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Filosofia e Educação: elucidações conceituais e articulações

Ouvimos a definição de que Filosofia significa "amigo da sabedoria", devido ao


fato de a palavra "filosofia" estar constituída do termo filon, que equivale a amigo, e do
termo sofia, que equivale a sabedoria. Muitos foram os pensadores e pesquisadores que
deram uma definição ou um conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram
complexos, por vezes simples; por vezes rebuscados e quase incompreensíveis. Vários
dizem que a filosofia é muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito
inteligentes.
A Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que
o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um
significado compreensivo. Ninguém vive o dia-a-dia sem um sentido, para o seu
trabalho, para a sua relação com as pessoas, para o amor, para a amizade, para a ciência,
para a educação, para a política, tudo precisa se de sentidos da vida. Desde a
cotidianidade mais simples, como é o encontrar-nos com as pessoas, até a cotidianidade
mais complexa, que pode ser a reflexão sobre o sentido e o destino da humanidade.
A Filosofia se manifesta ao ser humano como uma forma de entendimento que
tanto propicia a compreensão da sua existência, em termos de significado, como lhe
oferece um direcionamento para a sua ação, Agimos, sim, com uma finalidade, que pode
ser mais ampla ou mais restrita. As finalidades mais amplas são aquelas que se referem
ao sentido da existência: buscar o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos
oprimidos, e lutar pela emancipação de um povo. As finalidades restritas são aquelas
que se referem à obtenção de benefícios imediatos, tais como: comprar um carro
assumir um cargo. No caso, a Filosofia é a expressão de uma forma coerente de
interpretar o mundo que possibilita um modo de agir também coerente, consequente,
efetivo.
Todos têm uma forma de compreender o mundo, esta é uma necessidade
"natural" do ser humano, só se pode agir a partir de um esclarecimento do mundo e da
realidade. O que importa ter claro, por ora, é o fato de que a filosofia nos envolve, não
temos como fugir dela. Ela é como o ar que respiramos, está permanentemente presente.
Se nós não escolhermos qual é a nossa filosofia, qual é o sentido que vamos dar à nossa
existência, a sociedade na qual vivemos nos dará, nos imporá a sua filosofia. A filosofia
se manifesta como o corpo de entendimento que cria o ideário que norteia a vida
humana em todos os seus momentos e em todos os seus processos. A Filosofia, em
síntese, não é somente uma interpretação do já vivido, daquilo que está objetivando,
mas também a interpretação de aspirações e desejos do que está por vir, do que está para
chegar.

0 processo do filosofar
A filosofia é um corpo de entendimentos que compreende e dá significado ao
mundo e à existência. O filosofar, além de não ser inútil, não é tão difícil e complicado,
como se fosse tarefa só para gente ultraespecializada. Superando esses preconceitos de
dificuldade e de especialidade é que podemos nos convencer de que podemos e
devemos nos dedicar ao filosofar. Para isto existe o método do filosofar, a fim de que
todos nós passemos a praticá-lo cotidianamente, e a primeira coisa a fazer é admitir que
vivenciamos valores e que é preciso saber quais são eles. O primeiro passo do filosofar
é inventariar os valores que explicam e orientam a nossa vida, e a vida da sociedade, e
que dimensionam as finalidades da prática humana. O segundo passo é o momento da
crítica. Tomar esses valores e submetê-los a uma crítica acerba, questioná-los por todos
os ângulos possíveis para verificar se são significativos e se, de fato, compõem o
sentido que queremos dar à existência. O terceiro passo é: a construção crítica dos
valores que sejam significativos para compreender e orientar nossas vidas individuais e
dentro da sociedade. Inventariar conceitos e valores, estudar e criticar valores, estudar e
reconstruir conceitos e valores. Para que isso ocorra, é preciso não só olhar o dia-a-dia,
mas ler e estudar o que disseram os outros pensadores, os outros filósofos. Eles poderão
nos auxiliar, tirando-nos do nosso nível de entendimento e dando-nos outras categorias
de compreensão.
A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está
situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar.
Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e
se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se
reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais
ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia a dia e assim se realiza uma
ação educativa com baixo nível de consciência.

