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ABRIL 2018 | R$ 49,90 | hbrbr.com.

br 46 MARKETING 70 FINANÇAS

Os elementos Qual o valor


de valor do B2B de um like?
Eric Almquist, Jamie Cleghorn Leslie K. John, Daniel Mochon,
e Lori Sherer Oliver Emrich e Janet Schwartz

58 GESTÃO DE PESSOAS
78 DIVERSIDADE
A contratação Diversidade e
de um líder autenticidade
empreendedor Katherine W. Phillips, Editores

Timothy Butler Tracy L. Dumas e Nancy P. Rothbard


BRASIL

AS NOVAS
DA GESTÃ
TALENTOS Ser ágil já não é uma
prerrogativa só da
tecnologia
PÁGINA 23
09604

9 772359 609005
ISSN 2359-6090
ABRIL 2018

FOCO 24 RECURSOS HUMANOS


O RH TORNA-SE ÁGIL
39 GESTÃO DE PESSOAS
EXPERIMENTO DE UMA EQUIPE ÁGIL:
AS NOVAS REGRAS Ser ágil já não é prerrogativa
só da tecnologia
O CASO DE UM BANCO
DA GESTÃO DE Peter Cappelli e Anna Tavis
Como o ING reformulou suas
operações de varejo

TALENTOS

23
34 LIDERANÇA
Dominic Barton, Dennis Carey e
Ram Charan
CRIAÇÃO CONJUNTA DA
EXPERIÊNCIA DO FUNCIONÁRIO
Uma conversa com Diane Gherson,
chefe de RH da IBM
Lisa Burrell

CAPA: SHUTTERSTOCK; JUJ WINN/GETTY IMAGES

HBR BRASIL FIQUE CONECTADO CONOSCO


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4 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


ARTIGOS
MARKETING
Os elementos de
valor do B2B
Como medir — e
45
entregar — o que os clientes
GESTÃO DE PESSOAS
A contratação de um
líder empreendedor
O que procurar
Timothy Butler
FINANÇAS
Qual o valor de um like?
Aceitações nas redes
sociais não funcionam
como você imagina
DIVERSIDADE
Diversidade e autenticidade
As minorias hesitam em
partilhar informação sobre elas
mesmas no trabalho. E isso é
comerciais desejam Leslie K. John, Daniel um problema para todos
Eric Almquist, Jamie
Cleghorn e Lori Sherer 58 Mochon, Oliver Emrich
e Janet Schwartz
Katherine W. Phillips,
Tracy L. Dumas e
Nancy P. Rothbard
46 70 78
RADAR 14 GESTÃO ORGANIZACIONAL
Por que fazer um rodízio
dos lugares no escritório
EXPERIÊNCIA 84 ESTUDO DE CASO
É possível reduzir
o “tempo em solo”
Novas ideias e Às vezes, o planejamento da Administre seu sem aumentar a equipe?
pesquisas em distribuição das cadeiras é crescimento profissional Como uma empresa aérea
andamento realmente importante. MAIS ajustou a produtividade
Um resumo geral das últimas Ethan Bernstein e
pesquisas e ideias sobre gestão Ryan W. Buell
18 DESENVOLVIMENTOORGANIZACIONAL
O CEO da State Street e a
DENAMAZANIK/ISTOCK

criação de empregos para


jovens marginalizados
O ponto crucial é ter um sistema
para apoiar as crianças
Joseph Hooley

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 5 


CARTA AO LEITOR
COMO A Há três anos, a HBR publicou o artigo “Por que adoramos odiar
o RH… e o que o RH pode fazer a respeito”, de Peter Cappelli.
Segundo o professor da Faculdade Wharton da University of

TECNOLOGIA ESTÁ Pennsylvania, o ambiente atual dos negócios, no qual talento


é um recurso cada vez mais escasso, representa uma enorme

TRANSFORMANDO oportunidade para mudar a visão que se tem do RH como pouco


mais que um iscal de regras e regulamentações quase sempre
enfadonhas.

