Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Na verdade, depois que o Facebook engatou, nunca mais escrevi nada nesse
"blog" e minhas últimas postagens aqui, foram cópias do que eu havia escrito
no Facebook.
Hoje, o único espaço que imagino para escrever o que vou escrever, é aqui,
nesse "blog".
Já havia deixado de procurar soluções, não mais para mim, pois o que eu
precisava fazer na vida em termos de estudos, independente de todas as
dificuldades que tive, eu já fiz e, no momento, não almejo mais nada referente
a isso. Porém, acredito que meu neto, hoje com 14 anos tenha os mesmos
problemas que o meu e, estou desconfiado que minha filha de 7 anos, está
indo pelo mesmo caminho.
Como eu já disse, através de calços e percalços, consegui chegar até aqui. Não
foi nada fácil. Melhor, não é nada fácil. Tive que criar várias acrobacias, tive
que relegar várias estratégias, criar outras ferramentas, produzir manobras e
por várias vezes, naufragar em terra seca.
Quero que esse relato ajude, no futuro, meu neto e minha filha e, se for o caso,
auxilie que passa pelo mesmo problema que eu.
Há anos eu aprendi que escrever, para mim, era uma "válvula de escape". Não
que eu escreva bem, pois eu não escrevo bem. Tenho problemas em
concordância, ortografia, acentuação, pontuação, morfologia, sintaxe e todos
os problemas relacionados a escrita e fala. Na verdade, eu escrevo mal.
Porém, escrever se tornou uma forma de expor aquilo que eu não consigo
dizer. Escrever, se tornou uma forma de eu repensar e rever o que eu vejo e da
forma que eu vejo.
Acho melhor, por pior que seja o meu texto, voltar a escrever. Então, vamos
lá...
Essa desculpa serviu para me livrar de curso de inglês até o momento que, por
falta de prática, fui esquecendo o “francês” que eu sabia. Quando eu era
pequeno, minha mãe falava francês, pelo que eu me lembre, francês era minha
segunda língua. Minha mãe falava comigo em francês (as vezes balbuciava
várias palavras em Latim), ouvíamos músicas em francês (não somente
Charles Aznavour, mas vários artistas da época de 60, inclusive, muita
musiquinha de criança em francês), eu tinha francês na escola e meu
conhecimento de língua francesa era muito bom (tanto é que, no vestibular, fiz
opção por francês em vez de inglês). Lá pelos idos de 1972 (acredito eu) o
inglês foi incorporado no currículo das escolas. Se foi esse o ano, eu tive
francês e inglês ao mesmo tempo. Não me lembro se foi somente nesse ano ou
nos dois ou três anos da implantação. Foi aí que meu problema com o inglês
apareceu. Por mais que eu tentasse, não conseguia! As palavras em inglês não
me vinham a mente e nas traduções do português para o inglês, misturava tudo
com francês. Vamos resumir, eu odiava inglês!
Meu inglês foi aprendido, digamos “na rua”. Como eu disse, nunca fiz curso,
porém, por questões profissionais, fui abrigado a aprender inglês, ou melhor,
me virar em inglês.
Vou fazer um desvio longo pois, mesmo sendo o ‘inglês” o problema em foco,
não é necessariamente o “inglês” o foco e sim, minha dificuldade em
memorizar determinadas coisas em reter outras. Assim, vou voltar aos idos de
1967, quando entrei no meu curso primário. A primeira imagem que tenho
relacionado a isso e a tudo que envolve esse tal “meu problema” vai começar
nessas minhas primeiras lembranças.
A primeira cena que tenho marcado desse período foi que, em determinado
dia, ela começou a ensinar a operação matemática de divisão. Fez vários
exemplos na lousa e, quase no final da aula, colocou um problema, onde o
dividendo era menor que o divisor.
Tenho a imagem perfeita na minha mente. O quadro negro, ela falando, o meu
lugar na sala e...
:- Agora!! Dois dividido por cinco? Quanto é dois dividido por cinco? Então
classe?
Todo mundo da classe começou a bater palmas e eu fiquei com vergonha, mas
no fundo, extremamente orgulhoso de mim mesmo.
