Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Neste momento que escrevo, dia 12 de maio, já são 11.519 mortes por COVID-
19 no Brasil. No mundo, são 283.2712 mortes e cada uma dessas vidas importa.
Vivemos na crise do capitalismo, diante de uma pandemia e governados por
uma burguesia decadente, ultraconservadora, miliciana e que debocha da vida
de mais de 200 milhões de brasileiros.
A opção reformista
Neste artigo, o caro leitor terá acesso a algumas palavras sobre os limites do
socialista de salão.
Como sempre, inicio limpando o terreno: por esquerda Disney World, refiro-me
a perspectiva que se apresenta como revolucionária em nosso tempo presente,
mas que ignora fundamentalmente o conceito de Revolução Social
desenvolvido por Marx, mesmo se autointitulando “marxistas revolucionários”.
Proponho um diálogo direto com a imagem que István Mészáros chamou de
socialismo Mickey Mouse, ao referir-se àquele tipo de socialista caricato,
medíocre e hipócrita, que na verdade não possui nada de socialista em sua
perspectiva política6. Mészáros se referia diretamente aos social-democratas, ao
Partido Trabalhista Inglês, aos reformistas em geral na Europa. Aqui, ampliamos
um pouco a imagem, ao nos referirmos à esquerda Disney World, pois apenas o
Mickey Mouse não daria conta de representar tantos traidores da classe
trabalhadora diante da crise mundial.
Muitos desejam Lula em 2022. Por isso, preferem chamar à unidade para as
eleições (com as mesmas regras) e não à “greve geral” como ação direta para
combater os planos de austeridade do capital em tempos de pandemia. Penso
que é legítimo gostar de Lula. Afinal, foi um grande dirigente sindicalista que se
2020.
6
Em entrevista gravada para o programa Roda Vida da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) em
12.06.2002, respondendo ao apresentador Heródoto Barbeiro “O que é um socialismo Mickey Mouse?”.
Transcrição da entrevista completa disponível em:<
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/266/entrevistados/istvan_meszaros_2002.htm>. Acesso em 11
de Maio de 2020.
tornou presidente do Brasil. Mas não soframos de amnésia: governou para o
capital, conciliando (ou tentando conciliar) classes sociais antagônicas. Todavia,
a luta por eleições gerais, com as mesmas regras, não é a pauta de uma
perspectiva revolucionária. E aqui tocamos em uma questão bastante
vulgarizada: a perspectiva revolucionária.
A partir de onde posso afirmar que algo é ou não é revolucionário? Posso fazer
uma afirmação desta? Posso, faço. Como?
Como disse, o sujeito pode imperar da forma que desejar, mas uma coisa não
deixará de ser o que é para se moldar a subjetividade, pois a regência nestas
quadras históricas não está centrada no sujeito. Uma perspectiva não é
revolucionária apenas porque a pessoa afirma que é. E esta consideração se
estende à todas as classes sociais.
Vulgaridades conceituais
Nesta altura, meu caro leitor já deve ter percebido que me refiro a vulgarização
do conceito de revolução para além dos fast food da vida.
Parte daquilo que se reivindica como esquerda na política também se coloca
como sendo de perspectiva revolucionária. Aqui a coisa começa a ficar
fantasiosa, extremamente fantástica!
Entende-se, hoje, como esquerda desde aquele sujeito que desfila com uma
camiseta do “Che” pelos corredores de um shopping, até aquela organização
que se diz preocupada com justiça social e uma política de inclusão na
sociedade de consumo (sociedade de consumo é um mito muito parecido como
o da mula sem cabeça, o que não poderei aprofundar aqui).
Não seria tão sério se não se tratasse de grupos políticos importantes, que
possuem, de alguma forma influência na vida de milhares de pessoas.
Reivindicar uma perspectiva revolucionária a partir do acetileno (um gás que
fica oscilando no espaço) poderia até mesmo ter algum sentido caso
assumamos o pluralismo metodológico e a tradição pós-moderna de
compreender a vida. Poderíamos até mesmo não aceitar seus postulados,
refutá-los um a um; ainda assim existiria uma sintonia entre aquilo que se
defende e aquilo que se procura viver. Mas legitimar a perspectiva
revolucionária a partir do acetileno, colocando o conceito de Revolução Social
de Marx no mesmo balaio de gatos?!! Isso é completamente absurdo. Absurdo
porque é incoerente e não se sustenta.