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AUTORIA E COLABORAÇÃO

Fábio Roberto Cabar

Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Mestre e doutor em
Obstetrícia e Ginecologia pelo HC-FMUSP, onde é médico preceptor do Departamento de Obstetrícia
e Ginecologia. Título de especialista pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obs-
tetrícia (FEBRASGO).

Atualização 2015

Fábio Roberto Cabar


APRESENTAÇÃO

O estudante de Medicina, pela área escolhida considerado um apai-


xonado por desafios, depois de anos submetido a aulas teóricas e plantões
em diversos blocos deve enfrentar uma maratona ainda maior: a escolha
de uma especialização, seguida da conquista do ingresso em um centro e
programa de Residência Médica de renome. Mas isso só é possível com o
auxílio de um material didático prático, bem estruturado e preparado por
quem é especialista no assunto, e a Coleção SIC Principais Temas para Provas
de Residência Médica 2015, da qual fazem parte os 31 volumes da Coleção
SIC Extensivo, foi desenvolvida nesse contexto. Os capítulos baseiam-se nos
temas exigidos nas provas dos principais concursos do Brasil, ao passo que
os casos clínicos e as questões são comentados a fim de oferecer a interpre-
tação mais segura possível de cada resposta.

Bons estudos!

Direção Medcel
A medicina evoluiu, sua preparação para residência médica também.
ÍNDICE

Capítulo 1 - Fisiologia da gestação ..................................... 21 Capítulo 6 - Puerpério .......................................................... 59


1. Fisiologia da gestação .................................................... 21 1. Definição ........................................................................ 59
2. Diagnóstico de gravidez ................................................. 24 2. Modificações locais ........................................................ 59
3. Resumo .......................................................................... 25 3. Modificações sistêmicas ................................................ 60
4. Cuidados durante o puerpério ...................................... 60
Capítulo 2 - Modificações locais e sistêmicas no
5. Amamentação ................................................................ 61
organismo materno .............................................................. 27
6. Recomendações de contracepção para mulheres
1. Introdução...................................................................... 27 lactantes ........................................................................ 63

res- 2. Modificações locais ........................................................ 27 7. Resumo .......................................................................... 65


erial 3. Modificações sistêmicas ................................................ 29
são Capítulo 7 - Assistência pré-natal .................................... 67
e se 4. Metabolismo .................................................................. 33
5. Resumo .......................................................................... 34 1. Definição ........................................................................ 67
2. Anamnese ...................................................................... 68
Capítulo 3 - Relações uterofetais ..................................... 37
3. Exame físico ................................................................... 70
1. Definição ........................................................................ 37 4. Exames subsidiários ....................................................... 73
2. Atitude............................................................................ 37 5. Vacinação ...................................................................... 77
3. Situação.......................................................................... 37 6. Resumo ......................................................................... 78
4. Apresentação ................................................................. 37
5. Posição ........................................................................... 39
Capítulo 8 - Tocurgia ............................................................. 79

6. Variedade de posição..................................................... 39 1. Cesárea........................................................................... 79

7. Resumo .......................................................................... 39 2. Fórcipe ........................................................................... 85


do
3. Resumo .......................................................................... 89
de, Capítulo 4 - O trajeto .............................................................. 41
ça!
1. Definição ........................................................................ 41 Capítulo 9 - Pesquisa de maturidade fetal ...................... 91

2. Bacia obstétrica.............................................................. 41 1. Introdução...................................................................... 91


egre
3. Bacia mole...................................................................... 43 2. Desenvolvimento pulmonar fetal ................................. 91

4. Resumo .......................................................................... 45 3. Surfactante ..................................................................... 91


