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O

Pirata e a Prisioneira
O desejo acima da lei dos homens e a fúria dos oceanos


FLÁVIA PADULA

– CONTO HISTÓRICO HOT –


Copyright₢2018 Flávia Padula

Capa: LA Design
Revisão: Morgana Brunner




Todos os direitos reservados. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Proibida a reprodução, total ou parcial, desta
publicação, seja qual for o meio, eletrônico ou mecânico, sem a permissão expressa da autora Flávia Padula.






Não aconselhável para menores de 18 anos.
Este livro contém cenas de sexo explícito e palavras de baixo calão.
SUMÁRIO

Degredo
O Narrador
Porto de Londres, 1775
Londres, 1780
O Narrador
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FLÁVIA PADULA
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Degredo
No século XVIII promulgou-se uma lei inglesa
em que a pena de morte dos condenados podia ser comutada
em desterro nas Treze Colônias Britânicas, na América.
Essas viagens para o novo mundo ocorreram
até o início da Guerra da Independência.
Muitas não chegavam ao destino.



ATENÇÃO: ESTE CONTO HISTÓRICO É HOT.


CONTÉM CENAS DE SEXO EXPLÍCITO.

CASO O LEITOR QUEIRA OPTAR POR CONTOS HISTÓRICOS SEM
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OBRIGADA!

O Narrador



Muitos dizem que esta história é lenda. Digo que é verdade.
Eu vi com esses olhos que Deus me deu, o início e o fim da trajetória do
Capitão Derek Coleman e da Prisioneira Ravena Bryant.
As águas do Oceano Pacífico foram testemunhas, os ventos do Norte e
do Sul, as ilhas que nos assustavam pelas noites frias no navio, os fantasmas, as
estrelas que sussurravam o destino, as nuvens negras das tempestades, a lua
mórbida que nos afligia ou o sol a pino que nos torturava, todos estes foram
expectadores da trágica história do navio Savage, naquele ano de 1775.
Entretanto, nenhum deles pode falar, e os que podem se calam. Alguns por
medo, outros por incredulidade ou receio de encontrar a morte da qual
escaparam.
Ninguém que sobreviveu àquela viagem dorme em paz.
Durante anos, fiquei atormentado, tive pesadelos, ouvia as vozes que me
clamavam a veracidade. Tentei na bebida, em vão, afogar o que me era exigido,
até que rendido pelo desespero de um sobrevivente, sentei-me à frente da
escrivaninha e usando o poder da pena, coloquei-me a redesenhar estas páginas
cheias de verdades.
“As pessoas precisam saber.”
Essa frase é sussurrada em meus ouvidos com voz de veludo e sigo
torturado. Apenas terei paz quando tudo for dito, quando cada palavra estiver
em seu lugar, mesmo que eu não seja digno de uni-las para o propósito. Vou
tentar me ater aos detalhes, serei o mais breve possível, mas não poderei
esquecer de cada momento desde que subimos a bordo do navio Savage naquela
madrugada fria e densa...
Porto de Londres, 1775



O Capitão Derek Coleman, assim era chamado por seus tripulantes,
deixou sua cabine e foi para o convés, rapidamente. Sentiu a íntima oscilação do
convés sob suas botas, enquanto os prisioneiros começavam a subir a bordo e
serem levados para o porão, onde ficariam por semanas até chegarem à América
do Norte, precisamente ao porto de Boston. Definitivamente, estava cansado.
Muito. Ver aquelas vítimas do impiedoso Magistrado Inglês serem condenados
ao exílio, do outro lado do oceano, era simplesmente repugnante e desumano.
Coleman era um pirata. Havia conhecido o mundo todo viajando pelos
mares, saqueando navios, matando homens com sua espada, entretanto, nunca
tirou a vida de nenhum inocente. Era apenas uma questão de sobrevivência: se o
atacavam, ele se defendia, do contrário, deixava seus inimigos à mercê do mar e
da própria sorte. Claro, não era nenhum santo, muitas e muitas vezes agiu a seu
favor. No entanto, ver aquela fila infame de mulheres, crianças e velhos doentes,
era nauseante para ele. A maioria daquelas pessoas morreria durante a viagem,
ou não sobreviveriam às terras hostis da América, aos calabouços imundos e os
trabalhos forçados que os aguardavam.
Há dois anos, seu navio, Savage, foi cercado e capturado pela Marinha
Britânica, perto da Ilha de Man. A coroa lhe concedeu perdão, entretanto, teria
que prestar serviços à Vossa Majestade e lhe deram um castigo terrível: levar os
degredados para a América. Era a única maneira viável de pagar os salários de
seus tripulantes e se manter longe da prisão durante algum tempo e não ser
enforcado.
E, ele estava farto daquilo: podia ser considerado um fora da lei, mas era
justo. E ver aqueles desgraçados, embrulhava seu estômago. Coleman conheceu
nobres que cometeram crimes hediondos, mas seus delitos eram ignorados por
sua posição social, enquanto crianças que roubavam um pão eram condenadas ao
exílio e à adversidade. E mais navios da frota britânica começavam a fazer o
mesmo tipo de viagem, ele sentia como se as autoridades quisessem se livrar dos
pobres ingleses moradores dos bairros imundos e deixar apenas os mais
abastados povoarem a moralista Inglaterra.
Os colonos americanos comentavam que logo aquelas viagens cessariam,
caso eles ganhassem a grande guerra que estava prestes a iniciar contra a
Inglaterra, em busca de independência. Deveria ser por isso que a Coroa sondava
terras da Nova Gales do Sul, para criar uma prisão de trabalhos forçados para
aquela gente. Uma viagem mais longa, penosa e muito perigosa. O Capitão
apenas se arriscaria nos tormentos mares do oriente se tivesse muito dinheiro
envolvido, mas não para escravizar pessoas.
Ele ajeitou o casaco de couro comprido e respirou fundo, enquanto a fila
seguia sob o olhar severo de seus homens. Embora não concordasse com o fato,
não podia deixar que escapassem, e tinha que tratá-los com rigidez, afinal, entre
tantos, havia sempre os que mereciam estar ali e voltariam a cometer seus crimes
por muito menos.
Era uma noite escura, sem lua, o céu estava coberto de nuvens e o vento
era gelado. Seus olhos desceram sobre a mulher que terminava de subir a
prancha de embarque. Como todos os outros prisioneiros, suas mãos estavam
amarradas, seu vestido cinza e sem graça era simples, o casaco era velho, não
havia nada que a tornasse atrativa, todavia, algo nela despertou a atenção do
Capitão. Ele mudou o peso do corpo para a perna direita e estreitou o olhar: ela
era bonita e se discrepava dos demais. Não parecia uma criminosa, e também
não estava assustada ou chorosa. Ela era forte, de porte elegante e altivo.
Ela não deveria estar ali. Esse pensamento o espantou, não sabia nada
sobre ela. Os olhos de Derek a seguiram, enquanto ela caminhava pelo convés
até a descida para o porão. Hesitou diante da abertura, mas abaixou sem esperar
uma nova ordem do tripulante. Era estranho que ele se intrigasse tanto com uma
pessoa desconhecida, todavia, ela lhe provocou uma atenção distinta.
Sorriu. Na verdade, estava desejoso de diversão. Desde que aportou há
dois dias, ele não teve tempo para nada, a não ser visitar o avô moribundo e dar
atenção à avó e ouvi-los lamentar pelo neto que abandonou tudo para ser um
Capitão do mar. Embora soubessem de sua má fama e de que preferia ser
chamado de Pirata, seus avós tinham por ele um carinho tão grande, que
ignoravam seus atos como se fosse um adolescente rebelde, apenas. Estavam
certos de que um dia ele voltaria para Londres, o tratavam como um filho
pródigo, um homem excêntrico.
Entretanto, não havia nada de excentricidade em sua escolha, optara por
aquela vida por não suportar a sociedade e seus meandros. Porém, os avós nunca
entenderiam e deixava que acreditassem no que ansiavam. Eles eram pessoas
boas, às vezes, frívolos, mas não os julgava, compreendiam que a vida deveria
ser daquela forma e Derek os respeitava.
Notou que, depois de dias enclausurado na casa de sua família, estava
afoito. Precisava de distração e relaxar e quem sabe a prisioneira, que chamara
sua atenção, estivesse disposta a isso. Sempre havia entre as presas uma
prostituta bem-disposta a servi-lo durante a viagem e embora aquela não lhe
parecesse uma, não custava fazer o convite. Aproximou-se de um dos tripulantes
e lhe sussurrou que levasse a mulher até a sua cabine. O homem assentiu e Derek
desceu as escadas assoviando, certo de que teria uma noite prazerosa.


Ravena Bryant havia se conformado com seu destino. Diferente dos
demais, ela não estava lamentando, fizera isso por vários dias, talvez semanas e
exaurida de toda dor, compreendia que não havia outra forma de sobreviver,
precisava ser forte e ter esperanças. Fazia frio e seu fino casaco não a salvaria do
violento inverno no mar. Fizera curtas viagens marítimas ao longo de sua vida,
mas sabia o quanto, mesmo no verão, as madrugadas podiam ser doloridas.
Subiu ao convés e olhou ao redor, tentando assimilar tudo que a cercava,
entretanto, o temor do futuro incerto era mais assustador do que um navio
daquele tamanho, com seus inúmeros canhões. A estrutura parecia um monstro
que iria engoli-la e nunca mais soltá-la. Seu estômago embrulhou quando chegou
diante da abertura que a levaria ao porão, sabia que os criminosos eram
colocados ali e esquecidos por semanas, sem higiene, segurança ou qualquer
dignidade.
Desceu atrás da mãe e do filho que lamentavam. A mulher chorava
copiosamente. Eles foram pegos roubando frutas e condenados ao exílio por
quatorze anos. Era isso ou a forca. Ninguém sabia dizer o que era pior. Ravena
compreendia que a pobreza aumentava a criminalidade, mas discordava das
sentenças imputadas àquelas pessoas. Com certeza, a maioria jamais voltaria
para casa, inclusive ela.
Seguiu na fila e se sentou no chão frio, apoiando as costas à madeira que
parecia estar úmida, mas era apenas a friagem que avançava. Olhou para o lado e
viu o jovem George, de quinze anos, condenado por roubar um lenço de linho
para dar de presente à namorada, ele também estava assustado e abraçava as
pernas para controlar o nervosismo. Ela podia jurar que ele fazia alguma prece.
Do outro lado do navio, uma senhora de sessenta anos também chorava,
seu nome era Mary Ellen, haviam dividido a mesma cela nas últimas semanas,
em Newgate, e Ravena conhecia bem seu lamento. A mulher fora condenada por
ter roubado seis metros de tecido de chita e a forca foi comutada em sete anos de
expatriação, deixando o marido, dez filhos e dezoito netos para trás.
Provavelmente, com aquela tosse seca, que começou na prisão, ela não
sobreviveria à viagem.
Era mais de uma centena de prisioneiros, mas Ravena não chegou a ver
todos descerem para o inferno que se tornaria aquele porão em poucas horas. Um
tripulante, grande e mal-encarado se aproximou dela e sem qualquer palavra ou
educação, a segurou pelo braço e a fez levantar como se fosse uma boneca de
pano.
Não ousou qualquer oposição, descobriu que fazê-lo era condenar-se à
violência ainda pior do que lhe era infligida. Os carcereiros não tinham
misericórdia dos condenados, os tratavam como animais. Também não
perguntou para onde a levavam. Aquelas palavras, antes tão pronunciadas,
haviam perdido o sentido quando se deu conta do que seria seu destino ao ser
condenada ao banimento perpétuo. Foi esta a exata frase que ouviu do juiz que a
sentenciou. Nunca lhe seria permitido voltar à Inglaterra. As lágrimas tão
dolorosamente derrubadas lhe pareceram agora, desnecessárias.
O homem empurrou os prisioneiros em fila para o lado, a fim de levá-la
novamente para a área livre do navio. Um misto de esperança e medo a invadiu,
seu coração bateu apressado. Um tolo pensamento surgiu de que poderiam
deixá-la em solo por mais tempo, ou haviam decidido tirar-lhe a sentença.
Entretanto, se esvaiu com um fraco sopro da desilusão, quando já no convés, o
marujo a obrigou a descer outras escadas e a fez atravessar um pequeno corredor
escuro e, então, abriu uma porta e a empurrou com violência para dentro. Ela
desequilibrou e caiu de lado, batendo a cabeça no chão e sentindo uma dor
dilacerante.
— Murdock! — A voz masculina e imperativa soou pelo recinto. — Isso
é jeito de tratar uma mulher?
— Desculpe, Capitão. — O homem falou sem graça.
— Tente da próxima vez conter sua força, homem! — Derek exigiu e
Murdock saiu batendo a porta com força.
Derek balançou a cabeça, desolado. Ravena sentiu mãos fortes a
levantarem. Estava zonza e fechou os olhos tentando coordenar seus
pensamentos.
— Sente-se aqui. — Ele ordenou e ela fez. — Peço desculpas por meu
marujo, Murdock é um tanto agressivo, não tem muita noção de sua força. Ele
não faz de propósito.
Uma pessoa educada era um alento, ela pensou. Abriu os olhos e piscou
algumas vezes antes de focar no homem alto que não se vestia como um Capitão
do Exército Britânico. Usava camisa branca, calças e botas negras, nada de farda
azul e vermelha. Os cabelos eram loiros e compridos, e estavam presos em uma
tira de couro. Sua aparência era a de um homem arrogante como deveria ser uma
pessoa que regia toda uma equipe de bordo. O rosto dele era bonito, as
sobrancelhas bem-feitas, o nariz reto, os lábios firmes e sensuais. O tipo de
homem que Ravena sempre manteve distância: formosos demais para serem
esquecidos. Ela sentiu como se o conhecesse de algum lugar, forçou a memória,
mas sabia que o esforço era em vão. Um homem como aquele jamais poderia ser
imêmore. Concluiu que se algum pintor prodigioso o retratasse o faria parecer
com um dos grandes colonizadores da história.
— Sou o Capitão Derek Coleman. — Ele se apresentou.
Ela não sabia o que dizer ou o que fazer. Deveria proferir que era um
prazer conhecê-lo naquelas circunstâncias? Ou fazer reverência e um comentário
tolo sobre a grandiosidade de seu navio como exigia a etiqueta? Aquilo era
ridículo. Não estava mais em meio à sociedade e ela possuía idade suficiente
para saber o que aquele homem queria, levando-a para sua cabine. Era solteira,
mas não uma pudica tola e ingênua.
— Por que me trouxe aqui, senhor? — perguntou, sem rodeios.
Derek estudou aquela mulher de cabelos loiros, olhos pequenos e muito
verdes e uma beleza incomum. Perguntou-se qual seria seu crime. Ela não
parecia uma delinquente fria e calculista. Não se semelhava com as prostitutas
dos bairros pobres de Londres e muito menos com as meretrizes das casas de
diversão mais chiques. Havia algo diferente que ele não sabia explicar. Talvez
fosse a seriedade no olhar.
— Eu a vi no convés e me perguntei se gostaria de compartilhar de
minha cabine.
Ravena não queria ficar vermelha de vergonha. Poucos homens lhe
cortejaram durante a vida, mas nenhum foi tão direto em seu convite. Pensou em
negar logo, contudo, olhando ao redor e sentindo o calor que a cercava, depois
de semanas dormindo no chão frio da prisão, sua dignidade parecia ser o menos
importante. E o cheiro da comida? Ela sentia a boca salivar depois de tanto
tempo tomando água suja. Agora, sabia exatamente o que significava o termo
tentação e o quão a debilidade humana a levava de encontro à cobiça.
— Está propondo que eu me torne sua amante esta noite? — Ela
retorquiu.
Ele parou diante dela.
— Sim... E quem sabe, outras noites também, caso se comporte...
Amante. Uma palavra tão pejorativa para o vocabulário de Ravena.
Entretanto, que ficara para trás em Buford, na pequena cidade em Oxfordshire,
onde cresceu, viveu toda sua vida e foi condenada. Havia perdido tudo: seus
laços familiares, seu passado, sua boa conduta, sua compostura. O que lhe
restara diante de toda uma vida séria e correta que acreditou levar?
Absolutamente, nada. Estava sendo enviada para a América para uma vida de
desgraça. Era uma prisioneira. E agora, um Capitão lhe convidava para ser sua
amante durante aquele mês de viagem.
O que era pior? A compreensão de que se tornara ninguém ou se deitar
com um homem que nada sabia sobre ela? Que tomaria seu corpo para o prazer,
usando-a sem qualquer sentimento ou respeito como faziam com as meretrizes?
Seu lado donzela pensou em contestar, mas a prisioneira que havia se tornado
não tinha muitas alternativas: aceitar o convite e ter certas regalias ou adoecer no
porão de um navio como se estivesse há séculos em um inferno e esperar pela
morte eminente, já que suicidar-se estava fora de questão.
— O que me responde? — Ele quis saber. — Não a tomarei caso não
queira, pedirei a Murdock que a leve de volta ao porão sem qualquer dano.
Pelo menos, ele era um cavalheiro, ela pensou com ironia. Seu instinto
de sobrevivência gritou dentro dela. Engoliu o próprio orgulho e perguntou:
— Seria pela viagem toda?
Ele fez que sim, acreditando que ela barganhava o próprio corpo. O
prazer em troca de algumas regalias... De certo era uma prostituta, pensou
contradizendo suas primeiras impressões. Era muito bonita, sua aparência era
agradável aos olhos e inflamava o desejo de Derek. A resposta era positiva,
afinal, que mal haveria em ter alguém para suas noites solitárias no navio?
— Acredito que podemos nos beneficiar da companhia um do outro... —
Ele afirmou.
Como ele podia saber? Mal se conheciam? E precisava uma dama da
noite conhecer um cliente para satisfazê-lo? Ela se perguntou, tentando se
acalmar e pensar com coerência.
Ela achava que entre a miséria que tornara sua vida e para o tormento em
que se encontraria para sempre, sem qualquer plano positivo, se tornar amante de
um belo desconhecido, naquela cabine, era mais atrativo do que ficar no porão.
Notou que o infortúnio havia trazido à tona sua frieza para com a vida. Que seus
valores tão sempre arraigados nos costumes da sociedade e da igreja, de nada a
acudiam em um momento como aquele.
— E confia em mim para ser sua amante? — questionou. — Uma
prisioneira? Não tem medo que eu acabe com sua vida por me fazer uma
proposta indecorosa?
Ravena não pôde deixar de se perguntar o motivo pelo qual ele a
escolhera, quando havia tantas outras no barco... Sentiu um arrepio pelo corpo
quando ele se ajoelhou diante dela e aqueles olhos azuis sondaram seu rosto,
como se pudessem lhe enxergar a alma.
— A senhorita não me parece ser uma assassina fria e perigosa —
observou sério. Embora a resposta tenha sido sincera, ele também se perguntava
por que escolhera a ela e não outra. Deduziu que era devido à beleza dela,
poucas mulheres o seduziram apenas com o poder de seus encantos: os cabelos
dourados, os lábios rosados, os olhos muito verdes como o campo da primavera.
— Mas logo estaremos em alto mar, e se tentar qualquer coisa contra mim, será
amarrada por meus tripulantes e jogada aos tubarões. Não sem antes eles
usufruírem de seu corpo — falou sério. — Não é uma questão de confiança da
minha parte, é seu bom senso que está em jogo, afinal, além dos prisioneiros,
tenho cento e setenta tripulantes! — Ele encolheu os ombros.
Ravena não queria voltar para o porão do navio. E possuía uma
prudência muito forte, ainda mais sob aquela ameaça nada velada do que lhe
aconteceria se agisse de forma vulgar. Jamais tentaria contra a vida dele para cair
em maior desgraça.
— Tudo bem — concordou sem conseguir deixar de encará-lo.
Derek esticou o braço e começou a desamarrar as mãos dela. Os dedos
ágeis tocavam sua pele, mas ela mal notou, devido ao alívio de ter os pulsos
livres e poder massageá-los.
— Obrigada, senhor. — Ela tentou sorrir, mas não conseguiu.
— Espero não me arrepender de tal ato. — Ele a precaveu e levantou-se
jogando as cordas de lado.
— Não irá, prometo. — Sabia que a palavra de um condenado não valia
muito, mas era a única coisa que possuía naquele momento.
Derek assentiu e lhe indicou a mesa.
— Deve estar com fome. Acredito que na prisão não servem coisas muito
agradáveis.
Ravena se ergueu com cuidado e caminhou até a mesa. Ele lhe puxou a
cadeira e ela se sentou e agradeceu. Automaticamente, pegou o guardanapo,
colocou sobre o colo e contemplou tudo com adoração. Há meses não sentia o
cheiro delicioso do pão. Enquanto Derek se sentava no lado oposto, viu a
prisioneira pegar o pão e cheirá-lo. Também não lhe passou despercebido o
guardanapo sobre o colo e a faca que ela escolheu atentamente para passar a
geleia. Ela tinha educação polida de uma dama.
— Na prisão servem apenas água suja. — Ela comentou quebrando o
silêncio.
— Nunca estive preso por muito tempo a ponto de fazer uma refeição.
— Pensei que fosse um Capitão do Exército.
— Não...
— Então é um Corsário? — Ela quis saber.
— Não.
— Não é o que faz? Transportar prisioneiros para a coroa britânica? —
Ela o questionou de forma inteligente.
— Sou um pirata. Dono deste navio e já cometi meus delitos. Fui pego
pela marinha britânica e estou pagando minha sentença, levando prisioneiros
para outro continente, para não ser enforcado — explicou.
Um pirata? Então, ele era um aventureiro dos mares que pilhava navios
mercantes? Ela se perguntou se sentindo aliviada por estar diante de um homem
que não a julgaria por seus atos, mesmo que tolos. Entretanto, contradizia ele ser
um pirata e um homem tão educado ao mesmo tempo.
— Não se parece com um pirata, embora eu não tenha conhecido muitos
e também não parece que esteve preso. — Ela observou atenta.
— Estive preso algumas vezes, mas sempre fui solto por bom
comportamento — ironizou. Ou ele fugia, mas ela não precisava saber disso.
Ela fez que não.
— Nunca cometi nenhum crime — declarou.
— É o que todos que estão aqui dizem...
— E muitos dizem a verdade. — Ela os defendeu e mordeu o pedaço de
pão.
Lágrimas lhe vieram aos olhos ao sentir aquele sabor familiar. Recordou-
se das manhãs em casa, quando acordava com o cheiro do pão feito pela mãe ou
por Amely, a cozinheira. E a geleia de morango? Era uma dádiva de Deus.
Nunca pensou que um simples alimento poderia lhe causar tanta comoção. Abriu
os olhos e se deparou com um Capitão de cenho franzido, que a estudava
atentamente.
— Não gostou? — Ele quis saber.
— Perdoe-me! Mas nunca pensei que um pedaço de pão poderia se
comparar com algo próximo ao paraíso...
Um pedaço de pão ser um tesouro para alguém era novo para Derek. As
pessoas se matavam por dinheiro, poder, riquezas. Mas ser agradecido por algo
tão simples lhe parecia inusitado para uma jovem dama de tão boa aparência.
Ele serviu vinho nas taças e sorveu a bebida enquanto ela comia devagar.
Estava ansioso para tomá-la. Ela era bonita, tinha olhos atraentes e um sorriso
marcante. A voz era sedosa e ele imaginava que o som de seus gemidos deveria
ser tentador. Há muito tempo não sentia tanta necessidade de possuir uma
mulher. Tomaria cuidado das próximas vezes para não ficar tanto tempo sem
sexo.
— Qual é seu nome? — inquiriu.
— Ravena Bryant, senhor.
— E de onde é?
— De Burford, Oxfordshire...
— E o que deixou para trás?
— Um passado de mentiras. — Ela pegou a taça e bebeu do vinho.
Derek notou que ela não desejava falar muito sobre isso. Saber o crime
que ela havia cometido não mudaria o fato de que a queria em sua cama. Pegou-
se ansioso e respirou profundamente, tentando se controlar, afinal, não era um
adolescente impulsivo ou um animal no cio. Notou os lábios lindos e imaginou
que deveriam ser macios e poderia envolver seu membro com uma facilidade
incrível, ele teria muito prazer nisso, com certeza. Ela bebeu mais um pouco e
passou a língua por eles, isso foi o suficiente para o Capitão sorver o conteúdo
de seu copo e servir mais.
— Sabe que quando esta viagem terminar, eu a deixarei na América e
nunca mais voltaremos a nos encontrar, não é? — A voz dele soou impassível.
Ela jamais pensaria diferente.
— Compreendo exatamente o meu destino. — Ela pegou o guardanapo e
limpou os lábios. — Não se preocupe, perdi as ilusões tolas da vida há muito
tempo. Não estou aqui na esperança de ser cortejada.
— Fazendo-a minha amante, espero que se comporte bem diante de
minha tripulação — avisou. — Não serei responsável se provocar meus
homens... E acredite, homens presos em um navio e perto de uma mulher, podem
fazer uma loucura... E não quero ter que devolvê-la ao porão ou jogá-la ao mar...
Ela teria que unir todas suas forças para deixar que aquele homem a
tomasse como amante. O que diria outro. Tal ideia lhe causava aversão.
— Serei sua e de mais ninguém, senhor. Rogo-lhe apenas que não
permita que outro me toque...
— Não tenho aspirações de dividir o que é meu, senhorita. — Ele a
tratou com cordialidade.
Ravena ficou satisfeita, entretanto, não menos nervosa ao pensar que dali
alguns instantes seria daquele homem. Nunca discorreu em seus devaneios mais
tolos e sombrios que um dia se tornaria a prostituta de alguém, e de forma tão
rápida. Ela lhe concederia o corpo para o prazer e em troca ele lhe daria regalias
durante a viagem.
— Temos um acordo. — Ele finalizou.
— Sim. — Ravena engoliu em seco.
Naquele instante havia selado toda sua história. Não seria mais a
solteirona virgem de Burford, mas a amante do pirata. Ela não queria pensar no
que viria a seguir.
Derek se levantou e se aproximou dela, estendendo a mão. Ravena olhou
para a mão dele e sem poder controlar o tremor da sua, aceitou, tocando a pele
áspera e quente. Sentia o rosto queimar de vergonha. Em outras circunstâncias,
sairia dali correndo e se sentindo ofendida por um homem querer seu corpo e lhe
fazer uma proposta indecorosa e promíscua. Entretanto, sendo uma prisioneira
para o resto de sua vida, deveria agradecer por ele tê-la escolhido em meio a
tantas outras mulheres e deixá-la experimentar dos benefícios da vida, pelo
menos, mais uma vez, antes de ser trancafiada em uma prisão.
Seu coração batia descompassado e os joelhos tremeram quando ele a
ajudou a ficar de pé. Seus olhos passearam pelo peito largo, o queixo anguloso,
os lábios bonitos e o encararam. Derek Coleman era um homem lindo,
entretanto, não menos assustador. Ficou arrebatada por sua altura imponente.
Ele a segurou pelo queixo e lentamente desceu seus lábios sobre os dela.
Ravena estremeceu inteira, seu corpo estava rijo como o tronco de uma
árvore. Ela ia morrer. Nunca havia sido beijada. Não tinha do que se
envergonhar, mas naquele momento desejou ter mais experiência para poder
saber o que fazer. Estava nervosa e não conseguia pensar direito quando os
lábios quentes e duros caíram sobre os seus, no começo, afetuosos, mas depois,
exigentes. Derek se afastou com a expressão furiosa:
— Por que não corresponde?
— Eu... — Não sabia o que falar. Como dizer a um desconhecido sobre
sua inexperiência?
Ele se afastou:
— Caso não deseje, vou chamar Murdock e...
— Não! — Ela rogou ao vê-lo se aproximar da porta. Não queria voltar
para o porão do navio. — Eu não... Nunca... — fez que não e se apoiou a cadeira
para encará-lo. — Jamais estive com um homem antes. Nunca fui beijada.
O queixo de Derek caiu e ele voltou para perto dela, incrédulo:
— Está me dizendo...
— O senhor me ouviu bem. — Covarde, ela o cortou.
— É uma surpresa — admitiu, enquanto ela se deixava cair na cadeira
levando a mão ao rosto vermelho de constrangimento. — Prostitutas...
— Não sou uma prostituta! — levantou o olhar com o resto de orgulho
que possuía.
— E ia se entregar a mim? — Ele não compreendeu. — Guardou sua
inocência...
Ravena estava cansada.
— E que diferença isso faz agora, senhor? — perguntou com desprezo.
— Eu perdi tudo, tiraram... — hesitou. — Não me deram o direito a nada. Estou
condenada ao exílio permanente, nunca mais voltarei para a Inglaterra, serei
prisioneira nas colônias até minha morte. Descobri que o orgulho apenas serve
para a sociedade que me censurou, mas não para mim...
Ela se ergueu outra vez, altiva, mais segura ao dizer a verdade:
— Prefiro ficar aqui ao porão — admitiu, sabendo que ele poderia
considerá-la uma interesseira se quisesse, ela não se importava mais.
Derek a compreendia. Mais do que ela podia imaginar. Aproximou-se
dela.
— Entendo sua escolha.
— Entende, mesmo? — inquiriu, duvidando que um homem tão
audacioso pudesse compreender toda a desgraça que a alcançava e porque se
vendia em troca de alguns prazeres como conforto.
Ele fez que sim:
— Além do que imagina.
Derek abriu mão da vida na Inglaterra para fazer o que desejava. Era
dono de seu destino, de suas escolhas. Ravena estava condenada ao exílio e
aceitou a proposta dele por ver a única chance que teria de momentos bons antes
de nunca mais ver a luz do sol e perder sua liberdade para sempre. Ele via diante
de si uma mulher forte e corajosa, usurpada de sua dignidade, em busca de um
alívio para seu sofrimento.
Ele segurou a mão dela e a levou aos lábios para beijar delicadamente.
Ela tremeu. Nunca um homem tocara sua pele por um instante frívolo ou
apaixonado e não podia dizer que era ruim. Ao menos, Derek Coleman não lhe
causava asco.
— Aquiete seu coração. — Ele pediu com os olhos nublados de desejo.
— Estou com medo — confessou.
— Eu lhe darei boas lembranças. Prometo por minha honra.
Um pirata com honra era melhor do que nada, ela pensou com ironia.
— Não sei o que fazer...
— Não se preocupe, eu lhe ensinarei. — Os olhos dele prenderam os dela
e Ravena mordeu os lábios, nervosa. — Quando eu a beijar, deixe os lábios
abertos e imite meus movimentos...
Ela assentiu. Derek aproximou lentamente, tocou os lábios macios e
inseguros bem devagar, deixando que ela o aceitasse. Ela se abriu para recebê-lo
e sentiu uma onda de calor pelo corpo, diferente, não como o sol que queima a
pele, mas como se algo dentro dela se derramasse quente em seu sangue.
Como a onda do mar que toca a areia, Derek foi aprofundando o beijo,
sem pressa, excitado por ter em seus braços uma mulher inexperiente. Era a
primeira vez que se deitaria com uma virgem e esta ideia lhe inflamava mais o
desejo. Aos poucos, Ravena foi movimentando os lábios, imitando-o e ele
aproveitou para enfiar a língua em sua boca, tocando-a. Ela se afastou, de
repente, ofegante.
— Preciso respirar — pediu.
Derek sorriu e lhe indicou a cama encostada no canto da parede. Ela
atravessou a distância e se sentou, levando a mão ao peito, controlando a
respiração. Ele se sentou ao lado dela, sua expressão séria, mas os olhos estavam
carregados de cobiça e Ravena sentiu o coração disparar quando ele se
aproximou para beijá-la outra vez. A sensação era boa, por isso, ela não resistiu.
Nunca imaginou que um beijo podia ser tão agradável.
Desta vez, ele a beijou de forma mais intensa, movimentando os lábios
mais rápido. Ela tentou acompanhá-lo, mas logo ele se afastou e beijou seu rosto,
tocando-o levemente com a língua, deslizando para seu pescoço. Ela abriu os
lábios em busca de ar, entretanto, acabou soltando um gemido. Ficou
envergonhada, mas as carícias persistiram e sua cabeça começou a girar.
Seus sentidos ficaram sensíveis: podia ouvir a respiração profunda, sentir
o cheiro do aroma masculino e o calor ardente e persuasivo quando ele a tocava.
Ravena nunca imaginou que reagiria tão bem ao toque de um estranho. Talvez
fosse a condição que impusera de banalizar qualquer juízo mais rigoroso com
relação aos seus atos ou simplesmente porque Derek Coleman era um homem
charmoso, sua figura era carregada de poder e determinação. Não saberia dizer,
mas a cada toque dele, ela se sentia mais viva e excitada.
Derek afastou seu casaco e ela o ajudou a tirá-lo. Ele voltou a beijá-la,
dessa vez mais selvagem, mais firme e ela correspondeu, sem perceber que os
dedos masculinos desabotoavam seu vestido. Ravena se perguntou se era assim
que as prostitutas se sentiam com seus amantes e talvez pudesse entender porque
havia tantas em Londres. Segurou a mão dele instintivamente, quando ele lhe
afastou o vestido dos ombros.
Ele acariciou a pele macia, roçou a língua bem devagar, para que ela
compreendesse que era uma mulher desejável e deliciosa de tocar. Compreendia
a luta dela entre o pudor e a entrega, porém, ele não podia parar. Não agora, que
estava louco para tomá-la, que havia experimentado de sua pele, de seus lábios
inocentes. Delicadamente, ele a fez deitar sobre a cama. Tirou a própria camisa
expondo o tórax largo e bronzeado, antes de se projetar sobre ela, tomar seus
lábios, seu pescoço, afastando o tecido do vestido para beijar o colo macio.
Ravena tentou esconder os seios quando ele abaixou o vestido, entretanto, Derek
segurou seus braços acima da cabeça e tomou o bico rosado entre os lábios,
experimentando-o, provocando nela uma onda de prazer inesperada.
Instintivamente, ela jogou a cabeça para trás e tentou respirar, mas era
impossível. Seu corpo parecia ter vida própria, era lascivo, indecente, era
terrivelmente bom. Como podia estar gostando daquilo? Seria uma mulher
leviana? Uma devassa? Não houve tempo para responder, Derek tirou seu
vestido de uma vez, jogando-o longe e tomou os lábios para devorá-la. Abaixou
as calças antes de abrir as pernas dela e se posicionar para possuí-la. Ele sabia
que a primeira vez de uma mulher não era agradável, mas tentaria ser gentil.
Enquanto a beijava, provocando-lhe mais prazer, ele levou os dedos no
centro das pernas e tocou seu ponto mais sensível, ela estava molhada e isso lhe
provocou um prazer indescritível. Ravena deixou escapar um gemido alto e ele
seguiu com a carícia e a possuiu, forçando a entrada. Ela arranhou as costas dele
tentando se livrar da dor e do incômodo causados pela penetração. Derek
começou a se movimentar, entrando e saindo para que ela o aceitasse. Os
movimentos se tornaram mais constantes e ele já não conseguia se controlar. Ela
mordeu os lábios para não gemer de dor, enquanto ele seguia a possuindo,
perdido no prazer.
No começo, ela ficou desesperada, querendo que ele saísse de cima dela
para lhe aliviar a dor. Não sentia deleite algum naquilo. Entretanto, conforme
Derek se movimentava e se perdia em busca da satisfação, Ravena experimentou
algo diferente. Não físico, mas em seu âmago: ela o dominava. Ele precisava de
seu corpo para se satisfazer e vê-lo perder o controle, estava lhe causando um
contentamento pecaminoso. Jamais poderia explicar o que lhe causou estranho
sentimento, mas no fim era bom.
Ele ergueu o corpo para gozar e gemer por entre dentes, antes de apertar
o corpo dela contra o seu. Ofegante, caiu para o lado, exausto e satisfeito.
Ravena não havia experimentado nada além do incômodo da dor, mas cansou de
ouvir sobre a primeira vez de uma mulher. Esperava que não fossem assim todas
às vezes ou não suportaria.
Derek se levantou da cama e ajeitou as calças. Ela pensou que ele a
deixaria ali, sem dizer uma palavra, depois de conseguir o que queria. Contudo,
ele foi até o móvel, molhou a toalha na bacia e voltou para perto dela, os cabelos
dourados soltos e pendendo sobre o rosto bonito, ainda ofegante, controlando a
respiração. Sem pedir licença, ele começou a limpar as provas da virgindade. Ela
puxou o lençol para tampar os seios e olhou para o outro lado da cabine,
envergonhada.
Nunca teve muitas fantasias de como era se entregar a um homem porque
não tinha ideia de como era o ato. Aliás, esteve certa de que jamais se deitaria
com um homem. Entretanto, sempre que pensava sobre o assunto, era remetida a
palavra compromisso, casamento e amor. Tolice ou não, compreendia agora que
tudo na vida eram doces ilusões. Entregara-se a um homem respeitoso, que a
tratou bem, contudo, não havia entre eles mais nada que uma troca de favores. E
não estava chateada, apenas constrangida. E dolorida. Não se sentia humilhada
por ter se tornado amante dele.
— Não será assim da próxima vez. — Ele prometeu lendo os
pensamentos dela.
Ravena olhou para ele. Não havia reprovação ou dúvida. Aprendera
naquele curto espaço de tempo que ele era um homem de palavra.
— Não me importo — devolveu sem amargura.
Derek perguntou o que havia destruído a alma daquela mulher a ponto
dela abrir mão de seus valores e se entregar a um desconhecido. O que haviam
feito com ela? Aquela bela jovem não se importava com mais nada, a não ser
com o pouco de paz que lhe restava até ser enclausurada, o resto de sua vida, em
um calabouço fétido e sem luz. Derek sentiu pena dela.
Ele terminou e foi até o baú aos pés da cama, procurou por algo e
encontrou o que queria. Em suas mãos havia duas peças de roupa: uma camisa
branca e um vestido azul. Ele deixou o vestido sobre a cadeira e voltou para
perto da cama para lhe entregar a camisa.
— Vista isso para dormir. — Ele aconselhou.
— Obrigada. — Ela agradeceu, se sentando.
Notou que seu corpo estava com marcas vermelhas. Ele havia lhe dado
prazer e aquelas eram as provas. Vestiu a camisa rapidamente e se deitou. Derek
puxou os cobertores sobre ela.
— Estarei no convés, descanse. Não voltarei tão cedo.
Dizendo isso, ele saiu a passos largos, batendo a porta.
Ravena se encolheu toda, mas não chorou. Não havia motivos para fazê-
lo, ele a tratara com consideração como prometeu. Estava ciente que isso era
melhor do que passar a noite no porão em meio aos lamentos, o cheiro de dejetos
e o frio insuportável. Seu corpo cansado se aconchegou no colchão macio e o
calor do cobertor a fez relaxar e dormir. Não precisava temer mais nada. Algo
lhe dizia que o Capitão velaria por sua segurança.
Derek olhou para a porta fechada.
— Quer que eu leve a moça de volta para o porão, Capitão? — Murdock
quis saber.
Em outras circunstâncias, Derek diria que sim. Mas gostou da moça e
não via nenhum problema em mantê-la em sua cabine. Era uma deliciosa mulher
e precisava descansar depois do momento que partilharam. Algo lhe dizia que
Ravena não era uma mulher perigosa, havia certo aspecto inocente em seu olhar.
Nunca imaginou que estar com uma virgem lhe daria tanto prazer. Ela foi tão
receptiva, que ele achou melhor deixá-la em seu quarto, para usufruir o que era
oferecido, sem precisar ficar tirando a mulher do porão a todo o momento.
— Não é necessário, Murdock. Deixe-a dormir — respondeu, deixando o
marujo surpreso.
O Capitão subiu ao convés e respirou o ar frio da madrugada. Era hora de
partir.
— Homens! — gritou. — Levantem as âncoras! Içar as velas! Alinhem
as bujarronas!
Derek olhou para seus homens da proa à popa e sorriu satisfeito. Seu
olhar se voltou para o mar escuro à frente. Estava em casa.


