Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/264417627
CITATIONS READS
0 1,475
3 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Motivos que influenciam a adesão à prática de exercícios físicos, nos programas oferecidos pelo Serviço Social do Comércio (SESC), no Distrito Federal. View project
Effects of physical training of Brazilian Air Force military personnel on physical fitness and health indicators (Efeitos do treinamento físico de militares do Comando da
Aeronáutica nos indicadores de aptidão física e de saúde) View project
All content following this page was uploaded by Helder Guerra de Resende on 01 August 2014.
Artigo Original
Caracterização dos modelos de estruturação
das aulas de educação física
duas primeiras aulas da disciplina Didática da prática dessa atividade educativa, até então
Educação Física. Outro aspecto que determinou a quase que restrita ao âmbito dos discursos de
dimensão do grupo de informantes foi a governantes e educadores da época, passou a
disponibilidade e o interesse em participar da ganhar espaço na rede de ensino, condicionada à
entrevista, que foi realizada antes de o tema regulamentação do denominado ‘Método’
específico da pesquisa ter sido abordado Francês (SOARES, 1996; GOELLNER, 1996).
(Estrutura e organização das aulas de Educação O planejamento e o desenvolvimento de uma
Física). aula identificada com o ‘Método’ Francês são
A dimensão da amostra foi definida em função estruturados em partes estanques. Cada parte
do ‘ponto de saturação de variabilidade das remete a objetivos e atividades próprios, sem a
respostas’, momento em que as respostas preocupação de integração temática entre elas. A
começaram a se tornar repetitivas, não intenção pedagógica é planejar os exercícios
acrescentando novos dados àqueles já coletados físicos para potencializar as capacidades físicas,
(BECKER, 1994). visando o desenvolvimento dos sistemas
O instrumento de coleta de dados utilizado foi músculo-esquelético e cárdio-respiratório. Os
um roteiro de entrevista semi-estruturado contendo parâmetros de controle e articulação das aulas (e
cinco perguntas pré-definidas, categorizadas em entre as aulas) são orientados pelas variáveis do
dois sub-grupos: perguntas de caracterização dos condicionamento físico (volume e intensidade dos
informantes (sexo, idade, tempo de formação exercícios físicos).
acadêmico-profissional e tempo de exercício A organização didática das aulas, segundo o
profissional no magistério) e perguntas mencionado ‘método’, pressupõe a sua divisão
caracterizadoras do modelo de organização em três partes, com finalidades e durações
didática das aulas de Educação Física (partes distintas: ‘Sessão Preparatória’, ‘Sessão
constitutivas das aulas e respectivas justificativas). Propriamente Dita’ e ‘Volta à Calma’ (MARINHO,
O roteiro de entrevista foi validado 1953).
qualitativamente por quatro especialistas. Antes da O ‘Método’ Francês foi hegemônico até o final
realização definitiva da coleta dos dados foi da década de quarenta, quando a Calistenia é
realizada uma rodada preliminar de três entrevistas resgatada, sendo defendida sua difusão na
à guisa de ‘estudo piloto’ para avaliar a clareza das instituição escolar (OLIVEIRA, 1983). O
perguntas, assim como o possível nível de planejamento das aulas de Calistenia conservou
consistência das respostas. Estas entrevistas a mesma lógica em termos de organização
foram incorporadas ao ‘corpus’ de análise por didática; ou seja, uma estrutura fragmentada em
terem se mostrado adequadas e consistentes. compartimentos estanques em relação às partes
que o compõem, bem como em termos de
Modelos didáticos de estruturação das articulação temática entre as aulas.
aulas no contexto da Educação Física
As aulas de Calistenia são constituídas por
brasileira oito partes, cujas finalidades variam em função do
Os primeiros modelos de organização didática
segmento corporal a ser exercitado
das aulas do que hoje concebemos por Educação
analiticamente: braços e pernas; região
Física foram baseados nos denominados
póstero-superior do tronco; região póstero-inferior
‘métodos’ ginásticos, oriundos, em sua maioria,
do tronco; região lateral do tronco; exercícios de
da tradição européia (SOARES, 1994). Os
equilíbrio; região abdominal; exercícios
exercícios ginásticos constituíam os conteúdos de
sufocantes (corridas e saltos); e exercícios gerais
ensino-aprendizagem privilegiados nas
de ombro e espáduas (sedantes). Esse esquema
instituições escolares militares e civis.