4. Métodos de avaliação da maturidade fetal ................... 92
Capítulo 5 - O parto................................................................ 47
5. Conclusão ...................................................................... 94
1. Mecanismo de parto...................................................... 47 6. Resumo .......................................................................... 94
2. Assistência clínica ao parto ............................................ 52
3. Hemorragia puerperal ................................................... 54 Capítulo 10 - Pós-datismo e gestação prolongada ....... 95
4. Resumo .......................................................................... 56 1. Introdução...................................................................... 95

m.br
2. Incidência........................................................................ 95 18. Antienxaqueca............................................................ 119
3. Complicações.................................................................. 95 19. Antiepilépticos............................................................ 119
4. Diagnóstico..................................................................... 96 20. Antiespasmódicos....................................................... 119
5. Conduta assistencial....................................................... 96 21. Antifúngicos................................................................ 119
6. Resumo........................................................................... 97 22. Antiflatulento.............................................................. 119
23. Anti-helmínticos.......................................................... 119
Capítulo 11 - Oligoâmnio e polidrâmnio. . ............................. 99
24. Anti-heparínico........................................................... 119
1. Introdução....................................................................... 99 25. Anti-histamínicos........................................................ 119
2. Origem e composição do líquido amniótico.................. 99 26. Anti-inflamatórios....................................................... 119
3. Oligoâmnio.................................................................... 100 27. Antimaláricos.............................................................. 119
4. Polidrâmnio................................................................... 102 28. Antipsicóticos.............................................................. 120
5. Resumo......................................................................... 103 29. Antitireoidianos.......................................................... 120
30. Antiulcerosos.............................................................. 120
Capítulo 12 - Vitalidade fetal. . .............................................. 105
31. Bloqueadores do canal de cálcio................................ 120
1. Introdução e indicações................................................ 105
32. Bloqueadores dos receptores alfa e
2. Métodos biofísicos de avaliação................................... 106 beta-adrenérgicos...................................................... 120
3. Resumo......................................................................... 115 33. Broncodilatadores....................................................... 120
34. Cefalosporinas............................................................ 120
Capítulo 13 - Drogas e gestação......................................... 117
35. Diuréticos.................................................................... 120
1. Introdução..................................................................... 117 36. Estrogênios................................................................. 120
2. Adoçantes artificiais...................................................... 117 37. Hipolipemiantes.......................................................... 120
3. Aminoglicosídeos.......................................................... 117 38. Hipotensores com ação inotrópica............................. 120
4. Analgésicos................................................................... 118 39. Hormônios tireoidianos.............................................. 120
5. Androgênios.................................................................. 118 40. Inibidores da enzima conversora de angiotensina .... 120
6. Anfenicóis...................................................................... 118 41. Macrolídeos................................................................ 120
7. Anorexígenos................................................................ 118 42. Penicilinas................................................................... 120
8. Ansiolíticos e hipnóticos............................................... 118 43. Quinolonas.................................................................. 120
9. Antagonistas dos receptores da angiotensina............. 118 44. Sulfas........................................................................... 121
10. Antiácidos................................................................... 118 45. Tetraciclinas................................................................ 121
11. Antiagregantes plaquetários....................................... 118 46. Tuberculostáticos........................................................ 121
12. Antiarrítmicos............................................................. 118 47. Vasodilatadores........................................................... 121
13. Anticoagulantes.......................................................... 118 48. Resumo....................................................................... 121
14. Antidepressivos........................................................... 118
15. Antidiabéticos............................................................. 118
Capítulo 14 - Gestação gemelar......................................... 123

16. Antidiarreicos.............................................................. 119 1. Introdução..................................................................... 123


17. Antieméticos............................................................... 119 2. Incidência e epidemiologia........................................... 123
3. Zigoticidade e corionicidade......................................... 123 Cap. 13 - Drogas e gestação............................................. 229
4. Diagnóstico................................................................... 125 Cap. 14 - Gestação gemelar............................................. 232
5. Particularidades e complicações maternas Cap. 15 - Prematuridade.................................................. 235
relacionadas................................................................. 125
6. Complicações fetais...................................................... 126
COMENTÁRIOS
7. Complicações específicas............................................. 127
8. Gestação monoamniótica............................................. 129 Cap. 1 - Fisiologia da gestação......................................... 243
9. Gestações trigemelares ou de ordem maior................ 129 Cap. 2 - Modificações locais e sistêmicas no organismo
10. Acompanhamento pré-natal...................................... 130 materno.............................................................. 245

11. Resolução da gestação e parto................................... 130 Cap. 3 - Relações uterofetais............................................ 252

12. Resumo....................................................................... 131 Cap. 4 - O trajeto.............................................................. 255


