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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO

DIRETORIA DE ENSINO, INSTRUÇÃO E PESQUISA


ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR COSTA VERDE

APOSTILA DE SAÚDE DO TRABALADOR


DE SEGUANÇA PÚBLICA

DROGAS: ASPECTOS LEGAIS E SOCIOLÓGICOS


(LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006)

Th Dr. José Gualberto Muniz-1º Ten PM


Prof/Instrutor de SST/APMCV
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................06
1.1. A nova lei................................................................................................06
1.2. Aplicação subsidiária do Código de Processo Penal e da Lei de
Execução Penal....................................................................................................06
1.3. Competência...........................................................................................06
2. A PERSECUÇÃO CRIMINAL EM RELAÇÃO AO USUÁRIO E AO AUTOR DE
OUTRAS INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO – FASE
POLICIAL.............................................................................................................07
2.1. A despenalização da conduta do usuário. Infração de menor potencial
ofensivo = Juizados Especiais Criminais...................................................................07
2.2. Absoluta impossibilidade de prisão em flagrante do usuário..................08
2.3. Providências que deverão ser adotadas pela polícia.............................09
3. A PERSECUÇÃO CRIMINAL EM RELAÇÃO À INFRAÇÃO DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO – FASE JUDICIAL.......................................................10
3.1. Audiência preliminar...............................................................................11
3.1.1. Composição civil..................................................................................11
3.1.2. Transação penal..................................................................................11
3.2. Procedimento sumaríssimo....................................................................11
4. A PERSECUÇÃO CRIMINAL CONVENCIONAL – DA INVESTIGAÇÃO
POLICIAL.............................................................................................................12
4.1. Inquérito policial iniciado por flagrante...................................................12
4.1.1. O auto de prisão em flagrante - requisitos..........................................12
4.1.2. A comunicação da prisão em flagrante...............................................12
4.2. Inquérito policial iniciado por portaria.....................................................13
4.3. Medidas investigatórias específicas – art. 53.........................................13
4.3.1. Infiltração de agentes..........................................................................13
4.3.2. Flagrante retardado ou postergado. Monitoramento das ações
delituosas..............................................................................................................13
4.4. Prazos para conclusão do inquérito.......................................................14
4.5. O relatório da autoridade policial – diligências complementares...........14
5. A PERSECUÇÃO CRIMINAL JUDICIAL. DO PROCEDIMENTO.........................15
5.1. Denúncia.................................................................................................15
5.2. Defesa prévia..........................................................................................16
5.3. Recebimento ou rejeição da denúncia...................................................16
5.4. Citação....................................................................................................17
6. BENEFÍCIOS VEDADOS AOS ACUSADOS DOS CRIMES PREVISTOS NOS
ARTIGOS 33, CAPUT E §1º, 34 A 37..................................................................20
7. POSSIBILIDADE DE LIVRAMENTO CONDICIONAL..........................................20
8. PROGRESSÃO DE REGIME.................................................................................21
9. DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO
– ARTS. 60/64......................................................................................................21
9.2. Destinação inicial e provisória dos bens apreendidos............................21
9.2.1. Veículos e objetos de qualquer natureza = possibilidade de
utilização...............................................................................................................21
9.2.2. Dinheiro e cheques = depósito em conta judicial................................22
9.3.1. Petição inicial.......................................................................................22
9.3.2. Avaliação.............................................................................................22

2
9.3.3. Embargos............................................................................................23
9.3.4. Leilão e depósito em conta judicial.....................................................23
9.4. Destinação final......................................................................................23
9.4.1. Perda em favor da união, na hipótese de condenação.......................23
9.4.2. Restituição, na hipótese de absolvição...............................................24

ANEXOS

10. REFLEXOS DA NOVA LEI DE DROGAS (LEI 11.343/06) - FACE AO CÓDIGO


PENAL MILITAR................................................................................................25
11. RELAÇÃO DE INFRAÇÕES SUJEITAS AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E
PADRÕES DE PROCEDIMENTO POLICIAL...................................................34
12. LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006.....................................................37
23. QUESTÕES POTENCIAIS DE PROVAS............................................................65
13. BIBLIOGRAFIAS REFERÊNCIAS......................................................................71

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APRESENTAÇÃO

APOIO DOS EGRÉGIOS COLEGAS PROFESSOS:

Emerson Castelo Branco. Mestre em Direito Público


pela Universidade Federal do Ceará e Pós-graduado em
Processo Penal pela Universidade de Fortaleza.
Professor de Direito Penal e de Processo Penal do
Centro de Ciências Jurídicas da Universidade de
Fortaleza, tendo também lecionado na Faculdade de
Direito da Universidade Federal do Ceará.
Professor convidado de diversos cursos de Pós-
graduação, tendo ministrado disciplinas na Escola
Superior do Ministério Público (ESMP), na Fundação
Escola Superior de Advocacia do Ceará (FESAC) e na
Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
É Defensor Público do Estado do Ceará desde 2003.

Na data de 23 de agosto de 2006 adentrou no cenário jurídico nacional a Lei


nº 11.343(1) a qual institui uma nova sistemática repressiva concernente às ilicitudes
envolvendo substâncias estupefacientes, considerando-se estas, consoante o
parágrafo único do art. 1º da referida Lei em estudo, aquelas substâncias ou
produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou
relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.
Não cabe, aqui, comentar se a nova lei é melhor do que as anteriores. Os
comentários desenvolvidos são sobre as atividades processuais e policiais. E quanto
a isso, pouco mudou em relação à legislação anterior. As aulas serão ministradas e
discutidas com ênfase nas questões das drogas ilícitas mediante três aspectos:
legais e sociológicos. Na ocasião, restou claro que tanto o uso de drogas, quanto o
comércio são previstos na Lei nº 11.343/06 como condutas criminosas. A diferença é
que para o crime de uso de drogas a lei não mais admite a pena privativa de
liberdade, no que andou bem.
A própria lei entende que o dependente químico como um problema de
saúde pública, sendo absolutamente ineficaz, seja do ponto de vista pessoal, ou do
aspecto social, aplicar a pena de prisão para a conduta de quem adquirir, guardar,
tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas.
No que diz respeito ao traficante, vale dizer, aquele que importar, exportar,
remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em
depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sujeitar-se-á à pena de 5 a

4
15 anos, além de multa.
Na prática, as circunstâncias objetivas do caso e a personalidade do sujeito
dirão se é o caso de se concluir pelo crime de uso ou de tráfico de drogas. Sob o
ponto de vista sociológico alguns aspectos merecem destaque. Até bem pouco
tempo achava-se que droga era objeto de consumo, predominantemente, apenas
das classes média e baixa, notadamente mediante o uso da maconha. Hoje,
infelizmente, a questão assumiu outros contornos. Na mesma proporção em que
surgiram as festas eletrônicas denominadas raves, espalhadas por todo o país,
aumentaram significativamente o comércio e o uso das drogas sintéticas conhecidas
por ecstasy. São drogas caras, em torno de R$ 100,00 o comprimido, sendo que, por
festa, cada usuário consome cerca de 06 (seis) a 08 (oito) comprimidos, abarcando
estes festejos cerca de 1000 jovens.
Já há registros de pessoas que morreram durante estas festas, em razão
dos distúrbios psíquicos gerados pelo consumo de deletéria droga, que provoca
depressão, ansiedade, síndrome do pânico, dentre outros transtornos psíquicos.
Enquanto a maconha tem seu custo na base de 1 kg/R$ 400,00, a cocaína
gira em torno de 1 kg/R$ 20.000,00. Devido ao baixo custo na comercialização de
tais drogas, o traficante acaba sendo verdadeiro empresário. Dificilmente e quase
nunca, é bem verdade, chega próximo da droga, delegando funções de execução a
terceiros, e lucra de 50 a 100% em razão do preço pago no atacado. Aplica o
dinheiro proveniente do tráfico na aquisição de imóveis de luxo, veículos importados
e seus filhos estudam em escolas particulares, ou seja, aparentemente é uma
pessoa “normal”, bem sucedida.
Por trás do tráfico de drogas escondem-se vários delitos: homicídio, tráfico
de armas, corrupção de menores. Para se manter no poder, a morte é executada
com requintes de crueldade para quem infringir os códigos das organizações
criminosas.
O tráfico de drogas somente subsiste por conta da massa sedenta de
usuários incontroláveis.

Th Dr. José Gualberto Muniz – 1º Ten PM


Profº. Instrutor de SSPM

Cuiabá-MT, janeiro de 2010

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1. INTRODUÇÃO.

1.1. A nova lei.

A Lei nº. 11.3431, de 23 de agosto de 2006, já em vigor, instituiu o Sistema


Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, prescreve medidas para prevenção do
uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas,
estabeleceu normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas, definiu crimes e estabeleceu o procedimento penal aplicável à persecução
criminal destinada a apuração dos fatos e autoria envolvendo crimes nela
relacionados.
O artigo 75 da nova lei revoga expressamente as Leis Nºs 6.368/76 e
10.409/02, passando a reger toda a matéria acima.

1.2. Aplicação subsidiária do Código de Processo Penal e da Lei de


Execução Penal.

Nos termos do disposto no artigo 48 da Lei nº. 11.343/06, aplica-se


subsidiariamente ao procedimento especial o regramento do Código de Processo
Penal e da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84).
Dispositivo semelhante encontramos na Lei nº 6.368/76 (art. 20), que
apenas não prevê a aplicação subsidiária da Lei de Execução Penal, que lhe é
posterior (1984).

1.3. Competência.

A competência para o processo e julgamento dos crimes previstos nos


artigos 33 a 37 é da Justiça Comum Estadual, ressalvada a competência da Justiça
Federal se caracterizado ilícito transnacional (art. 70, caput).
1
BRASIL, BRASÍLIA, Lei 11.343/2006, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece
normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes
e dá outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11343.htm>. Acesso em: 6 de junho de 2008.

6
Embora excluído o crime do artigo 28 (usuário), a regra é a mesma.

No mais, aplicam-se as regras de competência do Código de Processo


Penal (arts. 69/91).

Assim, por exemplo, se houver conexão entre o crime de tráfico internacional


com um crime de competência da Justiça Estadual, competirá à Justiça Federal o
processo e julgamento unificado (CPP, art. 78, IV, e Súmula 122 do STJ).

2. A PERSECUÇÃO CRIMINAL EM RELAÇÃO AO USUÁRIO E AO


AUTOR DE OUTRAS INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO –
FASE POLICIAL.

2.1. A despenalização da conduta do usuário. Infração de menor


potencial ofensivo = Juizados Especiais Criminais.