Eu realmente não sabia. Respondi por impulso, sem pensar. Foi como algo
automático que você não precisa pensar para responder. Pode ser uma coisa
banal, porém, sob os meus sete anos recém completados e naquela época, não
é pouca coisa. Bom, pelo menos não era para mim!
Por um bom tempo, fui chamado de “geninho”, tanto pela minha professora,
quanto pelos alunos. Mas, é aí que a coisa começou a se complicar. Mesmo
com sete anos, as crianças são maldosas e invejosas, o “geninho” ao invés de
ser um atributo de qualidade, passou a ser uma forma de desprezo. Minha
professora me fez de exemplo e isso atraiu a irá de parte dos meus colegas de
classe.
Além de ficar mal visto pelos outros, eu agora, tinha que manter o nível e o
problema era que eu não sabia matemática, só acertei uma resposta que até
hoje eu não sei o porquê. Antes tivesse ficado de boca fechada, porém, esse
problema de “boca aberta” vai me acompanhar para o resta de minha vida.
Minha professora, Tia Esther, ficou grávida e teve que ficar afastada por
alguns meses, quem substitui foi a professora da turma B, Tia Druzila. Eu
estudava na Escola Municipal Iracema Munhoz em São Bernardo do Campo.
Naquela época, haviam três turmas de primeiro ano, 1º ano A, B e C.
Tínhamos todas as matérias com somente uma professora no primeiro e
segundo ano. No terceiro, cada uma das professoras ministrava uma matéria
diferente. Tia Helena era professora do A (que no terceiro ano foi minha
professora de Português). Tia Druzila do B (minha professora no terceiro de
Ciências) e a Tia Esther do C (minha professora de matemática no terceiro).
Bom, voltando. Tia Esther ficou grávida e ficou de licença. Tia Druzila foi a
substituta nas áreas de Ciência e Matemática e Tia Helena de português,
redação e etc. na primeira aula de substituição, Tia Druzila entrou, se
apresentou e perguntou quem era o “geninho”. Eu não queria levantar o braço,
mas algumas crianças viram até mim e levantaram o meu braço. Como
sempre, fiquei muito envergonhado. Ela disse então que faria chamada oral de
“tabuada”. Eu gelei!! Eu me sentava perto da parede do lado direito, o da
porta e ela começou a perguntar pelos alunos do lado esquerdo, o da janela.
Fiquei colado nas respostas, quem sabe para mim, seria uma pergunta
repetida. Ficava mentalizando cada resposta para ver se eu decorava, grande
engano, não conseguia e pior, quanto mais eu percebia que não conseguia,
mais aterrorizado eu ficava. O pior é que, quando percebi que com o passar
do tempo, a tabuada ia ficando cada vez complicada, fiquei sem saída. Ela
fazia três perguntas para cada um e na minha vez, a tabuada foi a do “7”. Eu
sabia a do “2”, a do “3”, a do “4”, a do “5” e a do “9”, mas nunca consegui
guardar a tabuada do “6 ao 8”. Antes de fazer a primeira pergunta, ela disse:
- Quanto é 7 vezes 6?
Meu coração batia forte. Senti meu rosto passar de vermelho para branco!
- Virou e disse, está bem “geninho”, sua última chance. Desta vez vou facilitar
a sua vida. Qual tabuada você prefere!
- Pode...
- Então quanto é 9 x 8?
Eu comecei a chorar e disse que naquela tinha “8”. E ela virou e disse que não
interessava e a minha lição de casa era escrever a tabuada 100 vezes, de todos
os números.
O sinal tocou, ela saiu da classe, mas antes disse que se na próxima aula eu
não soubesse, eu iria escrever a tabuada na lousa as 100 vezes.
Fui para casa e estourei minha mão de tanto escrever. Quando minha mãe
chegou do trabalho, eu contei o que tinha acontecido e, depois de tudo que eu
passei, ela ainda me chamou de preguiçoso, que eu não prestava atenção na
aula, que só queria brincar, etc, etc.. Disse que, se a professora pediu 100
vezes, eu iria fazer 200 vezes.
Vocês não têm ideia do que é ter uma mãe como a minha. Minha palavra
nunca valeu. Sempre os outros é que tinham razão e, a cada explicação minha,
a situação se voltava cada vez mais contra mim.