Cap. 5 - O parto................................................................ 256
Capítulo 15 - Prematuridade............................................... 133 Cap. 6 - Puerpério............................................................. 267
1. Introdução..................................................................... 133 Cap. 7 - Assistência pré-natal........................................... 270
2. Fatores de risco associados.......................................... 133 Cap. 8 - Tocurgia............................................................... 282
3. Prevenção..................................................................... 135 Cap. 9 - Pesquisa de maturidade fetal............................. 284
4. Condução do trabalho de parto prematuro................. 137 Cap. 10 - Pós-datismo e gestação prolongada................. 285
5. Resumo......................................................................... 142 Cap. 11 - Oligoâmnio e polidrâmnio................................ 286
Cap. 12 - Vitalidade fetal.................................................. 288
Casos clínicos......................................................................... 143
Cap. 13 - Drogas e gestação............................................. 294
Cap. 14 - Gestação gemelar............................................. 296
QUESTÕES Cap. 15 - Prematuridade.................................................. 299

Cap. 1 - Fisiologia da gestação......................................... 161


Referências bibliográficas................................................304
Cap. 2 - Modificações locais e sistêmicas no organismo
materno............................................................... 164
Cap. 3 - Relações uterofetais............................................ 171
Cap. 4 - O trajeto.............................................................. 175
Cap. 5 - O parto................................................................ 178
Cap. 6 - Puerpério............................................................. 193
Cap. 7 - Assistência pré-natal........................................... 198
Cap. 8 - Tocurgia............................................................... 212
Cap. 9 - Pesquisa de maturidade fetal............................. 215
Cap. 10 - Pós-datismo e gestação prolongada................. 216
Cap. 11 - Oligoâmnio e polidrâmnio................................ 219
Cap. 12 - Vitalidade fetal.................................................. 220
CAPÍTULO 1
OBSTETRÍCIA

Fisiologia da gestação
Fábio Roberto Cabar

1. Fisiologia da gestação
O ovário, mensalmente, gera um folículo contendo um
oócito. A eclosão desse folículo, chamada ovulação, libera
esse precursor do gameta feminino. A tuba uterina capta o
oócito, e, na sua porção distal, há o encontro dos gametas
masculinos com o gameta feminino.
A fecundação é a fusão dos 2 pró-núcleos, masculino e
feminino. Quando isso acontece, a estrutura celular resul-
tante é denominada ovo ou zigoto. O ovo sofre uma série
de divisões celulares sucessivas, processo chamado seg-
mentação. A cada divisão, são formadas células denomina-
das blastômeros. O conjunto de blastômeros forma a massa
denominada mórula, que alcança a cavidade uterina ao re-
dor do 5º dia. As sucessivas divisões prosseguem, aparece
Figura 1 - Ovulação, fecundação, segmentação e nidação
certa diferenciação celular, e é formada uma cavidade com
as células formadoras do embrião concentradas em um dos Até o 4º mês de gravidez, são reconhecidas várias divi-
polos dessa estrutura, o blastocisto. sões topográficas na decídua: a decídua basal é aquela sobre
A nidação inicia-se cerca de 1 semana após a ovulação, a qual se deu a nidação; a decídua capsular é a parte que
entre o 6º e o 8º dias, e se completa alguns dias depois, recobre o ovo; a decídua marginal é a que se encontra en-
quando encontra o endométrio em plena fase secretora. O tre a decídua basal e a capsular e corresponde ao contorno
1º contato gera a destruição do epitélio e do estroma en- equatorial do ovo; e, finalmente, a decídua parietal, que é a
dometriais, ação causada por enzimas e pelo grande poder porção que reveste o restante da superfície interna do útero.
invasor das células trofoblásticas. As decíduas parietal e basal apresentam 3 camadas: a
Após breve período de edema, as células do estroma superficial ou compacta, a média ou esponjosa e a profun-
endometrial sofrem a transformação decidual. Esta se inicia da ou basal. As 2 primeiras camadas representam a zona
ao redor dos vasos sanguíneos, sob o local da implantação, funcional e se destacam com a dequitação. A zona basal
e se estende rapidamente. Por volta do 18º dia, todo o en- remanescente, no decorrer do puerpério, será responsável
dométrio já apresenta reação decidual. As células deciduais por refazer o endométrio.
são volumosas, poliédricas ou arredondadas, com núcleo Atribuem-se várias funções à decídua. Ela protege o ovo
arredondado e vesicular, citoplasma claro e circundado por da destruição e lhe assegura o alimento na fase inicial da
membrana translúcida. placentação. Quando o endométrio não sofre a necessária