Pedagogia
A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à pedagogia, garantindo-
lhe a compreensão dos valores que, hoje, direcionam a prática educacional e dos valores
que deverão orientá-la para o futuro. Para lembrar exemplos corriqueiros, a "Pedagogia
Montessori", a "Pedagogia Piagetiana", a "Pedagogia da Libertação" do professor Paulo
Freire, e todas as outras se sustentam em um pensamento filosófico sobre a educação.

Sujeitos da praxis pedagógica: o educador e o educando


O ser humano
O ser humano emerge no seu modo de ser dentro de um conjunto de relações
sociais, nas quais suas ações, reações, modos de agir (habituais ou não), condutas
normatizadas ou não, censuras, convivências sadias ou neuróticas, relações de trabalho,
de consumo, que constituem prática, social e historicamente o ser humano. O ser
humano é prático, ativo, uma vez que é pela ação que modifica o meio ambiente que o
cerca, tornando-o satisfatório às suas necessidades e enquanto transforma a realidade,
constrói a si mesmo no seio de relações sociais determinadas.
O ser humano é social, na medida em que vive e sobrevive socialmente. Vive
articulado com o conjunto dos seres humanos de gerações passadas, presentes e futuras.
A sua prática é dimensionada por suas relações com os outros. É um ser histórico, uma
vez que suas características não são fixas e eternas, mas determinadas pelo tempo, que
passa a ser constitutivo de si mesmo. No entanto sofre as determinações do tempo
histórico; seu corpo, seus sentidos, sua personalidade caracterizam-se pela historicidade.
O ser humano se torna propriamente humano na medida em que, conjuntamente
com outros seres humanos, pela ação, modifica o mundo externo conforme suas
necessidades, ao mesmo tempo, constroem em si mesmo. Através de sua atividade sobre
os outros elementos da natureza, no contexto de um conjunto de relações sociais,
constrói bens para satisfazer suas necessidades. Foi o trabalho que possibilitou ao ser
humano o domínio sobre a natureza, conduzindo-o à independência e ao uso das mãos, à
vivência gregária e social, ao desenvolvimento e uso da linguagem, ao desenvolvimento
dos sentidos e do cérebro, assim como do entendimento sobre a realidade.
O trabalho também é constituído pela dinâmica das relações sociais. Ele é um
tipo de trabalho específico, determinado socialmente. o ser humano é dimensionado
tanto pela complexidade, sagacidade, inteligência, entendimento, quanto pela alienação,
pelo afastamento de si próprio, pois que ele é construído pelo trabalho que ao mesmo
tempo constrói e aliena. O trabalho só poderá deixar de ser alienante numa sociedade
que, historicamente, não esteja baseada na exploração de um ser humano por outro ser
humano, através da apropriação do produto excedente do seu trabalho.
A alienação surge, inicialmente, pela alienação do produto do próprio trabalho,
da própria ação. Na sociedade capitalista, a produção que não é consumida denomina-se
"excedente”. Esse excedente é apropriado apenas por uma parcela da sociedade;
Portanto, parte da força de trabalho dos trabalhadores, que se transforma em produto,
não lhes pertence. Porem, a sociedade capitalista torna essa alienação mais perversa
ainda, através da compra do trabalho assalariado. O trabalhador produz o necessário
para a sua sobrevivência e o excedente para que o capitalista acumule mais riqueza. O
trabalhador é obrigado a alienar o produto material do seu trabalho e junto com ele sua
consciência. Deste modo a sociedade capitalista, através do trabalho, consegue a
alienação não só material mas também espiritual do trabalhador. Em termos de ação
educativa, o educador, com os seus determinantes, será aquele que tem a
responsabilidade de dar a direção ao ensino e o educando aquele que, participando do
processo, aprende e se desenvolve, formando-se tanto como sujeito ativo de sua história
pessoal quanto como da história humana.
O educador

