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2019
Sumário
Apresentação..................................................................................... 7
PARTE I
História em jornais: escritos sobre o tempo, intelectuais e política
PARTE II
História e Política em Memórias e (Auto)biografias
PARTE III
Os sentidos da literatura: história, política e cultura nas obras de ficção
7
DOS FIOS ÀS TRAMAS
TECENDO HISTÓRIAS, MEMÓRIAS, BIOGRAFIAS E FICÇÃO
8
APRESENTAÇÃO
9
DOS FIOS ÀS TRAMAS
TECENDO HISTÓRIAS, MEMÓRIAS, BIOGRAFIAS E FICÇÃO
10
APRESENTAÇÃO
11
PARTE I
A Política em jornais: escritos sobre
o tempo, intelectuais e política
Proust, Bergson e Halbwachs:
diálogos sobre (com) o tempo
15
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
16
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
1
PROUST, Marcel. O tempo tedescoberto. 10. ed., São Paulo: Globo, 1992. (Coleção
Em Busca do Tempo perdido. Vol. VII). p. 11. (Grifo nosso).
2
BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaios sobre a relação do corpo com o
espírito. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 175.
3
PROUST, Marcel. op. cit. p. 20-26.
4
Idem. p. 27-27.
17
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
5
Idem. p. 32.
6
Idem. p. 35.
7
Idem. Ibdem.
18
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
Idem. p. 64.
9
19
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
10
DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 1999. p. 7-26.
11
BERGSON, Henri. Duração e simultaneidade: a propósito da teoria de Einstein. São
Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 57-58.
20
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
12
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. p. 87.
13
Idem. p. 88.
14
BERGSON, Henri. Matéria e memória... p. 171.
21
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
15
PROUST, Marcel. op. cit. p. 70-71.
16
Idem. p. 100.
17
Idem. p. 129.
22
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
18
PROUST, Marcel. op. cit. p. 130.
19
Idem. p. 132.
20
Idem. p. 139-141.
23
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
21
PROUST, Marcel. op. cit. p. 142.
22
Idem. Ibidem.
23
Idem. Ibidem.
24
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
24
BERGSON, Henri. Duração e simultaneidade... p. 53-54.
25
PROUST, Marcel. op. cit. p. 148.
26
Idem. p. 149.
25
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
27
PROUST, Marcel. op. cit. p. 149.
28
Idem. p. 150.
29
Idem. p. 151.
30
BERGSON, Henri. Duração e simultaneidade... p. 57-59.
26
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
31
PROUST, Marcel. op. cit. p. 151-152.
32
DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
33
Idem. p. 152.
34
PROUST, Marcel. op. cit. p. 152-153.
27
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
35
Idem. p. 153.
36
PROUST, Marcel. op. cit. p. 153.
37
BERGSON, Henri. Duração e simultaneidade... p. 58.
28
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obra de Proust, Bergson e Halbwachs levantou problemas fun-
damentais, que incomodavam e que provocaram os historiadores a res-
ponderem às objeções e às reduções que colocavam em suas concepções
de história. Em geral, todos estes autores mostravam uma desconfiança,
quiçá uma descrença e relegavam a história a uma posição menor dentro
das humanidades e das artes em geral.
Esta concepção, no entanto, que estava em vias de construção era
muito próxima daquela que os pioneiros dos Annales estavam forjando.
É fundamental perceber que o processo de renovação da história se deu
pari passu com uma crise geral das ciências humanas e sociais e que
os debates, os questionamentos e o levantamento de novas questões
proporcionou um momento de riqueza intelectual que gerou alguns
dos paradigmas que foram fundamentais para o pensamento científico
a partir de então.
Proust, especificamente, construiu toda sua obra a partir das questões
ligadas ao tempo. Em que medida esta sua preocupação com a tempora-
lidade pode ser frutífera para pensarmos uma concepção do tempo para
a teoria da história? Indagação esta, já presente no título do presente
trabalho, que lançou o novelo para a tessitura desta narrativa. Pois bem, a
partir deste autor francês, não se pode mais negligenciar o caráter subjetivo
e mesmo afetivo das temporalidades. A concepção temporal, neste caso,
está decididamente, construída para além de uma perspectiva que leve
em conta apenas seu caráter mensurável, racionalizável e de exterioridade,
em uma palavra, convencionado, portanto, artificial.
Um tempo que é concebido em sua multiplicidade, em suas diferen-
tes texturas e camadas, que busca dar conta das diferentes experiências
pessoais e sociais, que não podem ser encerradas em uma perspectiva
temporal que uniformiza e despersonaliza através da sucessão de períodos
que não podem se repetir.
29
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
30
Proust, Bergson e Halbwachs: diálogos sobre (com) o tempo
REFERÊNCIAS
BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o
espírito. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1999.
31
Carlos Nássaro Araújo da Paixão
PROUST, Marcel. O tempo redescoberto. 10. ed., São Paulo: Globo, 1992.
(Coleção Em busca do Tempo Perdido, . V. 7)
32
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção
feminina na política partidária
lização do Brasil. In: MEDICCI, Ana Paula. Veredas da História Política. Ana Paula
Medicci, Maria José Repassi Mascarenhas, Marcelo Pereira Lima (Orgs.). Salvador:
UFBA, 2017, p. 162-183.
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Eliana Evangelista Batista
2
Os historiadores divergem quanto a esta assertiva. Para Jairo Nicolau, as mudanças
fundamentais trazidas pelo Código Eleitoral foram o voto feminino e a obrigatorie-
dade do voto. Cristina Buarque de Holanda acrescenta a conquista do voto secreto
e a inclusão do magistrado nos processo de alistamento, voto e apuração, lembrando
ainda da representação proporcional como principal desdobramento da arquitetura
eleitoral do liberalismo no século XIX. Consuelo Sampaio, em análise da aplicação do
Código Eleitoral nas primeiras eleições dos anos trinta, afirma que a justiça eleitoral
foi a maior inovação do período, mas os decretos que lhe sucederam, ao menos no que
diz respeito à Bahia, constituíram-se num retorno ao passado. Ver: NICOLAU. Jairo
Marconi. Eleições no Brasil: do Império aos dias atuais. Rio de Janeiro. Zahar, 2012;
HOLLANDA, Cristina Buarque de. Modos de representação política: o experimento
da primeira República Brasileira. Belo Horizonte: Editora UFMG, Rio de Janeiro:
IUPERJ, 2009; SAMPAIO, Consuelo Novais. Poder e representação: o legislativo na
Bahia na segunda república, 1930-1937. Salvador: Assembleia Legislativa. Assessoria
de Comunicação Social, 1992.
3
Para a autora, a contribuição de Assis Brasil ao Código Eleitoral de 1932 foi uma
versão de sua obra Democracia representativa: do voto e do modo de votar (1893)
que basicamente orientou toda a atuação parlamentar de cunho liberal do jurista.
A defesa do sufrágio universal, do proporcionalismo do voto e de outros temas da
política liberal do século XIX, completa a autora, ilumina, mas não esgota o perfil
político do jurista, que na sua concepção se explica muito mais em termos de modelo
34
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
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Eliana Evangelista Batista
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As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
6
A Liga de Ação Social e Política foi criada nos meses finais de 1932. Reunia a oposição
ao governo de Juraci Magalhães na Bahia. Em sua maioria era formada por membros
remanescentes do Partido Republicano da Bahia – PRB deposto em outubro de 1930,
mas, ainda no início de 1933, recebeu o apoio de J.J. Seabra, que lhe deu impulso
para concorrer às primeiras eleições daquela década.
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Eliana Evangelista Batista
7
O PSD, Partido Social Democrático, era o Partido da Situação. Fundado em janeiro
de 1933, ele reunia, além do primeiro escalão do governo provisório, um significativo
número de coronéis e produtores do interior do estado. A organização desse partido,
cabe destacar, se iniciou no interior da Bahia, sendo o primeiro a apresentar esta
característica no estado.
8
BPEB. PIERRE. Robes. Duas válvulas. Jornal A Ordem, Cachoeira, BA, 22 de abril
de 1933.
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As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
9
BPEB. Mobilização eleitoral. Jornal A Ordem, Cachoeira/BA, 11 de fevereiro de
1933.
10
Na edição de 11 de fevereiro de 1933, o Correio de Távora, da cidade de Alagoinhas,
publicou a seguinte nota: “Prefeitura de Alagoinhas convoca eleitores que queiram
adquirir a fotografia para alistamento sem custos a se dirigirem a Prefeitura para
pegar a senha que daria acesso a foto no ateliê indicado”. BPEB. Correio de Távora,
Alagoinhas/BA, 11 de fevereiro de 1933.
11
O Popular, Alagoinhas/BA, 4 de março de 1933.
12
Ato de nº 106, de 14 de abril de 1933; Serviço para alistamento eleitoral. Jornal
Oficial, Canavieiras/BA, 29 de abril de 1933.
39
Eliana Evangelista Batista
13
Jornal Oficial, Itabuna/BA, 6 de maio de 1933.
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As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
14
BPEB. Pela força das circunstâncias. Jornal O Município. Santo Amaro/BA. 2 de
fevereiro de 1933.
15
Idem.
41
Eliana Evangelista Batista
16
Segundo Martinho Guedes dos Santos Neto, a vitória de Vargas sobre São Paulo teve
um papel determinante a favor do seu governo, pois deixou São Paulo isolado e sem
força política, saindo o seu projeto nacionalista vencedor da guerra e do discurso.
SANTOS NETO. A desterritorialidade do poder simbólico e a construção do dis-
curso factual de poder de Getúlio Vargas pós-1930. In: História Política: interfaces
e diálogos. Altemar da Costa Muniz; Luis Carlos dos Passos Martins (Orgs.). Porto
Alegre: EDIPUCRS; Ceará: EDUECE 2016. p. 289.