21
deciduação, ocorre o acretismo placentário. Quando a bar-
reira protetora da decídua está ausente, os vilos invadem a
musculatura uterina e lhe corroem o travejamento.
O trofoblasto, componente embrionário, e a decídua,
componente materno, contribuem para a formação da
placenta. As vilosidades coriônicas primárias, secundá-
rias e terciárias, que originam os troncos coriais, surgem
a partir do trofoblasto, derivadas diretamente do cório
frondoso, na área de implantação do embrião. O poten-
cial de invasão do tecido trofoblástico possibilita a des-
truição do tecido conjuntivo e dos vasos sanguíneos da
decídua basal e do miométrio. A formação dessas cavita-
ções cria lacunas entre as vilosidades coriais, os espaços
intervilosos, que se enchem de sangue materno prove-
niente dos vasos destruídos. Os septos deciduais, tecido
preservado da invasão trofoblástica, delimitam os lobos
Figura 2 - Útero gravídico
placentários (Figura 3).

Figura 3 - Trofoblasto e formação de vilosidades coriais

Figura 4 - Corte sagital da placenta

22
CAPÍTULO 2
OBSTETRÍCIA

Modificações locais e sistêmicas no


organismo materno
Fábio Roberto Cabar

1. Introdução entre a sínfise e a cicatriz umbilical, passando a crescer 1cm


por semana a partir desse momento.
Diversas alterações ocorrem em diferentes órgãos e sis- As glândulas cervicais também sofrem hiperplasia e hi-
temas da mulher grávida para possibilitar o adequado de- pertrofia desde o início da gestação, resultando, na maioria
senvolvimento do embrião durante a gestação. das vezes, na exposição da junção escamocolunar. Esse fato
As modificações nos órgãos genitais ocorrem preco- torna a ectocérvice friável e mais suscetível a traumatismos
cemente e ao longo de toda a gestação. As modificações e sangramentos.
sistêmicas, por sua vez, proporcionam o indispensável às Após a nidação, é verificado amolecimento na zona de
necessidades metabólicas, possibilitando a formação dos implantação do embrião. Este se propaga por todo o órgão,
tecidos e órgãos e fornecendo reservas nutricionais para a principalmente nas regiões do istmo (sinal de Hegar – Figu-
vida neonatal. ras 1 e 2) e do colo uterino (sinal de Goodell). É a embebi-
As exigências da gestação podem atingir os limites da ção gravídica que torna o útero mole e pastoso.
capacidade funcional de muitos sistemas maternos, ocasio-
nando o aparecimento de quadros patológicos ou o agrava-
mento dos preexistentes.

2. Modificações locais
A - Útero
As modificações locais ou genitais acontecem principal-
mente no útero, local onde o ovo se nidifica e se desenvol-
ve. O útero apresenta modificações de volume, consistên-
cia, forma, situação e coloração.
Durante a gestação, acontecem hipertrofia e hiperplasia
celular, que modificam o peso e o volume uterinos. O estímu-
lo hormonal (principalmente estrogênico) e o crescimento
fetal fazem que, ao final da gestação, o útero gravídico pese
cerca de 1.000g e tenha capacidade de 4 a 5L. O crescimento
do útero não é regular ao longo da gestação: por volta da 12ª
semana, o fundo uterino pode ser palpado pouco acima da
sínfise púbica; ao redor de 16 semanas, está a meia distância Figura 1 - Avaliação para a presença do sinal de Hegar

27
Devido ao maior afluxo sanguíneo à região genital, o
corpo, o istmo e o colo do útero se tornam violáceos. A
mesma alteração pode ser notada na vagina (sinal de Jac-
quemier) e na vulva (sinal de Kluge).