Ravena despertou com um braço pesado sobre sua cintura. Piscou várias
vezes até se acostumar com o brilho do dia que penetrava pela janela. Há tempo
não via a luz do sol e sorriu para ela como se fosse o encontro de velhas amigas.
Sentiu a respiração em sua nuca. Derek Coleman estava deitado atrás dela, podia
sentir o corpo quente e grande. Um homem tão bonito e educado deveria estar
casado e com filhos, em uma linda casa, em Londres, e não preso a um navio,
levando prisioneiros para a América. Ele era um pirata apenas na aparência, em
seu íntimo escondia muito bem sua alma de um cavalheiro.
Riu de seu pensamento tolo.
Uma mulher do seu tipo, criada em uma família puritana, também
deveria estar casada e com filhos. Mas ela optou pela solteirice, foi livre em suas
escolhas e pagou um alto preço por isso. A amargura tomou conta de seus
pensamentos, não queria se sentir tão depreciada pelo destino, mas era
inevitável, era recente, levaria muito tempo até aceitar o que lhe fora imputado.
Ou talvez, nunca conseguisse. Ainda assim, preferia estar ali. Tinha certeza
disso. Nunca mais poderia encarar sua família ou voltar à sua casa.
Derek mexeu atrás dela cortando os pensamentos. Sua realidade era
aquela e tinha que se atentar a isso, esquecer o que ficou na Inglaterra.
A mão pesada subiu da cintura para o seio firme e redondo e ele o
acariciou, sentindo na ponta dos dedos a maciez deliciosa e todo seu desejo
inflamou. Ravena gostou da carícia tanto quanto do beijo que ele lhe deu na nuca
e seguiu por seu ombro. Não deveria desfrutar de tais sensações, ainda mais
depois da dor que ele lhe infligiu na noite anterior, mas algo mudara. Seu pudor
não tinha poder algum naquele momento, apenas as impressões que ele lhe
despertara comandavam. As barreiras de uma vida toda começaram a ruir ante a
condenação injusta e, agora, ao desfrutar de um ato carnal, toda sua moral se
encontrava abaixo de seus pés. Começava a compreender porque a religião
falava tão mal acerca do sexo: era bom, vicioso.
Ele a puxou, fazendo-a se deitar de costas. Tomou seus lábios e ela
deixou ser beijada, suas línguas se tocando, enquanto as mãos hábeis passeavam
por seu corpo. Descobriu-se, de repente, uma mulher lasciva, porque gostava de
ser tocada por Derek. Ele tocou o clitóris levemente, e ela gemeu contra os
lábios dele. Essa entrega inocente dela, o deixava louco de desejo, já estava
ereto.
Acariciou-a deixando que ela se acostumasse com aquelas sensações
novas. O corpo masculino nu, o calor tomando conta dela, Ravena se contorcia
debaixo dele, gemendo, apertando os ombros dele enquanto era beijada e
acariciada ao mesmo tempo. A ponta do dedo deslizava como uma tortura, e ela
começou a mover os quadris instintivamente, sem saber o que lhe ocorria, que
mágica era aquela que ele causava em seu corpo, a ponto de fazê-la perder a
razão e a coerência. Derek sorriu maldoso quando a viu segurar em seu braço
com força, os olhos verdes ficarem escuros e fechá-los, abrindo os lábios para
soltar gemidos fortes. Ele deslizou o dedo pela extensão feminina, molhada e
voltou a atenção para o ponto mais sensível do corpo feminino. Seu dedo
deslizou em movimentos circulares, e aumentou o ritmo, a torturando, deixando-
a sentir cada detalhe do prazer despertado em seu corpo imaculado.
A respiração dela ficou curta, o corpo anestesiado pelas emoções novas,
os nervos pareciam se esticar, não tinha controle algum sobre si e queria mais e
mais. Derek a viu gozar, jogando a cabeça para trás e gemendo alto e por fim
choramingando contra o peito dele, encolhendo o corpo, tentando fugir da
tortura que ele fazia com seu corpo.
Era grandemente delicioso vê-la ter seu primeiro orgasmo, a visão do
paraíso. Ele não se conteve, abriu as pernas e a possuiu. Embora, ainda
incomodada com a penetração, ela não sentiu dor, suas delicadas pernas o
abraçaram. Estava confusa com os efeitos que ele havia despertado em seu
corpo, era como se tivesse perdido a consciência por alguns instantes, foi
inexplicavelmente maravilhoso, insano, obtuso. Quando deu por si, Derek já
estava dentro dela, remetendo, erguendo o corpo para alcançar o mais profundo
dela, deixando-a querendo mais.
Ela sentiu que seu corpo respondia. Que o comprimia dentro de si a cada
estocada e queria que ele fosse mais fundo, mais fundo até que começou a perder
a consciência outra vez e se agarrou a ele, sentindo cada detalhe de seu corpo tão
masculino contra o dela. Derek remeteu com fúria, ferozmente, gozando tão
intensamente, que chegou a segurá-la com extrema força, marcando a pele
delicada.
Ele saiu de cima dela e gostou de ver o sorriso em seus lábios. Derek
tinha certeza que com o passar dos dias, ela também iria usufruir daqueles
momentos de intimidade. Havia muita química entre eles, e isso era um grande
benefício para ambos.
Quando voltou do convés, no fim da madrugada e a encontrou em sua
cama, se perguntou se não fora precipitado deixando-a ali. Mulheres podiam
confundir as coisas, principalmente, as virgens. Entretanto, Ravena era um tipo
de mulher diferente de todas que havia conhecido. E o fato dela se entregar a ele
em troca de conforto, não a desmerecia perante seus olhos. Fez bem em não a
deixar partir na noite anterior, ela continuava desempenhando bem seu papel de
amante, pensou satisfeito ao se levantar da cama.
— Estou morto de fome. — Ele comentou.
Constrangida, se virou para o lado e desceu da cama, ajeitando a camisa
amarrotada e os cabelos ondulados que deveriam estar completamente fora de
controle. Levantou-se, e se deu conta que estava praticamente nua, não podia
ficar vestida assim. Derek vestiu as calças e as botas e foi até a cadeira, pegando
o vestido que escolhera na noite anterior e entregando a ela.
— Pode usar isso...
Ravena pegou o tecido macio do cetim e agradeceu. Foi para trás do
biombo e se trocou rapidamente. O vestido era decotado demais e ela precisava
da ajuda dele para fechá-lo. Saiu detrás da tela e encontrou Derek sentado à
mesa, a camisa aberta, os cabelos soltos e selvagens. Ele a olhou de forma
interrogativa:
— O que foi?
— Poderia fechar para mim, por favor?
Ela lhe deu as costas e Derek fechou os botões com rapidez. Ele teve
vontade de beijar a nuca delicada, e o fez, experimentando o sabor de sua pele.
Ela se encolheu e sentiu o corpo arrepiar, rindo nervosa. Ele se afastou com um
sorriso de satisfação, voltando a se sentar diante da mesa de café.
— Obrigada. — Ela se voltou para ele, tentando puxar o decote para
cima, mas era impossível.
Não era estranho que um Capitão tivesse vestidos em seu baú, afinal, ela
não era a primeira e não seria a última mulher a entrar naquela cabine. Sentou-se
ao lado dele, com a mão espalmada sobre os seios, ele notou sua timidez.
Mesmo tendo experimentado do sexo e do prazer, ela não se vulgarizava, ainda
assim, se comportava como uma dama da sociedade, ele notou.
— Não se preocupe. Ninguém entrará aqui e a verá deste modo! — Ele
garantiu e ela ficou aliviada. — E se por acaso sair para o convés, sugiro que use
seu casaco por cima.
— Eu não sairei da cabine — garantiu colocando o guardanapo sobre o
colo e se servindo.
— A viagem é um pouco entediante, sabe ler?
— Sei...
Ele imaginava que sim.
— Dentro daquele móvel — apontou para trás dela e Ravena olhou
rapidamente. — Há livros.
— Obrigada, ocuparei meu tempo com eles. — Ela forçou um sorriso e
comeu o pão.
Intrigava o silêncio dela. Ravena não se interessava em saber nada sobre
ele. Pelo visto, não era uma mulher de se apegar fácil a ninguém e mesmo depois
da luxúria que haviam compartilhado, ela o olhava como se fosse algo normal.
Derek estava acostumado com as mulheres loucas por ele, ansiosas por mais. A
mulher à sua frente apenas cumpria o acordo, nada mais. Era muito estranho que
uma virgem agisse desse modo, geralmente, elas se lamentavam por sua
desgraça. Entretanto, Ravena não tinha tempo para lamúrias e se mostrava
indiferente. E isso era absolutamente estranho. Ela não era uma prostituta e tinha
bons modos, classe, sabia ler. Quem era ela? Perguntou intrigado. Por que
estava ali?
— Já saímos de Londres? — Ela quis saber.
— Sim... Ontem à noite. — Ele respondeu e a estudou por um instante.
— Saudades de casa?
— Nenhuma — assegurou. — Passei os últimos dois meses na prisão,
esperando ser banida.
— E qual foi o crime que cometeu para ser degredada para sempre? —
Não deveria investigar, mas ele não conseguiu evitar. Estava morto de
curiosidade.
Ela não viu motivo para esconder a verdade dele. Indiferente, respondeu
antes de tomar chá:
— Eu não quis me casar... — saboreou o delicioso chá e colocou a xícara
sobre a mesa.
Derek franziu o cenho e riu:
— Matou seu noivo?
— Não — fez que não. — Declinei um pedido de casamento, apenas.
— Foi condenada por que não aceitou um pedido de casamento? —
perguntou incrédulo. — Isso não é crime!
Ela assentiu. Depois de partilhar a cama com ele, falar sobre sua desgraça
parecia o menor dos males.
— Sempre tive a convicção de que seria uma solteirona e morreria assim.
Nunca consegui me ver presa a um casamento e ter filhos — contou com
sinceridade. — Sou a filha caçula depois de oito irmãos, que nunca viram com
bons olhos minhas escolhas. Meu pai morreu no último verão, eu morava com
ele e, então, meus irmãos decidiram me casar com um granjeiro de uma cidade
próxima e me recusei.
— Mas isso não é delito. — Ele insistiu, desacreditado.
— Eu sei. Depois de uma discussão acalorada com Geórgia, minha irmã,
durante o jantar, estranhamente perdi os sentidos, acordei dentro de uma prisão.
Durante dias não me disseram o que ocorria, mas eu já imaginava.
— Eles a drogaram. — Ele concluiu.
— Sim. E fui levada diante do juiz que é ninguém menos que meu irmão
mais velho, Vincent. Fui condenada com uma mentira, fui acusada de tentar
matar minha irmã naquela noite, me fizeram passar por louca. Como castigo me
deram o banimento.
Derek achou aquilo impossível, embora não duvidasse da atrocidade
humana, custava acreditar que uma família poderia causar tamanho mal a um
membro porque ela apenas se recusara a aceitar um pedido de casamento. Ela
passaria o resto da vida dentro de um calabouço, obrigada a fazer trabalhos
forçados, somente porque desejou ser uma mulher livre.
— Pensei que já tivesse visto de tudo nesta vida, mas me enganei
imensamente.
— Durante algum tempo tentei compreender o que realmente estava
acontecendo. Entretanto, depois, não fez mais diferença. Eles apenas me
castigaram porque eu não deixei minhas convicções de lado.
— Sinto muito, Ravena.
— Por favor, não diga isso. — Ela pediu. — Não quero que sinta pena de
mim, não contei minha história para me queixar.
— Não sinto piedade por seu destino. O que me incomoda é a hostilidade
de sua família... A que ponto as pessoas chegam por nada...
Eles se encararam. Ravena pensou que além de bonito, o Capitão era
muito humano para um pirata que saqueava navios. Não estava arrependida de
ter sido ele o homem para quem se entregara, ao contrário, aqueles momentos
estavam sendo mais intensos do que toda a sua vida.
— O senhor me surpreende com suas palavras. — Ela observou.
— Por quê?
— Nunca pensei que a vida me brindaria com alguém tão humano para
compartilhar tais momentos — falou com certo recato.
Ele a encarou e sentiu uma vontade imensa de tomá-la novamente. Derek
se aproximou dela lentamente até tocar os lábios tão femininos. Ravena o
recebeu e sentiu o calor pelo corpo e correspondeu com a mesma paixão. Estava
gostando de ser beijada por ele, os lábios dele tinham um sabor tão forte, ela
jamais se esqueceria daquele detalhe, do forte desejo que ele provocava nela
com o simples toque de sua língua.
Derek puxou a cadeira dela para mais perto, num movimento brusco, em
deixar de beijá-la. Ravena se sentiu tomada por uma febre incomum, um ardor
no meio das pernas, uma ansiedade que fazia seus seios ficarem pesados. Derek
enfiou a mão no decote e puxou o seio para fora. Deixou os lábios para tomar o
bico, chupá-lo, roçá-lo com a língua, mordê-lo levemente. Ravena entrelaçou as
mãos em seu cabelo, se segurando a ele.
Sentiu a mão deslizar por sua saia, puxando-a para cima, os dedos
marcando cada centímetro de sua perna delicada. Ofegou quando ele novamente
alcançou seu clitóris e o massageou, sem deixar de lamber seu seio. Era como
uma dança erótica, ela jogou a cabeça para trás, recostando o corpo no encosto
da cadeira. Derek sugava seu seio com força, enquanto os dedos se afundavam
nela e se moviam de forma rítmica.
Ravena respirou fundo e sentiu algo queimar em seu ventre e subir pelo
corpo. Ela sabia que aquela sensação nova tomava conta de seu corpo outra vez
e abriu as pernas para senti-la totalmente, abandonada, entregue. Derek
aumentou o ritmo até que ela gozou. Ele afastou os lábios dos seios macios para
vislumbrá-la revirando os olhos desesperada pelo gozo.
Ela se encolheu novamente, quando ele seguiu movimentando dentro
dela e segurou o pulso dele, fazendo rir de satisfação.
— Pare... — Ela implorou, ofegante.
O coração dela parecia bater dentro dos próprios ouvidos.
— O que é isso que aconteceu comigo? — perguntou, enquanto ele
abaixava sua saia delicadamente, deslizando os dedos na pele macia.
Ele a fitou com os olhos carregados de desejo:
— Chama-se gozar. É a sensação mais plena do prazer que existe durante
o sexo — explicou.
Ela assentiu enquanto ele se afastava, ainda tonta.
— Agora, entendo — falou bebendo do chá para molhar a garganta seca.
— O quê? — Ele franziu o cenho se recompondo.
— Por que a igreja fala tão mal acerca do sexo — respirou fundo. — Faz
com que a gente deseje mais...
Batidas soaram à porta. Derek sorriu para ela antes de se levantar e abrir
a porta e falou com alguém. Fechou em seguida e se voltou para Ravena:
— O dia começando no mar. — Ele falou abotoando a camisa.
— Algum problema?
— O de sempre... Piratas... Tempestades... Alguma tentativa de fuga ou
rebelião. — Ele explicou sem salientar nada.
— Por que alguém tentaria fugir em pleno alto mar? — Ela estranhou.
— Faço a mesma pergunta todas as vezes que um dos prisioneiros tenta
fugir. Eu poderia deixá-lo morrer afogado ou ser comido pelos tubarões, seria
uma boca a menos para alimentar, mas ganho por cabeça que chega viva do
outro lado do oceano. — Ele explicou. — Tenho tripulantes à espera de um
gordo salário quando a viagem acabar.
— Compreendo... — limitou-se a dizer.
— Caso precise de algo, estarei no convés, ou pode pedir a Murdock, ele
está sempre andando para lá e para cá! — Ele afivelou o cinto com a espada e a
arma, vestiu o casaco de couro e prendeu os cabelos. — É ele quem faz a comida
por aqui, vai vê-lo bastante além de mim.
— Está bem...
Ele acenou com a cabeça e se retirou sorrindo por saber que ela queria
sentir prazer nos braços dele novamente. Seria uma viagem e tanto, concluiu, e
subiu para o convés assoviando.
Ravena olhou para a porta fechada e depois para o restante da cabine.
Estava uma bagunça, roupas jogadas para todo o lado, papéis espalhados. Talvez,
pudesse organizar tudo, tomaria seu tempo já que não havia muito que fazer.
Quando Murdock veio lhe trazer a refeição, ela lhe pediu uma vassoura.
— O quê? — Murdock franziu o cenho. — A senhorita quer uma
vassoura?
— E linha e agulha, por favor. — Ela pediu. — E água...
— E por que iria querer isto? — O homem perguntou severo levando a
bandeja com comida para a mesa, no centro da cabine.
— Ora, para limpar aqui e fazer alguns remendos nas roupas — explicou.
Ela havia colocado o horroroso casaco por cima do vestido. Mas até ele
precisava de alguns consertos para melhorar sua aparência. Não que ali fizesse
diferença se estava bonita ou feia, mas queria esconder o seu corpo o máximo
para não atrair a atenção de nenhum outro tripulante. A última coisa que
precisava era ser estuprada por eles. A simples ideia lhe causava náuseas.
— A cabine, eu limpo. — Ele a cortou grosseiramente.
Estava um caos, mas ela mordeu o lábio para não dizer nada. Ele era um
péssimo faxineiro.
— Tudo bem. E a linha e a agulha? — insistiu.
— Vou ver o que consigo — respondeu de má vontade.
Murdock se aproximou da cama e pegou os lençóis jogados no chão para
lavar. Seus olhos se arregalaram quando viu as marcas de sangue, lançou um
olhar furtivo para Ravena, que lhe deu as costas, constrangida. Em silêncio, ele
deixou a cabine, fechando a porta, sem bater desta vez.
Ravena controlou seus pensamentos, tentando raciocinar como a mulher
livre que era agora. Ninguém mais poderia condená-la ou tomá-la por leviana.
Era apenas uma prisioneira desconhecida, amante do Capitão e naquele navio ou
nas Treze Colônias ninguém se interessaria por este tipo de fofoca. Foi almoçar e
depois guardou tudo que estava fora do lugar. Apenas não mexeu na mesa
enorme que havia do outro lado, apinhada de papéis. Temia atrapalhar a bagunça
organizada de seu amante.
Suspirou.
Ravena Bryant, a solteirona de Burford, Oxfordshire, tinha um amante. E
por sinal, um belo amante... Jamais imaginou que tamanho infortúnio poderia lhe
roubar um sorriso.