O RH Apesar do exagero, essa visão amplamente disseminada


não carece de fundamento. Vários departamentos de RH
há muito tempo adotaram o modelo baseado em regras e
planejamento, modelo este que tomou forma quando os
líderes corporativos passaram a estabelecer o prazo de cinco
anos para seus planos de negócio, e a trajetória de carreira
dos funcionários era previsível. Hoje a sobrevivência das
empresas exige a capacidade de empreender mudanças
rápidas, e os departamentos de RH em sintonia com os novos
tempos estão se transformando para atender à demanda de
desenvolvimento de novas habilidades e modelos de trabalho.
Eles estão aproveitando ideias de uma fonte surpreendente — o
departamento de TI, que em muitas organizações tem adotado
processos ágeis para melhor servir os clientes.
Essa transformação é tema do Foco desta edição. No artigo
de abertura, “O RH torna-se ágil”, Cappelli e a coautora Anna
Tavis, da New York University, escrevem: “Já não havendo
justiicativa para manter os antigos sistemas de RH, e com o
‘manual’ da agilidade disponível para ser copiado, o RH está,
Adi Ignatius
inalmente, conseguindo sua tão esperada reformulação”.
Outros artigos explicam como o ING e a IBM estão tornando
mais ágil sua gestão de talentos.
A transição não é fácil (transições raramente são). Mas
os departamentos de RH outrora fora de compasso estão se
reprojetando na imagem da empresa, com resultados
notáveis — e nos forçando a rever nossa visão da área.
CHRISTOPHER CHURCHILL

ADI IGNATIUS, EDITOR-CHEFE

8 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


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Volume 96, Número 04, Abril 2018 Editores

JORNALISTA RESPONSÁVEL
Roberto Müller Filho
Apresenta

A transformação da
auditoria na era digital
Novas tecnologias aumentam pressão por resultados mais
rápidos e completos, mas também criam oportunidades
Por Silvio Takahashi, sócio de Auditoria da EY

O crescimento exponencial de produção ferramentas, softwares e práticas. Com isso,


de dados, ao longo da última década, o que antes exigia dos auditores incontáveis
é fruto de um processo acelerado de inovação horas de concentração para checagem e
tecnológica, marcado por elementos como big cruzamento de dados impressos em centenas
data, blockchain, robótica, internet das coisas, de folhas, hoje se tornou um procedimento
entre outros. Toda essa transformação cria essencialmente digital.
fgngk\]kYÕgkhYjYgkhjg[]kkgk\]Ym\algjaY&
A captação de informações e o
Felizmente, essa era de transformação também acompanhamento de inventários, por exemplo,
traz consigo uma constante evolução de hoje já são feitos com o auxílio de drones
EYBrasil EY_Brasil EYBrasil EY EYBrasil Saiba mais: ey.com.br/digital


capazes de mapear uma vasta extensão
l]jjalgjaYd$e]d`gjYf\gY]Õ[aˆf[aY\ghjg[]kkg
Novas ferramentas
mesmo em áreas de difícil acesso. Por meio
de softwares especializados, esses aparelhos
permitem um
realizam a contagem e a categorização de itens processamento rápido
diretamente para um banco de dados digital.
e produtivo e podem
Nesse novo contexto, cada informação passa
por um complexo e automatizado processo ser aplicadas a clientes
\]n]jaÕ[Y…ƒg$im]mf][Y\Yfgngafhml
a cada premissa determinada e a cada relatório de quaisquer setores
emitido anteriormente. Essa análise de big
\YlY†[YhYrfƒgYh]fYk\]a\]flaÕ[Yjjak[gk
sem prejuízos à qualidade
de Compliance mas, também, de propor
Ydl]jfYlanYkhYjYj]nakƒg\]af[gfkaklˆf[aYk&

Ainda que o volume de materiais seja cada


vez maior, as novas ferramentas de auditoria
dos relatórios.