Meus dedos ficaram em carne viva e eu não aguentava mais de dor. Dormi em
cima do caderno. Minha próxima aula com a Professora Druzila seria em dois
dias.
Fiz as 100 vezes, e no dia que fui apresentar, a Professora Druzila nem viu
meu caderno e foi direto na pergunta: Quanto é 7 x 8?
- Mas...
Meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu não conseguia nem ver o que
estava escrito. Minha mão doía e eu tremia. Ela deu aula para os outros alunos
enquanto eu fiquei a aula toda na lousa. Quando deu o sinal, ela foi saindo e
disse que era para eu ficar até acabar. E eu fiquei...
Não sei quanto tempo fiquei ali sozinho, mas deveria ter sido muito, pois
minha mãe mandou sua secretária ir me procurar. Quando abriu a porta e eu
olhei para ela, não parei mais de chorar!! Contei o que tinha acontecido e ela
me levou para a biblioteca (onde a minha mãe era a chefe). Falei que eu estava
com medo da minha mãe e ela disse para eu não me preocupar que não iria me
acontecer nada.
Ela conversou com a minha mãe antes e depois eu entrei. Pedi para ela ficar
comigo na sala, e ela me confortou dizendo que eu poderia ir tranquilo. Eu
não queria e minha Tia Mirian (Tia mesmo e que também trabalhava na
Biblioteca) entrou comigo. Minha mãe mandou minha tia sair e fechar a porta.
Minha tia tentou conversar com ela, porém, rispidamente, mandou minha tia
sair.
Ela estava em mesa de trabalho, olhou para mim e mandou que eu sentasse na
mesa de reunião. Ficou mexendo e escrevendo em uns papeis até que levantou
e veio sentar na mesa comigo. Eu comecei a chorar e ela me mandou parar
com aquilo. Que eu tenha que ser forte, que eu não era “mariquinha”, que
tinha que enfrentar as coisas sem chorar. Mandou que eu “engolisse” o choro.
- Não mãe! Foi exatamente como eu contei. Eu sou burro, não consigo me
lembrar!!!
Chorei muito!!
Ela pediu para eu ir lavar o rosto que iria fazer um telefonema. Eu fui e
quando voltei, ela me disse que havia ligado para o Diretor da escola, que era
um amigo dela e ele ficou de conversar com a professora. Na mesma hora,
ligou novamente para a escola e pediu o telefone da Tia Esther. Ligou para a
Tia Esther e disse se elas poderiam conversar. Desligou o telefone e falou:
Vamos!!
Chegando lá, ela pediu para falar em particular com a Tia Esther e eu fiquei na
garagem, pouco depois, as duas saíram da sala conversando e a Tia Esther me
deu um abraço e disse;
- Depois da sua aula, você vai vir para cá e almoçar comigo todos os dias! Aí
você me conta os seus problemas e a gente vai resolver!!
Meu problema com a tabuada não acabou (nunca acabou) mas ela me ensinou
alguns macetes para que eu não passasse mais vergonha. Apreendi que, se eu
não soubesse multiplicar, que fizesse soma dos números que era a mesma
coisa. Daí por diante, comecei a treinar meu cérebro para fazer soma e, às
vezes, nem parecia que eu estava somando em vez de ter decorado.
Esse meu problema de memorização, desde então, somente piorou. A cada
nível, cada estágio mais a frente, mais e mais coisas tinham que ser
memorizadas. Lembro de quando eu estava no 3º ano, na aula de português
com a Tia Helena, que começamos a procurar as palavras no dicionário.
Enquanto para todo mundo era fácil encontrar a tal palavra, para mim era uma
dificuldade tremenda. Até hoje, se me perguntarem o que vem antes da letra P,
ou de qualquer outra letra, eu não vou saber. A menos que eu faça toda a
sequência; A, B, C, D, E... Procurar uma palavra em dicionários, lista
telefônica (que graças a Deus não existe mais), enciclopédias ou qualquer
outra coisa do mesmo gênero, é um sacrifício e eu, sempre passo vergonha.
No dia da prova, acho que acabei em 15 minutos. O professor olhou para mim
e disse: Quer mesmo entregar? Não quer voltar e tentar pensar e fazer mais?