O sol desaparecia no horizonte avermelhado, a Inglaterra ficara para trás
e o vento frio do Norte soprava, empurrando o navio para mais longe, para o
oeste. Derek respirou satisfeito depois de um dia todo de trabalho, o som do
ranger do navio enquanto quebrava as ondas era uma melodia perfeita para ele.
Quando desceu para a cabine logo após anoitecer, estava exausto, os primeiros
dias no mar eram cansativos, até encontrarem a corrente certa para adiantar a
viagem.
Encontrou Ravena deitada na cama, lendo. Ela se levantou depressa e
deixou o livro de lado. Ela era um alento para seus olhos, e saber que logo a
tomaria para si, já o excitava, o cheiro dela ainda estava impregnado em sua
pele. Tivera sorte por encontrar uma parceira para sua cama tão aprazível e que
até agora parecia bem-disposta a agradá-lo, mesmo sendo inábil. Aliás, a
inexperiência dela era algo novo e revigorante para ele.
— Vejo que encontrou algo para se distrair. — Ele comentou tirando o
cinto e colocando sobre a mesa do outro lado da cabine.
— É um diário sobre viagens marítimas — comentou. — Uma novidade
para mim, apesar de já ter viajado pelo mar, nunca pensei que haveria tantas
histórias para contar.
— Há muitas. — Ele observou jogando o casaco de lado e voltando-se
para ela. — Eu já vivi inúmeras.
— Está há muito tempo no mar?
— Desde os meus dezesseis anos — contou se aproximando dela. —
Quando decidi que seria um Capitão, como o meu pai foi. A diferença era que
ele trabalhava para o rei inglês.
— Deve ser uma vida muito interessante. — Ravena voltou a se sentar na
cama, enquanto ele se servia de alguma bebida.
— Eu gosto — admitiu enchendo o copo de uísque. — Não saberia viver
de outra forma...
— Conhece o mundo todo?
— Desde as Américas até a China, Nova Gales do Sul... A Costa
Africana...
— Conhece a Índia? — perguntou interessada.
— Sim.
— Deve ser um lugar maravilhoso. — Ela deu um sorriso sem perceber e
seus olhos brilharam. — Sempre quis conhecer a Índia. Li muito sobre eles e
suas medicinas naturais...
— Medicina naturais? — Ele ficou curioso.
— Meu pai era médico e acreditava que as plantas curavam, mais do que
qualquer outra coisa. Ele era um estudioso e tinha diários falando sobre o
assunto. Aprendi muito com ele.
— Interessante... — Ele disse e sorveu a bebida.
Estava diante de uma mulher que possuía conhecimento. Notou que não
se limitariam apenas a troca de prazer na cama, poderiam manter um diálogo
saudável e inteligente. Seria uma viagem interessante.
— E o que teria feito se ainda estivesse na Inglaterra? — Ele quis saber.
Sem perceber, Ravena empolgou-se com a conversa.
— Com a morte de meu pai, eu tinha planos de me mudar para Londres e
levar seus estudos para um amigo seu, professor em Oxford — relatou com certo
entusiasmo. — E depois, eu desejava realmente viajar e ir até a Índia, conhecer
novas culturas.
— Sozinha. — Ele pontuou.
— Absolutamente. Talvez algum amigo desejasse me acompanhar nessa
jornada, mas tenho minhas dúvidas — acolheu. — Afinal, os ingleses costumam
se preocupar em demasiado com sua honra e a reputação de uma dama —
completou com ironia. — E as senhoritas ocupadas em manter sua honra para os
senhores, nenhuma delas está preocupada com viagens, e sim com casamentos...
Derek pensou que se a tivesse conhecido em outras circunstâncias, antes
que a família a destruísse e a condenasse, ele teria lhe dado uma carona até a
Índia. Seria um prazer ter em seu navio uma mulher que não se importava com
convenções e estava disposta a viver o que desejava. Caso os fatos em suas vidas
tivessem acontecido de outra forma entre eles, Derek jamais lhe proporia que
fosse sua amante e sim... Ele interrompeu o curso de seus pensamentos. O que
estava fazendo?
— Não se importava com a sua reputação? — Ele a questionou.
— Sempre tentei fazer o meu melhor, não vulgarizar o nome de minha
família. Entretanto, isso não me ajudou em nada. Não pude querer ser solteira.
Eles queriam que eu me casasse e me rejeitaram quando não o fiz.
— Seus valores mudaram após sua condenação — concluiu.
— Está certo. Não vejo muita vantagem em manter minha decência,
agora...
— É mais decente do que imagina. — Ele disse parando diante dela.
Ela ficou inibida diante do elogio:
— Está sendo um cavalheiro...
— Não. — Ele fez que não, sério. — Estou sendo sincero.
— Mesmo assim, tem me tratado com a devida educação. O senhor tem
certo ar de superioridade tão comum nos nobres ingleses...
Ele não gostou que ela notasse tanto sobre ele. Ravena viu os olhos
ficarem escuros como uma tempestade e sentiu que havia tocado em um ponto
delicado da vida dele, sinal, que ela não errara em seu julgamento. Mas não
pediria desculpas por ser uma mulher perspicaz.
— Fique tranquilo, Capitão. — Ela disse com ironia. — Não vou
comentar com ninguém minha conclusão. Mesmo quando tomar chá com minhas
amigas — debochou.
— Não estou preocupado que o faça. — Ele sentiu sua barreira ruir
diante daquele súbito bom humor com o qual ela o brindou.
Ela desviou o olhar incomodada com a intensidade do desejo que viu nos
olhos dele. Chegou a sentir o coração acelerar.
— Então, decidiu se tornar um pirata para ir contra os ideais patrióticos
de seu pai? — Ela quis saber.
Ele meneou a cabeça, colocou a bota sobre a cadeira e apoiou o braço na
coxa para encará-la.
— Não, exatamente. — Ele não viu problema em dizer-lhe a verdade. —
Quando fui ao mar, eu desejava ser como meu pai foi, fazer parte do exército
britânico, derrubar navios inimigos, fazer história. Então trabalhei para a Coroa e
em minha primeira viagem vi o Capitão Runner infligir tortura aos prisioneiros e
tripulantes de forma aterradora — falou sério. — Não era um castigo por
desobediência, eram atos de violência gratuitos.
— Pensei que os piratas gostassem de violência! — comentou com
sarcasmo.
Ele a encarou friamente:
— Uma coisa é lutar por sua sobrevivência, outra é se tornar um
assassino sanguinário sem limites — argumentou. — Não acredito que exista
prazer na morte de um inocente. Então, na metade da viagem. — Ele continuou a
contar. — O mesmo capitão tomou um navio pirata com mais de duzentos
tripulantes e prisioneiros. — Sua voz era sombria. — Ele os prendeu no porão e
afundou o navio com tiros de canhão...
— Oh! Deus! — Ela ficou horrorizada.
— Foi quando decidi ter meu próprio navio e não ser como os que se
consideravam da “lei” — finalizou sua história. — Há mais honra em ser um
pirata do que um homem que se diz nobre, mas não conhece a verdadeira
nobreza.
Ravena engoliu em seco diante de tanta determinação.
— É um ato corajoso pensar desta forma no meio de tanta gente ruim. A
maioria dos piratas não tem esse pensamento.
— Como eu disse, sou piedoso com inocentes, apenas — falou sem
rodeios e ela sentiu um frio na espinha ao imaginar aquele homem enfiando a
espada em seus inimigos sem piedade.
Murdock entrou sem bater, interrompendo a conversa. O grande marujo
trazia o jantar. Colocou a bandeja sobre a mesa e jogou um pequeno saco de
pano no colo de Ravena, virou-se, e saiu batendo a porta com força.
— O que é isso? — Derek quis saber.
— Linha e agulha. — Ela sorriu satisfeita ao tirar os pequenos objetos.
— Pedi a ele, para poder arrumar minha roupa. Espero que não se importe,
preciso costurar o casaco — encolheu os ombros.
— Não haverá problema algum — declarou. — Mas há casacos no baú,
pode usá-los.
— Obrigada — agradeceu com um leve sorriso. — Vi que algumas
roupas suas precisam de conserto, posso fazê-los se quiser — ofereceu.
— Seria bom — concordou satisfeito por vê-la procurar o que fazer. —
Agora, vamos comer, estou morto de fome...
Jantaram em silêncio. Ela não conseguia deixar de pensar que teria que
entregar seu corpo a ele mais uma vez e que sentiria dor, isso a deixava ansiosa,
por isso, acabou comendo pouco. Um tempo mais tarde, Derek a ajudou a se
livrar do vestido, e ela deixou o tecido descer por sua pele até cair no chão.
Ainda sentia vergonha, então, manteve-se de costas, nua, ouvindo apenas os
movimentos dele tirando a própria roupa. Fechou os olhos e fez uma prece, que
ao menos desta vez fosse suportável.
Derek vislumbrou as nádegas macias, as pernas longas e os quadris
largos e excitou-se. Ela era linda. Abraçou-a por trás, acariciando os seios
intumescidos, os dedos escorregando para o bico eriçado, experimentando da
pele de seus ombros, deixando que ela sentisse a virilidade dele. Beijou o
delicado lóbulo da orelha, arrastou a língua por sua pele até alcançar os lábios e
beijá-la. O toque da língua frágil na sua, o excitou profundamente. Ele a fez
ajoelhar-se na cama e empurrou seu tronco para frente, fazendo-a apoiar as mãos
sobre o colchão. Nenhum homem podia passar por esta terra sem vislumbrar
uma mulher nua naquela posição. Aquela visão era tentadora e ele a tomou,
possuindo-a com prazer selvagem.
Desta vez, Ravena não sentiu incômodo algum, ao contrário, o corpo
queimava com o dele e a cada estocada, era como se explodisse em mil fagulhas.
Fechou os olhos, acompanhando o ritmo que ele lhe infligia sem a menor
dificuldade. Recordou-se daquela manhã e de tudo que ele havia lhe
proporcionado e aos poucos, seu corpo já não lhe pertencia mais. Era de Derek.
E foi dele mais uma vez, antes de dormirem abraçados, fugindo do frio. Ela não
pôde deixar de pensar nos prisioneiros no porão. E não se sentiu culpada por não
estar com eles.


Os primeiros dias transcorreram com tranquilidade, e Derek estava
satisfeito com o fato de o mau tempo estar empurrando o navio com mais
velocidade. Logo chegariam ao porto de Boston e faria a viagem de volta para a
Inglaterra, receberia seu pagamento e desaparecia nos mares mais uma vez.
Nada de prisioneiros, nada de ser escravo da coroa. Jamais seria um corsário,
tinha alma livre.
Sabia que o perseguiriam, tornar-se-ia inimigo dos ingleses, mas não
planejava voltar aos mares europeus durante muitos anos. Havia muito que
explorar pelo mundo e ele estava disposto a desbravar outros oceanos, novos
comércios, pessoas que não o conheciam.
No início da noite fria, quando a maioria dos tripulantes já estavam em
seus dormitórios, e apenas alguns vigiavam a calmaria no mar, Ravena subiu ao
convés, receosa. Demorou alguns dias até tomar coragem e sair da cabine,
abraçando o próprio corpo. Sentia falta de luvas, pensou com saudade, sempre
adorou luvas. Havia se acostumado muito rapidamente com a clausura e parar
diante do parapeito e olhar o mar lhe causou uma sensação de liberdade. Havia
nas ondas certo romantismo fascinante e ela suspirou, apaixonada pela paisagem
que se estendia.
Olhou para cima e viu um dos marujos pendurados nas cordas e levou a
mão ao peito, desviando o olhar rapidamente. Tinha medo de altura e jamais
poderia tentar algo tão perigoso.
— Resolveu sair da cabine...
A voz de Derek já era familiar. Ela se voltou para ele com um leve
sorriso. Ele se colocou ao lado dela, os cabelos soltos ao vento, aquele porte de
homem viril que ela já admirava.
— Sim — ajeitou o novo casaco de um marrom profundo, que ele havia
lhe dado aquela manhã, escondendo o vestido que ele lhe dera, tentando ficar
invisível aos olhos dos marujos.
Embora fosse impossível, Derek sabia que a beleza de Ravena era uma
dádiva sob a luz da lua. Ele sentiu-se atraído por ela desde o primeiro instante
em que a viu, não poderia culpar seus homens se a admirassem, mesmo que tal
pensamento o incomodasse. Em outras circunstâncias, ele lhe daria roupas
novas, teria prazer em vê-la arrumada para ele. Com certeza, a levaria as
melhores costureiras de Paris, mas sem dúvida, teria prazer em vê-la com um
Sári de tons vermelhos que a deixariam mais bonita. Não conseguiu deixar de
imaginar o tecido frio roçando seus dedos enquanto o tirava dela, os olhos verdes
passeando cheios de luxúria sobre ele...
Ela disse algo sobre a noite estar bonita, trazendo de volta à realidade.
— A noite está bonita, mas logo teremos uma forte tempestade... — Ele
comentou.
Ela o olhou temorosa:
— Como sabe?
— Os ventos... — Derek respirou profundamente. — Posso sentir o
cheiro da chuva.
Ela riu do exagero dele.
— O navio corre algum risco?
— Sempre corremos, mas Savage já enfrentou tempestades terríveis e
sobreviveu.
Seus homens subiram segurando mais um corpo e lançaram ao mar. O
coração de Ravena encolheu. A chegada do frio também trazia a morte para o
barco.
— Uma semana ao mar e eles não aguentam. — Derek falou ríspido.
— Eu gostaria de ajudar. — Ela o encarou.
— Ajudar? Quer ficar carregando os corpos dos mortos? — perguntou
debochando dela.
Ela sorriu e o fitou de soslaio, antes de dizer:
— Não. Trabalhei com meu pai durante toda a minha vida e posso tentar
diagnosticar o que lhe acometem. — Ela ponderou.
Derek olhou para o corpo que afundava no mar e depois para ela:
— Não temos remédio suficientes para todos — informou. — Aliás,
duvido que encontre algo que realmente possa salvá-los. É assim todas as
vezes...
— Há quanto tempo faz este tipo de viagem? — Quis saber se
encostando à murada.
Ele apoiou a mão ao lado da cintura dela.
— Há quase dois anos, desde que meu navio foi capturado pelo Exército
Inglês — contou e respirou fundo. — Foi muito azar.
— E segue vivo?
— Sim...
— Como?
Ele não queria contar a verdade. Não havia necessidade de se gabar do
motivo que o salvou.
— Eles me ofereceram este serviço e aceitei — respondeu simplesmente.
Mas Ravena sabia que havia mais por trás daquelas palavras. Não ia
forçá-lo a falar, então, retomou o assunto anterior.
— Eu verei o que posso fazer pelos prisioneiros — conjecturou. — Com
certeza não será muito, mas talvez, consigamos evitar algumas mortes. Claro,
caso não se oponha.
— Menos mortes, mais dinheiro. — Ele avaliou. — Eu permito.
Ela sorriu, satisfeita e Derek correspondeu ao seu sorriso, sem notar.
Ajudando os prisioneiros, Ravena ocuparia seu tempo cuidando dos
doentes, aguardando a chegada de Derek para as noites. E a cada uma delas
deliciava-se com a companhia do Capitão. Ele era inteligente, um amante
excelente, e lhe ensinava algo diferente, e ela, permitia-se viver, como nunca
antes. Era estranho como se adaptou aquela vida que aos olhos de sua família
seria considerada infame. De repente, se perguntou se seria uma bela prostituta
em outras circunstâncias e, embora o tempo ali vivido fosse curto, tinha certeza
que não se entregaria a outro homem que não fosse Derek.
Assustou-se diante de tal conclusão, mas sabia que era verdade. Era
óbvio que a aparência do Capitão a ajudou a tomar aquela decisão e jamais teria
aceitado tal proposta se o pirata em questão fosse um homem repugnante.
Derek segurou sua mão e ela estremeceu.
— Vamos descer para a cabine — propôs com os olhos brilhando
maliciosos.
— Claro...
Concordou e deixou que ele a guiasse. Ela não notou os marujos sorrirem
um para o outro, apontando o casal bonito que desaparecia dentro do navio. Seu
olhar estava preso nos ombros largos de Derek e na ansiedade de entregar-se a
ele novamente.
Ele abriu a porta para que ela entrasse e Ravena agradeceu, se deparando
com uma banheira com água fumegante no meio da cabine. Fitou o capitão com
curiosidade.
— Pedi a Murdock que preparasse um banho...
— Nós dois? — Ela riu.
— Sim. — Ele sorriu também e tirou a camisa. — Você vai gostar...
Ela encolheu os ombros, e começou a abrir os botões do casaco, mas ele
apressou-se e tirou as mãos dela.
— Eu faço isso — falou com charme e piscou para ela.
Ela deixou, ainda um tanto constrangida, mas seguiu olhando para ele e
tentando ficar tranquila.
— O que foi? — Ele lhe ofereceu um sorriso atraente.
— Não estou acostumada com tanta intimidade — disse a verdade.
Derek empurrou o casaco para o chão e a fez virar para abrir o vestido.
Abaixou-se para dizer ao ouvido dela:
— Fico lisonjeado em ser o primeiro em tudo, senhorita. — E riu.
Ravena sentiu o corpo arrepiar e sua respiração ficou pesada quando os
lábios dele tocaram o lóbulo de sua orelha e as mãos experientes tiravam seu
vestido. Estava nua novamente. Soltou um gritinho quando ele a pegou no colo e
então a beijou, levando-a até a banheira.
Ela se entregou ao beijo e seus pés tocaram a água morna, era gostoso
sentir a língua dele contra a sua. Derek a depositou dentro da banheira e
continuou a beijá-la, enredando as mãos pelos cabelos dela, a fazendo sentir todo
o ardor que nascia dentro dele. Ele se afastou o suficiente para tirar as botas e a
calça, o semblante carregado de desejo. Ravena não conseguia tirar os olhos de
cima dele, totalmente maravilhada com a beleza de seu amante.
Derek entrou na banheira e segurou o rosto dela entre as grandes mãos,
passando o polegar pelos lábios delicados.
— É a mulher mais linda que já conheci — falou.
Ela não o questionou. Mesmo que fosse mentira, era tão bom ouvir um
elogio, ela pensou. E diante das circunstâncias, tinha o direito de acreditar no
que quisesse. E ela acreditava que era a mais bela e desejável mulher.
E sem ter certeza, era. Derek realmente a desejava da forma mais
primitiva que concebia seu ser. Havia algo em Ravena diferente. Não apenas na
beleza, mas a força do desejo que ela lhe causava. Não se lembrava de ansiar
tanto por uma mulher. Ele voltou a beijá-la, sentindo o corpo delicado contra o
seu, deixando sua ereção esfregar no ventre liso. Controlando sua excitação para
não a possuir de imediato, ele se afastou e abaixou dentro da banheira, a
puxando em seguida.
Ele a fez se sentar por entre suas pernas, as costas delicadas contra o seu
peito largo e pegou o sabão que cheirava à lavanda, esfregando em suas mãos.
Ela o olhou por cima do ombro:
— O que vai fazer? — perguntou, curiosa.
— Já vai ver, querida... — sussurrou em seu ouvido.
Derek deixou o sabão sobre a haste e tocou os ombros dela, descendo
para os seios e os acariciando, a fazendo gemer de prazer. As mãos deslizaram
até o meio das pernas e os dedos tocaram o botão de seu desejo, a deixando
débil. A combinação da água fresca e do toque quente era perfeito, e ela não
desejava que ele parasse. Ele interrompeu a carícia e com um movimento brusco
a virou para ele. Ravena ia protestar, mas sua boca quente foi silenciada pela
dele e a água se moveu em volta dos corpos para que ela se sentasse sobre ele.
Ela inclinou o pescoço para que ele o tomasse e segurou em seus ombros,
querendo que ele perdesse o controle e a tomasse.
E assim foi. Derek a penetrou de uma vez, lhe tirando o fôlego, fazendo
com que a água escorresse para fora da banheira a cada movimento. Ravena
movimentou os quadris, alucinada e quando pensou que não fosse possível, seu
corpo queimou de prazer e ela o arranhou e mordeu. A respiração forte em busca
de ar para o próximo movimento mais intenso e grave. E esqueceu que era uma
prisioneira e ele um capitão, e que logo o conto de fadas acabaria.


