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All content following this page was uploaded by Adriana Barbosa Santos on 23 June 2014.
Resumo
O uso dos princípios estatísticos para se estudar variação nos processos de manufatura teve
seu início nas primeiras décadas do século XX. Entretanto, mesmo com os avanços
conseguidos com a utilização de métodos e técnicas estatísticas como estratégia de melhoria
de processos e de solução de problemas em diversas áreas de conhecimento, ainda hoje, o
pensamento estatístico não é tão difundido no âmbito empresarial como um recurso eficiente
que leva a ganhos expressivos de melhoria do desempenho dos negócios. Com o surgimento
da abordagem Seis Sigma, o uso do pensamento estatístico e dos métodos estatísticos passou
a sinalizar oportunidades de ganhos financeiros advindos da melhoria de desempenho
organizacional. O Seis Sigma mudou o cenário competitivo ao resgatar os princípios
estatísticos e ressaltar sua relevância para conseguir incrementos significativos de melhoria
da qualidade, aumentar a produtividade e reduzir custos e, principalmente, diminuir as taxas
de defeitos definidos pelos clientes.
Este artigo traz uma fundamentação teórica e um conjunto de argumentos que mostram
porque o uso do pensamento estatístico é parte preponderante do sucesso do Programa de
Qualidade Seis Sigma.
Palavras chave: Pensamento estatístico, Seis Sigma, Melhoria de desempenho.
1. Introdução
A palavra “Estatística”, ainda hoje, provoca reações de temor em muitas pessoas que atuam
no âmbito empresarial. Essa temeridade criou barreiras que dificultaram a difusão dos
conhecimentos estatísticos nos ambientes de produção. Mais recentemente, com o surgimento
da abordagem Seis Sigma, as barreiras ao uso da filosofia estatística como estratégia para
melhoria de processos e para solução de problemas foram reduzidas.
O uso dos métodos estatísticos em ambientes de manufatura não é recente. Vários fatos
históricos demonstram o sucesso de sua utilização em pesquisa e desenvolvimento
(ISHIKAWA, 1985). Apesar disso, a Estatística vem sendo lembrada quase sempre ao nível
operacional, e sendo pouco utilizada como um recurso efetivo dos níveis gerencial ou
estratégico (BJERKE & HERSLETH, 2001).
Com o surgimento da abordagem Seis Sigma, o uso do pensamento estatístico e dos métodos
estatísticos passou a sinalizar oportunidades de ganhos financeiros advindos da melhoria de
desempenho organizacional. A literatura sobre o Seis Sigma enfatiza com freqüência o uso de
métodos científicos e, especialmente, dos métodos estatísticos (FINN, 1999; DALE et al.,
2000; HAHN et al., 2000; HAN & LEE, 2002; ROTONDARO, 2002). Entretanto, a
implementação do Programa de Qualidade Seis Sigma (PQSS) requer a aplicação, sobretudo,
do pensamento estatístico. Segundo Britz et al. (2000), o pensamento estatístico compreende
teoria e metodologia que auxiliam a identificar onde a melhoria é necessária, garantindo que
essa melhoria possa ocorrer em todos os processos. Assim, o pensamento estatístico é parte de
uma filosofia congruente aos objetivos de crescimento e melhoria do desempenho
organizacional, uma vez que seu uso cria oportunidades reais de mudança e aprendizagem. E
mais, em relação ao Seis Sigma, essa filosofia é o diferencial da conduta dos profissionais
engajados na elaboração de projetos que produzem ganhos financeiros tangíveis para a
organização.
Este artigo traz uma fundamentação teórica e um conjunto de argumentos que mostram
porque o uso do pensamento estatístico é parte preponderante do sucesso da implementação
do PQSS. Para expor o assunto, o texto está organizado da seguinte maneira: A seção 2
apresenta os elementos chave para compreender o que é o pensamento estatístico e fornece
subsídios para compreender como a organização pode tirar vantagens por aplicá-lo, tanto em
processos de manufatura, como em operações de serviços. Na seção seguinte, serão
apresentados aspectos gerais sobre o Seis Sigma, incluindo uma proposição de definição para
o Seis Sigma. A influência do pensamento estatístico na implementação do PQSS consta do
conteúdo abordado na seção 4. Finalmente, na última seção são feitas algumas considerações
com o intuito de salientar pontos que evidenciam a contribuição desse trabalho.
2. Pensamento estatístico
Os primeiros trabalhos que aplicaram o pensamento estatístico datam do início do século
XIX. Foi em torno de 1900 que o entendimento do pensamento estatístico começou a
influenciar o desenvolvimento do pensamento moderno. Já nesta época, a variação era o
principal fator estimulante dos estudos da estatística matemática moderna (PORTER, 1986).
