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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão
DJe 21/06/2012
Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


REDATOR DO : MIN. LUIZ FUX
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : PEDRO HENRY NETO
ADV.(A/S) : JOSÉ ANTONIO DUARTE ÁLVARES

EMENTA: INQUÉRITO. FORO POR PRERROGATIVA DE


FUNÇÃO. PARLAMENTAR. NOMEAÇÃO DE FUNCIONÁRIO PARA
O EXERCÍCIO DE FUNÇÕES INCOMPATÍVEIS COM O CARGO EM
COMISSÃO OCUPADO. POSSIBILIDADE, EM TESE, DE
CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE PECULATO DESVIO (ART. 312,
CAPUT, DO CÓDIGO PENAL). ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO
DE OFÍCIO, SEM OITIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. DOUTRINA.
PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E
PROVIDO.
1. O sistema processual penal acusatório, mormente na fase pré-
processual, reclama deva ser o juiz apenas um “magistrado de
garantias”, mercê da inércia que se exige do Judiciário enquanto ainda
não formada a opinio delicti do Ministério Público.
2. A doutrina do tema é uníssona no sentido de que, verbis: “Um
processo penal justo (ou seja, um due process of law processual penal),
instrumento garantístico que é, deve promover a separação entre as
funções de acusar, defender e julgar, como forma de respeito à condição
humana do sujeito passivo, e este mandado de otimização é não só o
fator que dá unidade aos princípios hierarquicamente inferiores do
microssistema (contraditório, isonomia, imparcialidade, inércia), como
também informa e vincula a interpretação das regras
infraconstitucionais.” (BODART, Bruno Vinícius Da Rós. Inquérito
Policial, Democracia e Constituição: Modificando Paradigmas. Revista

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eletrônica de direito processual, v. 3, p. 125-136, 2009).


3. Deveras, mesmo nos inquéritos relativos a autoridades com foro
por prerrogativa de função, é do Ministério Público o mister de
conduzir o procedimento preliminar, de modo a formar adequadamente
o seu convencimento a respeito da autoria e materialidade do delito,
atuando o Judiciário apenas quando provocado e limitando-se a coibir
ilegalidades manifestas.
4. In casu: (i) inquérito destinado a apurar a conduta de
parlamentar, supostamente delituosa, foi arquivado de ofício pelo i.
Relator, sem prévia audiência do Ministério Público; (ii) não se afigura
atípica, em tese, a conduta de Deputado Federal que nomeia
funcionário para cargo em comissão de natureza absolutamente distinta
das funções efetivamente exercidas, havendo juízo de possibilidade da
configuração do crime de peculato-desvio (art. 312, caput, do Código
Penal).
5. O trancamento do inquérito policial deve ser reservado apenas
para situações excepcionalíssimas, nas quais não seja possível, sequer
em tese, vislumbrar a ocorrência de delito a partir dos fatos
investigados. Precedentes (RHC 96713, Relator(a): Min. JOAQUIM
BARBOSA, Segunda Turma, julgado em 07/12/2010; HC 103725,
Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em
14/12/2010; HC 106314, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira
Turma, julgado em 21/06/2011; RHC 100961, Relator(a): Min. CÁRMEN
LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 06/04/2010).
6. Agravo Regimental conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência do
Senhor Ministro Cezar Peluso, na conformidade da ata de julgamentos e
das notas taquigráficas, por maioria, em dar provimento ao agravo

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regimental.
Brasília, 1º de março de 2012.
LUIZ FUX - REDATOR PARA O ACÓRDÃO
Documento assinado digitalmente

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RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


REDATOR DO : MIN. LUIZ FUX
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : PEDRO HENRY NETO
ADV.(A/S) : JOSÉ ANTONIO DUARTE ÁLVARES

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Trata-se de inquérito instaurado a pedido do Procurador-Geral da
República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, contra o Deputado
Federal Pedro Henry Neto, por suposta prática do crime de peculato (art.
312 do Código Penal).
O pedido está assim fundamentado, na parte que interessa:

“(...)
2. Trata-se de procedimento administrativo iniciado
a partir de cópia da Reclamação Trabalhista nº
01357.2005.031.23.00-0, ajuizada por CHRISTIANO FURLAN
em face de PEDRO HENRY NETO, na qual consta que:

‘(...) O reclamante foi admitido em 01/06/2004, para


exercer a função de piloto particular do reclamado. (...)
Mas, chegando a Cáceres para assumir seu posto, foi
surpreendido com a conversa que só seria contratado se
assinasse papéis referentes à sua nomeação para um cargo
de confiança ou seja, assessor parlamentar da liderança do
Partido PP e, como o reclamante já havia deixado o seu
emprego, se viu obrigado a assinar a ‘dita papelada’, para
garantir o emprego e o sustento de sua família, mesmo
vislumbrando claramente um sério desvio de finalidade e

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de função.
Desta maneira, o reclamante efetivamente passou a
exercer a função de piloto, mas de direito era nomeado
como assessor parlamentar, conforme restará provado
pela documentação anexa, planos de vôo e comprovantes
de pagamentos – sem que nunca tenha pisado em Brasília,
ou tenha ele feito qualquer tipo de serviço que pudesse
credenciá-lo como assessor; somente pilotava para o
reclamado e sob determinação dele, também
transportando outras pessoas, em geral políticos deste
Estado. (...)’ (fls. 50/51)

3. Dessa forma, CHRISTIANO FURLAN teria sido


contratado como assessor técnico adjunto D – CNE – 14 (fls. 39),
porém, efetivamente trabalhava como piloto particular do
Deputado Federal PEDRO HENRY NETO.
4. Dentre os documentos que instruem os autos,
destacam-se diários de bordo da aeronave pilotada (fls. 81/96),
portarias de nomeação e exoneração de CHRISTIANO
FURLAN para o cargo público (fls. 113/114), registro
aeronáutico brasileiro (fls. 187/188) e documentos relativos à
criação dos cargos de natureza especial na Câmara dos
Deputados (fls. 200), jornada dos servidores daquela Casa
Legislativa (fls. 201) e atribuições do cargo de assessor técnico
(fls. 203).
5. A partir dos documentos que instruem os
presentes autos, ressaem irregularidades quanto à contratação
de CHRISTIANO FURLAN pelo Deputado Federal PEDRO
HENRY NETO. O anexo do Ato da Mesa nº 45/96 (fls. 203)
dispõe sobre as atribuições do assessor técnico da seguinte
forma:

‘Assessor Técnico:
I – prestar assessoramento técnico no desempenho
de atividades relativas à sua área específica;
II – redigir minutas de pronunciamentos

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parlamentares destinadas à participação do Deputado em


sessões e eventos especiais;
III – elaborar pareceres, estudos, pesquisas e
relatórios relacionados com as atividades do órgão;
IV – acompanhar a tramitação de proposições de
interesse do órgão;
V – desempenhar outras tarefas correlatas de
assessoramento que lhe sejam cometidas.’

6. Apesar de o rol de possíveis atribuições a serem


cometidas ao assessor técnico ser amplo, não há dúvida acerca
da incompatibilidade do exercício da função de piloto com as
atribuições nele elencadas, diferentemente do que sustentado
pelo Deputado PEDRO HENRY [O Deputado PEDRO HENRY,
na contestação da ação trabalhista contra si movida, não nega a
ocorrência dos fatos, mas tão-somente busca justificar que o
cargo de assessor técnico comporta o exercício da atividade de
piloto]. Confira-se:

‘(...) como permite o Ato da Mesa n. 45/1996, da


Câmara dos Deputados, o cargo de Assessor Técnico
Adjunto D, não determina a exata função a cumprir pelo
Assessor, que poderá fazê-lo na função que melhor
aprouver ao Deputado Federal que, na oportunidade
estiver investido no cargo de Líder de Partido. (fls. 102)

7. Daí se afirmar que a contratação de um assessor


técnico, cujas atribuições encontram-se delimitadas em ato da
Câmara dos Deputados, para pilotar um avião particular, por
certo, é ilícita.
8. Assim, as irregularidades que ressaem dos
documentos juntados aos autos indicam fortes indícios da
prática de crime (art. 312 do Código Penal), considerando,
dentre outros aspectos, que houve contratação de servidor
público para desempenho de atribuição estranha ao cargo para
o qual foi nomeado.

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9. Dada a gravidade dos fatos noticiados, o


Procurador-Geral da República requer a instauração de
Inquérito, que deverá ser instruído com os autos do
Procedimento Administrativo MPF nº 1.20.000.000900/2005-21”
(fls. 2 a 4).

Foram solicitadas e por mim deferidas as seguintes


diligências:

a) expedição de ofício à Câmara dos Deputados para que


remetesse a esta Suprema Corte:
a.1) cópia da folha de frequência do servidor
CHRISTIANO FURLAN;
a.2) relação dos servidores que integravam o
gabinete do líder do Partido Progressista – PP no ano de
2004;
a.3) cópia das fichas financeiras referentes ao
pagamentos dos salários de CHRISTIANO FURLAN e
a.4) cópia da portaria de exoneração de
CHRISTIANO FURLAN, possivelmente ocorrida em
janeiro de 2005, remetendo ainda documentação a ela
correlata, considerando constar do ato de exoneração que
esta se deu ‘a pedido’;”

Por meio dos ofícios às fls. 248 a 278 e 287 a 296 foram prestadas pela
Câmara dos Deputados as informações requeridas.
O investigado, por intermédio de seu advogado, apresentou
esclarecimentos por escrito e requereu a juntada de novos documentos,
solicitando o arquivamento do inquérito, por aventada falta de objeto (fls.
298 a 354).
Em atenção a esses novos elementos de prova, o Ministério Público
Federal (fls. 360 a 363), pelo parecer da ilustre Subprocuradora-Geral da
República Dra. Cláudia Sampaio Marques, aprovado pelo ilustre
Procurador-Geral, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, assim se
pronunciou:

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“(...)
1. Às fls. 356/358 foram requeridas diligências em relação
às quais Vossa Excelência proferiu a decisão de fls. 360/363, na
qual consignou:
‘(...) Antes do deferimento do requerimento da
Procuradoria-Geral da República, contudo, observo que
algumas novas considerações com base em elementos
constantes dos autos devam ser feitas pelo Parquet.
Inicialmente faz-se necessária manifestação do
Ministério Público Federal sobre o petitório de fls. 298
usque 354, onde sustenta o investigado a inexistência, à
época dos fatos, de qualquer ilicitude na designação de
servidor contratado em 'cargo de natureza especial' para
realizar atividades externas ao gabinete do parlamentar,
visto que efetivamente somente a partir da edição da
Resolução nº 1/2007 da Câmara dos Deputados fora os
CNE's legalmente impedidos de ter lotação fora daquela
Casa Legislativa, havendo aparente inexistência de
ilicitude na conduta do investigado, revelando-se, assim,
em uma análise perfunctória dos fatos, desnecessário o
prosseguimento das investigações.
Por outro lado, também não se vislumbra novo fato
ilícito que justifique o alargamento da investigação e a
pretendida inquirição de ÁUREA AUGUSTA BRUEL (…).
Com efeito, embora tenha a aludida servidora sido
exonerada do cargo de natureza especial na data de
26.04.2004 (fls. 293), conforme se infere da anotação
constante na linha imediatamente seguinte do já referido
documento, foi ela recontratada naquela mesma data para
novo cargo de igual natureza, o que justifica o
apontamento de seu nome nas listas de frequência
subsequentes, não havendo indícios de qualquer ilícito
penal a ser investigado.’
2. Os documentos de fls. 298/354 consistem em petição do
indiciado Pedro Henry Neto requerendo o arquivamento do

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feito (fls. 298/300), informações técnicas prestadas pela Câmara


dos Deputados (fls. 301/318 e 326/354) e acórdão nº 1231/2003
do Plenário do Tribunal de Contas da União (fls. 319/325), e não
alteram o teor das diligências relacionadas a Christiano Furlan.
Com efeito, admitir-se a realização de atividades em outro local
que não o gabinete do parlamentar não implica em autorização
para o desempenho de atividades estranhas ao cargo.
3. Na hipótese, apesar de ocupar cargo de natureza
especial - assessor técnico adjunto D, os elementos de prova
colhidos até o momento indicam que na prática era incumbida a
Christiano Furlan a função de piloto particular do Deputado
Federal Pedro Henry.
4. Por ocasião da manifestação de fls. 2/4 foram elencadas
as atribuições inerentes ao cargo mencionado, que, por
oportuno, seguem novamente transcritas:
‘Assessor Técnico:
I – prestar assessoramento técnico no desempenho
de atividades relativas à sua área específica;
II – redigir minutas de pronunciamentos
parlamentares destinadas à participação do Deputado em
sessões e eventos especiais;
III – elaborar pareceres, estudos, pesquisas e
relatórios relacionados com as atividades do órgão;
IV – acompanhar a tramitação de proposições de
interesse do órgão;
V – desempenhar outras tarefas correlatas de
assessoramento que lhe sejam cometidas.’
5. Assim, a alegação de que os ocupantes de cargos de
natureza especial podiam prestar serviço fora do recinto da
Câmara dos Deputados, o que só ficou impedido após a
Resolução nº 1/2007, não impede o prosseguimento da presente
investigação.
6. Isto porque, mesmo sendo possível o suporte às
atividades institucionais da Câmara dos Deputados junto às
bases eleitorais - ou seja, fora do recinto dessa instituição -
mediante a alocação de servidores ocupantes de cargos de

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natureza especial, as atribuições desempenhadas devem estar


relacionadas ao seu cargo.
7. No entanto, isso não ocorria na hipótese dos autos, eis
que Christiano Furlan foi contratado como assessor técnico e
atuava como piloto de avião particular do investigado. É
patente a dificuldade de incluir dentre as atribuições de
assessor técnico, elencadas no anexo do Ato da Mesa nº 45/96, a
de pilotar avião.
8. Dessa forma, a fim de elucidar os fatos, devem ser
ouvidos Leonardo Furlan, que teria intermediado a contratação
de Christiano Furlan por Pedro Henry, bem como Tertuliano de
Arruda, Odemar Luiz de Morais Navarro e Marivaldo Pereira
Barros.
9. No que diz respeito a Áurea Augusta Bruel, nova
análise dos autos indica que, efetivamente, a servidora,
exonerada em 26.4.2004, foi nessa data readmitida na mesma
lotação anteriormente ocupada (fls. 290).
10. Diante do exposto, o Ministério Público Federal requer
que seja autorizada a realização das seguintes diligências:
a) oitiva, acerca dos fatos, de:
a.1) Leonardo Furlan
a.2) Tertuliano de Arruda
a.3) Odemar Luiz de Morais Navarros e
a.4) Marivaldo Pereira Barros
a.5) Valéria Simenov Thomé
b) oitiva do Deputado Federal Pedro Henry e
c) expedição de ofício à Câmara dos Deputados para que
informe se é possível incluir dentre as atribuições de ocupante
de cargo de natureza especial - assessor técnico adjunto D, a de
piloto de avião e, se positiva a resposta, para que encaminhe
cópia do ato normativo pertinente” (fls. 366 a 369).

Deferida a expedição de ofício à Presidência da Câmara dos


Deputados para que informasse se, no período entre 1º/6/04 e 21/1/05, era
possível incluir dentre as atribuições de ocupante de cargo de natureza
especial - assessor técnico adjunto D - atividades externas ao gabinete

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como a de piloto de avião, sobrevieram as informações complementares


de fls. 379 a 385.
Diante dessas informações, pugnou o Ministério Público Federal
pelo prosseguimento das investigações, com a inquirição das
testemunhas indicadas, uma vez que “não consta, nas atribuições de cargos
em comissão daquela Casa a de piloto de avião” (fl. 390).
Em 28/11/11, com fundamento no art. 21, XV, c, do RISTF,
determinei o arquivamento do presente inquérito, de ofício, ressalvado o
disposto no art. 18 do Código de Processo Penal.
Contra essa decisão foi interposto tempestivo agravo regimental
(Petição/STF nº 91.301/11), no qual sustenta o agravante a impossibilidade
de proceder-se ao arquivamento sem prévio requerimento ou
manifestação do Parquet, postulando, diante da tipicidade dos fatos em
investigação, seja determinado o prosseguimento do inquérito, com o
cumprimento das diligências requeridas pelo dominus litis (fls. 411 a
422).
O agravado, por intermédio de seu advogado, pugna pela
manutenção da decisão agravada (fls. 428 a 431).
É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Como visto, volta-se este agravo contra a determinação de
arquivamento, de ofício, do inquérito instaurado a pedido do Procurador-
Geral da República, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, contra o
Deputado Federal Pedro Henry Neto, por suposta prática do crime de
peculato (art. 312 do Código Penal).
Sustenta o agravante, que:

“(...)
2. A decisão merece ser reformada, pois, como adiante será
demonstrado, está, com a vênia devida, fundada em premissas
equivocadas;

3. Relativamente ao arquivamento do inquérito policial, o


art. 28 do Código de Processo Penal dispõe que:

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de


apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do
inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o
juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de
informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
denúncia, designará outro órgão do Ministério Público
para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento,
ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

4. Do referido dispositivo extrai-se que é da atribuição


exclusiva do Ministério Público o pedido de arquivamento do
inquérito policial, o qual deve ser acatado pelo juiz caso tenha
partido do Procurador-Geral. A doutrina, a respeito do tema,
observa que:

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‘(...) em matéria penal, cabe ao Ministério Público dizer


definitivamente acerca do não-ajuizamento de ação penal, isto é,
em relação ao arquivamento de inquéritos policiais ou peças de
informação.” (EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA, Curso
de Processo Penal, 2009, p. 57)
“Entendemos que a legitimidade para determinar o
arquivamento dos autos do inquérito é do Ministério Público e
não do juiz, não obstante a redação do art. 28 acima citado. Pois,
diante da nova ordem constitucional, com a adoção do sistema
acusatório, o dominus litis é o Ministério Público (cf. Item
2.4.5, supra). Entretanto, ser dono da ação penal não significa
ser dono do mundo. Não. O Ministério Público recebe
fiscalização do órgão judiciário na formulação de sua pretensão
de arquivamento. É o sistema de freios e contrapesos a que nos
referimos no item 2 supra.
O arquivamento é determinado pelo titular da ação penal
pública, porém submetendo-o ao juiz para que exerça a
fiscalização sobre o princípio da obrigatoriedade da ação penal.’
(PAULO RANGEL, Direito Processual Penal, 2009, p. 191)

5. Nesse sentido, o arquivamento de inquérito deve


decorrer de requerimento do Procurador-Geral da República,
ou, ao menos, após a sua oitiva, conforme jurisprudência dessa
Suprema Corte:

‘(…) 1. O inquérito policial é procedimento de


investigação que se destina a apetrechar o Ministério
Público (que é o titular da ação penal) de elementos que
lhe permitam exercer de modo eficiente o poder de
formalizar denúncia. Sendo que ele, MP, pode até mesmo
prescindir da prévia abertura de inquérito policial para a
propositura da ação penal, se já dispuser de informações
suficientes para esse mister de deflagrar o processo-crime. 2. É
por esse motivo que incumbe exclusivamente ao Parquet
avaliar se os elementos de informação de que dispõe são

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ou não suficientes para a apresentação da denúncia,


entendida esta como ato-condição de uma bem caracterizada
ação penal. Pelo que nenhum inquérito é de ser arquivado
sem o expresso requerimento ministerial público. (...)’ (HC
88589/GO – Goiás, Relator: Min. Carlos Britto, Julgamento:
28/11/2006, Primeira Turma) (grifo do MPF)

‘Petição. 1. Investigação instaurada para apurar a suposta


prática do crime de corrupção eleitoral ativa por Deputado
Federal (Código Eleitoral, art. 299). 2. Arquivamento
requerido pelo Ministério Público Federal (MPF) sob o
argumento de que a conduta investigada é atípica. 3. Na
hipótese de existência de pronunciamento do Chefe do
MPF pelo arquivamento do inquérito, tem-se, em
princípio, um juízo negativo acerca da necessidade de
apuração da prática delitiva exercida pelo órgão que, de
modo legítimo e exclusivo, detém a opinio delicti a partir
da qual é possível, ou não, instrumentalizar a persecução
criminal. Precedentes do STF. 4. Apenas nas hipóteses de
atipicidade da conduta e extinção da punibilidade poderá o
Tribunal analisar o mérito das alegações trazidas pelo
Procurador-Geral da República. 5. Ausência de elementar do
fato típico imputado: promessa de doação a eleitores. 6.
Arquivamento deferido.’ (Pet 3927, Relator: Min. Gilmar
Mendes, julgamento em 12/6/2008, Tribunal Pleno) (grifo
do MPF)

6. Ainda que o Regimento Interno do Supremo Tribunal


Federal admita que o relator do inquérito determine seu
arquivamento quando verificar que o fato narrado
evidentemente não constitui crime (art. 21, XV, ‘c’), a hipótese
não se aplica ao caso.