Na manhã seguinte, Ravena desceu para o porão. Foi apresentada ao
tripulante Johnson, responsável por cuidar dos prisioneiros. Um homem baixo e
franzino, mas muito ágil com facas e armas. Conhecido como “Tubarão” pelos
companheiros de trabalho, ele disse a Ravena exatamente o que faziam: como
alimentava aquelas pessoas e o tratamento que recebiam. Ela sentiu como se
estivessem falando de porcos e não de mais de uma centena de pessoas.
— Agora, depois das primeiras mortes, temos cento e duas pessoas entre
homens, mulheres, crianças. — Ele explicou a ela antes de entrarem.
— E por que mandam tantas pessoas para um espaço tão pequeno? —
perguntou curiosa. — É ordem do Capitão?
Ele riu mostrando os dentes podres.
— Não, senhora. É a coroa quem decide tudo — esclareceu. — E desta
vez é menos gente, geralmente eles mandam o dobro.
Ela ficou chocada com tamanha desumanidade.
— E como fazem, quando há tantas pessoas? — prosseguiu olhando para
a porta trancada com cadeado.
Johnson resignou:
— Temos que apenas levar, não dá para fazer duas viagens — falou e se
aproximou da porta para abrir o cadeado.
O cheiro que vinha lá de dentro era podre e ela levou o lenço ao nariz e
respirou, tentando controlar o estômago que queria revirar.
— Não pode deixar essa porta aberta? — inquiriu. — Poderia correr o ar,
seria mais saudável...
— É perigoso, madame. Eles poderiam fazer uma rebelião e tomar o
navio, matariam a todos nós — contou. — Isso aconteceu com o navio do
Corsário Adam Tooler, no ano passado, foi uma tragédia. Eles mataram os
tripulantes e quando se aproximaram da costa das Treze Colônias foram abatidos
pelo navio da Coroa. Alguns tentaram fugir em botes, mas foram presos ao
chegar ao litoral. Ou seja, não foi bom para ninguém.
Antes de abrir a porta, ele disse:
— Sei que conhece muitos dos que estão aqui dentro, madame. Mas
nunca entre aqui sozinha, é muito perigoso, sempre espere um dos homens do
Capitão — aconselhou. — A nossa presença inibe a ação de homens ruins.
— Obrigada, senhor Johnson. Acatarei sua advertência.
Ele assentiu e abriu. Ravena enganou-se ao imaginar que não poderia
ficar pior o cenário lá dentro. Os prisioneiros estavam presos às amarras no chão
e nas paredes do porão, todos sentados sem qualquer conforto. O cheiro era
podre, uma mistura de dejetos e lixo. Ninguém merecia permanecer em um lugar
como aquele.
Johnson lhe contou que uma vez ou outra, os marinheiros vinham e
jogavam água para levar a sujeira, mas o odor permanecia mesmo depois de
seco, as pessoas também fediam. Ravena agradecia aos céus por não estar ali, a
comida era pouca, tomavam sopa duas vezes por dia e quando Murdock se
animava, havia pão. Era normal que a falta de uma alimentação melhor os
fizesse adoecer, além do frio horrível que passavam todas as noites.
Depois de mais de uma semana de viagem, as pessoas acostumavam-se
ao cheiro, mas ela não. Olhou ao redor para o caos em meio a lamentos e
gemidos e voltou-se para Johnson. Entretanto, não eram todos os condenados
que podia ajudar, afinal, não havia remédios que pudesse salvá-los de uma
simples febre que com certeza os mataria em poucos dias.
— Embora seja impossível tirar os doentes daqui — observou de forma
suave. — Será que o Capitão permitiria que eles fossem isolados em um canto
do porão?
— Acredito que sim, madame.
— Seria mais fácil, se eu os examinasse separadamente...
Felizmente, Derek não se opôs ao pedido de Ravena e aquele simples ato
fez com que prisioneiros sadios não fossem contaminados pelos doentes.
— Não quero que esta prostituta me toque! — Uma senhora gritou
quando Ravena abaixou-se para examiná-la.
Seu nome era Ada James, condenada por cuspir no reverendo Hoope e
acusá-lo de ser o filho do demônio. Johnson e outros dois marujos se
aproximaram e Ravena fez sinal indicando que estava tudo bem. Ela não
esperava sofrer aquele tipo de retaliação por parte de uma prisioneira.
— Sei que deve ser difícil para uma senhora tão distinta e íntegra
conviver com uma mulher da minha estirpe... — usou o sarcasmo como arma
contra a hipocrisia.
— Todo mundo sabe que se tornou amante dele por causa de um pedaço
de pão! É uma prostituta imunda e levará todo esse navio ao pecado. E a sua
sentença será a morte e a condenação ao inferno!
Ravena não podia acreditar que falavam dela e de Derek.
— E a senhora que foi condenada ao exílio deve se sentir no direito de
me julgar — comentou com ironia.
— Pelo menos não vendi meu corpo para o demônio! — argumentou
com repulsa.
Ravena levantou-se, e a encarou:
— Não me importo com sua opinião, senhora. Mas deveria se preocupar
com a ferida em sua perna — apontou para a lesão. — Caso não cuide e piore
terá uma gangrena e pode perder a perna e até a vida...
— Prefiro morrer a deixar uma imunda me tocar! — A mulher gritou
atraindo a atenção de muitos.
— Como quiser... — afastou-se e foi dar atenção a Mary Allen. — Como
se sente minha amiga?
— Estou bem, apenas cansada... Não ligue para eles, Ravena, estão com
inveja de você. — Mary Ellen lhe disse e tossiu um pouco.
— Eu não ligo. — Ravena se ajoelhou diante dela. — Já fui julgada,
Mary. Nada do que eles digam ou pensem pode ser pior do que a corte inglesa
fez.
— Você é uma boa moça. — Mary lhe sorriu e tocou a mão de Ravena.
Quando Mary Ellen moveu o braço, a jovem viu sangue em ambas as
mangas da blusa. Aquilo não era um bom sinal. Uma moça gemia um pouco
mais adiante:
— O que ela tem? — Mary Ellen quis saber. — Gemeu a noite toda,
pobrezinha.
— Está grávida e o bebê parece estar querendo vir mais cedo. — Ravena
disse com pesar. — Espero que ela aguente chegar em terra firme, nessas
condições, talvez um recém-nascido não sobreviva — murmurou.
— Acredito que muitos de nós não vai terminar essa travessia, minha
querida.
Ravena não queria falar sobre coisas negativas, especialmente estando
Mary Ellen tão doente.
— Logo chegaremos e uma nova vida começa, não é?
— Nova vida... — Mary Ellen riu com deboche. — Vamos para o
inferno.
— Prefiro não pensar nisso. — Ravena assegurou.
— Sente falta de casa?
— Não e você?
— Todos os segundos... Eu queria apenas poder abraçar meus netos e rir
com eles mais uma vez... — Ela respondeu esperançosa e terminou de tomar a
sopa.
— Para isso precisa se cuidar, Mary. Sete anos passam voando e logo
estará em casa.
— Acha mesmo que conseguirei voltar? — A mulher perguntou com
esperança no semblante doente.
— Claro que sim, minha amiga. Não acredita em milagres?
— Vendo-a com esse sorriso no rosto e tamanha felicidade, acredito em
qualquer coisa — observou e Ravena não compreendeu.
— Impressão sua...
— Há uma semana a senhorita não sorria como se tivesse visto
borboletas azuis.
— Borboletas azuis? — riu disso e negou com a cabeça. Ela jamais vira
uma borboleta azul. Ela se levantou. — Se cuide, Mary. Voltarei amanhã.
— Ravena. — Mary a chamou e ela voltou. — Não há nada de errado em
se apaixonar...
Ravena assentiu:
— Descanse — pediu e caminhou entre os prisioneiros para fora do
porão. — Senhor Murdock. — Ela chamou pelo marujo ao cruzar com ele no
corredor.
O homem alto e robusto voltou-se para ela com o olhar de poucos
amigos, mas ela não se intimidou.
— Eu gostaria de saber se o senhor tem em seu estoque mais ervas para
fazer chá, alguns dos prisioneiros estão ficando doentes, ajudaria a aliviar...
— Não... — Ele virou-se, mas ela o chamou novamente. Murdock fez
uma careta e virou-se novamente. — O que foi agora?
— É que eu vi vários sacos de trigo fechados em sua cozinha... — Ela
deu um passo para ele. — Eu poderia ajudá-lo a fazer mais pão e completar as
sopas. Para que os prisioneiros se alimentassem melhor... — justificou.
— Alimentar os prisioneiros melhor? — zombou. — Não quer lhes servir
o chá das cinco?
Ela controlou-se para não lhe dar uma resposta à altura.
— Eles são seres humanos, senhor — falou firme. — E deve tratá-los
como tal — repreendeu-o. — Devia sair um pouco da sua cozinha e se colocar
no lugar deles!
Murdock a fitou, furioso.
— Não preciso da sua ajuda para nada. — Ele a cortou, fazendo o sorriso
dela desaparecer. — Cuide do seu serviço, que cuido do meu.
E se foi sem olhar para trás. Ravena teve vontade de reclamar com Derek
da falta de gentileza daquele estúpido, mas atrairia apenas o desprezo de
Murdock e os outros tripulantes. Já bastava que os prisioneiros a chamassem de
prostituta do Capitão, ainda teria que tolerar a aversão dos demais.
Pelo canto do olho viu Johnson sentado em um banco, tentando costurar
uma camisa velha. Pela dificuldade no ato, compreendeu que ele não conseguia
enxergar os pontos que dava, fazendo uma trama imperfeita. Ansiosa, se sentou
ao lado dele e tomou a costura de sua mão.
— Eu faço isso para o senhor — disse e sem que ele pudesse dizer nada,
começou a desfazer alguns pontos, concentrada, todos os pensamentos voltados
para a irritação que Murdock lhe provocara.
Ela não notou o sorriso de contentamento de Johnson em ajudá-lo em
uma tarefa que ele detestava. Ele se simpatizara com a namorada do Capitão
desde o primeiro instante em que a viu e não gostara do jeito que Murdock falara
com ela.
— Não deveria se abalar tanto, madame. Murdock detesta que entrem na
cozinha dele...
Ravena não gostava de demonstrar suas emoções, mas aquele ogro a
levara ao limite da educação.
— Eu somente quero ajudar, senhor Johnson — falou sem tirar os olhos
da costura. — Não quero tomar o lugar de ninguém.
Ele não disse nada e ela seguiu com sua costura e minutos depois
devolveu a ele.
— Pronto...
Johnson ergueu a camisa e viu o trabalho delicado e bem-feito.
— Obrigada, madame. — Ele sorriu satisfeito e ela seguiu seu caminho.
— De nada — respondeu em um tom suave. — O senhor trabalha há
muito tempo para o Capitão Colleman?
— Há quase dez anos. — Ele recordou.
— Também sempre sonhou em ser um pirata?
Ele encolheu os ombros magros:
— Sou um desertor, abandonei o exército na Guerra dos Sete anos para
poder ver meu filho nascer — havia certa amargura em sua voz. — Então,
quando cheguei em casa, minha esposa e o bebê tinham morrido no parto. Não
tive forças para voltar à luta e caí bêbado por muito tempo. Quando fiquei
sóbrio, consegui a vaga no navio do Capitão, foi melhor do que morrer
enforcado.
— Imagino que sim — concordou com ele. A dor daquele homem por
perder a família foi sua destruição, Ravena deduziu com pesar. Então, viu uma
pilha de roupas jogadas em um canto. — O que é isso, senhor Johnson?
— São as roupas dos mortos nos últimos dias — falou vestindo a camisa
costurada por cima da camiseta branca.
— E o que vão fazer com isso?
— Jogar fora, provavelmente... os marinheiros não vão usar, acreditam
em mau agouro...
Os olhos de Ravena brilharam diante de uma ideia.
— Posso ficar com elas?
— Claro. — Ele concordou, com a atenção voltada para a camisa que
não estava mais rasgada.
Ravena sorriu e pegou as roupas. Tinha um destino muito bom para elas.


Derek estranhou quando chegou a cabine e Ravena ainda não havia
retornado. Não gostou da sensação de frustração que o tomou e saiu à sua
procura, preocupado que ela passasse tanto tempo no meio dos prisioneiros, por
mais irônico que parecesse, já que ela uma das prisioneiras. Tentando não
compreender os motivos de sua ansiedade para encontrá-la, ficou impressionado
por achá-la fervendo roupas em um enorme caldeirão na cozinha, com um
Murdock de braços cruzados e mal-humorado ao lado dela.
— O que estão fazendo? — Ele quis saber.
— Milady está fervendo as roupas dos mortos! — Murdock falou,
irritado. — Na minha cozinha e no meu fogão! — acusou.
Ele olhou para Ravena, que se voltou para ele com os olhos brilhando de
pura felicidade. Derek tinha de admitir que ela era uma delícia de se olhar.
— Eu estou fazendo isso para que outros prisioneiros possam usar as
roupas, Capitão — explicou tranquila. — Para dá-las a quem está morrendo de
frio.
— E por que as ferve? — Murdock quis saber, indignado.
— Para matar os males da doença de quem morreu. Desculpe se tomo
seu espaço, senhor Murdock, mas é por uma boa causa, para salvar vidas... O
senhor quer receber seu salário após esta viagem, não quer? — Ela deu seu
melhor sorriso, que fez Murdock corar e sair da cozinha pisando duro.
Derek se aproximou dela e olhou dentro da panela.
— Murdock cozinhará a senhorita dentro desta panela se continuar o
provocando desta forma... — Avisou.
— Sinto muito, Derek. — Ela se desculpou. — Não quero causar mal-
estar... Faço isso para ajudar os outros, aquele lugar é o próprio inferno.
Ele sabia que era e nada podia fazer para melhorar a vida daqueles
desgraçados. Mesmo assim, admirou Ravena por tentar.
— Não se preocupe com ele — assegurou. — Não está irritado pelas
roupas, mas porque está invadindo o espaço dele.
— Estou tentando ajudar e ele vai ter que lidar com isso — falou
decidida.
Derek riu dela.
— Tudo bem. Mas termine isso e não demore. Estou esperando para
jantarmos. — Ele piscou para ela e voltou para a cabine.
Ravena sorriu e continuou seu trabalho feliz. Quando voltou para o
quarto, sequer jantaram, Derek a beijou, colando seu corpo contra a parede e em
poucos segundos estavam nus sobre a cama.
— Está calada esta noite. — Derek observou após tomá-la. Estavam
deitados lado a lado na cama.
— Perdoe-me. — Ela se deitou de lado e o encarou: — Estava pensando
apenas nos prisioneiros.
— Está com pena deles, não é? — observou. Era engraçado como em
pouco mais de uma semana ele conhecia bem Ravena.
— E como não ficar? — Ela se sentou na cama levando o cobertor para
tampar sua nudez. — Às vezes, me sinto culpada por estar aqui — olhou ao
redor e para o conforto em que se encontrava e suspirou.
Derek franziu o cenho.
— Culpada? Por que eu a escolhi?
Ela o fitou:
— Não, porque eu não sinto remorso de estar aqui, a maior parte do
tempo... — tentou explicar.
Ele ficou satisfeito em ouvir aquilo e deu um meio sorriso.
— Então, está satisfeita?
— Claro que sim... — Ela sorriu. — O senhor me trata muito bem...
Derek sentou-se na cama e a segurou pelo pescoço para um beijo forte e
vibrante. E enquanto ele tocava seu corpo novamente, Ravena recordou-se das
palavras de Mary: estava apaixonada pelo Capitão. Seria mesmo possível?
Nunca estivera apaixonada antes, então não fazia ideia de como era, o que sentir,
e como lidar com isso.
Atentou-se para o toque das mãos fortes e masculinas em sua pele e seu
corpo vibrou de desejo. Agora, ela conhecia bem as sensações do prazer em seu
corpo. O incômodo do ato havia passado, e ela se deliciava, ansiosa para que ele
a possuísse e a elevasse a uma sensação que beirava a perda dos sentidos. O
famigerado gozo era sem dúvida viciante e ela se curvava àquelas intensas
perturbações, submetendo-se aos jogos do desejo, sem medo de ir mais além.
Beijou-o sentindo cada detalhe dos lábios dele. Seu sabor. Curvou seu
corpo sobre o dele, faminta, desejosa de senti-lo dentro de si, em cada
movimento. O abraçou com suas longas pernas, envolvendo as coxas
musculosas. Derek gemeu diante da iniciativa dela e surpreendeu-se quando
Ravena sentou-se sobre ele e deixou ser invadida sem qualquer pudor.
Ela estava molhada e ele se afogou no desejo que ela lhe dava. Segurou a
fina cintura e se moveu dentro dela com força, tão febril que se perdeu, sentindo-
a comprimir, apertando suas costas, mordendo seu ombro, no delírio de seus
gemidos. Quando gozou, Derek a segurou contra o seu corpo mais tempo, beijou
o colo delicioso e se perguntou porque aquela estranha sensação de tê-la mais
uma vez o incomodava.


A cada dia a ferida na perna de Ada James aumentava. Em uma tarde,
Ravena notou que a mulher tremia muito, deveria ser a febre. Mesmo ressentida
pelo modo como a tratara, se aproximou e colocou a mão em sua testa.
— Tire a mão de mim, imunda! — Ada esbravejou e abraçou o próprio
corpo.
— Está com febre...
— Já disse, prefiro morrer a deixar que me toque! — rasgou as palavras.
Ravena já esperava por aquilo.
— A prostituta quer salvar sua alma! — Um homem debochou e alguns
riram.
— Vai para o inferno se ele a tocar! — Outro provocou.
Ravena balançou a cabeça, desolada e virou-se para sair.
— Quando o Capitão terminar com você, estarei aqui te esperando! —
Outro prisioneiro disse, fazendo os demais rirem.
Ravena os ignorou.
— Como se sente, Amady? — quis saber se ajoelhando diante da mulher
grávida.
— Dolorida. — A moça forçou um sorriso.
— O bebê está encaixado. — Ravena disse examinando a barriga da
jovem. — Ele deve nascer logo, espero que chegue ao continente.
— Acho que não. — Ela soltou um leve gemido ao se sentar melhor. —
Ele parece ser ansioso como o pai dele.
Ravena sorriu:
— O pai ficou na Inglaterra?
— Sim, acredito que não saiba que estou aqui...
— O quê? — perguntou, surpresa. — Como isso é possível?
— Bem. — Ela respirou fundo. — Meu irmão devia dinheiro a um
homem, por causa dos jogos, ele foi até a minha casa cobrá-lo e achou que eu o
estava escondendo, então, me levou presa em seu lugar...
Ravena não acreditava em tamanho absurdo.
— Mas você está grávida... E seu irmão?
— Eu não sei o que aconteceu depois com meu irmão, não tive notícias
deles ou de meu marido — falou e encarou Ravena. — Fui jogada na prisão há
uma semana e depois trazida a este navio.
— Não teve um julgamento?
— Não — fez que não. — Apenas me mandaram levantar da cela e
seguir a fila e foi o que fiz... Tentei dizer que era inocente, mas a única coisa que
consegui foi um soco no rosto de um dos guardas...
— Me bateram também quando questionei porque estava sendo presa. —
Ravena contou. — E apanhei porque me recusava a parar de chorar e depois
porque não comia... — deu um sorriso torto.
— Sinto muito por você.
— Não mais do que eu por você, Amady — acariciou o rosto da moça.
— Você merecia ter seu filho ao lado do seu marido.
Os olhos de Amady se encheram de lágrimas.
— Eu sei... Ben estava imensamente feliz com a chegada do bebê.
— Os homens sempre ficam. — Ravena forçou um sorriso e levantou-se
depressa para não chorar com ela.
Ouviu Mary tossir e ajudou a amiga a sentar e respirar. Dessa vez, Mary
vomitou sangue. Ravena soube que o pior estava acontecendo, em poucos dias
sua amiga morreria, não havia como tratá-la dentro daquele lugar imundo. Ela
precisava ficar em um lugar com mais higiene, caminhar no sol e sabia que o
Capitão jamais permitiria.
Saiu do porão a passos largos e foi para o convés, abraçando o próprio
corpo, precisando respirar ar puro e controlando as lágrimas de frustração.
Derek estava segurando o leme quando a viu atravessar o convés e parar
do outro lado do navio. Ele teve a sensação que se houvesse um jeito, ela pularia.
O que a teria deixado tão nervosa? Fez sinal para que o marujo tomasse conta do
leme e foi atrás dela.
— Problemas? — Ele perguntou ao se aproximar.
Ela assustou-se com a voz dele e virou-se de uma vez. Não queria que ele
a visse daquele modo, tão sentimental.
— Derek...
— Esperava outra pessoa? — brincou.
— Não. — Ela finalmente sorriu.
Ele a estudou por um instante.
— Aconteceu alguma coisa?
Fez que não.
— Bobagem — assegurou. — Lidar com gente doente mexe comigo, às
vezes.
— O que prova que a senhorita é humana. — Ele disse com delicadeza.
— Gostaria de poder ajudar mais, porém, não há muito que fazer, não é?
Eles morrerão neste navio ou nas Treze Colônias...
— Provavelmente...
Ela também, morreria sozinha.
— Sabe quem vai nos esperar no porto? — Ela quis saber, tentando se
distrair e não pensar em Mary ou em seu futuro.
— Geralmente, os homens da lei da Coroa Britânica. Eles decidem quem
vão vender como escravos e quem vai direto para as prisões subterrâneas ou
algum serviço forçado... Não imagino que critério usam...
Ela ficou chocada. E Derek teve o mau pensamento, afinal, sendo bonita
como Ravena era, eles a venderiam para algum prostíbulo de quinta categoria do
porto de Boston, provavelmente. Não gostou da ideia, aliás, isso provocou seu
mal gênio ao imaginá-la sendo submetida as piores companhias que poderiam
existir, homens sem escrúpulo ou pudor que a tratariam como um animal.
— Trabalho escravo. — Ela passou as mãos pelos cachos dourados que
teimavam em sair do coque. — Isso me parece tão primitivo.
— A escravidão move o mundo. — Ele garantiu.
— A exploração move o mundo — corrigiu.
Ravena andou mais adiante, ficando de costas para ele e mirou o
horizonte avermelhado. Nunca gostara tanto do pôr do sol como agora. Queria
guardar aquela imagem para sempre em sua memória. Como a companhia de
Derek. Não desejava que aquela viagem acabasse.
— Será que as pessoas nunca se cansam de serem injustas? — perguntou
mordendo os lábios para não chorar.
— Os homens estão corrompidos, sempre foi assim e não há outro futuro.
A humanidade por si só findará com o caos de uns contra os outros por motivos
banais de ganância.
Ela enxugou a lágrima teimosa e voltou-se para ele:
— Há pessoas lá embaixo inocentes, Derek — falou revoltada. —
Pessoas que sentem falta de sua família e entes queridos.
Ele notou que talvez aquilo tudo estivesse fazendo mal a ela.
— Eu sei, Ravena — falou sério. — Se isto a incomoda, talvez seja
melhor parar de ajudá-los.
Infelizmente, ela sabia que Derek não podia se sensibilizar com a
situação dos prisioneiros, ou nunca chegaria vivo ao seu destino.
— Não. — Ela fez que não tentando se acalmar. — Foi apenas um mau
dia. Uma amiga querida está muito doente e temo que morra nos próximos dias
— contou antes que ele a proibisse de descer. — É uma senhora que foi presa
porque roubou um pedaço de tecido, apenas. Foi condenada a quatorze anos de
expatriação. Isso é revoltante...
Derek não se envolvia com as histórias de seus prisioneiros. Não podia
ou não cumpriria a missão que recebera. Mas ele compreendia a revolta e a dor
de Ravena.
— Sinto muito, Ravena — deu um passo para ela e segurou-a pelos
ombros. — Mas não posso fazer nada por eles e o que a senhorita tem feito, já é
muito. Garanto-lhe.
Ela perdeu-se na imensidão daqueles olhos azuis. Tinha a sensação que
havia se perdido há mais tempo, quando aceitou a proposta dele. Entretanto, com
o passar dos dias, notou que Derek era um homem incrível e não queria se
afastar dele. Repreendeu-se por tal sentimento de posse. Ele não era seu e ela
apenas uma prisioneira.
— Obrigada pelo apoio — agradeceu e notou que eram observados por
Murdock. Ela ficou constrangida. — Vou voltar aos meus afazeres... — afastou-
se e correu para dentro do navio, como se mil demônios a perseguissem.