42
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
17
JM ig Municípios Juazeiro II. Arquivo Juracy Magalhães. CPDOC, FGV; JM cig
Municípios Ilhéus III. Arquivo Juracy Magalhães. CPDOC, FGV; carta de 16 de
fevereiro de 1933. Apud. ARAÚJO, Ana Luiza Caribe de. De forasteiro à unanimidade:
a interventoria de Juraci Magalhães na Bahia (1931-1943). Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. CPDOC, 2010,
p. 103-104.
18
CPDOC-FGV. CMa.def1 c 1933.04.20.
19
Carta de Euvaldo Pinho a Otávio Mangabeira. In: Octávio Mangabeira. Cartas do
exílio (1930-1934). Org.: Consuelo Novais Sampaio. Salvador: Fundação Pedro
Calmon, 2012. v. 2, p. 131.
43
Eliana Evangelista Batista
20
Isso porque a demissão de funcionários públicos estava na pauta dos revolucionários
e no ano de 1931 várias demissões foram realizadas na Bahia com vistas a reduzir
as despesas para o erário público. Moniz Sodré e J.J. Seabra colocaram-se a favor
do funcionalismo o que, em parte, explica o apoio recebido por eles no período de
eleições. Registre-se também que juízes e professores do interior do estado ficaram
com salários atrasados por quase todo o primeiro ano da vitória revolucionária.
21
CPDOC. FGV. Abílio Wolney . JM cig Municípios Barreiras III. Arquivo Juracy
Magalhães. CPDOC, FGV. Apud. PINHO, op. cit. p. 104.
44
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
22
CPDOC-FGV. CMa.def1 c 1933.04.20. Carta do prefeito de Barreiras a Clemente
Mariani, 8 de julho de 1933. Consuelo Sampaio analisa o papel dos juízes e dos
coletores nos diferentes municípios baiano durante a eleição do período e conclui que
em geral, os juízes demonstravam intenção de exercer suas funções com imparciali-
dade, mas não raro esse desejo colidia com os planos e a maneira de agir de chefes
políticos locais. Ver: Consuelo Sampaio. Poder e Representação... op. cit. p. 138.
23
SAMPAIO. Consuelo Novais. Poder e representação: o Legislativo da Bahia na Segunda
45
Eliana Evangelista Batista
46
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
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Eliana Evangelista Batista
27
BPEB. PIERRE. Robes. Questão palpitante. A Ordem, Cachoeira/BA, 18 de feve-
reiro de 1933. Semelhando argumento de dissolução da família foi utilizado pelos
48
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
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Eliana Evangelista Batista
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SOUZA, Maria Feijó de. Recordando eleições passadas. Alecrim do tabuleiro. Rio de
Janeiro: Editora Max, 1972. Sobre a atuação das mulheres de Alagoinhas na política
do período ver: BATISTA. Eliana Evangelista. A normalista como interseção: escola,
literatura, imprensa e estratégias políticas no Estado Novo (Alagoinhas, 1937/1945).
Dissertação de Mestrado. PPGHIS-UNEB – Campus V. 2012; BATISTA, Eliana
Evangelista. Atuação feminina na UDN e a oposição ao governo Vargas em Alagoi-
nhas, Bahia. In: ____. Alagoinhas: histórias e historiografia / Eliana Evangelista Batista.
(Org.) – Alagoinhas (BA): Quarteto / FIGAM, 2015.
30
Jornal Oficial, Canavieiras, BA, 21 de janeiro de 1933. A primeira mulher a ser
efetivamente indicada para candidata por um partido no estado da Bahia foi Bertha
Luz que constou na lista de candidatos divulgada pela LASP. Ela declinou da indica-
ção. No interior da FBPPF, Lili Tosta propôs, segundo Claudia Andrade, o nome de
Maria Luiza Bittencourt, mas a sua candidatura não chegou a ser efetivada. Tendo em
vista a indicação do nome de Edith Gama e Abreu, presidente da Federação Baiana
Pelo Progresso Feminino, para concorrer a uma vaga na Assembleia Constituinte
pela LASP, os membros da referida Associação optaram pelo apoio à chapa A Bahia
ainda é a Bahia, em reunião realizada em 26 de abril de 1933.
50
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
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BATISTA. Eliana Evangelista. A normalista como interseção: escola, literatura, im-
prensa e estratégias políticas no Estado Novo (Alagoinhas, 1937/1945). Dissertação de
Mestrado. PPGHIS-UNEB – Campus V. 2012.
32
Jornal Folha do Norte, Feira de Santana/BA, 6 de maio de 1933.
51
Eliana Evangelista Batista
33
Diário de Notícias, Salvador/BA, 4 de maio de 1933.
34
As mulheres e a política. A Tarde, 22 de abril de 1933.
35
As caravanas constitucionalistas, como foram divulgadas, começaram a percorrer
o interior a partir de 28 de setembro de 1934, data em que também se iniciaria
a campanha pelo rádio. As caravanas foram chefiadas por Altamirando Requião,
Alfredo Mascarenhas, Manoel Novaes e Juraci Magalhães. Diário de Notícias, 26 de
setembro de 1934.
52
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
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Maria Luiza Bittencourt nasceu em Paripe, subúrbio de Salvador e diplomou-se em
direito pela Faculdade do Rio de Janeiro. Aos vinte anos ingressou na Federação
Brasileira pelo Progresso Feminino onde manteve contato com Bertha Lutz. Foi
uma das fundadoras da Associação Brasileira de Mulheres Universitárias. Quando
regressou à Bahia, Maria Luiza incorporou-se ao movimento feminista local e foi eleita
a primeira deputada baiana pelo Partido Social Democrático. Participou ativamente
da “Comissão dos Nove” que redigiu a carta constitucional da Bahia e foi a última
parlamentar a se pronunciar na Assembleia antes do golpe de 1937. Ver: COSTA,
Ana Alice Alcântara. As donas do poder. Mulher e política na Bahia. Salvador: NEIM/
UFBA – Assembleia Legislativa da Bahia. 1998. p. 98.
37
A Concentração Autonomista foi uma agremiação partidária fundada em 1934 que
reuniu na Bahia toda a oposição ao governo de Juraci Magalhães. Com o lema “de-
volver a Bahia a posse de si mesma”, a agremiação era formada por antigos membros
do Partido Republicano, membros do Partido Democrático, integrantes da LASP,
Partido Liberal de Cachoeira, representante da Associação Comercial da Bahia e
demais ajuntamentos que pretendiam retirar do governo do estado o cearense Juraci
Magalhães que estava à frente do governo da Bahia desde setembro de 1931.
53
Eliana Evangelista Batista
38
CPDOC/FGV. Arquivo Particular de Juraci Magalhães. Carta de Áurea Cravo,
Alagoinhas, 21 de março de 1934.
39
CPDOC/FGV. Arquivo Particular de Juraci Magalhães. Carta de Áurea Cravo,
Alagoinhas, 20 de abril de 1934.
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CPDOC/FGV. Arquivo Particular de Juraci Magalhães. Carta de Áurea Cravo,
Alagoinhas, 11 de agosto de 1934. O descontentamento de um grupo de eleitores
teria ocorrido porque, a pedido de Áurea Cravo, Oscar Rabelo deveria ser incluído
na chapa como candidato a deputado estadual, o que não se verificou. O grupo que
lançou a candidatura, num almoço que contava com mais de 30 pessoas pediu a
Áurea Cravo que intermediasse a indicação, solicitando ao interventor para intervir
no caso. Áurea Cravo se desincumbiu da tarefa em carta datada de 4 de agosto de
1934, mas seu pedido não foi atendido.
41
O jornal A Tarde investiu numa campanha contra o prefeito Mário Cravo acusando-o
de simular falência de empresa Cravo & Cia para tirar vantagens. O objetivo era
claramente atingir o interventor no município, considerado maior reduto eleitoral
de Otávio Mangabeira. Em resposta, Mário Cravo encaminhou alguns artigos ao
Diário de Notícias, mas não conseguiu garantir a vitória para o PSD em Alagoinhas,
55
Eliana Evangelista Batista
com exceção da sede. Em seu livro de memórias, Mário Cravo afirmou: “eu, de mim
apoiava-me na figura extraordinária de minha querida mãe Áurea Ribeiro Cravo, já
falecida, a qual chegou a efetuar o alistamento de mais de duas mil eleitoras.” Ver:
CPDOC/FGV. Arquivo Particular de Juraci Magalhães. Carta de Áurea Cravo,
Alagoinhas, 21 de março de 1934; CRAVO, Mário. Memórias de um homem de boa
fé, p. 61.
42
Foram elas: Maria Caroline de Souza, Adalgiza Bião Lima, Leonídia Argelo Dórea,
Cecília Pereira, Alves Eponímia Bastos, Izabel Paranhos Leal Costa, Maria Magdalena
Paranhos de Azevedo, Júlia Feijó de Souza, Maria Ribeiro Sacramento, Theresinha
Santos Silva, Atella Agrippino Seixas, Letícia Bastos, Floricea Vianna, Gildeth Castro,
Zuleika Carvalho, Arlinda Leal Dantas, professora Gecenita Carvalho, Zami Brito,
Carmosina Marques Pereira, Totinha Goes e Professora Risoleta Carvalho. Ver:
BATISTA, Eliana Evangelista. A “Revolução de 30” no interior da Bahia: da queda
da última barreira legalista à formação dos primeiros partidos políticos (Alagoinhas,
1930-1934). Anais do XXVIII Simpósio Nacional de História. Lugares dos historiadores:
velhos e novos desafios, 27 a 31 de julho de 2015, Florianópolis, Santa Catarina,
2015.
43
O Pleito na Bahia. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 20 de outubro de 1934. Ver
também: A campanha autonomista. A Tarde, Salvador, 10 de outubro de 1934.
