vivos, por todos, a fim de que tenhamos vida sossegada e
sejam convertidos a Deus (1 Tm 2.1-4). Embora soframos as conseqüências dos pecados dos
antepassados, é diferente com a culpa, já que o arrependimento é individual e deve ser feito
em vida. A Bíblia não nos autoriza a orar pelos mortos, já que após a morte vem o juízo
divino sobre eles (Hb 9:27).
É preciso lembrar ainda que, à luz da Bíblia, ninguém pode se arrepender por outra
pessoa. O arrependimento é algo pessoal, que se faz diante de Deus. A idéia de que
‘temos que até interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados
cometeram, e quebrar os pactos que fizeram’, contradiz a Palavra de Deus, que
afirma: ‘Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus’, (Rm 14:12).
(www.cacp.com.br).
Acreditar que o nome da pessoa traz para ela uma maldição ou uma bênção é
acrescentar, também, fardos e cargas às suas dores. Certa vez decidi participar de uma série de
palestras sobre “Quebra de Maldições”, mais para conhecer o novo assunto, que pipocava no
meio evangélico. A Bíblia orienta a “reter o que é bom”, isto é, fazer uma filtragem do que
ouvimos e vemos, retendo apenas aquilo que nos traga edificação. Embora tenha ouvido
muitas coisas boas, reconheço que com bases bíblicas, houve um aspecto que muito me
entristeceu: o pregador não usou nenhuma vez o nome “Jesus” em suas explanações. Também
não abordou o assunto básico do plano da salvação, que é a confissão de pecados, o
arrependimento e a conversão a Deus. O poder de desfazer o mal, ou quebrar a maldição,
estava na pessoa atingida por ela e no pregador, que oraria por todos os presentes.
latino, porém foi um termo ajustado, visto que houve uma distinta família romana de
“Cláudios” e “Cláudias”, onde todos tinham um defeito físico, eram coxos. Quando se
referiam a eles, para identificá-los, diziam: “é o coxo”, passando então a ser definido o nome
como “o que claudica”, ou “o que coxeia”. Isto era normal até entre os discípulos, que
citavam “Tiago, o menor”, “Simão, o leproso” e outros, para identificar as pessoas.
Cláudia é o nome de uma cristã de Roma listada entre os amigos de Paulo, que
enviam saudações a Timóteo, no final da segunda carta do apóstolo a esse discípulo, 2 Tm
4.21. Certamente assistindo a Paulo, juntamente com os demais, em sua prisão em Roma. É
interessante notar que o apóstolo não orientou Timóteo a orar para que a maldição do seu
nome fosse quebrada. Também não clamou o sangue de Jesus e nem se registra um ritual de
quebra de maldição quando escreveu o nome em sua carta. Pelo contrário, citou-a como
pessoa de sua intimidade e comunhão.
Outro exemplo: o termo “simonia”, que hoje significa o tráfico de coisas sagradas ou
espirituais, representa, no latim, “ato de Simão”, i.e., Simão, o Mago, que pretendeu comprar
do apóstolo Pedro o dom de conferir aos crentes o Espírito Santo (At 8.18-24). Se
considerarmos o nome de “Simão” como maldição, como fica o apóstolo Pedro? Algum
adepto da Teologia da Maldição poderia dizer: “Ah, foi por isso que Jesus mudou o nome dele
para Pedro” (ou, “pedra”). Mas por que Jesus não mudou o nome do seu irmão de carne, o
Simão (Mt 13.55)? E por que Pedro não quebrou a maldição do nome de Simão, o curtidor de
Jope, que o acolheu em sua casa (At 9.43)? E por que Jesus não rejeitou Simão, o cirineu, que
O ajudou a carregar Sua cruz (Mt 27.32)?
Isso, porém, não é regra para se formar uma doutrina acerca dos males que atingem a
pessoa e lhe acarretam sofrimento. Por exemplo, ouvi um pregador dizendo: “Você, que tem o
nome de Dalila, precisa quebrar essa maldição. Todas as Dalilas sofrem, porque trazem a
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maldição da traição e da ganância”. A pessoa deveria pedir perdão pelo nome que recebeu
quando ainda não tinha qualquer noção da realidade, pela pessoa que lhe deu tal nome e orar
rejeitando a maldição que nele estava. Desejei muito que não houvesse ali nenhuma Dalila,
para evitar um constrangimento desnecessário.
Se formos identificar os exemplos bíblicos, veremos que muitas pessoas ímpias
possuíam nomes de bons significados; como também muitas pessoas boas, tinham nomes de
significados nada recomendáveis. Alguns exemplos: Abias, cujo nome representa “Jeová é
pai”, tinha um bom nome, um bom pai (Samuel), mas foi de atitudes reprováveis (1 Sm 8.3).
O nome de Absalão, “Pai da paz”, não condizia com seu caráter fraco, belicoso e traiçoeiro (2
Sm 3.3; 13-19). Judas quer dizer “louvor”, mas notamos que, dentre os descritos na Bíblia,
um, o Iscariotes, traiu o Senhor Jesus (Mt 26.48,49). Outro Judas, considerado irmão de Jesus,
foi fiel e teve uma epístola registrada no cânon do Novo Testamento.
É importante notar que Daniel e seus amigos, que possuíam homônimos hebraicos de
bons significados, tiveram seus nomes alterados na Babilônia, todos eles ligados a deuses
pagãos (Dn 1.7). Tais nomes não mudaram em nada o caráter fiel que destacava esses jovens.
Eles foram instrumentos de real importância na história do cativeiro e Daniel foi reconhecido
como o escritor do “Apocalipse” do Velho Testamento. Em nenhum lugar vemos Deus
orientando-os a quebrar a maldição dos nomes que receberam.
É claro que o homem de Deus não é feito pelo seu nome, aspecto do qual não teve a
mínima participação e nem chance de escolha. Bar-Jesus, cujo nome representa “Filho de
Jesus”, era um mágico que resistia a Paulo quando este pregava ao procônsul Sérgio Paulo (At
13). Por outro lado, Apolo, cujo nome significa “destruidor”, foi homem de Deus, poderoso
na pregação da Palavra de Deus (At 18.24-28). Outro que tinha nome mitológico era Hermes,
amigo de Paulo (Rm 16.14). As Escrituras não registram uma vez sequer em que Paulo
instruísse estes irmãos a renunciarem aos nomes que tinham, porque sabia que eles
receberiam um novo nome no céu (Ap 2.17).
Isto nos leva à dedução de que ninguém sofre porque é amaldiçoado pelo nome que
recebeu. Sabemos o quanto sofrem os presidiários e muitos deles possuem nomes bíblicos de
bons significados. Conhecemos várias pessoas que sentem vergonha e até rejeitam seus nomes
por chamarem Aparecida. Algumas delas preferem ser chamadas por apelidos. Mas
conhecemos também várias mulheres que, mesmo possuindo este nome, reconhecem a
60
Sem dúvida, que existem palavras que ferem, até que matam. Há uma irmã, que
chamaremos de Raquel, a qual auxiliava no serviço de oração em um trabalho de libertação.
Quando ela foi orar com uma das visitantes, esta lhe disse que não queria a sua oração, mas a
de outra irmã “mais abençoada”. Em vez de fazer como Paulo, esquecendo e prosseguindo
(Fp 3.13) ela permitiu que a seta atravessasse o seu coração e a ferisse profundamente. Sua auto-
estima foi detonada. Anos se passaram, mas ela nunca mais quis participar de uma equipe de
intercessão. Volta e meia Raquel volta a falar sobre o fato e chora, inconsolável, pelo acontecido.
Mas isto não representa que palavras ditas numa hora de ira, num momento de
descontrole emocional, possam cair como maldições sobre as pessoas. O Senhor Jesus disse
que nossas palavras ou nos justificam, ou nos condenam, ou seja, a maldição cai sobre quem
profere as palavras (Mt 12.37). O verdadeiro cristão e a pessoa de bom caráter haverá de pesar
as suas palavras, por reconhecer o efeito que elas fazem nas pessoas. Mas aceitar essa teoria
das maldições recebidas de terceiros, é determinar o caos do universo. O Pr. José Laerton, em
artigo publicado no Jornal Fundamentalista (internet), analisa que se as pessoas sofrem por
causa das palavras dos pais, ou de qualquer pessoa que lhe seja afim,
[...] isso é terrível, pois implicaria em que o destino das pessoas e do universo estaria
no poder das palavras de pecadores inconseqüentes, falíveis e imprevisíveis. Isso
geraria um caos e um descontrole total da vida na terra. Isso anularia a própria
soberania de Deus no Universo. Isso tiraria o governo das mãos de Deus e o
colocaria na boca dos homens. Isso é ridículo, antropocêntrico e antibíblico.
61
Segundo o livro Bênção e Maldição (1994, pp. 16,18), Deus é dependente das
palavras dos homens para liberar o Seu poder: “Palavras produzem bênção... (ou) maldição...
Palavras negativas... dão lugar à opressão demoníaca... Palavras positivas (confissão
positiva), amorosas, de fé, de confiança em Deus, liberam o poder divino para desfazer a
opressão”. Com todo o respeito pelo eminente escritor, temos dificuldade em crer desta
forma. O Pr. José Laerton chama isso de “psicoterapia freudiana mistificada”, ou “doutrina
da transferência de culpa do pecador para seus ancestrais”. Consiste na transferência da
culpa e da responsabilidade do comportamento pecaminoso pessoal de alguém para pessoas
de seu relacionamento que, no passado, tenham lhe dito algo impensado. O sofrimento, assim,
é decorrente daquilo que nos falaram, e não da nossa herança genética, das nossas atitudes ou
mesmo por permissão divina.
Lembro-me de uma senhora que nos procurou, que chamarei de Maria. Ela ouvira
que orávamos pelas pessoas e queria que eu orasse por “quebra de maldição”, porque lhe
disseram que estava debaixo deste estigma. “Já fiz diversas campanhas de quebra de
maldição e nada acontece em minha vida”. Durante o diálogo constatamos que sua vida era
marcada pelo adultério, ela havia desfeito o casamento de um homem e se juntado a ele, suas
filhas também praticavam o sexo desorientado (fora do casamento), estava tudo errado em sua
família e vida. Apresentamos a Maria o plano da salvação em Cristo, desde a constatação dos
pecados, o distanciamento de Deus, o arrependimento, até a nova vida em Cristo. Falamos dos
personagens bíblicos que, transformados por Jesus, mudaram o seu caráter e procedimento.
Maria aceitou Jesus aos prantos. Quando chegou à sua casa, a pessoa com quem vivia já
estava com as malas prontas, dizendo que ia voltar para sua mulher. A filha, que morava com
um rapaz irregularmente, logo decidiu pelo casamento e acertaram a sua situação. A outra
filha, psicóloga, que vivia em depressão, teve uma experiência linda com Jesus e foi curada. A
vida de Maria mudou completamente, quando ela convidou Jesus a entrar em sua história,
modificando-a ou escrevendo-a conforme a Sua vontade.
As colocações a seguir foram retiradas de artigo publicado por Nelson Leite Galvão
intitulado “O Movimento de Batalha Espiritual”. (Disponível em www.cacp.com.br).
a) O dualismo entre Deus (a força do bem) e o Diabo (a força do mal) prevê uma guerra espiritual
constante, ora um ganhando, ora outro. “No cristianismo não existe lugar para o dualismo”, diz
Galvão, “ou o cristão crê que Deus é soberano sobre todas as coisas - e isso inclui a natureza,
o coração humano, os governos e o diabo - ou vive em angústia temendo o demônio”.
d) A terra é de Satanás – em virtude do pecado, Adão, que tinha autoridade sobre a terra,
repassou este direito a Satanás. Deus, por motivos éticos e legais, não pode interferir no poder
terreno de Satanás, por isso enviou Jesus: para devolver ao homem o domínio sobre a criação.
Essa é uma assertiva antibíblica, pois as Escrituras afirmam que a terra, sua plenitude e todos
que habitam nela, são do Senhor (Sl 24.1). Foi Deus, e não o diabo, quem julgou o mundo
pelo dilúvio (Gn 6.11-26). Outros textos, como Sl 50.10-12; Dn 2.21; 1 Sm 2.6,7 e Sl 103.19
atribuem todo o poder sobre a obra criada a Deus.
proteção e executando um ato místico de “vestir a armadura espiritual”, para fortalecer contra
as retaliações satânicas. A Bíblia deixa claro que Satanás é nosso inimigo e acusador. Mas
deixa claro também, que ele só age contra nós, por permissão divina, visando um fim
educativo ou correcional (2 Co 12.7; Lc 22.31; Jó 1-2). Satanás também está debaixo do
poderio divino, ele não é “um ser autônomo, que vive independentemente”, diz Galvão. É
verdade que o apóstolo Paulo nos ensina a “tomar toda a armadura de Deus”, para “resistir
no dia mau”, Ef 6.10. Mas este não é um ato místico, e sim, uma realidade que deve fazer
parte da nossa vida cotidiana.
g) Possessão demoníaca de crentes - Galvão considera que um dos temas mais polêmicos que
a batalha espiritual tem gerado é se um cristão pode ter demônios. Simpósios de batalha
espiritual e o trabalho de libertação em muitas igrejas incluem rituais para expulsar demônios
de crentes. Alguns teólogos, embora reconhecendo que o assunto é polêmico, também
passaram a aderir a tal posição nos últimos tempos. Diz o autor: “De qualquer forma, a Bíblia
Sagrada tem a palavra final sobre esta questão ou sobre qualquer outro assunto relacionado
com a vida espiritual e o cristão”.
Merrill F. Unger (in: www.cacp.com.br), um autor lido e seguido por várias pessoas
que hoje desenvolvem ministérios de libertação espiritual no Brasil, reconhece a dificuldade
de se tratar do assunto, ao declarar:
sinceridade deve estar preparado para consertar sua interpretação a fim de trazê-la
em conformidade com os fatos como eles são.
Neuza Etioka, líder na área da batalha espiritual, segue a mesma linha desses autores:
Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que
nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem
principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem
profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que
está em Cristo Jesus nosso Senhor. (Rm 8:37-39.)
Paulo escreveu a Timóteo que, se nós formos infiéis, o Senhor permanece fiel a nós,
porque “não pode negar-se a si mesmo”, 2 Tm 2.13. O imutável amor de Deus nos garante:
“Nunca te deixarei e jamais te abandonarei”, Hb 13.5b. O apóstolo João garantiu que o
Maligno não toca naqueles que nasceram de Deus, 1 Jo 5.18.
4. 4. UM FUNDO DE VERDADE
Não se podem confundir com maldição hereditária alguns aspectos verdadeiros, que
trazem problemas e sofrimentos para as pessoas. Bíblia é Bíblia. Refutar certos ensinamentos
não representa negar aquilo que está escrito e aquilo que a razão reconhece como correto, por
evidências e experiências. Vamos listar alguns aspectos:
a) A questão da semeadura x colheita – pais alcoólatras, viciados, violentos, repassam uma
conduta de vida a seus filhos, que, certamente, estabelecerá o mesmo padrão de
comportamento no decorrer de suas existências. Experimentamos algo assim em alguém que
foi agregado à nossa família pelo casamento. O bisavô era dado à bebida, ensinou o avô a
66
beber, este aos filhos. O pai se embriagava e todos os filhos varões também, pois a bebida
fazia parte da rotina familiar. Porém um dia Jesus entrou no coração do avô, que foi liberto.
Dois de seus filhos se converteram e uma nora, que é a mãe desse agregado. Esta trouxe o
conhecimento do Evangelho aos filhos e marido, orando incessantemente pela libertação de
todos, o que aconteceu ao correr dos anos. Dos filhos, apenas um não se converteu ainda,
porém abandonou a prática da embriaguês.
É óbvio que um pai ou uma mãe com sífilis, AIDS ou qualquer outra doença
enquadrada nas DST, vai transmitir tal mal aos filhos nascituros. Assim também os maus
costumes. Conhecemos famílias inteiras fichadas na polícia ou aprisionadas, onde os filhos
desenvolveram as práticas erradas cometidas por seus pais.
Ninguém pode fugir à lei da semeadura e da colheita. O texto de Gl 6.7 garante que a
pessoa vai colher aquilo que semear. Isso poderá suceder, porém não é uma situação
obrigatoriamente definitiva. No momento em que uma geração se arrepender, voltar-se para Deus
e iniciar, por meio de Jesus Cristo, um relacionamento de amor com seu Criador, a maldição
cessará. Todavia, como vimos, o autor da maldição (ou punição) não é o pai de tal geração, mas o
próprio Deus, que manifesta a Sua ira contra todo pecado não confessado e abandonado.
fomos curados milagrosamente, porém nossos três filhos nasceram com bronquite. Com o
passar do tempo Jesus também os curou, mas até isso acontecer sofremos muito com esse
problema.
Será que você já observou uma família na qual todos os membros usam óculos?