de aula é o proposto por Wood, que se diferencia
Diferentes ‘métodos’ ginásticos marcaram, em do esquema proposto por Skarstrom na troca de
alguma medida, a organização das aulas de ordem entre o sétimo e o oitavo grupo de
Educação Física, a exemplo dos de origem exercícios (MARINHO, 1953).
alemã, sueca, francesa e americana (MARINHO,
Não podemos esquecer que a concepção de
[197-]). Mas foram as propostas pedagógicas de
corpo é idealizada, até o período indicado, como
origem francesa que mais influenciaram a
um potencial imediato de defesa da nação e
tradição da Educação Física brasileira. Durante o
também como capital humano para o trabalho. Os
segundo período republicano (1921-1954), a
38
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
Modelos de aulas de educação física
.
Figura1. Diagrama ilustrativo da estruturação das aulas de educação física na denominada “Ginástica Escolar”
Nesta proposta, a estruturação das aulas é No entanto, ele não superou o caráter atomista,
constituída por três partes: (a) ‘Introdução’; (b) materializado pela intencionalidade de organização
‘Conteúdo’; e (c) ‘Conclusão’ (Figura 1). processual das atividades de ensino de modo a
No plano conceitual, esse esquema assegurar, ao término de cada aula, a consecução
representou um avanço em termos de integração dos objetivos comportamentais pré-estabelecidos,
entre as partes que compõem uma aula e a ou seja, uma efetiva conclusão no sentido da
articulação progressiva das atividades de ensino aprendizagem motora. Sendo assim, cada aula é
norteadas por um tema e por objetivos imediatos. planejada com um fim em si mesma, na medida
39
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
H. G. Resende, A. J. G. Soares & D. L. Moura
em que pressupõe uma conclusão temática ou a (KUENZER; MACHADO, 1986; CANDAU, 1988).
consecução de determinados objetivos Os modelos de racionalização e de
denominados como imediatos. Parte de um compartimentalização dos planejamentos, bem
pressuposto idealista de que atividades de ensino como das práticas didático-pedagógicas, vão
bem planejadas, organizadas e adequadamente sendo superados nas indicações dos
transmitidas asseguram a consecução dos especialistas em prol de propostas de caráter
objetivos de ensino nos limites de tempo integrativos, dinâmicos, dialéticos, processuais e
destinados a cada aula. Observe-se que apesar da contingenciais.
busca de integração das partes (introdução, Neste contexto, aqueles mencionados
conteúdo e conclusão), manteve-se a premissa modelos de organização e de estruturação das
que o corpo deve ser preparado em termos aulas são enfaticamente criticados nos debates
fisiológicos para aula e, na segunda e terceira acadêmicos relacionados aos fundamentos
partes, o professor deve articular o ensino do didático-metodológicos (didática, organização do
conteúdo dotando-o de significados experienciais conhecimento, prática de ensino, etc).
para os alunos com a terminalidade da Soares et al. (1992, p. 87), ao invés de
aprendizagem na unidade temporal da aula. mencionar ‘partes de uma aula’, sugere que a
Os modelos de estruturação das aulas até aqui aula seja planejada e organizada numa
caracterizados sugerem uma relativa evolução perspectiva de articulação da “ação (o que fazer),
entre eles, que pode ser constatada a partir das com o pensamento sobre ela (o que pensa) e
modificações ocorridas em relação à idéia de com o sentido que dela tem (o que sente)”. Este
integração e de seqüenciação das partes que coletivo de autores recomenda que a organização
constituem as aulas, entre o conjunto de aulas de de uma aula, numa primeira fase, seja ocupada
um determinado tema, e entre a forma de com uma análise da origem do tema, na
articulação e hierarquização das atividades que discussão sobre o que determinou a necessidade
compõem uma aula ou um conjunto de aulas sobre do seu ensino e na apresentação dos objetivos
um mesmo tema. Porém, esses modelos não se orientadores. Numa segunda fase, professor e
distinguem do ponto de vista técnico e de alunos devem trabalhar a apreensão do tema, por
estruturação. Eles se baseiam num esquema meio da experiência motora e reflexiva. A terceira
formal de organização, o que pressupõe um fase é destinada às conclusões, avaliando-se o
caráter fechado das atividades planejadas. A realizado e levantando-se perspectivas para as
aprendizagem é vista aqui de um ponto de vista aulas seguintes.