Ravena acordou com a voz de Derek suave em seu pescoço. Gemeu
levemente e sorriu, antes de abrir os olhos e se deparar com o homem mais lindo
e adorável que havia conhecido em toda sua vida. Se Deus queria presenteá-la
com o paraíso antes que chegasse ao castigo nas Treze Colônias, acertara ao
colocar o capitão em seu caminho. Sentia-se sublime, feliz.
— Sim — ronronou e respirou fundo.
— Preciso de sua ajuda... — Ele falou.
Ela coçou os olhos e sentou-se na cama para se espreguiçar. Notou que
Derek já estava vestido.
— Do que precisa?
— Murdock acordou indisposto, isso sempre acontece quando chegamos
à metade da viagem. Ele passa mal com enjoos — contou. — Preciso que
prepare a refeição dos marujos e dos prisioneiros.
— Claro. — Ela jogou os cobertores de lado e saltou da cama para se
vestir.
Derek agradeceu por ter Ravena para ajudá-los, do contrário, teriam que
se contentar com a refeição preparada por Tubarão e era terrível.
Ela correu com o serviço. Ainda estava escuro quando ela se enfiou na
cozinha e começou a preparar o café da manhã. Ravena se surpreendeu com a
quantidade de mantimentos guardados no depósito do navio. Havia farinha para
alimentar uma nação, sem contar a quantidade de vinho nos enormes barris. Ela
balançou a cabeça desolada ao notar o descaso de Murdock ao fazer aquela sopa
rala, não apenas para os prisioneiros, como também para os tripulantes.
Rapidamente, ela acendeu o forno, colocou os legumes para ferventar e
sovou a massa dos pães. Enquanto estes descansavam, aproveitou para preparar
várias tortas com as maçãs que estavam apodrecendo no depósito. Enquanto os
pães assavam, preparou chá para todos. O cheiro dos pães frescos incendiou o
navio e logo, Johnson e os outros rapazes vieram a cozinha para buscar a
refeição. Eles se entreolharam surpresos ao ver o balcão repleto de pratos
prontos com pão, ovos, feijão, um pouco de linguiça e tomates assados. Além
disso, fez limonada para evitar o escorbuto tanto nos tripulantes quanto nos
prisioneiros.
— O que foi? — Ravena quis saber ao notar o olhar espantado de todos.
— Fiz algo errado?
— Não tem sopa? — Johnson perguntou.
Ela franziu o cenho e encolheu os ombros.
— Pensei que iriam preferir algo mais forte pela manhã. Infelizmente,
não consegui achar o bacon — suspirou e sentiu o cheiro das tortas de maça. —
Oh, meu Deus! As tortas! — E correu para tirá-las do forno antes que
queimassem.
Diante da novidade, os marujos vieram pegar seus pratos. Quando
começaram a fazer muita algazarra, Ravena exigiu que se mantivessem quietos.
— Que bagunça é essa em minha cozinha? — Ela os reprovou como uma
mãe faria e notou o homem mais baixo que não conseguia chegar à mesa porque
os outros não deixavam. — Qual é o seu nome?
— Ted. — Ele respondeu arregalando os olhos.
Ravena pegou um prato e estendeu para ele:
— Pegue aqui o seu!
Ele sorriu e pegou, agradecendo com timidez e foi comer no convés.
— Agora façam fila e sejam educados. Há comida suficiente para todos
por aqui! — avisou.
Enquanto os homens se serviam, ela pediu a ajuda de Johnson e mandou
servir os prisioneiros com uma sopa forte de farinha e pão.
— Eu poderia ajudá-los, mas preciso colocar ordem na cozinha e pensar
na próxima refeição.
— Não se preocupe, madame. — Johnson assegurou com um sorriso —
Nós serviremos os prisioneiros.
— Obrigada, Johnson, não se esqueça de passar aqui e pegar seu pedaço
de torta. — Ela avisou com sua simpatia única.
Ravena limpou toda a bagunça do café e além de já pensar na próxima
refeição, ainda conseguiu organizar e limpar as partes principais do navio. Levou
um prato de refeição para Murdock no dormitório, mas ao vê-la, ele apenas
olhou para o prato com desprezo.
— Vai acabar com a comida do depósito! — Ele a repreendeu.
— Tem comida suficiente para que voltem a Inglaterra sem passar fome.
— Ela devolveu. — Trouxe o café da manhã para o senhor! Como está mal do
estômago nada melhor que uma sopa para o ajudar a se recuperar...
Ele bateu a mão no prato que caiu.
— Prefiro morrer a comer da comida que faz! — vociferou.
Ravena respirou fundo, louca para estrangulá-lo.
— Como quiser. Mas se pode desperdiçar comida, também pode levantar
seu traseiro enorme daí e limpar a sujeira que fez! — empinou o nariz. — E
espero que limpe realmente, ou reclamarei de seu desperdício ao Capitão!
E o deixou sozinho, amaldiçoando-a com o olhar.
No fim do dia, Ravena estava feliz pelo trabalho feito. Após servir sopa
de lentilha com pão para os marujos, limpou toda a cozinha novamente, preparou
a massa para os pães no dia seguinte e foi para o quarto. Merecia um bom banho
e a companhia de Derek, mas estava tão exausta que se deitou para descansar um
pouco antes da chegada do capitão a cabine.
Quando Derek entrou estranhou ao ouvir um ronco leve. Olhou ao redor
enquanto fechava a porta e viu Ravena praticamente desmaiada sobre a cama,
deitada de bruços, em meio aos travesseiros. Ela estava tão cansada do dia de
trabalho, que não acordou quando ele a virou na cama e a posicionou sobre os
travesseiros. Ela aconchegou-se ao cobertor que colocou sobre ela, que gemeu
em agradecimento.
Ele sorriu enquanto tirava a roupa e se lembrava do olhar de satisfação
dos marujos com a nova refeição. Realmente, Murdock vinha tratando a todos
com pouca comida e com o serviço pesado, eles sempre estavam cansados.
Aquele foi o primeiro dia da viagem que os viu mais alegres, a ponto de ficarem
no convés cantando, jogando baralho e bebendo vinho.
Derek ainda podia sentir o sabor da torta de maçã que ela havia
preparado. Cada mordida o remeteu à sua infância, na propriedade de sua
família, em Londres. Deitou-se ao lado dela e respirou profundamente satisfeito
antes de aconchegá-la aos seus braços e dormir o sono dos justos.


Murdock ficou doente por vários dias. Ravena estava desconfiada que ele
estivesse sofrendo com mal do fígado pelo excesso de bebida. Vira muitos
homens morrerem assim, mesmo sob a supervisão de seu pai. Ele estava amarelo
e ali não havia muitos recursos para ajudá-lo. Entretanto, após exatos sete dias,
ele voltou ao seu trabalho e todos reclamaram de sua comida, pedindo o retorno
de Ravena a cozinha, mas em respeito ao marujo, ela se recusou.
Isso apenas piorou o relacionamento dos dois. Em uma manhã, quando
retirava as vasilhas do café dentro da cabine, Murdock parou e ficou olhando
para Ravena, que estava lendo um dos livros marítimos do capitão. Ela demorou
para notar que estava sendo observada e quando o fez, franziu o cenho.
— O que foi? — Ela perguntou ao notar o olhar severo.
— Não sei o que está tentando fazer aqui, mocinha, mas vou deixar claro
que vou acabar com você!
Ravena deixou o livro de lado e se ergueu:
— Estou apenas tentando ajudar... Você estava doente e...
— Não sou idiota como o Capitão. — Ele falou mordaz. — Já entendi
seu jogo e vou acabar com ele antes mesmo que comece!
— Está dizendo tolices — devolveu. — Estou apenas aproveitando
alguns dias antes de minha sentença ser cumprida.
— Prometi ao pai do Capitão que cuidaria dele — deu alguns passos em
direção a Ravena e ela não retrocedeu. — E não vou deixar que acabe com a
vida dele...
— Está exagerando! — Ela não se abalou com a fúria dele.
— Conheço tipos como você, se fazem de boa moça, mas não valem
nada! — Ele esbravejou.
— O que está havendo aqui? — A voz de Derek quebrou a discussão.
Murdock olhou para o Capitão assustado. Ravena achou melhor
apaziguar a situação do que causar um mal-estar ainda maior.
— Seu marujo estava me repreendendo sobre a quantidade de sal que
gastei nos dias que cozinhei. — Ela forçou um sorriso para Derek.
— Foi isso mesmo, Murdock? — Derek ergueu uma sobrancelha
desconfiado.
Murdock olhou para Ravena e a contragosto, mentiu:
— Exatamente — resmungou. E saiu da cabine batendo a porta com
força.
O que de pior Murdock poderia fazer? Jogá-la no mar? Envenená-la? Ela
levou a mão ao pescoço e respirou fundo. Aquele homem estava criando uma
guerra desnecessária e ela não podia fazer nada para impedi-lo. Entretanto,
talvez ao saber que o Capitão ficaria ao lado dela, ele ficasse mais calado dali
para a frente.
— O que está lendo? — Derek perguntou ao se aproximar.
— O Diário de Bordo...
— Tem se interessado bastante pelo assunto. — Ele observou.
— E eu estava olhando os mapas — apontou para a mesa repleta de
papéis. — São fascinantes, tenho tantas perguntas a lhe fazer.
Foi inevitável que ele sorrisse diante a curiosidade dela. Ele se
aproximou da mesa e olhou para os mapas.
— E o que quer saber?
Ravena sorriu ansiosa e foi para perto dele e apontou para um grande
continente:
— Que lugar é esse?
— A América do Sul e este país se chama Brasil, foi colonizado pelos
portugueses — explicou.
— E você já esteve lá? — perguntou encantada e ele fez que sim. —
Conte-me tudo — pediu empolgada e se sentou na cadeira que ele costumava
ocupar. — Como é esse tal de Brasil?
— É o paraíso. — Ele sentou-se na beirada da mesa e a encarou. —
Olhar o litoral de São Sebastião do Rio de Janeiro é como beijar uma linda
mulher.
Ela deu uma risada gostosa.
— Descreva para mim, por favor. Quero ter em minhas lembranças as
suas memórias — disse com carinho.
Derek começou a descrever as praias de areia amarela e água azul como
o céu e seus morros de pedras gigantes que incidem do mar. Ela ficou fascinada.
E naqueles dias aprendeu tanta coisa com Derek sobre o mar e navios, tanto
quanto ele se dispunha a aprender sobre ensinos médicos que ela tão bem
conhecia. Ele a ensinou a fazer nós difíceis de desatar, explicou sobre cada
detalhe de seu navio e seus compartimentos, para que serviam as cordas e as
velas, que os homens cantavam durante o trabalho para aumentar a força e a
energia em sua execução. Falou sobre superstições dos piratas e sobre as
mulheres que se tornaram lendas como piratas num mundo totalmente
masculino, uma delas a famosa irlandesa Grace O’Malley. Ela prestava atenção
quando Derek encontrava a localização através de suas operações geométricas e
ficou fascinada com cada detalhe moderno que ele usava para se direcionar.
Ele a fez ver que a liberdade de um homem poderia ser atribuída à sua
maneira de pensar e ela o fez enxergar que a prisão de um homem poderia estar
somente na forma como ele conduzia seus próprios pensamentos.
E após fazerem amor, Derek tinha o prazer de se enroscar a ela e ler
algum trecho de um livro que marcara sua vida ou lhe descrever com detalhes os
mares por onde havia navegado. E enlaçados por seus interesses pessoais não
notavam o sentimento que espreitava por detrás de suas simples atitudes, como o
leve roçar da brisa em uma manhã de primavera nos campos de girassóis.


A noite estava estrelada, os homens se reuniram para jogar cartas e cantar
alguma música. Little Ted cantava ao som de seu bandolim. Os homens bebiam,
cantavam e riam, falando um monte de coisas sem importância. Ravena estava
sentada entre eles e bebia o vinho tranquilamente, rindo dos homens que fingiam
lutar com espadas de pau e contavam histórias lendárias dos grandes piratas. Ela
ria encantada com tanta diversão. Encostado à murada, Derek observava o modo
como seus marinheiros se encantavam com a beleza dela, seu riso, suas palavras
tranquilas, seu olhar de admiração. Eles faziam graça para ela e ela lhes devolvia
com sorrisos de simpatia.
Ele se remexeu, mudando o peso do corpo de uma perna para a outra. Por
um instante, não gostou de vê-la se tornar o centro das atenções, e embora lhe
denotassem respeito, não sabia até que ponto seus homens compreendiam a
diferença de simpatia e interesse por parte de Ravena.
Seu sangue ferveu quando Johnson a convidou para dançar e ela se
recusou educadamente.
— Obrigada, senhor Johnson, mas sou uma péssima dançarina — contou.
— Eu poderia lhe ensinar. — Ele insistiu com admiração.
— Devo declinar. Não quero que tome ódio por mim, por esmagar seus
dedos — falou aquecida pelo vinho.
— É impossível odiá-la, madame. — Ele fez reverência e tomou a mão
dela para um rápido cumprimento antes de voltar a dançar com os outros
homens.
Derek ficou sério. Incomodado pelo olhar que ela e Johnson haviam
trocado. Passou a mão no rosto e respirou fundo. Bobagem. Ela não estaria
flertando com seus homens, estaria? O veneno do ciúme corroeu seu sangue sem
que notasse e entendeu seu sentimento como uma precaução contra uma briga
desnecessária dentro de seu navio por causa de uma mulher.
Ravena sentiu que era observada e olhou para Derek, ele desviou o olhar
e tomou o restante de seu vinho e sem dizer uma palavra abandonou a proa e
desceu para a cabine. Sabendo que havia algo errado, ela se levantou e os
homens pararam de dançar. Forçou um sorriso, pediu licença e desceu atrás do
Capitão.
— Aconteceu alguma coisa, Derek? — perguntou ao entrar na cabine e
vê-lo andar de um lado para o outro como um animal em cativeiro.
Ele parou e olhou para ela. Ela era a personificação da mulher feita para
ser adorada por um homem e ele estava fascinado por ela, muito. E isso o irritou.
— Há algo entre a senhorita e meu imediato? — perguntou direto se
aproximando dela.
Ravena franziu o cenho.
— De quem está falando? — perguntou tirando o casaco.
— Do que vi a pouco. A senhorita e Tubarão flertando abertamente
diante de todos! — desabafou irritado.
Ravena levou um choque.
— Está falando do senhor Johnson? — questionou indignada. — Um
homem que tem idade para ser meu pai?
Através das palavras dela, Derek notou que estava sendo tolo. Era óbvio
que ela não se interessaria por um homem como Johnson.
— Desculpe-me — falou irritado consigo por não controlar seu gênio. —
Apenas quero zelar pelo bem-estar de meu navio. Não quero brigas por causa de
uma mulher...
Ravena se ofendeu.
— Oh! Entendo — passou por ele e jogou o casaco em cima da cadeira,
abraçando o próprio corpo. Perguntou-se em que momento achou que Derek a
veria mais que um pedaço de carne para usufruir.
Ela ajeitou as cobertas e sentou-se na cama para retirar os sapatos. Soltou
os cabelos e respirou profundamente, tentando não bancar a tola apaixonada que
havia se tornado. Estava magoada com a indiferença dele, como uma mulher
possessiva faria e não a prostituta que havia se tornado.
— Prometi que não iria lhe causar problemas! — falou sem olhá-lo e
reprimiu sua raiva. — Serei apenas sua amante nesse navio e de mais ninguém!
Ele bufou e balançou a cabeça. Irritado consigo e com ela. As coisas
pareciam estar mudando entre eles e Derek não estava gostando disso. Estava se
incomodando com os sentimentos dela e isso não era bom. Saiu da cabine sem
dizer nada e bateu a porta com força. Ravena olhou para a porta fechada e
magoou-se. Ele jamais poderia sentir por ela, o que sentia por ele. Homens como
Derek Colleman sabiam separar o prazer dos sentimentos mais profundos.
Ela não.
Deitou-se na cama e abraçou o travesseiro e não conseguiu conciliar o
sono até ouvir Derek voltar para a cabine, muito mais tarde, quando já avançava
a madrugada. E para seu desespero, ele não se deitou na cama, olhou por cima
do ombro e o viu cambalear até a rede que havia em um canto e cair sobre ela,
completamente bêbado.
Ela não dormiu e acabou levantando e foi para a cozinha fazer pão para
os homens. Quando Murdock chegou já estava tudo pronto, mas ela não estava
ali. Apesar do cheiro delicioso da comida e do pão feitos, ele a odiou por se
intrometer em seu trabalho.
Derek acordou de mau humor, estava com uma ressaca terrível. Olhou
ao redor e não viu sinal de Ravena, imaginou o que ela deveria estar fazendo
depois da discussão que tiveram na noite anterior e ele a deixou sozinha. Estaria
ela procurando um novo amante que a saciasse, já que ele se recusou a se deitar
com ela? Ou estaria de gracinha com Johnson? Balançou a cabeça espantando
tais pensamentos e se arrumou para mais um dia de trabalho.
Murdock entrou trazendo seu desjejum.
— Onde ela está? — Derek investigou possessivo.
O marujo ergueu uma sobrancelha desconfiado da atitude do Capitão. Ele
estava apaixonado pela moça e alguém precisava ajudá-lo a enxergar quem ela
era.
— Não faço ideia. Não a vi em parte alguma — mentiu. Sabia que ela
estava cuidando dos prisioneiros.
Derek respirou fundo controlando sua raiva. Onde aquela idiota havia se
metido? Sem dizer uma palavra, ele saiu pelo navio a procura dela. Seu coração
bateu descompassado ao imaginar que ela estaria em algum canto agarrada a um
de seus marinheiros. Desceu para o porão, a fim de inspecionar seu navio, e se
deparou com uma enorme fila perto do dormitório de seus marujos.
— Qual o motivo desta fila? — perguntou ao último tripulante.
— A madame está costurando a roupa de todos — informou mostrando a
camisa com um rasgo.
Madame? Ele caminhou pela fila, e viu Ravena sentada em um banco,
entregando a camisa recém-costurada para um de seus homens.
— Obrigada, madame. — O marujo agradeceu e Ravena lhe sorriu,
satisfeita.
Derek podia jurar que seus homens estavam encantados com a beleza e
destreza da moça e não gostou disso. Sem notar ou admitir qualquer coisa para
si, sentiu uma raiva incomum diante daquela cena, um sentimento de posse que
poderia ser comparado ao ciúme. Entretanto, ele enxergou apenas sua amante
que sorria frivolamente para outros homens, seduzindo-os.
Desde a noite anterior ela vinha agindo com frivolidade. Balançou a
cabeça, incrédulo e virou-se, se deparando com Murdock.
— O que ela quer com isso? — Ele perguntou ao Capitão.
— Do que está falando? — franziu o cenho.
Murdock o fitou com desdém.
— Ela está conquistando a confiança de todos. — Ele pontuou. —
Inclusive a sua, Capitão. Não me estranharia se o senhor a soltasse quando a
viagem chegar ao fim...
Derek não gostou da insinuação.
— Talvez tenha perdido o amor à vida, marujo. — Ele o cortou. — Com
quem pensa que está falando?
Ele encolheu os ombros.
— Só estava pensando alto... A maneira como ela vem manipulando a
todos com sua bondade exacerbada.
— Guarde seus pensamentos para você... — avisou e seguiu seu
caminho.
Mas a ideia de que Ravena poderia estar tentando ludibriá-lo o
exasperou. Foi para a cabine e começou a andar de um lado para o outro,
deixando o veneno do despeito cegá-lo. Ela estava sendo boa demais, agindo
para o bem de todos, bancando a boa samaritana. Será que ela estava com
terceiras intenções? Ele não gostou daquilo, de estar sendo feito de idiota.
Será que ela havia se entregado a ele com a intenção de manipulá-lo? E
ele, envolvido pelo prazer de tomar uma virgem e se compadecer das injustiças
que ela sofrera, enganou-se sobre ela? Analisou a dedo as atitudes dela. Uma
solteirona que se manteve imaculada por uma vida toda, entregar-se-ia a ele
simplesmente em troca de conforto?
Naquele instante, sentiu que fora tolo. Ele não sabia se a história que ela
contara era real. Odiou a si por ter se enredado pela beleza angelical daquela
mulher, aqueles olhos verdes que o perseguiam e o sabor da pele que o
embriagava. Teimara em aceitar tudo como verdade, menos a veracidade dos
fatos: ela agiu para manipulá-lo em troca de liberdade. Odiou-se por isso. Ele
homem feito caindo nos laços sedutores de uma mulher esperta.
Não seria manejado por uma mulher qualquer. Derek passou o dia
fermentando aquela suposta traição de Ravena e ao fim do dia estava certo de
que fora enganado. Tudo o que ela fazia, desde seus movimentos delicados, seus
sorrisos, sua bondade era apenas para deixar todos aos seus pés, com a intenção
de ser solta quando chegasse a América. Como ele não notou?
Derek estava analisando uns mapas, quando Murdock lhe trouxe o jantar:
— Não vai jantar, Capitão? — Ele quis saber.
— Não — respondeu cortante. — E quando a prisioneira Ravena
terminar com suas tarefas, leve-a até o porão.
Murdock sorriu satisfeito com a decisão do Capitão. Tinha certeza que
suas palavras o tinham levado a refletir mais, e não precisaria mais conviver com
aquela intrometida.
— E a partir de agora, ela não pode mais sair do porão, será mantida
como prisioneira, o que ela é. — Derek ordenou.
— Sim, Capitão — acatou, se retirando.
Derek respirou fundo e concluiu que fora a melhor decisão a tomar. Não
tinha que dar explicações de suas atitudes a uma prisioneira. Como ele pôde
pensar que ela fosse diferente das demais? O que dera nele? Irritado, decidiu
subir ao convés e trabalhar, esquecendo-se do papel de tolo que fizera nas mãos
daquela mulher.
Ravena entregou a última camisa ao marujo e sorriu para ele. Passara o
dia costurando a roupa dos homens, ajudando-os no que precisavam. Era o
mínimo que podia fazer depois da forma como a vinham tratando com carinho e
respeito.
— Obrigado, madame. — Ele agradeceu.
— Não há de quê. — Ela devolveu o sorriso, sentindo dores pelo corpo
por ficar tanto tempo na mesma posição.
Levantou-se e viu Murdock parado no corredor, com um sorriso, olhando
para ela. Não gostava dele e detestava a maneira como ele a olhava, cheio de
desprezo e superioridade.
— O que foi, senhor Murdock? Quer que eu costure alguma roupa sua?
— perguntou com sarcasmo.
— Não. — Ele parou diante dela e a segurou pelo braço com violência.
— A madame vai voltar para o porão....
— Solte-me! — Ela tentou se livrar dele. — Ou reclamarei ao Capitão
por seu atrevimento...
Murdock sorriu exibindo o dente de ouro:
— Ordens dele — informou.
Ravena não podia acreditar.
— O quê?
— O próprio Capitão mandou que eu a levasse de volta ao porão e a
mantivesse presa lá até o fim da viagem. — Ele começou a arrastá-la em direção
ao porão. — Acredito que ele cansou de brincar com a madame. E como ele
mesmo disse: está acostumado a entregar suas mercadorias intactas,
especialmente quando é pago por elas.
Ravena não podia acreditar no que ouvia. Por que Derek faria isso?
— Está mentindo! — murmurou decepcionada, Derek jamais a trataria
como uma mercadoria.
— Garanto que não! — Ele parou ao lado de Johnson que estava
distraído passando seu canivete em um toco de madeira. — Abra a porta! —
ordenou.
— O que pensa que está fazendo? — Johnson perguntou, se levantando.
— Solte a madame!
— Ordens do Capitão, ele mandou devolver a prisioneira ao porão! —
Murdock disse com sabor de vitória.
Johnson ficou surpreso e à contragosto, pegou suas chaves e abriu o
cadeado. Devolver Ravena aquele lugar onde a repudiavam era perigoso. Não
gostou daquilo, a madame era uma boa pessoa. Por que o Capitão a devolvia ao
porão? Quem cuidaria dos doentes e consertaria as roupas da tripulação?
Assim que a porta foi aberta, Murdock a arrastou para dentro e a prendeu
nas algemas vazias ao lado de Mary. Ravena tinha vontade de chutá-lo e agredi-
lo, mas bruto como era, o marujo devolveria com violência qualquer atitude
dela.
Ele saiu e Johnson olhou para Ravena com pesar:
— Sinto muito, madame — falou sincero.
— Não se preocupe, senhor Johnson. Vou ficar bem — assegurou com
toda coragem que possuía.
Não ia se abalar com aquilo. Johnson assentiu e fechou a porta.
— A prostituta do Capitão voltou. — Um homem gritou do outro lado.
— Cale a boca! — Mary mandou e se aproximou de Ravena. — O que
houve?
Ela olhou para a amiga:
— Não sei, Mary — encolheu os ombros. — Acredito que o Capitão se
cansou de mim e mandou me devolver.
— Homens! — Mary fez que não. — Não ligue para ele...
Ravena assentiu e se encolheu, sentindo o frio do piso atravessar seus
ossos. Perguntou-se o que havia feito de tão grave para que Derek quebrasse o
acordo deles. A única resposta que lhe surgia era que ele se cansara dela. Ficou
magoada. Pensou que entre eles havia algum tipo de cumplicidade, que ele
compreendia sua dor, por isso, aceitou os favores dela em troca de conforto.
Como fora ingênua.
Ele era apenas um Pirata, acostumado as mais belas mulheres, a usá-las e
nunca mais vê-las. Por que pensou que ele manteria sua palavra até o fim da
viagem? Como pôde entregar-se a ele e fazer um papel tão ridículo? Pensou que
ele fosse um homem de palavra e encantada com sua beleza e palavras doce, ela
acreditou.
Concluiu que ele dissera tudo aquilo apenas para ter o corpo dela. Nada
mais e quando se cansou, a devolveu ao porão. Sentiu uma vontade ridícula de
chorar, mas não deixou as lágrimas caírem. Já havia chorado muito pelo mal que
sua família lhe causara, se tivesse que lamentar, seria por sua dor, e não por um
homem que mal conhecia. Fizera o papel de uma prostituta e ele a tratara como
uma. Não pôde evitar que a amargura a tomasse. Pensou que ao lado de Derek
teria momentos de paz até sua clausura perpétua, mas enganou-se e isso era
sufocante. As piores emoções tomavam seu corpo.
Respirou fundo e olhou para Mary que tossia sem parar. Sua amiga
estava sufocando, vira muitas pessoas morrerem daquela forma. Não lhe restava
muito tempo. Ravena engoliu toda sua dor e se aproximou da amiga, abraçando-
a. Mary se deixou abraçar e encostou a cabeça no ombro de Ravena, enquanto
lutava para respirar. Tinha medo de morrer e nunca mais ver seus filhos e netos,
mas não tinha coragem de dizer isso em voz alta. Não queria que sua amiga
Ravena sentisse pena dela.
Ficaram abraçadas, cada uma no silêncio de sua aflição, quando não há
pretexto para a felicidade e não há como voltar atrás em arrependimentos.


