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Em 2017, a Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors (GBD) realizou um estudo que inclui uma avaliação
abrangente da incidência, da prevalência e dos anos vividos com incapacidade relativamente a 354 quadros clínicos, em
195 países e territórios, de 1990 a 2017 (GBD 2018)
• De acordo com este estudo, de entre as doenças do foro mental, as perturbações depressivas ficaram em
segundo lugar no critério da prevalência, logo após as perturbações da ansiedade.
• Para além disso, durante o período estudado de 28 anos, as perturbações depressivas prevaleceram como uma
das três principais causas de anos vividos com incapacidade.
• Este estudo indica que a persistência de perturbações depressivas é preocupante, tendo em consideração a
relação entre estes quadros clínicos e o alto risco de comportamento autodestrutivo, e salienta a necessidade
global de um maior investimento em recursos para o tratamento da saúde mental.
• De uma prevalência de doenças psiquiátricas em Portugal de 22,9%, que coloca o país num preocupante segundo
lugar entre os países europeus, a depressão afeta 10% dos portugueses.
• As perturbações da ansiedade (16,5%) e as perturbações do humor (7,9%) são as perturbações psiquiátricas com
uma maior prevalência na população portuguesa.
• De entre todos os problemas de saúde, as perturbações depressivas representam a quarta maior causa de
morbilidade e o suicídio é uma importante causa de morte associada, nomeadamente, à depressão major. Em
2017, o suicídio foi responsável por 14.628 anos potenciais de vida perdidos.
De acordo com a American Psychiatric Association (2014, p. 183), as perturbações depressivas caracterizam-se pela
presença de tristeza, vazio ou humor irritável, acompanhados de alterações somáticas e cognitivas que afetam de forma
significativa a capacidade de funcionamento do indivíduo.
Tendo por base os sintomas referidos, a mesma fonte estabelece que o diagnóstico de perturbação depressiva major
deverá obedecer a três grandes critérios:
1) Presença de cinco ou mais dos sintomas referidos, durante um período de duas semanas consecutivas, sendo
que pelo menos um dos sintomas deverá ser “humor deprimido” ou “perda do prazer ou do interesse” (não
deverão ser incluídos os sintomas que são claramente atribuíveis a outra condição médica);
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2) Os sintomas causam mal-estar clinicamente significativo ou défice social, ocupacional ou em qualquer outra área
importante do funcionamento;
3) O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.
A depressão é o segundo diagnóstico mais frequente na população idosa (após a perturbação neurocognitiva major).
✓ Demência
o Cognição: pensamento, delírio, alucinação, orientação, confusão, agitação, comportamento agressivo
✓ Depressão
o Autoestima, tristeza, humor depressivo, vontade de viver, ideação suicida
✓ Ansiedade
O humor depressivo é uma emoção negativa: sentimentos de tristeza a melancolia, com diminuição da concentração,
perda de apetite e insónia (ICN, 2019).
Um critério transversal para o diagnóstico de qualquer perturbação do foro depressivo é a presença de humor depressivo
(American Psychiatric Association 2014).
O humor depressivo é classificado pelo ICN como um foco e como um diagnóstico de Enfermagem (ICN 2019).
“O desafio para a profissão [de Enfermagem] não passa pelo desenvolvimento de capacidades que permitam aos
enfermeiros substituir cuidados de outras disciplinas da área da saúde. (…) Passa pelo desenvolvimento de competências
que nos permitam aprofundar a nossa natureza específica e prestar melhores cuidados de Enfermagem.”
Especificação de um conjunto de conceitos e das suas relações. É uma especificação explícita de uma conceptualização,
ou seja, uma representação formal do conhecimento (Gruber 1993).
A Ontologia de Enfermagem poderá representar a formalização do conhecimento disciplinar em Enfermagem, ao
especificar, relativamente aos diversos focos de Enfermagem: Os dados relevantes para o raciocínio diagnóstico, as sintaxes
que melhor explanam esse raciocínio, as intervenções, bem como a base epistemológica do conhecimento formal que
regula a relação entre estes elementos.
Moorhead e colaboradores (2016, p. 305) definem o equilíbrio do humor como uma adaptação adequada de tom emocional
prevalente em resposta às circunstâncias.
✓ Humor depressivo
o Tristeza persistente (há mais de uma semana)
o Desesperança e pessimismo
o Autodesvalorização
o Acentuada diminuição de interesse e prazer nas atividades
o Dificuldade na concentração
o Pensamentos recorrentes de morte
o Tom de voz baixa, discurso arrastado
✓ Euforia
o Excesso de energia
o Aumento da atividade dirigida a objetivos ou agitação psicomotora
o Redução da necessidade de sono
o Fuga de ideias ou pensamento acelerado
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o Humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável
o Autoestima excessiva ou grandiosidade
Intervenções
Escutar é uma das técnicas de comunicação mais efetivas. É muito mais do que ouvir. Para ouvir unicamente, é apenas
necessário possuir capacidade auditiva e dedicar alguma atenção a quem está a falar. A escuta implica ouvir, estar atento,
descodificar a mensagem e dar feedback. Implica interesse e disponibilidade por parte do profissional.
Para a utilização correta desta técnica, o enfermeiro deverá:
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Relação de ajuda como intervenção psicoterapêutica
• Capacitação – Dotar a pessoa de estratégias para a resolução do problema (é a pessoa que resolve o problema);
• Objetivo da RA: Capacitar a pessoa para a resolução do problema (muitas vezes, as pessoas têm em si mesmas
os recursos para a resolução do problema, mas poderão não saber que os têm ou poderão não ser capazes de
mobilizá-los. O Enfermeiro poderá ajudar a pessoa a identificar / a mobilizar os recursos).