Como é notória, a Lei nº 11.343/06 considera crime a conduta de “quem


adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo
pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar” (art. 28).
Nada obstante, o crime não é mais punido com pena privativa de liberdade,
mas com advertência, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo. Houve, assim, despenalização,
mas não descriminalização da conduta do usuário, embora o tema não seja pacífico,
como adiante exposto.
Sendo crime a conduta do usuário, estabeleceu o legislador o procedimento
persecutório a ser observado.
De início, coerente com as penas previstas, determinou o legislador (art. 48,
§1º) a aplicação do procedimento da Lei nº 9.099/95 (arts. 60 e seguintes).
Isso porque o crime em apreço (art. 28) é de menor potencial ofensivo,
como, aliás, já é considerado na previsão do art. 16, da Lei nº 6.368/76, levando-se
em conta o conceito da Lei nº 10.259/01(Juizado Especial Criminal Federal), agora
inserido no artigo 61, da Lei nº 9.099/95, com a nova redação determinada pela Lei

7
nº 11.313, de 28 de junho de 2006.
Impende ressalvar que não será aplicado o procedimento dos Juizados
Especiais Criminais se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37
da Lei nº 11.343/06, conforme excepciona o art. 48, §1º.
É dizer, havendo concurso de crimes, o procedimento será o previsto nos
artigos 54/59 da nova lei em estudo, a seguir exposto.
Por fim, há na doutrina duas outras correntes de pensamento: 1ª
Descriminalização: uma sustentando não ser a conduta do usuário um ilícito penal,
em face da descriminalização da conduta (Luiz Flávio Gomes), tomando como
fundamento o conceito de crime previsto no artigo 1º, da LICP; 2ª – Reclassificação
– contravenção penal: outra considerando a conduta como contravenção penal, em
face da previsão da pena de multa (Rodrigo Lennaco).
Sem embargo da divergência, entendemos persistir a natureza de crime, não
só por ser assim tratada pela lei em estudo, mas também em face da previsão de
prestação de serviços à comunidade, considerada como pena em nosso
ordenamento jurídico, inclusive pela Constituição Federal (art. 5º, XLVI). É a posição
de César Dario Mariano da Silva e Davi André Costa Silva.
De qualquer forma, sendo lei penal mais benéfica – por afastar a
possibilidade de pena privativa de liberdade – deverá retroagir para beneficiar o réu
(CF, art. 5º, XL). Contudo, para quem sustenta não ser norma penal, não haverá
retroação.
Assim, cumprirá ao Juiz de Direito, qualquer que seja a fase procedimental
do processo de conhecimento em curso, designar audiência para transação penal.
Não mais poderá ser aplicada pena de prisão e as penas possíveis são aquelas
previstas no artigo 28.
Estando na fase de execução de sentença, cumprirá ao Juiz da Execução
Criminal designar a audiência, aplicando a lei mais benéfica (LEP, art. 66, I).

2.2. Absoluta impossibilidade de prisão em flagrante do usuário.

Dispõe o artigo 48, §2º ser vedada a prisão em flagrante.

A norma proibitiva não pode ser interpretada como mera reiteração do


disposto no artigo 69, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95, aplicável ao usuário e que

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também veda a prisão em flagrante. Aplica-se, in casu, o brocardo verba cum effectu
sunt accipienda – devem-se compreender as palavras como tendo alguma eficácia.
Isso porque nas infrações penais de menor potencial ofensivo a prisão em
flagrante não será imposta ao “autor do fato que, após a lavratura do termo
(circunstanciado) for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o
compromisso de a ele comparecer”.
É dizer, a prisão em flagrante poderá ser imposta se ausente uma das
situações acima descritas, previstas no parágrafo único do artigo 69, da Lei nº
9.099/95.
Já para o usuário a prisão em flagrante não poderá ser imposta em hipótese
alguma, em face do disposto no artigo 48, §2º, que não se aplicaria aos autores dos
crimes previstos nos artigos 33, §3º e 38, para quais restaria à proteção da Lei nº
9.099/95 acima referida.

2.3. Providências que deverão ser adotadas pela polícia.

Se o usuário ou o autor de outra infração de menor potencial ofensivo (arts.


33, §3º = tráfico privilegiado e 38) for surpreendido em flagrante delito (CPP, art. 302)
deverão ser adotadas as seguintes providências:

1ª – Lavratura do termo circunstanciado:

A primeira providência a ser adotada pela autoridade policial será a lavratura


do termo circunstanciado, com as “requisições dos exames periciais necessários”
(art. 48, §2º), dentre eles a perícia em relação à substância apreendida.
Luiz Flávio Gomes, apoiado na redação do dispositivo citado, sustenta que o
usuário deve ser encaminhado ao juiz competente – e não à Delegacia de Polícia -,
sem a necessidade de lavratura do termo circunstanciado (Nova Lei de Tóxicos: qual
procedimento deve ser adotado? artigo publicado no site do autor).
Para o jurista, o termo circunstanciado só seria lavrado se não fosse
possível o encaminhamento imediato do usuário ao juízo competente, pela falta
deste.
Embora arrimada na dicção do §2º do art. 48, não entendo correta a posição
do jurista, pois certamente o juiz não teria os elementos mínimos necessários para

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adotar qualquer providência, salvo se estivesse estruturado para tanto. Nem mesmo
teria a prova da materialidade, imprescindível para a transação penal.

Conceito de autoridade policial e requisitos do termo circunstanciado.

Exame de corpo de delito: por ocasião da lavratura do termo


circunstanciado, poderá o autor do fato requerer a realização do exame de corpo de
delito, diligência que também poderá ser determinada de ofício pela autoridade
policial, se entender conveniente (art. 48, §2º).
A lavratura do termo circunstanciado também ser levada a efeito fora das
situações de flagrante, desde que a autoridade policial tenha os elementos mínimos
necessários, tais como qualificação completa do usuário, indícios de autoria e prova
da materialidade delitiva.

Não dispondo de tais dados, nada impede a instauração de inquérito policial.

2ª – Imediato encaminhamento do autor do fato ao Juízo.

Encerrada a lavratura do termo circunstanciado, cumprirá à autoridade


policial encaminhar o autor do fato ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o
compromisso de a ele comparecer (art. 48, §2º).
Encaminhar deve ser entendido como “mostrar o caminho”, não tendo a
autoridade policial a obrigação de acompanhar e conduzir pessoalmente o autor do
fato até o fórum, embora possa fazê-lo, querendo e podendo.
O legislador prevê que na falta de juízo competente o autor do fato assumirá
o compromisso de comparecer em dia futuro. É o caso, por exemplo, de ocorrências
lavradas fora do expediente forense.
Reiterando a proibição de prisão, dispõe o legislador no §3º do artigo 48
da lei em estudo: Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no §2º
deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se
encontrar, vedada a detenção do agente”.

3. A PERSECUÇÃO CRIMINAL EM RELAÇÃO À INFRAÇÃO DE


MENOR POTENCIAL OFENSIVO – FASE JUDICIAL.

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O procedimento judicial é composto de duas fases, a saber: audiência
preliminar e procedimento sumaríssimo.

3.1. Audiência preliminar.

O primeiro ato jurisdicional será a audiência preliminar, constituída de duas


etapas: a composição civil e a transação penal. Vejamos.

3.1.1. Composição civil.

O crime previsto no artigo 28 da lei em estudo pode ser praticado em


conexão com outro de menor potencial ofensivo que acarrete dano a alguém.
Como a lei determina a aplicação do procedimento previsto nos artigos 60 e
seguintes da Lei nº 9.099/95, o juiz deverá esclarecer sobre a possibilidade de
composição dos danos (arts. 62, 72 a 75, da Lei nº 9.099/95).

3.1.2. Transação penal.

Superada a fase da composição civil, e sendo os crimes previstos nos


artigos 28, 33, §3º e 38 de ação penal pública incondicionada, cumprirá ao Ministério
Público analisar os autos e, não sendo caso de arquivamento nem de realização de
diligências complementares, propor a transação penal.
E o Ministério Público poderá propor ao usuário a aplicação imediata de
pena prevista no artigo 28 da lei em estudo, a ser especificada na proposta (art. 49).

Tratando-se de transação penal, poderá o autor do fato e seu defensor


aceita-la ou não.

Sendo aceita, o juiz, presentes os requisitos legais, homologará o acordo.

Não aceita a proposta, cumprirá ao Ministério Público ofertar denúncia oral,


dando ensejo à segunda fase da persecução criminal em juízo, a seguir analisada.

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3.2. Procedimento sumaríssimo.

Não havendo transação penal, e ofertada a denúncia oral pelo Ministério


Público na audiência preliminar, cumprirá ao juiz designar audiência de instrução e
julgamento.

Na audiência de instrução e julgamento serão praticados os seguintes atos:

- Nova tentativa de transação penal, se até então não tiver havido


possibilidade para tanto;
- Resposta oral à denúncia;
- Recebimento ou rejeição (Da rejeição cabe apelação em 10 dias);
- Oitiva das testemunhas de acusação e de defesa;
- Interrogatório;
- Debates orais; e,
- Sentença, com dispensa do relatório.

4. A PERSECUÇÃO CRIMINAL CONVENCIONAL – DA


INVESTIGAÇÃO POLICIAL.

4.1. Inquérito policial iniciado por flagrante.

4.1.1. O auto de prisão em flagrante - requisitos.

O auto de prisão em flagrante delito deverá atender os requisitos formais


contidos nos artigos 304 a 306, do Código de Processo Penal.
Persiste, ainda, a exigência do requisito específico do laudo de constatação
da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por
pessoa idônea (art. 50, §1º). Sem o laudo o flagrante não poderá ser lavrado.
O perito que subscrever o laudo de constatação não ficará impedido de
participar da elaboração do laudo definitivo (art. 50, §2º).

4.1.2. A comunicação da prisão em flagrante.

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Reitera a lei a obrigatoriedade constitucional (art. 5º, LXII) de comunicação
imediata da prisão em flagrante ao juiz competente, mediante o envio de cópia do
auto lavrado, prevendo expressamente a necessidade de remessa do mesmo ao
órgão do Ministério Público, em 24 horas (art. 50, caput).
A comunicação da prisão em flagrante à autoridade judiciária deve ser
imediata, isto é tão logo seja possível. Para tanto, o Tribunal de Justiça de São
Paulo instituiu em diversas comarcas o plantão judiciário, funcionando sábados
domingos e feriados, das 09h00min as 13h00min, com a presença de um Juiz de
Direito e um Promotor de Justiça, além de auxiliares da justiça.

O prazo de 24 horas deverá ser observado para a remessa da cópia do auto


de prisão em flagrante, pelo cartório, ao Ministério Público.

4.2. Inquérito policial iniciado por portaria.

Poderá o inquérito policial, obviamente, ter início por portaria da autoridade


policial, aplicando-se o disposto no artigo 5º, do Código de Processo Penal.

4.3. Medidas investigatórias específicas – art. 53.

Permite o legislador, em qualquer fase da persecução criminal, mediante


autorização judicial e ouvido o Ministério Público os seguintes procedimentos
investigatórios específicos:

4.3.1. Infiltração de agentes.

Agentes policiais poderão ser infiltrados no grupo dos investigados, com o


objetivo de captar as informações e provas necessárias para o sucesso da
persecução criminal (art. 53, I).
Deve-se evitar, porém, ações que possam ser consideradas como inseridas
no conceito de flagrante provocado (Súmula 145, do STF: Não há crime, quando a
preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação).

4.3.2. Flagrante retardado ou postergado. Monitoramento das ações

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delituosas.

Possibilita o legislador, ainda, “a não-atuação policial sobre os portadores de


drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção,
que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e
responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição,
sem prejuízo da ação penal cabível”.
Trata-se de uma ação controlada e monitorada da polícia em relação ao
usuário e outras pessoas envolvidas direta ou indiretamente na cadeia de produção
e distribuição das drogas, objetivando a identificação e prisão do maior número de
pessoas, notadamente dos líderes e dirigentes do crime organizado.

Evita-se, assim, apenas a identificação dos usuários e a prisão das pessoas


que servem ao crime organizado.

Observações:

1ª - Medidas similares estão previstas na Lei nº 9.034/95 (Lei de Prevenção


e Repressão ao Crime Organizado).

2ª – A Lei nº 10.409/02, revogada pela lei estudo, também previa medidas


similares (art. 33).