A aplicação do pensamento estatístico para melhor compreender as variações nos processos
de manufatura foi introduzida por W. A. Shewhart no início do século XX. Shewhart foi um
dos precursores no uso das teorias de probabilidade e estatística no âmbito das aplicações
industriais. Nos anos 1950, W. E. Deming motivou o uso da estatística como um meio para
tentar mudar o desempenho dos processos.
A literatura traz algumas definições de pensamento estatístico mais focadas para seu uso nos
ambientes empresarias. Snee (1990, p.118) define pensamento estatístico como “... processo
de raciocínio que reconhece que variação está em tudo ao nosso redor e presente em tudo que
fazemos, que todo trabalho é uma série de processos interligados; e que identificar,
caracterizar, quantificar, controlar e reduzir variação fornece oportunidades de melhoria”. A
Quality Press (1996) apresenta em seu glossário de termos que o pensamento estatístico é uma
filosofia de aprendizagem e ação, e traz como princípios: (a) todo trabalho ocorre num
sistema de processos interligados; (b) variação existe em todos os processos; e (c) entender e
reduzir variação é a chave para o sucesso. Moore (1990), citado por Chance (2002),
propuseram alguns elementos centrais do pensamento estatístico. São eles: a onipresença da
variação; a necessidade de dados sobre processos; o planejamento de coleta de dados com a
variação em mente; a quantificação da variação; e a explicação da variação.
Como se pode ver, as definições apresentadas acima trazem a variação como um conceito
primordial para compor o pensamento estatístico. Muitas vezes variação e variabilidade são
termos usados com certa equivalência. Entretanto, essa intercambiamento conceitual nem
sempre é aplicado de forma apropriada. Variabilidade tem um sentido mais amplo, pois
abrange não somente a variação, mas a instabilidade e a falta de exatidão (acurácia). Assim,
ao se adotar variabilidade em lugar de variação em cada uma das definições consegue-se criar
um sentido mais abrangente para o pensamento estatístico.
A respeito da variabilidade, há de se considerar que ela estará sempre presente, entre
produtos, pessoas, serviços, processos, natureza, etc. O importante é tentar descobrir: O que a
variabilidade indica sobre os processos? Quais são as fontes de variação? Qual o
entendimento que se tem dos conceitos de probabilidade e estatística para se entender, estudar
Sem dados: todos acham que sabem o que está acontecendo; não há histórico; há maior
dificuldade em se justificar as ocorrências de falhas e de sucesso; não há análise estatística; e
a melhoria não acontece;
Sem métodos estatísticos: não há evidência e sim impressões; a redução da variabilidade é
uma dificuldade real e desestimulante; os diagnósticos acerca da estabilidade dos processos
são prejudicados, pois, os resultados são pouco consistentes; a melhoria é lenta; e a
argumentação gerencial e operacional é fraca.
Pensamento estatístico
Métodos Estatísticos
3. Seis Sigma
No início dos anos 1990, quando foram publicados os primeiros artigos sobre o Seis Sigma,
os autores demonstraram entender que o Seis Sigma era uma abordagem técnica, onde a
medição, uso da estatística e a meta de quase perfeição constituíam os pontos fortes da
abordagem (MITCHELL, 1992; TADIKAMALLA, 1994; BEHARA et al., 1995). Mas, com
o passar do tempo, novas visões foram sendo introduzidas e o Seis Sigma passou a constituir
um modo eficiente e eficaz das organizações conseguirem elevar seu desempenho. Para
compreender a abrangência do Seis Sigma recomenda-se a leitura dos textos de Harry &
Schroeder (2000), Eckes (2001), Perez-Wilson (1999), Pande et al. (2001) e Rotondaro
(2002).
Apesar da grande repercussão que o Seis Sigma gerou desde o seu surgimento ainda no final
dos anos 1980, pouco se tem feito no sentido de se identificar e incorporar novas teorias para
se estudar o tema. Na última década, grandes companhias no mundo inteiro adotaram o
PQSS. Entre elas aparecem Motorola, General Eletric (GE), Allied Signal, 3M, IBM, Dow
Chemical, American Express, DuPont, Toshiba, Eaton, Johnson & Johnson (SCHROEDER et
al., 2002).
