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PROJUDI - Processo: 0002358-87.2020.8.16.0139 - Ref. mov. 1.

6 - Assinado digitalmente por Antonio Marcos Penteado de Carvalho


08/10/2020: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJXYG JCYCT TEWNV GJLC3
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE
PRUDENTÓPOLIS – PARANÁ

MARIA LUCIA DOS SANTOS PACHECO, brasileira, viúva, aposentada,


regularmente inscrita no CPF/MF sob o nº 607.340.949-49, RG nº 9.867.398-9,
residente e domiciliada à Rua Lécia Ukreinka, nº 40, nesta cidade e comarca de
Prudentópolis – PR; ABEGAIL DAS GRAÇAS SILVA, brasileira, casada, aposentada,
regularmente inscrita no CPF/MF nº 608.759.689-53, RG nº 8.898.831-0, residente e
domiciliada à Rua Robério Teixeira Marcondes, nº 211, na cidade de Guarapuava,
Paraná; AFONSO BATISTA DA SILVA, brasileiro, casado, aposentado, CPG nº
221.709.019-49, RG nº 3.212.197-7, residente e domiciliado à Rua Robério Teixeira
Marcondes, nº 211, na cidade de Guarapuava, Paraná; EDENIR APARECIDA DA SILVA
CARNEIRO, brasileira, casada, diarista, regularmente inscrita no CPF nº 860.348.479-15,
RG nº 7.378.410-7, Residente e domiciliada à Rua Topografo, nº 1271, na cidade de
Guarapuava, Paraná; JANE MARILDA PACHECO, brasileira, convivente, servente geral,
regularmente inscrita no CPF/MF sob o nº 033.644.529-62, RG nº 7.316.971-2,
residente e domiciliada à Rua Aleixo Thomas, nº 552, nesta cidade de Prudentópolis –
PR, por intermédio de seu procurador, vem diante de Vossa Presença, impetrar

AÇÃO DE INDENIAÇÃO POR DANO MORAL, em face de:

HOSPITAL DE CARIDADE SÃO VICENTE DE PAULO, pessoa jurídica de


direito regularmente inscrita no CNPJ nº 77.893.469/0001-21, com sede localizada à
Rua Marechal Floriano Peixoto, nº 1059, Centro, na cidade de Guarapuava – PR, pelos
fatos de razão e direitos a seguir expostos:
PROJUDI - Processo: 0002358-87.2020.8.16.0139 - Ref. mov. 1.6 - Assinado digitalmente por Antonio Marcos Penteado de Carvalho
08/10/2020: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

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I. DOS FATOS:

Os fatos que trazem as requerentes a socorrerem-se ao Judiciário são de


uma peculiaridade contumaz. A Primeira Requerente, Maria Lucia, é mãe da Segunda
Requerente Jane Marilda.

No mês de abril do ano de 2019, a requerente Jane estava servindo um


buffet, quando fora surpreendida por um senhor já de certa idade, que a questionou o
seguinte:

- Você é filha da Maria Lucia?


- Sim, sou filha dela. – Respondeu Jane.
- Me conte, como que ficou a história da filha mais velha dela que foi trocada
na maternidade? – Questionou aquele senhor.

Diante de tal questionamento, Jane ficou perplexa e confusa, pois ela era a
filha mais velha da dona Maria Lucia...

Meio desconcertada, Jane se fez de desentendida e guardou para si aquela


situação. Contudo, após alguns dias de reflexão, Jane não pode deixar de comentar tal
ocorrido com sua mãe, Maria Lucia, pois de fato, ela é fisicamente diferente dos irmãos e
dos pais.

Ao levar à sua mãe o pitoresco fato, no mesmo momento, dona Maria Lucia
entrou em verdadeiro pânico e crise de choro com o questionamento levado pela filha.
Nesse momento, Jane percebeu que o que aquele senhor havia falado para ela tinha, de
fato, algum fundamento.
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Após algum tempo, dona Maria Lucia se acalmou e pode narrar a sua filha a
história ocorrida no ano 1972, quando do nascimento de Jane.

Dona Maria Lucia deu à luz a uma menina, no dia 08 de junho do ano de
1972, no Hospital São Vicente de Paulo, na cidade de Guarapuava – PR, assim como
corrobora a certidão de nascimento anexa. Foi um parto difícil. O bebê precisou ser retirado
com o auxílio de fórceps.