Segundo essa matéria, os eleitores acompanharam o comício com tochas e velas.
56
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
57
Eliana Evangelista Batista
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo diante desse quadro de participação feminina nas eleições de
1933 e 1934 não é possível afirmar que o número de mulheres cresceu
em relação aos quadros eletivos na Bahia. Até os dias recentes, confor-
me observou Ana Alice Alcântara Costa, há uma aparente disparidade
entre o número de mulheres eleitoras e postulantes a cargos eletivos no
legislativo e no executivo. 45
Segundo a autora, essa disparidade acontece porque a mudança de
leis não é suficiente para promover uma mudança nos comportamentos
e na estrutura social. Para Ana Alice Costa, “mesmo após o sufrágio
universal as mulheres permaneceram submetidas à estrutura patriarcal
da sociedade”. A cidadania conquistada por elas estava subordinada a
uma imagem masculina e para adaptar-se às novidades eram necessárias
“mudanças mais profundas na realidade cotidiana”.46
Sob esta ótica é possível pensar que a atuação dessas primeiras mulheres
obedecia à estrutura dominante do aparelho de Estado e os “condiciona-
58
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
47
Idem. Ibidem.
48
Idem, p. 88.
49
Idem. Ibidem.
59
Eliana Evangelista Batista
Cada uma contribuiu ao seu modo para a inserção “do elemento femi-
nino” na política partidária. O golpe de Estado em 1937 viria a cessar
momentaneamente essa atuação, mas não a retirou do espaço público.
Conforme sabemos, o Estado Novo impôs uma série de novas tarefas
às mulheres, muitas das quais voltadas para o campo da educação seja
ela formal ou não formal. Essas atividades mantiveram-nas em constante
contato com homens públicos e instâncias de decisões de poder. A partir
de 1945, quando esse regime de governo chegou ao fim, as mulheres,
repetidamente, afluíram às campanhas eleitorais e, mais uma vez, toma-
ram o município como lugar de partida para reivindicar o seu lugar na
política partidária do Brasil.
FONTES
Octávio Mangabeira. Cartas do exílio (1930-1934). Org.: Consuelo Novais
Sampaio. Salvador: Fundação Pedro Calmon, 2012. v.1.
60
As eleições de 1933 e 1934 na Bahia e a inserção feminina na política partidária
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Ana Luiza Caribe de. De forasteiro à unanimidade: a interventoria
de Juraci Magalhães na Bahia (1931-1943). Dissertação de Mestrado.
Programa de Pós – Graduação em História, Política e Bens Culturais.
CPDOC, 2010.
61
Eliana Evangelista Batista
NICOLAU. Jairo Marconi. Eleições no Brasil: do Império aos dias atuais. Rio
de Janeiro: Zahar, 2012.
62
Clodualdo Cardoso:
“O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
CLODUALDO CARDOSO
63
Igor Farias Góes
1
Manuscrito encontrado entre um dos seus jornais durante a pesquisa, autor e ano
desconhecidos.
2
Correio de Pirangi, Pirangi (Ilhéus). 18 de abril de 1925, p. 2.
64
Clodualdo Cardoso: “O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
3
Diário da Tarde, Ilhéus. Agosto de 1945.
4
LINS, Marcelo da Silva. Os vermelhos nas terras do cacau: a presença comunista no sul
da Bahia (1935-1936). Dissertação de Mestrado. PPG em História Social. Salvador:
UFBA, 2007. p. 131.
65
Igor Farias Góes
5
Panfleto do Comitê Popular de Pirangi de Luta contra o Integralismo. Processo 171
do Tribunal de Segurança Nacional. Arquivo Nacional. 1935.
6
CAMPOS, João da Silva. Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3. ed. Ilhéus:
Editus, 2006.
7
LINS, Marcelo da Silva. Os vermelhos nas terras do cacau. p. 135.
8
NAVARRO, Z. Movimentos Sociais em áreas rurais do Sudeste da Bahia: lutas sindi-
66
Clodualdo Cardoso: “O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
cais do período 1955/1964. In: José Vicente Tavares dos Santos. (Org.). Revoluções
Camponesas na América Latina. São Paulo: ???? 1985. p. 247.
9
SENA JR. Carlos Zacarias de. Os impasses da estratégia: os comunistas, o antifascismo
e a revolução burguesa no Brasil (1936-1948). Tese de Doutorado. PPG em História.
Recife: UFPE, 2007. p. 124.
67
Igor Farias Góes
10
SOUZA, Erahsto Felício. Subalternos nos caminhos da modernidade: marginais, poli-
tização do cotidiano e ameaças à dominação numa sociedade subordinadora do sul
da Bahia (Itabuna – Década de 1950). Dissertação de Mestrado. PPG em História
Social. Salvador: UFBA, 2010; RIBEIRO, Danilo Ornelas. A cidade cinquentenária:
entre os manuseios de memórias e os sonhos de futuro (Itabuna, BA, décadas de
1950 e 1960) Dissertação de Mestrado. PPG em História Social. Salvador: UFBA,
2014.
11
LUCE, F. O domínio da lei na região do cacau: a Justiça do Trabalho e o Estatuto do
Trabalhador Rural. In: GOMES, A. C.; SILVA, F. T. (Org.). A Justiça do Trabalho e
sua história: os direitos dos trabalhadores no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp,
2013. p. 363.
68
Clodualdo Cardoso: “O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
69
Igor Farias Góes
70
Clodualdo Cardoso: “O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
18
O Paladino, Itajuípe. 01 de junho de 1957, p. 5.
71
Igor Farias Góes
ao diretor d’O Paladino por trabalhadores que eram leitores do seu jornal.
Salvaguardada a veracidade das correspondências, elas, colocadas em
análise, oferecem indicativos do perfil desses trabalhadores alcançados
pelo jornal e das condições em que viviam no interior das roças de ca-
cau. Além disso, permite inferir os meios pelos quais acessava ao jornal
e, sobretudo, o entendimento que tinham quanto a função do SEA/
Ilhéus-Itabuna e do posto de fiscalização do ministério do trabalho que
funcionava em Ilhéus.
A campanha do salário mínimo, lançada pelo O Paladino, teve al-
cance regional e chamou a atenção para as irregularidades da questão
salarial, a ponto de mobilizar o fiscal do trabalho destinado a atuar na
região a verificar os fatos, o que levou alguns fazendeiros locais, mesmo
não equiparando ao salário defendido pelo jornal, a aumentar os valores
dos pagamentos.
A mobilização do agente do Ministério do Trabalho alocado em Ilhéus
foi mostrada pelo jornal Diário da Tarde, que noticiou as atividades de
inspeção e a solicitação feita por Sagisfredo Silva na Delegacia do Trabalho
para o envio de auxiliares com o intuito de fiscalizar o descumprimento
do pagamento do salário mínimo no setor rural.19
A adequação salarial, por sua vez, adotada por alguns fazendeiros,
foi demonstrada pelo O Paladino. Numa matéria intitulada “Fazendas
que pagam o salário mínimo”, o jornal apontou o acréscimo no valor.
Talvez a demonstração mais eficaz do grau de intervenção da campanha
salarial, que, mesmo não tendo chegado ao valor de C$63,00 (sessenta
e três cruzeiros), como pretendido pela campanha, fixou-se em C$56,00
(cinquenta e seis cruzeiros), sendo registrada uma elevação em relação
aos números anteriores, que era de C$46,00 (quarenta e seis cruzeiros).20
72
Clodualdo Cardoso: “O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
“NOVA FASE”
Com o fim do ano de 1957, as notícias n’O Paladino referente ao
salário mínimo, condições enfrentadas pelos trabalhadores rurais no
interior das fazendas de cacau ou ao abuso de poder dos fazendeiros que
cobravam um valor exorbitante pela moradia – comumente improvisadas,
algumas embaixo de barcaças de secagem de cacau –, gradativamente
73
Igor Farias Góes
74
Clodualdo Cardoso: “O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A narrativa apresentada neste artigo traz informações sobre as ativi-
dades do PCB em Itajuípe, a sua atuação junto aos trabalhadores rurais,
a trajetória de um dos seus membros, das estratégias e mecanismos de
aproximação dos trabalhadores, e dos resultados alcançados, como os da
campanha salarial lançada através do jornal O Paladino. Perpassa pela
compreensão de que a história de um partido não se reduz às ações da
sua cúpula, mas sim, se estende às suas múltiplas seções, considerando
suas atividades, relações com seus adversários, aliados e com a própria
sociedade no qual o segmento se insere.
Desse modo, consideramos esse registro da militância de Clodual-
do Cardoso e a campanha salarial em favor do pagamento do salário
mínimo, lançada por um dos seus jornais, como parte da trajetória do
Partido Comunista no território itajuipense. Mas, antes de tudo, como
um capítulo do PCB na região cacaueira da Bahia e da sua atuação junto
aos trabalhadores rurais que é, por assim dizer, também parte da história
da cidade de Itajuípe.
FONTES
Correio de Pirangi, Pirangi (Ilhéus). 1925.
75
Igor Farias Góes
REFERÊNCIAS
CAMPOS, João da Silva. Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. 3. ed.,
Ilhéus: Editus, 2006.
76
Clodualdo Cardoso: “O paladino dos trabalhadores” em Itajuípe
77
O Observatório Astronômico Antares:
o relato de uma experiência moderna
79
Lise Marcelino Neto
1
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade:
tradução Carlos Felipe Moisés, Ana Maria L. Loriatti. São Paulo. Companhia das
Letras, 1986. p.15
2
BAHIA, Juarez. Setembro na Feira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.35
80
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
3
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São
Paulo: Editora 34, 2013, p.8.
4
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. p.15, grifo nosso.