4.4. Prazos para conclusão do inquérito.

Os prazos para conclusão do inquérito policial foram ampliados, tomando


como referência os previstos na Lei nº 6.68/76 (art. 20: 5 dias indiciado preso; 30
dias indiciado solto).
Estando o indiciado preso, o inquérito policial deverá ser concluído no prazo
de 30 (trinta) dias, com possibilidade de duplicação pelo juiz, ouvido o Ministério
Público, mediante pedido justificado da autoridade policial (art. 51 e parágrafo
único).
Se o indiciado estiver solto, o prazo para conclusão do inquérito será de 90
(noventa) dias, também com possibilidade de duplicação pelo juiz, ouvido o

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Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade policial (art. 51 e
parágrafo único).

4.5. O relatório da autoridade policial – diligências complementares.

Findo o prazo para conclusão do inquérito policial, a autoridade policial,


remetendo os autos do inquérito ao juízo:

1º - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões


que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da
substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu
a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os
antecedentes do agente; ou

2º - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.

Neste caso, deverá justificar o pedido de duplicação do prazo, conforme


previsto no artigo 51, parágrafo único.
Tendo sido duplicado anteriormente o prazo e estando o indiciado preso, não
poderá ser restituído o inquérito à autoridade policial, sob pena de coação ilegal,
sanável via habeas corpus.
Neste caso, cumprirá ao Ministério Público, das duas uma: ofertar denúncia
e requerer, paralelamente, a realização de novas diligências; ou, não tendo
elementos para ofertar a denúncia, requerer a soltura do indiciado, possibilitando,
então o retorno dos autos à autoridade policial.

5. A PERSECUÇÃO CRIMINAL JUDICIAL. DO PROCEDIMENTO.

5.1. Denúncia.

O Ministério Público terá o prazo de 10 dias para adotar uma das seguintes
opções clássicas:

- requerer arquivamento do inquérito policial;

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- requisitar diligências; ou,
- oferecer denúncia (art. 54).

Como analisado, estando preso o indiciado só será admitida a duplicação do


prazo, de modo que o Ministério Público não poderá requerer o retorno dos autos à
Delegacia de Polícia se superado o prazo de 60 (sessenta) dias.
Com a denúncia o Ministério Público poderá arroladas até 5 (cinco)
testemunhas e requerer as demais provas que entender pertinentes.

5.2. Defesa prévia.

Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer


defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias (art. 55, caput).
Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado
poderá argüir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o
número de 5 (cinco), arrolar testemunhas (art. 55, §1º).
As exceções (suspeição, incompetência do juízo, litispendência,
ilegitimidade de parte e coisa julgada) serão processadas em apartado como, aliás,
já determina o Código de Processo Penal.
Trata-se, assim, de verdadeira resposta preliminar ou contestação,
importante para tentar convencer o juiz a não receber a denúncia.
E a apresentação da resposta é indispensável. Com efeito, não sendo
apresentada no prazo, “o juiz nomeará defensor para oferecê-la em 10 (dez) dias,
concedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação” (art. 55, §3º).

5.3. Recebimento ou rejeição da denúncia.

Apresentada a defesa prévia, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias pelo


recebimento ou rejeição da denúncia (art. 55, §4º).
Se julgar imprescindível, o juiz, no prazo máximo de 10 (dez) dias,
determinará a apresentação do preso, realização de diligências, exames e perícias
(art. 55, §5º).
Rejeitada a denúncia, poderá o Ministério Público interpor recurso no sentido

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estrito, no prazo de 5 (cinco) dias (CPP, arts. 581, I e 586).
Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de
instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do
Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais (art.
56, caput).
Esqueceu-se o legislador de prever a notificação do advogado do réu,
providência que evidentemente deverá ser determinada pelo juiz.

Afastamento cautelar. Tratando-se de crimes previstos nos artigos 33, caput


e §1º, e 34 a 37, poderá o juiz “decretar o afastamento cautelar do denunciado de
suas atividades, se for funcionário público, comunicado ao órgão respectivo” (art. 56,
§1º).
A audiência deverá ser realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao
recebimento da denúncia, salvo se determinada a realização de avaliação para
atestar dependência de drogas, quando se realizará em 90 (noventa) dias (art. 56,
§2º).

5.4. Citação.

Recebida a denúncia, será o acusado citado pessoalmente e notificado a


comparecer à audiência de instrução e julgamento.

5.5. Audiência de instrução e julgamento.

Na audiência de instrução e julgamento serão realizados os seguintes atos,


em conformidade com o disposto no artigo 57, caput:

1º - Interrogatório;

Concluídas suas perguntas, deverá o juiz indagar das partes se restou


algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o
entender pertinentes e relevantes (art. 57, p. único).

2º - Inquirição das testemunhas de acusação e, depois, de defesa;

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3º - Debates orais;

O representante do Ministério Público e depois o Advogado do réu terão o


prazo de 20 minutos cada um, prorrogável por mais 10, a critério do juiz, para
sustentarem suas teses.

4º - Sentença.

Encerrados os debates o juiz proferirá sentença, “ou o fará em 10 (dez) dias,


ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos” (art. 58, caput).

Observações:

1ª - Proteção a colaboradores e testemunhas – art. 49.

Tratando-se de condutas tipificadas nos artigos 33, caput e §1º, 34 a 37, o


juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos
protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei nº 9.807/99, dentre eles:

- Segurança residencial;
- Escolta para o trabalho e comparecimento à audiência;
- Transferência de residência;
- Ajuda financeira;
- Alteração do nome completo

2ª – Incineração da droga – art. 58, §§1º e 2º.

Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido controvérsia, no curso do


processo, sobre a natureza ou quantidade da substância ou produto, ou sobre a
regularidade do respectivo laudo, determinará a incineração da droga, preservando-
se, para eventual contraprova, a fração que fixar.
A incineração também será possível quando a quantidade ou o valor da
substância ou do produto o indicar.

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A autoridade policial executará a incineração, na presença de representante
do Ministério Público (art. 32, §2º).

3ª – Prazo para conclusão da instrução – réu preso.

É sabido que o réu não poderá permanecer preso indefinidamente,


aguardando o encerramento da instrução criminal.
Somando-se os prazos fixados nos artigos 51, p. único (60 dias para
conclusão do inquérito), 54, caput (10 dias para oferecimento de denúncia), 55,
caput e §3º (10 + 10 dias para defesa prévia); 55, §4º (5 dias para decisão do juiz
quanto ao recebimento ou não da denúncia); 55, §5º (10 dias para diligências
judiciais); e, 56, §2º (90 dias, prazo máximo para realização da audiência de
instrução e julgamento); obtém-se o prazo máximo e total de 195 dias para o
encerramento da instrução, contados da prisão do indiciado.
Impende recordar que nos termos da súmula 52, do STJ, encerrada a
instrução, fica superada a alegação de constrangimento por excesso de prazo.
Ademais, também está sumulado pelo STJ: Não constitui constrangimento
ilegal o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa. Súmula nº 64.

4ª – Inimputabilidade decorrente da dependência química.

Prevê o legislador, no art. 45, a isenção de pena “...ao agente que, em razão
da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de
droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração
penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Para a comprovação da dependência, deverá ser determina a realização de
perícia médica no acionado, suspendendo-se o processo até a juntada do laudo aos
autos, ressalvada a possibilidade de realização de diligência urgente (CPP, arts.
149/154).
Comprovada a dependência, o réu será absolvido com fundamento no artigo
386, inciso V, 2ª parte, podendo o juiz encaminhar o acionado para tratamento
médico adequado (art. 45, p. único).

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5ª Semi-imputabilidade decorrente da dependência química.

O legislador também dispõe sobre a responsabilidade criminal diminuída, ou


semi-imputabilidade, no artigo 46, configurada quando o juiz reconhecer que “...o
agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento”.
Para a hipótese em estudo não haverá isenção, mas sim redução da pena
de um a dois terços.
Também será necessária a realização de perícia médica para comprovação
da capacidade diminuída do agente.
Além da imposição da pena reduzida, o juiz determinará o encaminhamento
de agente para tratamento especializado, se assim for indicado na perícia médica
(art. 47).

6. BENEFÍCIOS VEDADOS AOS ACUSADOS DOS CRIMES


PREVISTOS NOS ARTIGOS 33, CAPUT E §1º, 34 A 37.

Veda expressamente o legislador (arts. 44 e 59) a concessão dos seguintes


benefícios aos autores dos crimes acima destacados:

 Fiança
 Liberdade provisória
 Suspensão condicional da pena – SURSIS
 Graça
 Indulto
 Anistia
 Conversão das penas em restritivas de direitos

Apelação em liberdade, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim


reconhecido na sentença condenatória (art. 59).

7. POSSIBILIDADE DE LIVRAMENTO CONDICIONAL.

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É admitido, porém, o livramento condicional “após o cumprimento de dois
terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico” (art. 44, p. único).
Reincidente específico será o indivíduo que, após o trânsito em julgado da
sentença condenatória pela prática de um dos crimes previstos nos artigos 33, caput
e §1º, 34 a 37, vier a praticar um dos referidos delitos.

8. PROGRESSÃO DE REGIME.

O legislador omitiu-se sobre a progressão de regime.

Não obstante, e sem embargo da decisão do STF em sentido contrário, no


âmbito normativo persiste a proibição de progressão prevista no artigo 22º, §1º, da
Lei nº 8.072/90, dispositivo não revogado.

É possível sustentar, contudo, que como a lei não veda, estaria admitida a
progressão.

9. DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO


ACUSADO – ARTS. 60/64.

Apreensão de bens.

Realizando as diligências policiais, cumprirá à autoridade policial apreender


os objetivos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais
(CPP, art. 6º, II), elaborando o denominado auto de apreensão.
É possível, ainda, a realização de busca e apreensão domiciliar ou pessoal,
para apreender coisas obtidas por meios criminosos, instrumentos utilizados na
prática de crime ou destinado a fim delituoso, etc. (CPP, arts. 240/250).
Pois bem, recaindo a apreensão sobre veículos, embarcações, aeronaves e
quaisquer outros meios de transporte, maquinários, utensílios, instrumentos e
objetos de qualquer natureza -, serão os mesmos colocados sob a custódia da
autoridade policial, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma da
legislação específica (art. 62, caput).

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9.2. Destinação inicial e provisória dos bens apreendidos.

9.2.1. Veículos e objetos de qualquer natureza = possibilidade de


utilização.

Comprovado o interesse público na utilização de veículos, embarcações,


aeronaves e quaisquer outros meios de transporte apreendidos, a autoridade policial
poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua
conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público (art. 62, §1º).

9.2.2. Dinheiro e cheques = depósito em conta judicial.

Recaindo a apreensão sobre dinheiro ou cheques, cumprirá ao Ministério


Público requerer, em caráter cautelar, a conversão do numerário em moeda
nacional, se o caso, a compensação dos cheques emitidos após a instauração do
inquérito, e o depósito em conta judicial (art. 62, §§2º e 3º).

Destinação intermediária = processo cautelar de alienação.

9.3.1. Petição inicial.

Instaurada a ação penal, o Ministério Público deverá, por petição autônoma,


requerer a instauração de procedimento cautelar para alienação dos bens
apreendidos (art. 62, § 4º).
Permite a lei que os bens de interesse nas ações de prevenção e repressão
ao tráfico não sejam alienados, mas colocados sob a custódia da autoridade judicial
(art. 62, § 4º). Caberá à Secretaria Nacional Antidrogas – SENAD - indicar os bens
de interesse da União.
Neste caso, tratando-se de veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz
requisitará a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em
favor da autoridade policial ou órgão que utilizará o bem, “ficando estes livres do
pagamento de multas encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da
decisão que decretar o seu perdimento em favor da União” (art. 62, §11).

