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Cultura Visual e Comunicação Visual - Um campo vasto de Teorias da Imagem.

O que é uma imagem? Principais perspetivas de análise.

A pergunta «que é uma imagem?» exige uma abordagem antropológica, pois, como veremos, a resposta é culturalmente
determinada e, assim, constituiu um tema apropriado para a pesquisa antropológica. (…) Uma obra de arte – seja ela
um quadro, uma escultura ou uma gravura – é um objecto tangível com uma história, um objecto que pode ser
classificado, datado e exibido. Por seu lado, uma imagem desafia tais tentativas de reificação, até na medida em que,
amiúde, se apresenta no limiar entre a existência física mental. Pode viver numa obra de arte, mas a imagem não
coincide necessariamente com a obra artística. (…) A um nível fundamental a demanda do que é uma imagem exige uma
resposta dupla. Devemos encarar a imagem não só como um produto de um dado meio, seja ele a fotografia, a pintura
ou o vídeo, mas também como um produto de nós próprios, porque geramos imagens nossas (sonhos, imaginações,
percepções pessoais) que confrontamos com outras imagens no mundo visível.
(…) o debate, porém, centra-se na questão de saber se os estudos da imagem serão, ou não, uma parte da história da
arte.
O meu objectivo é responder (…) propondo uma interrelação (e até interação) estreita e fundamental de imagem, corpo
e meio como correspondentes de toda e qualquer tentativa de figuração.
(…) os nossos próprios corpos actuam como um meio vivo processando, recebendo e transmitindo imagens.
(…)
Nos discursos sobre a imagem chega-se constantemente a indefinições. Algumas dão a impressão de circular sem
corpo, como fazem as imagens de ideias e da memória, que realmente ocupam o nosso próprio corpo. Algumas
igualam as imagens em geral com a do campo do visual, segundo a qual é imagem tudo o que vemos, e nada
permanece como imagem sem múltiplo significado simbólico.

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Outros identificam as imagens de uma forma global com sinais icônicos, ligadas por uma relação de semelhança
com uma realidade que não é imagem, e que permanece acima da imagem.
Finalmente, há o discurso da arte, que ignora imagens profanas, que estão atualmente no exterior dos museus (os
novos templos), ou que visa proteger a arte de todas as perguntas sobre as imagens que roubam o monopólio da
atenção
Isto levanta uma nova querela sobre as imagens, em que se luta pelos monopólios da definição. Não só falamos de
imagens muito diferentes da mesma forma. Também aplicamos às imagens o mesmo tipo discursos muito
diferentes.

COMO NASCEM AS IMAGENS? UM ESTUDO DE HISTÓRIA VISUAL

Ana Maria Mauad

Em trânsito pela história, a vida social das imagens

O historiador de arte alemão Hans Belting defende uma antropologia da imagem, em que antropologia caracteriza a
condição corporal que se atribui a qualquer imagem. Belting propõe e sistematiza, em termos de tradição intelectual,
uma epistemologia da imagem que considera o meio da sua materialização como parte integrante da construção do seu
significado. Considera ainda que a forma, assim como a imagem, ao ser apropriada, ganha corpo. Efetivamente,
considera a noção de prática como fundadora da experiência histórica com imagens por sujeitos, bem concretos e
mundanos. Portanto, as imagens ganham corpo por meio de práticas sociais, em que os sujeitos incorporam as imagens
tanto como a ideia e representação como objetos, marcas corporais e gestos.

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Belting propõe a tríade imagem-meio-espectador no desenvolvimento do estudo. Neste caso, não existe uma
diferenciação da imagem em si – ontológica –, mas da imagem como relação epistemológica. Nessa perspectiva, a
imagem não se descola do meio que a sustenta e fundamenta no processo de recepção e percepção, como explica o
autor:

«As imagens coletivas surgidas nas culturas históricas, incluindo-se a que pertencemos, proveem de uma antiga
genealogia de interpretação do ser. Se as confundimos com as técnicas e os meios com os quais as invocamos na
atualidade, suprime-se uma distinção que ocupa um papel primordial na história das imagens [...] assim parece urgente
pensar-se a questão do fundamento antropológico das imagens a partir da perspectiva do enfoque humano do artefato
técnico.»

Compreende-se a produção das imagens como um acto simbólico e as imagens nascem da necessidade de simbolização.
Trata-se de uma experiência histórica, pois as imagens reciclam-se no processo contínuo de produção de sentido, daí a
possibilidade de as imagens como símbolos acamparem em corpos diferentes e se tornarem novas imagens em novos
processos de simbolização. Esse processo revela aspectos interessantes da sociedade que produz e recebe imagens. Em
momentos diferentes, certas imagens, com sentidos comuns, entram em acção para animar valores e transformar o
mundo onde os corpos habitam.

Assim, como nascem as imagens? Poderíamos dizer que da prática social de representar e simbolizar, pois nascem dos
corpos que se projetam na imagem e das imagens que se animam nos corpos. A imagem existe em relação a um algo
que a institui e, ao mesmo tempo, em que se refere a ela, pois:

«A sua função é a de simbolizar a experiência do mundo e representar o mundo, de maneira que na transformação se

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indique também forçosamente a repetição. Por outro lado, a experiência da imagem expressa também uma mudança
na experiência do corpo, o que faz com que a história cultural da imagem seja também de maneira análoga uma história
cultural do corpo.
[…]. As imagens não nasceram no mundo por partenogênese. De facto, nasceram de corpos concretos da imagem. Não
esqueçamos que as imagens tiveram a necessidade de adquirir um corpo visível, posto que eram objeto de rituais no
espaço público oferecidos para a comunidade. Ademais, deviam ser instaladas em um lugar propício à sua apreciação,
no qual se reuniam corpos que assim formavam um lugar público.»

A história das imagens, para evitar o essencialismo, valoriza a relação incontornável com os meios em que as imagens
se agarram. Assim, Belting propõe como conceito central para a história das imagens a noção de intermedialidade, que
“convoca imagens que conhecemos e recordamos de outros meios portadores e pressupõe a consciência da coexistência
ou rivalidade entre distintos meios. Somente com os novos meios se pode observar características dos velhos meios que
até então não tinham sido percebidas”. Portanto, uma antropologia da imagem em Belting

«enfrentará o reconhecimento de que todas as imagens convocam, continuadamente, imagens novas e distintas, dado
que as imagens só podem ser respostas ligadas com a sua época, e já não poderiam satisfazer os questionamentos da
geração seguinte. [...]. Qualquer imagem só poderá ter efeito de nova porque faz uso de um novo meio, ou porque reage
a uma nova práxis de percepção.»

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