ontológico de que o todo é o resultado acumulativo Resende e Santos (1992) defendem que as
das partes que o constitui. Esses modelos atividades de ensino-aprendizagem não devem ser
apresentam uma perspectiva universalista, na definidas e organizadas a partir dessa lógica
medida em que são apresentados como modelo formalista, típica de modelos fechados de
ideal, independentemente do contexto em que eles planejamentos de ensino. Sugerem que as aulas
são aplicados. Eles também partem de uma sejam planejadas e desenvolvidas tendo como
perspectiva hierarquizada, quando as atividades referência a relação tema-objetivos-circunstâncias
da aula (quer em suas partes específicas, quer no enfrentadas no desenvolvimento do tema/aula -
seu todo) obedecem a princípios de gradação do consecução dos objetivos.
esforço fisiológico e progressão pedagógica
A estruturação de uma aula “corresponde a um
(RESENDE et al., 1998).
espiral ascendente, cujos anéis contínuos vão
No entanto, o cenário político, econômico e ampliado-se cada vez mais” (SOARES et al., 1992,
social brasileiro dos anos setenta e oitenta acirrou p. 89). Não se pode também definir previamente o
o aprofundamento de críticas ao modelo de número de aulas que serão necessárias para a
sociedade vigente. Parte expressiva dos conclusão de um tema, considerando que os
especialistas da educação e da Educação Física alunos possuem diferentes ritmos de
não ficou imune às reivindicações e propostas aprendizagem. Este fato justifica a premissa de
renovadoras, autodefinidas de progressistas. Os que “a organização das atividades da aula é
pressupostos, os fundamentos e os modelos de processual, norteada por objetivos declarados e
sistematização do ensino-aprendizagem discutidos com os alunos, que poderão ser
pautados na Tecnologia Educacional passaram a atingidos no final de uma ou de algumas sessões
ser questionados e, gradativamente, superados
40
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
Modelos de aulas de educação física
Tabela 1. Perfil dos docentes, segundo gênero, idade, tempo de formação acadêmica e de experiência
profissional
Outro aspecto levantado para fins de O perfil etário, o tempo de formação acadêmica
caracterização do perfil dos informantes foi o em nível de graduação e o tempo de experiência
tempo de experiência profissional como professor com a docência da Educação Física revelam um
de Educação Física atuante na educação básica. grupo relativamente homogêneo e, portanto,
O tempo médio de experiência do grupo na interessante face aos propósitos da pesquisa.
docência da Educação Física registrou 6,86 anos, Interessante porque caracteriza-se como um grupo
com um desvio-padrão de ±5,97 anos (Tabela 1). relativamente novo, cuja formação inicial, em nível
de graduação, da maioria se deu no contexto do
41
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
H. G. Resende, A. J. G. Soares & D. L. Moura
42
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
Modelos de aulas de educação física
problema, a gente discute e vamos aplicar [...] a avaliação diagnóstica, discuto o que vamos
gente cria novas regras, improvisa material, fazer ao longo do ano e no final de cada
explora outras formas de explorar a quadra [...] bimestre eu repito a avaliação. Vamos
a área [...] e aí a aula vai rolando, novos acompanhando o desenvolvimento do grupo
problemas vão surgindo, novos desafios são (Prof. 10).
propostos [...] debatemos e vamos aplicar. No
final a gente reflete sobre a aula, analisa Eu falo os objetivos e começo a aula. Tento
criticamente e esboça como vai ser a próxima organizar as atividades e os exercícios por nível
aula. Na verdade eu dividi minha em três partes, crescente de dificuldade [...] de complexidade
não é? Mas estou pensando nisto agora (Prof. (Prof. 11).