Logo após seu nascimento, a equipe médica mostrou a bebê a dona Maria,
que visualizou uma manchinha – não se sabe se de nascimento ou decorrente do uso de
fórceps – na região da testa na criança. Logo, aquela menininha fora levada ao berçário do
hospital, e lá permaneceu até que a equipe médica pudesse reestabelecer dona Maria, para
amamentar sua filha.

Após tal espera, fora trazida Jane à dona Maria, que no mesmo momento
estranhou-a, pois aquela menininha não possuía a manchinha e não guardava semelhança
com a criança mostrada a ela primeiramente.

Nesse momento, dona Maria disse “Esse neném não é o meu!”, o que
causou muita estranheza aos presentes, inclusive ao marido de dona Maria, o finado João
Pacheco que, desacreditado no que a recém-parturiente afirmou, disse “não fale bobagens
mulher, você está louca?”, acreditando ser impossível a troca de bebês no berçário de um
hospital.

Ainda, dona Maria questionou a então equipe médica que estava presente,
a qual falou que é impossível, que aquele neném era o mesmo que dona Maria pariu.

Assim, a jovem mãe, acreditando que estava enganada e que aquele neném
era realmente a mesma que trouxera ao mundo, foi para casa e seguiu com sua vida,
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notando que no pulso da recém-nascida Jane Marilda, estava com uma fitinha, feita de
esparadrapos, onde estava escrito o nome “Abegail”, o que dona Maria pensou – por ser
muito jovem na época, “mãe de primeira viagem”, e não ter conhecimento de
determinados procedimentos – que esse era o nome da cuidadora do berçário.

Transcorrido mais de dois anos, dona Maria engravidou de seu segundo


filho, dando à luz também no Hospital São Vicente de Paulo, em Guarapuava. Foi aí que
dona Maria percebeu que havia acontecido algo de errado no nascimento de sua
primogênita, posto que a fitinha feita de esparadrapos colada ao pulso de seu segundo
filho, constava o nome “Maria Lucia”, ou seja, o nome da mãe do bebê.

Dona Maria entrou em total desespero... Após isso, durante muito tempo
ela foi ao Hospital São Vicente apresentando tais informações – de que a primeira filha veio
com uma fitinha com o nome “Abegail” e o segundo filho com a mesma fitinha, mas com o
nome “Maria Lucia” – mas nunca fora levara em consideração seus argumentos e dona
Maria fora considerada insana, até mesmo por seus familiares, que jamais acreditaram em
história tão fantasiosa.

Depois de algum tempo, dona Maria começou apresentar sinais de


depressão, tendo algumas crises de ansiedade por conta da situação. Por fim, dona Maria
teve uma crise tão forte de ansiedade que seu finado marido teve que levá-la ao hospital,
onde ela ficou em observação por um dia inteiro.

Após a alta, seu marido, extremamente cético conquanto a história da troca


de bebes na maternidade, conversou seriamente com dona Maria, expondo seu ponto de
vista, de que ele não acreditava que sua filha havia sido trocada na maternidade e que se
dona Maria insistisse em tal história, ela teria que procurar auxílio psiquiátrico,
considerando o disparate dos fatos.
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Assim, sem poder confirmar se Jane era de fato filha biológica de dona
Maria e seu João Pacheco – posto que o exame de DNA fora inventado no ano de 1985 nos
EUA, e importado de lá para cá somente na metade dos anos 90, tendo um custo de
aproximadamente R$ 10.000,00 (dez mil reais) na época, o que representava uma pequena
fortuna, tendo em vista que naquele tempo o salário mínimo era de apenes R$ 64,79
mensais –, bem como, o fato de a família estar na eminencia de considera-la louca, a
primeira requerente suprimiu aquela história e jamais mencionou tais fatos para sua filha,
Jane Marilda, até que esse senhor a questionou sobre o fato, em abril desse ano.

Desta feita, após Jane tomar conhecimento de tais fatos, sugeriu a sua mãe
a realização de um teste de DNA. Dona Maria, que não entende ao certo de que se trata
esse exame, pediu maiores explicações a Jane e concordou em fazê-lo.

