Você está na página 1de 3

A Doutrina de Zarathustra

"Nenhuma árvore saudável, bem-desenvolvida,


pode rejeitar suas raízes escuras no interior da
terra porque se o fizer perecerá ".
Jung

A doutrina de Zarathustra foi considerada


pelos primeiros cristãos ortodoxos como
sendo uma religião essencialmente dualista,
contudo isto resulta de uma visão
incompleta do zoroastrismo em que não
foram consideradas as diversas fases e
transformações por que ela passou através
dos séculos. Como tem acontecido com
todas as religiões, com o tempo ela passam
por profundas transformações a ponto tal
que, muitas vezes, alguns séculos depois
elas apresentam-se totalmente diferentes
da origem. Isto foi o que aconteceu até
Sul do Tibet, local onde surgiu o Mazdeísmo a 9000 anos mesmo com o Cristianismo, pois que hoje,
atrás nenhum cristão dos primeiros tempos
reconheceria o catolicismo como a religião
básica deixada por Jesus. Com o tempo,
modificações vão sendo introduzidas e
assim sendo ocorre uma quase total
descaracterização da religião inicial.

Também não é somente por conta das traduções sucessivas que as religiões se transfiguram; há
também a interferência de um poder intencional atuando insidiosamente em toda religião que traz em
seu bojo um fundamento de verdades. Isto aconteceu com os ensinamentos de todos os mensageiros
de Deus na terra; as doutrinas por eles deixadas foram sendo modificadas, direcionadas num sentido
inverso e assim sendo quando inicialmente monistas acabaram sendo transformadas em dualistas
tornaram-se dualistas ou mesmo politeístas.

Nesta palestra veremos que a doutrina pregada por Zarathustra não tem nada a ver com o dualismo
que se tornou presente no Zoroastrismo de séculos depois. Os cristãos tomaram por base o
zoroastrismo deformado, dualista, trabalhado pela força negativa e não os ensinos primitivos de
Zarathustra.

Zarathustra considerava-se um profeta, portador de uma nova mensagem de um Deus único que se
revelou a ele como sendo o verdadeiro Deus chamado Ahura Mazda, o "Grande Senhor".

A mensagem original do "Grande Senhor" foi preservada até hoje pela "Tradição" e também pode ser
vista na parte mais antiga do Avesta, os Gathas ou "Cantos" deixados pelo próprio Zarathustra. Nos
Gathas "Zarathustra fala do "Grande Senhor":

"Deus é UM; sagrado; bom; o criador de todas as coisas, tanto materiais como espirituais, através de
seu Espírito Santo; a vida e o que dá a vida. Ele é bom porque é produtivo e faz com que tudo se
desenvolva. Sua "Unicidade", entretanto, é uma unidade na diversidade, uma vez que ele se manifesta
sob vários aspectos; o Espírito Santo, através de quem Deus cria; o bom pensamento, através do qual
inspira o profeta e santifica o homem; a verdade, a retidão, ou ordem cósmica (asha), pela qual mostra
aos homens como se ajustarem ao cosmos pela honradez; a soberania através, através da qual regula
a criação. Totalidade que é a plenitude de seu ser, a moralidade, pela qual derrota a morte...".

O Zoroastrismo a Divindade Suprema Zhura Mazdah não tinha opostos, mas ele mesmo se revelava sob
diferentes aspectos opostos.

Aqui vamos comparar com outras doutrinas que dizem que o Poder Superior não tem opostos, mas que
Dele manifesta-se a criação como o primeiro ponto da Tríade ( Kether ) e este gera dois opostos
( Hokhmah e Binah ) .
Assim, na doutrina ensinada por Zarathustra são mencionados dois grupos o "Espírito Santo"
caracterizado por Ormuzd e o Espírito Destrutivo caracterizado por Ahriman. Estes são aspectos do
"Grande Senhor" e que mais tarde viriam a ser chamados de os "Generosos Imortais" que, nos períodos
posteriores do Zoroastrismo seriam associados a vários elementos materiais, surgindo como criaturas
de Deus, e, portanto, semelhantes s aos arcanjos de outras tradições.

Diante do que expusemos não é justo o Zoroastrismo do próprio profeta ser considerado dualista desde
que ele fala de Ahura Mazdah como único em seu nível, isto é, no plano mais alto da existência, só há
um Deus. Mas, somente num plano imediatamente abaixo é que Ahura Mazda mesmo sendo UNO
(monismo ) manifesta-se dentro da criação inicialmente sob duas formas opostas ( dualismo) e abaixo
desse nível revela-se sob diferentes aspectos. Sendo assim não é absurdo descrever o Zoroastrismo
como um politeísmo modificado. Mas, isso é o mesmo que acontece com muitas outras religiões, que
dizem haver um só Deus, mas que se manifesta como Trindade.

O Catolicismo, em termos diferentes, fala de "três deuses" formando uma Trindade. É verdade que esta
religião não os classifica como sendo deuses diferentes, mas sim três pessoas formando um só Deus.
Mas, mesmo assim, são três condições distintas. Se essa situação for examinada seriamente, conclui-se
que a rigor o Catolicismo, e quase a totalidade das religiões evangélicas, na verdade são religiões
politeístas.