Eu lhe respondi que havia acabado. Ele virou a prova e colocou em cima da
mesa!!
Na outra aula, ele fez a correção na lousa e entregou cada uma das provas. A
minha foi a última. Eu tinha certeza que havia tirado “dez”, mas quando
recebi a prova, tinha um grande “ZERO”!
Fui falar com ele e ele disse que eu havia “colado”. Eu respondi que não e que
todos os resultados estavam corretos, conforme o resultado na lousa. Ele me
perguntou sobre o “desenvolvimento” da fórmula (agora, lembrando, acredito
que era uma equação do segundo grau ou algo parecido). Eu disse que usava
minha própria formula. Ele pediu para eu demostrar na lousa e eu fui. Me deu
um problema e eu resolvi com a minha fórmula. Me deu outro e eu também
resolvi. Virou e disse que era sorte e a nota era “ZERO”!
Comecei a discutir com ele e acabei indo parar na diretoria. O Diretor (que eu
não sabia) era um vereador de São Bernardo e também amigo da minha mãe.
Se isso foi em no primeiro ano ginasial, eu deveria ter uns 14 anos. Ele me
chamou e perguntou o que havia acontecido. Eu contei e ele disse que não era
a mesma história do professor. O professor havia dito que eu o havia ofendido
que que você não entraria mais na sala dele. Eu disse que, realmente briguei,
porque ele me acusou de ter “colado” em prova e me deu “zero” de nota. O
Diretor (não me lembro nome dele, mas se eu lembrar, venho aqui e altero o
texto), disse que teria que me suspender. Eu retruquei e ele disse que iria falar
com a minha mãe, que era amigo dela, patati e patatá! Disse para eu esperar
na secretaria enquanto falava com ela. Fiquei eu lá e no intervalo, todo mundo
passando e me vendo na “diretoria”. O assunto já havia se espalhado para a
escola toda.
Quando eu ia contar a minha versão, ela me mandou calar a boca e que eu iria
ver o que me esperava em casa!!
Nessa época, eu já não tinha tanto medo da minha mãe. Apanhei tanto, levei
tantos beliscões e puxões de cabelo que nem ligava mais. Castigo então, eram
dois por semana. Ficava sem televisão, doce, jantar, sair de casa, brincar, e
demais sanções físicas, psicológicas e emocionais. Só pensei comigo mesmo:
QUE SACO!!
Depois de uma meia hora, me chamaram para entrar. Minha mãe estava com
cara de que ia me matar. O “belzebu” já tinha incorporado.
Pausa:
Eu já havia tido problemas com esse tal professor de matemática. Na escola
que eu estava, nós tivemos desenho geométrico no primeiro semestre e
teríamos desenho artístico no segundo. Eu não só gostava de desenho
geométrico, eu AMAVA!! Adorava minha professora e meu caderno de
desenho, com todas as aulas, era impecável. Foi a primeira e última vez que
fiz um “caderno de aula” tão perfeito. Quase todas as aulas de desenho
geométrico, ela me pedia para ajudar os outros amigos e, foi nessa mesma
aula que o diretor da outra escola, me tirou do meio de uma prova, e aos
berros, me expulsou da escola. Depois de tratativas entre ele e minha mãe, tive
que ser transferido e, se eu voltasse a pesar naquela escola novamente, ele iria
chamar a polícia. Quando fui para essa nova escola, me deparei com a
matéria de “desenho geométrico”. Fui falar com esse professor dizendo que eu
já tinha tido essa matéria na outra escola. Ele disse que não interessava e que
eu teria que fazer de novo. Na primeira aula, ele me perguntou o porquê de eu
não estar copiando. Eu lhe disse que já tinha toda a matéria pronta no meu
caderno de desenho e mostrei-lhe. Ele pegou meu caderno e ficou olhando.
Disse que aquilo não era meu. Que eu não tinha feito aquilo. Eu discuti com
ele e disse que tudo aquilo era meu e eu mesmo tinha feito. Então ele pegou
meu caderno e disse que iria analisar. Levou meu caderno embora e, mesmo
eu cobrando em todas as outras aulas, ele disse que eu teria que copiar a aula e
no final do ano me devolveria o caderno. Justo aquele caderno que eu tinha o
maior “xodó”!