Sua primeira noite no porão foi terrível. Mary teve febre a noite toda, e
Ravena lutou contra o frio em vão, mesmo assim, manteve-se abraçada a amiga
para tentar aquecê-la. Nas primeiras horas, sofreu com o cheiro do lugar, mas por
fim, exausta, adormeceu, acostumando-se ao novo horror de sua vida, colocando
a decepção em sua caixinha de lembranças. As lamúrias daquele lugar podiam
ser ensurdecedoras durante a madrugada, tudo soava para fazê-la sentir cada vez
pior.
Acordou na manhã seguinte assustada, o navio balançou com força e foi
jogada para o lado e viu que Amady gemia enquanto dormia. Ravena engatinhou
até ela e tocou sua barriga, estava dura, a moça ia entrar em trabalho de parto a
qualquer momento. Ficou tensa e fez uma prece a Deus que não permitisse que o
bebê nascesse naquele lugar imundo.
A primeira refeição foi servida e quando chegou a vez de Murdock servi-
la, ele derrubou toda a sopa no chão e riu maldoso:
— Que descuidado! — ironizou e saiu sem servi-la.
Ravena tinha vontade de gritar com ele por lhe infligir tamanha
humilhação.
— Eu divido com você, Ravena. — Mary lhe ofereceu.
— Não é necessário, Mary, você precisa mais do que eu...
— Mas você vai ficar com fome? — Mary perguntou preocupada.
— Não se preocupe, estou bem. Jantei muito bem ontem à noite, antes de
vir para cá — mentiu, dando seu sorriso mais convincente para Mary. Ajudou a
amiga a beber a sopa e logo depois, Mary adormeceu.
Johnson viu aquela situação e não gostou nada. Não se intrometia nos
assuntos do Capitão, mas gostaria de saber por que uma mulher tão terna como a
madame, que fazia lembrar sua falecida mãezinha, estava sendo tratada como
uma mulher qualquer depois de tudo que havia feito por todos no navio.
Inclusive pelo Capitão.
Um dos prisioneiros esperou Johnson trancar a porta e quando se
certificou que o marujo não voltaria, desatou sua algema e olhou com malícia
para Ravena, levantando-se e indo em direção a ela.
— Preciso de seus favores, mulher. — O homem disse parando diante
dela.
Ravena levantou o olhar para o homem ameaçador. Não tinha ideia de
como ele havia conseguido escapar da algema e sentiu repulsa pelo olhar lascivo
dele. Sabia que muitos a abominavam ali, mas não imaginava que alguém teria
coragem de tentar tomar liberdades com ela.
— Volte para o seu lugar. — Ela limitou-se a dizer e voltou a dar a sopa
para Amady.
Ofendido, o homem bateu contra a mão dela, jogando o pote com sopa
longe. Todos se silenciaram e ficaram expectadores daquela cena deplorável.
Ravena sabia o que ele queria, ela preferia morrer a deixar que um homem a
tocasse.
— Afaste-se, Amady. — Ela disse a mulher sem tirar os olhos do
homem.
A mulher grávida se afastou e no instante seguinte o homem investiu
contra Ravena. Ele tentou deitá-la no chão, mas ela bateu as mãos contra o peito
dele, empurrando-o. Ele a segurou pelo cabelo e ela gritou, fazendo Mary
acordar. A amiga viu quando o homem deitou Ravena no chão e ficou em cima
dela, dando-lhe um tapa no rosto.
Mary levantou-se cambaleante e tentou empurrar o homem, mas ele era
forte e a impeliu com toda força, fazendo-a bater a cabeça contra o casco do
navio e desmaiar. Ravena gritou e mordeu a mão dele, que lhe bateu novamente.
O prisioneiro conseguiu segurar suas mãos acima da cabeça e com a mão livre,
levantou sua saia. Ela esperneava e gritava, lutando contra ele, mas sentiu que
ele conseguiria seu intento.
— Alguém ajude! — Amady gritou, não podendo fazer nada para ajudá-
la. Mas ninguém se movia, havia aqueles que gostavam do que estava
acontecendo, como se Ravena merecesse ser castigada por ter se tornado amante
do Capitão do navio.
— Eu sou o próximo! — Outro homem gritou.
Ela lutava contra ele, preferia morrer a deixar que ele ou qualquer outro a
tocasse.
— Fique quieta, maldita! — O homem vociferou tentando abaixar as
calças para se colocar em cima dela.
Ravena gritou novamente, fazendo força para soltar-se, sentindo o gosto
de sangue na boca. O homem abaixou as calças e sorriu pronto para possuí-la.
Ela sentiu todo o desespero diante do olhar lascivo dele, enquanto os prisioneiros
gritavam para ele violentá-la.
— Não! — Ela gritou e no instante seguinte, ouviu o som do tiro e o
homem caiu sobre ela, soltando suas mãos. Ela tratou de empurrá-lo,
desesperada, e viu quando ele foi tirado de cima dela por Derek.
O silêncio imperava por todo o recinto.
Ela o viu entre lágrimas, mas sua atenção se voltou para Mary, caída
inerte. Sem se importar com a saia rasgada, arrastou-se até a amiga e a chamou,
mas a mulher não respondeu. Havia uma poça de sangue embaixo do corpo.
Ravena tomou a cabeça ferida de Mary e a colocou sobre seu colo e notou que
ela estava morta. Ofegou, mas não chorou, mordeu a própria mão para não
derramar uma lágrima.
Johnson e outros dois marinheiros levaram o corpo do prisioneiro morto
por Derek para fora e voltaram para buscar o corpo de Mary. Ravena despediu-se
dela em silêncio e os homens a pegaram. Ela tocou o braço de Johnson, que se
voltou para ela:
— Trate-a bem, senhor Johnson. — Ela pediu.
— Sim, madame. — Ele quase sorriu e junto dos outros homens saiu do
porão.
Então, Ravena viu Derek parado junto a porta e sentiu um arrepio pelo
corpo. Sentiu raiva de si por querer se levantar e correr para os braços dele em
busca de consolo. Lembrou-se das palavras de Mary quando lhe disse que não
era errado se apaixonar. Ela ignorou, mas tinha que admitir que a amiga tinha
razão. Jamais teria se entregado aquele homem, se ao menos não tivesse se
agradado dele e não estaria tão amargurada com o que ele fizera, se não tivesse
se envolvido emocionalmente. Teve vontade de rir de si, afinal, ficou uma vida
toda sem saber o que era a paixão e quando sua vida não tinha mais esperanças,
encontrou-a nos braços de um pirata como uma prostituta barata faria.
As fofoqueiras de Buford fariam festa com aquela notícia, pensou com
sarcasmo. Pelo menos, enquanto estiveram juntos, ele a tratou bem, não podia
dizer que fora uma má experiência porque estaria mentindo. Não querendo mais
pensar nele e no modo como mexia com seus sentimentos, desviou o olhar dele
para a saia rasgada durante a briga com o prisioneiro. Gostaria de ter uma linha e
agulha para consertá-la. Encostou-se na parede do navio e abraçou as próprias
pernas, abandonando seu queixo no joelho. A vida seguia e logo, ela estaria em
terra firme e longe daquele navio. Admitiu apenas esse pensamento para não
enlouquecer e repetiu em sua mente, fechando os olhos.
Derek bufou ao ver o desprezo nos olhos de Ravena. Ela o odiava por tê-
la feito voltar ao porão e descoberto seu segredo. Entretanto, o pior era o ódio
que tomava conta dele ao relembrar o grito dela que ouvira do convés, e de como
correu até o porão e viu o homem sobre ela. Atirou sem pestanejar e teria
descarregado uma munição toda em cima daquele prisioneiro se pudesse e sua
real vontade era tomá-la nos braços e levá-la para sua cabine e confortá-la até
que apagasse de sua mente aquele triste momento. Nenhuma mulher deveria ser
tratada com violência.
Porém, ele não podia se aproximar sem lembrar-se do quanto ela o tratara
como um tolo. Mesmo assim, hesitou e vencido por seu orgulho a viu desviar o
olhar. Johnson esperou que o Capitão saísse e fechou a porta.
— Acho que ele não vai ser o único a tentar, Capitão. — Ele disse
quando Derek passou por ele. Esperou o Capitão se voltar e prosseguiu: — Pelo
que entendi, muitos têm raiva dela por ter se tornado sua mulher...
Derek sentiu o sangue correr em suas veias com raiva apenas por
imaginar outro homem tocando a pele de Ravena.
— Não há lógica nisso — tentou argumentar.
— É o que dizem. — Johnson insistiu. — E se notar, além da mulher que
morreu, ninguém mais tentou salvá-la do prisioneiro.
A ideia de que a machucariam afetou Derek de uma forma que ele não
imaginava ser possível. Sentiu-se culpado. Todavia, não conseguia se arrepender
de tê-la tirado do porão e a tomado para si. Faria isso mil vezes se fosse
necessário e em todas sentiria raiva por ser feito de tolo. E odiaria quem ferisse
Ravena.
— Mas devo imaginar que o senhor não se importa, afinal, mandou
Murdock cortar a comida dela também! — Johnson o acusou, encolhendo os
ombros.
— Do que está falando? — Derek franziu o cenho.
— Ora, Murdock a deixou sem comida, derramou a sopa dela no chão de
propósito. Eu vi, senhor. — Ele se fez de inocente — Pensei que fossem ordens
suas.
— Não mandei... — parou de falar e entendeu o recado que Johnson lhe
dava.
— Pelo bem dela, talvez fosse melhor que ela ficasse em nosso
dormitório... — Ele propôs. — Assim não corremos o risco de ver todos os
prisioneiros mortos com um tiro, por tentarem violá-la. E eu posso levar as
refeições para ela.
Derek estava surpreso com a atitude dele. Entretanto, não menos
ciumento do instinto de proteção de Johnson.
— Está apaixonado por ela, marujo? — perguntou tentando mostrar-se
indiferente.
— Não é preciso se apaixonar por uma mulher para admirá-la, Capitão.
— Ele meneou a cabeça. — E a madame pode ajudar nos afazeres mais difíceis,
facilitando nossa vida. Ela é mil vezes mais esforçada que Murdock.
Derek queria dizer não, para que ela ficasse onde merecia ficar,
entretanto, seu imediato tinha razão quando dizia que era arriscado e não
desejava que Ravena fosse violada. Ela ou qualquer outra mulher. Caso dissesse
não, mostraria o quanto o que ela fez mexera com ele, portanto, acabou
aceitando a ideia.
— Faça como achar melhor — avisou mal-humorado por deixar seu
coração o manipular. — Mas que seja para o bem-estar dos meus prisioneiros. E
não quero meus homens brigando por causa de uma mulher!
— Certo, Capitão — assentiu, satisfeito.
— E não quero saber de briga entre meus homens por causa dela! —
informou. — A última coisa que preciso é de um motim por causa de um rabo de
saia...
Tubarão encolheu os ombros:
— Duvido que eles façam qualquer coisa desagradável para a madame
— assegurou.
— Por quê?
— Eles a admiram como uma mãe, Capitão. Ela nos tratou bem, costurou
nossas roupas e cuida dos prisioneiros e dos doentes. Apenas uma mãe tem um
coração tão bom. E ninguém tocaria em um fio de cabelo da mulher do Capitão,
não é?
Derek o olhou como se ele fosse um louco.
— Mantenha-me informado do andamento das coisas por aqui. — Derek
comprimiu os lábios. Virou-se e saiu dali a passos largos.


Johnson abriu o cadeado e entrou ao porão. Depois do incidente da morte
do prisioneiro, os ânimos estavam mais calmos. Porém, sabia que quando o
temor passasse, eles poderiam se virar contra a madame. Aproximou-se dela e
tocou seu ombro, ela virou-se para ele assustada.
— Sou eu. — Ele lhe sorriu e abaixou para tirar suas algemas. — Venha
comigo.
— Não posso, senhor Johnson. — Ela olhou para Amady. — Ela precisa
de mim, o bebê está chegando...
Ele olhou para a mulher grávida com pesar. O Capitão jamais permitiria
tirar as duas dali.
— Leve-a no meu lugar. — Ravena pediu. — Ela não pode ter o bebê
aqui — pediu.
Johnson comprimiu os lábios, sentindo seu coração enternecer por aquela
mulher.
— Tem que sair, madame. Provavelmente, aquele não será o último
prisioneiro que tentará alguma coisa...
Ravena sabia disso.
— Vá com ele, Ravena. — Amady pediu. — Eu estou bem e ele tem
razão, se você ficar aqui, vão machucá-la.
— Venha, madame. — Johnson insistiu. — Se a moça passar mal, eu a
chamo.
Ravena ainda hesitou antes de concordar.
— Está bem...
Ela imaginou que Derek tivesse mandado buscá-la após notar o mal que
havia lhe feito. Johnson a ajudou a ficar de pé e saíram do porão sob o olhar
atento dos prisioneiros. Para decepção dela, Johnson a levou para o dormitório
dos homens ao invés da cabine do Capitão, como seu coração tolamente
acreditou que seria. Alguns homens presentes a cumprimentavam com respeito,
enquanto Johnson atravessava o recinto cheio de beliches e redes. Foram até o
fundo e ele lhe apontou uma cama.
— A madame pode ficar aqui. — Ele avisou. — É melhor do que dentro
do porão — disse com humildade.
— Está perfeito, senhor Johnson. — Ela forçou um sorriso. — Agradeço
a gentileza. Mas o Capitão sabe disso?
Ele assentiu.
— Eu pedi a ele.
Outra decepção de uma mulher tola. Pensou que Derek havia pedido por
ela. Não podia imaginar que por trás daquele amante apaixonado, havia um
homem tão frio e indiferente. Sua primeira decepção amorosa. Viu tantas
mulheres perderem sua honra nas mãos de homens libertinos e, agora, ela era
abandonada. Irônico.
— Obrigada. — Ela agradeceu.
— Não vou algemá-la. — Ele avisou. — Apenas lhe peço que não saia
daqui.
— Prometo que ficarei bem quieta.
Johnson fez menção de sair e ela o chamou de volta.
— Seria muito lhe pedir uma agulha e linha para que eu possa costurar
minha saia? — Ela mostrou o tecido rasgado da barra até a acima dos joelhos.
— Não, madame. Vou arranjar...
Ela sorriu satisfeita e se sentou na cama. Johnson saiu e ela viu um dos
marujos tentando arrumar a cama, sem muito progresso. Ravena se levantou e
foi até ele.
— Quer que eu o ajude? — perguntou.
Ele arregalou os olhos para ela.
— Posso fazer isso, enquanto o senhor sai para o seu trabalho.
— Não quero abusar da madame. — Ele falou sem graça.
— Não será abuso nenhum — garantiu tomando a frente para arrumar. —
Pode ir, marujo, eu cuido de tudo.
O homem assentiu e se afastou.
Ravena arrumou a cama depressa. Não havia tempo para lamúrias.
Infelizmente, ficar aqueles dias com Derek havia feito se afastar de sua realidade
inevitável e ela ficou mal-acostumada, por isso, precisava ocupar sua cabeça e
corpo com qualquer coisa, a fim de não enlouquecer. E sem que lhe pedissem,
ela começou a organizar o caos que era aquele lugar.
Johnson voltou para seu posto e encontrou Murdock esperando por ele. O
cozinheiro segurava um tacho com sopa e esperava que Johnson lhe abrisse a
porta. Em silêncio, ele o fez. Minutos depois, Murdock voltou, nervoso.
— A prisioneira desapareceu!
Johnson se fez de desentendido.
— Quem?
— A tal madame!
— Ah! — fingiu surpresa. — É melhor falar com o Capitão, afinal, ela
não pode ter evaporado, não é? — Tubarão falou com cinismo.
Murdock sabia que havia algo errado naquilo e saiu à procura de Derek, e
o encontrou junto ao leme.
— Capitão! — Murdock gritou subindo as escadas.
— O que foi? — Derek perguntou mal-humorado.
— A prisioneira sumiu!
— Prisioneira?
— A que chamam de Madame! — acusou.
Derek desviou o olhar do mar para ele.
— E desde quando isso é problema seu? — Derek o cortou e sem o
deixar responder, prosseguiu: — Cuide de seu trabalho que é cozinhar e servir os
prisioneiros. Todos os prisioneiros...
Murdock entendeu o recado.
— Capitão, se aquela mulher reclamou de mim, saiba que ela se recusou
a comer e jogou a sopa no chão...
Derek estreitou o olhar. Por qual motivo Murdock estaria mentindo?
Ciúme de Ravena por ele fora preterido pelos demais? Ou simplesmente por que
não gostava dela?
— Ela não me disse nada, marujo. Mas se eu souber que tratou com
diferença qualquer prisioneiro, eu mesmo o jogarei ao mar — ameaçou.
E Murdock sabia que o Capitão faria.
— Sim, senhor... — virou-se e saiu pisando duro.


Os tripulantes ficaram surpresos ao encontrar o dormitório limpo e
arrumado. Quando Johnson foi levar para Ravena sua sopa, ela lhe pediu a
vassoura e um pano, sabia que ele não teria problemas com Murdock para
consegui-los. E enquanto limpava, ela imaginava-se limpando a própria casa à
espera da chegada do marido e dos filhos. Começou a cantarolar uma música de
sua infância que diziam que tudo ficaria bem, e enquanto varria, deixava que
seus pés deslizassem em uma dança muda de saudade. Sentiria falta da
liberdade, de sua viagem para a Índia, do casamento que nunca teve, dos filhos
que nunca conheceria, de tudo que sua família havia roubado dela.
Entretanto, em uma vida de recordações, ela acreditava em destino. Sabia
que em seu futuro, ela sempre regressaria àqueles dias. De tudo que deixaria
para trás, subitamente compreendeu que sentiria falta de Derek. Parou de dançar
e cantar e engoliu o soluço que subiu à garganta. Fechou os olhos e pensou nele,
e seu coração doeu profundamente por tê-lo conhecido tão tarde, em um
momento tão ruim de sua vida. Ela possuía as mais lindas lembranças ao lado
dele, entre o prazer e a paixão, carregaria consigo o som de sua voz, a risada
profunda, suas histórias, seus segredos que ela conheceu tão bem em pouco
tempo.
Quem sabe, em uma outra vida a história deles teria sido diferente.
Imaginou se o tivesse conhecido em um dia atípico, em Londres, e então
apaixonados, partissem sem rumo pelos mares. Conheceria lugares ao lado dele
e o amaria para sempre. Nunca imaginou em sua vida que o amor poderia lhe
ocorrer daquele modo...
Voltou a varrer e desejou que Derek fosse feliz. Segurou as lágrimas e
forçou um sorriso. Apesar do modo como a havia deixado de lado, ele lhe
proporcionara momentos inesquecíveis e ela lhe seria eternamente grata por isso.
Não havia motivos para se entristecer, tinha que ser agradecida a vida por ter
permitido que conhecesse o amor.
E satisfeita por seus pensamentos ajeitou o dormitório e no início da
noite, tudo estava pronto e os homens chegavam surpresos com a organização do
lugar.
E logo, o feito chegou aos ouvidos de Derek. Ele desceu para ver se era
verdade. Ficou surpreso com o milagre que ela fez naquele lugar, tudo estava
impecavelmente limpo, o cheiro de lar pairava no ar. Enquanto caminhava pelo
recinto, Derek notou as camas arrumadas, o chão brilhando, as roupas de todos
dobradas e remendadas, não era à toa que ela estava entregue ao sono profundo
quando ele entrou, devia estar exausta depois de tanto trabalho. A beleza dela
resplandecia sob a luz das velas. Pegou o cobertor aos pés da cama simples, e a
cobriu.
Teve que se segurar para não a pegar no colo e levá-la para sua cabine.
Fechou os punhos e comprimiu os lábios, enquanto travava uma luta entre a
razão e o desejo.
O que ela ganhava fazendo aquilo? Ele se perguntou enquanto admirava
a beleza dela. Ela não ia conseguir mais sua liberdade, ele não lhe daria, então,
por qual motivo ela prosseguia com todos aqueles atos? Soube até que ela tentou
barganhar sua saída do porão pela da mulher grávida. Que tipo de pessoa fazia
aquilo? Ela não podia ser tão boa, podia?
Derek acariciou os cabelos loiros, a face delicada e ela resmungou
alguma coisa e se aconchegou ao cobertor. Ele sentiu a ponta dos dedos
queimarem de prazer com o toque e se afastou depressa, indo para sua cabine.
Nenhuma mulher podia ser tão perfeita! Será que ela fazia tudo isso por puro
altruísmo? Teria ele se enganado com relação a ela?
Deitou-se na cama e olhou para o teto, pensativo. Sentia falta dela, tinha
que admitir. Tocar seu rosto, mesmo que de forma simples, lhe despertou uma
paixão esfomeada, um desejo insano de tê-la outra vez e mantê-la ao seu lado.
Sabia o que isso significava: havia se apaixonado por Ravena quando a viu subir
no convés de seu navio. Não havia como escapar daquela verdade. Por isso, a
escolhera e a fez permanecer ali por vários dias. Em razão disso a odiou quando
se sentiu enganado, e a desprezou, talvez, de maneira precipitada, envenenado
pelas palavras de Murdock.
Seus sentimentos profundos por Ravena o haviam cegado. Ficou com
ciúme e conhecendo a si mesmo, sabia o quanto podia ser possessivo. Nunca
pensou que seria assim, que o amor o tomaria de forma tão rápida e
avassaladora, fazendo dele um homem imperfeito, mas intensamente
apaixonado, entregue. Poderia mentir para si, dizer que não se importava, mas
ela mexia com ele de um jeito tão profundo e inexplicável. E ele não desejava
ficar longe dela.
Levantou-se e caminhou pela cabine, tentando raciocinar com frieza.
Não havia o que discutir: Derek Coleman estava apaixonado por Ravena
Bryant.
Mas o que faria com isso? Ela era uma prisioneira condenada ao
banimento perpétuo e aguardavam por ela no outro continente. Sua cabeça
fervilhou de pensamentos, alguns incoerentes, em uma briga entre a razão e seus
sentimentos.
A única coisa que tinha certeza era que a partir de agora suas noites
seriam solitárias sem a presença dela.


— Madame! — Johnson balançou Ravena para acordá-la.
Ela estava sonhando e levou um susto. Sonhara com Derek em um
campo de papoulas. Ela caminhava lentamente, tocando as flores que
balançavam com a brisa da manhã, quando ele surgiu, amando-a com os olhos,
beijando-a com a alma. E, então, sentiu que era arrebatada do sonho e deparou-
se com o marujo.
— Sim? — perguntou, confusa.
— A senhora que está grávida! — falou nervoso. — Acredito que ela
precisa da sua ajuda, madame.
Ravena passou a mão pelo rosto e levantou-se depressa. Amady deveria
estar dando à luz. Johnson abriu as portas do porão e Ravena entrou, seguida
dele. Sua amiga gemia deitada em um canto solitário.
— Acredito que chegou a hora, Ravena. — Amady murmurou
comprimindo os lábios.
— Esse bebê é apressado, não é? — perguntou enquanto se ajoelhava e
começava a fazer um exame minucioso para saber como estava o bebê...
— Parece que sim. — E levou a mão à boca para não gritar de dor.
Enquanto examinava Amady, Ravena não viu que Johnson caminhava
por entre os prisioneiros. De repente, ele a chamou.
— Madame! Madame!
Ela pediu que Amady aguardasse um instante e se levantou indo em
direção a Johnson.
— O que foi, senhor Johnson?
— Veja...
Ele apontou para a mulher deitada e pálida: Ada James.
— Ela está morta!
Ravena se abaixou e levou a mão ao pescoço da mulher. Ela estava fria
como o gelo e não tinha pulsação. E havia manchas vermelhas por todo o seu
corpo. Ela levantou-se depressa e olhou para Johnson assustada:
— Tem que tirá-la daqui, imediatamente — pediu.
— Por que, madame?
— Ela morreu de tifo, senhor Johnson — murmurou para que apenas ele
ouvisse e foi para perto de Amady. O marujo a seguiu. — Vi muitos desse caso
quando acompanhei meu pai até a Itália, há uns cinco anos. Amady não pode
ficar aqui e ter o bebê...
Ele assentiu e saiu a passos largos.
— O que foi? — Amady quis saber.
— Vou levá-la para um lugar mais limpo para ter seu bebê — explicou
dessa forma.
A moça concordou sentindo novas contrações fortes. Minutos depois,
Johnson voltou na companhia de outros homens e Derek. Ravena sentiu um frio
na barriga ao vê-lo depois do sonho que tivera com ele. Era impossível que sua
pulsação não acelerasse e ela quisesse tocá-lo e beijá-lo. O que ela estava
fazendo? Estavam no meio de uma tragédia e tinha fantasias com ele?
— O que houve? — Derek se abaixou ao lado dela.
Ela sentiu seu perfume e respirou fundo antes de falar:
— Amady está dando à luz, preciso tirá-la daqui — avisou.
— E a mulher morta? — Ele quis saber.
— Mostre a ele, Johnson. — Ela pediu.
Derek se levantou e acompanhou Johnson, e eles trocaram algumas
palavras.
— Joguem-na no mar. — O Capitão ordenou. — Agora!
Imediatamente, os marujos jogaram um pano sobre o corpo da mulher e a
tiraram dali. Johnson ajudou Derek a tirar Amady e levá-la para o dormitório,
mas ela soltou um grito de dor, o bebê estava nascendo. Eles a colocaram no
corredor e Ravena correu para ela.
— O bebê está nascendo. — Ravena disse emocionada. — Faça força,
Amady. — Ela mandou.
A moça fez força e gritou. E mais uma vez. Ela já não tinha mais ânimos,
seu corpo todo doía, enquanto Ravena a incentivava a prosseguir. Derek segurou
a moça pelas costas e a ajudou a erguer o corpo para facilitar a saída do bebê.
Amady segurou a mão de Derek e gritou novamente, fazendo toda força que
podia até perder o ar.
Ravena segurou o bebê e o ajudou a sair. Ela ergueu o bebê que começou
a chorar. Emocionada, pegou o tecido limpo que Johnson lhe oferecia e envolveu
o menino.
— É um menino! — olhou para Amady e a viu desfalecida nos braços de
Derek. O Capitão olhou para Ravena e fez que não. Amady havia morrido.
Ravena não podia acreditar. Ela entregou o bebê que chorava para Johnson e se
ajoelhou diante da moça e lhe acariciou o rosto.
— Amady? — A moça não respondeu e ela olhou para Derek. — Como?
— perguntou incrédula.
— Deve ter sido o coração. — Derek supôs.
— Oh, meu Deus! — ofegou e balançou a cabeça. — Ela não conheceu o
próprio filho, meu Deus! — lamentou.
— Eu e Johnson cuidamos dela. — Ele avisou. — Cuide do bebê.
Ravena não queria deixar Amady daquele jeito, mas não havia o que
fazer. Atordoada com os acontecimentos daquela noite, ela assentiu, se levantou
e pegou o bebê do colo de Johnson, precisava cortar o cordão umbilical, limpá-lo
e arranjar algo para ele vestir naquele frio da madrugada.
Viu Johnson trancar a porta do porão e seu coração se encolheu mais
ainda. Caso, aquela mulher tivesse morrido mesmo de tifo, provavelmente a
maioria dos prisioneiros estariam contaminados, todos morreriam. Ela engoliu
em seco e tentou não pensar que uma tragédia maior esperava por eles.


