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Intervenção Psicológica em Perturbações da Aprendizagem de grau ligeiro/moderado

ESTUDO DE CASO – “Ana”

I. Informação Contextual

“Ana” – nome fictício –, é uma criança de 10 anos de idade a frequentar o 5º ano de


escolaridade e sem historial de retenção escolar, apresentando, atualmente, resultados
satisfatórios na globalidade das disciplinas, apesar do diagnóstico de Dislexia.
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Proveniente de uma família que lhe proporciona o adequado suporte e motivação, há a
salientar que a “Ana” se revela muito bem integrada na turma e na escola, relaciona-se
facilmente com os seus pares e participa nas brincadeiras.

Em contexto de sala de aula, é uma aluna empenhada e responsável, que gosta de participar e
de ir ao quadro; contudo, revela dificuldades de atenção e de concentração, apesar de ser
sossegada.

É uma aluna muito educada, simpática e disponível para aprender.

Verificam-se desordens desenvolvimentais das habilidades académicas relacionadas com a


leitura e a escrita, associadas ao seu quadro disléxico.

A aluna, apesar de alguma ansiedade, não manifesta qualquer problema em ler em voz alta,
embora tenha a noção de que há palavras que poderá ler erradamente e de, por vezes, a sua
leitura ser pouco fluente.

Por outro lado, demonstra interesse pela leitura, lendo não só as obras recomendadas pelo
programa de Português do 5º ano, como outros livros de leitura recreativa.

Demonstra ainda bastante interesse pela escrita – sendo até criativa - apesar de escrever com
erros ortográficos.

A “Ana” foi indicada para avaliação ainda no 1º ciclo, com 9 anos de idade, pela professora
titular, com a finalidade de proceder a uma avaliação especializada ao nível das dificuldades
específicas de aprendizagem no âmbito da leitura e da escrita (dislexia e disortografia).

Em relação à história pessoal de evolução da aluna, há a salientar o desenvolvimento da


linguagem marcado por perturbações ao nível da articulação, justificando terapia da fala aos 6
anos e dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita logo no início da escolaridade.
Foram identificados antecedentes familiares no que se refere à dislexia.
Margarida Paulino
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II. Resultados da Avaliação

Os resultados observados na avaliação intelectual, neuropsicológica, psicolinguística e


comportamental, conjugados com os dados apresentados na história de desenvolvimento e o
desempenho nos testes de leitura e de escrita, respeitam os critérios de diagnóstico definidos
para as dificuldades específicas de aprendizagem da leitura e da escrita (dislexia e
disortografia) e sugerem uma dislexia do tipo misto.
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Quadro 1. Resumo da avaliação (inclua dados quantitativos e qualitativos, de forma muito


sistematizada e resumida)
Aspetos positivos Aspetos negativos

Atenção seletiva Atenção sustentada e dividida

Disponibilidade para aprender Capacidade de planeamento

Lateralidade definida Raciocínio não verbal

Conhecimento lexical Capacidades viso-espaciais

Pensamento lógico e abstrato Cálculo mental

Velocidade de processamento Memória verbal

Capacidades atencionais e mnésicas Distinção entre detalhes essenciais e não


essenciais

Capacidade de aprendizagem/ entendimento Manipulação fonémica

Raciocínio lógico Erros fonológicos

Capacidade de conceptualização, abstração e Descodificação das palavras


imaginação

Capacidade de compreensão oral (quando lido Reconhecimento visual da forma da palavra


consegue interpretar o que lhe é perguntado)

Capacidade de compreensão do vocabulário Armazenamento e recuperação da informação


transmitido oralmente

Leitura silábica

Diferenciação auditiva

Margarida Paulino
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Discriminação visual dos fonemas

Quadro 2. Registo para reavaliação, monitorização e validação da intervenção (inclua apenas


as funções "a melhorar" extraídas do Quadro 1, sendo o "valor inicial" qualitativo ou
quantitativo, e deixe as duas últimas colunas por preencher)
A melhorar Valor inicial Reavaliação a ..../..../.... Reavaliação a ..../..../....

Atenção sustentada e 1
dividida 3

Capacidade de 1
planeamento

Raciocínio não verbal 1

Capacidades viso- 2
espaciais

Cálculo mental 1

Memória verbal 1

Distinção entre 1
detalhes essenciais e
não essenciais

Manipulação fonémica 2

Erros fonológicos 2

Descodificação das 2
palavras

Reconhecimento visual 2
da forma da palavra

Armazenamento e 2
recuperação da
informação

Leitura silábica 2

Diferenciação auditiva 2

Discriminação visual 2
dos fonemas

*1 = moderado

2 = grave
Margarida Paulino
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III. Intervenção

Face ao exposto, refere-se no relatório técnico que a “Ana” deverá usufruir de estratégias que
privilegiem:

Áreas a Trabalhar Exemplo de Atividades

Atenção sustentada e dividida Atenção sustentada: Jogo das diferenças;


sopa de letras; Jogos de sequências (simples,
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mas com tempo definido para a sua
conclusão).