- Eu posso provar!
O professor começou a esbravejar, dizendo que aquilo não era possível que
ele já deveria ter ido embora, que o horário dele já tinha acabado, etc... etc..
Minha mãe, olhava para mim, com olhos de surpresa e me perguntava: Você
tem certeza disso? Eles vão te expulsar!!
- Nós vamos agora fazer esse teste e se você não conseguir resolver eu vou te
expulsar. Tem certeza que quer continuar?
- Tenho!
O Professor tentou se interpor, mas o Diretor disse que já tinha decidido e que
caso eu não conseguisse provar, seria expulso. Olhando para mim e minha
mãe.
No caminho até a sala de aula, minha mãe dizendo no meu ouvido que se eu
estivesse mentindo eu iria me arrepender para o resto da vida.
Chegando na sala, todos sentaram nas carteiras e eu fui para a lousa. O
professor pregou o “livro dos professores” e ditou o exercício.
- Ele não disse que faz qualquer exercício. O da prova eu já pus a resolução
na lousa e ele já decorou. Se quer provar que faz qualquer exercício, estou
dando qualquer exercício, mas se está muito difícil a gente pode parar por
aqui.
Minha mãe levantou e disse que já estava bom. Que ela não precisava passar
por aquilo, etc. Eu gritei:
Anotei e resolvi.
- Como é? Certo?
Nesse momento, o Diretor pediu para o professor criar um exercício que não
estivesse no livro.
Pus na lousa e resolvi!
Todo mundo parou! A feição da minha mãe que já havia passado do belzebu
para angelical, voltou a ficar igual a um bicho!!
- Pois bem, o caso está resolvido. O aluno provou que sabe responder os
exercícios. Caso encerrado!
Em 1980, eu iria ser pai, iria casar e precisava de um emprego estável. Nessa
época eu cursava Patologia Clínica, queria fazer Medicina e, fiz estágio nos
meus três anos de curso técnico. Não existia estágio remunerado, sendo assim,
em trabalhava meio período em laboratórios. Acabei sendo contrato para
trabalhar em uma empresa de economia mista de São Bernardo do Campo, das
15h às 24h e, na parte da manhã, continuei trabalhando em laboratório de
análises clinicas. Adorava o que eu fazia. Com 17 anos eu já tomava conta,
sozinho, da área de Microbiologia. Tive excelentes tutores.
Eu sentei e ele quis que eu explicasse a minha lógica. Eu expliquei. Porém, ele
disse que eu tinha que ter feito determinados “passos” e que eu não fiz.
Perguntou se eu sabia resolver o que o exercício pedia daquela forma
correta. Eu disse que sim, peguei um papel e mostrei a lógica que eles tanto
queriam, porém, que a minha rotina “economizava” quatro passos. Além de
ser mais rápida, era mais clara! A Maria do Carmo então começou a gritava
(não que isso era uma coisa anormal, ela nunca falou nada com menos de 80
decibéis) e dizia: Está certo!! Está certo!! Peligra, preste atenção: ESTÁ CERTA
A RESOLUÇÃO!! Ele fez o resultado certo economizando 4 passo!! A lógica
dele é “estruturada” como a minha e que vocês nunca conseguiram
entender!
O Pelegrinelli disse que não era esse o objetivo e ela emendou: MAS ESTÁ
CERTO!!! A VAGA É DELE!!!
O Pelegrinelli disse, em gestos, para ela ficar quieta e pediu para que eu
saísse. Eles ficaram lá dentro e eu nunca soube o que houve lá. Não me
lembro se no mesmo dia a tarde ou no dia, a Maria mandou me chamar.
Disse em tom ríspido para eu sentar e estranho, estava falando baixo. Olhou
para mim com os olhos vermelhos e disse baixinho: Não deu!!
Alguns dias depois de todo esse ocorrido, em um final de tarde, quando todo
mundo já tinha ido embora, a Maria do Carmo me chamou (depois daquele
dia, nunca mais nos falamos e desde o curso de programação COBOL, a gente
havia ficado muito próximo). Ela disse para eu sentar, me perguntou se eu
ainda estava bravo e disse que não tirava minhas razões. Eu argumentei e
disse que eu gostava muito dela, mas estava extremamente chateado, mas
que algum dia, o Peligrinelli iria se ver comigo. Ela, tranquilamente (coisa que
nunca foi seu perfil), disse que a culpa não era do Peligrinelli que ele só
estava fazendo papel que ele tinha mesmo que fazer, que a culpa era dela.