7. O fato objeto da presente investigação consiste na


contratação de Christiano Furlan como servidor da Câmara dos
Deputados, embora atuasse como piloto particular da aeronave

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de propriedade do Deputado Federal Pedro Henry,


configurando o claro propósito deste de, utilizando-se de
dinheiro público, atender a seus interesses pessoais.

8. Christiano Furlan esclareceu o seguinte acerca da sua


contratação:

‘(...) O reclamante foi admitido em 01/06/2004, para


exercer a função de piloto particular do reclamado. (...)
Mas, chegando a Cáceres para assumir seu posto, foi
surpreendido com a conversa que só seria contratado se
assinasse papéis referentes à sua nomeação para um cargo de
confiança ou seja, assessor parlamentar da liderança do Partido
PP e, como o reclamante já havia deixado o seu emprego, se viu
obrigado a assinar a ‘dita papelada’, para garantir o emprego e o
sustento de sua família, mesmo vislumbrando claramente um
sério desvio de finalidade e de função.
Desta maneira, o reclamante efetivamente passou a exercer
a função de piloto, mas de direito era nomeado como assessor
parlamentar, conforme restará provado pela documentação
anexa, planos de voo e comprovantes de pagamentos – sem que
nunca tenha pisado em Brasília, ou tenha ele feito qualquer tipo
de serviço que pudesse credenciá-lo como assessor; somente
pilotava para o reclamado e sob determinação dele, também
transportando outras pessoas, em geral políticos deste Estado.
(...)’ (fls. 55/56)

9. Ou seja, o próprio ‘servidor’ reconheceu que sua


contratação destinava-se à prestação de serviço particular, sem
qualquer vínculo com o exercício da atividade parlamentar de
Pedro Henry.

10. Não se contesta a possibilidade de que as atribuições


inerentes ao cargo de natureza especial – assessor técnico
adjunto D - sejam desempenhadas em local diverso do gabinete
do parlamentar, mas sim a realização de atividades estranhas

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ao cargo para o qual houve designação.

11. As funções para as quais Christiano Furlan estava


designado eram as seguintes (fls. 207):

‘Assessor Técnico:
I – prestar assessoramento técnico no desempenho de
atividades relativas à sua área específica;
II – redigir minutas de pronunciamentos parlamentares
destinadas à participação do Deputado em sessões e eventos
especiais;
III – elaborar pareceres, estudos, pesquisas e relatórios
relacionados com as atividades do órgão;
IV – acompanhar a tramitação de proposições de interesse
do órgão;
V – desempenhar outras tarefas correlatas de
assessoramento que lhe sejam cometidas.’

12. A decisão agravada destacou que a atividade de pilotar


avião por assessor parlamentar ‘a rigor, poderia até mesmo ser
enquadrada nos incisos IV e V do Ato da Mesa n. 45’ (fls. 403), acima
transcritos. Afirmou, portanto, que a atividade de pilotar avião
adequa-se tanto ao acompanhamento da tramitação de proposições
de interesse do órgão como ao desempenho de outras tarefas
correlatas de assessoramento. Essa Tal conclusão, no entanto, não é
correta.

13. Conforme já destacado pelo Ministério Público Federal


em outras manifestações neste feito, Christiano Furlan, apesar
de contratado como assessor técnico, atuava exclusivamente
pilotando avião particular do parlamentar, figurando-se
incontestável a dificuldade de incluir a pilotagem dentre as
atribuições de um assessor técnico.

14. A própria Câmara dos Deputados, consultada sobre a


questão, afirmou categoricamente que ‘No Ato da Mesa nº 45, de

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17/10/1996, que estabelece as atribuições de cargos em comissão não


consta, dentre todas as atividades, a de piloto de avião’ (fls. 380).

15. No entanto, a decisão recorrida, a fim de justificar a


lisura da conduta do parlamentar, consignou o seguinte:

‘Note-se, ainda, que dentre as funções de Secretário


Parlamentar, está igualmente prevista a condução de
veículos do parlamentar (art. 8º do Ato da Mesa n. 72), no
que, a final, também se subsume a aeronave ou avião – a
despeito da maioria não possuí-lo.’

16. Consta dos autos dois atos da Mesa da Câmara dos


Deputados que dispõem sobre as atribuições dos cargos em
comissão. O Ato da Mesa nº 45/96 ‘estabelece atribuições de cargos
em comissão e funções comissionadas e dá outras providências’ (fls.
312/316), enquanto o Ato da Mesa nº 72/97 ‘dispõe sobre os cargos
em comissão de Secretariado Parlamentar do Quadro de Pessoal da
Câmara dos Deputados’ (fls. 307/311).

17. No Ato da Mesa nº 45/96 encontram-se detalhadas as


atribuições dos seguintes cargos em comissão e funções
comissionadas: chefe de gabinete; assessor administrativo;
assessor técnico; secretário de comissão; chefe de secretaria;
secretário particular; assistente técnico; assistente de gabinete;
assistente de comissão; assistente técnico de gabinete; assistente
técnico de comissão; secretário da presidência de comissão
permanente; adjunto de secretário de comissão; auxiliar;
encarregado do setor de tramitação de proposição; encarregado
do setor de controle e execução (departamento de comissões);
auxiliar de comissão; ajudante ‘A’; ajudante ‘B’. (grifo do MPF)

18. Por sua vez, o Ato da Mesa nº 72/97 especifica as


atribuições dos cargos em comissão de Secretariado
Parlamentar, onde se incluem apenas os de assessor
parlamentar, assistente parlamentar e auxiliar parlamentar.

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19. Portanto, o argumento de que incumbe ao secretário


parlamentar a condução de veículo automotor não justifica a
pilotagem de avião por assessor técnico, uma vez que se trata
de cargos distintos e com atribuições diversas.

20. A leitura acurada do Ato da Mesa nº 45 indica que as


atribuições de assessor técnico não abarcam o ato de pilotar
aeronave e, embora possam ser desempenhadas fora do recinto
da Câmara, devem guardar relação com o exercício do mandato
parlamentar. Isso não ocorre, porém, na hipótese em que o
servidor nomeado assessor técnico desempenha a única
atribuição de pilotar aeronave particular do Deputado Federal.

21. Outro aspecto que merece esclarecimento é o fato de


que o objeto da investigação encerra autêntico crime de
peculato, na forma prevista no art. 312, caput, do Código Penal,
uma vez que os indícios existentes até o momento são de que
foi contratado, sob o título de assessor técnico, um piloto
particular de avião pertencente ao parlamentar.

22. Por conseguinte, a remuneração do piloto – que


atendia aos interesses particulares do parlamentar e nunca
desempenhou qualquer atribuição inerente ao cargo de assessor
técnico – era feita com recursos públicos, às expensas do erário.
A se confirmar a versão que até então exsurge dos autos, há
nítido e incontestável desvio de dinheiro público em proveito
do próprio Deputado Federal Pedro Henry.

23. Ressalte-se, a propósito, que o caso em muito se


assemelha aos precedentes firmados por essa Corte nos
Inquéritos nº 1926 e 2652, cuja aplicação foi afastada na decisão
agravada. Aqui, como lá, os parlamentares sustentavam que a
contratação dos “servidores” estava relacionada ao exercício do
mandato, mas prevaleceu, ao menos no juízo preliminar de
recebimento das denúncias, a versão dos próprios ‘servidores’

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de que desempenhavam atividades particulares. Confira-se:

‘(...) O argumento de que as atividades parlamentares do


escritório político, as atividades institucionais do Instituto
Nacional de Defesa do Consumidor (INADEC) e as atividades
empresariais da 'Night and Day Promoções Ltda', se
confundiam e, por isso, eram realizadas em conjunto pelos
funcionários do mesmo local em São Paulo, com efeito, não tem
como ser acolhido, ao menos nesta fase de avaliação dos
elementos indiciários.

A esse respeito, de certa forma, o denunciado confirma os


fatos narrados na denúncia, especialmente quanto à ausência de
separação ente o público e o privado nas ações e atividades
realizadas pelo denunciado no endereço localizado em São Paulo.
E, nesse particular, o erário público era quem remunerava a
funcionária Sandra de Jesus que, por sua vez, prosseguia
administrando e gerindo a sociedade empresária (pessoa jurídica
de direito privado) do denunciado, especialmente por se tratar de
pessoa de sua mais absoluta confiança, como foi ele declarado
perante a autoridade policial.

8. Da mesma foram, não há elementos que confirme a


alegação de que Sandra de Jesus efetivamente realizasse alguma
atividade parlamentar; ao contrário, as testemunhas inquiridas
foram uníssonas no sentido de que as atribuições de Sandra de
Jesus continuavam a ser as mesmas do período anterior à sua
'formal' demissão da empresa, sendo que trabalhava em
dependências distintas daquelas onde se localizava o escritório
político do denunciado, ainda que no mesmo endereço.