81
Lise Marcelino Neto
5
Jornal Feira Hoje, Feira de Santana, 4 set. 1971, p.2.
82
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
6
BAHIA, Juarez. Setembro na Feira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.34.
7
SODRE, Muniz. O bicho que chegou a Feira. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves,
1991.p.147.
8
SALES, Herberto. O Fruto do Vosso Ventre.Rio de Janeiro: Livraria José Olimpio
Editora, 1984. p.16.
83
Lise Marcelino Neto
9
Feira Hoje, Feira de Santana, 31 mar. 1972, p.1.
10
Feira Hoje, Feira de Santana, 29 maio 1971, p.5.
84
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
11
Ibidem p. xi
12
BAHIA, Juarez. Setembro na Feira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.57.
85
Lise Marcelino Neto
13
Ibidem. p.36
14
Ibidem. p. 44
15
SODRE, Muniz. O bicho que chegou a Feira. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves,
1991.p.146.
86
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
16
Ibidem, p. 23.
17
Ibidem, p. 58.
18
Ibidem, p. 74.
87
Lise Marcelino Neto
Ibidem, p.70
19
88
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
20
SALES, Herberto. O Fruto do Vosso Ventre. Rio de Janeiro: Livraria José Olimpio
Editora, 1984, p.7.
21
Ibidem, p.7
22
Jornal Folha do Norte. Feira de Santana, 09 jan. 1971, p.1.
89
Lise Marcelino Neto
23
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade,
p. 22-23.
24
CLEMENTE, José. “A ciência durante a ditadura militar: a criação da pós-graduação
na universidade federal da Bahia e o caso da geofísica (1964-1985). In: ZACHA-
90
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena. “História dentro da História”. In: PINSKY, Carla
Bassanezi (org). Fontes Históricas. 3ªed. São Paulo: Editora Contexto, 2015.
91
Lise Marcelino Neto
92
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
LUCA, Tania Regina de. “História dos, nos e por meio dos periódicos”. In:
PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2015.
93
Lise Marcelino Neto
94
O Observatório Astronômico Antares: o relato de uma experiência moderna
PARTE II
História e Política em Memórias
e (auto)biografias
95
O poder político e a escrita sobre Alagoinhas
nos pós-abolição imediato
97
Aline Najara da Silva Gonçalves*
ração escravista no Novo Mundo, que determinou, tanto a política quanto as possíveis
ações que conduzissem à liberdade do trabalhador escravizado, principalmente por
conta da relação intrínseca entre o poder político das câmaras municipais e o poder
econômico, representado pelos proprietários de terras e escravos. Cf. TOMICH,
Dale W. Pelo prisma da escravidão: trabalho, capital e economia mundial. São Paulo:
EdUSP, 2011.
3
BARREIRA, Américo. Alagoinhas e seu município. Notas e apontamentos para futuro.
Alagoinhas: Typografia do Popular, 1902.
4
Cf.: GONÇALVES, Aline Najara da Silva. Do escravo que negocia ao liberto imper-
feito: breve painel sobre alforrias na Vila de Santo Antônio de Alagoinhas (1872‐74).
In: Anais do XXIX Simpósio Nacional de História – Contra os preconceitos: história e
democracia. UNB, Brasília, 2017. Disponível no site: www.snh2017.anpuh.org/
resources/anais/54/1502673409_ARQUIVO_DOESCRAVOQUENEGOCIAAO-
LIBERTOIMPERFEITO-AlineNajara.pdf
98
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
99
Aline Najara da Silva Gonçalves*
5
Cf.: GONÇALVES, Aline Najara da Silva. UMA CIDADE SEM ESCRAVOS(?): Me-
mória, História e silêncio em Alagoinhas (BA). In: Anais do XXVIII Simpósio Nacional de
História – Lugares dos Historiadores: Velhos e Novos Desafios. UFSC, Florianópolis, 2015.
Disponível no site: http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1439213417_
ARQUIVO_Alagoinhas-umacidadesemescravos-ANPUH2015.pdf
6
Cf. Registros de Leis e Resoluções do Conselho de Alagoinhas, 1898-1902. Livro n° 03.
Arquivo da Câmara Municipal de Alagoinhas.
100
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
7
SCHWARCZ, Lília Moritz. O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão
racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
101
Aline Najara da Silva Gonçalves*
8
Idem, p. 99.
9
Idem, p. 102.
10
Idem, p. 109.
11
BARREIRA, op.cit, p. 9-26.
102
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
12
SCHWARCZ, op. cit., p. 104.
13
BARREIRA, op.cit, p. 103-149.
14
BARREIRA, op.cit, p. 103.
103
Aline Najara da Silva Gonçalves*
15
LEVILLAIN, Philippe. Os protagonistas da biografia. In: René Rémond. Por uma
história política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.p. 145. Disponível no site <https://
docslide.com.br/documents/remond-rene-por-uma-historia-politica.html>
16
BARREIRA, op.cit, p. 149.
17
SCHWARCZ, op. cit., p. 112.
18
SILVA, Aldo José Morais. Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Origem e estratégias
de Consolidação Institucional, 1894-1930. (Tese de Doutorado em História), UFBA,
Salvador, BA. 2006.
104
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
19
SILVA, op. cit. p. 85.
20
BARREIRA, op.cit, p. 152.
105
Aline Najara da Silva Gonçalves*
21
BARREIRA, op. cit., p.49.
22
POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Revista Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, v. 5, n. 10, p. 200-215, jul. 1992. p. 203. Disponível em: <http://bibliote-
cadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/1941/1080>.
23
OLIVEIRA, Marcelo Souza. Xavier Marques entre os intérpretes do Brasil: raça e nação
na Primeira República. Tese (doutorado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade
106
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
107
Aline Najara da Silva Gonçalves*
26
MATTOS, Hebe. Trabalho, voto e guerra civil: algumas considerações interpretativas
sobre pós-abolição e coronelismo. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História
– ANPUH. São Paulo, julho de 2011.
27
POLLAK, Memória e identidade social, p. 204.
28
BARREIRA, op. cit., p. 7.
29
LE GOFF, Jacques. A Nova História. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo:
Martins Fontes, 1990. p. 54.
30
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. História e Memória. 4.ed. Campinas:
Editora da Unicamp, 1996. p. 535.
108
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
31
LE GOFF, Jacques. A Nova História, p.54.
32
POLLAK, Memória e identidade social, p. 206.
33
ALEXANDRE, Maria Lúcia Bezerra da Silva. Um cenáculo de letrados: sociabilidade,
imprensa e intelectuais a partir da Arcádia Iguassuana de Letras (AIL) (Nova Iguaçu, –
1955-1970). Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Programa de Pós-Graduação em História. 2015. 203 f
109
Aline Najara da Silva Gonçalves*
34
Ibidem.
35
BARROS, Salomão. Vultos e Feitos do Município de Alagoinhas. Salvador: Artes Grá-
ficas, 1979.
110
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
36
A julgar pelo sobrenome incomum na região, é possível que Osvaldo Devay de
Sousa seja descendente materno de Pedro José Devay, presidente do Conselho Mu-
nicipal Republicano em 1890 e um dos principais nomes referentes ao movimento
republicano em Alagoinhas. Desse modo, percebe-se a perpetuação do interesse de
membros da elite local na manutenção da memória de exaltação dos “homens bons”
alagoinhenses. Natural de Alagoinhas, Osvaldo Devay era filho de José Hermenegildo
de Sousa. Médico e Bacharel em Direito, era também escritor e “incentivador da boa
111
Aline Najara da Silva Gonçalves*
112
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
38
NORA, Pierre. Entre memória e História: a problemática dos lugares. Projeto His-
tória, São Paulo, n. 10, dez. 1993. P.7-28. Disponível no site http://revistas.pucsp.
br/index.php/revph/article/viewFile/12101/8763.
113
Aline Najara da Silva Gonçalves*
FONTES
BARREIRA, Américo. Alagoinhas e seu município. Notas e apontamentos
para futuro. Alagoinhas: Typografia do Popular, 1902.
REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Aline Najara da Silva. Do escravo que negocia ao liberto
imperfeito: breve painel sobre alforrias na Vila de Santo Antônio de
Alagoinhas (1872‐74). In: Anais do XXIX Simpósio Nacional de História –
Contra os preconceitos: história e democracia. UNB, Brasília, 2017. Disponível
no site: www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1502673409_
ARQUIVO_DOESCRAVOQUENEGOCIAAOLIBERTOIMPERFEITO-
AlineNajara.pdf.
114
O poder político e a escrita sobre Alagoinhasnos pós-abolição imediato
Por uma história política. Rio de Janeiro: FGV, 2003.p. 145. Disponível no
site <https://docslide.com.br/documents/remond-rene-por-uma-historia-
politica.html>
115
Aline Najara da Silva Gonçalves*
116
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho
brasileiro para o socialismo. A trajetória política de
Mário Alves (1923 – 1970)
INTRODUÇÃO
117
Ede Ricardo de Assis Soares
1
CARR, Edward Hallet. Que é história? Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 3ª Edição,
1982. 7ª reimpressão, 1996.
2
MARX, Karl. O Dezoito brumário de Louis Bonaparte. São Paulo: Centauro, 2006.
118
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
3
LORIGA, Sabrina. A biografia como problema. In: REVEL, Jacques (org.) Jogos de
escala: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro, FGV, 1998, p. 225-26.
4
SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo biografias... historiadores e jornalistas: aproxi-
mações e afastamentos. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 10, nº 19, p.5.
119
Ede Ricardo de Assis Soares
5
Falcón, GUSTAVO. Do Reformismo à luta armada. A trajetória política de Mário
Alves (1923-1970). Salvador: EDUFBA, 2008.
6
Ver: SEGATTO, José Antonio. Reforma e revolução. As vicissitudes políticas do PCB
(1954-1964).