Desde o pai e a mãe até a criança menor, todos estão usando óculos, e geralmente os
do tipo de lentes grossas. Essas pobres criaturas estão debaixo de uma maldição, e
precisam ser libertas. (In: Belvedere Neto, CACP, internet).
Seria oportuno dizer, conforme artigo citado pelo autor, que Kenneth Hagin usou
óculos até o dia de sua morte. O autor analisa que, se há poder para destruir uma maldição
considerada hereditária, por que então não quebram a maldição da calvície, que é
geneticamente transmissível? Eu, particularmente, ainda não tive o privilégio de ver um calvo
recebendo cabelos, embora creia que Deus tem poder para isso. Aliás, se calvície é maldição,
o profeta Eliseu não teria autoridade para repreender os adolescentes que zombavam dele por
esse problema (2 Re 2.23,24).
Certa vez enfrentei uma grande dificuldade, porque, numa reunião, falei a uma
pessoa enferma - que era influenciada pelos ensinamentos de maldição hereditária - acerca das
doenças genéticas. Ela não aceitou o fato da existência de formação genética, alegando que
“meu pai teve, minha mãe teve, mas eles não eram de Jesus. Eu sou de Jesus, e não aceito
essa maldição em minha vida”. Tentei explicar que mesmo sendo uma formação genética,
podemos receber a cura pela fé no poder do nome de Jesus, mas encontrei grande resistência
devido à confusão mental em que a pessoa se encontrava. Foi bastante difícil enfrentar depois
as conseqüências desse fato, porque a pessoa se ofendeu, criou raízes de amargura e deu
vazão a sentimentos de revolta, criticando o “espírito de teologia” que se apossara de mim.
Jesus nunca respaldou esta doutrina, pelo contrário, descartou a possibilidade que
alguém pudesse ser castigado pelos pecados de seus antepassados. Caso típico foi o do cego
de nascença, Jo 9.2-3: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem
nele as obras de Deus”. Paulo também a rejeitou, afirmando que a pessoa que “está em Cristo
é nova criatura, as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo”, 2 Co 5.17. Ele não admite
maldições na vida do cristão, apenas “toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais
em Cristo”, Ef 1.3. O apóstolo orientava os crentes a esquecerem o que ficou para trás e a
prosseguirem para a vitória espiritual presente e eterna (Fp 3.13,14).
68
Paulo nunca orientou Timóteo, que sofria “freqüentes enfermidades”, a fazer “quebra
de maldições”, mas a tomar um pouco de vinho junto com água, “ por causa do estômago”
(1 Tm 5.23). O apóstolo admite que, devido à natureza pecaminosa herdada de nossos
primeiros pais - Adão e Eva - gememos junto com a criação, esperando a redenção de nossas
almas e corpos (Rm 8.19-23). A Bíblia é repleta de exemplos de filhos, cujos pais eram
iníquos, que foram transformados pelo poder de Deus. E vice-versa, de pais santos, cujos
filhos tomaram caminhos errados. Os textos a seguir demonstram que a seqüência de bondade
ou maldade que deveria suceder na linhagem dos reis de Israel e Judá, de acordo com o que
ensinam os pregadores da maldição de família, simplesmente não aconteceu: 1 Sm 3.19; 12.3;
1 Re 15.3 com 1 Re 15.11; 2 Re 15.34 com 2 Cr 21.6.
Temos certeza que no acidente terrível ocorrido em Nova Orleans, atingida pelo
furacão “katrina” em final de 2005, havia muitos crentes consagrados. Eles podem não ter
entendido o ocorrido, mas creio que se mantiveram firmes na fé e confiança em Deus,
reconhecendo a Sua soberania. “Deus sabe de tudo”, foi a frase de uma pessoa entrevistada
que, no acidente, perdera familiares e tudo o que tinham materialmente. Poderíamos dizer que
Deus, em Sua ira, tenha permitido tal catástrofe, mas não que isso fosse decorrente de
“maldições hereditárias”. Ou, os crentes consagrados deveriam ter sido livrados das enchentes
e todos os seus estragos.
Ensinar que um cristão tem que romper com maldições ou pactos dos antepassados
pedindo perdão por eles é minimizar o poder de Deus na conversão. Isso está mais
para o espiritismo ou mormonismo (com sua doutrina antibíblíca do batismo pelos
mortos) do que para o cristianismo. A Bíblia declara com muita ousadia: “Por isso
também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre
para interceder por eles” (Hb 7:25). O advérbio “totalmente” (panteles, no grego)
tem o sentido de pleno, completo e para sempre. Jesus não salva em prestações, mas
de uma vez por todas.
69
A afirmativa de Marilyn Hickey, “você pode decidir quanto ao destino exato de sua
linhagem. Eles ou vão para Jesus, ou vão para o diabo”, é totalmente adversa à verdade
bíblica. Vemos Samuel, o grande homem de Deus, que dava testemunho da sua integridade,
enfrentando uma triste realidade acerca de seus filhos: “[...] se inclinaram à avareza, e
aceitaram subornos, e perverteram o direito”, 1 Sm 8.3. Conhecemos muitos filhos que são
exemplares na fé e dedicação a Deus, até se tornando obreiros, enquanto seus pais rejeitam a
salvação em Cristo e colocam empecilhos à sua vida espiritual. Como também o contrário,
pais que são servos consagrados a Deus e seus filhos permanecem distantes da salvação.
Embora sabendo que os pais possuem grande influência na formação espiritual dos
filhos, estes são responsáveis pela sua alma e precisam se entregar a Deus, a quem pertence a
obra da salvação, Ef 2.8,9. “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade
do pai, nem o pai, a iniquidade do filho”, Ez 18.20. A alma que se entregar ao pecado, não
somente experimentará a morte eterna, mas sofrerá na terra as aflições de uma vida distante
de Deus e do Seu permanente cuidado.
70
Para analisar a área do sofrimento no aspecto bíblico, precisamos pensar na sua origem
e causas, nos propósitos divinos com o sofrimento, nas conseqüências que o sofrimento traz e
nas soluções divinas para o sofrimento. Isto porque, ao estudarmos a Bíblia, nos defrontamos
com um Deus que pode e faz tudo aquilo que Ele escolhe fazer. Ele é soberano em Suas ações e
tem propósitos às vezes conflitantes com nossa forma de entender. Conciliar as promessas da
Bíblia com os reveses da vida chega a ser quase uma arte dentro da prática religiosa.
Vejamos alguns exemplos: certas vezes Deus agiu com misericórdia, fazendo
milagres e prodígios em favor do Seu povo (Êx 15). Em outras ocasiões, Deus escolheu não
fazer nada para evitar uma tragédia (Jó 1 e 2). Supostamente Ele deveria estar intimamente
envolvido com nossas vidas, mas às vezes Ele parece surdo aos nossos pedidos de ajuda,
permitindo situações até insuportáveis em algumas ocasiões (2 Co 1.8). Na Bíblia, Ele nos
assegura ter o controle sobre tudo o que acontece, mas permite que nós sejamos o alvo de
pessoas más, de genes disformes, vírus perigosos, de desastres naturais ou provocados (At 27;
1 Tm 5.23; 2 Tm 4.10-16).
71
Nem é preciso descrever aqui o quadro de sofrimento que assola toda a humanidade,
vitimizada por toda sorte de intempéries e assédios de espíritos malignos. Defendemos o
posicionamento de que o ser humano é composto de corpo, alma e espírito, conforme o
apóstolo Paulo consta em 1 Ts 5.23. A não ser o corpo, que é material, a alma e o espírito são
imateriais. É praticamente impossível fazer uma separação, pois esses três elementos
compõem o ser integral, o homem vivo que caminha e age sobre a face da terra. O corpo sem
a alma é morto (Tg 2.26); todavia, o homem pode “viver” terrenamente e estar “morto”
espiritualmente (Ef 2.1).
c) Não bastasse a dor no corpo e na alma, o espírito também sofre quando distanciado de
Deus. Em Nm 14.20-24, o Senhor Deus fala a Moisés acerca de dois tipos de espíritos
humanos: um, incrédulo e murmurador, que dominou a maioria do povo no deserto; e “um
outro espírito”, o espírito confiante que dominou Calebe e o levou a perseverar em busca do
ideal da terra prometida. O homem pode ter seu espírito morto e continuar a viver
corporalmente (Ef 2.1), mas o espírito humano pode ser vivificado ou restaurado à vida (2
Co 3.6). A pessoa pode ser espiritualmente enferma (Sl 42.5,6; 73); dominada por espíritos
demoníacos (Lc 8.28; At 16.16-18), ou simplesmente influenciada em seu espírito pelo mal
(1 Sm 16.14).
O espírito sofre quando o homem está distanciado de Deus, mas também sofre
mesmo quando bem próximo Dele. Paulo escreveu que “o amor é sofredor”, 1 Co 13.4. Em Is
53 é descrito o sofrimento de Jesus em toda a sua integridade, por amar a humanidade. Ele era
o “homem de dores”. O apóstolo Paulo, dominado pelo amor de Deus, registrou:
Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas. Quem
enfraquece, que eu também não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu também
me não abrase? Se convém gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha
fraqueza, 2 Co 11.28-30.
Qual a razão de tão amarga realidade? Por que o homem, feito à imagem e
semelhança de Deus, dotado de tão grandes habilidades e poderes, enfrenta tanto sofrimento?
A maioria das religiões não-cristãs analisa o problema do mal na vida do homem somente
como decorrência das próprias atitudes do homem, conforme a lei do karma. Para elas a
solução de seus problemas e sofrimentos está no homem. Na realidade, porém, o mal, de onde
provêm todas as dores humanas, tem uma explicação teológica, bíblica, metafísica, e não
meramente filosófica ou carnal.
Diz o relato bíblico que Lúcifer foi lançado fora do céu (Is 14.12), e muitos
defendem que essa queda explica o caos descrito em Gn 1.2: “A terra era sem forma e vazia;
e havia trevas sobre a face do abismo”. Jesus afirmou: “Eu via Satanás, como raio, cair do
céu”, Lc 9.18. Desde então, o seu alvo é um só: fazer o mal, escravizar o ser criado por Deus,
espalhar as suas setas envenenadas e mortais.
Todavia, Deus dotou o homem e a mulher de livre arbítrio. Eles deveriam escolher
obedecer a Deus, e isto fariam por amor, voluntariamente, por um ato de profunda
determinação interior. O mandamento de Deus demonstra a Sua perfeita vontade; a liberdade
do homem permite-lhe escolher obedecer e realizar essa vontade, ou não. Conhecendo Deus
pessoalmente, intimamente, ouvindo Sua doce voz a cada dia, caberia ao homem perpetuar
esse relacionamento por meio da obediência. Isto lhe garantiria a felicidade e a longevidade.
Então o Senhor Deus disse à serpente: [...] maldita serás [...] e porei inimizade entre
ti e a mulher [...] E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua
conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te
dominará. E a Adão disse: Porquanto destes ouvidos à voz de tua mulher, e comeste
da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela: maldita é a terra por causa
de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te
produzirão; e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até
que tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó, e em pó te tornarás
[...] O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que
fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim
do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da
árvore da vida, Gn 3.14-19; 23-34.
Se dou um tapa no rosto de um bebê, ele só chora pela dor, mas não compreende a
ofensa. Se dou o mesmo tapa num adulto, ele sofre mais com a injustiça e o insulto
do que com a dor física do golpe recebido. Se dou o mesmo tapa numa moça, porque
ela normalmente é mais fraca, para evitar represálias, acrescento malícia ao meu ato.
Se a mulher em que bato é uma velha, a culpa cresce. Se essa velha é minha própria
mãe, a culpa cresce ainda mais. Portanto, a culpa cresce em proporção da pessoa
ofendida. (www.montfort.org.br).
O autor usou tal ilustração para demonstrar que a culpa de Adão era proporcional à
pessoa a quem ele ofendera, ou seja, o próprio Deus infinito. Mediante tal premissa, logo a
culpa de Adão também se tornara infinita e merecia um castigo de igual modo infinito.
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Analisando a infinitude do pecado, então, todos os pecados merecem castigo infinito: “É por
isso que quem morre em pecado, vai para o inferno eterno, que é como um infinito no tempo”.
Em terceiro lugar, alguns autores entendem que Adão cometeu um ato de magia, ao
desejar alcançar um efeito maior de causa menor. Ou seja: pelo simples ato de digerir uma
fruta (a causa – um ato finito), ele alcançaria um efeito infinito (ser igual a Deus). Sabendo
que isto era impossível, já que Adão era dotado da plenitude de sua inteligência, ele confiou
que o demônio o tornaria deus, ao lhe dar o sinal de que aceitava o seu auxílio, comendo do
fruto proibido. Este é um ato de satanismo, quando o homem deixou de pedir algo a Deus e
depositou a sua fé em Lúcifer.
De todo modo, Adão mereceu um castigo infinito que não podia pagar, porque o
mérito do homem, ao contrário da culpa, é sempre finito, já que depende apenas de
nós que somos finitos. Para pagar a dívida de Adão era preciso um mérito infinito
que só Deus pode ter. Portanto, o homem jamais poderia se salvar e jamais poderia
recuperar a felicidade absoluta que perdera. (www.montfort.org.br).
o seu espírito morto, antes que o seu corpo se tornasse definitivamente em pó. Deus proveu,
assim, uma forma de o homem pagar a sua dívida por meio de um Salvador, como veremos à frente.
Este tópico entra em conexão com o item anterior, onde analisamos a origem do
sofrimento. É provado que toda ação causa uma reação. A causa básica do sofrimento
(reação) está na raiz da sua origem: a desobediência e rebeldia (ação) da criatura contra o seu
Criador. Na verdade, o sofrimento é, basicamente, uma resposta divina a um ato da
humanidade. Todavia, a maioria dos autores consultados leva-nos à dedução de que Deus não
“quer” o sofrimento de nenhuma das Suas criaturas, mas que Ele “permite” o sofrimento
mediante propósitos definidos em Sua presciência:
[...] Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, e não desmaies quando por ele
fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que
recebe como filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que
filho há a quem o pai não corrija? [...] E, na verdade, toda a correção, ao presente,
não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de
justiça nos exercitados por ela, Hb 12.5-11.
Tais colocações acerca do sofrimento são bíblicas, mas nem sempre respondem às
perguntas que assolam principalmente as pessoas de bem. É fácil entender o sofrimento do
ímpio, já que ele está distanciado de Deus, morto em delitos e pecados, entregue às sugestões
demoníacas de comportamento. Mas é difícil, sem dúvida, compreender a razão do sofrimento
do crente, aquele que tem em Deus o centro da sua vida, que renunciou a tudo para segui-Lo e
tudo faz para agradá-Lo. O crente Paulo, por exemplo.
A criatura fica sempre em acareação com o seu Criador. O autor de uma obra tem o
direito de requerer o encaminhamento e o destino final desta mesma obra. Digamos que, com
respeito a Deus, Ele tem os “direitos autorais” sobre a humanidade. Então, Ele pode e deve
levar a juízo todo estrago feito na Sua obra criada. Desta maneira, o sofrimento do não-crente
tem três motivos básicos:
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a) Manifestar o caráter santo de Deus - Diz o Salmo 107.17 (NVI): “Tornaram-se tolos por
causa dos seus caminhos rebeldes, e sofreram por causa das suas maldades”. Este texto
afirma que os ímpios serão afligidos por causa dos seus pecados. As dores e as angústias
sobrevêm aos incrédulos como conseqüência das suas transgressões, rebeldias e maldades. Há
pessoas que vivem com o coração longe de Deus, se afundam nas suas iniqüidades e, quando
sofrem, perguntam-se: “Por que eu tenho sofrido tanto?” e até cometem blasfêmias contra
Deus. Porém Deus, por causa de Sua própria santidade, além de abominar o pecado, não pode
ficar impassível diante de práticas pecaminosas. Assim, à semelhança da cena no Éden, Ele
reage permitindo o sofrimento àqueles que se entregam à desobediência de Seus preceitos.
É óbvio que o princípio da semeadura jamais haverá de falhar. Como disse o profeta,
“quem semeia ventos, colhe tempestades”, Os 8.7. A pessoa que vive na prática da
prostituição, da bebedice, dos vícios, dos excessos, do roubo, da mentira, do ódio, sem dúvida
colherá os frutos amargos do seu procedimento desvairado. Aprisionamentos, doenças,
desprezo moral, afrontas e outras dores, advêm àqueles que desperdiçam as suas vidas em
dissoluções. A Bíblia adverte que até mesmo a morte prematura acompanha os caminhos do
ímpio: “[...] os insensatos morrem por falta de juízo”, Pv 10.21. “Os que têm coração ímpio
[...] morrem em plena juventude entre os prostitutos do santuário”, Jó 36.13,14.
b) Promover a justiça - Assim escreveu Isaías em um dos seus poemas proféticos: “... pois,
quando se vêem na terra as tuas ordenanças, os habitantes do mundo aprendem justiça”, Is 26.9.