Há elementos indiciários que dão conta de que o


denunciado, ao indicar e manter a indicação de Sandra de Jesus
como secretária parlamentar vinculada ao seu gabinete na
Câmara dos Deputados, desviou valores pecuniários dos cofres
públicos em proveito alheio (...)’ (Inquérito nº1926)

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‘(...) 2. A denúncia somente pode ser rejeitada quando a


imputação se referir a fato atípico, certo e delimitado, apreciável
desde logo, sem necessidade de produção de qualquer meio de
prova, eis que o juízo acerca da correspondência do fato à norma
jurídica é de cognição imediata, incidente, partindo-se do
pressuposto de sua veracidade, tal como se dá na peça
acusatória. 3. A imputação feita ao denunciado na denúncia, foi
de, na condição de deputado estadual, ter desviado valores do
erário público, mediante a indicação e a admissão de pessoas em
cargos comissionados em seu gabinete – no período de setembro
de 1999 a janeiro de 2003 -, as quais, na realidade, prestavam-
lhe serviços particulares diversos. (...)’ (Inquérito nº 2652)

24. Assim, não há flagrante atipicidade dos fatos


investigados. Pelo contrário, os elementos de prova já colhidos
confirmam a versão apresentada por Christiano Furlan, de que
apesar de formalmente figurar como assessor técnico de Pedro
Henry, atuava apenas como seu piloto particular, sem nunca
sequer ter vindo a Brasília (fls. 18).

25. Encerrar as investigações sob o fundamento de


atipicidade dos fatos afigura-se temerário, sobretudo quando o
titular da ação penal, a quem incumbe a formação da opinio
delicti, sustenta convicção notadamente contrária e em
consonância com as provas dos autos.

26. Diante do exposto, requer o Procurador-Geral da


República que seja reconsiderada a decisão que determinou o
arquivamento do presente Inquérito. Caso Vossa Excelência
assim não entenda, requer que seja a presente manifestação
recebida como agravo regimental e levado ao Plenário do
Supremo Tribunal Federal, com a necessária urgência, para que
a decisão ora atacada seja reformada, determinando-se o
prosseguimento do feito e consequente realização das
diligências requeridas às fls. 366/369” (fls. 411 a 422).

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O recurso, a meu sentir, não comporta acolhida.


Como já me manifestei pela decisão de fls. 396 a 408, a pretensão do
Parquet federal não encontra respaldo nos elementos indiciários
constantes dos autos, tudo apontando para a conclusão de que o fato
narrado evidentemente não constitui crime, devendo ser coarctada, de
plano, pelo Relator, conforme autorizado pelo art. 21, XV, c, do RISTF, a
pretensão de prosseguimento das investigações.
Como é curial, o fato de ser o Ministério Público o titular da
persecução penal não impede o controle jurisdicional da instauração de
procedimento formal de investigação por atipicidade do fato objeto do
inquérito.
São inúmeros os casos em que o Supremo Tribunal Federal não
apenas reconhece a possibilidade de trancamento de inquérito por
atipicidade do fato, mas também o determina, até mesmo, de ofício (v.g.,
HC nº 83.166/MG, Segunda Turma, da relatoria do Ministro Nelson
Jobim, DJ 12/3/04; HC nº 71.466/DF, Primeira Turma, da relatoria do
Ministro Celso de Mello, DJ de 19/12/94; HC nº 83.233/RJ, Segunda
Turma, da relatoria do Ministro Nelson Jobim, DJ de 19/3/04; RE nº
467.923/DF, Primeira Turma, da relatoria do Ministro Cezar Peluso, DJ de
4/8/06; e RE nº 459.024/PR, decisão monocrática, Relator o Ministro
Sepúlveda Pertence, DJ de 15/2/07).
No caso em análise, verifica-se que o investigado, deputado federal,
na qualidade de líder do Partido Progressista (PP), nomeou a pessoa de
Christiano Furlan para o exercício, no gabinete parlamentar da liderança
partidária, de CNE-14 (cargo de natureza especial – assessor técnico
adjunto D), a quem, dentre suas funções, atribuiu a tarefa de piloto de sua
aeronave.
Conforme informação prestada pela Câmara dos Deputados, “no
gabinete parlamentar existe Cargo em Comissão de ‘Secretário Parlamentar’ (SP)
que, dentre outras diversas atribuições, também possui a de condutor de veículos
do parlamentar (art. 8º do Ato da Mesa n. 72, de 1997 – cópia fls. 40 a 42); no
gabinete de líder de partido existe Cargo em Comissão de ‘Cargo de Natureza

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Especial’ (CNE) que, no período de 01/06/2004 a 21/05/2005, poderia ser


exercido fora das dependências desta Casa Legislativa. As atribuições do CNE
são elencadas no Ato da Mesa n. 45, de 1966 – cópia fls. 45 a 49 – a saber: I –
prestar assessoramento técnico no desempenho nas atividades relativas à sua área
específica; II – redigir minutas de pronunciamentos parlamentares destinadas à
participação do Deputado em sessões e eventos especiais; III – elaborar pareceres,
estudos, pesquisas e relatórios relacionados com as atividades do órgão; IV –
acompanhar a tramitação de proposições de interesse do órgão; V – desempenhar
outras tarefas correlatas de assessoramento que lhe sejam cometidas.” (fls.
381/381-A).
O investigado, na condição de líder partidário, no período entre
1º/6/04 e 21/1/05 – fls. 17 a 19 (ou seja, naquele em que era legalmente
autorizado o exercício das funções em cargo de natureza especial fora das
dependências da Casa Legislativa), determinou ao seu assessor que
atuasse como piloto de sua aeronave, atribuição essa, que, da minha
óptica, a rigor, poderia ser enquadrada nos incisos IV e V do Ato da Mesa
nº 45.
A prestação dos serviços poderiam (como foram) se dar
externamente às dependências da Câmara dos Deputados, para
acompanhamento de proposições de interesse do Partido Progressista,
nada impedindo o deslocamento do parlamentar e de seu assessor em
veículo do primeiro deles.
Note-se, ainda, que, dentre as funções de secretário parlamentar, está
igualmente prevista a condução de veículos do parlamentar (art. 8º do
Ato da Mesa nº 72), o que, afinal, também subsume aeronaves ou aviões -
a despeito de a maioria não os possuir.
Trata-se, indubitavelmente, de veículo automotor, tanto assim que
igualmente sujeito, tal como os automóveis e demais veículos terrestres, à
incidência do IPVA (imposto sobre a propriedade de veículo automotor).
Não se vislumbra, nos autos, ação praticada pelo investigado
tendente a desvio de recursos públicos para contratação, às expensas do
erário, de funcionário privado do parlamentar, tal como se deu na
hipótese versada no Inq. nº 1.926/DF, da relatoria da Ministra Ellen

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Gracie (DJe de 21/11/08) ou no Inq. 2.652/PR, de minha relatoria (DJe de


11/10/11).
Repita-se, não se cuida aqui, de hipótese de utilização do servidor
público para realização de serviços privados ao parlamentar, mas sua
utilização para realização de serviços diversos daqueles próprios da
função (porém, como já dito, ao meu ver, a ela subsumíveis), porém em
atividade típica e ligada ao exercício do mandato parlamentar,
empreendendo (e pilotando o veículo destinado ao transporte) viagens
para atividades de interesse do deputado federal ou da agremiação
partidária por ele então liderada, situação totalmente diversa daquelas
narradas nas hipóteses antes indicadas, onde o objeto material da
conduta foram os valores pecuniários desviados pelos denunciados
(dinheiro correspondente à remuneração de pessoa como assessora
parlamentar).
Por outro lado, também não cabe identificar a utilização do trabalho
de servidor público em serviço particular com o denominado ‘peculato de
uso’.
Aliás, o tema da tipicidade do peculato-uso é novo nesta Corte, mas
amplamente discutido no âmbito da literatura jurídica, sustentando
vários autores que a conduta não configura crime, mas, no máximo,
infração administrativa ou ato de improbidade.
Como anota Luiz Régis Prado, “o peculato de uso não é delito, salvo se o
agente é prefeito municipal (Dec.-lei 201/1967, art. 1.º, II)”. (Comentários ao
Código Penal. 4. ed. (rev., atual. e ampl.).São Paulo: RT, 2007. p. 882).
Na mesma linha de raciocínio, Rogério Greco ensina:

“Tal como ocorre com os delitos de apropriação indébita e


furto, não se pune o chamado peculato de uso, podendo, no
entanto, ser o agente responsabilizado por um ilícito de
natureza administrativa, que poderá trazer como consequência
uma sanção da mesma natureza.
Poderá, no entanto, se configurar em ato de improbidade
administrativa, a exemplo do que ocorre com o inciso IV do art.
9º da Lei nº 8.429, de 2 de julho de 1992, a utilização, em obra ou

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serviço particular, de veículos, máquinas, equipamentos ou


material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição
de qualquer das entidades mencionadas pelo art. 1º da aludida
lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados
ou terceiros contratados por essas entidades.
O uso de bens, rendas ou serviços públicos configura-se,
no entanto, em crime de responsabilidade, quando o sujeito
ativo for prefeito, nos termos do inciso II do art. 1º do Decreto-
Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967.” (Curso de Direito Penal:
parte especial. 5. ed. Niterói: Impetus, 2009. v. IV, p. 373-374).