7
LEVI, Giovanni. Usos da biografia. In: FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO,
Janaína (org.) Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
1996.
120
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
8
SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo biografias... historiadores e jornalistas: aproxi-
mações e afastamentos. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 10, nº 19, p. 7-8.
9
Ver: http://jeitobaiano.atarde.uol.com.br/?tag=gustavo-falcon. Acesso em 28 de
novembro de 2017.
121
Ede Ricardo de Assis Soares
10
FALCÓN, Frederico. Um caminho brasileiro para o socialismo. A trajetória política
de Mário Alves (1923 – 1970). Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
História (PPGH), da Universidade Federal da Bahia, 2007, p.13.
122
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
11
FALCÓN, Frederico. Um caminho brasileiro para o socialismo. A trajetória política
de Mário Alves (1923 – 1970). Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em
História (PPGH), da Universidade Federal da Bahia, 2007, p.32.
12
Idem, p.48.
123
Ede Ricardo de Assis Soares
13
FALCÓN, Frederico. Um caminho brasileiro para o socialismo. A trajetória política
de Mário Alves (1923 – 1970). Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em
História (PPGH), da Universidade Federal da Bahia, 2007, p.60.
124
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
14
Idem, p. 65-6.
125
Ede Ricardo de Assis Soares
promovido pelo PCB? Vale lembrar que o curso era para a formação de
professores, mas quais as implicações deste fato?
Em 1945, o autor assinala que Mário Alves deixa “O Estado da
Bahia” e passa à direção de “O Momento”. Dia em que foi cooptado
para a direção do CR-BA. Segundo o autor, a partir de então Mário
Alves passou a estar na direção da maior parte das ações dos comunistas
e afirma “[…] na frente partidária, foi dos mais destacados nomes do
PCB de sua geração”.15
Talvez uma dos elementos mais interessantes seja o fato de a direção
nacional do PCB ter programado a ida de Mário Alves para o Rio de
Janeiro para o ano de 1947. Cooptação que para o autor se explica pelo
interesse da direção partidária de reorganizar a sua imprensa.
Por outro lado, pergunta-se: de que modo aquele jovem de 22 anos
conseguiu alçar à direção partidária em tão pouco tempo? Teria sido fruto
de uma simples coincidência a aparição de Mário Alves na Conferência
da Mantiqueira, em 1943, como representante não oficial do CR-BA?
Teria sido sua formação em ciências sociais? Quais eram as relações de
Mário Alves com os membros da CNOP que reorganizaram e dirigiam
o Partido? Certamente que o remendo nesses fios soltos da trama abrirá
um novo horizonte para a compreensão da atuação do PC e dos comu-
nistas durante aqueles anos.
No capítulo III, intitulado: Elites e contra-elites e vanguarda num
contexto provinciano, Salvador, 1930/1950, Falcón faz uma ampla revi-
são bibliográfica sobre o conceito de elite, chegando à conclusão de que
Mário Alves optou por fazer parte de uma contra-elite ideológica, não se
distanciando, tanto quanto parece, das aspirações de suas origens de classe.
Sobre ser membro de uma contra-elite, não podemos deixar de
lembrar que Mário Alves vinha de uma família tradicional que possuía
15
Idem, p. 76.
126
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
16
FALCÃO, João. O Partido Comunista que eu conheci: 20 anos de clandestinidade.
Salvador, Contexto e Arte editorial, 2ª edição, 2000.
17
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro, Zahar, 1995. p. 22.
127
Ede Ricardo de Assis Soares
128
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
18
FALCÓN, Frederico. Um caminho brasileiro para o socialismo. A trajetória política
de Mário Alves (1923 – 1970). Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em
História (PPGH), da Universidade Federal da Bahia, 2007, p. 174-75
19
Idem, p. 146
129
Ede Ricardo de Assis Soares
20
LORIGA, Sabrina. A biografia como problema. In: REVEL, Jacques (org.) Jogos de
escala: a experiência da microanálise. Rio de Janeiro, FGV, 1998, p. 236.
21
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: Usos e abusos da história oral. FERREIRA,
Marieta de Moraes e AMADO, Janaína (org.) Rio de Janeiro. FGV, 1996.
130
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Escrever uma biografia não é uma tarefa fácil e a obra de Gustavo
Falcón demonstra a crueza dessa verdade. Apesar de o autor definir seu
trabalho no campo da biografia histórica, por diversas vezes o trabalho se
apresenta como uma biografia jornalística, especialmente na ausência da
crítica interna e externa das fontes. Até porque as fronteiras entre ambas
podem ser tênues e bastantes escorregadias.
Não seria exagero afirmar que a biografia recoloca Mário Alves e
todas as problemáticas a ele relacionadas de volta à sociedade. Apresenta
a realidade dos horrores vividos pelos militantes de esquerda torturados
pela ditadura, traz à tona a discussão sobre a atuação do PCB frente ao
golpe de 1964 e à ditadura e apresenta as vicissitudes e as virtudes da
militância comunista. Afinal, a micro-análise é um olhar mais aproximado
do objeto, realçando aspectos das relações sociais que são imperceptíveis
à distância. Assim, a biografia oferece ao pesquisador a possibilidade de
acessar aspectos preciosos do tecido social, cabendo ao pesquisador fazer
22
FALCÓN, Frederico. Um caminho brasileiro para o socialismo. A trajetória política
de Mário Alves (1923 – 1970). Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em
História (PPGH), da Universidade Federal da Bahia, 2007, p. 194.
131
Ede Ricardo de Assis Soares
bom uso dessas informações, sem cair nas diversas armadilhas inerentes às
análises biográficas, como a redenção do biografado ou a ilusão biográfica.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: Usos e abusos da história oral.
Rio de Janeiro. FGV, 1996.
CARR, Edward Hallet. Que é história? Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 3ª
Edição, 1982. 7ª reimpressão, 1996.
132
Notas sobre biografia a partir da tese um caminho brasileiro para o socialismo.
A trajetória política de Mário Alves (1923 – 1970)
133
Trajetórias, memórias e revoluções:
arte e política em Albertina Rodrigues
Jonatas Pereira
Mestre em História (UFBA)
jamespaullistano@hotmail.com
INTRODUÇÃO
135
Jonatas Pereira
1
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – Assessoria Jurídica. Setor Prontuário
GB, folha 3.950.
2
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – Assessoria Jurídica. Informações,
pasta 124, folha 317.
3
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – Assessoria Jurídica. Distrito, pasta
15, folha 5.
4
RODRIGUES, Albertina. Fel e mel no cálice da vida: rumo à verdadeira revolução.
Versão digitalizada disponível em: https://pt.slideshare.net/albertinarodrigues/fel-e-
-mel-no-clice-da-vida, 2013, p. 331.
136
Trajetórias, memórias e revoluções: arte e política em Albertina Rodrigues
5
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – Assessoria Jurídica. Distrito, pasta
15, folha 1.
6
A consulta foi motivada pela resistência que Albertina tinha ao casamento o qual
fazia somente para atender a um pedido da família paterna.
7
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro – Assessoria Jurídica. Informações,
pasta 124, folha 316.
137
Jonatas Pereira
pela polícia do Rio de Janeiro seguiu para São Paulo, depois para o Rio
Grande do Sul e, em seguida, passando pela Argentina, chegou ao Chile,
onde se autoexilou, ao lado do seu então companheiro, Nelson Pires, por
conta das ações realizadas na luta armada. Posteriormente, continuaram
o exílio pela Europa.
A produção de uma autobiografia feminina, a partir da experiência
de militância e luta armada durante a ditadura civil-militar no Brasil, nos
insere no âmbito tanto do dever da história, quanto no direito à memória.
Assim, na perspectiva de um artesão intelectual buscamos compreender
essa narrativa na interrelação saber-poder e suas implicações nos campos
da memória, do esquecimento e do silêncio. Do mesmo modo, ao retratar
Albertina Rodrigues percebemos o vigor de sua escrita confrontando-se
à condição de mulher submissa, cujo universo, historicamente determi-
nado por uma sociedade patriarcal, engendrou um discurso de exclusão
social e política.
Se retornarmos ao período relatado, no qual Albertina encontrava-se
às voltas com um casamento indesejado, nos finais dos anos 1950, po-
demos perceber que o discurso da loucura se impõe diante de práticas
de “desvios” de conduta de mulheres que não hesitavam em confrontar
a subordinação, como forma de deslegitimar a fala e/ou comportamento
que extrapolasse os padrões das marcações patriarcais. Logo, sabendo que
Toda história é uma construção [...]. A dita ‘loucura’[...] pa-
rece ligada claramente à chamada questão de gênero [...]. Em
geral vozes femininas, mas também masculinas falam sobre
a condição da mulher, exprimindo diferentes atitudes, numa
variedade que deixa claro que a Nova Mulher de há um século
é tão difícil de ser caracterizada.8
8
BORGES, Vavy Pacheco. Desafios da memória e da biografia: Gabrielli Brune-Sieler,
Uma vida (1874-1940). IN: BRESCIANI, Stella e NAXARA, Márcia (Orgs.) Me-
mória e (re)sentimento: indagação sobre uma questão sensível. Campinas: UNICAMP,
138
Trajetórias, memórias e revoluções: arte e política em Albertina Rodrigues
loucuras, folias e relações de gênero no Brasil (século XIX e início do século XX).
Disponível em: http://www.historia.uff.br/tempo/artigos_livres/artg5-9.pdf. Acesso
em Nov. 2016 , p. 26.
139
Jonatas Pereira
loucuras, folias e relações de gênero no Brasil (século XIX e início do século XX).
140
Trajetórias, memórias e revoluções: arte e política em Albertina Rodrigues
141
Jonatas Pereira
11
RODRIGUES, Albertina. Fel e mel no cálice da vida: rumo à verdadeira revolução.
