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AGUILAR-NASCIMENTO AL.

Artigo Original

ALIMENTAÇÃO
LIMENTAÇÃO PRECOCE APÓS ANASTOMOSES INTESTINAIS: RISCOS OU BENEFÍCIOS?
ANASTOMOSES
JOSÉ EDUARDO DE A GUILAR-N ASCIMENTO, JÚLIO GÖELZER
Trabalho realizado no Departamento de Cirurgia da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Federal de Mato Grosso

RESUMO – OBJETIVO. O objetivo deste trabalho foi o de avaliar os com realimentação precoce e um (5%) no grupo convencional
resultados imediatos da realimentação precoce por via oral em (P>0.05). Não houve diferença em relação a morbidade. Ocorre-
pacientes submetidos a anastomoses intestinais. ram quatro deiscências de anastomose sendo duas no grupo
MÉTODOS. Estudo prospectivo envolvendo 43 pacientes submeti- precoce (8,7%) e duas (10%) no grupo convencional (P>0.05).
dos a operações eletivas envolvendo anastomoses intestinais. Foram Eliminação de flatos foi relatada mais rapidamente (P=0.01) no
randomizados para dois grupos: grupo precoce (N=23) com a alimen- grupo precoce (35±13 horas) que no grupo convencional (44±12
tação recomeçada após 24 horas da operação; e grupo convencional horas). A permanência hospitalar foi semelhante nos dois grupos
(N=20) cuja realimentação obedeceu aos critérios convencionais. Os (convencional = 12 [6-36] dias versus precoce = 10 [5-29] dias;
dois grupos foram estatisticamente semelhantes com relação ao P>0.05).
gênero, idade, estado nutricional, porte e duração da operação, local CONCLUSÕES. A alimentação por via oral no primeiro dia de pós-
e tipo de anastomose, tipo de anestesia e uso de morfina. operatório de pacientes com anastomoses intestinais é segura, não
RESULTADOS . Três pacientes (13%) do grupo precoce e dois se relaciona com deiscência de anastomose e ainda determina um
(10%) do grupo convencional apresentaram vômitos, obrigando a período de íleo paralítico menor.
passagem de sonda naso-gástrica (P>0.05). Três pacientes
(7,3%) faleceram no pós-operatório sendo dois (10%) no grupo UNITERMOS: Nutrição. Cólon. Cirurgia. Anastomose intestinal.

INTRODUÇÃO No entanto, esse tipo de conduta tem sido critérios de admissão dos pacientes no estu-
Convencionalmente, o retorno da dieta discutida e contrariada na literatura recente. do incluíam: idade acima de 18 e abaixo de 80
para pacientes submetidos a anastomoses Realmente, alguns trabalhos demonstram que anos, operação envolvendo a realização de
intestinais tem sido prescrita apenas após a a realimentação precoce após operações en- anastomose com o intestino delgado ou gros-
volta do peristaltismo, caracterizada clinica- volvendo ressecções e anastomoses intestinais so sem colostomia de proteção e concordân-
