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TUCCI, Carlos E. M.. Águas urbanas. Estudos Avançados, São Paulo, v. 22, n. 63, p.

97-112,
2008. FapUNIFESP (SciELO).

Ananda Brito Bastos1

O artigo trata da análise do desenvolvimento urbano através da sua relação com as


águas urbanas, tendo como parâmetro a realidade brasileira. Carlos E. M. Tucci, doutor em
Recursos Hídricos pela Colorado State University (1978), dividiu seu texto em quatro partes
principais: Desenvolvimento urbano, Águas urbanas, Gestão das águas urbanas e Tendências,
sendo estes itens subdivididos posteriormente para facilitar a compreensão do texto. Para Tucci,
seu texto tem por objetivo a averiguação das possibilidades de gestão da água na cidade e na
bacia hidrográfica no contexto institucional brasileiro (p.112).

Na primeira parte do artigo, Tucci aborda a formação da atual estrutura urbana,


decorrente da concentração populacional em áreas urbanas, a partir da segunda metade do
século XX, e consequentemente o acelerado desenvolvimento urbano dessas áreas e a disputa
pelos recursos naturais do território, entre eles a água. Para o autor, a estrutura da gestão da
cidade envolve elementos como o planejamento e gestão do uso do solo, cujo o principal
instrumento norteador é o Plano Diretor Urbano; o planejamento e gestão dos componentes de
infra-estrutura; e a gestão socioambiental, realizada pelos três níveis de governo.

Tucci alega que “o mundo está se tornando cada vez mais urbano” (p.97), e aponta a
economia, a população, e o uso do solo, como os principais indicadores para esse fenômeno. O
crescimento econômico possui uma inegável relação com o aumento da urbanização, pois ele
sugere equilíbrio financeiro e oportunidade de qualidade de vida. Estes fatores são atrativos
para a população, outro indicador de desenvolvimento urbano, gerando uma grande
concentração populacional em áreas economicamente estáveis. O uso do solo, o terceiro
indicador, determina qual o tipo de uso para o espaço urbano, limitando quais áreas para o uso
residencial, comercial, industrial e espaços públicos.

Esse processo de urbanização é perceptível pela formação das Regiões Metropolitanas


(RM) e dos pólos regionais no território brasileiro. O autor defende que “todos os processos
inadequados de urbanização e impacto ambiental que se observaram nas RM estão se
reproduzindo nas cidades de médio porte” (p. 98). Sugerindo que os problemas pertinentes as
infraestruturas dos países, sobretudo dos latinos americanos, estejam relacionadas a grande

1
Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da UNIFAP.
concentração populacional em pequenas áreas, o aumento das áreas de periferia e a urbanização
descontrolada.

Estes problemas da cidade agravam a qualidade das águas urbanas do Brasil. Pois a
ausência de infraestruturas que garantam o tratamento adequado da água e esgoto do país,
prejudicam tanto para o meio ambiente quanto para a saúde da população. Para o doutor em
Recurso Hídricos isto decorre da visão limitada tanto de profissionais de engenharia quanto do
poder público sobre o que é a gestão de solo urbano e da sua infraestrutura (p. 99-100).

Na segunda parte do texto denominada Águas Urbanas, há uma breve contextualização


histórica sobre as fases das águas urbanas, ou seja, o sistema de abastecimento de água e
esgotos sanitários, drenagem urbana, inundações ribeirinhas e a gestão dos sólidos totais. Tucci
classifica o desenvolvimento das águas urbanas em quatro fases: pré-higienista (até o início do
século XX), higienista (antes de 1970), corretiva (entre 1970-1990) e desenvolvimento
sustentável (depois de 1990). Explicando em seu texto as principais características de cada fase
e suas consequências para o meio ambiente e população.

O artigo explica que “o Brasil infelizmente está ainda na fase higienista em razão de
falta de tratamento de esgoto, transferência de inundação na drenagem e falta de controle dos
resíduos sólidos” (p.101). Tucci expõe imagens e dados que representam a realidade brasileira
sobre cobertura de água e esgoto para comprovar a teoria que o desenvolvimento urbano tem
produzido um ciclo de contaminação, pois o abastecimento de água fica comprometido pela
falta de tratamento de esgoto sanitário e pluvial.

A problemática de drenagem urbana também é discutida no artigo, a partir da discussão


sobre inundações e impactos nas áreas urbanas. Primeiramente, o autor esclarece sobre os tipos
de inundações que ocorrem no meio urbano, sendo uma ocorrendo por razões naturais
(inundações de áreas ribeirinhas) e outra por causa da impermeabilização do solo ou obstrução
do escoamento (inundações por razões da urbanização). Sendo os impactos pela inundação
gerados pela ocupação irregular em áreas de risco, principalmente por parte da população de
baixa renda, pois o gerenciamento público não incentiva a prevenção desses problemas.

Sobre a Gestão da Água o texto define como “a gestão das ações dentro do ambiente
urbano pode ser definida de acordo com a relação de dependência da água através da bacia
hidrográfica ou da jurisdição administrativa do município, do Estado ou da nação” (p.108).
Criticando a falta de diálogo entre os níveis de poderes para aplicação eficiente das leis já
existentes sobre a gestão de águas. Tucci defende que a colaboração entre os poderes é
essencial para solucionar as problemáticas referentes as águas urbanas.

Por fim o autor comenta sobre as Tendências para o Brasil sobre a gestão das águas
urbanas, citando as metas do milênio propostas pelas Nações Unidas. Em seu texto, Tucci
reconhece a evolução do Brasil quanto à Gestão de Recursos Hídricos, pois o país instituiu um
amplo mecanismo de gestão das águas como: Plano Nacional de Recursos Hídricos, a nova
Legislação de Saneamento Ambiental, instituições como a Agência Nacional de Águas e as
agências estaduais e os Conselhos e Comitês de bacia.

No entanto, ele alerta sobre a questões no âmbito do saneamento básico, que ainda
estava muito aquém da qualidade necessária para a população. O autor defende a aplicação de
grandes investimentos financeiros para melhorar a qualidade da infraestrutura das águas
urbanas, além de integrar efetivamente as metas da Gestão dos Recursos Hídricos às do
Saneamento Ambiental, e pôr em pratica as ações determinadas por esses instrumentos.

Considero o artigo de grande importância, não apenas para compreender melhor as


questões relacionadas as águas urbanas, mas para entender e questionar as problemáticas
existentes na minha cidade sobre o assunto. Pois apesar de Macapá ser uma cidade de médio
porte e está localizada na região amazônica, é possível fazer um paralelo do artigo com a
realidade macapaense. Principalmente em relação ausência da infraestrutura necessária para a
gestão de águas urbanas da cidade, causando transtornos que vão desde inundações durante os
períodos de chuva até a diminuição da qualidade de vida. Pois a população que tanto se orgulha
de tomar banho no Rio Amazonas, é a mesma que despeja esgoto não tratado nele.

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