Versão digitalizada disponível em: https://pt.slideshare.net/albertinarodrigues/fel-e-
-mel-no-clice-da-vida, 2013, p. 409.
142
Trajetórias, memórias e revoluções: arte e política em Albertina Rodrigues
12
RODRIGUES, Albertina. Fel e mel no cálice da vida: rumo à verdadeira revolução.
Versão digitalizada disponível em: https://pt.slideshare.net/albertinarodrigues/fel-e-
143
Jonatas Pereira
144
Trajetórias, memórias e revoluções: arte e política em Albertina Rodrigues
ticas e luta contra o esquecimento. In: VII Encontro Regional de História, 2004,
Campinas. Anais do XII Encontro Regional de História: O Lugar da História. Londrina:
Editorial Mídia, 2004, p.01.
14
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História.
Revista do Programa de Estudos Pós-Graduandos em História e do Departamento de
História da PUC-SP, nº 10, São Paulo, 1993. Disponível em: http://revistas.pucsp.
br/index.php/revph/article/viewFile/12101/8763. Acesso em Nov. 2016, p. 09.
145
Jonatas Pereira
146
Trajetórias, memórias e revoluções: arte e política em Albertina Rodrigues
147
Jonatas Pereira
15
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História.
Revista do Programa de Estudos Pós-Graduandos em História e do Departamento de
148
Trajetórias, memórias e revoluções: arte e política em Albertina Rodrigues
FONTES
RODRIGUES, Albertina. Fel e mel no cálice da vida: rumo à verdadeira
revolução. Versão digitalizada disponível em: https://pt.slideshare.net/
albertinarodrigues/fel-e-mel-no-clice-da-vida, 2013.
REFERÊNCIAS
BORGES, Vavy Pacheco. Desafios da memória e da biografia: Gabrielli
Brune-Sieler, Uma vida (1874-1940). IN: BRESCIANI, Stella e NAXARA,
Márcia (Orgs.) Memória e (re)sentimento: indagação sobre uma questão
sensível. Campinas: UNICAMP, 2004.
149
Jonatas Pereira
150
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior:
a produção de vestígios autobiográficos e a
popularização da arte curativa da imposição das mãos
1
A NOTÍCIA, Rio de Janeiro. 1 fev 1898. p. 1-2.
2
ASSOMBROSO! Forças desconhecidas. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 29 set. 1899.
p. 1.
151
Rafael Rosa da Rocha
3
SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Nas trincheiras da cura. As diferentes medicinas no Rio
de Janeiro Imperial. Campinas: Editora Unicamp, 2001.
4
O processo de modernização, que tinha por objetivo levar o Brasil à civilização e ao
progresso tem um marco importante no período Joanino com a chegada da família
real ao Brasil. No plano material as transformações foram muitas: aterros a pânta-
nos, abertura de avenidas, sofisticação arquitetônica, criação de estradas. No plano
cultural, com a vinda da Missão Francesa para o Brasil, estimulando a produção
artística: Museu Real, Biblioteca Real, Escola Real de Artes e Observatório Astro-
nômico e a Imprensa Régia. Igualmente, durante o Segundo Reinado, D. Pedro II,
o “mecenas brasileiro”, financiou a cultura e a ciência criando ou aprimorando uma
série de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Faculdades
de Direito e Medicina ganharam corpo e aderência. Além disso, esse é o período em
que Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, busca capitais estrangeiros e faz
intensos investimentos na infraestrutura do país. Queremos dizer, que a noção de
modernização e progresso levada a cabo no começo da República foi operacionalizada
por seus idealizadores para romper com o passado monarquista, que fincava o país no
atraso que precisava ser superado. Era a marca e o discurso inaugural da República.
BARRA, Sergio. Entre a Corte e a Cidade: o Rio de Janeiro no tempo do Rei (1808-
1821). Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2008; SCHWARCZ, Lilia Moritz. As
barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016.
152
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
5
LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. NORONHA,
Jovita Maria Gerheim (Org.). 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2014.
6
STAROBINSKI, Jean. Jean-Jacques Rousseau: a transparência e o obstáculo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1991.
153
Rafael Rosa da Rocha
154
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
155
Rafael Rosa da Rocha
lenda”, pois ainda não havia sido publicada. Segundo o jornalista, essa
versão tinha mais aderência por aqueles que julgavam milagrosas as curas
de Eduardo Silva e, portanto, tinham no sobrenatural seu alento. Para
ele, segundo a lenda, a história tinha começado no Marrocos, quando,
em certa ocasião, caminhando pelo campo na lida com os trabalhos da
engenharia, Eduardo havia escutado ao longe “uma voz que lhe acon-
selhou que abandonasse aquele mister, porque outra era a sua missão
na terra – minorar os sofrimentos da humanidade – sem que pudesse
descobrir de onde partira o estranho aviso. Seguiu-o, entretanto, e o
tempo evidenciou como fez bem assim proceder”.9 Essa narrativa deixa
explícita uma tensão entre empiria e sobrenatural, ou ciência e magia,
que marca todo o período republicano.10 Mas o que precisamos anotar
é que mesmo a explicação mais racional, qual seja, a das fricções, estava
envolvida pela atmosfera do sobrenatural das “curas maravilhosas” reali-
zadas pelo engenheiro, de modo que a tensão passa a ser operacionalizada
internamente no campo da magia. Ou seja, entre o “maravilhoso”, re-
vestido de um aspecto positivo e o “supersticioso”, carregado de estigma
sobretudo relacionado às populações afrodescendentes, que era utilizado
para deslegitimar a prática curativa de Eduardo Silva.
Mas voltemos aos dados biográficos do curador. O Jornal do Brasil
era um dos periódicos mais interessados em dar notícia do curandeiro,
pois enviou repórteres do Rio de Janeiro à ladeira da rua Nothman, em
São Paulo, para entrevistar o engenheiro. Lá chegando, num tumultuado
espaço cheio de gente buscando os serviços “milagrosos” do dr. Eduardo,
era quase impossível, aos repórteres, atravessar o vão e chegar a entrada
9
GAZETA DA TARDE, Rio de Janeiro. 12 abr 1898. p. 2.
10
Uma discussão sobre a relação entre ciência e magia pode ser encontrada em: WE-
BER, Beatriz Teixeira. As Artes de Curar: Medicina, religião, magia e positivismo na
República Rio-grandense – 1889/1928. Santa Maria: EDUSC, 1999 e DARNTON,
Robert. O lado oculto da Revolução: Mesmer e o final do Iluminismo na França. São
Paulo: Companhia das Letras, 1987.
156
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
da casa onde ele atendia. Depois de muita espera e de terem com o dr.
Monteiro de Barros, finalmente, conseguiram a atenção do engenheiro,
curador, “dr. Eduardo Silva”. Os repórteres do Jornal do Brasil iniciaram
a entrevista questionando se os maiores feitos do curador haviam sido
realizados no Marrocos.
Dr. Eduardo Silva – No desempenho de tão perigosa incum-
bência, internei-me pelo continente africano até ao deserto
de Saara [...]. Pois nesta expedição passaram-se comigo fatos
verdadeiramente sobrenaturais que mais me avigoraram a fé
na Providência Divina, que tudo dirige e tudo pode.
11
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. 29 maio 1898. p. 5. [Grifos nossos]
157
Rafael Rosa da Rocha
12
BOURDIEU, Pierre. “A ilusão biográfica.” In: FERREIRA, Marieta de M. e AMADO,
Janaína (orgs). Usos & Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1996. p. 183.
158
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
Repórter – De certo.
13
JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro. 29 maio 1898. p. 5. [Grifos nossos]
159
Rafael Rosa da Rocha
14
Se os feiticeiros africanos e afro-brasileiros e as populações que a eles recorriam
operacionalizam uma cosmologia para resolver seus mais diversos conflitos e foram
constantemente perseguidos e sofreram o estigma da superstição além da represália
policial e judicial, Eduardo Silva lançou mão também da sua cosmologia para resolver
seus conflitos nas terras do norte da África. Mas tal cosmologia era aceita abertamente
por boa parte das elites e das instituições brasileiras. Daí a pompa e a curiosidade em
torno dos poderes curativos dele, daí o cuidado das inspeções de higiene e da polícia
em averiguar cuidadosamente seus procedimentos, mesmo que o curador fosse astuto
e perspicaz como mostra sua entrevista e as notas biográficas do advogado Matheus
da Silva Chaves Júnior.
15
Não obstante serem dois personagens que viveram na mesma época, transitaram pelos
mesmos espaços, utilizaram os mesmos mecanismos de cura, não é perceptível nas
fontes se existiu algum nível de interlocução entre Faustino e Eduardo Silva. Quero
dizer que é bastante provável que tenham tido conhecimento da existência um do
outro, mas não avançamos em saber se eles estabeleceram algum tipo de diálogo.
16
DIÁRIO DA TARDE, Curitiba. 26 set 1899. p. 1; GAZETA DE MINAS, Cidade
160
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
E íamos nos sentar a uma das mesas que lhe estavam visinhas,
quando s. s., erguendo-se, gentilmente instou para que nos
sentássemos à sua própria mesa.
161
Rafael Rosa da Rocha
20
A PROVÍNCIA, Recife. 6 ago 1904. p. 2.
162
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
21
JORNAL PEQUENO, Recife, 13 jul 1904. p. 1.
22
BOURDIEU, Pierre. Op. Cit., 1996. p. 183.
163
Rafael Rosa da Rocha
164
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
23
JORNAL de Notícias, Salvador. 11 ago 1903. p. 2.