15). O Professor 10 identifica-se teórico-
Aqui os professores estruturam a aula a partir metodologicamente com a abordagem
de um processo de problematização do conteúdo denominada de Saúde Renovada (DARIDO;
de ensino-aprendizagem, instigando os alunos a SANCHES NETO, 2005), considerando que os
uma participação ativa e propositiva no objetivos orientadores e os objetos de avaliação
desenvolvimento das aulas. Parece que a das suas aulas estão relacionados à aquisição das
preocupação central desses professores é com a capacidades físicas associadas à saúde, bem
dinâmica e a fluidez das experiências de ensino- como à apropriação de conhecimentos sobre a
aprendizagem, em detrimento do cumprimento importância da prática regular e orientada de
cartorial de atividades previamente definidas e exercícios físicos para a prevenção de doenças
repassadas para os alunos, numa perspectiva de crônico-degenerativas e a promoção da saúde, na
modelo criticado e denominado por Paulo Freire perspectiva defendida por especialistas como
de educação bancária (FREIRE, 1984). Nahas e Corbin (1992), Guedes e Guedes (1997),
O Professor 15, no entanto, ressaltou seu entre outros.
descontentamento com a impossibilidade de A Professora 11, por sua vez, identifica-se com
organizar seu planejamento em coerência com a a abordagem Desenvolvimentista (TANI et al.,
concepção defendida de Educação Física. Ele se 1998). Sua intenção pedagógica é favorecer a
identifica com o que denominou de uma aquisição dos movimentos básicos fundamentais
perspectiva crítica de Educação Física, cujo (habilidades motoras) e dos movimentos
objetivo é a apropriação crítico-reflexiva da cultura especializados tematizados na ginástica, nos jogos
corporal. A exemplo do que defende Souza Junior esportivos e na dança. Tem a preocupação de
(1999), o foco do ensino-aprendizagem da identificar o nível de desenvolvimento dos seus
Educação Física não é, necessariamente, o alunos para selecionar e organizar suas atividades
domínio das habilidades motoras e/ou a aquisição de ensino sob a forma de progressões
das capacidades físicas, mas a partir das práticas pedagógicas.
corporais é preciso promover um fazer crítico- Em que pese as diferentes abordagens
reflexivo. Sua intenção pedagógica é possibilitar adotadas por estes dois professores, ambos
aos alunos a compreensão. parecem organizar deliberadamente as atividades
de que este componente curricular possibilita de ensino-aprendizagem das aulas numa lógica
sintetizar e sistematizar representações do
mundo no que concerne à produção histórica e processual.
social das dimensões, elaborações
manifestações da cultura humana, como, por
e
• Formas indefinidas de estruturação
exemplo, o jogo, o esporte, a ginástica, a luta e a das aulas de Educação Física:
dança (SOUZA JUNIOR, 1999, p. 160-161). Duas professoras sugerem uma ação não
Mas isto, no entanto, não impede o Professor deliberada em relação à estruturação das suas
15 de organizar as aulas de forma dinâmica e aulas. As professoras parecem orientar o
processual. desenvolvimento das aulas numa perspectiva
recreativa.
Outros dois professores orientam seus
Eu nunca pensei nisto! Eu chego e dou minha
planejamentos na perspectiva do aula. Às vezes dou um aquecimento, às vezes
desenvolvimento das capacidades físicas não. Eu discuto muito com os alunos o que
(Professor 10) e da aquisição das habilidades vamos fazer na aula. Eles não gostam de fazer
exercícios; então eu cansei de tentar. Eu
motoras (Professora 11). pergunto o que eles querem fazer e vou
Como assim? – (pergunta do entrevistador) – conduzindo a aula. Quando vou propor algo
Confesso que nunca me preocupei com isto. diferente, a maioria sai da aula. Então [...] Os
Tenho o objetivo, planejo as atividades e pequenos gostam de brincar. Aí eu dou muito
desenvolvo a aula. No início do ano faço uma jogo – queimado, pique, futebol [...] Os da 5ª e
45
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
H. G. Resende, A. J. G. Soares & D. L. Moura
6ª séries só querem jogar futebol e voleibol. Às entrevistador: “O que você quer dizer com isto?”;
vezes eles jogam handebol, por causa das “Como assim?”.
meninas. Mas a maioria das meninas não gosta
de fazer e nem aparece na aula (Prof. 2). De comum, trata-se de um grupo relativamente
Eu apresento e explico os jogos [...] novo em termos de formação profissional e,
dependendo [...] tenho que dividir os times e portanto, é possível que seja um grupo
depois vou corrigindo, explicando, né. É isto que influenciado pelo pensamento pedagógico crítico
você queria saber? (Prof. 13).
da Educação e da Educação Física brasileira.