Não é outro o entendimento de Guilherme de Souza Nucci, in


verbis:

“9. Peculato de uso: assim como o furto, não se configura


crime quando o funcionário público utiliza um bem qualquer
infungível, em seu benefício ou de outrem, mas com a nítida
intenção de devolver, isto é, sem que exista a vontade de se
apossar do que não lhe pertence, mas está sob sua guarda. A
vontade de apropriar demonstra que a intenção precisa estar
voltada à conquista definitiva do bem móvel. Portanto, inexiste
crime quando o agente utiliza um veículo que lhe foi confiado
para o serviço público em seu próprio benefício isto é, para
assuntos particulares. Configura-se, nesta hipótese, mero ilícito
administrativo. Não se pode, ainda, falar em peculato de uso
quando versar sobre dinheiro, ou seja, coisa fungível. Se o
funcionário usar dinheiro que tem sob sua guarda para seu
próprio benefício, pratica o delito de peculato. Ressalte-se, no
entanto, que atualmente está em vigor a Lei 8.429/92 (que
dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos
casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo,
emprego ou função na administração pública direta, indireta ou
fundacional e dá outras providências), prevendo, nos arts. 9º, 10
e 11, vários atos de improbidade administrativa, que importam
em perda do cargo, restituição dos valores, multa, proibição de
recebimento de incentivos fiscais ou creditícios e suspensão dos

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direitos políticos, sem prejuízo das sanções penais cabíveis. No


exemplo supramencionado, constitui ato de improbidade
administrativa ‘utilizar, em obra ou serviço, particular, veículos,
máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de
propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de
servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por
essas entidades’. Portanto, ainda que não punível penalmente,
constitui ilícito administrativo dos mais graves. Sobre o tema,
convém mencionar a lição de Antonio Pagliaro e Paulo José da
Costa Júnior: ‘Nesta hipótese, para que se possa falar de
apropriação indébita ou de desvio, é necessário que o uso, por
sua natureza e por sua duração, seja tal que comprometa a
utilidade da coisa para a administração pública ou para outro
sujeito ao qual pertença. Naturalmente, para que se aperfeiçoe o
crime, é preciso que haja um compromisso sério na utilização
da coisa. Por isso, não haverá ilícito penal, mas somente um ato
moralmente reprovável e suscetível de sanções disciplinares, se
um funcionário público, por ocasião de uma festa, enfeitar sua
casa com quadros da repartição, ou, então, usar vez ou outra
máquinas de escrever, automóveis, que pertençam a terceiros e
estejam em sua posse em razão do cargo. Se se verificar
consumo de gasolina ou de outro material, poder-se-á
configurar o peculato em relação a tais materiais’ (Dos crimes
contra a administração pública, p. 46)” (Código Penal
Comentado. 10. ed. São Paulo: RT, 2010. p. 1097-1098).

A esse respeito, também destaco trecho de decisão monocrática do


eminente Ministro Luiz Fux no HC nº 108.433/MG-MC (DJe de 16/8/11):

“(...) a intervenção penal do Estado não pode ser


determinada exclusivamente em função da imoralidade da
conduta ou do estilo de vida do paciente, mas do
enquadramento, ou não, do fato imputado ao tipo penal. Nesse
sentido, Paulo Queiroz, discorrendo sobre a relação entre
direito penal e moral, consigna, in verbis:

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‘Muito próximas, e não raro confundidas, são as


relações entre direito penal e moral. Há mesmo quem
afirme, inclusive, como Maggiore, que o direito não é
senão um momento da vida moral ou ética. Entretanto,
sob a égide de um Estado (e de uma sociedade) secular,
como é o Estado Democrático, moral e direito não podem
ser confundidos, pois enquanto a primeira visa ao
aperfeiçoamento ético do homem, o segundo quer
exclusivamente possibilitar a convivência social,
independentemente de lograr, com fazer prevalecer suas
prescrições, adesões morais por parte de seus
destinatários. Porque, como salienta Rodrigues Mourullo,
o direito se ocupa dos comportamentos na medida em que
transcendam à ordem social exterior, e não pelo que estes
representam em si mesmos do ponto de vista moral, uma
vez que sua função é bem menos ambiciosa: pretende
unicamente evitar as conseqüências perturbadoras da paz
que tais condutas produzem na ordem social exterior.
Nem poderia ser diferente, visto que o respeito à
moral supõe espontaneidade, ao passo que o direito não
pode existir senão por meio da coercibilidade, isto é, por
meio da possibilidade de apelo à força, para impor suas
determinações .
[…]
Realmente, há um âmbito da vida pessoal intocável
pelo poder do Estado e a resguardo do controle público e
da vigilância policial: não só as interações e os projetos,
senão também, com maior razão, os erros de pensamento
e de opinião.
[…]
Pode-se concluir, enfim, com Ferraioli, afirmando
que a imoralidade é uma condição necessária, mas jamais
por si suficiente para justificar, politicamente, a
intervenção coercitiva do Estado na vida dos cidadãos.
(Direito Penal: parte geral. 2. ed. rev. aum. São Paulo:
Saraiva, 2005, pp. 13-15 - sublinhei)’.”

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Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 27 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

Ademais, eventual irregularidade decorrente do desvio de função


que possa ser imputada ao investigado, por haver cometido a ocupante
de “Cargo de Natureza Especial” - CNE-14 - as funções típicas de cargo
de “Secretário Parlamentar” - SP -, ainda abre ao Parquet, se entender
que é o caso, a possibilidade de buscar a responsabilização do investigado
nos âmbitos administrativo e civil, conforme preconizado na Lei nº
8.429/92, mais adequados para o caso sub examine. Na esfera penal,
contudo, a incidência no ilícito do art. 312 do CP não está minimamente
configurada, razão pela qual entendi não ser o caso de prosseguimento da
persecução penal.
Nessa conformidade, nos moldes da norma regimental antes
invocada, ordenei o arquivamento do inquérito, em decisão, a meu sentir,
com conteúdo nitidamente mandamental, equivalente à concessão de
ordem de habeas corpus ex officio.
Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso.

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Debate

Inteiro Teor do Acórdão - Página 28 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

DEBATE

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Inclusive


dirigindo aeronave do parlamentar?
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):
Direção de veículo. Veículo é gênero.
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Ministro...
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):
Eu posso encerrar o meu voto Sr. Presidente?
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - O crime de
peculato não foi criado ou instituído em 2006. Aqui se cuida de crime de
peculato.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):
Ministro, deixe eu concluir o meu voto, pois o estou, inclusive,
resumindo.
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Não tem nada a
ver com regimento da Câmara, com as resoluções da Câmara dos
Deputados.
O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Sim,
mas ouvir a conclusão de voto de Sua Excelência.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):
Estou resumindo. Para Vossas Excelências terem uma ideia, eu já
estou à folha 11 do voto. Eu vou ao que concerne. O que concerne é isto:
era autorizado, ou não, ele exercer a função de condutor de veículo?
Avião é um veículo, ainda mais no Estado do Mato Grosso - o Ministro
Gilmar Mendes bem conhece aquele Estado, pois é o Estado de seu
nascimento. As distâncias lá são enormes e não existem muitas estradas.
É necessário aeronave. E aeronave é veículo. Eu coloquei isso no meu
despacho e agora no voto. Aeronave paga IPVA, o Imposto de
Propriedade de Veículos Automotores. Quem é proprietário de avião
paga imposto sobre propriedade de veículo.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, pela


ordem, com a licença da Ministra Rosa Weber.
Quer dizer, nós temos aí o Ministério Público; ele ataca duas
questões: uma questão formal e a questão material. Quer dizer, a questão
formal é no sentido da prevalência da lei federal sobre uma norma
regimental, e, no mérito, a valoração jurídica desse fato, sobre se ele se
encaixa num mero desvio moral, e daí a citação do meu voto que não tem
nenhuma vinculação com o fato parecido com esse. É uma especulação
sobre direito moral num outro ambiente.
E verifico o seguinte, Senhor Presidente, examinando uma tese,
procurei destacar esse trecho porque me pareceu bastante importante
para essa análise do confronto da norma regimental com a norma
processual. Nesse artigo do professor Bruno Bodart, "Inquérito Policial –
Democracia e Constituição", da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, que é um manancial de meninos e meninas de bons fluidos
intelectuais, Ministro Ayres Britto, é um bom ambiente, segundo esse
autor: O processo penal justo, ou seja, o due process of law, processual
penal, instrumento garantístico que é, deve promover a separação entre
as funções de acusar, defender e julgar, como forma de respeito à
condição humana do sujeito passivo, e este mandado de otimização é não
só fator que dá unidade aos princípios hierarquicamente inferiores do
microssistema - contraditório, isonomia, imparcialidade, inércia -, como
também informa e vincula a interpretação das regras infraconstitucionais.
Sendo assim, mesmo nos inquéritos policiais relativos às autoridades com
foro por prerrogativa de função, o Ministério Público deve assumir a
função de conduzir o procedimento preliminar de modo a formar
adequadamente a sua opinio delicti, atuando o Judiciário apenas quando
provocado e limitando-se a função, do juiz, de garantias.
Então, trago aqui esse trecho, que é bastante atual, em que ele,

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 30 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

eventualmente - para usar uma expressão do Ministro Marco Aurélio -,


"glosa" essa possibilidade de o magistrado, em qualquer grau de
jurisdição, promover o arquivamento sem a aferição dessa legitimidade
pelo Ministério Público. É o dominus litis, tanto que, quando opina pelo
arquivamento, o juiz não pode se substituir ao representante do parquet.
Agora, além disso, Senhor Presidente, o que me chamou a atenção é
que aqui essa investigação se volta contra a nomeação de um funcionário
fantasma, consistente assim num desvio em proveito próprio do valor
que o parlamentar tenha posse em razão do cargo, sendo típico o
exemplo de peculato-desvio, como anotei aqui na forma do artigo 312 -
até há uma chancela do professor Anibal Bruno, Damásio de Jesus, etc. -,
em um juízo de possibilidade suficiente para o desenvolvimento do
inquérito, procedimento administrativo destinado a formar o juízo de
probabilidade que autorizará o não recebimento da denúncia. Eu
destaquei aqui, com a devida vênia, e entendo que há elementos
suficientes a indicar que pode ter ocorrido uma infração penal no caso
sub judice. Parece-me claro, dos documentos acostados aos autos, que as
funções do cargo de Assessor Técnico - CNE - dizem respeito ao
acompanhamento de tramitação de atuações parlamentares,
especificamente, proposições parlamentares, elaboração de pareceres,
estudos, pesquisa e relatórios, entre outras funções, que não guardam a
menor pertinência com a atividade piloto de aeronave particular.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Ministro Luiz Fux, por isso que me atentei para a época, e o ofício foi
endereçado em relação àquela época.
O parlamentar não nega que aquele assessor foi lotado lá, mas aduz
que as regras internas permitiam-lhe trabalhar externamente para pilotar
veículo. No Estado dele, em razão das distâncias, esse veículo era um
avião. Portanto, ele era um piloto de avião que atendia ao deputado nas
funções como parlamentar e como líder do seu partido. Pois bem, ele não
nega, diz que era um assessor com estas funções.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 31 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Eu só estou fazendo um


contraponto com o voto de Vossa Excelência para …

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Exato, mas é que Vossa Excelência usou o termo “funcionário
fantasma”. Com a devida vênia, em nenhum momento se falou aqui em
funcionário fantasma. Ele prestava um serviço. Obviamente que o juízo
de cada qual vai dizer se esse serviço estava ou não enquadrado dentro
da legislação, mas ele prestava um serviço que não é negado. Tanto é que
o próprio servidor entrou com uma reclamação trabalhista, porque ele
alegou o seguinte: como ele era piloto, ele tinha que receber como tal.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Vossa Excelência me


permite?