Figura 2 - Identificação de sinal de Hegar no útero

Até a 20ª semana de gestação, o útero adquire forma Figura 4 - Sinal de Piskacek: abaulamento no local da implanta-
esférica, ocupando os fórnices vaginais laterais (sinal de ção do embrião; projeção de crescimento uterino ao longo da
Nobile-Budin – Figura 3). Pouco depois, inicia-se a transfor- gestação
mação da forma globosa para a cilíndrica.
No 1º trimestre, o útero acentua a sua atitude fisiológi-
ca de anteversoflexão, ocasionando compressão vesical e B - Ovários
polaciúria. Após esse período, verifica-se a dextroversão do As veias ovarianas se ampliam. Não há maturação de
órgão, o que muitos autores atribuem à presença do cólon novos folículos, e o corpo lúteo, com vascularização exu-
sigmoide à esquerda. Com o crescimento do corpo uterino, berante e células com maior quantidade de citoplasma,
o colo do útero é deslocado posteriormente. Próximo ao persiste até a 12ª semana. Quando a produção de gonado-
termo da gestação, a insinuação fetal proporciona o alinha- trofina coriônica humana começa a declinar, o corpo lúteo
mento do colo com o eixo vaginal. O comprimento do colo regride, ficando com metade do volume máximo próximo
uterino reduz-se progressivamente até o parto. ao termo da gestação.

C - Vulva e vagina
Durante a gestação, a vagina e a vulva sofrem tumefa-
ção. A embebição gravídica torna a mucosa vaginal ede-
matosa, mole e flexível. O tecido conjuntivo torna-se mais
frouxo, e a musculatura lisa fica hipertrofiada, para suportar
a distensão que acontece durante o parto. A vascularização
da vagina se intensifica, e as veias se hipertrofiam. O pulso
vaginal pode se tornar reconhecível nos fundos de saco la-
terais (sinal de Osiander).
Quanto à histologia vaginal, durante o 1º trimestre da
gestação, observam-se aglutinação celular, proliferação de
células da camada intermediária e intensificação do pa-
drão progestacional. Há aumento das secreções vaginais
pela exacerbação da flora de bastonetes e pela intensa
descamação celular estimulada por ação hormonal. No 2º
e no 3º trimestres, ocorrem estabilização do padrão gra-
vídico, aceleração da aglutinação celular e aparecimento
de células naviculares na camada intermediária. No perí-
Figura 3 - Sinal de Nobile-Budin odo pré-parto, notam-se dispersão celular, alteração do

28
CASOS CLÍNICOS
OBSTETRÍCIA

2014 - FMUSP seguimento pré-natal no 1º trimestre, fez uso irregular de


polivitamínicos e realizou apenas 2 ultrassonografias em fi-
1. Uma primigesta de 28 anos, com idade gestacional de nais de semana, em clínicas particulares. Os resultados de
33 semanas, em tratamento com cefalexina há 72 horas de
exames de rotina realizados no início da gravidez foram:
infecção urinária por E. coli sensível ao medicamento, pro-
cura atendimento médico em pronto-socorro por dor ab- Tipagem sanguínea A+
dominal e lombar. Refere que tem apresentado dor lombar Hb 11,5g/dL
durante toda a gestação e faz sessões de fisioterapia. Outro Ht 35%
antecedente: tabagismo. O seu cartão de pré-natal revela Glicemia 108mg/dL
hemoglobina = 9,5g/dL e hematócrito = 31%. Exame clíni- Sorologias para HIV, sífilis e he-
Negativas
co: afebril, com PA = 110x60mmHg, pulso = 86bpm, altura patites B e C
uterina = 30cm, batimento cardíaco fetal = 144bpm, rítmico, Sorologias para rubéola IgG positiva e IgM negativa
com apresentação cefálica e 1 contração uterina a cada 5 Sorologias para toxoplasmose IgG positiva e IgM negativa
minutos, com duração de 40 segundos. Toque vaginal: colo Sedimento urinário Sem alterações
pérvio para 2cm, esvaecido 70%, além de bolsa íntegra. Urocultura Negativa

a) Cite o diagnóstico obstétrico que motivou a consulta. Ultrassonografia feita com 10 semanas mostrou biometria
fetal compatível com a idade gestacional menstrual, ges-

CASOS CLÍNICOS
tação tópica e feto único. Na 2ª ultrassonografia, realiza-
da na 34ª semana de gestação, o feto estava em situação
longitudinal, em apresentação cefálica, com peso estima-
do de 3.200g, placenta anterior grau I e índice de líquido
amniótico = 26cm.