O homem se perde em seus delitos e pecados e pratica a iniqüidade como decorrência da má
formação do seu caráter. Em Seu infinito amor Deus permite o sofrimento do ímpio e nem sempre
atende aos seus clamores, com o propósito de despertá-lo para a correção dos seus caminhos.
de noite, e com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-te; porque,
havendo os teus juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça “, Is 26.9.
O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na
região da sombra da morte resplandeceu a luz [...] Porque um menino nos nasceu,
um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz.
A maioria dos testemunhos de conversão a Deus provém de pessoas que foram
atraídas à salvação por causa do sofrimento. A Bíblia e a igreja contêm fartos relatos de
pessoas que, buscando a Jesus para receberem a solução de seus males, acabaram recebendo
também a salvação. Frases como “vai em paz, a tua fé te salvou” geralmente acompanham os
milagres que personagens bíblicos receberam.
Creio ser, particularmente, uma das poucas pessoas que se converteu porque, amando
a Deus e desejando fazer a Sua vontade, buscou ter um encontro com Ele e foi agraciada por
manifestações especiais da Sua bondade. Já a nossa mãe, como a grande maioria dos crentes,
converteu-se por buscar a cura de um nosso irmão que sofria de doença epilética, proveniente
de obras espúrias da macumbaria. Este também se converteu e tornou-se um pregador da
Palavra, ao receber a cura milagrosa operada pelo Espírito Santo.
A Bíblia afirma que “há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, Ec 3.1. Não
há acasos; Deus tem um propósito para cada acontecimento. Sendo assim, nós não podemos
imaginar que Deus não tenha propósitos para com o sofrimento. Nem mesmo o sofrimento do
crente acontece por acaso. Embora muitos pregadores hodiernos, mormente os
neopentecostais, divulguem a doutrina de que o crente deve viver na "ilha da fantasia", sem
dores, com riquezas, só desfrutando do bom e do melhor, a Bíblia demonstra que o sofrimento
atinge a todos os seres humanos, indistintamente.
Este resumo confere com os motivos demonstrados pela Bíblia que justificam o
sofrimento dos justos, conforme a seguir:
Admite-se que Deus poderia ter feito criaturas sem nervos e sem inteligência.
Poderia ter feito o universo sem qualquer sofrimento. Uma vez que admitimos a
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personalidade de Deus e Seu 'eterno poder' (Rm 1.20), é impossível concluir que o
sofrimento ocorra por acaso.
Shedd enfatiza que, biblicamente, o sofrimento tem pelo menos três propósitos
distintos: retributivo ou punitivo; educativo; e vicário. O autor justifica a aceitação do
propósito retributivo ou punitivo, dizendo que, num universo em que a justiça existe, é
inconcebível que pessoas cometam injustiça sem sofrer as conseqüências, ou nesta vida, ou na
vida vindoura. Adão e Eva tiveram sua retribuição justa em vida, sendo possível, por meio do
arrependimento e retorno à obediência e amor a Deus, alcançar o perdão e novas
oportunidades na vida vindoura.
O Pr. Shedd exemplifica tal realidade citando que Adolf Hitler, por exemplo, teria
que sofrer alguma conseqüência pelas atrocidades injustas que cometeu. “Quanto sofrimento
merece alguém que provocou a morte de vinte milhões de pessoas de maneira tão
desumana?”. Ele admite que, desde a desobediência de Adão e Eva, que foram castigados
pelo sofrimento de gerar com dores e ganhar o pão com suor e cansaço, até hoje, há uma
concordância teológica de que sofrimento vem em retribuição da injustiça.
b) Prover uma solução vicária e redentiva para o pecador - Expõe o Pr. Shedd, no mesmo
artigo, que a Bíblia dá fundamentos firmes para edificar uma teologia do sofrimento
redentivo. Especialmente em Isaías, encontra-se a descrição do inocente Servo Sofredor a
quem Deus castiga para favorecer pecadores: “... Ele foi traspassado por causa das nossas
transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades”, Is 53.5. Esse versículo mostra
esta verdade claramente.
Deus pode usar, e usa mesmo, o sofrimento dos justos para propagar o Seu reino e
Seu plano redentor. Por exemplo: toda injustiça por que José passou nas mãos dos seus irmãos
e dos egípcios fazia parte do plano de Deus “para conservar vossa sucessão na terra e para
guardar-vos em vida por um grande livramento”, Gn 45.7. O principal exemplo, aqui, é o
sofrimento de Cristo, “o Santo e o Justo”, At 3.14, que experimentou perseguição, agonia e
morte para que o plano divino da salvação fosse plenamente cumprido. Isso não exime da
iniqüidade aqueles que O crucificaram (At 2.23), mas indica, sim, como Deus pode usar o
sofrimento dos justos pelos pecadores, para Seus próprios propósitos e Sua própria glória.
No Novo Testamento Paulo declara que todos são pecadores, mas nem todos têm de
sofrer pela injustiça que cometeram. Nas palavras do Apóstolo,
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Paulo declara sua alegria em sofrer pelos Colossenses, completando em seu próprio
corpo “o que falta das aflições de Cristo”, em favor da igreja (Cl 1.24). Estes sofrimentos,
não punitivos, têm a finalidade de avançar o Reino contra o inimigo de nossas almas. Shedd
declara que há sofrimento voluntário que glorifica a Deus, exemplo disso é o mesmo Paulo,
que sofreu toda sorte de afrontas, perigos, dores, privações, por seu amor ao evangelho:
“Tudo sofro por amor dos escolhidos”, 2 Tm 2.10.
c) Levar o crente de volta ao caminho correto - Certos crentes sofrem pela mesma razão que
os descrentes sofrem, isto é, como conseqüência de seus próprios atos. O princípio da
semeadura, constante em Gl 6.7, aplica-se a todos de modo geral: “Tudo o que o homem
semear, isso também ceifará”. Por exemplo, muitos sofrem por se unirem a outra pessoa em
jugo desigual, contrariando a Palavra de Deus, vivendo um casamento insuportável. Outros
dirigem com imprudência o seu automóvel, e estão passíveis de sofrer graves danos. Quem
não for comedido em seus hábitos alimentares, certamente terá sérios problemas de saúde.
Jesus disse que as palavras que nós proferimos ou nos justificam, ou nos condenam (Mt
12.37). Há muito sofrimento advindo da imprudência, dureza e incompreensão das palavras
proferidas. E há os que sofrem por rebeldia, por deixarem de ouvir as palavras sensatas e os
conselhos prudentes.
conseqüências horríveis da AIDS é mostrar a um jovem um colega nas últimas fases dessa
doença. “Um filho mais velho sofrendo uma chicotada ajuda seu irmão a aprender o valor
exemplar do sofrimento”. O autor cita o profeta Oséias, que sofreu profundamente em seu
relacionamento conjugal com a intenção de exemplificar o amor de Deus pelo Seu povo. Jó
aprendeu a pensar mais acuradamente sobre Deus após ouvir Eliú e o próprio Deus chamar
sua atenção sobre o erro de seu pensamento.
A dor e o sofrimento como ação permissiva de Deus não é sinal do Seu abandono,
mas do Seu atraente amor. Na verdade, Ele está permitindo uma situação que conduza o
crente a uma tomada de posição, a um renovo de propósitos, a uma nova postura de vida
cristã. No caso de Jó, o Senhor queria mudar alguns conceitos do patriarca e revelar-Se a ele
de maneira mais profunda e íntima.
E os entendidos entre o povo ensinarão a muitos; todavia cairão pela espada, e pelo
fogo, e pelo cativeiro, e pelo roubo, por muitos dias. E caindo eles, serão ajudados
com pequeno socorro, mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas. E alguns dos
entendidos cairão para serem provados, e purificados, e embranquecidos, até ao fim
do tempo, Dn 11.33-35.
d) Confirmar o valor da fé - O sofrimento é um meio que Deus usa para fazer o crente crescer
na sua fé. Vemos, em 1 Pd 1.6,7, que o sofrimento é comparado à ação do fogo. A ação do
fogo é múltipla: ele destrói, consome, aniquila; mas a Escritura cita o fogo aqui como um
elemento purificador, um elemento que torna o objeto aprovado, aperfeiçoado, confirmado. O
processo de confirmação de nossa vida em fé é comparado ao processo da depuração do ouro
pelo fogo.
O fogo é sinônimo de sofrimento causado pelas provações: passamos por ele e por
meio dele somos confirmados em nossa fé. Os destinatários da carta de Pedro estavam sendo
provados com aflições. Não haveriam de sofrer por muito tempo, mas estavam sofrendo para
que o valor da sua fé fosse confirmado. O sofrimento tem diversas manifestações. Deus
permite várias formas para promover crescimento no meio do seu povo. Por essa razão, Pedro
diz que os crentes seriam contristados “por várias provações”. Esse teste de fé está longe de
ser uma experiência agradável.
Pedro diz que o sofrimento para a confirmação da fé vem quando necessário. Nem
todos os cristãos que passaram pelo mundo experimentaram os sofrimentos dos quais Pedro
falava. Por essa razão ele diz: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se
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necessário, sejais contristados por várias provações”. A conclusão que se pode tirar dessa
passagem é que nem todos sofrem, porque não é necessário que haja crescimento ou
confirmação da fé somente por meio do sofrimento.
Pedro diz que o sofrimento para a confirmação da fé não é longo. Mesmo que em
certas ocasiões o sofrimento possa vir sobre os crentes, ele não permanece para sempre. Pedro
diz que os crentes são contristados “por breve tempo”. O sofrimento é de duração limitada.
Aliás, não podemos nos esquecer de que a duração curta da provação está em contraste com a
alegria que vamos desfrutar amanhã. O salmista assim se expressou: “O choro pode durar
uma noite, mas a alegria vem pela manhã”, 30.5b.
Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea
tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente. (2 Co 4.16,17).
e) Fazer o crente dependente de Deus num mundo dominado pelo pecado - A fidelidade a
Deus não é garantia de que o crente não passará por aflições, dores e sofrimentos nesta vida.
Em 2 Co 6.3-13; 11.22-33, Paulo faz um breve resumo de sua vida de sofrimentos, embora
fosse totalmente consagrado a Deus. Em 2 Tm 3.12 ele relata ao jovem pastor as muitas
aflições por que passou em suas viagens missionárias. Na realidade, Jesus ensinou que tais
coisas poderão acontecer ao crente: “No mundo passareis por aflições, mas tende bom ânimo;
eu venci o mundo”, Jo 16.33. O apóstolo João, referindo às lutas que o cristão enfrenta,
escreveu: “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”, 1 Jo 5.4b.
O fiel Jeremias serve de exemplo, no cap. 38 de seu livro. Por entregar aos dissolutos
e rebeldes reis de Judá a palavra do Senhor, o profeta foi preso (cap. 37) e, depois, lançado
numa cisterna no pátio da guarda do palácio real. Aquela cisterna tinha somente lama e
Jeremias ficou ali confinado, sem água e sem pão. Estava sofrendo por amor a Deus. Os
homens o tratavam com rudeza e desprezo, e ele dependia totalmente de Deus. O Senhor,
porém, não o desamparou, despertando o espírito de um eunuco etíope, que servia como
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oficial no palácio. Este, compungido pela situação de Jeremias, foi falar ao rei com risco da
própria vida, e obteve autorização para tirar o profeta do fundo do poço e trazê-lo para o pátio
da guarda, onde tinha a garantia da comida e do teto protetor.
O que dizer de José, vendido por seus irmãos como escravo, depois aprisionado
como um malfeitor, abandonado por todos numa fria cela, sem nada dever a ninguém? O
capítulo 11 de Hebreus nos apresenta a “galeria dos heróis da fé”, onde o relato do sofrimento
é de tal maneira que chega a citar pessoas santas que
Há ainda crentes que sofrem no seu espírito, por habitar num mundo pecaminoso e
corrompido. Por toda parte ao seu redor estão os efeitos do pecado, em contraste com a
necessária santidade devida ao Senhor. Ao contemplar o domínio da iniqüidade sobre tantas
vidas, é normal sentir aflição e angústia. Deus mostrou para Ezequiel aqueles que “suspiram e
gemem por causa das práticas repugnantes que são feitas na cidade”, Ez 9.4. Em At 17.16
encontramos Paulo compungido em seu espírito, devido à constatação da idolatria
predominante em Atenas. O apóstolo Pedro referencia como o justo Ló se atormentava todos
os dias por causa do pecado do povo de Sodoma (2 Pe 2.8). Ao saber da triste situação de
Jerusalém, Neemias chorou e lamentou por alguns dias (Ne 1.4).
As Escrituras afirmam que não tem como haver comunhão entre a luz e as trevas,
entre os que servem a Deus e os que não O servem (2 Co 6.14,15). Em Fp 2.15 os crentes são
exortados a fazer a diferença no mundo: “Para que venham a tornar-se puros e
irrepreensíveis, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e depravada,
na qual vocês brilham como estrelas no universo”. É claro que isso demanda em sofrimento,
porque o mundo reagirá brutalmente ao brilho do Evangelho e daqueles que o anunciam.
Tal situação caótica de um mundo dominado pelo pecado torna o crente totalmente
dependente de Deus. No Salmo 124 o poeta bíblico testemunha que, se não fora o Senhor ter
estado ao seu lado, o povo de Israel teria sido engolido vivo, quando os homens se levantaram
contra ele. É uma realidade inconteste que não existe em nós força alguma para vencer as
tentações do mundo e da carne, se não houver uma ação divina em nosso favor. Quando Paulo
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confidenciava a Timóteo acerca das lutas, traições e decepções que passava, falou, triunfante:
“Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me... e fiquei livre da boca do leão”, 2 Tm 4.17.
Semelhante angústia mental por causa daqueles que amamos em Cristo deve ser uma
parte natural da nossa vida: “chorai com os que choram”, Rm 12.15. A Bíblia diz que “o
amor é sofredor”, 1 Co 13.7. Compartilhar dos sofrimentos de Cristo é uma condição para
sermos glorificados com Cristo (Rm 8.17). É nosso dever dar graças a Deus, pois, assim como
os sofrimentos de Cristo são nossos, assim também nosso é o seu consolo (2 Co 1.5). O v. 4
deste texto diz que, da mesma forma com que Deus nos consola em todas as nossas
tribulações, também espera que usemos tais consolações para aliviar o sofrimento dos que
passam por idênticas tribulações.
É Deus que nos capacita para confortar aqueles que sofrem. O sofrimento é uma
excelente escola, onde aprendemos a consolar e confortar as pessoas da mesma maneira como
Deus o faz. Nós, seres humanos, somos diferentes de Deus: enquanto Ele conhece todas as
coisas sem nunca as ter experimentado, nós só conseguimos aprender a fazer algo através da
experiência. Dificilmente aprenderemos a confortar pessoas a menos que passemos pelo
sofrimento e recebamos o conforto divino. Sem dúvida, faltar-nos-ão palavras e argumentos,
sem passarmos pela escola do sofrimento.
Pelo que sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus
não está presa. Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles
alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. (2 Tm 2.9,10).
Se o próprio Jesus teve de aprender a obediência pelas coisas que sofreu, tendo de
experimentar o sofrimento e a tentação para poder socorrer os que são tentados (Hb 2.8),
quanto mais nós temos de aprender na prática sobre a consolação divina para podermos
consolar os que estão sofrendo! Uma boa parte dos Salmos é composta por testemunhos de
angústias e aflições e a conseqüente misericórdia divina agindo em favor dos escritores. Os
seus escritos hoje e sempre ajudam milhares de milhares a alcançarem a mesma bênção.
f) Para derrotar Satanás - Não bastassem todos os tipos de aflições, os crentes enfrentam
diariamente ataques do diabo. As Escrituras claramente demonstram que Satanás, “o deus
deste século” (2 Co 4.4), controla o presente século mau (1 Jo 5.19; cf. Gl 1.4; Hb 2.14). Ele
recebe permissão para afligir crentes de várias maneiras (cf. 1 Pe 5.8,9). Jó, um homem reto e
temente a Deus, foi atormentado por Satanás por permissão divina (cap. 1-2). Jesus afirmou
que uma das mulheres por Ele curada estava presa por Satanás havia dezoito anos, embora
fosse “filha de Abraão” e freqüente aos cultos (Lc 13.11,16). Paulo reconhecia que o seu
espinho na carne era “um mensageiro de Satanás, para me esbofetear”, 2 Co 12.7.
Na medida em que travamos guerra espiritual contra “os príncipes das trevas deste
século”, Ef 6.12, é inevitável a ocorrência de adversidades. Em Daniel 10 notamos que
enquanto o profeta orava e jejuava, estava sendo travada uma batalha espiritual de grande
magnitude. Por causa de um conflito nas regiões celestiais Daniel demorou a receber a
revelação divina. Por isso, Deus nos proveu de armadura espiritual e armas espirituais (Ef
6.10-18; 2 Co 10.3-6). É nosso dever revestir-nos de toda armadura de Deus e orar, decididos
a permanecer fiéis ao Senhor, segundo a força que Ele nos dá.