As publicações acadêmicas recentes sugerem indicadores interessantes para identificar
elementos chave e diretrizes que definem o Seis Sigma. Uma tendência notória é a inserção
do Seis Sigma em assuntos ligados à gestão estratégica dos negócios. Coronado & Antony
(2002) definem o Seis Sigma como “uma estratégia para melhoria de negócios usada para
aumentar a lucratividade do negócio, eliminar refugo, reduzir custoda não qualidadee
melhorar a eficiência e eficácia de todas as operações ...”. Schroeder, et al. (2002) chegaram a
uma definição após reunir descrições de técnicos e administradores envolvidos com o PQSS,
a saber: “ Seis sigma é uma coleção de ferramentas estatísticas, um processo para melhoria,
uma linguagem comum e uma filosofia de negócio que se difunde na companhia inteira”. Para
Linderman et al. (2003), o Seis Sigma “...é um método sistemático e organizado para
melhoria estratégica de negócio, desenvolvimento de novos produtos e desenvolvimento de
serviços...”.
A literatura não tem demonstrado uma congruência tão evidente no sentido de formalizar
melhor a definição do Seis Sigma, talvez em sinal do aumento do escopo do Seis Sigma que
cresceu juntamente com o número de organizações que passaram a adotar o PQSS. Assim,
após analisar vários trabalhos publicados desde o início dos anos 1990, foi possível identificar
alguns elementos chave que levaram a proposição da seguinte definição:
Seis Sigma é uma abordagem que impulsiona a melhoria do desempenho do
negócio, baseando-se na aplicação do pensamento estatístico em todos os níveis
de atividades; no enfoque estratégico de gerenciamento; na valorização da
satisfação dos clientes; na utilização de uma metodologia sistematizada que
integre técnicas variadas para se avaliar e otimizar processos; na capacitação e
na mudança de cultura proveniente da aprendizagem.
Esta definição aponta temas essenciais que definem o arcabouço do Seis Sigma e que
contribuem para enxergar que o PQSS possui propriedades dos programas estratégicos e
também dos programas operacionais.
Note que, os itens acima apontam, conjuntamente, ações em processos estratégicos, gerenciais
e operacionais.
Em cada um dos níveis de atividades (estratégico, gerencial e operacional) o pensamento
estatístico pode ser aplicado com características um tanto quanto distintas. O nível estratégico
tende a fazer um uso mais conceitual das idéias subjacentes do pensamento estatístico; o nível
gerencial cuidará da utilização do pensamento estatístico na implementação e gerenciamento
dos meios que possibilitam alcançar os objetivos estratégicos, principalmente para que as
atividades do nível operacional estejam em harmonia com a orientação estratégica.
Uma vez que o pensamento estatístico se torna um conceito disseminado em todos os níveis
de atividades, o aumento da qualidade vem como conseqüência de ações com consistência de
propósito e associadas a uma mudança de cultura organizacional. Essa mudança de cultura
pode proporcionar uma diminuição da resistência à utilização dos métodos estatísticos
imprescindíveis para compor uma metodologia sistematizada que leve a melhorar todos os
processos, eliminando defeitos, erros e falhas e otimizando os processos e suas saídas. No
PQSS as metodologias descritas pelas siglas DMAIC e DFSS têm tais características e são
utilizadas de forma sistemática para implementar os Projetos Seis Sigma, os quais são
implementados com o intuito de que sejam catalisadores da elevação do desempenho.
5. Considerações Finais
Este artigo contribuiu para mostrar que, na verdade, implementar métodos estatísticos em
diferentes produtos, processos, setores ou objetos pode não ser a preocupação mais relevante
para promover a mudança e aprendizagem que se espera alcançar com a implementação do
PQSS. As pessoas e seus níveis de aceitação e de compreensão dos princípios que norteiam o
pensamento estatístico podem ser uma das maiores barreiras para o insucesso do PQSS.
O sucesso do PQSS depende, sobretudo, da implementação dos Projetos Seis Sigma, mas,
para a efetividade deste propósito, é preciso que as pessoas estejam conscientes das metas de
longo prazo; de como as ações individuais contribuem para a realização dos objetivos
estratégicos; de haver uma direção comum; e, sobretudo, de se dispor de uma gramática de
comunicação que facilite o alinhamento estratégico. O uso do pensamento estatístico pode
garantir a existência dessa gramática comum que deve ser compartilhada por todos para que o
PQSS aja diretamente na base do sucesso nos negócios, isto é, na qualidade, na produtividade
e na redução de custo.
Considerando que, a competição no ambiente dos negócios é um fato; que para se manterem
competitivas, sobreviverem e progredirem as organizações precisam melhorar seu
desempenho; que a competição estimula a melhoria; que a taxa de melhoria determina os
ganhadores e os perdedores; que o pensamento estatístico ajuda a encontrar oportunidades de
melhoria; que o pensamento estatístico age em sinergia com os métodos estatísticos para
alcançar a melhoria; que a melhoria do desempenho é o objetivo central do PQSS, então, os
fundamentos e argumentos apresentados neste trabalho dão indicativos substanciais para
esclarecer que o sucesso do PQSS está fortemente associado à utilização dos princípios que
regem a filosofia do pensamento estatístico.
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