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O pedido de alienação judicial será autuado em apartado.

9.3.2. Avaliação.

O juiz determinará a avaliação, se identificar a presença de nexo de


instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para a sua prática e risco de
perda de valor econômico pelo decurso do tempo (art. 62, § 7º).
Da decisão serão notificadas as partes e a Senad. Não localizado o
interessado, proceder-se-á a notificação por edital, com prazo de 5 (cinco) dias.

9.3.3. Embargos.

Embora não previsto pelo legislador no artigo em estudo, é evidente que o


acusado e terceira pessoa poderão apresentar defesa no processo cautelar, como
embargos, aplicando-se o disposto nos artigos 129 e 130, do Código de Processo
Penal.
O prazo para embargos é de 5 (cinco) dias, por analogia ao disposto no
artigo 60, §1º, da lei em comento.

9.3.4. Leilão e depósito em conta judicial.

Concluída a avaliação e dirimidas eventuais divergências, o juiz homologará


o valor e determinará a alienação (art. 62, §8º), comportando a decisão recurso de
apelação no prazo de 5 (cinco) dias (CPP, art. 593, caput e inciso II), sem efeito
suspensivo (art. 62, §10º).
Para obstar o leilão, a parte deverá impetra mandado de segurança
pleiteando o efeito suspensivo ao apelo.
Realizado o leilão dos objetos, a quantia apurada será depositada em conta
judicial, juntamente com os valores oriundos da moeda e cheques compensados
(art. 62, §9º).

9.4. Destinação final.

23
9.4.1. Perda em favor da união, na hipótese de condenação.

Na sentença condenatória o juiz deverá decidir sobre o perdimento do


produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível (art. 63).
Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz remeterá à Secretaria
Nacional Antidrogas a relação dos bens ou valores perdidos em favor da União (art.
63, §4º).
E a União, por intermédio da Senad, poderá firmar convênio com os Estado,
com o Distrito Federal e com organismos atuantes na prevenção do uso de drogas e
reinserção do usuário ou dependente, vistas a liberação de equipamentos e recursos
para a implantação e execução de programas relacionados à questão das drogas
(art. 64)

9.4.2. Restituição, na hipótese de absolvição.

Sendo o réu absolvido por sentença transitada em julgado, os bens


apreendidos e os valores depositados ser-lhe-ão restituídos, posto que só há o efeito
do confisco em face de condenação (CP, art. 91, II).

Medidas assecuratórias.

Nos artigos 60 e 61, prevê o legislador a possibilidade de adoção das


medidas assecuratórias (seqüestro) previstas nos artigos 125 a 144, do Código de
Processo Penal.
O procedimento poderá ser iniciado de ofício pelo juiz, ou a requerimento do
Ministério Público (art. 60, caput).
Objetivo: apreender bens móveis e imóveis ou valores consistentes em
produtos do crime.
Os bens serão declarados perdidos em favor da União, se comprovada à
origem ilícita e se o réu for condenado por sentença transitada em julgado.

24
ANEXOS

REFLEXOS DA NOVA LEI DE DROGAS (LEI 11.343/06)


FACE AO CÓDIGO PENAL MILITAR

JOSÉ ALMIR PEREIRA DA SILVA

JOSÉ ALMIR PEREIRA DA SILVA é Bacharel em Direito, havendo colado


grau em janeiro 2004, foi conciliador do Juizado Especial Civil – Anexo São Miguel
Paulista – SP e Conciliador no Juizado Especial Criminal no Fórum de Itaquera
(2000-2003). Aprovado no Exame de Ordem nº 122 - OAB/SP. Atualmente é pós-
graduando Lato Sensu em Direito Militar, curso iniciado no 1º semestre de 2006.

1 – INTRODUÇÃO
A sociedade sempre repudiou o tráfico ou uso ilícito de drogas, não obstante,
no decorrer dos anos não podemos fugir da realidade de que houve uma mudança
radical dos conceitos sociais, por conseqüência, influenciaram diretamente na
legislação penal e na política criminal atual.
Neste mister devemos manter uma racionalidade, pois questões que versam
sobre substâncias entorpecentes devem ser observadas, principalmente, como uma
questão de saúde pública, logo, devemos quebrar os tabus sociais e arrostar a
verdadeira problemática que diuturnamente nos afeta.
Importante destacar as sábias lições dos Professores Gustavo Octaviano
Diniz Junqueira e Paulo Henrique Aranda Fuller, que de forma inexorável asseveram
em sua obra Legislação Penal Especial:
“A dependência química já reconhecida pela Organização Mundial de Saúde,
e são de conhecimento geral as funestas conseqüências da disseminação do uso de
entorpecentes como gerador de violência, desde a familiar até a formação de
organizações criminosas que servem do vício alheio”.
O Direito Penal, considerado como instrumento regulador do Estado
Democrático de Direito, também não pode deixar de enfrentar a complexa situação

25
das drogas ilegais – que, geralmente, traz consigo a violência e dramáticos danos á
família e a sociedade em geral – destarte, se deve buscar ferramentas racionais
para resolver esta complexa situação.
Neste diapasão, podemos dizer que o ordenamento jurídico penal brasileiro
sempre buscou de forma veemente combater as drogas de um modo geral,
adotando medidas enérgicas, pactos internacionais e conscientização social, no
entanto, sempre deparamos com a forte resistência ilícita, sociais e políticas que
consegue se manter, muitas vezes através do dito “crime organizado”.
Em apertada análise, constata-se que Lei Penal Comum em época pretérita
não conseguia distinguir o viciado do traficante, tratando ambos com rótulo de
“maconheiro, cheirador, drogado...”, sendo que pessoas surpreendidas na situação
de usuários eram imediatamente lançadas ao cárcere, independentemente de
provado a sua situação de dependente químico ou não.
Ocorre que com as mudanças sociais e conscientização nacional e
internacional, declinou-se no entendimento que o usuário necessitava
verdadeiramente de um tratamento médico e não da reprimenda corporal, neste
sentido houve uma mudança radical na política criminal, respaldada pela
conscientização social, e com o surgimento da Lei nº 9.099/95 e 10.259/01 adotou-
se penas alternativas.
Agora, realmente sedimentou-se uma nova política criminal minimalista com
o advento da nova Lei de Drogas nº 11.343/06, que em seu artigo 28 furtou-se da
aplicação de pena privativa de liberdade para o usuário de drogas, preferindo a
reinserção social.
Cumpri esclarecer, que este moderno ordenamento não descriminalizou “o
uso de drogas”, apenas vedou a aplicação de pena privativa de liberdade,
entretanto, esta conduta não deixou de ser considerado delito penal.
O Doutor Luiz Flávio Gomes em seu artigo jurídico intitulado “Usuário de
drogas: transação, descumprimento, reincidência e sentença condenatória”,
assevera de forma veemente que houve uma descriminalização formal adotado
agora pela Lei 11.343/06 em relação ao usuário, de modo firme e resoluto, embora
não tenha transformado tal fato em infração administrativa, sem sombra de dúvida
constitui uma opção político-criminal minimalista (que se caracteriza pela mínima
intervenção do Direito penal), em matéria de consumo pessoal de drogas.
Já o Direito Penal Militar, sempre primou pela reprimenda corporal para o

26
usuário de entorpecente, rotulado-o, muitas vezes, como um criminoso odioso,
esquecendo-se de lançar sobre o usuário ou dependente químico abrangido por esta
legislação castrense uma ótica sócio-educativa a fim de entender que se trata de um
doente, que necessita de tratamento médico imediato.
O artigo 290 do Código Penal Militar traz no seu bojo todas as hipóteses:
tráfico, posse ou uso de entorpecente ou substância de efeito similar, impondo
reprimenda de reclusão, até cinco anos. Senão vejamos:
“Art. 290. Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que
gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso
próprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer formar a consumo substância
entorpecente, ou que determine dependência física ou psíquica, em lugar sujeito a
administração militar, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar”. (grifamos)
Veja no Direito Penal Militar, a aplicação da pena, hipoteticamente, pode ser
a mesma tanto para o traficante como para o usuário, tratando-os de forma similar, é
claro que no caso concreto, certamente os nobres juízes sopesarão as
circunstâncias de fatos e de direito, com escopo de determinar uma pena justa e
equânime, no entanto, pena de reclusão.

2 – FUNDAMENTAÇÃO
Destas considerações preliminares surge à discussão jurídica, deve-se ou
não aplicar as benesses da Legislação Especial de Drogas, Lei nº 11.343/06 nos
crimes expresso no artigo 290 do Código Penal Militar, quando a conduta é
destinada ao “uso de entorpecentes”, certamente, este tema ecoará nos Tribunais
Superiores e será discutido amiúde por vários juristas.
Salutar deixar claro, que não queremos aqui, descaracterizar ou maquiar a
relevância da aplicação da pena imposta às condutas previstas no artigo 290 do
Código Penal Militar, pois, compreendemos como extremamente repudiadas, além
de saber que sua previsão e reprimenda têm por escopo a defesa precípua da
disciplina e hierarquia militar, bem como, a preservação das instituições militares,
que direta ou indiretamente é afetada quando um delito desta natureza é praticado.
Por este motivo, trouxemos a discussão tão-somente, à conduta do usuário
ou dependente químico, que muitas vezes sua doença não foi notada pela
instituição, e teve seu quadro médico evoluído, por motivos diversos, oriundos de

27
vários fatores que pode até fugir da seara do direito e galgar espaço no campo da
Saúde Pública.
Ora, embora não aceitáveis quaisquer condutas ilícitas em locais sob a
administração militar ou prevista como assimilados desta natureza, não podemos
olvidar que todo nosso ordenamento jurídico tem por norte a Constituição Federal,
logo, o operador do direito deve ter a cautela de aplicar os institutos jurídicos em
conformidade com este diploma máximo.
A Constituição Federal em seu artigo 1º, inciso III, traz como fundamento
primordial à dignidade da pessoa humana, e, como direitos e garantias individuais
em seu artigo 5º, tutela em seu Caput que todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza. A nova Lei de Drogas, em observância a esses
direitos e garantias, consignou:
“Art. 3º O Sisnad tem por finalidade de articular, integrar, organizar e
coordenar as atividades relacionadas com:
I – a prevenção do uso indevido, a atenção e reinserção social de usuário e
dependentes de drogas”; (grifamos)
Ainda, sem deixar de mira a Constituição Federal, a Lei em estudo deixou
expresso alguns princípios fundamentais, entre eles podemos destacar:
“Art. 4º São princípios do Sisnad:
I – o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente
quanto à sua autonomia e à sua liberdade;
(...)” (grifamos)
Sem muito esforço, constata-se que uma das finalidades precípuas da Lei nº
11.343/06 é buscar preservar a dignidade da pessoa humana e fazer com que o
usuário ou dependente químico seja recolocado na sociedade, através de esforços
dos seguimentos sociais e instituições governamentais, fomentando adoção de
medidas sócio-educativas, políticas de formação continuada e implantação de
projetos pedagógicos de preservação do uso indevido de drogas.
Neste mister, não se torna razoável que somente o Direito Penal Militar se
afugente desta realidade social, agindo como se todas as medidas e mudanças
nada afetasse este segmento especializado do direito. Admitir essa hipótese, é o
mesmo que admitir que o Direito Penal Militar existe por si só, num mundo “isolado e
repleto de dogmas”, o que não é verdade.
Devemos arrostar esta nova realidade e discutir qual a melhor forma de