Valores de referência para o


Índice de Liquido Amniótico (ILA) – Phelan et al., 1987
ILA Classificação
b) Pelo exposto, liste 3 fatores que predispõem a essa con- <5cm Oligoidrâmnio
dição. De 5,1 a 8cm Líquido amniótico reduzido
De 8,1 a 18cm Normal
De 18,1 a 24,9cm Líquido amniótico aumentado
≥25cm Polidrâmnio

Valores de referência para estimativa ultrassonográfica


do peso fetal entre 24 e 40 semanas de gestação
(Hadlock et al., 1984)
Idade gesta- Peso fetal estimado (g)
cional (se-
Percentil 5 Percentil 50 Percentil 95
manas)
24 551 740 929
c) Cite as 3 principais condutas terapêuticas para a condi- 25 593 790 987
ção que motivou a procura ao pronto atendimento. 26 648 870 1.092
27 733 980 1.227
28 824 1.120 1.416
29 979 1.300 1.621
30 1.128 1.490 1.852
31 1.289 1.700 2.111
32 1.459 1.920 2.381
33 1.630 2.140 2.650
34 1.792 2.355 2.918
35 1.957 2.570 3.183
36 2.130 2.780 3.430
2014 - FMUSP 37 2.291 2.970 3.649
2. Uma primigesta de 30 anos comparece à Unidade Bá- 38 2.432 2.355 3.838
sica de Saúde, no final do 8º mês de gravidez (35ª semana), 39 2.564 3.280 3.996
para pegar encaminhamento para o parto. Abandonou o 40 2.693 3.400 4.107

145
QUESTÕES
OBSTETRÍCIA

Fisiologia da gestação b) na gravidez avançada, o estradiol representa 90% dos


estrogênios totais eliminados
c) a placenta elabora estrogênio a partir do colesterol
2015 - INCA d) a placenta elabora lactogênio placentário, tireotrofina
1. O organismo materno sofre mudanças anatômicas coriônica, estrogênio e progesterona
e funcionais durante a gravidez, nas mais variadas esfe- e) a concentração sérica materna de lactogênio placentário
ras – molecular, bioquímica, hormonal, celular e tecidual atinge seus maiores valores no 2º trimestre de gestação
– para, enfim, reorganizar a função de todos os órgãos e  Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
aparelhos de forma harmônica, tornando-se capaz de re-  Reler o comentário  Encontrei dificuldade para responder
definir um novo equilíbrio adaptativo para a presença de
um feto. Sobre as repercussões da gravidez no organismo 2014 - SUS-SP
materno, assinale a alternativa correta:
5. Uma paciente com atraso menstrual de 9 semanas dá
a) a partir da 2ª metade da gravidez, inicia-se o período ca-
entrada no pronto-socorro com queixa de sangramento
tabiótico, com lipólise, gliconeogênese e resistência pe-
vaginal doloroso. Apresenta beta-HCG = 1.764mUI/mL e
riférica a insulina, para manter o desvio de glicose para
a ultrassonografia transvaginal não demonstra saco ges-
o feto
tacional tópico e revela eco endometrial de 20mm. Neste
b) a concentração de hemoglobina e o volume eritrocitário
caso, é correto afirmar que:
absoluto encontram-se reduzidos na gravidez
a) a curetagem uterina se faz mandatória para exclusão de
c) a secreção gástrica está aumentada na gravidez, sendo a
moléstia trofoblástica gestacional através do anatomo-
principal causa de azia e de refluxos gastroesofágicos
patológico
d) os principais fatores de coagulação alterados na gravi-
b) o eco endometrial espessado configura abortamento in-
dez são XI e XIII, levando a um quadro de hipercoagula-
completo e deve-se internar a paciente para a realização
bilidade na gravidez
de curetagem uterina
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão c) a ausência de imagem intrauterina confirma o diagnós-
 Reler o comentário  Encontrei dificuldade para responder tico de gestação ectópica e deve-se internar a paciente
para laparotomia exploradora
2015 - UFSC d) trata-se de possível gestação incipiente e deve-se fazer
2. Qual é a principal função da gonadotrofina coriônica? controle seriado do beta-HCG
a) estimular a função hipofisária e) trata-se de gestação ectópica, mas o baixo valor de be-
b) manter a secreção de progesterona placentária ta-HCG e a ausência de imagens sugestivas em regiões
c) manter o corpo lúteo anexiais permitem a conduta expectante com controle
d) estimular a produção de lactogênio placentário seriado do beta-HCG