mente pelo aparecimento dos ruídos hidro- pode ser conduzida sem riscos e com poten- cia do paciente em participar do estudo. O
aéreos e eliminação de gases. Com isso, o ciais benefícios aos pacientes como: alta mais estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
precoce, menor incidência de complicações Pesquisa do Hospital Universitário Julio
jejum pós-operatório se prolonga por um
infecciosas e diminuição de custos1-3. Müller. Foram excluídos os pacientes opera-
período de 2 a 5 dias, e durante esse período
Entretanto, o número de trabalhos con- dos de urgência e também aqueles com im-
o paciente fica, geralmente, recebendo ape-
trolados publicados sobre o assunto é peque- possibilidade de alimentação pós-operatória
nas hidratação venosa com soluções cristali-
no e, dessa maneira, novos estudos precisam por via oral por razões de ordem clínica.
nas com um mínimo de calorias e sem oferta testar se há mais riscos ou potenciais benefícios
de nitrogênio. Evidentemente que, apesar Antes do ato operatório, os pacientes foram
nessa conduta. Assim, o presente estudo foi avaliados quanto ao estado nutricional atra-
das necessidades energéticas estarem au- elaborado com o objetivo de se avaliar os
mentadas em decorrência do trauma opera- vés do índice de massa corpórea (IMC) e
resultados imediatos da realimentação preco- classificados em eutróficos (IMC > 18) ou
tório, a oferta de proteínas é zero e o balanço ce por via oral em pacientes submetidos a
nitrogenado é negativo. Essa prática médica, desnutridos (IMC < ou igual a 18).
anastomoses digestivas. Antes da operação, os pacientes foram
sem evidência científica, baseia-se no pressu-
posto de que o repouso intestinal seria im- randomizados para dois grupos: grupo precoce
MÉTODOS (N=23) cuja programação pós-operatória incluía o
portante para garantir a cicatrização de
anastomoses digestivas com menor risco. Estudo prospectivo e randomizado en- recomeço da alimentação pós-operatória por via
volvendo 43 pacientes internados na enfer- oral após 24 horas da operação e grupo convenci-
maria do Departamento de Cirurgia do Hos- onal (N=20) cuja realimentação pós-operatória
*Correspondência: pital Universitário Julio Müller da Universida- obedeceria aos critérios convencionais de retorno
Rua Estevão de Mendonça 81 – apto. 801 de Federal de Mato Grosso, candidatos a do peristaltismo após o período de íleo paralítico
Cep: 78045-200 – Cuiabá – MT
Tel: (0XX) 65 6237183 – Fax: (0XX) 65 6247149 procedimentos operatórios eletivos no pe- condicionado pelo retorno da audição de ruídos
e-mail: aguilar@zaz.com.br ríodo de Janeiro a Setembro de 1999. Os hidro-aéreos e eliminação de flatos ou fezes. Em

