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O coração pode se contrair sem uma conexão com outras partes do corpo, pois o sinal para a contração é
miogênico, ou seja, é originado dentro do próprio músculo cardíaco. O sinal para a contração miocárdica
não é proveniente do SNC, mas de células miocárdicas especializadas, denominadas células autoexcitáveis.
As células autoexcitáveis são também denominadas células marca-passo, uma vez que elas determinam a
frequência dos batimentos cardíacos. As células autoexcitáveis miocárdicas são anatomicamente distintas
das células contráteis: elas são menores e contêm poucas fibras contráteis. Como elas não tem sarcômeros
organizados, as células autoexcitáveis não contribuem para a força contrátil do coração.
O músculo cardíaco difere de forma significativa do músculo esquelético e compartilha algumas
propriedades com o músculo liso:
- as fibras musculares cardíacas são muito menores do que as fibras musculares esqueléticas e, em geral,
possuem um núcleo por fibra.
- as células musculares cardíacas individuais ramificam-se e juntam-se com as células vizinhas, cirando uma
rede complexa. As junções celulares, conhecidas como discos intercalares tem dois componentes: os
desmossomos e as junções comunicantes. Os desmossomos são conexões fortes que mantêm as células
vizinhas unidas, permitindo que a força criada em uma célula seja transferida para a célula vizinha.
- as junções comunicantes nos discos intercalares conectam eletricamente as células musculares cardíacas
umas às outras. Elas permitem que as ondas de despolarização se espalhem rapidamente de célula a célula,
de modo que todas as células do músculo cardíaco se contraem quase simultaneamente. Neste aspecto, o
músculo cardíaco assemelha-se ao músculo liso unitário.
- Os tubulos T das células miocárdicas são maiores do que os do músculo esquelético e se ramificam dentro
das células miocárdicas.
- o retículo sarcoplasmático miocárdico é menor que o do músculo esquelético, por isso, o músculo cardíaco
depende, em parte do cálcio extracelular para iniciar a contração. Nesse aspecto, o músculo cardíaco
assemelha-se ao músculo liso.
- As mitocôndrias ocupam cerca de um terço do volume celular de uma fibra contrátil cardíaca, devido a
grande demanda energética dessas células ( cerca de 70% a 80% do oxigênio levado a ele pelo sangue).
Figura 14.9 – um potencial de ação que entra em uma célula contrátil se move pelo sacolema e entra nos
túbulos T onde abre os canais de Ca dependentes de voltagem tipo L na membrana das células. O Ca entra
nas células através desses canais, movendo-se a favor do seu gradiente eletroquímico. A entrada de cálcio
abre os canais liberadores de cálcio do tipo riadodínico (RyR) no retículo sarcoplasmático. Esse processo do
acoplamento excitação-contração no músculo cardíaco é também chamado de liberação de Ca induzida
pelo Ca (LCIC). Quando os canais de RyR se abrem, o cálcio estocado flui para fora do retículo
sacoplasmático e entra no citosol, cirando uma fagulha que pode ser vista utilizando-se métodos
bioquímicos especiais. A abertura múltipla de diferentes canais RyR se somam para criar o sinal de Ca. O
cálcio difunde-se pelo citosol para os elementos contráteis, onde se liga à troponina e inicia o ciclo de
formação de pontes curzadas e o movimento. A contração corre pelo mesmo tipo de movimento de
deslizamento de filamentos que ocorre no músculo esquelético.
O relaxamento no músculo cardíaco geralmente é similar ao do músculo esquelético. Com a diminuição das
concentrações citoplasmáticas de Ca, o Ca desliga-se da troponina, liberando actina da miosina, e os
filamentos contráteis deslizam de volta para sua posição relaxada. Como no músculo esquelético, o Ca é
transportado de volta para o retículo sacoplasmático com a ajuda da Ca ATPase. Entretanto, no músculo
cardíaco, o Ca também é removido de dentro da célula pelo trocador Na – Ca (NCX). Um Ca é movido para
fora da célula contra o seu gradiente eletroquímico em troca de 3 Na para dentro da célula a favor do seu
gradiente eletroquímico. O sódio que entra na célula durante essa troca é removido pela Na – K – ATPase.
A força gerada pelo músculo cardíaco é proporcional ao número de ligações cruzadas que estão ativas. O
número de ligações cruzadas é determinado pela quantidade de Ca ligado à troponina. Se a concentração
citosólica de Ca está baixa, algumas ligações cruzadas não são ativadas e a força de contração é menor. Se
Ca extracelular for adicionado à célula, mais Ca será liberado do retículo sarcoplasmático. Esse Ca adicional
se liga à troponina, aumentando a habilidade da miosina de formar as ligações cruzadas com a actina,
gerando mais força. Outro fator que afeta a força de contração do músculo cardíaco é o comprimento do
sarcômero no início da contração.