O educador é um humano e é construtor de si mesmo e da história através da


ação, é determinado pelas condições e circunstâncias que o envolvem, ele tem um papel
específico na relação pedagógica, que é a relação de docência. o educador é aquele que,
tendo adquirido o nível de cultura necessário para o desempenho de sua atividade, dá
direção ao ensino e à aprendizagem. Ele assume o papel de mediador entre a cultura
elaborada, acumulada e em processo de acumulação pela humanidade, e o educando. O
professor fará a mediação entre o coletivo da sociedade (os resultados da cultura) e o
individual do aluno. Ele exerce o papel de um dos mediadores sociais entre o universal
da sociedade e o particular do educando.
O educador deve possuir algumas qualidades, tais como: compreensão da
realidade com a qual trabalha, comprometimento político, competência no campo
teórico de conhecimento em que atua e competência técnico-profissional. Precisa
compreender a sociedade na qual vive, através de sua história, sua cultura, suas relações
de classe, suas relações de produção, suas perspectivas de transformação ou de
reprodução. Enfim, o educador não poderá ser ingênuo no que se refere ao entendimento
da realidade na qual vive e trabalha. Caso contrário, sua atividade profissional nada
mais será que reprodutora da sociedade via o senso comum hegemônico.
O educador precisa ter comprometimento político com o que faz.
Compreendendo a sociedade em que vive, terá clareza daquilo com que está
comprometida a sua ação, ele só tem duas opções: ou quer a permanência desta
sociedade, com todas as suas desigualdades, ou trabalha para que a sociedade se
modifique, necessita conhecer bem o campo científico com o qual trabalha. O livro
didático é útil no processo de ensino, mas ele nada mais significa do que uma cultura
científica estilizada. E muito pouco para o educador que deseja e necessita deter os
conhecimentos de sua área.
Deve deter habilidades e recursos técnicos de ensino suficientes para possibilitar
aos alunos a sua elevação cultural através da apropriação da cultura elaborada. Ensinar
não significa, simplesmente, ir para uma sala de aula onde se faz presente uma turma de
alunos e "despejar" sobre ela uma quantidade de conteúdos. Ensinar é uma forma
técnica de possibilitar aos alunos a apropriação da cultura elaborada da melhor e mais
eficaz forma possível. O salário não paga esse trabalho, o processo educativo exige
envolvimento afetivo. Daí vem a "arte de ensinar", que nada mais é que um desejo
permanente de trabalhar, das mais variadas e adequadas formas, para a elevação cultural
dos educandos.
O educando
É caracterizado pelas múltiplas determinações da realidade. Ou seja, é um
sujeito ativo que, pela ação, ao mesmo tempo se constrói e se aliena. o educando é o
sujeito que busca adquirir um novo patamar de conhecimentos, de habilidades e modos
de agir. É para isso que busca a escola. Ir à escola, forma institucionalizada de educação
da sociedade moderna.
A cultura elaborada, hoje, exige a escolarização, como instância pedagógica.,
essa cultura elaborada, que cada um detém, é uma síntese nova de sua cultura anterior,
revivificada pela apropriação e assimilação da cultura elaborada. Quando uma criança
aprende um modo novo de executar uma brincadeira, não suprime o modo anterior; ao
contrário, incorpora o modo anterior ao novo modo de execução. O educando é um
sujeito possuidor de capacidade de avanço e crescimento, só necessitando para tanto da
mediação da cultura elaborada, que possibilita a ruptura com o seu estado espontâneo.
O educando nem possui todo o saber, nem é pura ignorância. Ele detém uma
cultura que adquiriu espontaneamente no seu dia a dia, porém limitada ao circunscrito e
ao espontâneo. A função da mediação da cultura elaborada é possibilitar a ruptura com
esse estado de coisas. No trabalho escolar, o educador deve estar atento ao fato de que o
educando é um sujeito, como ele, com capacidade de ação e de crescimento e, por isso,
um sujeito com capacidade de aprendizagem, conduta inteligente, criatividade,
avaliação e julgamento.

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