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DIETA PRECOCE NO PÓS-OPERATÓRIO DE ANASTOMOSES

Tabela 1 – Características clínicas e demográficas dos dois grupos nutricional, porte e duração da operação, local
e tipo de anastomose, tipo de anestesia e uso
VARIÁVEL GRUPO P de morfina (P > 0.05). Vinte e oito pacientes
PRECOCE CONVENCIONAL (70%) receberam morfina através de cateter
SEXO subdural nas primeiras 24 horas após a opera-
M 15 11 0,50 ção, sendo 13 (56,5%) no grupo precoce e 15
F 8 9 (68,2%) no grupo convencional (P>0.05).
IDADE* 52(19-78) 57(34-78) 0,12 Os diagnósticos e as operações realizadas nos
ESTADO NUTRICIONAL dois grupos podem ser vistos nas Tabelas 2 e 3.
Eutrófico 16 15 1,00
Desnutrido 7 5 Os pacientes foram estimulados a deambulação
precoce e receberam fisioterapia motora e respi-
PORTE OPERAÇÃO
Médio 10 9 0,92 ratória em todo o pós-operatório. Todos os
13 11 pacientes receberam antibióticos de modo profi-
TIPO DE ANESTESIA lático por 24 horas e prócinético (metoclopra-
Bloqueio 4 2 0,63 mida, 10 mg IV de 6/6 horas). O regime
Bloqueio + Geral 13 14 antimicrobiano por via endovenosa consistiu na
Geral 6 4 associação de metronidazol (500 mg de 8/8 ho-
USO DE MORFINA ras) e amicacina (500 mg de 12/12 horas) para as
Sim 13 15 0,21 operações envolvendo anastomoses esofágicas,
Não 10 5 ileais e colorretais e cefalotina (1 a 2 g de 6/6 horas)
LOCAL DA ANASTOMOSE para anastomoses gastro-jejunais. Todos os pa-
Intestino Delgado 10 10 0,67 cientes submetidos à cirurgia colorretal rece-
Intestino Grosso 13 10 beram preparo pré-operatório com manitol.
TIPO DE ANASTOMOSE Quando ocorria desvio da técnica no ato ope-
Manual 6 3 0,46 ratório ou quando o paciente fosse imuno-
Mecânica 17 17 comprometido ou ainda, apresentasse sinais
DURAÇÃO DA clínicos ou laboratoriais de infecção, os antibi-
OPERAÇÃO (minutos)* 176 (75-280) 168(80-310) 0,34 óticos eram prescritos terapeuticamente.
*= Mediana (variação). Utilizou-se sonda naso-gástrica apenas no
Precoce = realimentação após 24 hs da operação. ato operatório em alguns casos, sendo esta
Convencional = realimentação após o término do íleo paralítico. retirada após o término da operação. Os pa-
cientes foram examinados pelo menos duas
vezes ao dia, com especial atenção para a
Tabela 2 – Diagnósticos apresentados pelos pacientes dos dois grupos presença de ruídos hidro-aéreos e eliminação
de flatos. Período de íleo paralítico foi definido
DIAGNÓSTICO GRUPO como o tempo entre o término da operação
PRECOCE CONVENCIONAL até a eliminação de gases. Registraram-se as
Câncer gástrico 6 6 seguintes complicações: infecção e deiscência
Câncer colorretal 4 3 de parede, infecção intra-abdominal, pneu-
Colostomia em alça 2 2
monias, atelectasias e derrames pleurais, infec-
Colostomia Hartmann 3 3
Ileostomia 1 ção urinária e fístulas anastomóticas. O tempo
Úlcera duodenal com estenose 2 1 de internação pós-operatória também foi ano-
Megacolo 3 1 tado assim como a mortalidade.
Fístula ileal 2 2 A comparação de variáveis categóricas foi
Fístula cólica 1 1 feita pelo teste do quiquadrado ou pelo exato de
Precoce = realimentação após 24 hs da operação. Fisher. Para a comparação de variáveis contínu-
Convencional = realimentação após o término do íleo paralítico. as, utilizou-se o teste t de Student ou o teste
não-paramétrico de Mann-Whitney na depen-
dência das amostras serem homogêneas ou não
ambos os grupos, a dieta oferecida por via oral As características demográficas dos pa- (teste de Levene). Os dados foram expressos
foi líquida, restrita no primeiro dia de reali- cientes dos dois grupos podem ser vistas na como média ± desvio padrão ou mediana (va-
mentação (média de 250 calorias) evoluindo Tabela 1. Não houve ao estudo estatístico, riação) na dependência da homogeneidade
para dieta liquida a partir do segundo dia (total diferença significativa entre os dois grupos, das amostras. Estabeleceu-se em 5%
calórico variando de 800 a 1500 calorias). com relação ao gênero, idade, estado (P<0.05) o limite de significância estatística.
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Tabela 3 – Operações realizadas nos pacientes dos dois grupos