Para o Catolicismo e outras religiões cristãs o nível Divino mais elevado tem
inicio com um Deus Trino, com uma Trindade e assim sendo, a rigor, não se
pode admiti-las como essencialmente monoteísta. O que causa estranheza é que
esses sistemas religiosos consideram-se monoteístas acusando outras de
politeístas quando na realidade isto não é verdade. Podemos dizer que certas
religiões de algumas civilizações antigas eram, e ainda são, a rigor bem mais
monoteístas (monistas) que as grandes religiões da atualidade. Entres as
religiões essencialmente monistas podemos citar, entre outras, as seguintes: No
passado, o Zoroastrismo ( Ahura Mazdah ) e o Mazdeísmo( Mazdha ) primitivos,
o Mithraísmo babilônico, a religião do antigo Egito e, entres as que persistiram
até a atualidade, o Hinduismo, o Bramanismo ( Brahma ou Brahmân ), o próprio
cristianismo ensinado por Jesus. Jesus que nunca se colocou no lugar de Deus
Único ( O Pai que está no Céu ). Jesus quando se referia a Deus DIZIA "O PAI
QUE ESTÁ NO CÉU". Existem religiões mais atuais que também falam de UM
principio único, o PODER SUPERIOR.

Zarathustra

Todas as citadas religiões falam da existência de um único Deus, que transcende ao universo criado e
que somente se manifesta trino dentro da criação. Esses sistemas religiosos não falam que existem
deuses e sim que apenas existe UM que se manifesta na criação sob tríplice aspectos formando
primeiramente como Trindade. A Trindade não é o Princípio segundo as mencionadas doutrinas, porém
sim para o catolicismo e para muitas outras Igrejas Evangélicas. Para as religiões verdadeiramente
monistas o principio único transcende à própria criação, que a Trindade teve inicio. Aliás, isto está
conforme a própria ciência que fala do Big-Bang. Num determinado momento a partir do "Nada"
( existência imanifesta = vazio quântico ) teve origem o Universo. O Judaísmo e as principais religiões
cristãs falam que Deus único sempre existiu e que creou o mundo, mas que Ele está no mundo, diz que
coisa alguma existe fora do mundo. Isto contraria as religiões monoteístas rigorosas e até mesmo a
própria física que diz que fora do mundo existe algo, existe o "vazio quântico, "que não é o nada
absoluto pois ali existe algo inconcebível que em que existe "informação".

A Astronomia fala dos "buracos negros", aqueles pontos no universo fora onde a matéria é atraída e
como tal aniquilada. Fala também de buracos brancos pontos onde a energia é ejetada para dentro do
universo a fim de recompor a matéria, portanto existindo algo fora dele, exatamente para onde aquilo
que penetra nos "buracos negros" vai e de onde vem aquilo que emerge dos buracos brancos, ou como
também são denominados - "quasars".

Nos Gathas Zarathustra fala do Principio transcendente ao universo e do dualismo presente. Coloca o
monismo fora do Universo e o dualismo dentro dele. Esse dualismo se manifesta sob múltiplos aspectos
sendo o dualismo básico aquele constituído pela verdade e pela mentira - ( asha e druj ), que também
significam a ordem cósmica estabelecida e os elementos que tentam destruí-la. Esse dualismo
permanece durante todas as fases o Os Zoroastrismo. A mentira igualmente significa a subversão da
ordem política estabelecida

Entre os textos zoroastrianos, apenas os Gathas parecem ser obra do próprio Zarathustra, enquanto o
resto do Avesta (ou melhor, os fragmentos que dele restaram) é posterior e totalmente divergentes do
ensinamentos originais do profeta. Segundo a Tradição, o Avesta "original" consistia de 21 'nasks' ou
livros, cujo resumo está no Denkart, trabalho, como os demais escrito em pahlavi (dialeto pesa próprio
do zoroastrísmo) e que é posterior à conquista maometana, embora contra material mais antigos.

Desses 21 "nassas", apenas um foi conservado integralmente - O "Videvat" ou "Lei Conta os


Demônios", que trata principalmente de purificação de pecados, rituais de purificação mitologia.

Com o colapso do Império "Aquemênida", o Zoroastrismo desapareceu como religião organizada, até
que voltou a ser religião de estado do Segundo Império - Sassânida. Entretanto, quando este Império
foi destruído, o Zoroastrismo igualmente foi derrotado pelas forças da nova religião, o Islamismo.

A religião zoroastriana, a partir do momento em que deixou de ser a oficial, rápida e irreversivelmente
entrou em decadência. E Em todas as fases, o Zoroastrismo manteve uma característica básica:
Religião de livre-arbítrio na qual o homem é julgado de acordo com a natureza dos seus pensamentos,
palavras e atos, no que pensou, disse e fez durante sua vida. A recompensa para os bons é o paraíso, a
"melhor Existência"; e para os maus, o inferno, uma "Existência Infernal".

Outro ponto que mostra se tratar de uma religião bem elevada é quando diz que o céu e o inferno são
mais estados interiores do que lugares físicos. São o local da melhor existência e da pior existência, ou
sejam, a morada do bom espírito e a morada do mau espírito. Também denominava de a "morada da
canção" e a morada da mentira. Em uma há facilidades e benefícios, e na outra desconforto e
tormentos, escuridão, e gritos de dor.

Como se vê o Zoroastrismo tinha uma idéia bem metafísica da natureza do inferno e do céu, pois lhes
dava mais uma conotação de estados interiores, de níveis de consciência que propriamente de um lugar
físico. Na atualidade são poucas as religiões que têm esse conceito metafísico da natureza do mal e do
bem.

Texto por José Laércio do Egito

Você também pode gostar