Os recortes “eu nunca pensei nisto” e “é isto
que você queria saber” sugerem que essas duas Considerações finais
professoras, mesmo que decidam previamente Dois modelos de estruturação das aulas de
sobre seus objetivos e atividades, o fazem sem Educação Física se destacam a partir das
intencionalidades sobre a organização das intenções pedagógicas declaradas pelo grupo de
atividades de ensino-aprendizagem no contexto de professores envolvidos nesta pesquisa: um modelo
uma sessão ou conjunto de sessões sobre um compartimentalizado e uma perspectiva processual
determinado tema. - oito docentes revelaram a adoção deliberada ou
Em síntese, podemos dizer que, em alguma não do primeiro modelo, enquanto que cinco
medida, a forma de organização e estruturação docentes evidenciam a adoção do segundo
das aulas dos Professores 1, 3, 4, 5, 7, 8, 12 e 14 modelo.
reflete os modelos didáticos compartimentalizados. No entanto, o primeiro grupo de professores
Caracteriza-se por uma espécie de amálgama de revela uma espécie de amálgama das partes que
alguns dos ilustrados modelos de organização e de caracterizam os diferentes ‘métodos’ ginásticos e
estruturação das aulas de Educação Física, modelos de aulas, sem demonstrar conhecimento
misturando partes características de alguns sobre os mesmos; exceção para uma das
modelos ou criando novos rótulos sem, no entanto, professoras que evidenciou organizar
desconfigurar a lógica da fragmentação. deliberadamente as atividades das suas aulas
Ainda neste grupo destaca-se a Professora 8 com base num modelo similar ao proposto por
que, mesmo não rompendo com esta lógica Barros (1970) em crítica à forma preconizada
compartimentalizada, sugere uma opção pela denominada ‘Educação Física
deliberada ao organizar suas aulas em partes Generalizada’.
integradas tematicamente, similar à lógica Apesar de muitos professores não terem sido
organizacional desenvolvida e defendida por formados sob os auspícios do denominado
Barros (1970). Justifica sua opção em crítica ao ‘método’ francês ou de qualquer outro método
modelo aprendido durante sua formação dessa tradição, os argumentos descritos sobre a
profissional – a ‘Educação Física Desportiva organização das atividades de ensino-
Generalizada’. aprendizagem objetivam, via de regra, o
Bracht et al. (2005) sugerem que a lógica de desenvolvimento das capacidades físicas visando
planejamento das aulas de Educação Física nem a aquisição de aptidão física. O corpo aqui é
sempre está atrelada à concepção defendida pelo encarado como um objeto que deve ser
professor. disciplinado e moldado através de práticas
Não são raras as vezes que os professores repetitivas, com a intenção de cultivar o hábito e o
buscam construir seu trabalho a partir de outros gosto (VAZ, 1999).
horizontes que não o da esportivização e da
aptidão física, mas continuam acreditando que o A idéia de uma sessão preparatória ou
momento inicial de uma aula de Educação Física introdutória que tem como finalidade o
é o aquecimento, sem perceber os fundamentos aquecimento orgânico; uma sessão
teóricos e o caráter interessado da organização
de uma aula como esta (p. 49). ‘Propriamente Dita’ ou ‘Parte Principal’, que
compreende a execução dos diferentes
Os Professores 6, 9, 10, 11 e 15 evidenciaram
movimentos básicos fundamentais típicos da
em suas respostas uma outra lógica de
cultura humana (locomotores, manipulativos e
organização, isto é, a estruturação das aulas de
estabilizadores) ou o ensino dos jogos esportivos;
Educação Física de forma processual. No entanto,
e uma sessão denominada ‘Volta à Calma’,
não significa dizer que seja uma opção deliberada,
marca a maioria das falas dos professores, que
na medida em que alguns demonstraram
afirmam organizar suas aulas de forma
surpresos com a pergunta formulada pelo
compartimentada. Observa-se que este modelo
46
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
Modelos de aulas de educação física
48
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009
Modelos de aulas de educação física
Endereço:
Helder Guerra de Resende
Av. Salvador Allende, 6700
Recreio dos Bandeirantes
Rio de Janeiro – RJ
22780-120
e-mail: helder@castelobranco.br
49
Motriz, Rio Claro, v.15, n.1, p.37-49, jan./mar. 2009