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27 de Março de 2021

Correios deve indenizar por extravio de correspondência

A Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais


(TNU), na sessão realizada nesta quarta-feira, dia 20 de fevereiro,
reafirmou o entendimento de que “é possível a fixação da obrigação de
compensar danos morais pelo extravio de encomenda postada nos
Correios, ainda que não tenha havido a declaração do valor e nem a
contratação de seguro”. Para o relator do processo na TNU, juiz federal
Luiz Claudio Flores da Cunha, na fixação de uma indenização por
danos morais, a declaração de valor e contratação de seguro são
irrelevantes, uma vez que a ocorrência do dano moral se dá pela falha
do serviço em si e a compensação não guarda relação com o valor dos
bens supostamente postados.

No caso em questão, a autora da demanda conta que postou pelo


serviço SEDEX dos Correios uma caixa pesando 8,3kg contendo 61
peças de roupas (sendo 55 blusas, 3 vestidos e 3 macacões), compradas
em Goiânia (GO) e que seriam revendidas em Altamira (PA). A
encomenda se extraviou entre Palmas e Belém e, como não havia valor
declarado da mercadoria, a empresa se propôs a reembolsar os custos
da postagem, no valor de R$ 90,90, além do pagamento de uma
indenização padrão de R$ 50,00. A proposta foi recusada pela autora,
que resolveu procurar a Justiça Federal.

Residente em Tocantins, ela ajuizou a ação no 3º JEF de Palmas, e já


na sentença, embora a prova apresentada (nota fiscal das compras
realizadas) não tenha sido reconhecida como suficiente para suprir a
ausência de valor declarado e a não contratação do seguro, o juízo
entendeu que, além da indenização padrão ofertada pelos Correios,
deveria ser pago o valor de R$ 2 mil, por danos morais, pela falha do
serviço, prestado com monopólio pelos Correios. “Sustentar que a
autora não experimentou alguma dor e desconforto pelo sumiço da
correspondência é aceitar que a empresa pública prestadora do serviço
pode indiscriminadamente extraviar as correspondências postadas,
sem que esse fato cause qualquer repercussão no espírito de quem as
remete. O remetente ao enviar a carta confia que esta será entregue”,
entendeu o magistrado no 1º grau.

No mesmo sentido, decidiu também a 1ª Turma Recursal da Seção


Judiciária do Tocantins, ao confirmar a condenação da empresa ao
pagamento pelos danos morais presumidos. Coube, então, aos Correios
recorrer à TNU. E, novamente, não obteve sucesso. Em seu voto, o juiz
Luiz Claudio Flores da Cunha manteve o entendimento exposto pela
sentença e pelo acórdão, por refletirem, no sentir do magistrado, “a
melhor forma de se prestar justiça e de se conferir responsabilidade a
quem deu causa ao evento danoso”, escreveu. Ele considerou que o
extravio decorreu de falha no serviço prestado pela empresa pública,
que detém o monopólio do serviço e que deve zelar para atingir nível
zero de falhas.

Segundo ele, a compensação foi fixada em valor que não guardou


qualquer relação com os bens materiais supostamente postados pela
autora, não havendo, portanto, nenhuma contradição com a negativa
de indenização de danos materiais e nem tentativa de substituição,
ante a fragilidade das provas. E explicou: “a autonomia do dano moral
em relação ao dano material é uma conquista do Direito, que deve ser
mantida, não se reconhecendo aos bens materiais prevalência sobre os
bens imateriais”.

Nesse sentido, o juiz destacou os aspectos imateriais que corroboram


seu entendimento. “Os Correios parecem considerar que um extravio é
apenas um extravio e nada mais, mas não é assim. Ainda que não tenha
valor econômico indenizável, correspondências carregam sentimentos,
atenção, sonhos, desculpas, pedidos de ajuda, saudades e tantas outras
coisas do mundo invisível, nem por isso, menos importantes de nossas
almas. E sentimentos, atenção, sonhos, desculpas, pedidos de ajuda,
saudades, se não respondidos, se não correspondidos, podem gerar,
separação, dor, sofrimento, frustração, culpa, ira, ódio e tantos outros
sentimentos do reverso daqueles”, concluiu o magistrado.

Processo 0016233-59.2010.4.01.4300

Disponível em: https://jf.jusbrasil.com.br/noticias/100352349/correios-deve-indenizar-por-


extravio-de-correspondencia

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