= † f]kk] hgflg im] ]fljY ]e ]na\ˆf[aY
o novo papel do auditor. Se agora a coleta,
permitem um processamento rápido e produtivo o cruzamento e a disponibilização de dados
das informações e podem ser aplicadas tendem a ser automatizados, o auditor passou
a clientes de quaisquer setores sem prejuízos a ganhar cada vez mais importância na etapa
à qualidade dos relatórios obtidos. estratégica desse processo, como a correta
análise das exceções encontradas.
Lg\gk]kk]k\Y\gkÕ[Ye$]flƒg$jYha\Ye]fl]
disponíveis nos computadores e nos aparelhos O auditor da era digital precisa estar
móveis de auditores e clientes, por meio do hj]hYjY\ghYjYÕdljYjmeeYkkang
armazenamento em nuvem. Essa conectividade volume de dados e retirar, de cada fonte,
aproxima as partes e otimiza o processo de as informações mais importantes para
análise e de resolução de qualquer questão. uma correta tomada de decisão de acordo
[gek]mbmd_Ye]flghjgÕkkagfYd&
Lg\g]kk]_Yf`g\]]Õ[aˆf[aYfƒg†Yh]fYk
um luxo para o mundo dos negócios mas, A auditoria está em um amplo processo
também, uma grande segurança para empresas de transformação. Essa mudança interessa
e organizações, uma vez que, com a evolução a diversos stakeholders, já que traz mais
da produção de dados e das tecnologias, cresce ljYfkhYjˆf[aYYgkj]hgjl]kÕfYf[]ajgk$
ghg\]j\]Õk[YdarY…ƒg\]j_ƒgkj]_mdY\gj]k mais credibilidade para as empresas
]$lYeZ†e$Y^j]imˆf[aY\Ykh]fYda\Y\]k ]$hgjÕe$eYak[gfÕYf…YYge]j[Y\g
aplicadas a pessoas físicas e jurídicas. e à economia como um todo.
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL:
A NOVA ERA DO RH NAS
EMPRESAS.
Descubra as novas técnicas de gestão e análise de dados que
estão deixando as relações de trabalho cada vez mais humanas.

Entre os convidados, estão:

Eduardo Gil Maurício


Giannetti Giardelli Benvenutti
Economista Professor, Escritor,
estudioso da empreendedor
Cultura Digital e mentor de
empresas

06.JUN.18 | 09H ÀS 19H


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Radar
ABRIL 2018
POR QUE VOCÊ DEVE FAZER
UM RODÍZIO DAS MESAS NO
ESCRITÓRIO 14
Nova pesquisa mostra que
em certas circunstâncias uma
reorganização periódica no
escritório não só aumenta a
colaboração como também
estimula o pessoal e alavanca
o resultado final do balancete.
Mais Como a recessão de 2008.
COMO EU FIZ 18
O CEO da State Street e a
criação de empregos para
jovens marginalizados

O retorno sobre o
investimento da
reconfiguração
do escritório.
pág. 14

ILUSTRAÇÃO DE KUO CHENG LIAO


ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 13 
RADAR POR QUE VOCÊ DEVE FAZER UM RODÍZIO DAS MESAS NO ESCRITÓRIO

POR QUE É REALMENTE IMPORTANTE PLANEJAR A DISTRIBUIÇÃO DOS LUGARES

POR QUE VOCÊ DEVE


da média e que não tinha nenhum vínculo
social anterior com pelo menos alguns dos
colegas em seu novo local de trabalho. Lee
explica da seguinte forma: “uma vez que

FAZER UM RODÍZIO DAS


você aprendeu o suiciente na área em que
se especializou, o contato com novas pes-
soas o tornará mais criativo. Em particular,
a proximidade física promove a coniança e

MESAS NO ESCRITÓRIO
a troca de novos e valiosos conhecimentos
entre colegas que se conheceram há pouco
tempo. Esse tipo de prática permite que vo-
cê recombine o novo conhecimento com o
que já possui, para inovar”.
Exemplos de novos produtos prospecta-