Excelência, Jane tinha vontade de fazer esse exame somente para dizer a
sua mãe que é, de fato, filha biológica de dona Maria, mas infelizmente o resultado não foi
o esperado... Assim como comprova-se pelo anexo, dona Maria e Jane não possuem
vínculos genéticos.

Não cabe em palavras o tamanho do dano psicológico sofrido naquele


momento por ambas as autoras, Jane Marilda e Maria Lucia... Desde então, Jane vem
fazendo tratamento psiquiátrico e psicológico, passando a fazer uso de medicamentos
controlados para depressão e crise de ansiedade, assim como comprovam os atestados e
documentos anexos.

Logo, confirmando a ausência de laços biológicos entre as Autoras, pairou


sobre elas uma grande dúvida: quem, e onde estão, meus familiares biológicos? Assim, este
subscritor entrou em contato com a administração da Requerida, agendando uma reunião
para discutir um rumo ao caso, posto que, em tese, poderia haver interesse por parte deles
em solucionar o gigantesco imbróglio.
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Assim, no dia 13 de junho de 2019, a Autora Jane Marilda acompanhada
desse procurador, dirigiram-se ao Hospital São Vicente de Paulo para uma reunião com a
diretoria da Instituição, olvidando a realização de uma triagem de quais foram os
nascimentos naquele dia, e se naquela ocasião, o Hospital recebeu uma parturiente de
nome “Abegail”.

Contudo, foram informados de que não haveria a possibilidade de


realizar tal triagem sem a devida autorização judicial, o que fora compreendido pela
parte Requerente, fazendo-se a impetração de ação judicial.

Logo, no dia 01 de agosto de 2019, fora dada entrada na ação que


olvidava o fornecimento dos documentos atinentes às parturientes internadas naquele
dia 08 de junho de 1972, bem como, a realização de triagem dos mesmos para
realização de exames de DNA, que tramitou nesta comarca sob o nº 0002463-
98.2019.8.16.0139. Contudo, após realizada audiência de conciliação, percebeu-se que
a Requerida não tinha interesse algum na realização da triagem e elucidação dos fatos.

Assim, considerando alguns conhecidos das Autoras que tinham contato


com pessoas ligadas à mídia, a história aqui relatada foi televisionada pelo Repórter
Rudnei Vieira da empresa “Rede Massa de Televisão”, filial do STB, onde as Autoras Jane
Marilda e Maria Lucia relataram todos os fatos que tinham conhecimento.

Segue o link da referida reportagem para Vossa apreciação, Excelência:

https://www.facebook.com/watch/?v=232302107785767

A resposta não demorou a vir... Na semana seguinte a exibição da


referida reportagem, pessoas da família dos Autores Afonso, Abegail e Edenir entraram
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em contato via facebook com a Autora Jane Marilda e relataram as “coincidências”,
posto que Edenir nasceu no hospital São Vicente no mesmo dia que Jane Marilda, e o
nome de sua mãe é Abegail, assim como constava na pulseirinha de esparadrapos em
que a Autora Jane Marilda veio para sua casa ao nascer.

Desta feita, diante de tamanhas coincidências, fora promovido pela Rede


Massa de Televisão um encontro entre as duas famílias, bem como, a realização de
exames de DNA entre eles, custeados única e exclusivamente pela Rede Massa de
Televisão, posto que os Autores não tinham condições de arcar com a lavratura dos
mesmos, e os Requerentes negaram o pedido dos Autores de realizarem os exames,
mesmo a Ré tendo convênios com laboratórios, inclusive, possuindo um laboratório
dentro de suas dependências. O referido evento também fora televisionado,
colacionando o link para Vossa apreciação:

https://www.facebook.com/watch/?v=195441961693579

No mesmo dia desse encontro fora coletado material genético entre as


duas mães e as duas filhas, sendo que o resultado ficou pronto no dia 20 de março do
corrente ano. Neste dia, as Autoras Edenir e Jane Marilda foram convidadas a
participarem ao vivo do programa “Tribuna da Massa”, onde seria aberto o exame de
DNA, confirmando que, de fato, no dia 8 de junho de 1972 ocorreu a troca de bebês na
maternidade do Hospital São Vicente e Jane Marilda realmente é filha biológica de dona
Abegail e seu Afonso, e Edenir é filha biológica de dona Maria Lucia e seu João Pacheco
(em memória), assim como mostra os resultados dos exames de DNA anexos. Insta
observar que não fora possível a presença das mães, Maria Lucia e Abegail, e do pai,
Afonso, considerando que eles são idosos e fazem parte do grupo de risco na pandemia
do Covid-19, e encontravam-se em isolamento social.
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Segue o link da reportagem:

https://www.youtube.com/watch?v=7NKKBymgIK4&fbclid=IwAR3FTgPI-
5if6FrIYI_I5HornDLiItLbq2fz5O64E0QP2E28KCFeiCksYFE

Quanto tempo perdido, Excelência! Que vida os Autores levarão a partir de


agora?

Edenir JAMAIS conhecerá seu pai biológico, pois o Senhor João Pacheco é
falecido há alguns anos. Esse é um dano irreparável, e somente quem não tem pai ou mãe
tem condições de mensurar.

Os genitores Abegail, Maria Lucia e Afonso não tiveram o prazer de ver suas
filhas biológicas crescerem, casarem, terem filhos. De fato, dona Abegail e seu Afonso
criaram Edenir como se filha fosse, e dona Maria Lucia e seu João criaram Jane Marilda
também com muito amor e carinho, apesar da latente desconfiança nutrida por dona Maria
Lucia, mas depois desses acontecimentos, como fica o sentimento dessas pessoas?

As duas famílias construíram um laço de amor com suas filhas do coração


que nada pode acabar, contudo, e agora? Como todos eles ficam sabendo que a filha de
sangue era outra? E como fica a cabeça dessas mulheres, já avós, descobrindo agora com
quase 50 anos de idade, que seus pais NÃO são seus pais?

Como mensurar um dano desses, Excelência?!

O tempo jamais voltará atrás. As memórias, as boas e más história, as


experiências, a infância, a juventude, o início da vida adulta, jamais retornarão... O senhor
João Pacheco, pai biológico de Edenir, não retornará dos mortos para conhecer e conviver
com sua filha biológica. Os netos, que dizem as pessoas mais idosas serem a maior riqueza
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da vida de uma pessoa, não voltarão a ser crianças para conviver desde tenra idade com
seus avós biológicos e construírem as histórias mais doces e ternas de nossas vidas. A
vida/convívio de duas famílias não será mais a mesma.

Enfim, Excelência, fatos assim são autoexplicativos. Poderíamos mensurar o


dano sofrido pelos Autores somente utilizando-se da empatia, ou seja, da habilidade de nos
colocar dentro do problema alheio como se fosse nosso.

Desta feita, esses são os fatos que levam os Autores a socorrerem-se diante
das portas do Poder Judiciário, clamando pela reparação dos danos causados pela
Requerida, mesmo que dinheiro algum no mundo repare todas as feridas causadas por esse
infeliz acontecimento.

II. DOS DIREITOS:

O Professor Yussef Said Cahali conceitua dano moral como:


_________________________________________________________________
“Privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida do
homem e que são a paz, a tranquilidade de espírito, a liberdade individual, a
integridade individual, a integridade física, a honra e os demais sagrados afetos,
classificando-se desse modo, em dano que afeta a parte social do patrimônio
moral e dano que molesta a parte afetiva do patrimônio moral, dano moral que
provoca direta ou indiretamente dano patrimonial e dano moral puro." (Cahali,
Yussef Said. Dano Moral, Editora Revista dos Tribunais, SP, 1998, 2ª edição. p.
20)”.
_________________________________________________________________

Neste mesmo sentido, Maria Helena Diniz estabelece o dano moral como
“a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo ato
lesivo”. (DINIZ, 2003, p. 84).
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O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves, ao conceituar o dano moral
assevera que:
_________________________________________________________________
“É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a
dignidade, intimidade, etc., como se infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da
Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame
e humilhação” (GONCALVES, 2009, p.359).
_________________________________________________________________

A Legislação Brasileira é clara ao que concerne à temática dos Danos


Morais. Isso é evidenciado na Constituição Federal/88, no inciso V de seu 5º artigo:

_________________________________________________________________
Art. 5º (...)

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;
_________________________________________________________________