Ravena ficou impressionada quando os próprios marujos deram tecidos
para que ela costurasse roupas para o bebê. Improvisou algo para vesti-lo e o
manter aquecido, e ficou contente quando Johnson trouxe mingau.
— O Capitão mandou trazer, madame. O bebê deve estar com fome.
Derek era um bom homem. Ela sabia disso. O modo como ele ajudara
Amady durante o parto a surpreendeu. Aquela atitude enterneceu seu coração.
— Obrigada. — Ela agradeceu e deu o mingau para o bebe em
colheradas pequenas, já que não havia como dar de outra forma.
Ele era tão pequenino e frágil, que Ravena tinha medo que quebrasse. O
bebê foi se acalmando até adormecer. Ela levantou o olhar e viu que todos os
tripulantes estavam admirando aquele momento, preocupados com o recém-
nascido. Homens tão grosseiros acostumados as bravuras do mar impetuoso e
que se abalavam com a presença de um simples bebê. Até mesmo Murdock
vigiava de longe, surpreendendo-se com tamanho carinho da parte dela. Uma
mulher podia fingir muitas coisas, mas não o amor que sentia por uma criança.
— Precisamos dar um nome a ele. — Ela falou.
Os homens se entreolharam.
— A mãe não disse nada? — Um deles perguntou.
— Infelizmente, não — respondeu com pesar.
Johnson coçou a barba.
— O que vocês acham? — olhou para os homens.
— Eu gosto de Thomas — disse um dos marujos.
Johnson olhou ao redor:
— Outro nome? Alguém mais?
— Meu pai se chamava Benjamin... — Um outro disse.
— Gosto de Benjamin. — A voz de Derek soou pelo recinto e todos se
afastaram para ele passar até Ravena.
Ele havia tirado a camisa suja de sangue e havia se limpado. Estava
lindo, perfeito, enquanto ela necessitava de um banho verdadeiro. Ela tremeu
diante da força daquele olhar e desviou a atenção para o bebê.
— Benjamin — forçou um sorriso.
— É um bebê forte. — Derek comentou e ela voltou-se para ele.
— E vai sobreviver até encontrar o pai em Londres — falou esperançosa.
— E quem vai levá-lo para casa? — Little Ted quis saber.
Ravena encolheu os ombros:
— Eu pensei que o senhor Johnson poderia fazer isso por mim — olhou
para Tubarão. — O senhor se importaria de levar o bebê até o pai dele, quando
eu for para a prisão?
Ele assentiu depressa e comprimiu os lábios:
— Prometo por minha honra, madame. Esse bebê vai chegar ao pai dele.
— Obrigada — sorriu com ternura. — Fico mais aliviada em saber. —
Ravena levantou o olhar para Derek. Ele a encarou profundamente, e ela sentiu a
centelha do desejo em seu olhar.
— Johnson, poderia ficar com o bebê por alguns instantes, preciso falar
com a senhorita Bryant? — Derek pediu.
— Sim, Capitão. — Johnson se sentou ao lado de Ravena e
delicadamente pegou o menino no colo, com uma doçura que a surpreendeu e ele
notou. — Tenho muitos sobrinhos — explicou.
— Eu já volto. — Ela disse constrangida por aquela necessidade de
Derek de falar com ela.
Não podia imaginar o que ele queria lhe dizer, mas estava ansiosa para
saber. Qualquer momento perto dele era válido, mesmo que fosse de ingenuidade
de sua parte pensar assim, não podia evitar. Ela o acompanhou para fora do
dormitório no mais completo silêncio, enquanto os homens se reuniam em volta
de Johnson para ver o garoto que sem perceber estavam adotando como parte da
tripulação.
Derek seguiu a frente até a porta da cabine e então a abriu, fazendo
menção para que Ravena entrasse. Em outro momento, ela diria não.
Especialmente, depois da forma como a tratou, desprezando-a sem qualquer
explicação. Ficou dividida entre a curiosidade e o orgulho. Olhou para dentro da
cabine e para Derek, hesitante.
— Quero apenas conversar — informou.
Ela anuiu e entrou. Caminhou até o meio da cabine, sentindo o cheiro
que se tornara tão familiar para ela. Ouviu o fechar da porta e virou-se para ele.
— Não quer se sentar? — Ele ofereceu, educado.
— Não, obrigada. — Ela respondeu esfregando as mãos, nervosa.
Derek notou e deu um passo para ela. Por horas ficou pensando no que
dizer a ela. Um pedido de desculpas? Uma declaração? Tudo aquilo parecia
imensamente ridículo.
— Temos dois problemas no momento. — Ele começou a falar
controlando sua impulsividade para não a assustar. — A morte da mulher com
tifo e o bebê.
— Pode haver uma grande contaminação entre os prisioneiros. — Ela
concordou.
— E isso pode ser a porta de uma tragédia, porque se eles se
contaminarem, meus tripulantes correm risco e as autoridades não deixarão que
o navio aporte, em Boston — falou sério.
— E isso significa? — quis saber.
— Que terei um prejuízo enorme...
Ela abraçou o próprio corpo.
— Dinheiro... — murmurou decepcionada. — Sinto muito, mas nesse
caso, não posso lhe ajudar em nada.
— Deixe-me terminar de falar — pediu enérgico. — Não me interrompa,
por favor.
— Está bem...
— Para o seu bem e do bebê é melhor que fiquem aqui em minha cabine
— aconselhou e ela se surpreendeu.
— Estamos bem no dormitório...
Derek deu um passo para ela:
— Não seja teimosa, aqui terá tranquilidade e o choro do bebê não
incomodará ninguém.
— Por que está fazendo isso?
— Preciso que meus homens durmam bem para o trabalho — justificou.
— E quanto ao seu sono?
Ele prendeu seus olhos nos dela.
— Não importa muito na verdade. Somente não quero que nenhum mal
lhe aflija.
Ela soltou lentamente a respiração. Aquele homem devia ser louco. Uma
hora a expulsava dali e na outra a trazia de volta. Porém, ela precisava concordar
que a cabine era um lugar melhor para o bebê.
— Acho que é um pouco tarde para tanta benevolência — retrucou
sincera e antes que ele dissesse qualquer coisa, prosseguiu: — Agradeço sua
preocupação, e aceitarei seu convite pela saúde do bebê que é delicada —
informou. — Agora, se me dá licença. — Ela fez menção de sair, mas ele se
colocou no caminho dela.
Ravena levantou a cabeça para encará-lo.
— Ainda não terminei. — Ele avisou.
— E o que mais o senhor tem a me dizer? — Ela perguntou voltando a
cruzar os braços.
Ele queria desesperadamente tocá-la.
— Acredito que eu... — Ele engasgou com as palavras. — Ravena, quero
que fique por mim.
— Pelo senhor? — Ela deu um passo para trás e fez que não. — Não vou
ser sua amante outra vez!
Ela se afastou e lhe deu as costas. Não acreditava que havia dito aquilo.
Tentou controlar seus sentimentos, mas havia perdido o poder sobre eles quando
aceitou a proposta de ser amante de Derek e se apaixonou por ele. Agora era
tarde demais para lamentar.
— Por quê? — Ele indagou.
Ravena não podia acreditar que ele fazia tal pergunta e virou-se para ele,
indignada:
— Como ousa me questionar depois de quebrar nosso acordo sem
qualquer explicação?
— Mas há uma explicação...
— Qual? — devolveu cruzando os braços.
— Eu errei com você, duvidei de sua integridade. — Ele disse se
aproximando dela lentamente. — E está magoada comigo por isso... — Derek
parou diante dela ansioso para sentir o corpo dela junto ao seu. — A culpa foi
minha, sinto muito.
Ele não podia estar dizendo aquilo, não agora, ela pensou.
— Não diga isso — murmurou.
— É verdade. — Ele tocou os ombros dela e a virou para ele. — Não
tinha ideia do quanto minha vida era solitária, Ravena, até encontrá-la e o quanto
fiquei fora de mim diante da possibilidade de perdê-la!
Ela negou:
— Pode ter a mulher que quiser...
— Quero você, Ravena, não entende?
— Então, por que me mandou de volta para o porão? — Ela precisava
saber.
Derek se sentiu derrotado naquele momento.
— Por medo que não sentisse o mesmo que sinto... Tive receio que
estivesse me enganando. Agi errado, estou arrependido, me perdoe — falou
sincero.
— Jamais lhe enganei — falou engolindo em seco.
— Agora sei disso... E sei o quanto fui tolo por puni-la por minha própria
insegurança.
Lágrimas vieram aos olhos dela, mas as reteve.
— Do fundo da minha alma — fechou os olhos por um instante. — Eu
me senti tão sozinha nos últimos meses, que minhas esperanças foram
desaparecendo... — Ela se controlou para não chorar. — Mas aí, o senhor surgiu
e fez tudo parecer tão diferente, e depois me descartou como se eu fosse uma
prostituta... Almejei tanto o amor, como todas as pessoas fazem, e acredito que o
encontrei ao seu lado. Mas não quero que se sinta preso a isso, porque tudo o que
aconteceu entre nós me fez ver que há uma chance para ser feliz e nunca vou
desistir de procurar pelo amor, aonde quer que eu esteja...
Ele a puxou para si, colando seu corpo ao dela, sentindo a respiração dela
contra a sua.
— Já o encontrou. Estou ansiando para estar ao seu lado. Não gostei de
dormir sozinho essas noites, de não ter você aqui comigo.
— Isso é desejo...
— É mais — falou determinado e ela miseravelmente, acreditou. — Não
vê? Temos o hoje. Nada mais. Podemos morrer de tifo, ou em um naufrágio ou
nunca mais nos vermos, então, o que importa o amanhã se o que temos tudo é o
agora? Nós, juntos? Estar ao seu lado me faz bem, como nunca foi com
ninguém!
— Não faça isso comigo... Estou esgotada demais para acreditar em
qualquer coisa que seja boa.
Ele não podia desistir dela agora, não permitiria que ela saísse daquela
cabine sem ter certeza de seus sentimentos por ela.
— Pode sair por aquela porta, se quiser. — Ele ignorou as palavras dela.
— Mas podemos fazer durar, encontrar um jeito de ser apenas eu e você. Nós.
Ravena não aguentou mais e deixou as lágrimas escorrerem por seu
rosto.
— Tem certeza? Sou apenas uma prisioneira. O que sabemos um sobre o
outro?
Ele segurou a mão dela e a levou aos lábios para um beijo terno.
— O que eu sei é que não posso deixá-la, agora que a encontrei... Vou
mantê-la bem aqui, entre meus braços, para sempre...
Ravena soluçou e chorou, abraçando Derek e escondendo seu rosto no
peito largo, com uma sensação infinita de bem-estar. Ele a abraçou e beijou seus
cabelos com carinho. Sabia que era ela a quem as estações lhe deviam à espera
de uma vida.


— Ao que parece, há outros prisioneiros com tifo. E alguns já
apresentam febre. — Ela observou quando voltou do porão e se encontrou com
Derek e Johnson na proa.
Derek assentiu e respirou fundo.
— Talvez devêssemos jogá-los ao mar — falou friamente.
Embora Ravena se chocasse com aquelas palavras, sabia que era verdade.
Entretanto, não podia deixar acontecer, sua consciência não permitia.
— Caso ele esteja contaminado, outros estarão, não há muito que fazer.
Temo que perca todos os prisioneiros, Derek.
Derek olhou para Johnson:
— Vigie os homens, caso note algo diferente na saúde deles, me avise.
— Sim, Capitão.
Ele acenou com a cabeça e se afastou com educação. Derek achava
engraçado como os homens a tratavam com tamanha cortesia. Ela havia
conquistado a admiração de todos de forma imperceptível, apenas Murdock a
evitava. Ele a fitou:
— Falta menos de dois dias para chegarmos ao porto. Talvez em pouco
menos, estaremos em Boston — comentou.
— Apenas isso? — Ela abraçou o próprio corpo. — Pensei que ainda
tivéssemos mais tempo juntos.
Ela recostou-se à murada e deixou que a brisa do mar a beijasse.
— Sabe que não precisa ser assim, não é? — A voz dele soou bem atrás
dela.
Derek queria abraçá-la e confortá-la, mas diante de seus homens sedentos
por sexo há semanas, isso seria um sacrilégio. Manteve-se o mais próximo
possível no limite do respeito. Ravena havia voltado para a cabine há duas
noites, entretanto, a mudança de clima e a aproximação da tempestade tinha feito
Derek permanecer a maior parte do tempo fora e quando retornava, ela estava
cuidando do bebê.
Sentia por ela um desejo tão profundo e inexplicável, que mesmo
angustiado para possuí-la, seu respeito era enorme para desonrá-la na frente de
seus homens.
— E como acha que vai ser? Acredita que eles vão me soltar se você
pedir? — Ela perguntou com sarcasmo e voltou-se para ele.
Estava tão próximo e ela sentia uma necessidade insana de beijá-lo, de
estar em seus braços novamente. Ele a ansiava com um apetite intenso e
selvagem que transcendia o decoro.
— Mas você pode ficar comigo, se quiser — ofereceu.
Os olhos dela arregalaram diante da proposta.
— O que está tentando dizer, Capitão?
Ele deu um passo para ela e sua mão deslizou na fina cintura. Ela sentiu
cada fibra do seu ser vibrar diante do toque da mão dele de forma tão possessiva.
Molhou os lábios e ele teve que se conter para não a beijar. Sua respiração ficou
pesada, seu olhar pousou sobre o dela com ternura, como se atravessasse sua
alma.
— Quando eu entregar a lista de prisioneiros, o seu nome estará entre os
lançados ao mar — contou sua ideia.
— Mas não acha que algum prisioneiro pode dizer a verdade?
— Quem acreditaria que o Capitão Derek Coleman mentiria para as
autoridades britânicas? É a minha palavra contra a deles... — A curva dos lábios
se abriu de forma lenta e impassível. Ele já havia pensado em tudo. Planejou
exatamente o que faria nos últimos dias para ter Ravena ao seu lado para sempre.
— É arriscado, Derek. — Ela tocou o braço dele na necessidade infinita
de senti-lo o máximo de tempo que conseguisse. — Sabe que se descobrirem,
enforcarão você e toda a tripulação...
— Não posso deixar que fique longe de mim, Ravena. — Ele falou com
uma determinação que a fez estremecer. — Não posso e não vou entregá-la a
eles.
Ela respirou fundo para não chorar de felicidade diante dele.
— Mesmo que não possa ficar com você, Derek. — Ela hesitou. — Você
sempre estará comigo. — Ela apontou para o peito. — Aqui...
Ele olhou para a mão dela sobre o coração e depois para o rosto delicado.
— Para mim não é o suficiente. — Ele determinou. — Preciso de você,
Ravena. Não apenas como minha amante, mas como minha companheira, a
mulher que vai estar ao meu lado para navegar os sete mares.
— Derek... — Ela murmurou apaixonada.
O rosto de Derek se aproximou dela para um beijo, mas parou ao se
recordar que tinham plateia.
— Capitão. — Johnson o chamou, despertando-os daquele frenesi.
— Sim? — Ele virou-se depressa.
— É melhor ver isso...
Minutos depois, estavam todos ao lado da cama de Murdock e ele ardia
em febre alta. Johnson puxou o cobertor e viram as feridas na pele. Ravena levou
a mão aos lábios.
— Tifo...
Eles se entreolharam.
— Eu sei que vou morrer. — Murdock falou. — Me jogue ao mar —
pediu.
— Ninguém vai jogá-lo, senhor Murdock! — Ravena o defendeu. —
Não é, Derek?
Derek respirou fundo e saiu dali a passos largos seguido por Ravena e
Johnson.
— O que vai fazer, Capitão? — Johnson quis saber.
— Levem-no para o porão e deixe com os prisioneiros que também estão
doentes — ordenou.
Ravena esperou Johnson se afastar e falou com pesar:
— Derek, vai ser uma tragédia se todos se contaminarem... Temo pela
vida de seus marinheiros!
— Eu sei. — Ele se voltou para ela. — E creio que menos de dois dias
são mais do que suficientes para que todos estejam doentes antes de aportarmos
em Boston. Não posso jogar meu marujo ao mar, Ravena. — Ele confessou. —
Murdock está comigo desde que comecei minha vida no mar, não posso fazer
isso com ele.
Era a decisão mais difícil que ele já havia tomado e sabia as graves
consequências disso.
— Não precisa fazer isso. — Ela assegurou. — Mas infelizmente, ele não
vai sobreviver e com cert...
— Murdock é meu irmão! — finalizou angustiado. Ela arregalou os
olhos chocada com a revelação. — É o filho bastardo de meu pai — contou e se
encostou na parede. — Não posso jogá-lo ao mar.
Agora ela entendia muita coisa: o motivo de Murdock ser tão possessivo
com Derek. Eles eram irmãos.
— Meu pai era Capitão da Marinha Britânica, nunca poderia assumir o
filho de uma prostituta da ilha de Man — desabafou. — Eu o conheci quando
meu pai morreu e decidi me lançar aos mares. Nunca nos separamos. Cuidamos
um do outro. Por isso, ele se mostra tão cuidadoso comigo. Meu pai o fez jurar
que cuidaria de mim.
— Eu sinto muito, Derek — falou com pesar. — Mas não há nada que
possa ser feito por ele. Infelizmente, não há cura para a tifo.
— Sei disso. — Ele a puxou para um abraço no meio do corredor, onde
não eram vistos.
Ela deixou que ele a abraçasse e sentiu o calor de seu corpo, sua
respiração ficou pesada e a dele também. Aquele simples toque e o desejo se
reacendeu entre eles avassalador, sensações penetrantes que os dominavam e os
faziam agir como animais selvagens. Derek afastou o rosto e tomou seus lábios
com verdadeira paixão e intensidade, com uma força fervilhante e insensata. Ele
precisava dela entre seus braços, em sua alma. Por tudo que tinha vivido de bom
em sua vida, ele necessitava sentir Ravena. Ela era o mais próximo que ele
conheceu do amor, puro e verdadeiro. Genuíno, sem interesses, apenas
sentimento. O que fora uma troca de favores, se tornara o mais poderoso
sentimento.
Ela correspondeu ao beijo com a verdadeira paixão que sentia por ele.
Derek a enlaçou pelos joelhos e a ergueu no colo, caminhando com ela pelo
corredor estreito até encontrar o compartimento de cargas. Abriu a porta e
entrou, a fechando com o peso de seu corpo. Ravena sentiu os pés tocarem o
chão e levantou os olhos para mergulhar na imensidão dos olhos azuis de Derek.
Sorriu, feliz, antes de beijá-lo novamente.
Derek a arrastou até o baú e a fez sentar-se sobre ele e levou as mãos
entre seus cabelos, tirando a presilha e deixando os cachos se espalharem pelos
ombros, enredando em seus dedos, sentindo-os, enquanto sua boca explorava a
dela. Ele desfez os laços do vestido e deixou o tecido escorregar pelos ombros e
os beijou com ferocidade, arrastando-a para o mar de sua luxúria e prazer.
Ravena ofereceu seu corpo e ele tomou os seus seios entre os lábios, um depois o
outro, experimentando-os como se fosse a primeira vez.
Ela gemeu enquanto ele passava a língua pelos bicos eriçados e os
mordia levemente. As mãos masculinas subiram suas saias e acariciaram antes
dele abrir a própria calça e exibir sua virilidade pronta para possuí-la. Eles se
encararam e ele soltou a respiração quando a tomou, sua carne forte contra a
dela, quente e ela totalmente molhada. Ravena se agarrou a ele e Derek a
abraçou com avidez, movimentando-se furioso por sua paixão, por ser ela dona
de seu coração, de sua vida. Ele a marcou com seu gozo e forte desejo até que
ela implorou e chorou em seus braços, enlevada pela loucura que
compartilhavam. Voltaram a se beijar, se esquecendo por um instante da triste
realidade que os cercava.


O vento forte chegou ao amanhecer e piorou ao longo do dia, trazendo as
nuvens negras no crepúsculo escarlate. A chuva começou fina e tola, quando já
avistavam as primeiras ilhas próximas a Boston. O céu escureceu de repente, e
Derek se preparava para a forte tempestade, ele precisou se segurar com firmeza
à grade enquanto as ondas cresciam diante de seus olhos e erguiam o navio.
Sabia que o vento poderia carregá-los até os arrecifes e destruir o casco,
afundando a embarcação, entretanto, precisava contar com a sorte.
Ravena estava na cabine, tentando acalmar o bebê agitado quando Derek
entrou. O navio tremulou e ela encostou na mesa para se equilibrar.
— O que ele tem? — Derek perguntou se aproximando.
— Não sei, já fiz de tudo, mas ele continua chorando. — Ela lamentou.
— Deve ser o mau tempo, talvez. Crianças são muito sensíveis...
— É melhor ficar aqui. Quando essas tempestades se aproximam gosto
de ficar no convés para evitar um acidente — avisou. — Aqui estará mais
segura.
— Tudo bem...
Ele a beijou rapidamente.
— Derek. — Ela o chamou e ele voltou-se para ela da porta. — Tome
cuidado...
Ele sorriu e saiu.
Ravena também estava ansiosa. Seu coração estava apertado, não
confiava muito no plano de Derek de mentir sobre sua identidade e ela voltar
com ele para a Inglaterra e depois tomar rumo à África e as Índias. Algo lhe
dizia que não seria tão fácil como ele imaginava. A vida nunca era tão simples,
não para Ravena Bryant.
Entretanto, a felicidade que tomava toda vez que pensava que ele a
amava e que desejava ficar ao seu lado o resto de seus dias era a maior dádiva de
sua vida. Nunca sonhou com algo tão profundo e verdadeiro. E quando foi
banida de seu próprio país, não imaginou que tamanho infortúnio lhe traria tão
grande presente.
E mesmo que tivesse medo do porvir, ainda que a esperança a tocasse
profundamente, ao erguer o olhar para o futuro ela se via segurando firmemente
as mãos de Derek até seu último suspiro.
Com dificuldade, Benjamin adormeceu no instante em que o navio
começou a sacudir de um lado para o outro. Ravena deitou-se com ele na cama e
o abraçou para que ele não se assustasse com o barulho dos trovões e relâmpagos
que iluminavam a cabine mais que a luz do dia. O vento que uivava pelas frestas
da cabine apagou a luz das velas e ela não ousou se levantar para tentar acendê-
las, tinha certeza que cairia se tentasse.
Começou a ouvir gritos, madeiras rangiam com força, os metais se
chocavam como se estivessem sobre sua cabeça, os cabos gemiam e a água
parecia destruir o navio. Era o som do inferno e ela tampou os ouvidos. O medo
começava a assolá-la, nunca imaginou que uma tempestade poderia ser tão
furiosa, a natureza parecia querer engolir o Savage. O navio oscilou
furiosamente, como se fosse um brinquedo de criança, podia ouvir o rugido das
ondas batendo contra a embarcação.
De repente, a porta foi aberta de um solavanco e a imagem de Johnson
surgiu com a luz de um relâmpago.
— Madame! — Ele a chamou.
— Estou aqui! — levantou com dificuldade de se equilibrar, trazendo o
bebê consigo.
— O capitão mandou buscá-la, vamos...
— Espere. — Ela pediu e enrolou o bebê num grosso cobertor e então se
voltou para Tubarão. — O que houve?
Ele não precisou responder. Saíram ao convés e ela viu a fumaça negra
que se misturava a chuva. O navio pegava fogo. Arregalou os olhos ao ver as
chamas que subiam da parte debaixo do navio como línguas de fogo, e a
tempestade não conseguia aplacar a fúria que consumia o Savage. A tempestade
caía devastadora, e ela sentiu o corpo encharcar até os ossos, enquanto Benjamin
chorava em seu colo. Olhou ao redor e o caos reinava, o navio sofrera danos
irreparáveis e estava afundando, o convés estava inclinado e escorregadio.
— Venha... — Johnson a puxou em direção aos botes.
— O que aconteceu? — Ela gritou para que sua voz sobressaísse a fúria
do mar que batia contra a embarcação em chamas.
— O porão pegou fogo! Parece que Murdock causou o incêndio! —
contou com pesar e estendeu a mão para ajudá-la a descer para o pequeno barco
onde outros marujos aguardavam.
— E os prisioneiros?
— Murdock trancou a porta por dentro, não conseguimos salvar
ninguém, madame.
Ela abriu a boca para falar, mas a voz não saiu. Parou onde estava e
pensou rapidamente:
— Onde está Derek? — gritou.
— Ele vai no último barco. — Também gritou.
Ela sabia que ele estava mentindo pelo modo que a olhou. Ela não o
deixaria, não agora que o havia encontrado.
— Temos que ir, madame!
Ela estendeu Benjamin para ele:
— Faça com que ele chegue ao pai dele em Londres.
— Madame! — Ele a reprovou acolhendo o bebê em seus braços. —
Volte!
Mas era tarde, Ravena virou-se e correu pelo convés. Johnson balançou a
cabeça, mas o navio rangeu outra vez, ia se romper e todos que estavam ali
morreriam. Subiu ao bote e os homens começaram a descê-lo ao mar.
Ravena caiu deslizando a estibordo, mas conseguiu se erguer e continuar
a subir o navio inclinado. Os ventos uivavam e notou que vários botes estavam
ao mar, afastando do navio condenado. Dezenas de pessoas eram arrastadas para
o mar, outras flutuavam à deriva, ouvia o grito infernal daqueles que se
afogavam. Segurou a amurada e viu que as ondas romperam parte do casco e os
prisioneiros que não queimaram, se jogavam na água. Uma onda gigantesca
bateu contra o barco e Ravena foi lançada longe.
Sentiu mãos fortes a erguerem. A madeira do navio estalava e agora, o
fogo chegava ao convés.
— Derek! — Ela deixou um soluço escapou de seus lábios.
— O que faz aqui? — Ele fez que não gritando acima do som que os
cercava. — Era para ter ido com Johnson!
— Se você fica, eu também fico! — disse teimosa.
— Onde está Benjamin?
— Johnson o levou!
— Sua maluca! — Ele a beijou rapidamente sem acreditar que ela ficara
ali para morrer com ele. — O navio vai afundar! Todos os botes se foram.
— Nada vale a minha vida se você não estiver comigo! — confessou
sentindo as agulhadas da chuva.
Ele acariciou seu rosto. O navio mergulharia nas profundezas do oceano,
a morte era mais provável do que o milagre naquele momento. O mar implacável
reivindicava suas vítimas. Muitos estavam morrendo, corpos já flutuavam com
os rostos para baixo, sendo levados pelas ondas tenebrosas. Naquela escuridão
escarlate, Derek a encarou com toda a intensidade de seu ser.
— Eu a amo. — Ele declarou.
Ravena não esperava por aquilo e sentiu o coração atropelar todos os
seus pensamentos.
— Eu também o amo, Derek.
Derek acariciou seu rosto e a beijou mais uma vez. Um som
ensurdecedor atravessou o barco e os marinheiros no bote nunca saberiam dizer
se o que fez as madeiras do navio cederem foi a fúria do fogo ou a força do mar.
E, então, o Savage foi engolido pelo horror da natureza.
Londres, 1780