Q
dos incluem uma panela para cozinhar ar-
uando os locais de trabalho corporati- comum. Embora a empresa quisesse que to- roz que pode ser conectada ao carro (uma
vo são reorganizados, os funcionários das as equipes se mantivessem reunidas um combinação das categorias vida cotidiana e
encaram o processo como uma gran- mesmo local, restrições de espaço exigiram lazer), protetor de orelha com a função blue-
de chateação. As gavetas são esvazia- que nove equipes fossem distribuídas nu- tooth embutida (moda e eletrônica) e um tro-
das, caixas empacotadas, a rotina ma área aberta e três em outra área com uma ninho para bebês que toca música (infantil e
diária de trabalho interrompida — entrada comum no meio. Os dois espaços eletrônica). Segundo Lee, os estrategistas de
para quê, exatamente? As empresas de eram idênticos em termos de decoração, ilu- vendas não trabalharam diretamente com
design há muito tempo destacam os benefí- minação, equipamentos, distância entre as os novos colegas que acabaram de conhecer,
cios dessas mudanças, argumentando que, equipes e estações de trabalho e proximida- mas foram inspirados, por diálogos ouvidos
quando as pessoas circulam mais livremen- de com a gestão. E eram muito semelhantes casualmente e conversas informais, a mudar
te e contatam aleatoriamente diferentes à sede anterior. Os funcionários não podiam de criatividade “incremental” para “radical”
grupos de colegas, elas tornam-se mais co- escolher onde se sentar. e, como resultado, as vendas aumentaram.
laborativas e criativas. Alguns gestores tam- Analisando 38.435 acordos realizados Curiosamente, a redistribuição dos fun-
bém pensam assim. Ao planejar uma nova por 60 estrategistas de vendas em 200 dias cionários do espaço físico parece ter estimu-
sede para a Pixar, Steve Jobs celebrizou-se — 120 dias antes e 80 dias depois da mudan- lado mais o desempenho que outras mudan-
ao colocar o grande toalete central no átrio ça —, Lee descobriu que os estrategistas de ças que a empresa empreendeu (também
do prédio, exigindo que os funcionários vendas no espaço com mais equipes realiza- estudadas por Lee) a partir de incentivos
percorressem certa distância para utili- ram, em média, 25% mais acordos com no- individuais sobre os salários ixos. Além dis-
zá-lo —, criando assim “colisões não plane- vos fornecedores do que todos os estrategis- so, o efeito gerado pela realocação foi rápido
jadas” com a intenção de incentivar a ino- tas que fecharam acordos antes da mudança. — o aumento de acordos entre as categorias
vação. Dezenas de pesquisas apoiaram essa Os acordos não resultaram de colaboração. ocorreu em um mês — e cresceu por todo o
decisão. Mas, até hoje, é difícil provar o re- Eles marcaram uma mudança na qualidade período de 80 dias depois da mudança.
torno inanceiro sobre o investimento (ROI) do trabalho das pessoas. Lee caracteriza essa O estudo de Lee é um dos primeiros a
na reconiguração do escritório. mudança como uma substituição de “explo- utilizar uma estrutura anterior e posterior
Sunkee Lee, professor da Carnegie ração” para obter vantagem — simplesmente para examinar como a realocação das mesas
Mellon Uninversity, encontrou, por acaso, repetindo ofertas que funcionaram no passa- afeta a inovação individual e o desempenho
um “experimento natural”, numa grande do — para “exploração”, no sentido de apre- das vendas. O estudo faz parte de uma lon-
empresa sul-coreana de comércio eletrônico sentar novas ideias. Mas talvez o mais impor- ga linha de investigação que sugere que o
que estava se transferindo para uma nova se- tante é que a receita dos acordos diários de lugar onde os colegas se sentam pode afetar
de. (A empresa exigiu sigilo sobre sua identi- cada estrategista de vendas sentado perto de, profundamente sua forma de trabalhar em
dade.) No prédio antigo, seis equipes de “es- até então, colegas não familiares foi, em mé- conjunto. Na década de 1970, por exemplo,
trategistas de vendas” encarregadas de pros- dia, 40% mais alta (US$ 16.510 por dia) do que Thomas Allen, professor do MIT, estudou a
pectar e comercializar ofertas-relâmpago a média dos estrategistas antes da mudança. comunicação entre engenheiros na divisão
em várias categorias de produtos (eletrôni- O aprimoramento da criatividade — a de P&D de uma empresa multinacional. Sua
cos, infantis, moda, etc.) se sentavam numa mudança para ideias exploratórias — foi descoberta, conhecida como a curva Allen,
área, enquanto seis outras equipes de estra- estatisticamente signiicativo somente pa- descreve a redução drástica de diálogos en-
tegistas sentavam-se em outra área. Os dois ra as pessoas cuja experiência em prospec- tre pessoas que se sentam muito distantes.
grupos estavam separados por uma entrada tar acordos na organização estava acima Embora boa parte da pesquisa anterior