28
tratar o usurário de drogas, mesmo que este usuário seja surpreendido em uma
prática ilícita envolvendo entorpecente para uso próprio, em local sob administração
militar ou nos casos assimilados.
Essa situação atualmente é tratada com todo vigor exigido pela legislação
castrense, podendo o usuário que é surpreendido na posse de droga destina ao
consumo, ser preso em flagrante delito, e imediatamente recolhido ao cárcere, onde
permanecerá, até que sua prisão cautelar seja revogada por autoridade competente.
Fato totalmente diferente ocorre com o usuário que recebe as benesses da
nova Lei de Drogas, que será processado e julgado na forma do artigo 60 e
seguinte, da Lei 9.099/95, consoante deflui o artigo 48, parágrafo 1º da Lei em
comento, sendo vedada expressamente a prisão em flagrante, pelo parágrafo 2º do
mesmo artigo.
Ora, será que a pessoa (dependente químico) que é surpreendida em local
sob administração militar ou aquela, descrita nos casos assimilados, é diferente das
outras pessoas que recebem a tutela da Lei nº 11.343/06, só porque aquela não
conseguindo dominar sua doença, porta entorpecente para uso próprio nas
hipóteses descritas do artigo 290 do Código Penal Militar?
Será legal e razoável, não utilizar as benesses da Lei nº 11.343/06 que
proíbe a adoção de penas privativas de liberdade, ferindo de morte os princípios da
isonomia, da racionalidade e da aplicação da pena mais benéfica ao réu, além de
tratar com indiferença todo arcabouço da nova Lei de Drogas que busca a
reinserção social do usuário de drogas?
Em uma análise crítica e sistemática, prefiro optar pelo entendimento da
aplicação do artigo 28 da Lei nº 11.343/06, em detrimento do artigo 290 do Código
Penal Militar, uma vez que a política criminal e a sociedade elegeram como premissa
à não adoção de pena privativa de liberdade quando se tratar de usuário ou
dependente de drogas devidamente comprovado, logo, não se torna tolerável e
razoável a aplicação de pena de reclusão como a prevista no diploma castrense.
Neste sentido, podemos ainda abarcar de forma analógica as sabias lições
do ilustre juiz de direito militar Doutor Ronaldo João Roth, que ao tratar da Lei nº
9.807/99 (delação premiada), fundamentou:
“(...) como as de lei esparsa, irradiam-se e alcançam todo ordenamento
jurídico – harmonizando-se à disciplina legislativa criminal -, ocasionando, dessa
forma, fato que justifica a sua aplicação na Justiça Militar e, em especial, no Código

29
Penal e no Código de Processo Penal Militares (COM e CPPM, respectivamente), e
ao encarregado do inquérito policial militar (IPM)”.
Assim, torna-se de bom alvitre entender que não pode o Direito Penal Militar
fugir desta realidade, pois como mencionado alhures, se deve respeitar a
Constituição Federal, outrossim, a Lei de Drogas é, sem embargos, uma Lei
autônoma e mais benéfica, logo, deve ser aplicada diante de um caso concreto,
máxime em fiel observância aos princípios constitucionais, que sempre devem ser
pugnados por todos operadores do direito.
Jamais podemos perder de mira a relevância dos princípios e garantias
constitucionais que transcendem as muralhas da aplicação da norma “fria”,
consoante preleciona o excelso Professo Damásio E. de Jesus:
“Os princípios constitucionais e as garantias individuais devem atuar como
balizas para correta interpretação e justa aplicação das normas penais, não se
podendo cogitar de uma aplicação meramente robotizada dos tipos incriminadores,
ditada pela verificação rudimentar da adequação típica formal, descurando-se de
qualquer apreciação ontológica do injusto. Dentre esses princípios limitadores da
pretensão punitiva destaca-se o da dignidade humana”.
Na seara do Direito Penal Militar, torna-se imperioso destacar as pertinentes
lições do Professor Cícero Robson Coimbra Neves que destaca sabiamente em sua
obra:
“Podemos afirmar, agora especialmente voltados ao Direito Penal Militar, que
os princípios informadores do ramo estudado são proposições que alicerçam o
sistema penal, garantindo-lhe validade, porquanto buscam a limitação de seu
espectro de incidência, em plena concatenação com um Direito Penal moderno,
alinhado com o Estado Social e Democrático de Direito”.
Mesmo com todas as ponderações consignadas, alguns podem se insurgir,
não admitido à aplicação da Lei 11.343/06 em detrimento ao artigo 290 do Código
Penal Militar, sob argumentos dos mais diversos, entre eles, que se torna impossível
à aplicação da nova Lei de Drogas em detrimento do Direito Penal Militar, porque o
artigo 48 da Lei remete o procedimento a Lei 9.099/95, sendo conhecido por todos,
que essa Lei Especial em seu artigo 90-A veda expressamente a sua aplicabilidade
nos delitos militares, sendo pertinente comentar que existe quem defendam a
inconstitucionalidade deste dispositivo.
No entanto, o artigo 48, parágrafo 1º, tão-somente, direciona o procedimento

30
que deve ser adotado pelo juízo competente, ou seja, versa sobre direito processual
e não sobre o direito material, ademais, a Lei nº 11.343/06 em todo seu arcabouço
não traz expressa nenhuma vedação de aplicabilidade ao Direito Penal Militar ou
Processual Penal Militar.
Noutro prisma, o parágrafo 2º do artigo 48 da Lei 11.343/06, veda a prisão
em fragrante encaminhando o autor dos fatos imediatamente ao juízo competente,
porquanto podemos entender que não existe patente nenhum óbice que este juízo,
por seu turno, seja os juízos Militares Estaduais ou da União, que diante do caso
concreto processará e julgará o militar usuário ou dependente de drogas, sem que
sofra a imposição da prisão em flagrante delito, com base nas benesses deste novo
diploma jurídico.

3 – CONCLUSÃO
Diante de todas as circunstâncias apontadas torna-se forçoso admitir que a
nova Lei de Drogas nº 11.343/06, em especial o artigo 28, possui reflexos
veementes em todo arcabouço jurídico penal e, deve sim ser aplicada de forma in
bonam partem, sempre que comprovadamente se tratar de situações de uso de
entorpecente, sob pena de se afrontar flagrantemente os princípios e direitos
constitucionais garantidos, entre eles, o princípio da isonomia, da racionalidade, da
proporcionalidade e da aplicação da pena mais benéfica.
Por derradeiro, torna-se necessário ressalta que somente respeitando a
Constituição Federal e as nossas Leis, que poderemos fomentar o verdadeiro
respeito à dignidade da pessoa humana, princípio máximo e basilar, protegido e
difundido por todas as Instituições Militares do Brasil, com escopo de tutelar todos os
cidadãos, civis e militares.

NOTAS
* Este artigo foi apresentado no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Direito Militar da Universidade Cruzeiro do Sul – UNICSUL, como avaliação do
módulo 2 (Direito Penal Militar – Parte Especial).

1. JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER, Paulo Henrique Aranda.


Legislação penal especial. Vol. 1, São Paulo: Siciliano Jurídico, 2004. p. 117.
2. GOMES, Luiz Flávio. Usuário de drogas: transação, descumprimento,

31
reincidência e sentença condenatória. disponível em: <
http://jus.uol.com.br/index.html >
3. Sisnad – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas.
4. ROTH, Ronaldo João. Temas de direito militar. 1ª ed., São Paulo:
Suprema Cultural, 2004. p. 74.
5. JESUS, Damásio E. de. Temas de direito criminal. 1ª série, São Paulo:
Saraiva, 1998. p. 14.
6. NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello.
Apontamentos de direito penal militar. Vol. 1, parte geral, São Paulo: Saraiva, 2005.
p. 34.
7. Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça
Militar.
8. Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste
Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as
disposições do Código de Processo Penal e Lei de Execução Penal.
§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, será
processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.
§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá
prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao
juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer,
lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e
perícias necessários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

JESUS, Damásio E. de. Temas de direito criminal. 1ª série, São Paulo:


Saraiva, 1998.
JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER, Paulo Henrique Aranda.
Legislação penal especial. Vol. 1, São Paulo: Siciliano Jurídico, 2004.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos
de direito penal militar. Vol. 1, parte geral, São Paulo: Saraiva, 2005.
ROTH, Ronaldo João. Temas de direito militar. 1ª ed., São Paulo: Suprema
Cultural, 2004.

32
JUS NAVIGANDI. Disponível em: < http://jus.uol.com.br/index.html >
Acessado em 23 Nov. 2006.

33
RELAÇÃO DE INFRAÇÕES SUJEITAS AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E
PADRÕES DE PROCEDIMENTO POLICIAL

Relação das Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo

1 - SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS


(Lei Nº 11.343, de 23 de agosto de 2006)

Artigos Denominação da Infração Pena(s) Ação Penal


Quem adquirir, guardar, tiver em
depósito, transportar ou trouxer consigo,
Art. 28 para consumo pessoal, drogas sem * Publ. Inc..
autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar
Oferecer droga, eventualmente
e sem objetivo de lucro, a pessoa de De 6 m.
Art. 33 § 3º Públ. Inc.
seu relacionamento, para juntos a a 1 ano.
consumirem
Prescrever ou ministrar,
culposamente, drogas, sem que delas
De 6 m.
Art. 38 necessite o paciente, ou fazê-lo em Públ. Inc.
a 2 ano.
doses excessivas ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar

I - advertência sobre os efeitos das drogas;


II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal,
semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade
de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às

34
condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais,
bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
§ 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 05 (cinco) meses.

2 - Nas ocorrências de envolvendo drogas ilícitas

Ao atender fatos criminais tipificados na Lei 11.343/06, ressalvada a


possibilidade do Poder Judiciário receber imediatamente o autor do fato, a Polícia
Militar adotará as seguintes providências:

a. Em se tratando do delito tipificado no art. 28 da citada Lei, deverá ser


lavrado Termo Circunstanciado, depois de inserido o Termo Circunstanciado no
Sistema de Informações Policiais e de ser remetido ao Poder Judiciário, deverá ser
impressa cópia e remetida à Delegacia de Polícia Especializada ou, na falta desta,
na da Circunscrição.
c. No que pertine("no que se refere"), aos demais delitos de menor potencial
ofensivo listados na citada Lei, lavrar Termo Circunstanciado.
d. Nos delitos de maior potencial ofensivo, adotar os procedimentos
atualmente vigentes, ou seja, prisão em flagrante ou lavratura de Comunicação de
Ocorrência Policial, conforme o caso.

3 – Como regra, a competência para o processo e julgamento dos crimes


relacionados a drogas é da Justiça Estadual, ficando a investigação sob a
responsabilidade Polícia Civil Estadual. Todavia, em se tratando de tráfico com o
exterior, a competência será da Polícia Federal para o Inquérito e da Justiça Federal
para o processo2.

4. CONCLUSÃO

Competência é a medida e o limite da jurisdição, utilizado como critério para


distribuí-la entre os vários órgãos do Poder Judiciário (FREDERICO MARQUES,
1998, p. 220.).

2
STF, súmula 522: “Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a competência será da Justiça
Federal, competem à Justiça dos Estados o processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes”.

35
A lei infraconstitucional pode delegar competência à Justiça Estadual local
nos Municípios que não forem sede de Justiça Federal (art. 109, § 3º, da
Constituição Federal).

Processo é a relação jurídica pela qual o Estado procede à composição da


lide, aplicando o direito ao caso concreto e dirimindo os conflitos de interesses
(CAPEZ, 2001, p. 13).

Procedimento, ou rito processual, é a sucessão ordenada, a concatenação


de atos processuais para exteriorização do processo (MIRABETE, 1998, p. 475).