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Aí é uma outra situação, e foi julgada improcedente na Justiça do
Trabalho.

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Mas ele disse que nunca


compareceu ao trabalho em Brasília.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Se o Ministro


Toffoli...

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Só para concluir.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Claro, por favor, só


pedi um aparte.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Então essa reclamação foi julgada improcedente e a Justiça do

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 32 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

Trabalho determinou a remessa ao Ministério Público.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Foi


julgado carecedor, porque o Deputado não seria a parte passiva legítima.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Sim. Vossa Excelência,


Ministro Peluso, sabe que eu comecei a minha vida como promotor de
justiça em Trajano de Morais, um lugar que poucas pessoas conhecem.
Exatamente um dos primeiros casos foi interessante, Ministro Marco
Aurélio, porque se tratava, na época, de falência em que o débito era
bastante expressivo e o credor trabalhista sempre teve uma preferência no
recebimento do crédito, havia aquela disputa entre crédito tributário e
crédito trabalhista. Eu me lembro, como se fosse hoje, foi uma das
primeiras intervenções minhas como membro do Ministério Público
estadual na comarca, exatamente na descaracterização de um processo
simulado em que foi exatamente reconhecido um vínculo empregatício
que gerava uma indenização de monta para poder receber, em primeiro
lugar, e depois descobriu-se que houve ali uma partilha daquela fraude
perpetrada com o auxílio da justiça. Então eu não me seduzo muito com
essa ideia de que foi proposta uma ação trabalhista, parece até que foi à
revelia, houve o reconhecimento. Foi revel o réu, ao que tudo indica.
Então, apenas fiz essa intervenção para fazer este contraponto,
entendendo que o trancamento do inquérito policial, pelo menos aqui no
Supremo Tribunal Federal, tem servido a situações excepcionalíssimas as
quais não seja possível, em tese, vislumbrar ou conhecer do delito. E aqui
nós já estamos julgando uma perplexidade: um piloto de avião particular.
Esse cargo certamente não é na Câmara. Seria, assim, um desvio
completo.

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Parece um voo alto


demais. Um cargo de piloto...

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Aí eu cito essa jurisprudência

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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INQ 2.913 AGR / MT

limitativa, corretamente limitativa, do Supremo Tribunal Federal, no


sentido de ser excepcional o trancamento do inquérito. Cito o Ministro
Ayres Britto, a Ministra Cármen Lúcia, o Ministro Joaquim Barbosa, cito
todos aqui, os membros que estão presentes. Então, só para fazer um
contraponto, Senhor Presidente, eu estou entendendo que esse inquérito
tem que prosseguir para a formação do período delicti pelo Ministério
Público.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Eu


gostaria de pontuar ao Tribunal exatamente este aspecto: nós temos, aqui,
de permitir que prossiga o inquérito. Por quê? Porque, se não, vamos,
desde logo, assentar que sempre que um assessor parlamentar for
formalmente designado como tal, mas preste serviço noutro local, nunca
aparecendo no Congresso, seja como empregado doméstico ou como
qualquer outra coisa, não será possível reconhecer nunca o peculato -
desvio de assessores fantasmas! Teoricamente, pode o fato ser atípico,
mas também pode ser fato típico, dependendo da prova. Agora, o que
não se pode, e é isto que repugna ao agravante, que pede apenas “o
prosseguimento do feito com a consequente realização das diligências.” Ele não
está dizendo nem que há crime ainda não; ele quer apenas que prossiga a
diligência para examinar se o caso era de assessor verdadeiro ou de
assessor fantasma.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


A questão é a seguinte: ele pilotava o avião do parlamentar...

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Sim,


mas nós já reconhecemos que empregado doméstico que prestava serviço
a deputado não era assessor parlamentar, embora assim nomeado.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


O ato da mesa permitia trabalho externo àquela época? Permitia,
expressamente, a condução de veículo, não fala automóvel, fala de

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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INQ 2.913 AGR / MT

veículo automotor, avião é veículo automotor? Por isso eu entendo que o


fato é atípico.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Ministro Toffoli,


Vossa Excelência participou de um julgamento.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR): (Cancelado)

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - De um


recebimento de denúncia, da qual eu fui Relator, de um deputado, se não
me engano, do Amazonas, que utilizava assessores da Câmara dos
Deputados como mordomo, como motorista, na sua residência lá. Vossa
Excelência me acompanhou nesse voto.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - É o


Inquérito nº 1.926.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Obrigado, Senhor


Presidente. Qual é a diferença entre a situação desse Inquérito nº 1.926 e
esta em que o parlamentar usava o funcionário como piloto de avião.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Eu mantenho o meu voto, no caso específico, e não vejo contradição
com nenhum outro precedente de que eu participei.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Há muita


contradição.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Eu gostaria de


lembrar que o Ministério Público narra que, na Reclamação Trabalhista
movida contra o deputado, o próprio nomeado, Cristiano Furlan afirmou:
"Foi admitido em 1º de junho de 2004 para exercer a função de piloto particular
do reclamado, mas, chegando a Cárceres, para assumir o seu posto, foi

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INQ 2.913 AGR / MT

surpreendido com a conversa de que só seria contratado se assinasse papéis


referentes a sua nomeação para um cargo de confiança, ou seja, assessor
parlamentar da liderança do Partido-PP, e, como o reclamante já havia deixado o
seu emprego, se viu obrigado a assinar a dita papelada para garantir o emprego".
E, aí, prossegue: esta passagem mostra, é expresso, "para exercer a função
de piloto particular". O particular se contrasta com o público, porque pode,
sim, haver o cargo público de piloto, mas ele diz que foi contratado e que
seria contratado como piloto particular, então esse prosseguimento das
investigações é que, talvez, leve ao esclarecimento dessa situação.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, também há


um detalhe...

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Até


que ao final se revele que o fato é atípico mesmo.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Que é atípico.

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Senhor Presidente, há um


detalhe interdisciplinar que talvez seja importante, porque nós não temos
esse conhecimento enciclopédico todo, mas, por exemplo, o Código de
Trânsito conceitua como veículo automotor todo veículo a motor de
propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o
transporte viário de pessoas e coisas, ou para tração viária de veículos utilizados
para o transporte de pessoas ou coisas. O termo compreende os veículos
conectados a uma linha elétrica e não circulam sobre trilhos, ônibus
elétricos. Não tem avião aí dentro.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Na Amazônia, em


geral, não se usam automóveis, usam-se barcos.

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - O cargo é de natureza


especial. O cargo parlamentar em jogo é de natureza especial,

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INQ 2.913 AGR / MT

corresponde ao nosso CJ. E o fato é que não há cargo de piloto nos


gabinetes dos deputados e senadores. Piloto de avião, por isso que eu
digo, é um voo alto demais.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - O que é uma


verdade, me parece, e acho que até tem disciplina normativa, tanto em
relação à Câmara como em relação ao Senado, é que há uma estrutura
funcional que atende aos parlamentares, especialmente aos líderes, nos
Estados, na sua base eleitoral. E alguns servidores, eu mesmo quando era
estudante da UnB, conhecia servidores que atuavam em outros Estados.
Essa é uma realidade. Não sei qual é a disciplina normativa. Eu imagino,
por exemplo, que, se nós não estivéssemos falando de avião, mas
estivéssemos falando de carro, muito provavelmente poderíamos estar
falando de um motorista que serve ao parlamentar no Estado. Esse é um
dado da realidade. E eu não sei qual é a disciplina vigente hoje sobre o
assunto.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Mas na época era permitido. Hoje não é, parece que hoje não é mais
permitido, mas, à época, era.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Mas esse é um dado.


Eu me lembro que havia até um tipo, salvo engano, no Senado, de chefe
de gabinete do escritório do parlamentar no Estado. E nós sabemos que
os parlamentares passam uma boa parte do tempo nos seus Estados de
origem, percorrendo bases eleitorais e tudo o mais, e têm uma estrutura
mínima de secretaria ou alguma coisa do tipo para atender a esse tipo de
demanda.
Entendo, portanto, que a manifestação do Ministro Toffoli se insere
nesse contexto, não em outro, porque aqui, veja, pode parecer caricato:
estamos a falar de avião. Podíamos estar falando de carro e do motorista,
se fosse o caso. Essa é que é a pergunta: pode haver essa utilização, ou
poderia haver essa utilização de acordo com a norma existente, ou isso

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seria um peculato-desvio? Se estivéssemos falando provavelmente de


Manaus, estaríamos falando não talvez de avião, ou podíamos estar
falando também de avião, mas estaríamos falando de barco. Eu me
lembro que às vezes esse desconhecimento do Brasil leva a essas
perplexidades. Certa feita, no Eleitoral, Ministro Britto, o Ministro
Peçanha Martins estranhava que houvesse autorização para a compra de
barcos, mas se tratava da Amazônia. Portanto, é essa a questão que se
coloca: para fins penais? É essa a temática que está posta.

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Agora, o caso aqui,


lembrou bem a Ministra Cármen Lúcia, e eu também li na peça, no
recurso do Ministério Público, no agravo: é que o suposto funcionário
disse que nunca foi nomeado, nunca foi senão piloto particular do
deputado, e nunca esteve em Brasília.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Ele levou um


susto quando soube que teria que assinar documentos da Câmara dos
Deputados.