14 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


NA PRÁTICA KATIE BURKE
O RODÍZIO DE LUGARES TORNA A
EMPRESA UM GRUPO MENOS EXCLUSIVO”
Katie Burke é CHRO da HubSpot, uma empresa de software de marketing
com quase 2.000 funcionários. Recentemente ela conversou com a HBR
sobre a abordagem de sua empresa ao promover um rodízio na designação
das mesas. A seguir são apresentados trechos editados da entrevista.

Como o espaço do escritório da que elas possam aprender mais sobre


Hubspot reflete a cultura da nossa forma de trabalhar.
organização? Desde o início queríamos
ser colaborativos e anti-hierárquicos Quanto tempo sua equipe gasta em
e evitar a “síndrome do escritório do reconfigurações? É uma colaboração
canto” onde os executivos ficam isolados que leva tempo entre a experiência
dos funcionários e certas equipes não de nossos funcionários, equipes
se envolvem com as demais. Por isso administrativas e de infraestrutura.
sempre tivemos escritórios abertos. Mas acreditamos que os benefícios
Nós também redistribuímos os lugares compensam muito mais que os custos.
aproximadamente a cada três meses,
embora isso possa variar de acordo com Considerando a importância
a equipe e a localização do escritório. que vocês atribuem aos lugares,
os funcionários têm permissão
Por que mudar as pessoas de lugar para trabalhar em casa? Todos
com tanta frequência? Nossos têm um laptop e nós promovemos a
fundadores perceberam que em todos os flexibilidade e o trabalho remoto. Temos
escritórios existem lugares bons e ruins, algumas pessoas que nunca entraram
por isso eles criaram uma loteria em que em nenhum de nossos escritórios.
todos participam, incluindo eles mesmos. Mas algumas equipes encorajam as
Se você tirar o número um, terá a primeira pessoas a vir para o escritório três a
escolha, mas depois de alguns meses quatro dias por semana. Tentamos
qualquer outra pessoa tirará o número ser transparentes sobre o que é
um e poderá escolher o melhor lugar. esperado de cada grupo. Nós também
A questão é eliminar as percepções de temos espaços reservados em nossos
desigualdade de poder. As reorganizações escritórios onde as pessoas podem
também enfatizam que a mudança deve receber telefonemas ou desenvolver um
ser constante, por isso você precisa ser trabalho individual.
adaptável. E nós queremos que as pessoas
saiam dos padrões sociais em que estão As pessoas não se cansam de
entrincheiradas para poder colaborar e empacotar suas coisas a cada três
aprender. Se eu trabalho em marketing meses? Algumas pessoas questionam
ou na equipe de blog, de repente posso a praticidade dessas mudanças na
estar sentado perto de uma representante escala em que estamos agora. Para
de vendas e ao ouvir suas respostas ao algumas, é irritante ou uma chatice
telefone posso aprender mais sobre como se separar de um amigo ou de alguém
explicar nossos produtos. com quem estão trabalhando num
projeto. Mas faz parte de nossa cultura
Vocês deslocam equipes inteiras ou desde o início. Torna a empresa menos
misturam as funções? Nós mantemos exclusivista. Uma de nossas mensagens
as equipes juntas, mas trocamos grupos mais fortes para os funcionários
adjacentes e misturamos as pessoas é: o dia em que pensarmos que já
dentro de cada equipe. Nós também sabemos tudo, será o o dia em
tentamos colocar estagiários e novos que nos perderemos como empresa.
contratados perto de pessoas que já Mudar fisicamente de lugar é um
estão conosco há um bom tempo para bom lembrete visual disso.