Três pacientes (7,3%) faleceram no
pós-operatório, sendo dois (10%) no grupo
OPERAÇÕES GRUPO com realimentação precoce e um (5%) no
PRECOCE CONVENCIONAL grupo convencional (P > 0.05). Complica-
Gastrectomia parcial B2 4 3 ções ocorreram em oito pacientes (19,5%),
Gastrectomia total 3 4
sendo cinco casos (21,7%) no grupo preco-
Gastroenteroanastomose 1 -
Colectomia segmentar 5 4 ce e três (15%) no grupo convencional
Colectomia total 1 1 (P = 0.70). Essas complicações estão
Duhamel em 1 tempo 2 1 listadas na Tabela 5. No total, foram observa-
Enterectomia 2 2 dos quatro casos de deiscência anastomótica,
Fechamento colostomia 5 4 sendo dois casos no grupo precoce e dois
Fechamento ileostomia - 1 casos no grupo convencional, sem diferença
Precoce = realimentação após 24 hs da operação. significativa entre os grupos (P = 1,00).
Convencional = realimentação após o término do íleo paralítico.
DISCUSSÃO
Os achados deste trabalho comprovam que
Tabela 4 – Resultados observados nos dois grupos
a realimentação precoce em pacientes subme-
VARIÁVEL GRUPO tidos a anastomoses digestivas é possível, segura
PRECOCE CONVENCIONAL P e pode trazer potenciais benefícios. Quase 90%
RHA (horas)* 27 ± 6 34±13 0.08 dos pacientes toleraram a dieta oral no primei-
Passagem de flatos (horas)* 35 ± 13 44 ± 12 0.01 ro dia pós-operatório e foi interessante notar
Reinserção de SNG (N, %) 3 (13) 2 (10) 0.60 que não houve diferença nos dois grupos
Dias de internação# 10 (5-29) 12 (6-36) 0.34 quanto à necessidade de passar sonda naso-
* = média ± desvio padrão; # = mediana (variação). gástrica e interromper a alimentação.
Precoce = realimentação após 24 hs da operação. A adoção do jejum após operações com
Convencional = realimentação após o término do íleo paralítico. manipulação da cavidade abdominal e, no-
tadamente, após a realização de anastomoses
digestivas, vem sendo ensinada a residentes
Tabela 5 – Complicações observadas nos dois grupos de cirurgia há muito tempo. Paralelamente,
entretanto, estudos sobre a fisiologia gas-
COMPLICAÇÃO GRUPO
trointestinal, nutrição e trauma vêm mostran-
PRECOCE CONVENCIONAL P do que o tubo digestivo está apto para rece-
N (%) N (%) ber nutrientes e pode se beneficiar muito
Mortalidade 2 (8,7) 1 (5) 1,00 mais se isso ocorrer precocemente. Mesmo
Fístula 2 (8,7) 2 (10) 1,00 no jejum, o estômago continua a secretar
Abscesso de parede 3 (13) 3 (15) 1,00
1500 a 2000 mL de suco gástrico e, da mes-
Pulmonar* 1 (4,3) 0(0) 1,00
ma forma, ocorre secreção de suco pancre-
* = atelectasia ático e bile. Esse volume, associado à produ-
Precoce = realimentação após 24 hs da operação.
Convencional = realimentação após o término do íleo paralítico.
ção basal de secreção duodeno-jejunal, per-
faz uma quantidade nada desprezível de líqui-
do presente no intestino diariamente. A gran-
de maioria desse fluído é reabsorvida e muito
RESULTADOS recimento dos ruídos hidro-aéreos. No grupo
pouco ultrapassa a válvula íleo-cecal. Isso
Três (13%) pacientes do grupo precoce e precoce, os ruídos hidro-aéreos estavam audí- sugere, portanto, que a alimentação oral
dois (10%) do grupo convencional apresenta- veis após 27 ± 6 horas enquanto que no grupo também pode ser tolerada e absorvida.
ram vômitos e distensão abdominal, obrigan- convencional apareceram após 34 ± 13 horas A resposta metabólica ao jejum difere da-
do a passagem de sonda naso-gástrica (P = 0.08). Eliminação de flatos foi relatada quela associada ao trauma operatório basica-
(P=1,00). Dessa maneira, em 87% (20/23 mais rapidamente (P = 0.01) no grupo preco- mente pela sua maior magnitude e pela ativa-
pacientes) dos casos a realimentação precoce ce (35 ± 13 horas) que no grupo convencional ção do componente inflamatório do proces-
por via oral com 24 horas de pós-operatório (44 ± 12 horas). A permanência hospitalar foi so4. Essa resposta inflamatória ao trauma é
foi possível. semelhante nos dois grupos (grupo convenci- mediada pela produção de citocinas que em
Do ponto de vista estatístico, não houve onal = (12 dias [6-36] versus grupo precoce = doses normais beneficia a cicatrização e o
diferença entre os dois grupos quanto ao apa- 10 [5-29] dias; P>0.05) (Tabela 4). combate à infecção, porém quando é exagera-