Foi ela que preparou os exercícios e a responsabilidade era dela. Tanto que,
na hora da correção, que ela fez junto com o Pelegrinelli, quando viu a minha
resolução, gritou um belo “PUTA MERDA, ELE ERROU”. Disse ainda que ela e
o Peligrinelli analisaram a resolução do problema, revisaram toda a prova e
chegaram à conclusão que que não dava. Que eu não tinha conseguido
errado!
Isso tudo, com várias tentativas de interrupção de minha parte, vários
senões, várias justificativa e ela mandando eu “calar a boca” toda hora e
pedindo para eu só ouvir.
Puxou minha prova da gaveta e disse, batendo em cima da mesa: ESTE AQUI
É O PROBLEMA!!! Apontando para minha lógica!
Emendou: Era para você fazer uma “rotina” de “looping” e você “matou” o
problema só com um “If”. Eu virei e disse: Eu sei, mas o meu funciona e é
mais rápido. Ela continuou: Está certo, mas quando eu e o Peligrinelli
corrigimos, não fizemos “teste de mesa” na sua lógica. Somente avaliamos
que todos os quesitos para a solução estavam presentes e na sua lógica, eles
não estavam. Certo ou errado, a sua prova foi a única que não seguiu os
parâmetros que gostaríamos que seguisse. Na mesma hora eu retruquei:
Provavelmente porque foi essa aula que eu perdi!
Ela me falou que a culpa era dela, pois quando montou o enunciado, ele
estava direcionado para que todos seguissem a mesma lógica e nunca havia
passado pela cabeça dela que existiria ou outro jeito de resolver aquele
problema e ainda, de uma maneira mais simples.
Eu não posso escrever aqui, todos os palavrões que ela disse, pois ficaria
“pornográfico” esse texto, mas Maria do Carmo é o seguinte: “ Em cada cinco
palavras, ela diz seis palavrões”. É, essa era a Maria do Carmo. Não sei se
melhorou, faz décadas que não nos encontramos e eu morro de saudades de
um dos meus dois Grandes Mestres!
Bom, ela me disse que havia falado com várias pessoas e queria me
aproveitar de alguma maneira. Disse para eu não me XXX desestimular que
eu iria me sair bem naquela área. Disse também, que havia conversado com
o Rocco (José Roberto Rocco, que viria a ser o meu segundo Grande Mestre)
e ele estava pensado em fazer um curso de Programação “Data IV/70”,
linguagem de programação do equipamento “Four Phase”, que era o
computador de “Data-Entry” que usávamos, ou seja, “programas para
digitação”.
A digitação não me atraia mais. Estava cansado daquilo. A irmã do Rocco era
minha chefe na “digitação”. Doroty Rocco! Como trabalhávamos até a meia-
noite, o clima na Digitação era mais tranquilo, só ficávamos nós e o pessoal
da operação do “Grande Porte”, um equipamento NCR Century 251, que era
o cérebro de todo o processamento de dados da Prefeitura de São Bernardo
do Campo, de todas as Empresas de Economia Mista e, por vezes, também
vendíamos “Block Time”, tempo e serviço de processamento para outras
empresas, inclusive particulares (na época me lembro que trabalhávamos no
processamento do lançamento de vendas do Cemitério Jardim da Colina –
1980 ou 81). Tinham outros serviços particulares, mas pela quantidade, esse
marcou mais. Tétrico, mas realista!!
Tinham que parar, de tempos em tempo, para gravar todos os dados
digitados e acumulados em um disco tipo “patch” (de, alucinantes, 10 Mb) e
transferir as informações para as “fitas” que seriam enviadas para o
computador central a fim de serem processadas. Dependendo do dia, as
vezes era necessário fazer duas ou três manobras destas, copiar todos os
dados e também, realizar o “back-up” (cópia de segurança) já que o disco
deveria ser limpo.
Acho que demorou quase um ano para que o Curso do Rocco fosse
aprovado.