O músculo cardíaco, assim como o músculo esquelético e os neurônios, é um tecido excitável com a
capacidade de gerar potenciais de ação. Cada um dos dois tipos de células musculares cardíacas tem um
potencial de ação distinto, que varia um pouco no formato, dependendo do local do coração onde ele é
medido. Tanto no miocárdio autoexcitável quanto no contrátil, o Ca desempenha um papel importante no
potencial de ação, em contraste com os potenciais de ação do músculo esquelético e dos neurônios.
CÉLULAS MIOCÁRDICAS CONTRÁTEIS – os potenciais de ação das células cardíacas contráteis são similares,
de diversas maneiras, aos dos neurônios e dos músculos esqueléticos. A fase de despolarização rápida do
potencial de ação é resultado da entrada de Na, e a fase de repolarização rápida é devida à saída de K da
célula. A principal diferença entre o potencial de ação das células miocárdicas contráteis daqueles das fibras
musculares esqueléticas e dos neurônios é que as células miocárdicas têm um potencial de ação mais longo,
devido à entrada de Ca.
O influxo de Ca durante a fase 2 prolonga a duração total do potencial de ação do miocárdio. Um potencial
de ação típico em um neurônio ou fibra muscular esquelética dura entre 1 e 5 ms. Em uma célula
miocárdica contrátil, o potencial de ação dura geralmente 200 ms ou mais. O potencial de ação miocárdico
mais longo ajuda a impedir a contração sustentada, chamada de tétano. A prevenção do tétano no coração
é importante porque o músculo cardíaco deve relaxar entre as contrações, de modo que os ventrículos
possam encher-se com sangue. Para entender como um potencial de ação mais comprido previne o tétano,
compararemos a relação entre os potenciais de ação, os períodos refratários e a contração em células dos
músculos cardíaco e esquelético.
PERÍODO REFRATAŔIO – é o período apś um potencial de ação durante o qual um estimulo normal não pode
desencadear um segundo potencial de ação. No músculo cardíaco, o longo potencial de ação faz o período
refratário e a contração terminarem simultaneamente. Quando um segundo potencial de ação pode
ocorrer, a célula miocárdica está quase completamente relaxada. Consequentemente não ocorre somação.
Em contrapartida, o potencial de ação e o período refratário do músculo esquelético terminam justamente
com o início da contração. Por esse motivo, o disparo de um segundo potencial de ação imediatamente
após o período refratário causa a somação das contrações. Se uma série de potenciais de ação ocorrer em
rápida sucessão, resultará em uma contração sustentada, conhecida como tétano.
DÉBITO CARDIACO (DC) = FREQUÊNCIA CARDIACA (BPM) – VOLUME SISTÓLICO (ML POR BATIMENTO OU
POR CONTRAÇÃO).
O débito cardíaco é um indicador do fluxo sanguíneo total do corpo. Entretanto, o débito cardíaco não nos
informa com o sangue é distribuído aos vários tecidos. Esse aspecto do fluxo sanguíneo é regulado nos
tecidos.
Utilizando-se os valores médios da frequência cardíaca em repouso de 72 batimentos por minuto e do
volume sistólico de 70 ml por batimento, temos:
A frequência cardíaca é iniciada pelas células autoexcitáveis do nó SA, porém, ela é modulada por estímulos
neurais e hormonais.
As porções simpática e parassimpática do SNA influenciam a frequência cardíaca através de um controle
antagônico. A atividade parassimpática diminuía a frequência cardíaca, ao passo que a atividade simpática a
aumenta.
CONTROLE SIMPÁTICO – a estimulação simpática nas células marca-passo acelera a frequência cardíaca. As
catecolaminas noradrenalina (dos neurônios simpáticos) e adrenalina (da medula da glândula suprarrenal)
aumentam o fluxo iônico através dos canais If e de Ca. A entrada mais rápida de cátions acelera a taxa de
despolarização, fazendo a célula atingir o limiar mais rapidamente e, assim, aumentando a taxa de disparo
do potencial de ação. Quando o marca-passo dispara potenciais de ação mais rapidamente, a frequência
cardíaca aumenta.
As catecolaminas exercem seus efeitos ligando-se e ativando receptores Beta 1-adrenérgicos nas células
autoexcitáveis. Os receptores Beta 1 utilizam de segundo mensageiro AMPc para alterar as propriedades de
transporte dos canais iônicos. No caso dos canais If, que são canais dependentes de nucleotídeos cíclicos, o
próprio AMPc é o mensageiro. Quando o AMPc se liga para abrir os canais If, eles permenecem abertos por
mais tempo. A permeabilidade aumentada ao Na e ao Ca durante as fases do potencial marca-passo acelera
a despolarização e a frequência cardíaca.