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DIETA PRECOCE NO PÓS-OPERATÓRIO DE ANASTOMOSES

da pode incrementar a resposta inflamatória e aparelho digestivo, muitos cirurgiões já METHODS. 43 consecutive patients submitted
levar o paciente à síndrome de disfunção de não adotam mais como rotina a permanên- to operations associated with intestinal anas-
múltiplos órgãos e sistemas (SDMOS)5. cia da sonda naso-gástrica durante todo o tomoses were randomized to two groups: early
Estudos sobre a fisiologia da motilidade do período de íleo paralítico 15,16. group (N=23) allowed to oral intake after 24 h
tubo digestivo têm demonstrado que o retorno A presença de um cateter epidural para of operation and conventional group (N=20) in
ao peristaltismo normal no pós-operatório é infusão de morfina visando uma melhor which feeding was allowed only after the ileus
mais rápido no intestino delgado que retorna a analgesia dos pacientes tem sido quase que resolution. Groups were statistically similar for
sua função 4 a 8 horas após a operação. O cólon rotina no nosso serviço. No entanto, a morfina age, gender, nutritional status, duration of
esquerdo e o estômago retornam mais lenta- pode determinar uma diminuição na motili- operation, local and type of anastomoses, type of
mente, com média de 24 horas aproximada- dade e vômitos nos pacientes17. Entretanto, anesthesia and use of morphine.
mente. Entretanto, contrações na região antral não houve diferença estatística entre os dois RESULTS. Three (13%) patients of early
do estômago já retornam ao normal duas ho- grupos quanto à utilização da morfina e, assim, group and two (10%) of conventional
ras depois do ato operatório e na verdade, os grupos foram comparáveis em relação a presented vomiting requiring nasogastric
estão até exacerbadas nas primeiras vinte ho- essa variável que poderia teoricamente distin- decompression (P.0.05). Three (7.3%)
ras do pós-operatório6. Assim, do ponto de gui-los. Um protocolo para estudo dos efeitos patients, two (10%) in early feeding group and
vista da motilidade, é possível também a da morfina na motilidade intestinal pós-opera- one (5%) in conventional group died
reintrodução precoce da dieta no pós-opera- tória vem sendo desenvolvida no serviço. (P>0.05). There was no difference between
tório de cirurgias realizadas no tubo digestivo. Os dados apresentados neste trabalho the groups for morbidity. Two anastomotic
O jejum imposto ao paciente durante o comprovam que o retorno à alimentação dehiscences occurred in each group. Passage of
íleo paralítico baseia-se na idéia do necessário por via oral no primeiro dia de pós-opera- flatus was reported earlier (P=0.01) in early
“repouso intestinal”, que teoricamente benefi- tório é possível na maioria dos casos. Embo- feeding group (35±13 h) when compared with
ciaria a anastomose, favorecendo o processo ra sem uma evidente diferença entre os conventional group (44±12 h). Hospital stay
de cicatrização e, por conseguinte, evitaria grupos, pode-se afirmar, a partir dos resul- was similar between the two groups
deiscência e fístula pós-operatória. No entan- tados colhidos, que a realimentação preco- (conventional group = 12 [6-36] days versus
to, o jejum intestinal não é desprovido de ce no pós-operatório envolvendo pacientes early feeding group = 10 [5-29] days).
repercussões locais. Vários estudos experi- com anastomoses intestinais é segura, tole- CONCLUSIONS. The return of oral feeding on the
mentais têm demonstrado que a carência pro- rável e não se relaciona com deiscência de first postoperative day in patients submitted to
longada de alimentos na luz intestinal determi- anastomose. Ainda que no grupo com re- intestinal anastomoses is safe, not associated with
na atrofia de mucosa, que pode romper a torno precoce da dieta no pós-operatório o the occurrence of anastomotic dehiscence and
barreira mucosa e determinar translocação tempo de hospitalização não foi abreviado e moreover, related to a shorter resolution of ileus.
bacteriana7-8. A presença de translocação nem ocorreu menor morbidade, houve um [Rev Assoc Med Bras 2002; 48(4): 348-52]
bacteriana e uma exagerada resposta inflama- significativo menor tempo de íleo paralítico
tória são dois dos três mecanismos que podem nesses pacientes. Este trabalho também KEY WORDS: Nutrition. Colon. Surgery. Intesti-
levar a SDMOS4-5. Ainda que no pós-operató- comprova estudo anterior que demonstrou nal anastomoses.
rio de anastomoses intestinais eletivas, o pe- que o retorno precoce da dieta pode ser
ríodo de jejum convencionalmente aplicado feito também em pacientes submetidos a REFERÊNCIAS
seja de poucos dias, a realimentação precoce ressecções intestinais por via laparotômica 1. Carr CS, Ling E, Boulos P, Singer M. Ran-
parece prevenir um aumento da permea- e não apenas por via laparoscópica 18. Ainda domized trial of safety and efficacy of imme-
bilidade intestinal1. Por outro lado, a alimenta- que não mensurado, outro potencial bene- diate postoperative enteral feeding in patients
ção precoce em pacientes críticos, tem sido fício da realimentação precoce é o maior undergoing gastrointestinal resection. Br Med J
associada em vários trabalhos clínicos a alta conforto e alívio dos pacientes por estarem 1996; 312:869-71.
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mais precoce e menor morbidade9-10. mais rapidamente recebendo e tolerando postoperative feeding feasible in elective colon
Dentro deste contexto, trabalhos ex- dieta por via oral. and rectal surgery? Int J Colorect Dis 1996;
perimentais demonstraram que a reali- 11:119-21.
mentação precoce, na verdade, favorece SUMMARY 3. Stewart BT, Woods RJ, Collopy BT, Fink RJ,
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EARLY FEEDING AFTER INTESTINAL ANAS- open colorectal resections: a prospective
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