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Então, acho que é


motivo suficiente, como disse o Ministro Peluso, para prosseguir no
inquérito, investigando.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR): (Cancelado)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) – Até


porque o Ato nº 45, que é o ato invocado para justificar, na sua
generalidade, a admissibilidade de exercício dessa função fora do
Congresso, tem, num de seus anexos, no final, a figura do ajudante B, cuja
função é: “dirigir veículos, cuidando do zelo e asseio do veículo sob sua
responsabilidade.” Aqui não foi designado para ser ajudante B, não.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Dirigir veículos

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em Brasília, e não dirigir avião no Mato Grosso.


Senhor Presidente, eu gostaria de trazer uma outra questão, que é, a
meu ver, mais grave ainda: é o fato de o Ministro Relator ter arquivado
esse inquérito monocraticamente. Olha o que diz a Lei nº 8.038.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Há previsão regimental. Foi alterado o regimento do STF
recentemente.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Mas previsão


regimental não se sobrepõe à lei. Nós nos submetemos a uma lei, há uma
lei, Ministro, que rege o processo aqui perante essa Corte. Essa lei diz:
A seguir, o Relator pedirá dia para que o Tribunal delibere sobre o
recebimento ou não da denúncia. E não os Ministros.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Isso não é denúncia


ainda.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - É inquérito, que


pode …

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Houve alteração regimental. Não há denúncia ainda! Aqui ninguém
está analisando denúncia.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Não, eu acho,


Ministro, nós não temos esse poder. A lei não nos dá esse poder, Ministro,
de arquivar liminarmente inquérito sem pedido do Ministério Público.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Então tem que se mudar novamente o Regimento.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Ministro Joaquim

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INQ 2.913 AGR / MT

Barbosa, temos arquivado monocraticamente...

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Eu jamais


arquivei e jamais arquivarei.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Mas a partir de


requerimento do titular da ação penal, e aqui não houve.

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Quando o parecer é


pelo...

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - A requerimento;


aqui não há requerimento.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - É o dominus litis.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Há precedentes inclusive de concessão de habeas corpus de ofício.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Ao contrário, quer a


sequência da investigação.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Não, isso é


absurdo!

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Até


porque havia coisa julgada material!

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Pois é. Veja bem:


o inquérito tramita regularmente; o Relator decide, a determinado
momento, arquivá-lo.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - O Regimento foi

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Voto - MIN. LUIZ FUX

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INQ 2.913 AGR / MT

alterado.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


O Regimento permite, o Ministério Público agrava. É muito simples.
O Regimento foi alterado, dando esse poder ao Relator. E o Ministério
Público agrava, como agravou. É simples, não há usurpação do colegiado.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Mas é preciso


refletir, Ministro. Isso é uma subversão absoluta de tudo o que existe no
Brasil em matéria de Processo Penal. O relator, a seu talante, arquivar um
inquérito. É o absurdo dos absurdos.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


É simples, a leitura do dispositivo que Vossa Excelência fez diz
respeito à denúncia e aqui disso não se trata!

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Quando há parecer


pelo arquivamento do inquérito, por parte do Ministério Público, eu cedo.
Mas, neste caso, foi o contrário.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

VOTO

A Senhora Ministra Rosa Weber: Senhor Presidente, peço


vênia ao eminente Relator.
Acho extremamente ponderáveis as colocações de Sua
Excelência, mas eu não consigo vislumbrar a manifesta atipicidade desses
fatos descritos. E, verificando as peças, deparei-me com o requerimento
do Ministério Público - aliás, Vossa Excelência também destacou - no
sentido da realização das diligências, que diziam respeito, inclusive, à
oitiva de testemunhas quanto a esse aspecto, porque é verdade o que diz
o Ministro Dias Toffoli: ele poderia, no intuito, quem sabe, de obter
alguma verba integrante da eficácia de um contrato de trabalho, ter
ajuizado a ação trabalhista. Mas, eventualmente, poderia não se tratar de
um contrato de trabalho.
Então, parece-me que o pleito e o recurso do Ministério
Público objetiva justamente isso, que se façam as investigações, as
averiguações, que se ouçam as testemunhas e que se defina a natureza
das funções exercidas.
Assim, sem emitir nenhum juízo de valor com relação à
atipicidade ou à tipicidade dos fatos, voto no sentido do prosseguimento
do inquérito, renovando o meu pedido de vênia ao eminente Relator.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 42 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhor Presidente,


também peço vênia ao Ministro Relator, mas dou provimento ao agravo
para continuar com o inquérito.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 43 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhor


Presidente, peço vênia à divergência. Neste caso concreto, vou
acompanhar o eminente Relator. Primeiro, entendo que a previsão
regimental é ampla e concede ampla discricionariedade ao Relator para
arquivar os casos que ele entenda manifestamente atípicos. Portanto, não
vejo, com a devida vênia dos que divergem nesse aspecto, nenhuma
ofensa, nenhuma contradição entre o dispositivo regimental e a legislação
processual aplicável à espécie.

No caso, o que ocorre? O Senhor Cristiano Furlan foi contratado no


período de 1º/6/2004 a 21/1/2005, quando não havia nenhuma disposição
legal ou regimental que impedisse o exercício do cargo de natureza
especial fora das dependências da Câmara dos Deputados. Esse cidadão
foi contratado em cargo de comissão, portanto, de livre nomeação e
exoneração. E o que me parece mais importante, no caso concreto, é que a
frequência era - segundo consta de ofício encaminhado pelo Presidente
da Câmara dos Deputados, com base em dados do Departamento de
Pessoal da Câmara dos Deputados - comunicada mensalmente ao
Departamento Pessoal, conforme previa Ato da Mesa 11/1995.

Portanto, neste caso concreto, sem prejuízo, enfim, de atuar de forma


diversa em outros casos, estou acompanhando o Relator.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. JOAQUIM BARBOSA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 44 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

VOTO

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Senhor


Presidente, não terminei a minha argumentação, que é de duas ordens.
Em primeiro lugar, insisto nesta ilegalidade: a disposição
introduzida recentemente no Regimento, que dá poderes ao Relator, ao
Ministro do Supremo Tribunal Federal, de arquivar, a seu talante,
deliberadamente, arbitrariamente, às vezes. É nisso que dá conceder esse
poder individual em um órgão essencialmente colegiado; dá nisso, não é?
Abuso.
Então, eu entendo que essa disposição regimental viola frontalmente
o artigo 6º da Lei nº 8.038, que manda que as deliberações sobre inquérito
sejam feitas pelo Colegiado, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, e
não por ministros individualmente. Porque, se esse caso tivesse sido
trazido aqui, nós não estaríamos, sequer, discutindo. Os indícios são
claros.
Eu passo para a questão substancial. Eu já disse aqui, Ministro
Toffoli, que não faz muito tempo, este Plenário recebeu, por unanimidade
- se não estou enganado -, denúncia contra parlamentar que utilizava
funcionários do seu gabinete como serviçais da sua casa - mordomos,
motorista. E recebeu, a título de peculato. Esse peculato-desvio, que já foi
mencionado aqui. Eu não vejo diferença alguma entre a situação daquele
caso, ou daqueles casos, porque não é único, e a situação aqui, que é
muito mais grave.
O indivíduo, o servidor, era contratado para pilotar uma aeronave
do parlamentar, exercendo cargo de nível elevado da Câmara dos
Deputados, que era um cargo de natureza especial.
Então, os indícios são claros, claríssimos. Eu não vejo nenhum

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Voto - MIN. JOAQUIM BARBOSA

Inteiro Teor do Acórdão - Página 45 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

fundamento no arquivamento de um inquérito dessa natureza, e, muito


menos, de forma individual, monocrático.
Eu dou provimento, Senhor Presidente.

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Voto - MIN. AYRES BRITTO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 46 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

TRIBUNAL PLENO
AGRAVO REGIMENTAL NO INQUÉRITO 2.913
VOTO

O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Senhor Presidente, eu


também dou provimento. Peço vênia ao Ministro Relator.
Entendo que o caso é de prossecução do inquérito. Mas lembro que
esse cargo de natureza especial, agora posto em causa, em discussão, tem
suas atribuições, suas funções constantes de lei. Aliás, de nota do Ato da
Mesa 45. E vamos ver que todas as funções ou atribuições são de natureza
técnico burocrática. Funções absolutamente incompatíveis com essa de
piloto de avião:
"I prestar assessoramento técnico no desempenho de atividades
relativas à sua área específica;"
Assessoramento! Pilotar avião, me parece que não tem nada a ver
com assessoramento.
"II redigir minutas de pronunciamentos parlamentares destinadas à
participação do Deputado em sessões e eventos especiais;
III elaborar pareceres, estudos, pesquisas e relatórios relacionados
com as atividades do órgão;
IV acompanhar a tramitação de proposições de interesse do órgão;
V desempenhar outras tarefas correlatas de assessoramento que lhe
sejam cometidas."

Ora, me parece que há toda evidência, ou pelo menos há indícios


robustos, consistentes, de cometimento do que a lei chama de peculato, e
a doutrina chama, no caso, de peculato-desvio, porque o objeto material
da conduta, supostamente delituosa, é apropriar-se de dinheiro ou
desviar dinheiro; dinheiro público para pagar indevidamente a um
empregado particular, a um servidor particular. O que me parece inverter
o juízo de evidência. A evidência não é de atipicidade. A evidência é de

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Voto - MIN. AYRES BRITTO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 47 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

tipicidade da conduta imputada ao Deputado.


