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Estudante de graduação deve redobrar atenção para com seus direitos.

Saiba como renegociar sua mensalidade ou não ter seu desempenho acadêmico prejudicado em
tempos de crise

A pandemia está trazendo dificuldades econômicas para as famílias, e isso já não é novidade. Os
estudantes matriculados em instituições privadas de ensino superior estão entre aqueles que
sentem o baque com força - e isso vale tanto para aqueles que trabalham para pagar o próprio
curso como aqueles que têm os estudos custeados pela família, já que o desemprego vem
crescendo: a última taxa divulgada pelo IBGE dava conta de 14,2% de desocupados no Brasil, o
que significa 14,3 milhões de desempregados, quase três milhões a mais que um ano antes
(quando eram 11,9 milhões).  

Em abril do ano passado, quando a pandemia só começava, o Instituto Semesp, que representa as
faculdades privadas, fez um levantamento junto a 146 instituições privadas de ensino superior e
constatou que a inadimplência havia subido 72,4% em relação ao mesmo mês de 2019. Já
naquela época muitos alunos haviam optado por abandonar os cursos: a taxa de evasão havia
subido 32,5% em abril de 2020 na comparação com 2019. Passado um ano, o Semesp, em um
levantamento preliminar, divulgou que 1 milhão de alunos devem deixar de entrar em faculdades
privadas em 2021 - uma redução de cerca de 30% em relação ao ano passado. 

Então se você está entre aqueles que até aqui resistem bravamente e seguem adiante com sua
graduação, saiba que tem espaço para diálogo, já que para driblar a crise as faculdades estão
abertas a negociar. Outra coisa importante é você conhecer seus direitos contidos na lei
9.870/1999, que estabelece, entre coisas, as regras para cobrança que os estabelecimentos
privados de ensino estão obrigados a seguir.   

Mesmo que você esteja inadimplente a faculdade não pode, por exemplo, proibir que você faça
provas, nem pode reter seus documentos escolares ou aplicar quaisquer outras penalidades
pedagógicas em razão do inadimplemento.

Outra coisa que a lei proíbe a faculdade de fazer é desligar você do curso por inadimplência. O
dispositivo legal admite essa medida extrema somente ao final do ano letivo - ou, em se tratando
de ensino superior, somente ao final do semestre letivo, e isso nos casos em que a instituição
adota o regime didático semestral. O artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor (lei
8.078/1990) reforça essa proteção, já que interromper o estudo em razão de débitos configura
cobrança vexatória ao estudante.
  
Outro direito que a lei 9.870/1999 lhe garante é o de não ser onerado com eventuais revisões e
reajustamentos do valor das parcelas da anuidade ou semestralidade escolar dentro de um prazo
inferior a um ano a partir da data em que o valor anterior tiver sido fixado, a menos que esse
reajuste esteja expressamente previsto em lei. 

Outra garantia, esta advinda do Código de Defesa do Consumidor, é a de que seu nome não seja
inscrito pela faculdade no SPC. Isso porque nossa legislação considera que o serviço de
educação é um direito social, e portanto a inscrição do nome do aluno em cadastro de restrição
de crédito constitui prática desproporcional tendo em vista a natureza da prestação de serviço.
Mas atenção: isso não impede que o estabelecimento ingresse com uma ação de cobrança para
exigir os valores não pagos. 

Por fim, saiba que as entidades privadas de ensino não podem aumentar as mensalidades como
lhes der na cabeça. Elas estão obrigadas a comprovar, mediante exibição de planilhas de custo, a
necessidade do aumento. Essa planilha, por sua vez, deverá ser disponibilizada 45 dias antes do
último dia da rematrícula dos alunos. Se não cumprir com essa obrigação, os alunos e as
entidades estudantis, como Centros e Diretórios Acadêmicos, podem informar, por escrito, que
estão impugnando o valor - ou seja, podem contestar o reajuste enquanto não for apresentada a
planilha e a proposta de contrato.

Projeto de lei tenta socorrer estudantes

Um grupo de deputados federais tenta aprovar desde meados de 2020 o projeto de lei (PL
3836/20) que cria bolsa de estudos emergencial a ser paga pelo governo federal a cursos
superiores privados. O objetivo seria combater os efeitos da inadimplência nas mensalidades em
razão da crise econômica decorrente da pandemia de Covid-19.

Pela proposta, poderiam receber a bolsa os alunos que comprovarem perda de renda familiar ou
pessoal por conta da pandemia. Se o projeto for aprovado e virar lei, o estudante deverá solicitar
o benefício diretamente a instituição de ensino, que encaminhará o processo ao Ministério da
Educação para pagamento das mensalidades retroativas até março de 2020.

O projeto está em estágio avançado de tramitação: de acordo com o website da Câmara, no


último dia 19 de abril ele foi enviado para publicação pela Coordenação de Comissões
Permanentes. Se você se interessa em dar um empurrãozinho na aprovação do projeto, deixe seu
voto na página de enquete do Congresso.

Vídeo: Dois dos parlamentares autores da proposta chegaram a falar sobre ela em uma live que
está disponível no youtube.

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