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Os que amam ao Senhor Jesus e seguem os seus princípios em verdade e com retidão
serão perseguidos por causa da sua fé. Evidentemente, esse sofrimento por causa da justiça
pode ser uma indicação da nossa fiel devoção a Cristo (Mt 5.10). O próprio Cristo foi
entregue ao suplício por inveja (Mt 27.18). A dedicação de Jó a Deus despertou a inveja de
Satanás, que se levantou terrivelmente contra sua vida (Jó 1,2). Particularmente, penso que o
espírito de inveja é uma das piores manifestações do demônio, pois conseguiu levar o Filho
do Deus Vivo ao suplício crucial no Calvário.
É nosso dever, uma vez que todos os crentes também são chamados a sofrer
perseguição e desprezo por causa da justiça, continuar firmes, confiando naquele que julga
com juízo e verdade (Mt 5.10,11; 1 Co 15.58; 1 Pe 2.21-23).
g) Para nossa edificação espiritual e formação do nosso caráter - Deus pode usar e usa o
sofrimento como catalisador para o nosso crescimento ou melhoramento espiritual.
Freqüentemente, Ele emprega o sofrimento a fim de chamar a Si o seu povo desgarrado, para
arrependimento dos seus pecados e renovação espiritual. O Salmo 107 demonstra quatro
situações em que o povo de Deus agiu com rebeldia, imprudência ou mesmo enfrentou
situações desafiadoras e, clamando ao Senhor, foram não só aliviados, como edificados em
sua fé, obediência e conhecimento de Deus.
Em Sua sabedoria, Deus pode usar o sofrimento para testar a fé dos crentes, para ver
se permanecem fiéis a Ele. A Bíblia diz em Tg 1.2-3, que as provações que enfrentamos são a
prova da nossa fé. Na verdade, elas são um meio de aperfeiçoamento da nossa fé em Cristo.
E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto
estes quarenta anos, para te humilhar, e te tentar, para saber o que estava no teu
coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter
fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o
conheceram; para dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o
que sai da boca do Senhor viverá o homem, Dt 8.2-3.
Além de fortalecer a nossa fé, Deus emprega o sofrimento também para nos ajudar
no desenvolvimento do caráter cristão e da retidão. Segundo a teologia de Paulo e de Tiago,
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Deus quer que aprendamos a ser pacientes mediante o sofrimento, dependendo menos de nós
mesmos e mais de Deus e Sua maravilhosa graça:
[...] e não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a
tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a
esperança, e a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado [...] Sabendo
que a prova da vossa fé obra a paciência [...] E disse-me: a minha graça te basta,
porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei
nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto
prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias
por amor a Cristo. Porque quando estou fraco, então sou forte, Rm 5.3-5; Tg 1.3; 2
Co 12.9,10.
Paulo diz que a perseverança produz experiência. Essa é parte da reação em cadeia na
formação do caráter cristão. Assim como os sofrimentos produzem a perseverança (ou
paciência, ou constância, ou persistência), esta produz experiência. Como vimos, no grego a
palavra “experiência” pode ser traduzida por “caráter provado”. A idéia é a de alguém que foi
testado e saiu vitorioso no teste, tendo desenvolvido um caráter amadurecido pelos sofrimentos.
O Pr. Shedd (internet) pondera que, mesmo depois de analisar estes propósitos do
sofrimento, fica ainda a necessidade de uma explicação mais ampla pelo sofrimento de
inocentes, tais como crianças com AIDS ou que nascem deformadas. Ou, pessoas que passam
fome e privações pela má administração dos recursos do país. Analisa que a falta de
penetração impactante do evangelho permite que os governantes pratiquem injustiças. Mas
conclui dizendo que o cristão sabe que nenhum sofrimento é em vão: “O que precisamos é
paciência e aguardar o dia em que a gloriosa justiça de Deus será dispensada
perfeitamente”. Como disse o profeta: “A terra se encherá do conhecimento da glória do
Senhor, como as águas cobrem o mar”, Is 11.9. Imagino que a eternidade responderá muitas
dúvidas que temos no presente.
Deus tem um relacionamento especial com o sofrimento do crente. Ele o acompanha,
dirige, consola e ajuda. Satanás, o deus deste século, só pode afligir um filho de Deus pela
vontade permissiva do Pai (Jó 1-2). Deus promete nas Escrituras que Ele não permitirá que
Seus filhos sejam tentados além do que possam suportar (1 Co 10.13). Também lhes dá a
promessa de que Ele converterá em bem todos os sofrimentos e perseguições daqueles que O
amam e obedecem aos Seus mandamentos (Rm 8.28). José verificou esta verdade na sua
própria vida de sofrimentos (Gn 50.20). Segundo o autor de Hebreus, Deus usa os tempos
difíceis da nossa vida para nosso crescimento e benefício (Hb 12.5). Como Bom Pastor, o
Senhor andará com os Seus até mesmo no “vale da sombra e da morte”, Sl 23.4.
Independente da severidade das circunstâncias vividas pelo crente, Deus se importa
sobremaneira com ele (Rm 8.36; 2 Co 1.8-10; Tg 5.11; 1 Pe 5.7). Portanto, o sofrimento
jamais deve proporcionar ao filho de Deus a sensação ou conclusão de que Ele não o ama, ou
que dele se esqueceu. Também não deve levá-lo a rejeitar o Senhor como seu Salvador. É
bem verdade que existem pessoas que sofrem perdas terríveis e abaladoras, mas também é
verdade que cobram atitudes de Deus, sem terem conhecido a Deus e sem nunca terem
buscado a Sua boa, agradável e perfeita vontade para as suas vidas.
E quando as coisas acontecem com os fiéis? Ouvi um pregador dizendo que a fidelidade
do crente não lhe traz imunidade. Ele citou o exemplo do rei Ezequias, o qual fez grandes
edificações para a restauração de Israel como nação e como povo de Deus. Ezequias foi um dos
90
Depois destas coisas e desta fidelidade, veio Senaqueribe, rei da Assíria, e entrou em
Judá, e acampou-se contra as cidades fortes, e intentou separá-las para si [...] o seu
rosto era de guerra contra Jerusalém [...] e clamaram em alta voz [...] contra o povo
de Jerusalém, que estava em cima do muro, para os aterrorizarem e os perturbarem,
para tomarem a cidade, 2 Cr 32. (grifo nosso).
Longe de se revoltar contra Deus, de ficar “cobrando” tudo o que fizera para o
Senhor, tendo como paga a perseguição, Ezequias colocou o povo de prontidão, em atitudes
que dificultassem a incursão de Senaqueribe e conclamou-o a depositar a sua fé em Deus:
Esforçai-vos, e tende bom ânimo; não temais, nem vos espanteis, por causa do rei da
Assíria, nem por causa de toda a multidão que está com ele, porque há um maior
conosco do que com ele. Com ele está o braço de carne, mas conosco o Senhor
nosso Deus, para nos ajudar, e para guerrear as nossas guerras. E o povo descansou
nas palavras de Ezequias, rei de Judá, 2 Cr 32.7,8.
Sob as ameaças e afrontamentos dos enviados do rei da Assíria, Ezequias colocou-
se no templo diante do Senhor, expôs para Ele a situação e recebeu ajuda em tempo oportuno.
As aflições passadas ao comparar o seu pequeno exército com o grande exército inimigo
foram recompensadas por um agir extraordinário e miraculoso de Deus em seu favor e em
favor do povo de Israel. Mais uma prova de que a fé cristã não consiste na remoção de
fraquezas e sofrimentos, mas na manifestação do poder divino através deles: “Temos, porém,
este tesouro em vaso de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós ”, 2
Co 4.7. “Tu, porém (Daniel), vai até ao fim; porque repousarás, e estarás na tua sorte, no fim
dos dias”, Dn 12.13.
91
Há um tipo especial de provação, que é aquela desencadeada por Satanás, visando
nossa derrota e valendo-se de uma cobiça interior nossa para incitar-nos com algo que tenta
levar-nos ao pecado. Esta prova é uma “tentação”. A tentação se alimenta dos desejos e
cobiças aos quais nos curvamos. Isto está bem claro em Gênesis 3: Deus provou o primeiro
casal dando-lhe uma ordem acerca da árvore do conhecimento do bem e do mal; Satanás
tentou-os dentro da prova. O Senhor Jesus também enfrentou a prova da tentação provocada
por Satanás, num momento em que Deus O provou enviando-O ao deserto (Mt 4.1-11). Tiago
afirma que este tipo maligno de peraismos não provém de Deus:
Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser
tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e
engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência
concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte, Tg 1.13-15.
Deus a recompensará: “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque quando for
provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”, Tg 1. 12.
a) O mundo – depois do pecado o mundo ficou subjugado pela maldição (Rm 8.19-20). Ele
está condenado a cardos, abrolhos, tristeza, desamor, violência, morte, aflição, ódio, egoísmo
e toda sorte de males. Todos os viventes do mundo – salvos e incrédulos – enquanto viverem
93
no corpo terreno estarão sujeitos a estes sofrimentos (Rm 8.23). Os crentes enfrentam, como
todos, sofrimentos inerentes ao mundo imperfeito povoado por homens imperfeitos: doenças,
intrigas, dificuldades financeiras, guerras, catástrofes, etc. Jesus disse aos Seus discípulos que
as aflições são marcas do mundo: “No mundo tereis aflições”, Jo 16.33. Enquanto as profecias
não se cumprirem, Deus não pode fornecer, no presente, um mundo perfeito a homens
imperfeitos. Jesus disse também que o mundo (= sistema pecaminoso) odeia os cristãos, o que
lhe causa muitas provações:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se
vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do
mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. [...] Não é o
servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos
perseguirão a vós, Jo 15.18-20.
b) Satanás – O apóstolo João disse que “o mundo inteiro jaz no maligno”, 1 Jo 5.19. Jesus
afirmou que o príncipe deste mundo é Satanás (Jo 14.30; 16.11). Com plena liberdade para
agir no mundo presente, Satanás usa todas as artimanhas para afastar o homem de Deus,
principalmente os salvos. Desde o Jardim do Édem ele vem destilando o seu ódio sobre a
humanidade, opondo-se muito mais aos que servem a Deus. As tentações que ele produz vão
além da nossa simples imaginação. O apóstolo Pedro manda-nos vigiar, porque “[...] o diabo,
vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar”,
1 Pe 5.8. Satanás, em sua gana de provar a fidelidade do crente a Deus, chega a pedir
autorização para tal empreendimento (Jó 1,2; Lc 22.31). Esta é uma triste realidade da qual
não temos como fugir. Nosso adversário é real, inteligente, sagaz, maldoso e implacável.
c) A permissividade divina – a grande diferença entre o salvo, que se torna filho de Deus por
meio de Cristo, e o ímpio, é a liberdade que Satanás tem para agir. O ímpio, rebelde à voz de
Deus, torna-se presa fácil das tentações satânicas, maleável às suas sugestões malignas. Ele
colabora com Satanás no seu afã de “roubar, matar e destruir”, Jo 10.10, praticando toda
sorte de erros e violências. Como filhos do “pai da mentira”, vivem mentindo e honrando
aquele a quem servem (Jo 8.44).
O salvo, por sua vez, experimenta os sofrimentos inerentes a este mundo e sofre os
ataques de Satanás mediante a permissão e o controle de Deus. Tais provações são adequadas
à sua resistência e sempre cumprem um propósito. Os primeiros e os últimos capítulos de Jó
deixam isto evidenciado. Deus sempre proverá, junto com o teste de fé e paciência, um
escape: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará
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tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que o possais
suportar”, 1 Co 10.13.
Paulo nos adverte: “Não veio sobre vós tentação, senão humana”, 1 Co 10.13. Tiago
diz que somos tentados quando atraídos e engodados pela nossa própria concupiscência (Tg
1.14). Somos tentados a falar, a fazer, a ir, a ficar, sem esperar a hora de Deus, sem consultar
a Deus, sem procurar a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus”, Rm 12.2. O sábio
Salomão disse que “tudo fez Deus formoso em seu tempo”. E disse, ainda, que “há tempo
para todo propósito debaixo do céu”, Ec 3. 11,1. Assim, padecemos aflições e angústias como
resultado das nossas precipitações, carnalidade e falta de sabedoria em discernir o “tempo e o
modo”, Ec 8.5. O apóstolo Paulo ainda previne:
Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.
Mas os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, e em muitas
concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males. E nessa cobiça alguns
se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores, 1 Tm 6.9-10.
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a) Revelam quem somos – o nosso temperamento, a personalidade que temos, revela-se nos
momentos de provações e tentações. Conhecemos, nestas oportunidades, nossas fraquezas,
reações e passividades, na verdade, o nosso “eu interior” se revela de formas muitas vezes
inesperadas. Chegamos a nos assustar com as atitudes e procedimentos que fluem de nós em
momentos de provação. Um exame de consciência levar-nos-á a buscar a libertação de tais
atitudes na Pessoa de Cristo, pela oração e fé: “Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará. Se, pois, o Filho (de Deus) vos libertar, verdadeiramente sereis livres”, Jo 8.32,36.
A verdade da nossa carnalidade submete-se à verdade do poder libertador de Cristo e
alcançamos a libertação das correntes que nos prendem às atitudes que contradizem os
ensinamentos da Palavra de Deus e que nos envergonham perante o acusador de nossas almas.
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a
tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a
esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado, Rm 5.3-5.
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O texto de Dt 8.2,3 deixa claro que Deus pode permitir uma provação prolongada, a
fim de conhecer o que está dentro do nosso coração. O deserto, a humilhação, a provação,
tinha um objetivo específico: conhecer o íntimo de cada um, para ver se manteria obediência
aos mandamentos de Deus, ou não. “Para ensinar que o homem não vive só de pão, mas de
toda palavra que vem da boca do Senhor”. Como o ouro é tornado valioso pelo fogo, sendo
purificado de suas impurezas, assim também a nossa têmpera cristã é aperfeiçoada pela
provação e até mesmo pela tentação:
[...] ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco
contristados com várias tentações. Porque a prova da vossa fé, muito mais preciosa
do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e
glória, na revelação de Jesus Cristo [...] alcançando o fim da vossa fé, a salvação das
almas, 1 Pe 1.6-9 (grifo nosso).
Por outro lado, também tomamos conhecimento da nossa força. Às vezes, depois de
passadas as provas, quedamos estupefatos ante a realidade de como encaramos a situação com
coragem, denodo, confiança e garra. Não conseguimos entender de onde tiramos tanta força
nos momentos de tribulação. Chamamos isto de fé. No Salmo 18 Davi profere um enfático
testemunho de como o Senhor o livrou de todos os seus inimigos e das mãos de Saul.
Podemos destacar algumas expressões:
[...] porque contigo entrei pelo meio dum esquadrão, com o meu Deus saltei uma
muralha [...] a tua mansidão me engrandeceu [...] persegui os meus inimigos, e os
alcancei; não voltei senão depois de os ter consumido [...] caíram debaixo dos meus
pés [...] então os esmiucei como o pó diante do vento; deitei-os fora como a lama
das ruas [...] é Deus que me vinga inteiramente, e sujeita os povos debaixo de mim;
o que me livra dos meus inimigos; sim, tu me exaltas sobre os que se levantam
contra mim, tu me livras do homem violento [...].
b) Revelam quem Deus é - As provações revelam também, para nós, os atributos de Deus, os
quais jamais conheceríamos em situações de bonança e prosperidade. A bondade, a
misericórdia, o perdão, a graça abundante, o poder de Deus, tornam-se conhecidos para nós
em momentos de grande provação. Conhecemos um Deus que trabalha por aqueles que nele
97
esperam (Is 64.4). As grandes mensagens faladas e escritas para salvação e edificação são
forjadas na bigorna da aflição.
O profeta Daniel e seus companheiros conheciam Deus como aquele que dá sabedoria,
força, poder, revelação e assim O apresentaram para o rei Nabucodonosor (Dn 2.21,22). Na
hora da crucial provação em uma fornalha superaquecida, os jovens conheceram um Deus que
entrava com eles na aflição – e entrava para vencer (cap. 3). As Escrituras registram para toda a
eternidade a realidade do “Quarto Homem” junto com os moços na fornalha. Depois, Daniel
conheceu o poder das milícias angelicais que, sob as ordens divinas, agem a serviço dos santos,
quando foi livrado do poder de famigerados leões (cap. 6). A sua sempre crescente dedicação a
Deus e os desafios cada vez maiores à sua fé, passando pelas mãos de conquistadores e
contemplando as misérias dos derrotados, levaram Daniel a uma experiência extraordinária com
o mundo espiritual. Ele teve a visão do Cristo Glorificado mais de 600 anos antes de Ele ter sido
humilhado, cap. 9-10. Aliás, este profeta teve visões e revelações escatológicas que o mundo
ainda está para ver, Deus seja louvado.