FOTOGRAFIA DE CODY O’LOUGHLIN


ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 15 
RADAR POR QUE VOCÊ DEVE FAZER UM RODÍZIO DAS MESAS NO ESCRITÓRIO

CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 14

tratasse de empresas, o fenômeno vale também pa-


ra outras áreas. Um estudo de 2015 documentou que
membros do Senado dos EUA que se sentam muito
próximos mostram uma tendência maior de apoiar os
projetos de lei um do outro, independentemente de
sua iliação partidária.
Lee suspeita que se ele tivesse continuado a cole-
tar dados na empresa sul-coreana, ele teria visto um

GÊNERO
efeito de maturação. “Quando você se senta perto
de uma pessoa desconhecida, só pode absorver dela
certa quantidade de conhecimento”, ele explica. “Es-

SOMENTE OS HOMENS
se tipo de coisa pode desaparecer com o tempo.” Ele
também observa que suas descobertas não devem ser
interpretadas de forma demasiadamente ampla. O

RECEBEM CRÉDITOS POR FALAR


estudo envolveu um conjunto relativamente pequeno
de funcionários de uma startup de tecnologia num
país de cultura coletivista.
No entanto, Lee acredita no potencial dessas in-
tervenções para obter resultados em outras empre-
sas e em outros países. “Tudo depende das metas de
Um dos comportamentos que deinem um líder é
sua organização”, observa. “Se você quiser manter a sua tendência para falar livremente quando trabalha
produtividade, esse certamente será um motivo para
manter seus espaços de trabalho como estão. A pes-
em equipe. Em dois estudos, os pesquisadores
quisa mostra que mudanças, principalmente para descobriram que as pessoas com essa característica,
áreas abertas, podem reduzir a motivação, satisfa-
ção e até prejudicar a saúde dos funcionários. Mas, se
com muita frequência conquistam o respeito dos
sua organização está focada no compartilhamento do colegas, melhoram seu status e se destacam como
conhecimento e inovação, reconigurações periódi-
cas podem valer a pena” — desde que pessoas antes
líderes do grupo — mas o fenômeno vale somente
desconectadas sejam aproximadas e as mais novas no para certas pessoas e modos de expressão. Os estudos
emprego recebam mais treinamento e apoio.
Embora muitas empresas tenham abandonado os
envolveram cadetes da academia militar de West Point
escritórios de portas fechadas e até cubículos abertos que desenvolviam projetos em grupo e voluntários
em favor de locais de trabalho comuns, com escriva-
ninhas uma ao lado da outra, num esforço para enco-
que ouviam gravações de pessoas contribuindo com
rajar interações não planejadas (e economizar dinhei- ideias ou críticas para um grupo de trabalho. “Nos dois
ro), poucas vão tão longe a ponto de rotineiramente
reorganizar radicalmente os lugares designados. Por
estudos, observamos o mesmo padrão de resultados”,
exemplo, a Valve, empresa de videogames, fez isso, relatam os autores. “Homens que expunham suas
colocando suas estações de trabalho sobre rodas para
os funcionários poderem se deslocar para onde seus
ideias eram considerados de status superior e tinham
interesses e projetos exigissem. E a HubSpot, empre- maior probabilidade de se tornarem líderes. As
sa de software de marketing digital, redistribui aleato-
riamente as mesas a cada poucos meses.
mulheres não recebiam nenhum benefício de status
Se essas reconigurações de mesas permitem ou de potencial liderança por falar.” Nem homens nem
aumentar a receita da mesma forma como aconteceu
com a empresa de comércio eletrônico da Coreia do
mulheres perderam status ou potencial liderança por
Sul, é uma questão para pesquisas futuras. Mas elas expor problemas, mas não tiveram nenhuma vantagem
são cada vez mais comuns. “A idéia é encorajar as
pessoas de mundos diferentes a se misturar e com-
por esse tipo de observação. Os pesquisadores relatam
binar ideias para que você possa extrair o melhor de que suas descobertas destacam um impedimento para
ambos”, comenta Lee. “Isso estimula o desenvolvi-
mento individual e coletivo.”
avaliações objetivas, independentemente de gênero,
HBR Reprint F1804A–P das contribuições dos membros das equipes. ■
SOBRE A PESQUISA “Can Reconfiguring Spatial SOBRE A PESQUISA “The Social Consequences of Voice: An Examination of Voice Type
Proximity Between Organizational Members Promote and Gender on Status and Subsequent Leader Emergence,” por Elizabeth J. McClean et
Individual-Level Exploration?” por Sunkee Lee al. (Academy of Management Journal, 2017).