Por isso, Senhor Presidente, eu também acompanho a divergência no
sentido de dar provimento ao presente agravo.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 48 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

VOTO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Presidente, eu me


manifesto no sentido já externado, tal como posto pelo Relator.
Primeiro, o quadro jurídico posto indica que, na acepção dessa
chamada assessoria técnica, já se identificava também a prestação desse
tipo de serviço. Ninguém ignora que o parlamentar, mais do qualquer
outro servidor, se vale dessa estrutura mínima. É verdade que hoje parte
disto é atendida às vezes até mesmo – é possível que hoje tenha havido
mudança – com essas chamadas verbas de gabinete. Há possibilidade de
que se utilize da contratação de servidores à conta de uma verba global,
sem uma função específica, mas para utilização na atividade político-
parlamentar, que não se restringe, como sabemos, à atividade burocrática
em Brasília – esse é um dado. Tanto é que me lembro de pessoas que eram
contratadas como chefes de escritórios parlamentares nos Estados. E são
pagos obviamente com verbas da Câmara, seja com funções específicas,
seja com essas chamadas verbas parlamentares, que fazem parte daquela
verba global que se confere ao gabinete para o qual tem que haver uma
prestação de contas.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Vossa
Excelência me permite um pequeno aparte?
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Por favor.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - E aqui se
trata de alguém contratado no gabinete da liderança.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Da liderança. Sim.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Supõe-se
que liderança tenha inclusive um trânsito maior por vários Estados, etc.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Sim. Uma estrutura
maior em razão das próprias atividades desempenhas.
Então, parece-me que, se formos discutir nesta perspectiva – se esse
processo prosseguir –, dificilmente vai se poder aqui imputar dolo, vai se

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 49 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

chegar a um tipo de erro de proibição, quer dizer, vai se identificar uma


situação desse tipo. Tanto é que havia autorização específica.
Em relação à possibilidade de arquivamento dos inquéritos, a
legislação hoje é farta no sentido de decisões monocráticas, desde a Lei nº
8.038, inicialmente para indeferir pedidos, recursos. Depois, passou-se a
admitir também para prover recursos – essa já foi uma mudança nos anos
90. Claro, sempre submetido ao controle da colegialidade.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):
Por meio do agravo
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Via eventual agravo.
Claro. Então, é essa a possibilidade. E sabemos também que há um sem-
número de inquéritos – foi por isso que se introduziu essa modificação –,
não são raros os casos, por exemplo, de habeas corpus de ofício. Nós temos
inquéritos que tramitam, nesse vai e vem entre Procuradoria, Polícia
Federal e gabinete dos Ministros, em torno de dez anos sem definição. Se
repararmos, veremos, por exemplo, que se pedem diligências e o processo
volta incólume, sem as tais diligências, e se pede novamente a
prorrogação. Portanto, não há nada de extravagante na disciplina nova do
Regimento, aprovada regularmente pelo Tribunal. Claro, se houver
alguma questão, caberá o devido agravo, tal como fez a Procuradoria.
Isso ocorre, por exemplo, quando pede quebra de sigilo ou deferimento
de uma dada prova. Quem decide é o relator, mas sujeito ao controle do
Plenário pela via do agravo regimental. Então, não me parece aqui que
haja qualquer ilegalidade. Pelo contrário. A norma hoje constante do
artigo 231, § 4º, moderniza esse modelo que é realmente muito antigo,
que leva a essa tramitação muito lenta dos inquéritos. Então, não me
parece que haja qualquer exorbitância na decisão tomada pelo relator,
nesse passo.
É evidente, tal como ficou demonstrado, Presidente, que esse
enquadramento de técnicos que prestam serviços – aqui será motorista, lá
será secretária – é algo normal. Nós usamos motoristas nos Estados. Eu
utilizo apoio de tribunais nos Estados quando viajo. Será que isso é
peculato? Nós temos uma estrutura que nos apoia em São Paulo. Isso é

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 50 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

peculato?
O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Mas quem nos serve,
Ministro, são motoristas nomeados ou contratados como motoristas.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Só para que não
sejamos farisaicos.
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Nós não somos
proprietários de veículos nos Estados, nós não somos proprietários de
aviões. É disso que se cuida.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - São parlamentares
que estão fazendo viagens políticas, exercendo mandato parlamentar. Se
quisermos ser sinceros, vamos ser sinceros. Nós utilizamos. Estamos
cometendo peculato?
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Nós utilizamos
inclusive por questão de segurança. Seria absurdo não fazê-lo.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Então vamos
justificar. Usamos inclusive para fins particulares.
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Eu jamais uso
para fins particulares.
A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Eu não uso. Eu não
uso nem para nenhum efeito.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Tem-se apoio nos
Estados, nós sabemos disso.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Para fins oficiais.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Um conceito
amplíssimo então.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX - Mas para quem conceitua,
Ministro.
O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Vossa
Excelência está?
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Estou
acompanhando o Relator.
O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Se fosse um motorista
da Câmara, tudo bem, estava correto, mas ele não era um motorista da

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 51 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

Câmara.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Sim, mas essa é a
diferença.
O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - Mas ele não era um
motorista da Câmara.
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Um motorista da
Câmara dirigindo um veículo da Câmara dos Deputados, um bem
público.
O SENHOR MINISTRO AYRES BRITTO - O cargo de motorista
existe na Câmara, e esse cargo não era de motorista, era um cargo de
natureza especial como os nossos CJ's aqui.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 52 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Presidente, a regra é o


arquivamento do inquérito, como está na Lei nº 8.038/90 e, também, no
artigo 21 do Regimento Interno, a partir de provocação, de proposta do
titular de uma futura ação penal. Caso vislumbre que, de início, o fato é
atípico, evidentemente, preconizará e acolhemos – e não fazemos em
autodefesa, considerada a avalanche de processos – o que ponderado.
A exceção corre à conta de atuação independente do relator, mas
então, o Regimento Interno contém vocábulos que encerram exceção.
Assim, por exemplo, a alínea "a" do inciso XV do artigo 21 versa o
arquivamento, por ato do relator, independentemente da provocação do
titular da ação penal, "quando manifesta a excludente da ilicitude do
fato."
O advérbio é eloquente.
A alínea "b" prevê: "a existência manifesta de causa excludente da
culpabilidade."
A seguir, tem-se a alínea "c": "que o fato narrado evidentemente não
constitui crime".
Situação concreta: Presidente, não me consta ainda que ato da Mesa
da Câmara possa afastar a glosa penal quanto a integrante da Casa. Não
se sobrepõe à legislação penal. E, de início, há pelo menos indícios –
Vossa Excelência se referiu ao pronunciamento da Justiça do Trabalho
quanto à relação jurídica mantida – que conduzem a se abrir
oportunidade ao Ministério Público para demonstrar a tipologia penal,
no que veio a ser contratada, com recursos públicos, uma pessoa que teria
– não estou a afirmar –, ante a prestação de serviços, caráter privado.
Por isso, peço vênia ao relator para acompanhar a divergência,
provendo o agravo.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CEZAR PELUSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 53 de 55

01/03/2012 PLENÁRIO

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913 MATO GROSSO

VOTO

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Eu


também vou pedir vênia ao eminente Relator e aos votos que o
acompanharam, para ficar com a divergência.
Em primeiro lugar, manifesto a minha, eu não diria convicção, mas,
quando menos, minha reserva quanto a essa interpretação do Regimento
Interno, que afronta textualmente o artigo 3º, inciso I, da Lei nº 8.038, que
regula os processos perante esta Corte, os feitos originários:

"Art. 3º - Compete ao relator:


I - determinar o arquivamento do inquérito ou de peças
informativas, quando o requerer o Ministério Público, ou
submeter o requerimento à decisão competente do Tribunal."

Noutras palavras, a lei não abre ao relator a possibilidade de fazê-lo


ex officio. Mas, ainda que se pudesse dizer que essa norma não é
exaustiva e que haveria possibilidade de o Regimento Interno dar
competência ao relator para fazê-lo nessas cinco hipóteses do inciso XV
do artigo 21, a mim me parece, com o devido respeito, que só poderia ser
admitida a determinação de arquivamento, quando o fato narrado,
evidentemente, não constituísse crime. "Evidentemente" significa ou que
a narração, em si, do fato é irrelevante do ponto de vista penal, ou, então,
que, exauridas todas as diligências, nada se recolheu em termos de
indícios, para suportar um juízo de tipicidade do fato.
O que ocorre aqui? Ocorre situação transitória, provisória, sobre a
qual ainda me parece prematuro dizer que o fato seja atípico, porque, se
não admitirmos a possibilidade de realização das diligências requeridas
pelo Ministério Público, vamos estabelecer a tese de que, quando se trate,
de fato, de caso de peculato-desvio, nós não vamos jamais poder
reconhecê-lo, simplesmente porque não se pode fazer prova a respeito
disso.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. CEZAR PELUSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 54 de 55

INQ 2.913 AGR / MT

Noutras palavras, há aqui uma suspeita baseada em elemento que


justifica a continuidade das diligências, e que é a manifestação do próprio
interessado, de que pode ter ocorrido, ou não, um peculato-desvio. Mas
só vamos poder dizer que o fato é atípico uma vez esgotadas as
diligências requeridas pelo titular da ação penal. Aí, sim, já não haverá
mais nada, pois o Ministério Público terá exaurido todas as provas, todas
as diligências, sem encontrar nada. Aí poderemos dizer que houve mera
aparência de peculato, que, na verdade, não existiu.
No caso não se sabe ainda. Acho, portanto, onde ainda o
"evidentemente" não pode ser invocado, porque não se concluiu o
inquérito, que seria conveniente - parece-me que o é - se deva permitir
que o Ministério Público realize as diligências, findas as quais
estabeleceremos, se for o caso, um juízo definitivo de arquivamento.
Por essas razões, eu também peço vênia ao eminente Relator e aos
votos que o acompanharam, para dar provimento ao recurso para
prosseguimento do inquérito.

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Decisão de Julgamento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 55 de 55

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO INQUÉRITO 2.913


PROCED. : MATO GROSSO
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. LUIZ FUX
AGTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
AGDO.(A/S) : PEDRO HENRY NETO
ADV.(A/S) : JOSÉ ANTONIO DUARTE ÁLVARES

Decisão: O Tribunal, por maioria, deu provimento ao recurso de


agravo regimental, contra os votos dos Senhores Ministros Dias
Toffoli (Relator), Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Votou o
Presidente, Ministro Cezar Peluso. Redigirá o acórdão o Senhor
Ministro Luiz Fux. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro
Celso de Mello. Plenário, 01.03.2012.

Presidência do Senhor Ministro Cezar Peluso. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ayres
Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias
Toffoli, Luiz Fux e Rosa Weber.

Vice-Procuradora-Geral da República, Dra. Deborah Macedo


Duprat de Britto Pereira.

p/ Luiz Tomimatsu
Secretário

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