Experimentando uma situação que o humilhava, sendo constantemente assediado por
um “mensageiro de Satanás” que o esbofeteava, Paulo rogou por três vezes ao Senhor que
desviasse dele aquele mal. A resposta de Deus para ele foi inusitada, algo que ele certamente
não esperava: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Em
resumo, Deus lhe deu um “não” com as devidas explicações. Entendendo a supremacia de
Deus permitindo a sua provação, Paulo escreveu em seguida:
De boa vontade, pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o
poder de Cristo. Pelo que tenho prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades,
nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque quando estou fraco
então sou forte. (2 Co 12.7-10).
98
A onda que aflige o nadador comum produz no surfista a super alegria de passar por
dentro dela. Aplique esta situação às nossas próprias circunstâncias, as mesmas
coisas - tribulação, aflição, perseguição - produzem em nós uma super alegria; elas
não são coisas com as quais devemos lutar. Nós somos mais do que meros
conquistadores... somos vencedores, com uma alegria que não teríamos se não fosse
por essas mesmas coisas que parecem que vão nos subjugar... O santo conhece a
alegria do Senhor não apesar da tribulação, mas exatamente por causa dela. (in:
www. ipb.cifranet.com.br)
c) Revelam quem é o nosso adversário – A Bíblia deixa claro que vivemos dentro de uma
guerra espiritual. Duas forças lutam pelas nossas almas. Dois poderes se esforçam pelas
nossas vidas. Nenhum deles desiste de nós. O amor de Deus pela humanidade vem se
revelando desde o princípio e este amor é eterno, como eterno é o Seu poder perdoador e
todos os demais atributos a Ele inerentes. Satanás também vem se revelando desde o princípio
como inimigo de Deus, desejoso de possuir a adoração que o homem deve ao seu Criador. A
pessoa do diabo aparece desde o Édem, enganando, seduzindo, e, desde então, ele continua
com suas investidas avassaladoras contra os homens. Mas nem sempre temos noção da
força, da sagacidade, do poder e da inveja de Satanás. Em suma: desconhecemos o nosso
principal adversário.
Várias passagens bíblicas demonstram Satanás como acusador e opositor aos servos de
Deus, sendo Zc 3.1, uma das mais claras. Satanás perturba até mesmo os que andam com Jesus
(Mt 16.23). Ele se apossa de corpos, instala neles espíritos de enfermidades e realiza toda sorte
de males contra os homens (Lc 8.29; 9.42; 13.16). Às vezes ele é autorizado por Deus a passar
Seus servos “na peneira”, a fim de levá-los à genuína conversão (Lc 22.31).
99
O apóstolo Paulo, conhecendo as astutas ciladas do diabo, escreveu aos Efésios acerca
dessa luta espiritual que todos enfrentam. As dificuldades que passamos com “carne e
sangue”, isto é, pessoas de nossa afinidade e convívio, na verdade são incitadas por Satanás
(Ef 6.11,12). Ele induz pessoas contra pessoas; ele divide; ele rouba; ele mata; ele destrói (Jo
10.10). Ele coloca impedimentos à obra de Deus (At 16.6; 1 Ts 2.16). Ele se transforma até
em anjo de luz, para tentar enganar os escolhidos (2 Co 11.14). Tais constatações, o apóstolo
as teve quando enfrentou as provações e tentações em seu ministério.
Conhecer quem é o nosso adversário, o seu poder, a sua ambição e inveja é
importantíssimo para a nossa vitória espiritual. Mas não devemos conhecê-lo para
desenvolver um temor à sua pessoa e operação, e sim, para obtermos estratégias divinas que
resultem na sua derrota. Da mesma forma que a Bíblia e as experiências que passamos
revelam as astúcias malignas do adversário, também nos capacitam com armas espirituais que
promovem a sua derrota (2 Co 10.4). Elas são poderosas em Deus, para destruição de toda
fortaleza inimiga. Descobrimos, no incurso das provações, que tão forte adversário já está
derrotado e é facilmente dominado pelo grande Conquistador das almas, Jesus Cristo, o Filho
do Deus vivo. Este poder Jesus Cristo delegou à Sua Igreja militante (Lc 10.19). Aprendemos
que, se lhe opusermos resistência em meio à tentação, ele fugirá de nós (Tg 4.7).
Paulo cria que era possível o crente receber a graça de Deus e experimentar a
salvação, e depois, por causa do descuido espiritual ou de viver em pecado deliberado,
mediante sugestão diabólica, abandonar a fé e a vida do evangelho, e voltar a perder-se. Para
incentivar o crente a permanecer firme em Deus, ele escreveu um testemunho próprio,
demonstrando a sua abnegação no ministério, apesar de todas as provações:
[...] não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja
censurado. Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo:
na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas
prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, na ciência,
na longanimidade, na benignidade [...] por honra e por desonra, por infâmia e por
boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo
bem conhecidos; como morrendo e eis que vivemos; como castigados e não mortos;
como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos;
como nada tendo e possuindo tudo, 2 Co 6.3-10.
O mecanismo que vai atuar em um dado momento depende da natureza da situação
específica, e das características da pessoa. Mesmas situações podem ter mecanismos de defesa
diferentes em pessoas diferentes. Os mecanismos que se mostraram mais eficazes na resolução
de conflitos anteriores tendem a ser usados para resolver novos conflitos. São benéficos porque
diminuem a angústia e fortalecem o auto-respeito, dando tempo e força para que a pessoa
encontre um ajustamento realista, consciente e eficiente para o problema. Seu uso prolongado e
excessivo, todavia, pode ter conseqüências graves no ajustamento efetivo à vida. Nesse sentido
102
alguns são piores que outros, como, por exemplo, a Fuga, que impede a pessoa de ser capaz de
enfrentar seus problemas; a Repressão, que cega para a natureza dos mesmos.
A forma pela qual o indivíduo manipula os conflitos entre suas exigências instintivas
e seu medo ou sentimento de culpa define se o seu comportamento vai se tornar um caso
normal ou patológico. Se a exigência instintiva do indivíduo está dentro do plano da
normalidade comportamental da sociedade e se ele é capaz de promover sua própria satisfação
periodicamente, esse indivíduo estará sempre colaborando para a manutenção de sua perfeita
ou ajustada saúde mental e espiritual.
Embora alguns mecanismos de defesa contribuam até certo ponto com a sociedade,
como a Fantasia, que traz a criatividade, a Racionalização, que cria novas maneiras de
resolução de problemas, os mecanismos de defesa podem ser frustrados. Vejamos: a
Racionalização pode ser desmentida; a Identificação, negada; a Fuga, evitada; a Repressão,
revelada. Isto torna o conflito ainda mais intensificado. Quando tais mecanismos falham
podem ocorrer transformações ainda mais violentas no comportamento; tais transformações
apresentam-se sob a forma de perturbações psicológicas severas, decomposição do Eu,
desordens mentais agudas de vários tipos.
7.1. SUBLIMAÇÃO
Todo ser humano possui o instinto, bom e necessário, porém totalmente animalesco,
quando separado da razão e da inteligência. É normal existir no ser criado o impulso original
em busca de uma determinada finalidade ou de um determinado objeto. A satisfação desse
instinto, muitas vezes, está em desacordo com os padrões morais, éticos ou comportamentais
do grupo ao qual pertence o indivíduo e ele tem consciência disso. Sua conduta, a partir daí,
poderá assumir diversos caminhos e, a depender desse caminho haverá o aparecimento, ou
não, de um aspecto mental a ser observado e tratado. É o caso, por exemplo, do estuprador,
que dá vazão ao seu instinto e não mede as conseqüências do seu ato.
seqüelas; e (4) há alteração dentro do ego. A grande força da sublimação, quando ela se
limita à inibição e mudança do objetivo, é que a ação desse indivíduo continuará existindo,
com a diferença de que o seu instinto estará dominado e subordinado ao ego reorganizado.
Isso valoriza os próprios instintos do indivíduo, transformando-os de amorais ou inadequados,
a morais, adequados e até elogiáveis, em alguns casos, trazendo uma sensação de satisfação
plena que, naturalmente, eliminará qualquer vestígio de problemas emocionais perturbadores.
O aspecto mais salutar da sublimação dá-se quando a pessoa deixa de olhar para si,
para seus problemas, para suas dificuldades, e encontra refúgio, alegria e satisfação em Deus e
no serviço cristão. Assim é a situação daquilo que comumente se chama de “olhar para trás”
ou “olhar para o lado” e ver que existe uma enormidade de pessoas em situações bem piores
do que as nossas, as quais precisam de ajuda e socorro que estão ao nosso alcance oferecer.
Podemos dizer que aquilo que a Psicologia chama de “sublimação”, em seu caráter mais
profundo, a teologia chama de “fé”, “confiança” ou “entrega a Deus”.
Esta moça sublimou o seu sofrimento na pessoa de Cristo e procurou esquecer a sua
dor desenvolvendo um relacionamento íntimo com Ele, o que a ajudou a superar todos os
momentos difíceis que a tragédia sofrida lhe impôs. De nadadora com troféus terrenos, passou
a escritora com perspectivas de galardões eternos.
Recebendo o ensinamento da fé em Jesus por parte da sua avó, que cuidava dela para
a mãe - outra cristã fiel - poder trabalhar, muito nova Fanny começou a escrever poemas, que
depois foram transformados em cânticos. Tocava piano e harpa e casou-se com um cristão
106
também cego. Ambos tornaram-se professores da Academia de Cegos de Nova York, fazendo
inúmeras apresentações em igrejas, recitais e trabalhos em lugares públicos. Fanny chegou a
entoar seus hinos para um dos Presidentes dos Estados Unidos. O único filho que geraram
teve sua vida ceifada na primeira infância, fato que mais os incentivou a entoar louvores e
compor hinos para o Senhor. Quando morreu, aos 94 anos, amigos e parentes escreveram na
lápide de sua sepultura: “Ela fez o máximo que pôde”.
Ouvi o testemunho de uma amada irmã que teve uma das filhas, que fora criada
dentro da igreja cristã, vitimizada pelas drogas, influenciada por más companhias. Ao atingir
a maioridade a jovem foi para o Japão trabalhar, onde se encontrou com mais dois de seus
irmãos. Naquele país distante ela conheceu Jesus, juntamente com seus irmãos, por meio de
uma senhora também nipo-brasileira, com uma triste história. Esta senhora, conhecedora do
Evangelho de Cristo, foi perdendo, de um em um, todos os membros da sua família pela
morte, ficando tristemente sozinha. Decidiu então a ir para o Japão, onde se dedicou a
evangelizar jovens, ganhando-os para o Senhor Jesus. A sua dor levou-a a gerar filhos na fé, o
que compensou o sofrimento e a solidão com a presença de pessoas transformadas, alegres,
cheias de vida, que mudaram também a sua própria existência.
Considerando que todo ser humano sofre, com maior ou menor intensidade, cremos
ser esse o principal objetivo do evangelho de Cristo: fazer de pecadores inconversos novas
criaturas, assentando-as em regiões celestiais e proporcionando-lhes a melhor forma de vida, a
vida das bem-aventuranças alcançadas por aqueles que mudam o seu olhar da sujeira terrena
para as delícias celestiais. “Assim, que se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas
velhas já passaram, eis que tudo se fez novo”, 2 Co 5.17. A Bíblia chama de “novo
nascimento” aquilo que a Psicologia chamaria de “sublimação positiva”. Na verdade, no novo
nascimento não há uma transferência de situação e sentimentos, mas uma “mudança radical”,
pela operação do Espírito Santo.
Não que já tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo
para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que
o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás
ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus, Fp 3.13,14.
Paulo sofria com seu encarceramento, como todo ser humano que é privado da
liberdade, das amizades e possibilidades de relacionamentos. Mas ele sublimava seu
sofrimento em Cristo, onde tinha a essência do seu prazer. Mesmo quando, atingido por um
mal que nos é oculto, ele rogou ao Senhor que o livrasse, manifestou a sua alegria, ao receber
uma resposta negativa, 2 Co 12.8-10.
Todavia, quando não se obtém essa mudança, instala-se aquilo que os psicanalistas
intitulam de “formação reativa” (ou formação de reação). Neste caso a pessoa, ao reprimir os
seus instintos (sexuais, agressividade, sobrevivência), processo chamado de “contracatexis”
ou contracarga, pode assumir um comportamento que eles também chamam de “desmaio”.
Nunberg (1989, p.261) escreve: “A contracatexis constitui parte integrante das resistências
contra a reemergência das tendências instintivas repelidas”. Isto quer dizer que a repressão
de fortes impulsos é acompanhada por uma tendência contrária, sob a forma de
comportamentos e sentimentos exatamente opostos às tendências reprimidas. Fenichel
(1997, p.133) admite que todas as defesas patogênicas tenham a sua raiz na infância,
mediante constante repressão dos instintos.
O desmaio deve ser analisado como uma forma muito próxima de um padrão
comportamental do neurótico que se utiliza de defesas patogênicas. Com o desmaio o
108
Uma mãe que se preocupa exageradamente com o filho pode ser reflexo de uma
verdadeira hostilidade a ele. Um indivíduo demasiadamente valente, pode ser reflexo de um
medo do oculto. Porém vale salientar que existem outros fatores que levam um homem a ser
valente e uma mãe a preocupar-se com o filho, sem ser obrigatoriamente um exemplo de
formação de reação. A formação de reação é o mecanismo de defesa mais eficiente e
poderoso para afastar a pessoa do que possa causar-lhe angústia. Porém é perigoso por conta
da intensidade irracional da reação.
Certa feita hospedamos em nossa casa um obreiro muito rigoroso, que nem chegava
perto da televisão, tratando-nos com desprezo por possuí-la. Um dos nossos filhos,
adolescente, foi conversar com ele usando bermudas e ele literalmente “acabou” com o
menino, objetando-lhe depreciações. Alguma coisa nele simplesmente não condizia com a
normalidade. Onde estava o amor paciente de Deus para com uma alma preciosa? Não
demorou muito tempo e, infelizmente, vieram à tona casos de adultério que ele escondia já
fazia alguns anos. A excessiva rigidez não passava de uma máscara para esconder a sua
verdadeira situação interior.
Em nossa jornada dentro da igreja cristã temos visto obreiros vivenciando essa triste
realidade da formação reativa. Um deles, reprimindo instintos homossexuais sem, contudo,
ser liberto deles, casou-se com uma moça ingênua. Esta, confinada a um casamento com um
relacionamento anormal, acabou adoecendo gravemente e falecendo muito nova. O marido,
em sua viuvez, procurou jovens da congregação para lhe “fazerem companhia”, com a
desculpa de estar abatido em sua solidão, tentando-os depois a aceitarem as suas práticas, até
então reprimidas. O escândalo foi muito grande, resultando ainda em que vidas inocentes
deixassem de crer no poder libertador de Cristo, abandonando sua fé.
[...] os impulsos sublimados descarregam-se, se bem que drenados por uma trilha
artificial, enquanto os outros não se descarregam. Na sublimação, cessa o impulso
original pelo fato de que a respectiva energia é retirada em benefício da catexia do
seu substituto. Nas outras defesas, a libido do impulso original é contida por uma
contracatexia elevada. (FENICHEL, 1997, pp.131 e 132).
110
A origem de seus problemas encontra-se no seu próprio interior, já que sua
tendência de modus vivendi é completamente inaceitável para os padrões de comportamento
que deseja transparecer para a sociedade com a qual convive. Em certos casos essa tendência
é conhecida e a luta pela dissimulação é consciente, mas em grande parte das situações essa
pessoa considera a sua verdade tão perigosa que consegue dissimulá-la de si mesmo, e o medo
de ser por ela vencido determina a construção de uma imensa barreira psicológica na tentativa
de sua completa eliminação.
No Paraná existe um sujeito que se intitula “Inri Cristo”, o qual usa túnica e manto,
anda com uma coroa parecida com espinhos trançados, e conseguiu adeptos que se trajam
como as pessoas dos tempos de Jesus, dizendo-se os proclamadores da mensagem dos tempos
finais. Um exemplo típico de uma pessoa doente mental ou tomada por espíritos demoníacos,
porém com forte poder persuasivo. Por acreditar nessa verdade, esse indivíduo dificilmente
permitirá que lhe seja aplicado um tratamento psicológico ou espiritual que o ajude em sua
libertação de tal cativeiro. Jesus disse: “Acautelai-vos [...] muitos virão em meu nome,
dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos”.
os que participam do seu convívio. Essa forma de defesa precisa receber atenção especial e
carece de um tratamento muito sério, a fim de que não haja prejuízos à igreja de Cristo na terra.