16 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


ECONOMIA
COMO A RECESSÃO DE 2008 MUDOU
AS OPERAÇÕES FINANCEIRAS
Nessa década, desde o início da recessão,
os balanços patrimoniais dos bancos de
A RECEITA DOS BANCOS DE INVESTIMENTO O NEGÓCIO DE BANCOS DE
investimentos caíram pela metade e o DIMINUIU EM UM QUARTO, PRINCIPALMENTE INVESTIMENTO SE DESLOCOU
capital investido dobrou: sinais de um setor
menor, mais avesso ao risco, provocado pela DEVIDO À QUEDA DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO PARA EMPRESAS AMERICANAS
regulamentação projetada para evitar outra RECEITA (EM BILHÕES DE US$) TRILHÕES DE US$
crise. Os bancos mais bem posicionados
2007 HOJE
atualmente são aqueles que investiram em US$ 180
tecnologia durante a retração econômica para
US$ 65 US$ 70 RECEITA
GLOBAL
competir com startups ágeis “fintech” (finanças US$ 60
e tecnologia) que podem criar rapidamente
produtos e serviços de que os clientes precisam. US$ 40
Os bancos sofreram com orçamentos apertados US$ 115
BANCOS DE RECEITA
de tecnologia, rígidas estruturas organizacionais INVESTIMENTO GLOBAL
ou visões internas competitivas sobre a futura CRÉDITO
estagnação do risco — ou pior. ■

ENQUANTO O CAPITAL
INVESTIDO DUPLICAVA... US$ 120
RECEITA
US$ 115
RAZÃO DO CAPITAL EM RELAÇÃO AOS BENS MACRO (TAXA DOS EUA RECEITA
PONDERADOS PELO RISCO DE JUROS, DOS EUA
INVESTIMENTOS AÇÕES
EM COMÉRCIO
EXTERIOR)

6 13,5 US$ 70
US$ 60
US$ 85 US$ 80 2007 HOJE

2007

HOJE
CORTES DE EMPREGOS, PRINCIPALMENTE O GAP NOS LUCROS ENTRE
....OS BALANÇOS PATRIMONIAIS EM VENDA E COMERCIALIZAÇÃO, OS BANCOS DO TOPO E DA
CAÍRAM PELA METADE REDUZIRAM AS DESPESAS BASE AUMENTOU
TRILHÕES DE US$ DESPESAS (EM BILHÕES DE US$) LUCROS SOBRE AÇÕES (%)

US$ 20 US$ 120 25


QUARTIL SUPERIOR
US$ 100 DOS BANCOS
20
US$ 15 EXPOSIÇÃO DE
ALAVANCAGEM LINHA DE FRENTE
US$ 80
APOIO 15
US$ 10 US$ 60
10
US$ 40 QUARTIL INFERIOR
US$ 5 BENS PONDERADOS
PELO RISCO
US$ 20 5

0 0 0
2007 HOJE 2007 HOJE 2007 HOJE

FONTE ANÁLISE DE OLIVER WYMAN DOS RELATÓRIOS ANUAIS E DADOS COM DIREITOS DE PROPRIEDADE

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 17 


COMO EU FIZ

O CEO DA
STATE STR T
E A CRIAÇÃO
DE EMPR GOS
PARA JOVENS
MARGINALIZADOS
O ponto crucial é ter um sistema
para apoiar as crianças quando
saem da escola e se encaminham
para o mercado de trabalho.
Joseph Hooley
FOTOGRAFIA DE SCOTT NOBLES
18 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018
m 2014, recebi um telefonema do escri- 1970, a State Street começou a deixar de ser um banco

