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Em 2020, mais especificamente no final do mês de maio, o Brasil recebeu uma enorme

carga de doação dos Estados Unidos, contendo todos os medicamentos que há no


chamado “Kit-covid”. Um caso curioso, foi que o fato coincidiu com o abandono dos
medicamentos pelos Estados Unidos, contendo os conteúdos: cloroquina, seu subproduto:
hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida, remdezevir e azitromicina. As 2 milhões de
doses recebidas pelo Brasil foram somadas aos medicamentos que eram fabricados pelo
Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército, sendo alvos de investigação pelo Tribunal
de Contas da União (TCU). (PINTO, MIRANDA e OSORIO-DE-CASTRO, 2021).
O mando desses medicamentos para um país que, formalmente lhe é indicado, trás sérias
consequências aos pacientes, uma vez que esses remédios passam a ser usados como
off-label (uso de drogas que não seguem indicações homologadas). Para a COVID-19, os
fármacos presente no "reposicionado" (outro nome para "Kit-covid") podem ocasionar uma
piora no quadro, visto que o seu uso pode causar arritmia e descompensação ao paciente.
Em outros casos, lesões graves e até transplante de fígado, ocasionando também hepatite
medicamentosa. (UFMG, 2021).
Entre os pacientes hospitalizados com Covid-19 leve a moderado, o uso de
hidroxicloroquina, sozinho ou com azitromicina, não melhorou o estado clínico em 15 dias em
comparação com o tratamento padrão. (Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azeve-do
LCP, Veiga VC, Avezum A, 2020).
Algumas pesquisas, composta pelos institutos: Hospital Naval Marcílio Dias, Rio de Janeiro
(VCSD), Hospital Giselda Trigueiro, Natal (EPM), Instituto Tacchini de Pesquisa em Saúde,
Hospital Tacchini, Bento Gonçalves (NAG), Hospital Bruno Born, Lajeado (FFC), Hospital
Baia Sul, Florianópolis (ISM), Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, Joinville (CRHF);
Angiocor Blumenau, Blumenau (APMK) e EMS Pharma, Hortolândia (RBA, MFBO); Duke
Clinical Research Institute, Duke University Medical Center, Durham, NC (RDL). Blumenau
(APMK) e EMS Pharma, Hortolândia (RBA, MFBO), os quais se denominam Coalizão
COVID-19 Brasil, trás uma randomização em dados, corroborando com o avanço do
conhecimento, com relação aos tratamentos do SARS-Cov-2. O estudo desenvolvido pela
equipe tem como objetivo a condução de nove estudos voltados para verificação da eficácia
ou ineficácia de medicamentos que estão contidos no "kit-covid".
Segundo CAVALCANTI, 667 pacientes foram submetidos aos testes randomizado.
Em comparação com o tratamento padrão, as chances proporcionais de ter uma pontuação
mais alta na escala ordinal de sete pontos em 15 dias não foram afetadas pela
hidroxicloroquina sozinha (razão de chances, 1,21; intervalo de confiança de 95% [IC], 0,69 a
2,11; P = 1,00) ou hidroxicloroquina mais azitromicina (odds ratio, 0,99; IC 95%, 0,57-1,73; P
= 1,00). (Alexandre B. Cavalcanti, MD, Ph.D., Fernando G. Zampieri, MD, Ph.D., Regis G.
Rosa, MD, Ph.D., Luciano CP Azevedo, MD, Ph.D., et al.,para os Investigadores da Coalizão
Covid-19 Brasil, 2020).
Não obstante, o dado apresentado, mostra que o odds ratio para comparativo de uso da
hidroxicloroquina e controle podem servir tanto para benefício substancial quanto para dano
substancial. Nesse sentido, o estudo aponta que não foi encontrado uma diferença
significativa nem para o tratamento padrão, hidroxicloroquina sozinha ou hidroxicloroquina
combinada com azitromicina, nem azitromicina sendo administrada sozinha. "Os pacientes
[...] tiveram eventos mais frequentes de prolongamento do intervalo QTc e elevação dos
níveis de enzimas hepáticas do que os pacientes que não receberam nenhum dos dois
agentes." (CAVALCANTI et al. 2020).
Segundo ROCCO, pacientes com casos leves e moderados que utilizaram a nitazoxanida,
teve resultados contrastados com grupo placebo, os quais não diferiram após os 5 dias de
terapia. Mesmo que em alguns estudos sejam promissores para o uso desse fármaco, há
poucas evidências sobre sua eficiência na comparação profilática contra placebo.
Para azitromicina, não há evidência de uma eficácia que promova seu uso, visto que os
dados disponíveis mostram que tanto pra uso do medicamento, quanto uso placebo, a taxa
de internações e mortalidade iguais.
Uma análise preliminar não mostrou nenhuma diferença significativa no desfecho primário de
mortalidade em 28 dias (azitromicina 19% vs. 19% suporte clínico usual; Risco Relativo 1,00
[intervalo de confiança de 95% 0,90-1,12]; p = 0,99). Também não houve evidências de
efeitos benéficos sobre o risco de progressão para ventilação mecânica ou tempo de
internação hospitalar. Sobre efeitos colaterais, não foram observadas diferenças
significativas na frequência de novas arritmias. (PEBMED, 2020).

Referências:

Alexandre B. Cavalcanti, M.D., Ph.D., Fernando G. Zampieri, M.D., Ph.D., Regis G. Rosa,


M.D., Ph.D., Luciano C.P. Azevedo, M.D., Ph.D., et al. Hydroxychloroquine with or
without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. Tradução: Nossa. N Engl J Med,
2020. Disponível em:
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa2019014#article_discussion_sc3.

SANTOS-PINTO, B. D. C., MIRANDA, S. E., OSORIO-DE-CASTRO, S. G. C., et al.


“Kit-covid” and the Popular Pharmacy Program in Brazil. CSP - Reports In Public
Health, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00348020.

ROCCO, R. P., et al. Early use of nitazoxanide in mild COVID-19 disease: randomised,
placebo-controlled trial. European Respiratory Journal, 2021. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33361100/.

QUANTANILHA, O. D., Uso da azitromicina em Covid-19. Sim ou não?. Universidade


Federal Fluminense, 2020. Disponível em:
https://pebmed.com.br/uso-da-azitromicina-em-covid-19-sim-ou-nao/amp/.

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