Atenção dividida: pintar uma imagem


seguindo um código de cores; decifrar uma
mensagem escrita segundo um código
alfanumérico.

Capacidade de planeamento Labirintos.

Raciocínio não verbal Ordenar sequencialmente pequenas


histórias.

Capacidades visuo-espaciais Puzzles; copiar segundo um modelo um


desenho; segundo um modelo identificar
numa sequência de modelos semelhantes o
ou os modelos iguais.

Cálculo mental Jogos do Stop (da matemática) – um dos


jogadores diz um nº de 1 a 100, por ex.; as
colunas seguintes para preenchimento são,
por ex., -10, +20, o dobro, -35, o triplo, a
quarta parte, etc.

Memória verbal e auditiva Dizer uma série de números/ nomes/


espécies de animais/ etc e pedir para repetir
pela ordem ouvida.

Distinção entre detalhes essenciais e não Partindo de um texto fazer um resumo do


essenciais mesmo, destacando o essencial da história do
não essencial; pode fazer-se oralmente e/ ou
por escrito – resumos.

Manipulação fonémica/ consciência Brincar com as palavras: atividades de


fonológica segmentação, omissão e substituição de
fonemas, incindindo naqueles em que erra
com maior frequência: ex: soletra toca; retira
a 1ª silaba da palavra pato e junta outra para
formar nova palavra; troca as silabas da
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palavra cama.

Erros fonológicos Promover os ditados, a deteção de palavras-


chave e a produção de pequenos textos.

Descodificação das palavras Jogo de identificação de palavras: Faz-se 2


conjuntos de cartões; cada um com 10, por.;
no primeiro conjunto escrevem-se palavras
fáceis de se representar visualmente — como
casa, cão, carro e flor — e, no segundo,
desenham-se ou colam-se imagens que
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representem as palavras escolhidas. Depois,
pede-se ao aluno que combine o termo com
a imagem correspondente.

Reconhecimento visual da forma da palavra Construção de um «dicionário visual» com as


palavras, principalmente as irregulares.

Armazenamento e recuperação da Interpretação de textos.


informação

Leitura silábica Organizar silabas para formar palavras/


frases.

Diferenciação auditiva Loto dos sons.

Discriminação visual dos fonemas Ligar imagens a sons; identificar, segundo um


exemplo, se trata de um som forte ou fraco.

Leitura Treino do tempo de leitura recorrendo


primeiro à leitura silenciosa e só depois à
leitura em voz alta.

Compreensão da linguagem escrita Recorrer à clarificação (clarificar as palavras


mais difíceis); ao questionamento (colocação
de questões pertinentes sobre o texto); à
síntese (frases-chave que esclarecem o
sentido do texto); à previsão (continuação do
texto, explorando várias alternativas).

Treino da expressão oral Recorrer ao reconto, síntese dos textos.

Sugere-se ainda as seguintes estratégias em contexto de sala de aula:

▪ Colocação da aluna num lugar central, na 1ª fila, para facilitar a atenção e a


concentração, o esclarecimento de dúvidas, o acompanhamento na realização das
tarefas;
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▪ Antecipação de conteúdos para facilitar a aprendizagem por repetição e reequilibrar o


seu ritmo de aprendizagem;

▪ Repetição das instruções verbalmente e solicitar-se o feedback verbal;

▪ Redução de estímulos visuais presente nos materiais de trabalho de modo a conseguir


focar a atenção com maior facilidade;

▪ Adequação, da formulação das questões, recorrendo a técnicas de realce – sublinhado,


por exemplo – para que a aluna focasse a sua atenção nos aspetos mais relevantes; 6

▪ Orientação na leitura de textos e de enunciados, com repetição da leitura em voz alta,


pela aluna, procurando-se treinar a velocidade leitora e a seleção da informação;

▪ Esclarecimento de dúvidas resultantes da leitura e da escrita de palavras simples e de


enunciados;

▪ Uso de vocabulário adequado à faixa etária;

▪ Incentivo ao esclarecimento de dúvidas e à autoexposição;

▪ Valorização da participação oral;

▪ Por fim, nas fichas de avaliação, as imagens, ilustrações que não sejam importantes
deverão ser suprimidas, minimizando-se dessa forma a confusão visual.

IV. Conclusões:

A aluna evoluiu na aprendizagem da leitura e da escrita, tendo evidenciado melhorias ao nível


da fluência e da precisão da leitura, bem como ao nível da ortografia (menos erros
ortográficos) e da caligrafia (maior rigor).

Realça-se ainda o progresso ao nível do foco atencional e por conseguinte na capacidade de


concentração.

Margarida Paulino

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