A maioria das pessoas que adota atitudes de fuga justifica-se e invoca pretextos que
não são mais do que racionalizações para recusar afirmar-se. Contudo, será também essa
maioria que virá a sofrer as conseqüências negativas desse comportamento, que se traduzem
freqüentemente em rancor ou ressentimento; incapacidade de comunicação com o outro (que
acaba por não conhecer de fato); desperdício de energia (porque a inteligência e afetividade
são usadas para se defender e não para ações construtivas para si próprio e para os outros);
perda de respeito por si mesmo; baixa da auto-estima; sofrimento pessoal.
Com freqüência, geram-se ciclos viciosos de auto-reforço desta atitude de fuga e isto
por três razões fundamentais: (1) uma falsa representação da realidade envolvente
(freqüentemente, criam-se fantasmas sobre o poder dos outros; imagina-se que ele é muito
mais elevado do que de fato é; que pode fazer mal e obstruir a nossa própria ação); (2) uma
desvalorização excessiva da situação (desvalorização da própria capacidade para resolver os
problemas; desvalorização das possibilidades de solução; da gravidade dos problemas; da
própria existência do problema, etc.); (3) uma necessidade de ser apreciado (esta leva à
tendência para evitar a todo o custo os conflitos e daí a demissão e a capitulação ou atitudes
de resistência em presença dos oponentes).
A fuga é um tipo de fantasia que afasta a pessoa da realidade. Às vezes ela chega a
fugir literalmente de situações onde possa ocorrer o conflito. Podemos dar como exemplos um
113
estudante que mude de curso por não estar conseguindo um bom desempenho; um homem
que abandona a família por ter constantes brigas conjugais; a pessoa que se entrega à
depressão por se sentir incapaz diante de situações conflitantes. Em vez deprocurar resolver o
problema, o que dispende energia, tempo e até dinheiro, prefere fugir.
Anotamos alguns casos típicos de escapismo: o “apressado” que nunca tem tempo
para nada; a pessoa que “bloqueia” perante os problemas e que se mostra tímida e silenciosa;
aquela que “adia tudo”, arranjando sempre boas desculpas para resolver mais tarde; o
indivíduo que assume a postura de “observador”, não participa e recusa-se a tomar partido
(numa linguagem simplista, o que “fica em cima do muro”); o “ideólogo” que precisa sempre
refletir e que, para resolver qualquer problema, tem que mudar todo o sistema; o “amável”
que procura sempre ser agradável e deixa que o explorem ou manipulem; o “concordante” que
está sempre de acordo com tudo e não suporta o conflito; o “dominador”, que se impõe pela
violência, evitando todo tipo de diálogo e confrontamento; o “lamuriento” que se torna um
fracassado, sempre reclamando de tudo e de todos.
Existem, ainda, outros tipos de escapismo que desencadeiam o efeito de uma bola de
neve, porque, além da pessoa sofrer, provoca o sofrimento de muitos, como a bebida, o
cigarro, as drogas, o sexo desenfreado, o jogo, a agressão violenta. E, o pior deles, que é o
suicídio, onde o trânsfugo decide que dar cabo da vida é a melhor forma de resolver o
problema de uma vez por todas. Os primeiros ainda têm chance de se recuperar, porém o
suicida, ao resolver o problema terreno, encontra um problema eterno, para o qual não há
nenhuma forma de fuga, escapismo ou solução, que é a condenação da alma.
É normal que a pessoa com um certo temor, ao passar por dificuldades, procure
refúgio na religião. O salmista assim se expressou: “Ah, quem me dera asas como de pomba!
Voaria, e estaria em descanso. Eis que fugiria para longe, e pernoitaria no deserto.
Apressar-me-ia a escapar da fúria do vento e da tempestade”, Sl 55.6-8. Perseguido,
oprimido pelo furor dos que o aborreciam, ele foi tentado a encontrar solução na fuga. Porém
achou alento na oração e conseguiu vislumbrar, em Deus, uma solução para o seu problema.
Mas esse problema tinha que ser enfrentado e o salmista entendeu que Deus o ajudaria a
vencer.
pode”; “você tem a força”; “desperte o dragão que está dentro de você”; “faça o que o seu
coração manda” e tantas outras, que mostram que a solução para todas as coisas está dentro do
homem. Não importa se tais atitudes custem a quebra de relacionamentos, o desmoronamento
de valores, a desintegração dos costumes, a perda da fé genuína em Deus.
Quando o indivíduo centraliza toda a sua devoção religiosa em sua própria pessoa,
tende a piorar a situação. Em nenhum texto da Bíblia Jesus ordena que amemos a nós
mesmos, mas que amemos a Deus e ao próximo. A Bíblia apresenta uma base para o amor
completamente diferente daquilo que a psicologia simplesmente humanista anuncia. Nenhum
versículo da Bíblia enfatiza: “amai-vos a vós mesmos”, mas “amai o vosso próximo como a
vós”. Isto é, tudo o que eu desejo e quero para mim, vou desejar e querer para o meu próximo.
Ao invés de promover o amor-próprio como base para amarmos os outros, a Bíblia diz que
Deus é a fonte verdadeira do amor, da paz e da alegria.
Segundo o ensino da Teologia da Prosperidade, como já vimos, todo crente tem que
ser rico, possuir bens materiais, ter bom salário, além de ter saúde plena. Basta "determinar" e
as coisas acontecerão. Caso isso não ocorra, é porque a pessoa está em pecado, ou não tem fé.
Isto causa uma euforia religiosa, em busca dos bens terrenos e também uma frustração terrível
quando não se alcança tal objetivo. Perde-se a verdadeira visão da salvação, da fé simples em
Deus e da confiança em Sua soberana vontade. São enfatizados textos bíblicos que
fundamentem tais ensinamentos, em detrimento de outros, que ensinam o bom-senso, a
moderação e a busca da orientação divina em todo o contexto acerca do sofrimento humano.
Isto gera um sistema de fuga em cadeia: a pessoa não alcança seus objetivos em uma
igreja, foge para outra, para outra, para outra, sem criar raízes, sem fixar-se em lugar algum e
sem resolver verdadeiramente o problema interior que a escraviza. E o que é pior: o
sofrimento deixa de ser visto como um instrumento de aperfeiçoamento, de mudança interior,
para ser encarado como um inimigo feroz que deve ser combatido a qualquer custo. Conheço
pessoas que vivem de profeta em profeta, de igreja em igreja, buscando palavras acerca do seu
problema familiar ou profissional – problema esse que, sem dúvida, seria nulo ou quase
inexistente se essa pessoa mudasse o seu caráter e o seu comportamento pelo poder do
Espírito Santo, em vez de fugir das situações que eles desencadeiam.
Lembro-me de um dia em que fui procurada por uma jovem senhora perto das nove
horas da manhã. Ela começou dizendo: “Você é a terceira pessoa que procuro hoje, pois
preciso de uma palavra de Deus”. Naquele horário, ela já havia ido a dois lugares em
diferentes pontos da cidade, para ouvir a palavra que ela queria ouvir, e não aquela que Deus
queria lhe falar. Em vez de enfrentar uma situação difícil que estava vivendo, procurava se
alimentar de profecias e revelações que aprovassem sua conduta diante dos problemas. Esse
tipo de procedimento dificilmente levará à mudança, porque a pessoa quer que Deus resolva
seus problemas segundo a sua forma de ver, mas não deseja, de coração, ceder à vontade de
Deus, o que exigiria um enfrentamento de si própria.
Quando, em momentos difíceis, a pessoa “escapa” para Deus, ainda encontra uma
solução plausível para sua situação - se mantiver o coração aberto para a solução divina. O
salmista escreveu: “Debaixo das tuas asas me abrigo, até que passem as calamidades”, Sl
57.1. O governador Neemias, em situação de angústia e opressão do inimigo, refugiou-se em
Deus e foi abençoado (Ne 3,4,6,9). O Salmo 18 demonstra uma série variada de situações em que
o poeta, se refugiando e escapando para a presença de Deus, acabou obtendo grandes vitórias.
Estas são “fugas” temporárias, benéficas até certo ponto, que ajudam a alcançar soluções para
enfrentar a realidade e resolver os problemas com sobriedade e sabedoria. O próprio Jesus, antes
de iniciar o Seu ministério terreno, “fugiu” para o deserto, a fim de vencer o tentador e buscar a
direção divina para a escolha do Seu discipulado, Mt 4.1-10.
117
Vemos no Salmo 73 um caso típico de uma pessoa revoltada, abatida, frustrada e até
indignada, quando via a prosperidade dos ímpios e a dificuldade dos salvos. Enquanto o
salmista “escapou” para a inveja, a indignação, os julgamentos e até acusações contra Deus,
diz que adoeceu, quase vacilou na fé, ficou “embrutecido e ignorante, como um irracional”,
v.21,22. Até que decidiu “fugir” para o santuário de Deus, para a Sua presença, e ali recebeu
instrução, revelação, renovação e consolo. Disse afinal: “Quanto a mim, bom é estar junto de
Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos”, v.28.
“Fugir” para os braços do pai ou da mãe, para o aconchego do lar, para a presença de
Deus, pode não resolver todo o problema, mas alivia a alma e transmite uma sensação de
segurança. Mas essa “fuga” tem que ser temporária, o suficiente para receber renovação,
como a águia, que “foge” para os altos picos, a fim de renovar sua plumagem e afiar suas
garras. Restaurada, a pessoa tem que voltar para a sua realidade e enfrentá-la, buscando
soluções plausíveis para cada situação de conflito.
Na religião, porém, pode advir outro problema patológico. Com a "desculpa" de estar
buscando e servindo a Deus, a pessoa pode fugir de suas responsabilidades inerentes à vida
profissional, familiar e conjugal. Há os que, afirmando “viver pela fé”, não trabalham, vivem
à custa de outras pessoas e nunca assumem uma postura adequada, escandalizando o
evangelho de Cristo. Paulo repreendeu os tais: “Porquanto ouvimos que alguns entre vós
andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs”, 2 Ts 3.11. Temos
evidenciado muitos problemas familiares decorrentes de pessoas – até sinceras e capacitadas -
que estão plenamente disponíveis para a igreja, mas totalmente adversas para suas
responsabilidades familiares ou profissionais. Tais pessoas precisam de orientação espiritual e
psicológica, para que venham a viver num clima de normalidade.
Porém a vida de Carlos era turbulenta e desatinada, com freqüentes problemas com a
mãe (a qual tinha uma vida moral irregular). Fizemos de tudo por aquele jovem, mas ele
entendia que “precisava fazer a obra de Deus”, porém não deixava que Deus trabalhasse em
seu caráter. Ele dava problemas em todos os empregos que alguém da igreja lhe arrumasse.
Foi indo, em altos e baixos, até que se envolveu com o roubo comprovado no meio do
rebanho. Daí começou a aparecer os rastros da sua triste passagem pela igreja, com muitos
depoimentos de pequenos furtos, enganos e outros relatos depreciativos que muito nos
entristeceram. Este jovem nunca se rendeu de verdade ao Senhor, apenas fugia para a religião,
a fim de tentar convencer a si próprio de algo que ele realmente não era. Até onde temos
notícia, a sua história acabou com o jovem fugindo da polícia para não ser preso.
7.3. PASSIVIDADE
ao holocausto, em favor das nossas almas (Is 53). Ele não estava adotando o mecanismo da
passividade, porque enfrentava conscientemente um momento que tinha de acontecer para
realizar o propósito divino. Diferente reação teve Nabal, que diante das ameaças de Davi,
resolveu optar pela passividade: “[...] ele é um tal filho de Belial, que não há quem lhe possa
falar”, 1 Sm 25.18
Segundo Schiff (1974), o indivíduo que responde a uma situação problemática nada
fazendo, é bem capaz de desencadear uma simbiose. Por exemplo, a mulher que se cala e se
anula para poder conviver com um marido violento, porém fica frustrada por não realizar o
que é próprio da sua personalidade. A passividade assumida pelo sacerdote Eli diante da
rebeldia de seus filhos custou caro não só a ele, mas a toda a nação de Israel, 1 Sm 2-3.
Na Super Adaptação o indivíduo possui mais capacidade de pensar do que nos outros
comportamentos passivos, por isto torna-se mais fácil oferecer grandes quantidades de dados
e informações sobre suas habilidades e capacidades. Fica, assim, mais difícil o indivíduo
continuar desqualificando quando confrontado. Segundo Schiff (1974) é o comportamento
passivo mais acessível a tratamento. Entre a Super Adaptação e a Agitação, que é um estado
psicossomático, existe um estado intermediário chamado de Sobre Adaptação. Schiff acredita que
120
são necessários mais estudos para entender as implicações da Sobre Adaptação e como ela rompe
e impede a solução de problemas.
Schiff (1974) afirma que a grandiosidade é mantida pela crença de que a atividade
seja produtiva, onde o indivíduo pensa que está realizando algo quando caminha de um lado
para o outro, por exemplo. E o que de fato ele está fazendo é trabalhar a histeria na direção de
uma descarga violenta de energia, que reduz sua capacidade. Segundo os autores, alguns
comportamentos agitados, tais como gagueira, são por si só, tão incapacitadores que os torna
difícil distinguir entre a Agitação e Incapacitação, ao passo que comportamentos ritualísticos,
tais como fumar, podem ter importante papel no controle da Agitação, ou podem ser, eles
próprios, comportamentos agitados.
Schiff (1986) acredita que a Sobre Adaptação é a que tem melhor prognóstico, pois é a
que demonstra mais pensamento, propiciando assim, maior facilidade para a resolução. A Super
Adaptação aparece em muitos Jogos Psicológicos tais como “Veja como me esforcei”, “Se não
fosse por Ele”, “Perna de Pau”, etc. O indivíduo parece estar buscando uma solução para o
problema, mas é incapaz de chegar a uma solução satisfatória e se justifica: “Eu estava por demais
amedrontado”, ou “simplesmente não sabia o que fazer”, ou qualquer outra desculpa.
cabeça e que ele pode resolver problemas. Uma combinação de expectativa e apoio pode ser
útil para desencadear a ruptura da passividade. É necessário que existam definições externas
da realidade e das expectativas, uma vez que há muita grandiosidade projetada, embora o
indivíduo possa parecer estar respondendo adequadamente à situação, o seu pensamento é
às vezes claramente desviante.
Schiff (1974) acredita que punição ajuda positivamente ao indivíduo a estabelecer metas
realizáveis, como por exemplo: ele pode não estar motivado para realizar as tarefas que lhe
tragam carícias positivas, mas pode ficar motivado para evitar castigos e logo desejará estabelecer
uma meta para si que seja coerente com a expectativa. Ele defende que o procedimento mais
adequado quando o indivíduo encontra-se agitado é atuar como pai do indivíduo, até que ele
esteja adaptado à parentalização e então lide com o que está causando o comportamento.
O procedimento desse religioso é explicar tudo por meio de seu livro sagrado,
impedindo, com a ameaça de estar cometendo algum grande pecado, qualquer forma de
questionamento. Pode até chegar às raias do fanatismo religioso e do fundamentalismo
radical. Conhecemos um amado irmão que sempre teve muitas dificuldades em aplicar a
correção bíblica para os filhos e netos, devido a traumas sofridos com a intransigência do
avô, sempre citando as Escrituras para tolher quaisquer manifestações que os netos, como
crianças, pudessem ter.
7.3.1. O ataque
7.3.2. Acomodação
Ruth Mack Brunswick (in: Márcia Homem de Melo, internet) mostra que desde
criança começa a relação passiva com a mãe, que satisfaz todas as necessidades. Na mãe ativa
pode estar a identificação da atividade. Victor Dias (id) comenta que por volta dos três anos, a
criança já tem instalado o processo de busca. A falta desse processo de busca e da angústia
gera o acomodamento psicológico.
objetivos ou, pelo menos, não ser claro quanto aos objetivos. Freqüentemente a manipulação
surge inconscientemente, sem que as pessoas se dêm conta do que estão fazendo (sobretudo
quando se culpa os outros no que respeita aos próprios valores, para as fazer agir num
determinado sentido). A manipulação é tanto mais eficaz quanto maiores são as diferenças de
poder e de influência, mas a pessoa que manipula perde toda a credibilidade à medida que os
seus truques se denunciam. O tempo gasto custa muito caro porque os problemas continuam
sem ser resolvidos; os compromissos continuam a não ser cumpridos e as decisões continuam
a não ser aplicadas.
Podemos enunciar alguns casos típicos: a pessoa que seduz e lisongeia; aquela que
desvaloriza o outro quando este é inseguro ou fraco; a que exagera e caricaturiza; a que
simula e confabula; o “conspirador”; aquela que faz “combinações secretas” (com trocas de
favores, caso típico dos políticos e pessoas que almejam cargos e posições); a pessoa que
acusa, fingindo ser o “salvador” (“faço isto porque sou teu amigo”); a pessoa que finge ser
franca; e aquela que encobre seus reais motivos ou comportamentos. Caso típico
encontramos na pessoa de Absalão, o ardiloso filho de Davi, que, desejoso de ocupar o
trono real, “roubava” o coração do povo com lisonjas e promessas irreais, 2 Sm 15.2-6.