36
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
CASA CIVIL
SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS

LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006.

Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas

Mensagem de sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção

veto do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e


dependentes de drogas; estabelece normas para
Regulamento repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de
drogas; define crimes e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta
e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre


Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e
reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para
repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.

Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as


substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados
em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo
da União.

37
Art. 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como
o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais
possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização
legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das
Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de
uso estritamente ritualístico-religioso.

Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos


vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou
científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as
ressalvas supramencionadas.

TÍTULO II

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Art. 3o O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar


as atividades relacionadas com:

I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários


e dependentes de drogas;

II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Art. 4o São princípios do Sisnad:

I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente


quanto à sua autonomia e à sua liberdade;

II - o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes;

III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo

38
brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso indevido de drogas
e outros comportamentos correlacionados;

IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para


o estabelecimento dos fundamentos e estratégias do Sisnad;

V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e


Sociedade, reconhecendo a importância da participação social nas atividades do
Sisnad;

VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com


o uso indevido de drogas, com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito;

VII - a integração das estratégias nacionais e internacionais de prevenção do


uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de
repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito;

VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes


Legislativo e Judiciário visando à cooperação mútua nas atividades do Sisnad;

IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a


interdependência e a natureza complementar das atividades de prevenção do uso
indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas,
repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas;

X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso


indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de
repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a
estabilidade e o bem-estar social;

XI - a observância às orientações e normas emanadas do Conselho


Nacional Antidrogas - Conad.

Art. 5o O Sisnad tem os seguintes objetivos:

I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos


vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu

39
tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados;

II - promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas


no país;

III - promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido,


atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à
sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos
órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios;

IV - assegurar as condições para a coordenação, a integração e a


articulação das atividades de que trata o art. 3 o desta Lei.

CAPÍTULO II

DA COMPOSIÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Art. 6o (VETADO)

Art. 7o A organização do Sisnad assegura a orientação central e a execução


descentralizada das atividades realizadas em seu âmbito, nas esferas federal,
distrital, estadual e municipal e se constitui matéria definida no regulamento desta
Lei.

Art. 8o (VETADO)

CAPÍTULO III

(VETADO)

Art. 9o (VETADO)

Art. 10. (VETADO)

Art. 11. (VETADO)

Art. 12. (VETADO)


40
Art. 13. (VETADO)

Art. 14. (VETADO)

CAPÍTULO IV

DA COLETA, ANÁLISE E DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES

SOBRE DROGAS

Art. 15. (VETADO)

Art. 16. As instituições com atuação nas áreas da atenção à saúde e da


assistência social que atendam usuários ou dependentes de drogas devem
comunicar ao órgão competente do respectivo sistema municipal de saúde os casos
atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas, conforme
orientações emanadas da União.

Art. 17. Os dados estatísticos nacionais de repressão ao tráfico ilícito de


drogas integrarão sistema de informações do Poder Executivo.

TÍTULO III

DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO, ATENÇÃO E

REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E DEPENDENTES DE DROGAS

CAPÍTULO I

DA PREVENÇÃO

Art. 18. Constituem atividades de prevenção do uso indevido de drogas,


para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para a redução dos fatores de
vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de
proteção.

Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem


observar os seguintes princípios e diretrizes:

41
I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência
na qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual
pertence;

II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como


forma de orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar
preconceitos e estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;

III - o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em


relação ao uso indevido de drogas;

IV - o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com


as instituições do setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo
usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do
estabelecimento de parcerias;

V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às


especificidades socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes
drogas utilizadas;

VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retardamento do uso” e da redução


de riscos como resultados desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando
da definição dos objetivos a serem alcançados;

VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da


população, levando em consideração as suas necessidades específicas;

VIII - a articulação entre os serviços e organizações que atuam em


atividades de prevenção do uso indevido de drogas e a rede de atenção a usuários e
dependentes de drogas e respectivos familiares;

IX - o investimento em alternativas esportivas, culturais, artísticas,


profissionais, entre outras, como forma de inclusão social e de melhoria da
qualidade de vida;

X - o estabelecimento de políticas de formação continuada na área da


prevenção do uso indevido de drogas para profissionais de educação nos 3 (três)
42
níveis de ensino;

XI - a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido


de drogas, nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes
Curriculares Nacionais e aos conhecimentos relacionados a drogas;

XII - a observância das orientações e normas emanadas do Conad;

XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas


setoriais específicas.

Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas


dirigidas à criança e ao adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes
emanadas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente -
Conanda.

CAPÍTULO II

DAS ATIVIDADES DE ATENÇÃO E DE REINSERÇÃO SOCIAL

DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS

Art. 20. Constituem atividades de atenção ao usuário e dependente de


drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria
da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de
drogas.

Art. 21. Constituem atividades de reinserção social do usuário ou do


dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas
direcionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais.

Art. 22. As atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do


dependente de drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes
princípios e diretrizes:

I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de


quaisquer condições, observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os

43
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de
Assistência Social;

II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do


usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas
peculiaridades socioculturais;

III - definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a


inclusão social e para a redução de riscos e de danos sociais e à saúde;

IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos


familiares, sempre que possível, de forma multidisciplinar e por equipes
multiprofissionais;

V - observância das orientações e normas emanadas do Conad;

VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas


setoriais específicas.

Art. 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios desenvolverão programas de atenção ao usuário e ao
dependente de drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e os
princípios explicitados no art. 22 desta Lei, obrigatória a previsão orçamentária
adequada.

Art. 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão


conceder benefícios às instituições privadas que desenvolverem programas de
reinserção no mercado de trabalho, do usuário e do dependente de drogas
encaminhados por órgão oficial.

Art. 25. As instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, com atuação
nas áreas da atenção à saúde e da assistência social, que atendam usuários ou
dependentes de drogas poderão receber recursos do Funad, condicionados à sua
disponibilidade orçamentária e financeira.

Art. 26. O usuário e o dependente de drogas que, em razão da prática de


infração penal, estiverem cumprindo pena privativa de liberdade ou submetidos a
44
medida de segurança, têm garantidos os serviços de atenção à sua saúde, definidos
pelo respectivo sistema penitenciário.

CAPÍTULO III

DOS CRIMES E DAS PENAS

Art. 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou
cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério
Público e o defensor.

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal,


semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de
substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz


atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às
condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem
como à conduta e aos antecedentes do agente.

§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão


aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.

§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput


deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

45
§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas
comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos
congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem,
preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e
dependentes de drogas.

§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere


o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o
juiz submetê-lo, sucessivamente a:

I - admoestação verbal;

II - multa.

§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do


infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial,
para tratamento especializado.

Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II do § 6 o


do art. 28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-
multa, em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem),
atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade econômica do agente, o valor
de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.

Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que se


refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas.

Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas,


observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes
do Código Penal.

TÍTULO IV

DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA

E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS

CAPÍTULO I

46
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 31. É indispensável à licença prévia da autoridade competente


para produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito,
importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar,
trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima destinada à sua
preparação, observadas as demais exigências legais.

Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelas


autoridades de polícia judiciária, que recolherão quantidade suficiente para exame
pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a
delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da
prova.

§ 1o A destruição de drogas far-se-á por incineração, no prazo máximo de


30 (trinta) dias, guardando-se as amostras necessárias à preservação da prova.

§ 2o A incineração prevista no § 1 o deste artigo será precedida de


autorização judicial, ouvido o Ministério Público, e executada pela autoridade de
polícia judiciária competente, na presença de representante do Ministério Público e
da autoridade sanitária competente, mediante auto circunstanciado e após a perícia
realizada no local da incineração.

§ 3o Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plantação,


observar-se-á, além das cautelas necessárias à proteção ao meio ambiente, o
disposto no Decreto no 2.661, de 8 de julho de 1998, no que couber, dispensada a
autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacional do Meio Ambiente -
Sisnama.

§ 4o As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas,


conforme o disposto no art. 243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação
em vigor.

CAPÍTULO II

DOS CRIMES

47
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,
vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500


(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda,


oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com


determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima
para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade,


posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize,
ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300


(trezentos) dias-multa.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de


seu relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700


(setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas
no art. 28.
48
§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1 o deste artigo, as penas poderão
ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas
de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se
dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir,


entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação,
preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e


duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar,


reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34
desta Lei:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700


(setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se
associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos
arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e


quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação


destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34
desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos)


a 700 (setecentos) dias-multa.

49
Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas
necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50


(cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da


categoria profissional a que pertença o agente.

Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas,


expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do


veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo
prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400
(quatrocentos) dias-multa.

Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente


com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600
(seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte
coletivo de passageiros.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de
um sexto a dois terços, se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as


circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no


desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de


estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer
natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção
50
social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de


arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;

V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o


Distrito Federal;

VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem


tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e
determinação;

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a


investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou
partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso
de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância


sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da
substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o


juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-
multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor
não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo.

Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão


impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em
virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que
aplicadas no máximo.

Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 a 37 desta Lei
são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade
provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.

51
Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o
livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua
concessão ao reincidente específico.

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o


efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação
ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força


pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições
referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu
encaminhamento para tratamento médico adequado.

Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por
força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao
tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que


ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento, realizada por
profissional de saúde com competência específica na forma da lei, determinará que
a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.

CAPÍTULO III

DO PROCEDIMENTO PENAL

Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste
Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as
disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.

§ 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo


se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será
processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei n o 9.099, de 26 de

52
setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais.

§ 2o Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá


prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao
juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer,
lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e
perícias necessários.

§ 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2 o


deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se
encontrar, vedada a detenção do agente.

§ 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2 o deste artigo, o agente


será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de
polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado.

§ 5o Para os fins do disposto no art. 76 da Lei no 9.099, de 1995, que dispõe


sobre os Juizados Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na
proposta.

Art. 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 a


37 desta Lei, o juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os
instrumentos protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei no 9.807,
de 13 de julho de 1999.

Seção I

Da Investigação

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária


fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto
lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e
quatro) horas.

§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e


estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da
53
natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por
pessoa idônea.

§ 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1 o deste artigo não


ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.

Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o


indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.

Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser


duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da
autoridade de polícia judiciária.

Art. 52. Findos os prazos a que se refere o art. 51 desta Lei, a autoridade de
polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:

I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões


que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da
substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu
a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os
antecedentes do agente; ou

II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.

Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências


complementares:

I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser


encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e
julgamento;

II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja


titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser
encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e
julgamento.

Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes

54
previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização
judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:

I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação,


constituída pelos órgãos especializados pertinentes;

II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores


químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no
território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de
integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal
cabível.

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será


concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos
agentes do delito ou de colaboradores.

Seção II

Da Instrução Criminal

Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de Comissão


Parlamentar de Inquérito ou peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério
Público para, no prazo de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências:

I - requerer o arquivamento;

II - requisitar as diligências que entender necessárias;

III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as


demais provas que entender pertinentes.

Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para


oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

§ 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado


poderá argüir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o

55
número de 5 (cinco), arrolar testemunhas.

§ 2o As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95


a 113 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.

§ 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz nomeará defensor


para oferecê-la em 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos no ato de
nomeação.

§ 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias.

§ 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máximo de 10 (dez) dias,


determinará a apresentação do preso, realização de diligências, exames e perícias.

Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência
de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do
Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.

§ 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts.