CONTROLE TÔNICO - em geral, é dominado pela porção parassimpática. Quando todos os sinais simpáticos
e parassimpáticos para o coração são bloqueados, a frequência de despolarização espontânea do nó SA é
de 90 a 100 vezes por minuto. Para alcançar uma frequência cardíaca em repouso de 70 batimentos por
minuto, a atividade parassimpática tônica deve diminuir a frequência intrínseca de 90 bpm.
Um aumento da frequência cardíaca pode ser alcançado de duas formas. O modo mais simples de
aumentar a frequência cardíaca é diminuir a atividade parassimpática. Quando a influência parassimpática é
retirada das células autoexcitáveis, elas assumem sua frequência intrínseca de despolarização e a
frequência cardíaca, aumenta para 90 a 100 bpm. Um estímulo simpático é necessário para aumentar a
frequência cardíaca.
Ambas as subdivisões autonômicas também alteram a velocidade de condução no nó AV. A acetilcolina
desacelera a condução dos potenciais de ação através do nó AV, aumentando, assim, o retardo elétrico
nessa estrutura. Em contrapartida, as catecolaminas, adrenalina e noradrenalina, aceleram a condução dos
potenciais de ação através do nó AV e do sistema de condução.
O débito cardíaco, o volume sanguíneo bombeado por cada ventrículo em cada contração, está diretamente
relacionado à força gerada pelo músculo cardíaco durante a contração. Quando a força de contração
aumenta, o volume sistólico aumenta. No coração, a força de contração ventricular é afetada por dois
parâmetros: o comprimento da fibra muscular no início da contração e a contratilidade do coração. O
volume sanguíneo no ventrículo no início da contração (o volume diastólico final) determina o comprimento
do músculo.
COTRATILIDADE é a capacidade intrínseca de uma fibra muscular cardíaca de se contrair em qualquer
comprimento da fibra e é uma função da interação do Ca com os filamentos contráteis.
Nos músculos estriados, a força gerada por uma fibra muscular é diretamente relacionada com o
comprimento do sarcômero, como indicado pelo comprimento inicial da fibra muscular. Quanto mais
alongada estiver a fibra muscular e o sarcômero no início da contração, maior será a tensão desenvolvida,
até um limite máximo. Conforme o estiramento das paredes ventriculares aumenta, o mesmo acontece com
o volume sistólico. Se mais sangue chegar ao ventrículo, as fibras musculares se estiram mais, aumentando
a força de contração, ejetando mais sangue.
PRÉ-CARGA – é o grau de estiramento do miocárdio antes do início da contração. Este estriamento
representa a carga colocada sobre o músculo cardíaco antes que ele contraia.
LEI DE FRANK-STARLING – é a relação entre o estiramento e força no coração sadio.
Quanto mais sangue chega ao coração, ele se contrai com mais força e ejeta mais sangue. Essa relação é
conhecida coo lei de Frank-Starling do coração. Isso significa que, dentro dos limites fisiológicos, o coração
ejeta todo o sangue que chega até ele.
VOLUME SISTÓLICO E RETORNO VENOSO – de acordo com a lei de Frank-Starling, o volume sistólico
aumenta quando o volume diastólico final aumenta. O volume diastólico final é determinado pelo retorno
venoso, que é a quantidade de sangue que retorna ao coração pela circulação venosa. Três fatores afetam o
retorno venoso:
- a contração ou compressão das veias que levam o sangue para o coração (bomba do músculo esquelético)
- a mudança na pressão no abdome e no tórax durante a respiração (a bomba respiratória)
- a inervação simpática das veias.
AGENTE INOTRÓPICO – é toda substância química que afeta a contratilidade, sua influência é chamada de
efeito inotrópico.
Efeito inotrópico positivo – quando a substância química aumenta a força de contração. Ex: as
catecolaminas adrenalina e noradrenalina e digitálicos, aumentam a contratilidade.
Efeito inotrópico negativo – diminui a contratilidade
A contratilidade é distinta da relação comprimento-tensão. Um músculo pode permanecer com um
determinado comprimento e apresentar uma contratilidade aumentada. A contratilidade aumenta
conforme a quantidade de cálcio disponível para a contração aumenta. A contratilidade é distinta das
mudanças na força, resultantes da variação no comprimento do músculo (sarcômero). Contudo, o aumento
do comprimento do sarcômero também torna o músculo cardíaco mais sensível ao Ca, associando a
contratilidade ao comprimento muscular.
O débito cardíaco varia de acordo com a frequência cardíaca e com o volume sistólico. A frequência
cardíaca é modulada pela porção autonômica do sistema nervoso e pela adrenalina. O volume sistólico é
uma função da relação intrínseca comprimento-tensão da lei de Frank-Starling, como indicado pelo volume
diastólico final mais as alterações mediadas pelas catecolaminas na contratilidade. O retorno venoso é o
principal determinante do VDF e do estiramento.