Agregando os fatos com a doutrina ante exposta, eclode a obrigação


jurídica da compensação dos direitos violados pelo Requerido, como evidencia o artigo
186 e 927 do Código Civil Brasileiro, senão vejamos:

_________________________________________________________________
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
_________________________________________________________________
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Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
_________________________________________________________________

Os artigos 944 e seguintes, estabelecem o modus operandi para se


estabelecer o quantum indenizatório, como facilmente se pode inferir:

_________________________________________________________________
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
_________________________________________________________________

Ainda, considerando que o fato exposto é relativamente raro de ocorrer,


pois tamanha irresponsabilidade é difícil de acontecer, colaciona-se a seguinte
jurisprudência, a qual no ano de 2018, em fase recursal, reduziu um dano moral
valorado em R$ 350.000,00 (trezentos e cinquenta mil reais) para um autor, e
R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil) para outro, para R$ 200.000,00 (duzentos
mil) por Autor. Vejamos:

___________________________________________________________________
CIVIL. PROCESSO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL INDENIZAÇÃO.
TROCA DE RECÉM-NASCIDOS EM MATERNIDADE ADMINISTRADA PELA UNIÃO.
NEXO DE CAUSALIDADE. REALIZAÇÃO DO EXAME DE DNA. VALOR DA
INDENIZAÇÃO, QUE SE REDUZ. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO.
PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO QUE SE REJEITA. GRATUITADE DA JUSTIÇA,
MANTIDA. APELAÇÕES DOS AUTORES E DA UNIÃO PROVIDAS PARCIALMENTE.
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FIXAÇÃO DOS JUROS DE MORA E DA CORREÇÃO MONETÁRIA. PARCIAL
PROVIMENTO À REMESSA OFICIAL. 1. Rejeita-se a prejudicial de prescrição para a
propositura da ação, tendo em vista que os autores tiveram conhecimento de que
efetivamente não desfrutaram da convivência de seus pais e mães biológicos, ao
longo de toda uma vida, somente a partir de 30.08.2006, com a elaboração do
laudo de exame de DNA, razão por que não está atingida pelo lapso prescricional
a pretensão deduzida em 27.07.2008, aplicando-se, na espécie, o art. 1º do
Decreto n. 20.910/1932. 2. É descabida a pretensão de se aplicar, na espécie,
legislação já revogada. Apesar dos lamentáveis acontecimentos terem ocorrido
no distante ano de 1965, a certeza quanto à efetiva troca das recém-nascidas
somente ficou esclarecida no ano de 2006, com a realização do já aludido exame
de DNA que, aliás, em anos pretéritos, sequer existia. O evento danoso, assim,
somente se concretizou sob a vigência da Constituição Federal de 1988 e do
Código Civil de 2002. 3. Ademais, a correta filiação de Deolinda Tomaz de Brito e
de Maria Luiza Almeida Coelho foi declarada judicialmente nos Processos ns.
022657/2006 e 022656/2006, conforme se extrai das sentenças que instruem a
lide, datadas de 05.11.2007. 4. O fato de que as autoras nasceram na
Maternidade Mãe Luzia que, na ocasião era administrada pela União, está
demonstrado à saciedade pelos depoimentos das testemunhas, que não foram
contraditadas pela ré. 5. Incide, na espécie, pois, o disposto no art. 37, § 6º, da
Constituição Federal, diante da responsabilidade objetiva do ente público pela
nítida falha na prestação do serviço, que resultou no lamentável episódio, sem
dúvida nenhuma, de consequências marcantes na vida das partes envolvidas. 6.
Hipótese, todavia, em que os montantes arbitrados, R$ 350.000,00 (trezentos e
cinquenta mil reais) em favor da autora Maria Luiza Almeida Coelho e R$
250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) em favor dos demais autores,
afiguram-se excessivos, razão pela qual são reduzidos para R$ 200.000,00
(duzentos mil reais), para cada um dos autores, e que, diante das circunstâncias
do caso, mostra-se razoável para reparar o gravame sofrido. 7. Os juros de mora
devem incidir sobre o valor da condenação, nos termos preconizados pelo art. 1º-
F da Lei n. 9.494/1997, com a redação dada pela Lei n. 11.960/2009, segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança, e a correção monetária,
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08/10/2020: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJXYG JCYCT TEWNV GJLC3
mediante a aplicação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E),
em sintonia com o julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal no RE n.
870.947/SE (Relator Ministro Luiz Fux, DJe de 20.11.2017). 8. A incidência dos
juros de mora, na espécie, deve ser feita em consonância com os ditames da
Súmula n. 54 do Superior Tribunal de Justiça, a partir do evento danoso. 9. A
correção monetária deverá incidir a partir do arbitramento (AC n. 0021403-
94.2004.4.01.3500/GO, Relator Desembargador Federal João Batista Moreira, e-
DJF1 de 06.09.2013, p. 318). 10. Este Tribunal, em diversas oportunidades, firmou
o entendimento de que a parte que aufere renda inferior a 10 (dez) salários
mínimos tem o direito de litigar sob o pálio da justiça gratuita. 11. Apelações dos
autores e da União, parcialmente providas. Remessa oficial, provida em parte,
apenas para fixar os critérios de incidência dos juros de mora e da correção
monetária.