QUESTÕES
e) estimular o desenvolvimento das gônadas fetais  Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão  Reler o comentário  Encontrei dificuldade para responder
 Reler o comentário  Encontrei dificuldade para responder
2014 - UEL
2015 - IOG 6. Uma paciente de 34 anos, secundípara, queixa-se de
3. A troca gasosa entre a mãe e o feto é: amenorreia há 4 meses. Nega doenças de base, cirurgias ou
a) favorecida pelo gradiente da pO2 alergias. Há 30 dias, apresenta desconforto no baixo-ven-
b) dificultada pela afinidade da hemoglobina fetal ao oxi- tre, em peso, sem associação a coito. Utiliza condom como
gênio método contraceptivo há 12 anos. Sem outras informações
c) dificultada pela moderada hiperventilação da gestante dignas de nota. Para essa paciente, deve-se descartar:
d) favorecida pela baixa concentração de hemoglobina do a) alteração mülleriana congênita
lado fetal b) doença inflamatória pélvica
e) dificultada pela maior afinidade do CO2 no sangue ma- c) gestação
terno d) menopausa
 Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão e) síndrome de Sheehan
 Reler o comentário  Encontrei dificuldade para responder  Tenho domínio do assunto  Refazer essa questão
 Reler o comentário  Encontrei dificuldade para responder
2015 - IOG
4. Com relação à Endocrinologia da gravidez, é correto afir- 2014 - AMRIGS
mar que: 7. Uma mulher de 25 anos, em atraso menstrual de 10 dias,
a) o fenômeno apical do HCG ocorre após 20 semanas da comparece à Emergência referindo cólicas moderadas.
gestação Nega disúria, febre ou sangramento vaginal. Foram solici-