7.4. FATALISMO
Nome de um sistema filosófico, Fatalismo é aquilo que não pode ser evitado. Está
pré-destinado que assim vai acontecer e nenhuma opção pode ser tomada. Esta doutrina
afirma que todos os acontecimentos ocorrem de acordo com um destino fixo e inexorável, não
controlado ou influenciado pela vontade humana. Embora aceite um poder sobrenatural
preexistente, não recorre a nenhuma ordem natural. Devido a esse raciocínio, recusa a
predestinação. Também costuma ser confundido com determinismo. Exerceu influência,
especialmente, sobre os antigos hebreus e alguns pensadores gregos. (Disponível em:
wikipedia.org/wiki/Fatalismo).
DASSI cita uma das mais surpreendentes ilustrações na História, sustentada pelos
crentes da Cumberland Presbyterian, os quais, durante cerca de uma centena de anos, têm
vigorosamente afirmado que a Confissão de Fé de Westminster ensina o “fatalismo”. O que
eles querem dizer é que a Confissão de Fé de Westminster ensina que é Deus quem determina
tudo o que acontecerá no universo; que Deus não tem - usando uma sentença do Dr. Charles
Hodge – “atribuído nem à necessidade, nem ao acaso, nem ao capricho do Homem, nem à
malícia de Satanás, o controle da seqüência de eventos e todos os seus resultados, mas têm
guardadas em suas mãos as rédeas do governo”. Isto, dizem eles, é fatalismo, porque envolve
“uma necessidade inevitável” no desenrolar dos acontecimentos. É o mesmo que dizer:
Satanás não existe, a “carne” não exerce influência sobre o homem e tudo o que acontece, tem
que acontecer (ou, teria que acontecer).
127
Contrariando a atitude do fatalismo, existe um ditado que diz: “Uma pessoa pode
viver quarenta dias sem alimento, três dias sem água, oito minutos sem ar, mas nenhum
minuto sem esperança”. Encontramos a seguinte ilustração:
Esse mesmo raciocínio é endossado pela pessoa que entende como a vida está
passando rapidamente e que, para sobreviver e prosperar, ela precisa deixar o passado para
trás. É verdade que nem sempre se consegue esquecer o passado, mas não é necessário viver
nele. A falta de esperança no futuro mantém a pessoa obcecada com o passado e refém do
fatalismo, sem força para viver o momento atual. Ela não acredita em mudanças, nada vê no
seu horizonte futuro, então nada faz, nem se esforça, acreditando que “sempre foi assim”. Ela
se concentra na tarefa de salvar sua memória em vez de aguçar a sua visão. O fato de arrastar
o passado atrás de si tolhe o impulso de se mover em direção do amanhã.
A pessoa fatalista pode até crer em Deus, mas entende que, se Ele determinou algo,
de nada vale lutar pela mudança. Acha que o sofrimento é uma cruz que ela precisa carregar e
pronto. Muitas vezes ela desiste de buscar a mudança, achando que, se “tem que ser assim,
assim será”. Na verdade, o fatalismo bate de frente contra a fé, contra a esperança, contra o
sentido da verdadeira existência. Os grandes milagres e as grandes operações da Bíblia
ocorreram por meio de pessoas que, movidas pela fé e inconformadas com a presente
situação, entenderam que tudo poderia mudar se tão somente elas buscassem ao Senhor. Se,
depois de orar, jejuar, buscar, arrepender, clamar, o mal ainda acontecer, daí então, podemos
128
acreditar que “esta era a vontade de Deus”. Mas enquanto a “coisa” não acontece, podemos
lutar e não ficar com as mãos presas na cruz da fatalidade.
7.4.1. Negativismo
7.5. ISOLAMENTO
Um conflito cria certa angústia, a qual motiva o indivíduo a sanar esse problema.
Porém, nem sempre ele é capaz de resolver um problema de forma imediata e direta, pois
os problemas pessoais quase nunca podem ser resolvidos através da razão. Isso se dá pelo
fato de que os problemas pessoais têm um certo envolvimento emocional que diminui a
objetividade, conseqüentemente somos levados a resolvê-lo de forma indireta e
tortuosamente, buscando um ajustamento.
7.5.1. Projeção
Trata-se aqui de uma defesa de origem muito arcaica, que vamos encontrar em ação
particularmente na paranóia, mas também em modos de pensar “normais”, como a
superstição. É o caso, por exemplo, do menino que gostaria de roubar frutas do vizinho sem,
entretanto, ter coragem para tal ato, e diz que soube que um menino, na mesma rua, esteve
tentando pular o muro do vizinho com esse intento. Outro caso é o estudante que cria o hábito
de colar nas provas dizendo, para se justificar, que os outros colam ainda mais que ele.
7.5.2. Repressão
Se a Repressão apenas apagasse o conflito e toda a angústia a ele ligado, seria uma
forma “ideal” de defesa, porém os conflitos e angústias por ela apagados, quando voltam, têm
seus efeitos extremamente potencializados, e ainda, o alívio que ela proporciona tem outras
131
A maior parte das identificações ocorre no mundo da fantasia, temos como exemplo a
criança que identifica-se com seu herói favorito, a moça que identifica-se com a “mocinha” da
novela, e outros. Algumas ocorrem, ainda, em grupos anti-sociais, como grupos Neonazistas,
por exemplo, essas, a longo prazo, podem trazer dificuldades ainda mais sérias de ajustamento.
7.6. FANTASIA
É um processo psíquico em que o indivíduo concebe uma situação em sua mente, que
satisfaz uma necessidade ou desejo, que não pode ser, na vida real, satisfeito. A fantasia é
usada com o objetivo de manter o auto-respeito e defender a pessoa de ameaças e angústias. A
pessoa se vê obtendo grandes trunfos, fazendo atos heróicos, sendo um conceituado
empresário, um presidente, um milionário. Há aqueles que, dentro da Igreja, se vêem cantores,
pregadores, profetas, e se fecham num mundo fantástico que na maioria das vezes foge
completamente à sua realidade. A fantasia é normal na criancinha, porém inadequada nas
132
fases púbere e adulta, quando a pessoa precisa assumir que o futuro ou o “sonho” não é um
lugar para onde se está indo, mas um lugar que se está construindo.
O mundo hoje chama de “sonhos” aquilo que sempre chamamos de “ideal”. Nesse
aspecto a fantasia pode ser muito eficiente, pois gera algo grande na pessoa e a capacita a
enfrentar melhor os seus problemas. Pode ser que, por ela, a pessoa decida se tornar aquilo
que imagina ser e busque esse ideal. Cremos que os sonhos de voar levaram Santos Dumont a
criar o avião. Lembramos do testemunho do Pr. Josué Yrion, o qual dizia que, no seu afã de
pregar, firmava melancias em estacas e pregava para elas. As suas fantasias se tornaram realidade,
quando buscou o aperfeiçoamento e se tornou um renomado pregador da Palavra de Deus.
7.7. REGRESSÃO
É o processo psíquico em que o Ego recua, fugindo de situações conflitivas atuais,
para um estágio anterior. É o caso, por exemplo, de alguém que depois de repetidas
frustrações na área sexual, regrida, para obter satisfações, à fase oral, passando a comer em
excesso, a roer unhas ou chupar os dedos. Considerada em sentido tópico, a regressão se dá,
de acordo com Freud, ao longo de uma sucessão de sistemas psíquicos que a excitação
percorre normalmente segundo determinada direção.
A regressão tanto pode ser um mecanismo adotado pela pessoa inconscientemente,
como pode ser forjado pela psicanálise para detectar a origem dos problemas, geralmente por
meio da hipnose. Religiões da modernidade (o movimento G-12, por exemplo), embrenharam
para a prática da regressão, a fim de realizar a “cura interior” das pessoas. Prática essa
perigosa, em face da inexperiência dos aplicadores e por colocar em perigo a pessoa “em
transe” ou “estado alfa”. A Bíblia nos garante que a pessoa que se converte a Cristo se torna
uma “nova criatura”, onde o passado não mais tem poder sobre ela. Por meio da oração e da
fé, ela buscará a libertação de toda lembrança passada, perdoando e buscando o perdão, que é
a forma mais sublime de impedir que os traumas e decepções passadas venham a nos destruir
ou abater.
Reconhecer a realidade das provas e tentações, bem como o seu sentido correcional e
edificante, ajuda a administrar os momentos difíceis por que passamos. A Bíblia orienta-nos a
assumirmos atitudes de fé, de recorrência à Palavra, de busca em oração para a solução dos
problemas e libertação das nossas insanidades. Porém nem sempre tomamos este caminho
espiritual de nos colocarmos, com o rosto descoberto, diante de Deus para que Ele trabalhe o
134
nosso caráter, aperfeiçoe nossos caminhos e nos forneça estratégias para alcançarmos a vitória
em todas as tribulações que nos assolam.
A Psicologia, que tantos crentes procuram como recurso para seus sofrimentos (e,
convenhamos, nem sempre com critérios adequados, negligenciando a busca de profissionais
cristãos e comprometidos com Deus) surgiu no início do século passado. Bem antes dela,
gerações e gerações sofreram perdas, traumas, frustrações, decepções e outros problemas
diversos e muitos foram abençoados, curados, restaurados, pelo poder de Deus e das Sagradas
Escrituras. “Enviou a sua palavra, e os sarou, e os livrou da destruição”, Sl 107.20.
A reação dos psicólogos e psiquiatras não-cristãos tem sido menos entusiasta, mas
essa atitude era de se esperar. Em primeiro lugar, porque a Teoria dos Quatro
Temperamentos não é compatível com as idéias humanistas em voga; em segundo
lugar, porque os psiquiatras, não crendo em Deus, rejeitam, em princípio, o poder do
Espírito Santo como eficiente na cura das fraquezas humanas [...] Chegou a hora de
alguém mostrar que a Psicologia e a Psiquiatria estão fundamentadas principalmente
sobre o humanismo ateísta. Darwin e Freud moldaram o pensamento do mundo
secular a ponto de ele ter a maior parte da sua estrutura mental construída sobre duas
premissas: 1) não há Deus – o homem é um mero acidente biológico; 2) o homem é
um ser supremo, com capacidade para resolver por si mesmo todos os seus
problemas. [...] Apenas chamo a atenção para o perigo de os cristãos serem
enganados pela ‘sabedoria deste mundo’ [...] os cristãos têm um meio de aferir a
exatidão das premissas e das conclusões dos homens: a Palavra de Deus! [...] Não
há nada de errado em estudar e usar os princípios válidos da Psicologia, da
Psiquiatria ou de qualquer outra ciência, desde que os tornemos válidos pela
Palavra de Deus. ( pp.12-14).
O Pr. LaHaye conta acerca de um psicólogo convertido ao Senhor Jesus, que disse
ter adquirido duas certezas: “[...] primeiro, é que a Bíblia tem as respostas para todos os
problemas do homem; segundo, é que elas são, na verdade, bem simples”, ( p.14). Segundo
135
analisa o Pr. LaHaye, cada indivíduo tem o seu temperamento e cada temperamento tem os
seus aspectos positivos (que devem ser reforçados) e os negativos (que podem ser
transformados pelo poder do Espírito Santo de Deus). Um exame sincero de consciência, uma
profunda introspecção diante de Deus conduz o homem ao conhecimento de si mesmo e
dependente do Espírito Santo para sua mudança e verdadeira paz interior. Tal expectativa
levou o salmista a dizer: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece
os meus pensamentos; e vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho
eterno”, Sl 139.23,24.
O Pr. Dave Hunt (internet), em artigo retirado do livro “A mulher montada na besta”,
analisa que o mundo moderno vive um momento de grande decadência espiritual e moral,
“que teve origem numa grave crise de seriedade”. O autor analisa que essa crise veio se
desencadeando ao longo dos séculos, mas até a I Guerra Mundial (1914-1918), a sociedade
“ainda conservava importantes traços de seriedade”. Ele expõe que filmes e fotografias da época
mostram pessoas sérias, tanto nas cenas da vida cotidiana como em ocasiões de solenidade.
O que esse espírito esconde, é o final que muitos destes artistas tiveram em sua curta
existência (morrendo muitos de overdose de entorpecentes, sem família, problemas graves em
todas as áreas da existência) e o final eterno que terão, ao conduzir suas vidas num caminho
totalmente dissoluto e adverso à Palavra de Deus. Os mesmos que hoje transmitem uma
imagem de alegria e despreocupação, se permanecerem com suas vidas dissolutas e recobertas
de pecaminosidade, amanhã gemerão no fogo eterno, se não se converterem a Cristo e
abandonarem suas práticas abomináveis. Usar máscaras diante do sofrimento inevitável na
existência terrena pode custar o preço do sofrimento sem solução por toda a eternidade.
Outro aspecto que demonstra essa crise de seriedade, penso eu, é a oferta de
entretenimento barato, que possa “distrair” o indivíduo, arrancando-o de seus problemas para o
riso forjado, o besteirol consumado, tudo que possa ocupar o seu tempo e impedi-lo de enfrentar
aquilo que o aflige, buscando soluções e mudanças. Belas e atraentes mulheres, por exemplo,
fazem a propaganda do vício exacerbado que mantém o homem em constante disposição para o
pecado e o erro. Ao deixar de se ocupar com a seriedade do sofrimento e suas conseqüências, o
ser humano busca alternativas prazerosas, ainda que redunde em prejuízos maiores e até mesmo
irreversíveis para si e para os que o rodeiam, no presente e na eternidade.
Concordamos com Hunt, que a vida precisa ser encarada com seriedade, muita
seriedade, por causa das implicações que as decisões tomadas possam ter no resultado final da
nossa existência. Jamais podemos nos esquecer que temos uma alma, essa alma é eterna e ela
tem somente dois lugares em que poderá se alojar na eternidade. O desfecho da história
pessoal de cada ser humano ou será desfrutando da felicidade no céu ou sofrendo
desgraçadamente no inferno. Assim lemos em Dt 30.19,20:
Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, que te tenho proposto a vida
e a morte, a benção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua
semente, amando ao Senhor teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e te achegando a
ele; pois ele é a tua vida, e a longura dos teus dias; para que fiques na terra que o
Senhor jurou dar a teus pais [...].
A certeza que a Bíblia nos dá é que, no céu, as dores cessarão, as lágrimas secarão,
findarão os gemidos, a morte terá o seu fim e somente o regozijo da Santa Presença de Jesus
permeará á vida do crente fiel que manteve a sua vida em santidade e temor até o fim, apesar
dos sofrimentos enfrentados:
E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os
homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com
138
eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá
mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são
passadas, Ap 21.3,4.
O capítulo quatro do profeta Amós demonstra esta triste condição dos que sofrem e
não se convertem. Por meio da mensagem Deus retrata uma série de situações que Ele havia
“permitido” ou “enviado” o sofrimento, e em todas elas encontramos: “contudo não vos
convertestes a mim, diz o Senhor”. Isto representa que o sofrimento ou a provação não havia
cumprido o seu propósito na vida do povo rebelde.
Nenhum texto bíblico nos autoriza a pensar que após a morte existe um local
intermediário para purgação dos erros cometidos durante a existência humana, como ensina o
catolicismo. Deus usou o profeta Ezequiel, capítulo dezoito, para trazer a mensagem que “a
alma que pecar, essa morrerá”, ou seja, perderá a chance da vida eterna com Deus. Também
a Bíblia confronta o ensino do espiritismo e outras religiões que aceitam a reencarnação como
processo de aperfeiçoamento para as almas humanas: “Porque ao homem está dado morrer
uma vez, vindo depois disto o juízo”, Hb 9.27. E podemos estar certos, que não são as
fragrâncias, pedras, cores, mantras, propaladas pela Nova Era e outras seitas esotéricas, que
irão arrancar do homem o seu sofrimento. Estes possuem um efeito “placebo”, ou seja, são
mentiras com efeito terapêutico sugestionável, porém sem erradicação do mal.
personalidade) por tempo indefinido, sem tomarmos consciência da nossa necessidade não
só de ajustamento, mas principalmente de aperfeiçoamento, correção e crescimento
espiritual. Para Hunt (internet), “A graça de Deus nos chama constantemente para as vias
da salvação, mas a escolha do caminho depende também da nossa cooperação – ou não
cooperação – com essa graça”.
A dupla perspectiva do nosso destino final deve levar-nos a não conduzir a vida
como um jogo inconseqüente, onde “o importante não é ganhar, mas competir”. O apóstolo
Paulo enfatiza a idéia que, no plano espiritual, o importante é ganhar, porque já estamos
dentro de uma competição indiscutível em nossa carreira humana:
Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só
leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo
se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma
incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não
como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que,
pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado,
1 Co 9.24-27.
Sofre, pois, comigo, as aflições como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que
milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou
para a guerra. E, se alguém também milita, não é coroado se não militar
legitimamente, 2 Tm 2.3-4.