(TRF-1 - AC: 00014279820084013100, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL


DANIEL PAES RIBEIRO, Data de Julgamento: 13/04/2018, SEXTA TURMA, Data de
Publicação: 30/04/2018)
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Excelência, são quase meio século de privação de convívio entre os


Autores. Para ser bem exato, foram 47 anos de distância. Inclusive, Edenir jamais
conhecerá seu pai biológico, pois o mesmo é falecido há alguns anos. Nunca saberá
como era a voz, os trejeitos e a personalidade de seu pai, e não poderá conhecê-lo
nesta vida.

Portanto, considerando todo o exposto nos fatos, bem como, pela


oitiva de testemunhas e pelo depoimento pessoal das partes que será produzido em
audiência de instrução e julgamento, cada Autor faz jus a uma indenização valorada
em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), considerando a jurisprudência acostada.
PROJUDI - Processo: 0002358-87.2020.8.16.0139 - Ref. mov. 1.6 - Assinado digitalmente por Antonio Marcos Penteado de Carvalho
08/10/2020: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

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III. DA CONCESSÃO DE JUSTIÇA GRATUITA:

Excelência, as parte não possuem condições de arcar com as custas do


processo sem prejuízo próprio ou de sua família.

Os Autores não tinham condições de arcar nem com as custas do


exame de DNA, quanto mais as custas do processo, ainda mais considerando o valor
da causa e eventual sucumbência.

Portanto, como forma de garantir a tutela jurisdicional que lhe é de direito,


requer desde já, com fulcro na Lei 1.060 de 1950, a concessão da justiça gratuita nos
moldes da referida Lei.

Neste caminho, por não poder arcar com as custas do processo, a Lei
1.060/50 garante a assistência judiciária aos Requerentes:

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Art. 4º. A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples
afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar à
custa do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua
família.
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Verifica-se, pois, do cotejo do dispositivo legal acima transcrito, com a


declaração de hipossuficiência financeira, que os Requerentes tem direito e requer os
benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, pois não possuem condições para arcar com as custas do
processo em comento.
PROJUDI - Processo: 0002358-87.2020.8.16.0139 - Ref. mov. 1.6 - Assinado digitalmente por Antonio Marcos Penteado de Carvalho
08/10/2020: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial

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IV. DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, requer:

a) A citação da requerida para que, querendo, conteste a presente


ação, sob pena de imputar-lhe os efeitos da revelia e da confissão
ficta;
b) A produção de todos os meios de provas admitidos em Direito,
principalmente a juntada de novas provas, depoimento pessoal das
partes e oitiva de testemunhas arroladas em momento oportuno;
c) A concessão de justiça gratuita aos Autores, considerando as
precárias condições financeiras que se encontram;
d) A condenação da Requerida ao pagamento de verba indenizatória
moral, valorada em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) por Autor;
e) A condenação da Requerida ao pagamento de custas processuais e
honorários advocatícios arbitrados por Vossa Excelência.

Dá a causa um valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

Nesses termos,

Pede deferimento.

Prudentópolis, 8 de outubro de 2020.

ANTONIO MARCOS PENTEADO DE CARVALHO


OAB/PR 80.212

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