Indicações terapêuticas da RA
→ Diagnósticos de enfermagem de natureza emocional
o Humor depressivo
o Angústia
o Ansiedade
→ Diagnósticos de enfermagem de natureza racional
1) Entrevista clínica
a) Avaliar a história de vida, o contexto, os recursos e a história do problema da pessoa;
b) Analisar os diagnósticos que melhor traduzem a sua situação e se estes constituem indicações terapêuticas para
a relação de ajuda. Se sim, avaliar se a pessoa cumpre os requisitos para a implementação da RA.
2) Prescrever e planear a RA
a) Estabelecer o número e a duração das sessões, bem como o local para a sua realização – setting próprio;
b) Preparar a agenda das sessões;
c) Identificar as estratégias mais adequadas a implementar, tendo em consideração a pessoa e o seu problema.
3) Implementar a relação de ajuda
a) Fase 0 (uma sessão) – Estabelecimento da relação
i. Iniciar o contacto, informar sobre o processo da relação de ajuda, obter o consentimento informado,
planear a agenda das sessões, entre outros aspetos.
b) Fase inicial (uma sessão) – Analisar o problema principal
i. Analisar o problema, analisar as resistências e as condições facilitadoras e dificultadoras, estabelecer
objetivos, consciencializar para a importância da participação ativa da pessoa, entre outros aspetos.
c) Fase exploratória (uma ou duas sessões) – Analisar as estratégias de resolução do problema
i. Identificar e hierarquizar estratégias de resolução do problema, avaliar as vantagens e as desvantagens
de cada estratégia, fornecer suporte emocional, entre outros aspetos.
d) d. Fase de capacitação (uma, duas ou mais sessões) – Capacitar para a mudança
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i. Analisar e potenciar os recursos da pessoa para a implementação das estratégias selecionadas, orientar,
instruir, treinar a utilização das estratégias, preparar para as dificuldades do contexto real, orientar para
estratégias alternativas, entre outros aspetos.
e) Fase de avaliação (uma ou duas sessões) – Avaliar e consolidar a implementação da(s) estratégia(s)
i. Reanalisar o problema e as estratégias utilizadas, avaliar o processo, salientar a evolução da pessoa e
fornecer reforço positivo, entre outros aspetos.
f) Fase final (uma sessão) – Separação física e preparação de follow-up
i. Preparar o acompanhamento futuro, manter o contacto com a pessoa por telefone ou presencialmente,
conforme necessário.
As perturbações ansiosas, nomeadamente a Perturbação Generalizada da Ansiedade, são muito comuns nos idosos. Muitos
deles já tiveram perturbações ansiosas noutras fases da sua vida, outros desenvolvem-nas pela primeira vez. Estas
perturbações surgem, muitas vezes, associadas a processos demenciais e a quadros depressivos.
A ansiedade é uma emoção negativa: Sentimentos de ameaça, perigo ou angústia (ICN, 2019).
De acordo com Herdman e Kamitsuru (2014), a ansiedade define-se como um sentimento vago de desconforto e de
temor, acompanhado por uma resposta autonómica (a fonte/origem é frequentemente inespecífica ou desconhecida para
a pessoa), como um sentimento de apreensão causado pela antecipação de uma ameaça futura.
As perturbações de ansiedade incluem perturbações que partilham características de medo e ansiedade excessivos e
alterações do comportamento relacionadas.
Medo: Resposta emocional a uma ameaça iminente real ou percebida. Associado a picos de excitação autonómica
necessários à luta ou à fuga, pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga.
Ansiedade: Antecipação de uma ameaça futura. Associada a tensão muscular e a estados de vigilância em preparação
para perigos futuros e comportamentos cautelosos e de evitamento.
As perturbações de ansiedade diferem do medo ou da ansiedade do desenvolvimento normal por serem excessivas ou
persistirem para lá dos períodos de desenvolvimento adequados.
Diferem do medo e da ansiedade transitórios, muitas vezes induzidos pelo stress, por serem persistentes – embora os
critérios de duração tenham algum grau de flexibilidade, estes fenómenos têm tipicamente uma duração de seis meses
ou mais.
Critérios de Diagnóstico:
1) Ansiedade e preocupação excessivas (apreensão expectante) que ocorrem em mais de metade dos dias durante
pelo menos seis meses, sobre vários acontecimentos ou atividades (tais como o desempenho laboral ou escolar);
2) O indivíduo tem dificuldade em controlar a preocupação;
3) A ansiedade e a preocupação estão associadas a três (ou mais) dos seguintes sintomas (com pelo menos alguns
sintomas presentes em mais de metade dos dias durante seis meses):
→ Agitação, nervosismo ou tensão interior;
→ Fadiga fácil;
→ Dificuldades de concentração ou mente vazia;
→ Irritabilidade;
→ Tensão muscular;
→ Perturbações do sono (dificuldade em adormecer ou em permanecer a dormir ou sono insatisfatório).
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4) A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam mal-estar clinicamente significativo ou défice social,
ocupacional ou noutras áreas importantes do funcionamento;
5) A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (exemplo: droga de abuso) ou a outra
condição médica;
6) A perturbação não é mais bem explicada por outra perturbação mental.