Quando Paulo diz: “aquele que luta de tudo se abstém” e “ninguém que milita se
embaraça”, ele está querendo enfatizar a importância e a seriedade com que a vida deve ser
encarada. De pouco adianta tapar os ouvidos aos clamores da Palavra de Deus e ficar vivendo
de maneira errada, ou fugindo, ou dissimulando, ou tentando se adequar a uma fantasia
ilusória que nos roube da realidade. Se o sofrimento entrou no mundo pelo pecado e, como
conseqüência da desobediência de nossos primeiros pais, herdamos as determinações
provenientes da justiça e do juízo divino que nos trazem dores e pesares, precisamos lutar
para reaver aquilo que perdemos.
Embora Deus tenha expulsado o homem do paraíso terrestre, fechado o céu para o
gênero humano e o condenado ao sofrimento e à morte por causa do pecado, o mesmo Deus
proveu para nós uma forma de resgate, de reconquista, de recuperação do gênero caído. A
grande misericórdia divina determinou que Seu Filho, a Segunda Pessoa da Santíssima
140
Trindade, se fizesse homem e pagasse por nós o débito do pecado, consagrando pelo Seu
corpo um novo e vivo caminho que permite ao homem encontrar, sem erro, a porta do céu.
Com Cristo, Deus proveu para a humanidade não só uma forma de garantia eterna no
céu, mas também a oportunidade de recuperação da paz interior e a chance para alcançar a
mitigação das suas dores e solução para o seu sofrimento (Is 53). Junto com Cristo, o Senhor
provê para nós a cura das enfermidades, a vitória sobre a carne e o diabo, a garantia do
pão diário e, principalmente, a comunhão íntima com Deus e com os salvos na terra.
Ainda que Ele permita as provações e tentações, junto com elas proverá o escape, para que
as possamos suportar (1Co 10.13). Além de afirmar que todas as coisas que nos
acontecem visam o nosso bem (Rm 8.28), o Senhor garantiu estar conosco todos os dias
da nossa vida, até a consumação dos séculos (Mt 28.20), prometendo nunca nos deixar e
jamais nos abandonar (Hb 13.5).
Todavia, Paulo deixa também claro, como outros escritores da Bíblia (o livro de Jó,
por exemplo), que no sofrimento do crente é Deus quem tem a última palavra. O ensino da
paciência, da fé persistente, da busca perseverante e da confiança plena em Deus, está
permeado em todo o conteúdo bíblico. Tal procedimento traz para nós respostas de
transformação da nossa imagem decaída pelo pecado, numa imagem restaurada pelo perdão
divino. Não adianta pensarmos que somos “supercrentes” ou “superpoderosos”, porque o
poder pertence a Deus e é Ele quem o distribui para nós pelo Seu Espírito. Mas vivendo
humildemente a vida de Cristo, experimentamos uma transformação à Sua imagem, de
“glória em glória”, pelo Espírito do Senhor (2 Co 3.18).
O sofrimento não deve tolher a nossa visão, mas sim ampliá-la: a visão de quem
somos, e as áreas que precisam ser mudadas ou fortalecidas em nossas vidas; a visão da
necessidade do nosso próximo; a visão das astúcias e manhas do nosso adversário; e a visão
141
da grandeza de Deus. Na verdade, Deus lida com situações elevadas demais para a plena
compreensão da nossa mente carnal, mas se descansarmos nele veremos que o Seu propósito
para conosco sempre foi e será elevado (Is 55.8). Deus enxerga além da nossa curta visão, Ele
traça planos além da nossa limitada capacidade e o Seu desejo é que nos rendamos, à semelhança
de Jó, esperando com fé na Sua operação: “Ainda que Ele me mate, n’Ele esperarei”, Jó
13.15. Lemos numa lição da revista de EBD eletrônica da CPAD: “Nosso sofrimento passa
pela transcendência divina”.
Moisés falou ao povo de Israel que “As coisas encobertas são para o Senhor nosso
Deus, porém as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre, para cumprirmos
todas as palavras da lei”, Dt 29.29. A verdadeira base da fé acha-se, não nas circunstâncias
pessoais, nem nas bênçãos de Deus; nem mesmo nas teses formuladas pelo intelecto, mas na
revelação do próprio Deus. Estando jurado de morte com todos os sábios na Babilônia, Daniel
pôde experimentar dos frutos da revelação divina, quando foi usado para descrever e
interpretar o sonho do rei Nabucodonosor. O rei, vendo que Daniel fora realmente usado por
Deus, reconheceu a existência daquele a quem Daniel servia (Dn 2).
“Nosso sofrimento passa pelo ministério doloroso, mas vencedor, de Cristo” (in:
ebdweb.com). Para a Igreja, Deus se revela no seu próprio filho, Jesus Cristo, Hb 1.1. A vida,
os sofrimentos e a vitória de Cristo são os paradigmas de comportamento para nosso próprio
sofrimento. Paulo reconhece e por diversas vezes aborda essa revelação, demonstrando que a
base de sua fé é o próprio Jesus Cristo e seu ministério, e essa deve ser a base de todos os
cristãos sofredores (Rm 16.25-27). Jesus mesmo ensinou que passaríamos por aflições, mas
que tivéssemos bom ânimo, porque Ele, embora sofrendo, venceu todas as adversidades e
tentações com que fora atingido (Jo 16.33).
Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos
céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo
sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, porém um que, como
nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao
trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de
sermos ajudados em tempo oportuno, Hb 4.14-16.
Os métodos usados por Deus para nossa provação e aprovação podem parecer duros,
mas no final, se formos pacientes e perseverantes na fé, conheceremos a compaixão, bondade
e misericórdia de Deus mais de perto: “Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram.
Ouvistes qual foi a paciência de Jó, e vistes o fim que o Senhor lhe deu”, Tg 5.11. A fé que
142
triunfa até o fim, entremeio a sofrimentos e dores, é a que será mais bem recompensada, tanto
na vida terrena, como na vida eterna. O fim das provações que o Senhor permitiu na vida de
Jó demonstra que, em todas as suas aflições, Deus cuidava dele e o sustentava com grande
misericórdia. A restauração final de Jó revela o propósito de Deus para todos os crentes fiéis:
o Senhor, sim, tem para nós um “happy end”.
O líder ou terapeuta cristão, acima de tudo, tem de saber conduzir o povo pelas vias
do sofrimento. Os problemas que o mundo enfrenta são, em sua grande maioria, de ordem
espiritual, e só podem ser solucionados por meio do evangelho de Cristo. Estar sensível ao
clamor dos povos por alívio dos seus sofrimentos é um estado de alma que só pode brotar do
genuíno amor de Deus derramado em nossos corações. O ardente desejo de ver as almas se
convertendo e os convertidos sendo vitoriosos revela o verdadeiro amor de Deus em Cristo Jesus.
Tiago enfatiza que o crente deve ter algumas posturas diante do sofrimento: primeiro,
ele deve encarar com gozo as tentações (Tg 1.2). Ele não está dizendo para se alegrar com a
dor ou perda; também não está dizendo que o objeto da alegria é a provação ou a perda que a
provação pode trazer. Ele não quis repassar a idéia de um Deus sádico, que nos ensina a ter
prazer na dor e nada fazer para que ela se acabe. Ele está ensinando um princípio de
crescimento e amadurecimento da fé, quando, no meio da dor, podemos nos alegrar por causa
do Deus que servimos, que nos conhece, que passa conosco e nos ajuda nas horas de provações:
Quando passares pelas águas estarei contigo, e quando pelos rios, eles não te
submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em
ti. Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador, Is 43.2,3.
143
Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os
olhos se viu um Deus além de Ti, que trabalhe para aquele que nele espera. Não sabes,
não ouvistes, que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra não se cansa
nem se fatiga? Não há esquadrinhação do seu entendimento. Dá esforço ao cansado, e
multiplica as forças aos que não tem nenhum vigor [...] Mas os que esperam no Senhor
renovação as suas forças, subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão;
caminharão, e não se fatigarão, Is 40.28-31; 64.4.
Provado e aprovado por Deus, Davi testemunha, no Salmo 40, a sua capacidade de
esperar com paciência no Senhor, em meio às circunstâncias e adversidades, o que o levou a
alcançar grandes vitórias. Ao contrário do salmista de Israel, muitos crentes perdem as
oportunidades que a vida lhes oferece para aprimorar o seu caráter, crescerem espiritualmente,
aperfeiçoar sua capacidade de perdão e misericórdia e, principalmente, conhecer a Deus mais
de perto. Tornam-se amargos, mal-humorados, murmuradores, fracos e doentes.
144
Tiago diz que Deus dá sabedoria “liberalmente a todos” e “não lança em rosto”, 1.5.
A sabedoria nos leva a vivenciar a atitude que Cristo teria na circunstância que estamos
vivendo. Ele quer que aprendamos o caminho da paciência nas provações, por isso espera que
peçamos a Sua ajuda. Se Ele nos prova com o propósito de aprovar-nos, como garante Tg
1.12, só Ele conhece os melhores meios para tornar isso possível. O apóstolo João disse que
“a vitória que vence o mundo” é a nossa fé em Deus, 1 Jo 5.4. Paulo garante que, junto com a
salvação em Cristo, o bondoso Pai Celeste nos dá, com Ele, “todas as coisas”, Rm 8.32.
Lemos numa ilustração que Victor Frankl, um psicólogo judeu, quando esteve
prisioneiro nos campos de concentração na Alemanha, falou: “Vocês podem tirar tudo de
mim, menos a minha capacidade de escolher como vou reagir diante do que estão fazendo
comigo”. Tim LaHaye, em seu livro “Temperamentos Transformados” (1990, p.124), narra
acerca de uma grande decepção que sofreu em seu ministério, que o chamava à revolta e
depressão, mas conta que reagiu depois com ações de graças, e concluiu: “Há uma terapia
misteriosa nas ações de graças; o louvor invoca a ministração emocional do Espírito Santo. A
Sua paz permanece, apesar do problema ainda não ter sido resolvido”.
145
As aflições existem para serem enfrentadas e dirimidas pela fé. Deus nunca prometeu
um mar de rosas para o seu povo, uma vida fácil, “sombra e água fresca”. Até mesmo o Salmo do
Bom Pastor (23), que diz: “nada me faltará”, admite a presença de inimigos e o vale da sombra e
da morte. A promessa não é que estas coisas não acontecerão em nossas vidas, mas que Ele, o
Bom Pastor, vai preparar uma mesa para nós na presença dos inimigos, vai estar conosco nos
vales e sombras, vai refrigerar a nossa alma afogueada pelas lutas e nos levar a “águas de
descanso” no labor da jornada. A realidade do bondoso Pastor das nossas almas não exclui o
sofrimento, mas promete suprimento, acompanhamento, ajuda, solução. O Senhor Jesus orienta:
“Porfiai por entrar pela porta estreita [...] porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que
conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela”, Mt 7.13-14. Ainda que venhamos a
morrer, a bondade e a misericórdia do Senhor nos seguirão todos os dias das nossas vidas e nos
farão habitar eternamente com Ele, no fim da nossa caminhada terrena.
ansiedade se instala, a fé não tem mais espaço”. O autor chama a atenção para o fato de que
Jesus nos ensina
[...] que a criação de Deus é um antídoto contra a ansiedade. Os pássaros não semeiam,
não colhem nem ajuntam em celeiros, mas Deus os alimenta. Os lírios do campo se
vestem garbosamente e eles não trabalham nem fiam, no entanto nem Salomão em
toda a sua glória se vestiu como eles (Mt 6.28,29). O apóstolo Paulo diz que não
devemos ficar ansiosos por coisa alguma, antes devemos apresentar a Deus em
oração nossas necessidades (Fp 4.6). O apóstolo Pedro diz que devemos lançar sobre
o Senhor toda a nossa ansiedade porque ele tem cuidado de nós. (1 Pe 5.7).
Ele jamais vai desistir de completar sua obra em nós. Se ele nos permite passar por
situações difíceis isso não significa ausência de amor nem falta de cuidado, mas
ação pedagógica para esculpir em nós o caráter de Cristo. Deus está trabalhando em
nós e nos transformando de glória em glória para refletirmos a imagem do seu Filho.
Todas as coisas que se nos vêm são trabalhadas pela providência divina para o nosso
bem último e maior (Rm 8.28). (HERNANDES, internet).
A Bíblia nos chama a tirarmos os olhos das circunstâncias e colocá-los em Deus, que
está acima e no controle das circunstâncias. Descansar em Deus não é uma opção que a Bíblia
nos dá, mas um imperativo: “Em vos converterdes, e em repousardes, está a vossa salvação;
no sossego e na confiança está a vossa força”, Is 30.15. O Rev. Hernandes aconselha os
crentes a não entrarem na “caverna da depressão”, mas a administrarem a esperança para a
sua alma, repetindo as palavras do salmista: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que
te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e
Deus meu”, Sl 42.11.
Pessoalmente, posso agradecer a Deus de todo o coração, por todos os reveses que a
vida nos ofereceu. Perdemos nosso pai muito cedo, de forma trágica. Poderíamos ter nos
revoltado, éramos oito irmãos menores de 18 anos, nossa mãe não tinha estudo e nem
profissão definida. Nada tínhamos de material, mas levantamos a cabeça e enfrentamos a
vida. Nossa mãe nos ensinou a lutar com garra, fé em Deus, decência e honestidade e o Todo-
147
Poderoso nos abençoou muito. Nossa família permaneceu unida, todos se respeitam e se
amam, se dão as mãos, é maravilhoso.
Com o tempo parte da família converteu-se a Cristo e, embora nem todos o tenham
feito, todos têm recebido as bênçãos por meio dos que oram e buscam a Deus. A fé não nos
separou, embora nem todos comunguem os mesmos costumes. Desde que me converti ocupo
cargos de liderança, depois me casei com um pastor e desde então, vimos enfrentando as
bênçãos e os reveses da obra de Deus. Nossos filhos cresceram dentro da Igreja e junto
conosco compartilham das responsabilidades inerentes ao serviço cristão.
Foi também nas enfermidades que conhecemos o poder do Médico dos médicos.
Particularmente, fui desenganada quatro vezes pela medicina, sofri nove doenças diferentes
no sangue, inclusive leucemia e todas as vezes Jesus me curou. Um dos nossos filhos, o Ariel,
nasceu com uma das pernas menor do que a outra e, aos nove anos, Jesus fez o milagre de
maravilha e equiparou suas pernas, deixando-o perfeito. Nosso caçula, o Cláudio Jr., também
passou pelo vale da morte por quatro vezes, mas o Senhor sempre o libertou. O maior milagre
que recebemos na vida dos filhos, foi em dezembro de 1987. Eles tinham, respectivamente,
3,9; 2,9 e 1,4 anos de idade. Sendo atingidos por um enxame de abelhas europa, o maior
sofreu 16 picadas, o do meio 24 picadas e o menor, mais de 200 picadas. Os médicos deram
ao menor apenas três horas de vida. Na verdade, todos correram perigo de morte, mas o
Senhor os livrou, curou e glorificou Seu nome nessa grande operação de maravilha.
Servindo ao Senhor por mais de trinta anos, louvo a Deus pelos Judas que nos
traíram, pelos Corés que murmuraram em rebeldia, pelos armados que investiram contra nós,
difamando, mentindo, torcendo nossas palavras. Embora creia que foram usados pelo inimigo
das nossas almas, Deus transformou suas maldições em bênçãos e usou suas investidas para
nos ensinar a vivência adequada no Seu Reino. Por meio de tais provações, nosso caráter tem
sido trabalhado, temos podido provar a Deus o nosso amor e nos alegrado com as Suas
operações constantes em nosso favor.
Havia um súdito que dizia sempre para o rei que Deus é bom. Um dia saíram para
caçar e um animal feroz atacou o rei e ele perdeu o dedo mínimo. O súdito ainda lhe
disse: Deus é bom. O rei mandou prendê-lo. Noutra caçada o rei foi capturado por
índios antropófagos. Na hora do sacrifício o cacique percebeu que ele era imperfeito,
porque lhe faltava um dedo. O rei foi solto e chegou para o súdito e disse-lhe: é
verdade, Deus é bom. Mas por que então, eu lhe mandei para a prisão? O súdito,
148
GLOSSÁRIO DE TERMOS
Aflição:
Angústia:
Ansiedade:
Dor:
Prova:
2. “Demonstração”.
Provação:
Sofrer:
1. “Latim sufferere, por sufferre. Ser atormentado, afligido por; padecer. Tolerar,
suportar, agüentar. Admitir, permitir, tolerar, consentir. Ser vítima de; passar por;
experimentar (coisa desagradável ou danosa). P.ext. Passar por; experimentar. Sentir dor
física ou moral. Experimentar prejuízos; decair; declinar. Padecer com paciência. Conter-se;
reprimir-se; sobrear-se”.
Sofrido:
150
“1. Que sofre com paciência; paciente. Que já sofreu, ou que sofre muito. Sofredor.
Que revela sofrimento”.
Sofrimento:
Tentação:
Tribulação:
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