165
Rafael Rosa da Rocha
REIS, João José. Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e can-
24
domblé na Bahia do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008; REIS, João
José; GOMES, Flávio dos Santos; CARVALHO, Marcus Joaquim de. O Alufá Rufino
– tráfico, escravidão e liberdade no Atlântico Negro. Campinas: Companhia das Letras,
2010; SAMPAIO, Gabriela dos Reis. Juca Rosa: um pai-de-santo na Corte Imperial.
166
Eduardo Silva e Faustino Ribeiro Júnior: a produção de vestígios autobiográficos
e a popularização da arte curativa da imposição das mãos
REFERÊNCIAS
BARRA, Sergio. Entre a Corte e a Cidade: o Rio de Janeiro no tempo do Rei
(1808-1821). Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2008.
167
Rafael Rosa da Rocha
168
PARTE III
Os sentidos da literatura: história,
política e cultura nas obras de ficção
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
INTRODUÇÃO
1
ALVES, Iracélli da Cruz. A política no feminino: uma história das mulheres no Partido
Comunista do Brasil – seção Bahia (1942-1949). 2015. 238 f. Dissertação (Mestra-
do em História) – Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade
Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana, 2015. p. 164-166.
171
Iracélli da Cruz Alves
2
HOMENAGEM do Partido Comunista do Brasil aos seus escritores e artistas. Tri-
buna Popular, 21 abr. 1946. p. 1.
3
PAIM, Alina. A hora próxima. Rio de Janeiro: Vitória, 1955.
4
PAIM, Alina. Sol do meio dia. Rio de Janeiro: ABL, 1961.
5
PAIM, Alina. O Sino e a rosa. Rio de Janeiro: Lidador, 1965; ______. A chave do
mundo. Rio de Janeiro: Lidador, 1965; ______. O círculo. Rio de Janeiro: Lidador,
1965.
6
Silêncio e esquecimento não têm o mesmo significado. Nem sempre o que não é
dito atesta esquecimento, podendo indicar um silenciamento deliberado.
7
Cf. ALVES, 2015, p. 164-171
172
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
8
PAIM, Alina. Estrada da Liberdade. Rio de Janeiro: Leitura, 1944.
9
PAIM, Alina. Simão Dias. Rio de Janeiro: Livraria-Editora da Casa do Estudante do
Brasil, 1949.
10
PAIM, Alina. A sombra do patriarca. Rio de Janeiro/Porto Alegre/São Paulo: Globo,
1950.
173
Iracélli da Cruz Alves
ser outro.11 A literatura torna-se uma forma privilegiada para este exercício,
já que é um tipo de escrita onde as autoras, através das suas personagens,
podem experimentar a liberdade de ser outra. Assim, nos interessa perceber
a concreção desse experimento em A Sombra do Patriarca.
ITINERÁRIO DO ROMANCE
Em 1950 a Editora Globo lançou A sombra do Patriarca, de Alina
Paim. A autora dedicou o livro a Graciliano Ramos, provavelmente em
sinal de gratidão pelos diálogos que estabeleceram quando ela escrevia
seu primeiro romance: Estrada da Liberdade. O manuscrito, escrito por
volta de 1943, foi revisado pelo já então famoso romancista, que lhe deu
algumas aulas sobre técnica literária. O livro foi elogiado por seus pares.
Valdemar Cavalcanti comentou na orelha do romance A Correnteza que o
texto surpreendeu os críticos e os “leitores de bom gosto, com a maneira
segura de seu comportamento literário, a demonstrar que bem conhecia o
chão em que pisava”.12 Antes, Jorge Amado já havia observado que Alina
Paim impôs sua presença com o primeiro romance e “soube construir seu
caminho e crescer de livro para livro”.13 Graciliano Ramos se antecipou
aos elogios, quando escreveu na orelha de Simão Dias:
Alina Paim chegou aqui [no Rio de Janeiro] há quatro anos,
tímida, novinha, com jeito de freira à paisana. O romance que
nos deu pouco depois não revelava nenhuma timidez e, logo
nas primeiras folhas, desmentia a aparência religiosa. Exibia
até muita coragem, dava às coisas o nome verdadeiro, sem
respeito exagerado às conveniências. A estreia, recebida com
louvores, jogou a moça na Literatura.14
11
RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções de
subjetividade. Campinas: Editora da Unicamp, 2013. p. 50-55.
12
PAIM, Alina. A correnteza. Rio de Janeiro: Record, 1979. Orelha.
13
AMADO, Jorge. Prefácio. In: PAIM, 1961. p. 7.
14
PAIM, 1949. Orelha.
174
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
15
PAIM, 1950, p. 95.
16
Ibid., p. 15.
17
Ibid., p. 32.
18
Ibid., p. 16.
19
Ibid., p. 175.
175
Iracélli da Cruz Alves
Ibid., p. 70.
21
176
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
22
PAIM, 1950, p. 60.
23
Ibid., p. 112.
24
Ibid, p. 258
177
Iracélli da Cruz Alves
25
DELPH, Christine. Patriarcado (teorias do). In: HIRATA, Helena et aliae. Dicionário
crítico do feminismo. São Paulo: Editora UNESP, 2009. p. 173.
26
MACHADO, Lia Zanotta. Perspectivas em confronto: relações de gênero ou patriar-
cado contemporâneo? In: Sociedade Brasileira de Sociologia (Ed.) Simpósio Relações
de Gênero ou Patriarcado Contemporâneo, 52ª Reunião Brasileira para o Progresso da
Ciência. Brasília: SBP, 2000, passim.
27
COSTA, Suely Gomes. Proteção social, maternidade transferida e lutas pela saúde
reprodutiva. Estudos Feministas. Santa Catarina, v. 10, n. 2, p. 301-322. Jul.-dez,
2002. p. 303.
28
Como observou Joan Scott (1995), o conceito de gênero se refere ao caráter fundante
178
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
da construção cultural das diferenças sexuais hierarquizadas. Neste sentido, Maria Rita
Kehl salienta que estas construções têm sido concebidas em termos de dominação
e de controle das mulheres e dos homens que desviam do padrão de masculinidade
hegemônico. Cf. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica.
Educação & Realidade: Porto Alegre, v. 20, p. 71-99, jul. – dez. 1995, passim; KEHL,
Maria Rita. Deslocamentos do feminino. 2ª ed. Rio de Janeiro: Imago, 2008, p. 27-29.
29
Sérgio Buarque de Holanda destacou que a preocupação excessiva dos historiadores
com o uso adequado das palavras, fechando os termos em si mesmos, como se eles
não sofressem alterações, empobrecem as análises historiográficas. Ao chamar a
atenção para isso não quis desconsiderar a necessidade de precisar a terminologia,
mas esta precisão requer uma historicização da palavra ou do conceito, observando
como as palavras adquirem sentidos distintos em diferentes épocas. Ao que parece,
o autor se inspira em Reinart Koselleck que, antes dele, já havia afirmado que os
conceitos têm uma história e falam sobre as conjunturas em que foram produzidos,
reproduzidos e modificados. As palavras podem até permanecer as mesmas, mas não
indicam necessariamente a permanência do mesmo conteúdo ou significado por ela
designado. As alterações de sentido pelas quais passam ao longo da história refletem
os conflitos sociais e políticos. Portanto, seu uso e suas mudanças devem ser aten-
tamente acompanhados por historiadoras. Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque. Sobre
uma doença infantil da historiografia. In: Costa, Marcos (Org). Escritos Coligidos –
179
Iracélli da Cruz Alves
por emancipação, entendia que esta luta não deveria ser feminista. A ideia
hegemônica dentro do partido era que o feminismo era um movimento
pequeno burguês de mulheres contra homens, interpretação relacionada
às concepções gerais correntes no contexto.
Apesar de hoje entendermos o feminismo como todas práticas sociais,
culturais, políticas e linguísticas que atuam com o objetivo de liberar as
mulheres de uma cultura misógina e da imposição de um modo de ser
construído pela lógica masculina nos marcos da heterossexualidade;30
até a segunda metade do século XX o termo designava o movimento
organizado por mulheres de tendências liberais de classe média que
geralmente não aprofundaram na discussão acerca das estruturas sociais
responsáveis pelas hierarquias de gênero.31
A recusa das pecebistas em se assumirem feministas também tem
relação com o sentimento de pertença a um partido comunista. Antes
da década de 1970, especialmente antes do golpe de 1964, as mulheres
do PCB compartilhavam os valores defendidos pelo partido. Existia uma
espécie de cultura comunista que, na definição de Pandolfi, significa “uma
determinada visão de mundo, compartilhada por todos aqueles vinculados
a uma tradição que se consolidou com a vitória da Revolução Russa de
1917 e se identificou com o modelo de sociedade que foi implantado na
URSS”32. Desse modo, embora algumas pecebistas tenham se dedicado à
luta pela emancipação e/ou libertação feminina, elas tiveram dificuldades
em assumir outra identidade, que não a comunista. Portanto, a ausên-
Livro II, 1950-1979. São Paulo: Editora Unespe; Editora Fundação Perseu Abramo,
2011. p. 419-435; KOSELLECK, Reinhart. História dos conceitos e história social.
In: ______. Futuro Passado: Contribuições à semântica dos tempos históricos. Rio
de Janeiro: Contraponto, 2006. p. 97-118.
30
RAGO, 2013, p. 28.
31
RAGO, Margareth. Entre a História e a liberdade: Luce Fabri e o anarquismo con-
temporâneo. São Paulo: UNESP, 2001. p. 219.
32
PANDOLFI, Dulce. Camaradas e companheiros: História e memória do PCB. Rio
de Janeiro: Relume-Dumará: Fundação Roberto Marinho, 1995. p. 35.
180
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
33
PAIM, 1950, p. 256.
34
PAIM, 1950, p. 256.
35
PAIM, op. cit., p. 46.
36
Ibid., p. 40.