33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar
o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público,
comunicando ao órgão respectivo.

§ 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro


dos 30 (trinta) dias seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a
realização de avaliação para atestar dependência de drogas, quando se realizará
em 90 (noventa) dias.

Art. 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do


acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao
representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação
oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a
critério do juiz.

Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes


se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes
se o entender pertinente e relevante.
56
Art. 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o
fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.

§ 1o Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido controvérsia, no curso do


processo, sobre a natureza ou quantidade da substância ou do produto, ou sobre a
regularidade do respectivo laudo, determinará que se proceda na forma do art. 32, §
1o, desta Lei, preservando-se, para eventual contraprova, a fração que fixar.

§ 2o Igual procedimento poderá adotar o juiz, em decisão motivada e, ouvido


o Ministério Público, quando a quantidade ou valor da substância ou do produto o
indicar, precedendo a medida a elaboração e juntada aos autos do laudo
toxicológico.

Art. 59. Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1 o, e 34 a 37 desta Lei,
o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, salvo se for primário e de bons
antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória.

CAPÍTULO IV

DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO


ACUSADO

Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante


representação da autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público,
havendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação
penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis
e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou
que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts.
125 a 144 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo
Penal.

§ 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste artigo, o juiz


facultará ao acusado que, no prazo de 5 (cinco) dias, apresente ou requeira a
produção de provas acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto da
decisão.

57
§ 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou valor, o juiz decidirá pela
sua liberação.

§ 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento


pessoal do acusado, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à
conservação de bens, direitos ou valores.

§ 4o A ordem de apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores


poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução
imediata possa comprometer as investigações.

Art. 61. Não havendo prejuízo para a produção da prova dos fatos e
comprovado o interesse público ou social, ressalvado o disposto no art. 62 desta Lei,
mediante autorização do juízo competente, ouvido o Ministério Público e cientificada
a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas
entidades que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social
de usuários e dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e
ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.

Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou


aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de
registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento,
em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando esta livre do pagamento
de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que
decretar o seu perdimento em favor da União.

Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de


transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza,
utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular
apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as
armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica.

§ 1o Comprovado o interesse público na utilização de qualquer dos bens


mencionados neste artigo, a autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso,
sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante
autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
58
§ 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste artigo, e tendo recaído
sobre dinheiro ou cheques emitidos como ordem de pagamento, a autoridade de
polícia judiciária que presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo
competente a intimação do Ministério Público.

§ 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao juízo, em caráter


cautelar, a conversão do numerário apreendido em moeda nacional, se for o caso, a
compensação dos cheques emitidos após a instrução do inquérito, com cópias
autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das correspondentes quantias em
conta judicial, juntando-se aos autos o recibo.

§ 4o Após a instauração da competente ação penal, o Ministério Público,


mediante petição autônoma, requererá ao juízo competente que, em caráter
cautelar, proceda à alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a
União, por intermédio da Senad, indicar para serem colocados sob uso e custódia da
autoridade de polícia judiciária, de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas
ações de prevenção ao uso indevido de drogas e operações de repressão à
produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse
dessas atividades.

§ 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os fins previstos no § 4 o


deste artigo, o requerimento de alienação deverá conter a relação de todos os
demais bens apreendidos, com a descrição e a especificação de cada um deles, e
informações sobre quem os tem sob custódia e o local onde se encontram.

§ 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição será autuada em


apartado, cujos autos terão tramitação autônoma em relação aos da ação penal
principal.

§ 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos serão conclusos ao juiz,


que, verificada a presença de nexo de instrumentalidade entre o delito e os objetos
utilizados para a sua prática e risco de perda de valor econômico pelo decurso do
tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, cientificará a Senad e
intimará a União, o Ministério Público e o interessado, este, se for o caso, por edital
com prazo de 5 (cinco) dias.

59
§ 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo
laudo, o juiz, por sentença, homologará o valor atribuído aos bens e determinará
sejam alienados em leilão.

§ 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em conta judicial a quantia


apurada, até o final da ação penal respectiva, quando será transferida ao Funad,
juntamente com os valores de que trata o § 3o deste artigo.

§ 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as


decisões proferidas no curso do procedimento previsto neste artigo.

§ 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4 o deste artigo, recaindo a


autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à
autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de
certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da autoridade de polícia
judiciária ou órgão aos quais tenha deferido o uso, ficando estes livres do
pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da
decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.

Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento


do produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível.

§ 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes tipificados nesta Lei


e que não forem objeto de tutela cautelar, após decretado o seu perdimento em
favor da União, serão revertidos diretamente ao Funad.

§ 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos e não leiloados


em caráter cautelar, cujo perdimento já tenha sido decretado em favor da União.

§ 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a fim de dar imediato


cumprimento ao estabelecido no § 2o deste artigo.

§ 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz do processo, de


ofício ou a requerimento do Ministério Público, remeterá à Senad relação dos bens,
direitos e valores declarados perdidos em favor da União, indicando, quanto aos
bens, o local em que se encontram e a entidade ou o órgão em cujo poder estejam,

60
para os fins de sua destinação nos termos da legislação vigente.

Art. 64. A União, por intermédio da Senad, poderá firmar convênio com os
Estados, com o Distrito Federal e com organismos orientados para a prevenção do
uso indevido de drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou dependentes
e a atuação na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas,
com vistas na liberação de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para a
implantação e execução de programas relacionados à questão das drogas.

TÍTULO V

DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Art. 65. De conformidade com os princípios da não-intervenção em assuntos


internos, da igualdade jurídica e do respeito à integridade territorial dos Estados e às
leis e aos regulamentos nacionais em vigor, e observado o espírito das Convenções
das Nações Unidas e outros instrumentos jurídicos internacionais relacionados à
questão das drogas, de que o Brasil é parte, o governo brasileiro prestará, quando
solicitado, cooperação a outros países e organismos internacionais e, quando
necessário, deles solicitará a colaboração, nas áreas de:

I - intercâmbio de informações sobre legislações, experiências, projetos e


programas voltados para atividades de prevenção do uso indevido, de atenção e de
reinserção social de usuários e dependentes de drogas;

II - intercâmbio de inteligência policial sobre produção e tráfico de drogas e


delitos conexos, em especial o tráfico de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de
precursores químicos;

III - intercâmbio de informações policiais e judiciais sobre produtores e


traficantes de drogas e seus precursores químicos.

TÍTULO VI

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1 o desta Lei, até que

61
seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se
drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle
especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998.

Art. 67. A liberação dos recursos previstos na Lei no 7.560, de 19 de


dezembro de 1986, em favor de Estados e do Distrito Federal, dependerá de sua
adesão e respeito às diretrizes básicas contidas nos convênios firmados e do
fornecimento de dados necessários à atualização do sistema previsto no art. 17
desta Lei, pelas respectivas polícias judiciárias.

Art. 68. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão


criar estímulos fiscais e outros, destinados às pessoas físicas e jurídicas que
colaborem na prevenção do uso indevido de drogas, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes e na repressão da produção não autorizada e do tráfico
ilícito de drogas.

Art. 69. No caso de falência ou liquidação extrajudicial de empresas ou


estabelecimentos hospitalares, de pesquisa, de ensino, ou congêneres, assim como
nos serviços de saúde que produzirem, venderem, adquirirem, consumirem,
prescreverem ou fornecerem drogas ou de qualquer outro em que existam essas
substâncias ou produtos, incumbe ao juízo perante o qual tramite o feito:

I - determinar, imediatamente à ciência da falência ou liquidação, sejam


lacradas suas instalações;

II - ordenar à autoridade sanitária competente a urgente adoção das


medidas necessárias ao recebimento e guarda, em depósito, das drogas
arrecadadas;

III - dar ciência ao órgão do Ministério Público, para acompanhar o feito.

§ 1o Da licitação para alienação de substâncias ou produtos não proscritos


referidos no inciso II do caput deste artigo, só podem participar pessoas jurídicas
regularmente habilitadas na área de saúde ou de pesquisa científica que comprovem
a destinação lícita a ser dada ao produto a ser arrematado.

62
§ 2o Ressalvada a hipótese de que trata o § 3o deste artigo, o produto não
arrematado será, ato contínuo à hasta pública, destruído pela autoridade sanitária,
na presença dos Conselhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público.

§ 3o Figurando entre o praceado e não arrematadas especialidades


farmacêuticas em condições de emprego terapêutico, ficarão elas depositadas sob a
guarda do Ministério da Saúde, que as destinará à rede pública de saúde.

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37


desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça
Federal.

Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede
de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição
respectiva.

Art. 71. (VETADO)

Art. 72. Sempre que conveniente ou necessário, o juiz, de ofício, mediante


representação da autoridade de polícia judiciária, ou a requerimento do Ministério
Público, determinará que se proceda, nos limites de sua jurisdição e na forma
prevista no § 1o do art. 32 desta Lei, à destruição de drogas em processos já
encerrados.

Art. 73. A União poderá celebrar convênios com os Estados visando à


prevenção e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas.

Art. 74. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após a sua
publicação.

Art. 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei no


10.409, de 11 de janeiro de 2002.

Brasília, 23 de agosto de 2006; 185o da Independência e 118o da


República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

63
Márcio Thomaz Bastos

Guido Mantega

Jorge Armando Felix

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 24.8.2006

64
LEGISLAÇÃO ESPECIAL

NOVA LEI DE DROGAS (LEI N.º 11.343, DE 23.08.2006

QUESTÕES POTENCIAIS DE PROVA N.º 1/CFO - III/DIVE/APMCV/2010

1. Responderá pelo crime de posse ilícita de drogas para consumo pessoal o agente
que adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar.

2. O crime de posse ilícita de drogas para consumo pessoal possui as seguintes


penas restritivas de direitos:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;


II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

3. Semear, cultivar ou colher plantas para a preparação ou produção de drogas


caracteriza crime de tráfico. Contudo, se for para o consumo pessoal do agente e
em pequena quantidade, não será tráfico, e sim o crime do §1.º, do art. 28.

4. O juiz deverá levar em consideração os seguintes critérios para determinar se a


droga destinava-se a consumo pessoal:

a) natureza;
b) quantidade;
c) local de apreensão;
d) desenvolvimento da ação;
e) circunstâncias sociais;
f) circunstâncias pessoais;
g) conduta;
h) antecedentes.

5. A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas


comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos
congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem,
preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e
dependentes de drogas.

6. Para garantia do cumprimento das medidas educativas, caso o agente não as


cumpra injustificadamente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a
admoestação verbal e multa.

7. O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator,


gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para
tratamento especializado.

65
8. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo (crime comum). O sujeito passivo é o
Estado. O objeto jurídico imediato é a saúde pública. O objeto material é droga ilícita
(ex.: maconha). O elemento subjetivo é o dolo, com o fim especial de consumo
pessoal.

9. Atenção!!!! O crime não é usar droga ilícita, mas sim adquiri-la, guardá-la, mantê-
la em depósito, transportá-la ou trazê-la consigo para consumo pessoal. Assim, não
se pune o consumo em si da droga.

10. Não se punem os fatos pretéritos referentes ao consumo da droga ilícita.

11. No crime de posse ilícita de drogas para consumo pessoal, a apreensão da


droga (objeto material) é obrigatória.

12. A incineração de plantações ilícitas será realizada por meio de autorização


judicial, ouvido o Ministério Público, e executada pela autoridade de polícia judiciária
competente, na presença de representante do Ministério Público e da autoridade
sanitária competente.