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COMENTÁRIOS
OBSTETRÍCIA

Fisiologia da gestação coriônicas até o local da união do cordão umbilical, onde


convergem formando a veia umbilical.
Questão 1. A partir da 2ª metade da gravidez, inicia-se o pe- Gabarito = A
ríodo catabiótico, com lipólise, gliconeogênese e resistência
periférica a insulina, para manter o desvio de glicose para Questão 4. O HCG começa a ser secretado pelo sinciciotro-
o feto – essa alteração é causada pelos hormônios placen- foblasto na 2ª semana, mantendo o corpo lúteo íntegro e
tários, especialmente o lactogênio placentário. A concen- funcional. O valor máximo na urina e no sangue ocorre na
tração de hemoglobina encontra-se diminuída, e o volume 8ª semana. A progesterona é produzida a partir de coleste-
eritrocitário absoluto está aumentado na gravidez. A ação rol materno e substitui o corpo lúteo após o 1º trimestre.
da progesterona nos músculos, causando miorrelaxamento, O estrogênio é produzido pelo sinciciotrofoblasto a partir
é a principal causa de azia e refluxos gastroesofágicos – isso da deidroepiandrosterona da gestante e do feto, sendo o
ocorre de forma a relaxar o esfíncter gastroesofágico e au- principal estrogênio produzido na gestação o estriol. A pro-
mentar o tempo de esvaziamento gástrico, situações que gesterona causa um efeito relaxante no útero, diminuindo
favorecem a ocorrência da azia e do refluxo. Os fatores de sua contração e reduzindo a chance de aborto espontâneo.
coagulação VII, VIII, IX e X se encontram aumentados; em A concentração sérica materna de lactogênio placentário
atinge seus maiores valores no 3º trimestre de gestação.
contrapartida, os fatores XI e XIII estão diminuídos no final
da gestação. A atividade das proteínas C e S e antitrombina Gabarito = D
III, por sua vez, não se altera.
Questão 5. O índice discriminatório de beta-HCG é de 1.000
Gabarito = A
a 2.000mUI/mL, o que significa dizer que se espera identifi-
car, à ultrassonografia, imagem de saco gestacional tópico
Questão 2. A gonadotrofina coriônica humana (HCG) é uma
com níveis de beta-HCG acima de 2.000mUI/mL. No caso
glicoproteína hormonal produzida pelas células trofoblásti-
apresentado, o valor de beta-HCG está abaixo desse limite
cas sinciciais nos líquidos maternos. No início da gravidez, (1.764mUI/mL), o que pode justificar a não identificação do
as concentrações de HCG no soro e na urina da mulher saco gestacional tópico. Não há nenhum sinal de exame físi-
aumentam rapidamente. De 7 a 10 dias após a concepção, co (massa anexial palpável) nem imagem ultrassonográfica
a concentração alcança 25mUI/mL e aumenta ao pico de (embrião fora do útero, líquido livre) que mostre tratar-se
37.000 a 50.000mUI/mL entre 8 e 11 semanas. A HCG tem de gestação ectópica nem mesmo moléstia trofoblástica.
papel importante na manutenção do corpo lúteo para a Sendo assim, o mais provável é que seja uma ameaça de
contínua produção de progesterona até a placenta ter de- aborto em gestação inicial (incipiente), em que não foi pos-
senvolvimento suficiente para assumir sua produção duran- sível, ainda, identificar saco gestacional.
te toda a gravidez. As outras ações não são desempenhadas Gabarito = D
diretamente pela HCG.
Gabarito = C Questão 6. Paciente jovem, com vida sexual ativa e ame-
norreia sempre deve ter descartado o diagnóstico de gesta-
Questão 3. O sangue desoxigenado chega à placenta pelas ção. Síndrome de Sheehan (infarto hipofisário) é patologia
artérias umbilicais. No local onde o cordão se une à placen- pós-parto. Menopausa é a presença de amenorreia por pe-
ta, essas artérias se dividem em várias artérias coriônicas, ríodo de, pelo menos, 12 meses. Doença inflamatória pélvi-
dispostas radialmente, que se ramificam amplamente na ca não cursa com amenorreia.
placa coriônica, antes de penetrarem nas vilosidades coriô- Gabarito = C
nicas. Nestas, os vasos sanguíneos formam um extenso sis-
tema arteriocapilar venoso, levando sangue fetal para bem Questão 7. O quadro clínico mais comum nos casos de abor-
próximo do sangue materno onde esse sistema cria uma tamento e gestação ectópica compreende dor abdominal,
superfície muito grande para as trocas de produtos meta- sangramento vaginal e sangramento vaginal. Não é necessá-
bólicos e gasosos entre as correntes sanguíneas materna rio, entretanto, que estejam presentes os 3 sintomas ao mes-
e fetal. Normalmente, não há mistura de sangue fetal com mo tempo. O teste de gravidez é positivo, entretanto abaixo
materno. A troca gasosa entre a mãe e o feto é favorecida da linha discriminatória necessária para a identificação de
COMENTÁRIOS

pelo gradiente da pO2. Os mecanismos principais de trans- saco gestacional intraútero (1.500 a 2.000mUI/mL). Desta
porte são difusão simples, difusão facilitada, transporte forma, pode-se afirmar que o exame ultrassonográfico é nor-
ativo e pinocitose. A transferência de gases é realizada por mal. Assim, o diagnóstico “de momento” é gestação inicial.
difusão simples e depende, principalmente, do fluxo san- Beta-HCG deve ser repetido em 48 horas; caso aumente mais
guíneo adequado no local de troca. A membrana placen- que 54% em 48 horas, o diagnóstico será confirmado; caso
tária tem eficiência bem próxima da membrana alveolar. O aumente menos que isso, será provável gestação de mau
sangue fetal bem oxigenado nos capilares fetais passa para prognóstico; se diminuindo, diagnóstico de aborto.
as veias de paredes delgadas, que acompanham as artérias Gabarito = A

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