181
Iracélli da Cruz Alves
37
SOIHET, Rachel. Bertha Lutz e a ascensão social da mulher (1919-1937). 1974. 88f.
Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de História, Universidade Federal
Fluminense. Nitetói, 1974.
38
LOBO, Elisabeth Souza. Movimento e mulheres e representação política no Brasil
(1980-1990): o gênero da representação. In: ______. A classe operária tem dois sexos:
trabalho, dominação e resistência. São Paulo, Perseu Abramo, 2011. p. 263-275.
182
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
39
Cf. ALVES, Iracélli da Cruz. Os movimentos feminista e comunista no Brasil: história
e historiografia. Tempos Históricos. v. 21, p. 107-140. Jun-dez, 2017, p. 112-118.
40
PAIM, 1950, p. 216.
41
Ibid., p. 39.
183
Iracélli da Cruz Alves
42
PAIM, 1949, p. 182.
43
Ibid., p. 206.
44
Ibid.
184
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
FONTES
HOMENAGEM do Partido Comunista do Brasil aos seus escritores e
artistas. Tribuna Popular, 21 abr. 1946. p. 1.
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Iracélli da Cruz. A política no feminino: uma história das mulheres
no Partido Comunista do Brasil – seção Bahia (1942-1949). 2015. 238 f.
Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de Ciências Humanas
e Filosofia, Universidade Estadual de Feira de Santana. Feira de Santana,
2015.
185
Iracélli da Cruz Alves
186
A política em prosa: representações comunofeministas
em A sombra do patriarca
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica. Educação
& Realidade: Porto Alegre, v. 20, p. 71-99, jul. – dez. 1995.
187
Euclides Neto:
apontamentos biográficos e literários
CESAR, Elieser. O Romance dos Excluídos: Terra e política em Euclides Neto. Ilhéus:
1
189
Albione Souza Silva
2
CARR, Edward Hallet. “A sociedade e os Indivíduos”. In: CARR, Edward Hallet.
O que é História? Rio de Janeiro: |Paz e terra, 1982, p.87.
190
Euclides Neto: apontamentos biográficos e literários
3
HOBSBAWN, Eric . “Da História Social à História da Sociedade”. In:__ Sobre
história (ensaios). São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 83.
4
WATT, Iann. A Ascensão do romance: estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding.
Trad. Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras. 2010, p.14.
191
Albione Souza Silva
5
LORIGA, Sabina. “O limiar Biográfico”. In: LORIGA, Sabina. O pequeno X: da
biografia à história. Belo Horizonte: Autêntica, 2011, p. 17.
6
MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. Tradução e notas Nélio Schneider.
Prólogo Herbert Marcuse. São Paulo: Boitempo, 2011, p.25.
192
Euclides Neto: apontamentos biográficos e literários
– E era alugado?
193
Albione Souza Silva
– É...
7
TEIXEIRA NETO, Euclides. Os Magros. 2. ed. São Paulo, Guena & Bussius, 1992,
pp.109-110.
8
SILVA, Albione Souza. O caráter socialista da Gestão de Euclides Neto no município
de Ipiaú (1963-1967). Monografia de conclusão da Graduação em História, 2003.
UESC.
9
A desapropriação que originou a Fazenda do Povo ocorreu através do decreto lei
municipal nº 965 de 8 de junho de 1963. Dessa forma, marcando a primeira expe-
riência de reforma agrária do Brasil, por iniciativa de um prefeito.
194
Euclides Neto: apontamentos biográficos e literários
195
Albione Souza Silva
11
FERREIRA, Muniz. A guinada na Bahia, com o golpe de 1964. Revista História
Viva. São Paulo, ano 3, n.26, p. 89, dez.2005.
12
TEIXEIRA NETO, Euclides José. 64: Um prefeito, a revolução e os jumentos – A
Fábula do presidente Salém. Salvador: Fator, 1983. pp.161-162.
196
Euclides Neto: apontamentos biográficos e literários
13
Depoimento cedido por Milton Tavares (advogado e ex militante do PCB da Bahia),
em 9 de agosto de 2005, para Albione Souza Silva.
14
Depoimento cedido por Luis Contreiras (ex-dirigente do PCB da Bahia), em 9 de
agosto de 2005, para Albione Souza Silva.
15
SILVA, Paulo Santos. O biógrafo como narrador: a concepção de biografia em Luiz
197
Albione Souza Silva
Viana Filho In: LEMOS, Maria Elisa e SILVA, Paulo Santos. Rastros Biográficos:
estudos e trajetórias. Salvador. ADUNEB, 2014, p. 47.
198
Euclides Neto: apontamentos biográficos e literários
16
NETO, Euclides. O patrão. 2.ed. Salvador: EDUFBA; São Paulo: Littera Criações
Ltda, 2013, p.31.
199
Albione Souza Silva
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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NETO, Euclides. Os Magros. 2. ed. São Paulo, Guena & Bussius, 1992.
200
Euclides Neto: apontamentos biográficos e literários
201
A Invenção do pecado: a prostituta nas obras de Nelson
Gallo e Herberto Sales (1930-1960)
Thaís Calazans
Mestranda em História (UNEB)
thaisgcalazans@hotmail.com
203
Thaís Calazans
204
A Invenção do pecado: a prostituta nas obras de Nelson Gallo e Herberto Sales (1930-1960)
2
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4
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205
Thaís Calazans
5
RAGO, op. cit., 2008, p. 24.
206
A Invenção do pecado: a prostituta nas obras de Nelson Gallo e Herberto Sales (1930-1960)
207
Thaís Calazans
208
A Invenção do pecado: a prostituta nas obras de Nelson Gallo e Herberto Sales (1930-1960)
209
Thaís Calazans
10
SALES, op. cit., 1996, p. 203.
11
SALES, op. cit., 1996, p.. 204.
12
RAGO, op. cit., 2008, p. 259.
13
ESPINHEIRA, Gey. Divergência e Prostituição: uma análise sociológica da Comuni-
210
A Invenção do pecado: a prostituta nas obras de Nelson Gallo e Herberto Sales (1930-1960)
211
Thaís Calazans
212
A Invenção do pecado: a prostituta nas obras de Nelson Gallo e Herberto Sales (1930-1960)
FONTES
213
Thaís Calazans
REFERÊNCIAS
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A Invenção do pecado: a prostituta nas obras de Nelson Gallo e Herberto Sales (1930-1960)
215
Ariano Suassuna, um intelectual polifônico: entre o
erudito e o popular no Romance
d’A Pedra do Reino e O Príncipe do
Sangue do Vai-e-Volta
217
Susana Cardoso Braga
2010.
218
Ariano Suassuna, um intelectual polifônico: entre o erudito e o popular no
Romance d’A Pedra do Reino e O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta
2
CARR, Edward Hallet. A Sociedade e O Individuo. In: O Que é História?. Trad.:
Lúcia Mauricio de Alverga. Rio de Janeiro, RJ. Editora Paz & Terra, 3ª ed., 1982.
3
SUASSUNA, Ariano Vilar. Ao Sol da Prosa Brasileira. [Outubro/ 2000]. São Paulo:
Caderno de Literatura Brasileira. Ano II, nº 10, p. 22 – 51.
4
LE GOFF, Jacques. Documento/ Monumento. In: História & Memória. Trad.: Bernardo
Leitão... [et al.] – Campinas, SP. Editora da UNICAMP, 1990, p. 535. (Coleção
Repertórios).
219
Susana Cardoso Braga
5
Ibidem, 535.
6
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & Literatura: Uma Velha Nova História. Nuevo
Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 28 janvier 2006, consulté
le 18 octobre 2016. URL : http://nuevomundo.revues.org/1560;DOI:10.4000/
nuevomundo.1560(p. 03 – 04). Acesso 02 de outubro de 2016.
7
Ibidem.
220
Ariano Suassuna, um intelectual polifônico: entre o erudito e o popular no
Romance d’A Pedra do Reino e O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta
221
Susana Cardoso Braga
8
NEWTON JÚNIOR, Carlos. O Pai, O Exílio e o Reino: A Poesia Armorial de Ariano
Suassuna. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 1999.
222
Ariano Suassuna, um intelectual polifônico: entre o erudito e o popular no
Romance d’A Pedra do Reino e O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta
derna, tal qual o sonhador Dom Quixote de Cervantes, trava uma luta
em um mundo imaginário, para alcançar seu objetivo.
É por meio dos delírios e imaginários de Quaderna que o leitor verá
a ótica de Suassuna na interpretação que este faz da cultura do povo,
somando de maneira importante à cultura popular e a erudita, premissa
que leva a essência do Movimento Armorial, que tendo em Suassuna seu
maior “teórico”, busca uma cultura que se pretenda erudita e genuina-
mente brasileira, e que busque sua essência em matrizes populares, que
é por definição:
A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço co-
mum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos”
do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel),
com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus
“cantares”, e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim
como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares
com esse mesmo Romanceiro relacionados.9
Um cavaleiro às avessas, pois é o mundo de Suassuna transfigurado,
onde o grotesco e o burlesco ganham espaço. Trata-se de um misto de
novela de cavalaria e romance picaresco, articulando o desproporcional
e o ridículo na perspectiva do universo carnavalesco.10
A Pedra do Reino é um grande palco de circo em que o Universal se
transporta ao local, no qual Ariano se faz de bobo e palhaço e nele recria
um mosaico de personagens, nessa sua “Idade Média” e em sua obra
“flamengo-ibérico-mouro-negro-tapuia”.
Quem assassinou o Rei Degolado? É o jovem rapaz do cavalo-bran-
co, o verdadeiro herdeiro do coronel morto e última esperança ao povo
Ibidem, p. 97.
9
223
Susana Cardoso Braga
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: O Contexto de François Rebelais. São Paulo: HUCITEC –
Editora da Universidade de Brasília, 1987.
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