13. A destruição de drogas far-se-á por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta)


dias, observadas as cautelas necessárias com o meio ambiente, no caso de
queimadas, guardando-se as amostras necessárias à preservação da prova.

14. As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o


disposto no art. 243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.

15. O crime de tráfico possui o elemento normativo “drogas” e “sem autorização ou


em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. O juiz precisa valorar quais
as substâncias (drogas ilícitas) deverão ser consideradas para efeito de aplicação
dos dispositivos penais da Nova Lei de Drogas.

16. O crime de tráfico é denominado tipo misto alternativo, porque a figura penal é
composta de uma série de núcleos (verbos) do tipo (ex.: transportar, adquirir, vender,
receber, guardar). Basta que exista uma dessas condutas descritas nos núcleos
para que se configure o delito na sua forma consumada. Qualquer uma das
condutas perfaz o crime, daí a denominação “alternativo”.

17. Dentro do mesmo contexto factual, se o agente executar uma série de condutas,
sendo uma seqüência lógica da outra, teremos um único crime de tráfico ilícito de
drogas. É o caso, por exemplo, de um traficante que importa, adquire, transporta,
guarda e expõe à venda drogas. Incorreu o agente em cinco condutas, mas deverá
responder por um único crime, pois todas ocorreram dentro do mesmo contexto,
sendo uma a seqüência da outra. É uma característica do tipo penal misto
alternativo.

18. Atenção!!!!! O tipo penal do tráfico não exige como elementar a finalidade de
lucro ou de obter vantagem econômica. Poderá haver o crime de tráfico ainda que
não exista o fim lucrativo por parte do agente delitivo.

19. Atenção!!! Súmula 145 do STF: “Não há crime quando a preparação do

66
flagrante pela Polícia torna impossível a sua consumação”

20. A forma tentada na modalidade “importar”. Segundo o STJ, o núcleo importar


admite a forma tentada, ocorrendo a mesma desde que, por circunstâncias alheias à
vontade do agente, a droga não ultrapasse as fronteiras do território nacional.

21. O Superior Tribunal de Justiça possui decisão entendendo ser cabível a forma
tentada, quando a correspondência contendo droga não chegar ao destinatário por
circunstâncias alheias à vontade do remetente.

22. A retirada do cloreto de etila do rol das drogas ilícitas, por equívoco da
Administração Pública, gera abolitio criminis? O atual entendimento do Superior
Tribunal de Justiça é no sentido de não se admitir a abolitio criminis no caso da
portaria que, por um erro da Administração, retirou o cloreto de etila
momentaneamente do rol das substâncias entorpecentes.

23. Importantíssimo!!! Com as alterações surgidas com a Nova Lei de Drogas,


foram criadas duas figuras penais que, na lei anterior (6368/76), caracterizavam
crime de tráfico. Porém, na atual Lei de Drogas (11.343/2006), não configuram
tráfico. A primeira é a conduta de “induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido
de droga”. A segunda é a conduta de “oferecer droga, eventualmente e sem objetivo
de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem”. Nessas duas
hipóteses (exceções), não haverá crime de tráfico.
 Exemplo da primeira: Encontramos na película cinematográfica “Invasões
Bárbaras”, numa situação em que uma usuária de cocaína auxilia um senhor
com câncer a fazer uso da droga.
 Exemplo da segunda: Temos no caso de um indivíduo que resolve fazer
uma festa em sua casa, convidando amigos para a mesma, ocasião em que
oferece para estes drogas ilícitas, levando-os ao consumo da mesma.

24. Não importa exclusivamente na configuração do delito. É apenas elemento de


prova, não podendo ser considerado isolada e exclusivamente.

25. Na dúvida, o juiz opta por condenar no crime menos grave, isto é, no crime de
posse de drogas ilícitas para consumo pessoal.

26. O crime de tráfico se caracteriza independentemente da ocorrência ou não de


dano ao usuário.

27. Ocorrendo dentro do mesmo contexto factual, o crime de tráfico absorve o crime
de posse de drogas para consumo pessoal.

28. Algumas condutas classificam-se como permanentes, como é o caso dos


núcleos “guardar” e “ter em depósito”. Nessas situações, o momento consumativo se
prolonga no tempo, podendo ser realizada a prisão em flagrante enquanto não
cessar a permanência.

29. A dependência da droga determina a classificação do delito? Não. A


dependência não determina a figura típica. Poderemos ter um traficante que seja
usuário.

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30. O art. 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que é crime vender,
fornecer, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem
justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou
psíquica, ainda que por utilização indevida. Indaga-se: no caso de entrega de droga
ilícita para um adolescente, haverá o crime do art. 243 do ECA ou o crime do art. 33
da Nova Lei de Drogas? Resposta: aplica-se ao caso o art. 33 da Nova Lei de
Drogas, devendo o agente responder pelo crime de tráfico. Note que o crime do art.
243 do ECA é subsidiário em relação ao dispositivo do art. 33 da Nova Lei de
Drogas, somente podendo ser aplicado quando a substância entregue ao
adolescente for outra diversa das drogas ilícitas consideradas para efeito de
aplicação da Lei 11343/2006.

31. A Nova Lei de Drogas prevê expressamente a responsabilidade penal de


condutas que seriam apenas atos preparatórios para o crime de tráfico. Essas
condutas estão previstas nos arts. 34 (maquinismos e instrumentos destinados para
a fabricação ou produção das drogas) e 35 (associação para o tráfico) da Lei.

32. A cessão da droga de um usuário para o outro: caracteriza o crime de tráfico?


Com base na Lei N.º 11.343/2006, não caracteriza mais o crime de tráfico. Trata-se
agora do crime de cessão gratuita para consumo conjunto com pessoa ou pessoas
de seu relacionamento (art. 33, §3.º).

33. A apreensão da substância em posto de fronteira poderá impedir a


caracterização do crime na forma consumada na modalidade adquirir. Porém, já
poderá estar caracterizada a modalidade “importar”, se o agente ultrapassou as
fronteiras do território nacional.

34. As figuras do erro de tipo e do erro de proibição são plenamente possíveis


nesses crimes, exigindo-se a prova cabível para a sua verificação.

Ex1.: pessoa que, a pedido do amigo, transporta uma encomenda não sabendo que
a mesma é droga (erro de tipo).
Ex2.: estrangeiro holandês de férias no Brasil que imagina ser lícito fumar cigarros
de cannabis sativa – maconha (erro de proibição).

35. Em face ao princípio da especialidade, havendo a importação de drogas ilícitas,


haverá tráfico e não contrabando.

36. A conduta (importar, adquirir, vender etc.) que tenha matéria-prima, insumo ou
produto químico destinado a produção de drogas também caracteriza crime de
tráfico. Caracteriza o crime não apenas aquela substância que contém o princípio
ativo da droga, podendo ser qualquer matéria que seja utilizada na sua produção, no
caso o “insumo” e “produto químico”

37. Salvo a exceção da pequena quantidade para consumo pessoal, quem semeia,
cultiva ou faz a colheita de plantas que se constituam em matéria-prima para a
preparação de drogas responde pelo crime de tráfico.

38. Responde por crime de tráfico quem utiliza local ou bem de qualquer natureza de

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que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que
outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, para o tráfico ilícito de drogas.

39. Haverá crime de tráfico ilícito de drogas no caso do agente que detém a
propriedade, ou posse ou detenção de um imóvel (ex.: apartamento) ou de qualquer
outro bem (ex.: barco, veículo) e permite que, nesse imóvel aconteça o tráfico de
drogas por terceiros. É o caso, por exemplo, daquele que aluga um imóvel para que
terceiros o utilizem para o tráfico ilícito de drogas. É óbvio que todas as condutas
pressupõem o dolo, isto é, que o agente tenha conhecimento de alguma forma que o
bem está sendo utilizada por terceiros para o tráfico ilícito de drogas.

40. A pena do crime de tráfico poderá ser reduzida (causa de diminuição ou


minorante) de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de
direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa.

41. As condutas “Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga” e


“Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu
relacionamento, para juntos a consumirem” constituem crimes autônomos, não
caracterizado o tráfico.

42. Fabricar, adquirir, utilizar, dentre outras condutas, máquinas, aparelhos,


instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou
transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar. O objeto material é o instrumento, apetrecho ou maquinismo
destinado para a fabricação ou produção de drogas.

43. É possível o concurso entre os arts. 33 e 34 da Lei N.º 11.343/2006? Não na


mesma situação de fato, ocorrendo a conduta descrita no art.33, não poderá incidir o
art. 34, que é delito eminentemente subsidiário.

44. O crime de associação para o tráfico consiste na reunião de duas ou mais


pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, o tráfico. O parágrafo único
estabelece ainda a conduta de associação para a prática do financiamento do
tráfico.

45. É plenamente possível o concurso de crimes do art. 33 (tráfico) com o art. 35


(associação para o tráfico). Assim, por exemplo, no caso de um grupo de traficantes
que formaram uma quadrilha ou bando para exercerem suas atividades, já tendo
iniciado os atos executórios do crime de tráfico, deverão responder por dois crimes
em concurso material: tráfico ilícito de drogas e associação para o tráfico (arts. 33 ou
34 em concurso com o art. 35 da Nova Lei de Drogas).

46. Na caracterização do delito de associação para o tráfico, é importante


demonstrar que a associação de pessoas continha um ajuste prévio e duradouro,
afastando-se, portanto, da mera reunião ocasional de co-autores para a prática de
determinado crime de tráfico ilícito de entorpecentes. A ausência do animus
associativo afasta a incidência do art. 35 da Lei, tratando-se de mera co-autoria.

47. No crime de financiamento do tráfico, previsto no art. 36, a conduta criminosa

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consiste em financiar ou custear o tráfico. A doutrina em geral vem entendendo que
a contribuição financeira deve ter alguma relevância.

48. O crime de colaboração com o tráfico (art. 37) não constitui tráfico ilícito de
drogas. O informante, na Nova Lei de Drogas, é responsabilizado num tipo penal
autônomo.
49. No crime de colaboração com o tráfico, previsto no art. 37, o agente deve
colaborar exclusivamente com informações. Se, por exemplo, colaborar
transportando a droga, responderá por crime de tráfico, previsto no “caput” do art.
33.

50. O informante não deve ter vínculo direto (ânimo associativo) com os traficantes,
sob pena de ser considerado partícipe do crime de tráfico (arts. 33, caput e § 1o, e
34 desta Lei).

51. A única figura culposa descrita na Nova Lei de Drogas é o crime de prescrever
ou ministrar (art. 38), culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou
fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.

52. Os núcleos “prescrever” ou “ministrar”, para caracterizar o presente delito,


devem ocorrer culposamente. Assim, se as condutas forem eminentemente dolosas,
o agente delitivo deverá responder por crime de tráfico de drogas (art. 33. caput e §
1.º).

53. Constitui crime (art. 39) conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de
drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem.

54. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a
dois terços nos seguintes casos:

a) transnacionalidade;
b) prevalecendo-se o agente da função pública ou no desempenho de missão de
educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
c) quando a infração for cometida nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades
estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de
trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer
natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção
social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
d) quando o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de
arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
e) tráfico interestadual (entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito
Federal);
f) quando envolver ou atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer
motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;
g) quando o agente financiar ou custear a prática do crime.

55. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação


policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes

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do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de
condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços

REFERÊNCIAS

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do Ministério Público do Rio de Janeiro: PGJ, nº 15, p. 241, jan.-jun., 2002.

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consumo pessoal’ na Lei nº 11.343/2006: primeiras impressões quanto à não-
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