— Essa guerra nas Treze Colônias é tão infundada quanto uma nobre se
casar com um plebeu. — O Duque de Essex comentou e todos riram.
O homem de cabelos muito loiros, dourados como ouro sorriu e fez que
não. Sabia que o primo estava provocando-o.
— Está dizendo isso por causa de minha causa, presumo, Brian. — E
sorriu com todo seu charme.
— Caro Conde. — O Duque olhou para trás e todos os olhares se
voltaram para lady Grosvenor em seu vestido vermelho e uma beleza que fazia
arrebatar suspiros de qualquer homem. — Diante da beleza de sua esposa —
olhou para William. — Sua atitude ao casar-se com uma americana é totalmente
perdoável.
Todos ao redor riram.
William sorriu para si e seu olhar acariciou sua esposa, que conversava
com as outras senhoras do salão. Seria eternamente apaixonado por ela. Como se
sentisse que era observada, ela olhou para trás e seus olhares se encontraram,
então ela sorriu primeiro com os olhos muito azuis e depois com os lábios feitos
para o amor.
— E como foi que se conheceram? — O Duque de Vanbrugh quis saber
em toda sua solteirice. — Ela tem irmãs, ou amigas tão bonitas? Talvez, eu deva
finalmente me aventurar ao Novo Mundo.
— Eu a conheci na Índia — contou a história pela milésima vez.
A história era longa, mas ele não se importava de contar. Durante muitos
anos, William Arthur Colleman Grosvenor, Conde de Battenberg, tornou-se um
pirata dos mares. Neto de um conde, abriu mão de sua herança para se aventurar.
Em uma viagem à Índia, conheceu Haven Milford Steel. Uma americana
excêntrica, loira e linda como a deusa, e dona de uma personalidade sem igual.
Estava passeando na praia quando encontrou o belo capitão que também
passeava pela enseada em busca de descanso antes de sua grande viagem pelo
mundo. Trocaram meia dúzia de palavras e foi inevitável que se apaixonassem, e
William jurou nunca mais voltar ao mar como corsário da Coroa se ela aceitasse
se casar com ele.
E ela aceitou.
E três anos haviam-se passado desde então. Ela partiu com ele para a
Inglaterra após se casarem em segredo na Índia. E embora tenha sido um
escândalo, esta excentricidade do Conde que retornou para casa e assumiu seu
título, passando a cuidar dos negócios milionários de sua família foi aceito pela
sociedade como deveria ser.
— Teve sorte. — Um homem falou se aproximando do grupo.
O desconhecido tinha ouvido a história e se aproximou. Todos o olharam
por aquela interrupção desastrosa. Ninguém falava com outro cavalheiro sem se
apresentar primeiro, isso já denotava uma grande falta de polidez e educação.
— Eu o conheço? — William quis saber olhando para o homem de
cabelos claros e sorriso sarcástico.
— Não. — Ele parou ao lado de William e os outros. — Meu nome é
Joseph Bryant, eu era juiz, em Oxfordshire. Fui transferido para Londres há
alguns meses.
— É um prazer conhecê-lo, caro juiz. — O Conde o cumprimentou com
sua costumeira passividade. — Seja bem-vindo a Londres.
— Obrigado. — Os demais também o felicitaram. — Estou muito feliz
com essa mudança e nova oportunidade. Fui convidado pelo Barão de
Battenberg para o baile.
— Então está em boas mãos. — O Duque de Vanbrugh sibilou.
— Sim. Mas eu estava ouvindo sua história, Conde, e achei muitíssimo
interessante. — Ele encarou William.
— E por que seria? O senhor não acredita em histórias de amor? — Brian
interveio.
— Acredito mais em coincidências — deu uma risadinha irônica. —
Grandes coincidências. — E encarou o Conde com grande deboche.
William ficou aguardando que ele prosseguisse com o assunto. Todos se
entreolharam sem entender nada, então o Conde perguntou:
— E qual seria a grande coincidência? Estamos todos curiosos.
— O senhor viajar tanto para encontrar uma americana desconhecida na
Índia! — Ele explicou e riu.
Ninguém compreendeu a graça no assunto e apenas assentiram,
imaginando que o homem era um excêntrico.
— Um golpe de sorte. — William devolveu. — Minha esposa é a mais
bela do baile, como pode notar.
— Sua esposa é muito bonita, realmente! — O Juiz prosseguiu.
— É de comum opinião que ela seja. — O Conde falou mal-humorado.
William fez menção de sair do grupo e lhe dar as costas, mas o homem
prosseguiu em sua falta de educação e etiqueta:
— Ela em muito se parece com a minha irmã — observou sério.
Ele e William se encararam.
— Espero que sua irmã esteja muito bem, senhor. — O Conde o cortou.
— Agora, se me dão licença, tenho uma dama me esperando para uma excelente
dança.
Todos deram licença e ficaram constrangidos com aquele homem
estranho que falava com o Conde como se quisesse confrontá-lo em alguma
coisa. Eles se afastaram do juiz, que ficou olhando o belo casal que se dirigia
para o salão e dançava lindamente, sob o olhar apaixonado dos demais.
Os Condes de Battenberg eram o símbolo de beleza e ostentação. Todos
queriam estar próximos a ele e, embora Haven não fosse uma nobre de sangue,
sua educação polida e todo esforço para fazer do nome do marido um ícone, era
agradável para a sociedade a ponto de aceitá-la sem qualquer restrição. Sua falta
de título era perdoada pelo excesso de dinheiro. Além disso, havia o burburinho
de que sua herança fosse incalculável e o Conde estivesse tão rico quanto antes
com aquele casamento. Eram convidados para todos os saraus e festas, bailes nas
temporadas. Durante o rigoroso inverno, choviam convites para as casas de
campos dos amigos.
Quando dançavam, todos os outros casais se afastavam para vê-los
rodopiar pelo salão sob a música lindamente tocada para eles. Uma festa não
seria completa se eles não estivessem presentes.
— A senhora está maravilhosa. — Ele elogiou a esposa.
— É o seu amor que me faz feliz — respondeu antes que a música
terminasse e todos os aplaudissem.
Naquela noite, Haven reclamou de uma leve dor de cabeça e o casal se
retirou mais cedo da festa. Havia a fofoca que a Condessa estaria grávida do
primeiro filho do casal. Mas nada fora confirmado por eles, ainda. A sociedade
aguardava ansiosa a chegada de um herdeiro.
Na manhã seguinte, um mensageiro foi até a propriedade dos Condes,
Watterhall. O casal tomava o desjejum, e o mordomo trouxe um bilhete para o
Conde, que o leu sem expressar qualquer sentimento, mantendo a expressão
impassível e o passou para a esposa. Lady Grosnevor o leu atentamente e depois
o queimou na vela sobre a mesa e o jogou dentro de um pires. Sem deixar de
comer, o Conde estendeu a mão e tocou a de sua esposa em cima da mesa. Ela
tomou seu chá tranquilamente e sentiu o carinho do marido, deixando-a mais
segura. Quando a copeira retirou havia apenas cinzas, mais um segredo se perdia
sob o silêncio de Watterhall.
Na volta para casa, no fim da tarde, William comprou o jornal do menino
que passava na rua e leu a manchete da primeira página, enquanto a carruagem
seguia viagem.
A cada dia, Londres tem ficado mais violenta. Na noite de sábado, o Juiz
Joseph Bryant deixou o baile, na casa do Duque de Essex, e a caminho de sua
casa, sua carruagem foi abordada por criminosos que além de roubarem suas
coisas, tiraram a vida do pobre cocheiro, do juiz e de sua esposa. Não há
testemunhas. A polícia investiga o caso, mas acredita-se que seja uma vingança
de alguns meliantes condenados pelo juiz, no último outono.
William entrou em sua casa silenciosa e subiu para o quarto. Sua esposa
estava sentada em frente a penteadeira penteando os lindos cachos dourados,
usando apenas sua camisola. Ela levantou o olhar para ele e se encararam.
Aquela velha chama da paixão estava ali. Sempre estaria. Ele fechou a porta e
caminhou determinado, parando atrás dela e levando as mãos aos botões da
camisola que cobriam até o pescoço. Ele enfiou a mão sob o tecido e acariciou o
seio delicado, duro e tomou o lóbulo da orelha, lambeu o pescoço e a virou de
uma vez, para tomar posse de seus lábios.
Beijaram-se com violência e ele a fez levantar e sentar sobre a
penteadeira, derrubando tudo que estava em cima. Ergueu a camisola e tirou por
sua cabeça, deixando a pele deliciosamente exposta que brilhava sob a luz das
velas espalhadas pelo quarto. Com fúria e desespero abriu a própria calça e a
possuiu com força, estocando até sentir-se saciado. Entretanto, sabia que se mil
vezes tomasse sua esposa, precisaria de mais mil vezes para que o desejo não o
sufocasse.
Ele a levou para a cama, tirou a própria roupa e deitou-se sobre ela,
esfomeado.
— Por favor... — Ela murmurou ofegante.
— Diga... — Ele pediu.
— Amo você — choramingou quando ele a possuiu outra vez.
— Meu nome. — Ele exigiu.
— Amo você, Derek...
E ele a tomou mais profundamente, erguendo o corpo e ela gemeu
alucinada até seu corpo converter-se em uma massa de febre e desejo. Ele saiu
de cima dela e a abraçou, colocando as costas femininas ao peito largo e
másculo. Derek beijou o pescoço e acariciou o rosto com os lábios.
— E o que vai fazer se aparecerem mais? — Ela o olhou por cima do
ombro. — E se mais alguém me reconhecer, Derek?
— Matarei toda Londres, Ravena. Ninguém vai tirá-la de mim, eu
prometo. — A voz soou vibrante, cheia de desejo.
E voltou a beijá-la com paixão.
Horas mais tarde, enquanto Ravena dormia, Derek levantou-se e foi olhar
a noite escura de Londres. Abriu a varanda que dava para os jardins e respirou o
ar frio. Protegeria seu segredo com toda a força de seu ser, por amor a Ravena.
Haviam sobrevivido ao naufrágio, agarrados a um pedaço do navio. Não
estavam muito longe da praia, por isso conseguiram nadar e sobreviver.
O restante foi fácil para Derek. Sendo quem era, um futuro Conde,
conseguiu chegar as autoridades e seguir viagem para a Índia, na companhia de
Ravena, já com os novos documentos com o nome de Heaven. Ninguém ousou
contradizê-lo ou exigir explicações. Sua nobreza podia leva-lo onde desejasse ir.
Uma sombra se moveu no jardim e Derek olhou atentamente. A figura de
um homem imponente surgiu e o Capitão o cumprimentou. Sabia que ele seria
sempre seu mais fiel empregado e zelaria por sua segurança e de Ravena.
Derek voltou para dentro do quarto e Ravena sentou-se na cama
assustada.
— O que foi, querido? Aconteceu alguma coisa?
— Não. — Ele deitou-se ao lado dela. — Estava apenas olhando a noite.
Sonolenta, ela deitou-se e encostou a cabeça em seu peito.
— Eu a amo. — Ele beijou seus cabelos. — Mais que minha própria
vida.
Ela sorriu e se aninhou mais a ele e dormiu outra vez, segura de que o
amor deles era inabalável e nada poderia separar.
O Narrador

Ainda me lembro de como tudo terminou. Eu fiz reverência ao Capitão e
o vi entrar em segurança em sua casa. Sempre seria seu guardião no calar de
suas auguras.
Aquela última noite, no navio, eu não tive muita escolha. Precisava me
redimir do mal que havia causado à madame. Devia isso ao Capitão por ter
salvado minha vida uma vez e ser um grande amigo, e meu irmão. William
nunca me tratou diferente por eu ser um bastardo e o Capitão Derek Colleman
nunca ter assumido ser meu pai. Foi interessante quando ele tomou o nome de
nosso pai para ser um pirata dos sete mares e se tornar uma lenda, deixando
para todos traços generosos de sua história.
Por que me redimi? Eu ouvi a conversa deles na cabine, naquela noite
após o nascimento de Benjamin. Notei que eles se amavam e que
principalmente, ela o amava. No começo, achei que o Capitão fazia papel de
bobo, mas depois, ficou claro que eles estavam loucos um pelo outro.
Pedi a Johnson que fizesse um corte em minha pele e jogasse farinha
para sujar. Por isso, quando eles vieram ao meu quarto, parecia que eu estava
com tifo. O plano era incerto, mas a certeza da tempestade que estava por vir,
era a chance que eu precisava para ajudá-los. Assim que a tempestade começou
e o navio rangeu à fúria do mar, eu coloquei fogo no porão. O Capitão jamais
teve conhecimento disso e para sempre carregarei aquelas almas comigo, mas a
maioria estava contaminada com tifo e com certeza, os outros ficariam doentes
nos dias seguintes. Era uma praga, impossível de fugir dela ao ter contato.
Coloquei fogo e tranquei a porta. Ainda posso ouvir os gritos desesperados das
pessoas sendo queimadas e morrendo sufocadas pela fumaça. Parti sem olhar
para trás.
E era a única forma deles ficarem juntos. Eu não conseguia enxergar
outra alternativa. A decisão foi minha e de Johnson. O fogo se alastrou e todos
tiveram que abandonar o barco, inclusive, eu e os demais marujos. O restante
da história, o destino se incumbiu de concretizar. A todo o tempo, eu estava de
olho para ter certeza que o Capitão e a Prisioneira sobreviveriam. Eles se
agarraram a destroços do navio e chegaram ao litoral em segurança.
Chegamos ao porto de Boston pela manhã. Fomos interrogados pelas
autoridades e depois de dias averiguando, eles constataram que realmente o
navio havia afundado e todos os prisioneiros morreram, apenas os marujos que
chegaram nos botes ficaram para contar a história. Mesmo com o prejuízo pela
perda dos prisioneiros, a coroa nos indenizou e nos mandou de volta a
Inglaterra. Johnson entregou Benjamin para o pai, como a madame pedira.
Foi assim que o navio Savage afundou. E desta forma, Derek Coleman e
Ravena Bryant se eternizaram em nossas vidas para sempre. Muitos dizem que é
lenda. Que o Conde de Battenberg nunca foi um pirata e sim um libertino
irresponsável. E que um dia conheceu a jovem rica Heaven Stell, em Hyde Park,
e se apaixonaram perdidamente. Dizem que ele inventou a história de se
conhecerem na Índia, para que o Rei aceitasse seu casamento inesperado como
uma plebeia americana em plena Guerra da Independência e que prometeu ao
Monarca largar seus vícios e assumir suas responsabilidades e seu título.
Também diziam que William Grosvenor jamais usaria o nome de seu pai para
ser um criminoso dos oceanos e que o navio Savage era apenas uma história
que ele contava aos filhos antes deles dormirem.
Assim, existiu apenas William e Heaven.
Entretanto, eu estava lá e vi tudo com esses olhos. Mas guardarei
silêncio por amor pela vida e felicidade que eles merecem ter. E será assim até o
fim dos meus dias, mesmo que mil fantasmas me assombrem e eu nunca mais
consiga dormir. Mesmo que eu ouça as lamúrias e gritos dos prisioneiros
clamando por justiça, dos tripulantes cobrando o preço de suas mortes ou do
juiz Bryant de joelhos implorando por sua vida e por sua esposa como uma
garotinha desesperada.
Eu não terei piedade de quem quer que usurpe ou atrapalhe o caminho
de meu irmão. Meu nome é Murdock e esta história naufragou em águas
salgadas escuras e frias das páginas deste livro.
Fim.
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perdeu as esperanças de dias mais felizes. E mesmo quando seu pai morreu e seu primo Scott Fielding
apareceu para tomar posse da herança, ela deixou de acreditar que as coisas poderiam melhorar. E enquanto
todas as moças de Shetwood querem casar-se com Scott, seu único desejo é manter seu emprego, ser
independente e partir para Londres, aonde recomeçaria sua vida. Mas há a Casa da Colina, o lugar em que
Phedra nasceu; a pequena Beatrice por quem ela tem um grande carinho; e também há a possibilidade de
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DE VOLTA A CASA DA COLINA http://a.co/d/0HwJLia
Beatrice foi adotada por Vincent e Phedra Turner, os Condes de Waterford, e eles moram em Londres, onde
ela tem uma vida de regalias na nobreza. Os anos passaram, mas a jovem nunca deixou de ser aquela garota
das minas de Shetwood, por isso, ela opta por voltar às suas origens e decidir o que fazer de sua vida.
Entretanto, Shetwood não é mais aquele simples vilarejo, tornou-se a maior produtora de carvão da
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filho dos Duques de Montgomery: Farell e Meredith. E isso vai contra todas as crenças e convicções da
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meio ao amor e seus valores. De Volta à Casa da Colina é mais um conto de natal como presente para
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O CONDE DE DENBIGH http://a.co/d/hBYXndU
Ethan Parker, o Conde de Denbigh, está acostumado à vida sem regras, e gastou toda sua fortuna até chegar
à falência, e ser obrigado a se casar com a enteada de seu tio, a solteirona, Nora Howard, uma mulher à
frente de seu tempo e com pensamentos de prosperidades para a propriedade abandonada de seus parentes.
Ethan não quer se casar, mas recebe uma proposta indecente de sua noiva, algo que ele nunca poderia
imaginar: ela pagaria suas dívidas, lhe daria dinheiro para sustentar seu vício nas mesas de jogo, e em troca
ele deveria ser um marido fiel, bom amante e manter as aparências como um conde íntegro. Nora é madura
suficiente para lidar com a situação e Ethan um libertino, portanto, romantismo estava longe de existir entre
eles. Mas tudo pode mudar do dia para a noite, e uma paixão avassaladora tomar conta daqueles dois
corações solitários, mudando suas vidas para sempre.

O PIRATA E A PRISIONEIRA
Quando os olhos do Pirata Derek Colleman caem sobre a prisioneira Ravena Bryant, ele não faz ideia da
aventura que está prestes a embarcar. Acostumado a vida errante, ele quis Ravena apenas para satisfazer
seus desejos durante a viagem de Londres às Treze Colônias, enquanto levava os prisioneiros condenados à
expatriação. Quando Derek lhe propõe que se torne amante dele, Ravena sente vontade de desafiar e se
libertar das amarras da sociedade que a condenou. Entretanto, mais do que gemidos e novas sensações, ela
vai compreender o nascimento de um forte sentimento que se espreita nas sombras do navio Savage.

VOLUME ÚNICO

A CARTA http://a.co/d/7u9MB83
Meredith Willcox, a Condessa de Durant, ficou viúva há pouco tempo e vive isolada ao norte da Inglaterra,
sem qualquer plano de voltar a Londres. Até que ela recebe a visita de Farell Stanford, sobrinho de seu
falecido marido, e a quem ela amou com todas suas forças no passado, o mesmo homem que a desgraçou,
abandonando-a sem piedade. Farell viajou por vários dias até Pharousburg, para que o testamento de seu tio
se cumprisse e ele pudesse finalmente se vingar daquela vil mulher, que destruiu seu coração e ainda se
casou com seu tio por interesse. Entretanto, a forte nevasca o prende naquele inóspito lugar e ele é obrigado
a enfrentar seus sentimentos profundos por Meredith e a confrontá-la com a carta que ela escreveu há dez
anos. A Carta que os separou. Segredos serão revelados e feridas novamente se abrirão de forma
devastadora. Pode o amor sobreviver a tantas mentiras?

ROMANCE HISTÓRICO LÉSBICO

SUBLIME http://a.co/d/5HQc5EK
No século XIX, Elise Lewis é a filha de um poderoso banqueiro inglês, destinada a casar-se com Henry
Harington, um homem rico e intensamente apaixonado por ela. Elise é infeliz e se sente culpada por não
sentir nada por Henry. Sua vida muda quando Anne Handerson atravessa seu caminho. Anne está destinada
a ser freira e falta pouco tempo para isso e Elise será sua dama de companhia até que ela se vá. Entretanto,
há certos sentimentos que são mais fortes que as regras sociais e elas vão se apaixonar perdidamente. Mas o
que o futuro lhes aguarda?

CONTEMPORÂNEOS

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UMA SEGUNDA CHANCE http://a.co/d/4fb
Mitchell Dawson está fora de casa há dez anos. Quando retorna ao haras Dawson, ele é recebido a tiros por
uma linda morena de temperamento um tanto hostil, Terence Reynolds. Através dela descobre que as terras
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mulher e o amante. Para completar ainda tem dois sobrinhos gêmeos precisando de seu carinho. Terence era
babá dos gêmeos no haras e está disposta não somente a ajudar Mitchell a recuperá-los, mas também salvar
as terras e provar a inocência de Steve, mesmo que segredos de seu passado tão obscuros viessem à tona.
Em meio a intrigas, mentiras e morte, o que ambos não esperavam é que um momento de solidão fosse
despertar um sentimento tão forte, que levaria Mitchell a lutar por esse amor com todas as suas forças.

O FALCÃO DO DESERTO http://a.co/d/hd7JhwH
Depois de ser acusado da morte da esposa e de ficar sete meses em uma prisão, a única coisa que Steve
Dawson queria era apenas trabalhar no haras da família, criar seus filhos gêmeos, James e John e viver em
paz. Entretanto, quando a jovem Dakota Seymour precisa de sua ajuda, ele percebe que é impossível estar
alheio ao desejo natural que os homens sentem pelas mulheres. Ele vai lutar contra esse sentimento com
todas as forças que possui, até perceber que o que está escrito ninguém pode mudar.

CONTOS ERÓTICOS DE NORA

O BAILE DE CARNAVAL COM O CHEFE http://a.co/d/f68vT9e
"Alguma vez na vida, você já quis tanto uma pessoa que estava além da sua realidade? E você a desejava
de tal forma que seria capaz de qualquer coisa para ficar com ela? Eu não sei explicar como tudo
aconteceu, mas ainda me lembro do dia em que coloquei os pés naquele escritório de engenharia e me
apaixonei perdidamente pelo meu chefe. Isso mesmo. Não estou falando de coisas românticas, como uma
vida toda ao lado da pessoa, amor, jantares a luz de velas, flores, encontros... Não! Para com isso! Estou
falando de sexo, da pura luxúria de seu corpo precisar de outro para se saciar."
Nora está louca para transar com seu chefe, Hector Vaz, mas tem medo de perder seu emprego. Quando está
prestes a desistir e afogar suas mais intensas fantasias, surge uma grande oportunidade de finalmente se
tornar seu amante, em um baile de máscaras durante o carnaval. Tudo parece perfeito... Ou quase tudo...
Um conto hot onde a liberdade está em quem sabe seus limites.

FIM DE SEMANA COM O CHEFE http://a.co/d/fQZBU3s
Nora realizou sua fantasia e transou com seu chefe, Hector Vaz, em um Baile de Máscaras e sua vida teve
uma reviravolta: perdeu o emprego. Mas por sorte, está se mudando para São Paulo e vai trabalhar em uma
multinacional francesa. O que ela poderia querer mais? No seu último fim de semana no Rio de Janeiro, ela
participa da festa de quinze anos de sua sobrinha, Larissa, e vai reencontrar Hector e sentir que a química
entre eles é mais forte do que ela imaginava. Apesar das diferenças, eles vão se entregar ao desejo e
aprimorar o prazer entre eles. Entretanto, uma nova conexão pode surgir: o sentimento. Como eles vão
reagir ante esta novidade?


COMÉDIA ROMÂNTICA

QUERO ME CASAR http://a.co/d/2SIVhNN
Melissa Albuquerque sempre foi obcecada pela palavra casamento, tanto que tem seu próprio Buffet. Ela
está prestes a se casar com seu atual namorado e realizar seu grande sonho. Jonathan Ávila é um homem de
negócios frio e prático, que decidiu se casar para dividir a responsabilidade de cuidar de seus sobrinhos. O
caminho deles se cruza e uma química forte explode e tudo vira do avesso. Entre traições, segredos e
escândalos, suas histórias vão mudar para sempre...

O EDITOR http://a.co/d/1Oiz4Ey
Ela é a jornalista mais bem paga e ele o editor do jornal mais vendido.
Elizabeth e Alex se detestam. Mas os tabloides dizem que eles estão tendo um caso.
Eles têm duas escolhas: ignorar o fato ou ganhar dinheiro com a publicidade gratuita.
Como sempre, eles decidem ganhar e uma improvável atração explode entre eles. Entretanto, o mundo da
notícia pode ser uma faca de dois gumes e Elizabeth tem inimigos que querem tirá-la do caminho a ponto de
não poder confiar em ninguém, inclusive, no homem que a faz delirar de prazer. O que ela não sabe é que
Alex também não ficou imune ao que aconteceu entre eles e será capaz de tudo para tê-la de volta. Pode
Elizabeth aceitar que todos merecem uma segunda chance? Inclusive, o insuportável Editor?



FLÁVIA PADULA

É jornalista, filha, irmã, mãe, esposa, amiga, dona de casa, mulher e escritora.
Escreveu o livro jornalístico Quisisana, uma história, uma vida.
Recebeu vários prêmios literários no Brasil.
Também é autora dos romances históricos O Duque, O Yankee, O Plebeu, A Casa da Colina, De Volta à
Casa da Colina, A Carta, Conde de Denbigh, Sublime, A Força do Amor e O Pirata e a Prisioneira. De
literatura contemporânea iniciou com Uma Segunda Chance, O Falcão do Deserto e do conto Escolhas.
Estreou na Literatura Erótica com os Contos O Baile de Carnaval, Fim de Semana e com a Comédia
Romântica Quero Me Casar e o O Editor.
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@flaviapadulaescritora












Table of Contents
Degredo
O Narrador
Porto de Londres, 1775
Londres, 1780
O Narrador
OUTROS LIVROS DA AUTORA
FLÁVIA PADULA
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