E
tório do governador de Massachusetts. tradicional para se tornar uma empresa de serviços i-
Eles me pediam que participasse de uma nanceiros impulsionada pela tecnologia.
parceria público-privada (PPP). O objetivo Essa mudança me atraiu. Depois da universidade,
era melhorar a qualidade das faculdades fui trabalhar na AT&T, onde recebi amplos treinamen-
públicas locais. Desenvolvimento de mão tos no que hoje chamamos de Tecnologia da Informa-
de obra é um problema que me preocupa, ção. Em uma dessas aulas, conheci minha mulher.
e todo CEO recebe ligações como essa de Depois do acordo que dividiu o antigo sistema Bell,
tempos em tempos. Tento ajudar sempre acabei indo trabalhar na American Bell, que vendia
que posso, por isso disse sim. equipamentos de comunicação para grandes organi-
Fui a algumas reuniões e logo iquei frustrado. Não zações e competia com empresas como a IBM. Manti-
era minha primeira experiência em PPPs, e embora al- ve a propensão para a tecnologia e passei a me concen-
gumas tivessem sido bem-sucedidas, muitas não de- trar em maneiras de usar a tecnologia para possibilitar
ram certo. Ao participar de uma reunião, comecei a serviços e capacitar pessoas.
imaginar com que meios a State Street solucionaria Meu pai se aposentou da State Street em dezembro
alguns dos problemas relacionados ao desenvolvimen- de 1985 e entrei na empresa um mês depois. Passei dez
to de mão de obra. anos dirigindo a joint venture da State Street, inicial-
Nossa empresa tem uma grande instituição de ca- mente em Kansas City. Voltei para Boston em 2000 no
ridade, então já gastávamos milhões de dólares anual- intuito de liderar nossos serviços de investimentos glo-
mente nas áreas de educação e na formação de proissio- bais e depois fui promovido a vice-diretor e em segui-
nais. A State Street é uma das maiores empregadoras de da a presidente. Em 2010 tornei-me CEO da empresa.
Boston. Todo ano contratamos milhares de funcionários Durante esse percurso, me envolvi com atividades
recém-formados. Isso é importante. O grande prêmio da ilantrópicas locais, especialmente como um ativo pa-
pessoa que conclui sua formação acadêmica é uma ofer- trocinador e membro da diretoria do Boys & Girls Clubs
ta de emprego e uma carreira, e podemos oferecer isso of Boston. Tive a oportunidade de visitar alguns clubes
de uma maneira que nenhuma organização sem ins lu- e ver seu bom trabalho. Eles ofereciam atividades pa-
crativos é capaz. Além do mais, nossa empresa está ra depois do horário de aula, ensinavam capacitação,
repleta de membros da geração Y que querem ser volun- organizavam equipes esportivas e ajudavam crianças
tários, e o programa de mentoria é parte essencial pa- com as tarefas escolares. Notei o quanto organizações
ra ajudar jovens a passar por todas as etapas, do ensino competentes podem fazer. Participei também de algu-
médio à universidade e ao mercado de trabalho. Quando mas iniciativas em escolas urbanas nas quais a State
precisamos encontrar alguém na State Street para orien- Street se envolveu.
tar um estudante, não precisamos perguntar duas vezes. Por meio desse trabalho, me convenci de que se pu-
Comecei a falar sobre essa ideia dentro da empresa, desse ajudar a resolver apenas um problema no mundo,
e os funcionários icaram entusiasmados. Queríamos seria a educação urbana. Os problemas sociais costu-
ir além de soluções especíicas e colocar em prática um mam estar interligados, e a instrução perpassa muitos
programa compreensível, sistemático e ampliável — deles. Melhorar isso gera crescimento econômico, re-
direcionado para a produção de resultados mensurá- duz a criminalidade e diminui o desemprego, o conlito
veis e sustentáveis. social e os problemas habitacionais. Visitei muitas es-
Foi assim que desenvolvemos e em 2015 lançamos colas ao longo dos anos, algumas excelentes, mas as so-
o Boston WINs (Workforce Investment Network). Nos- luções para os problemas de oferta de boa educação ur-
so compromisso é investir US$ 20 milhões e contratar bana tendem a ser inconsistentes e difíceis de replicar.
mil graduados de escolas públicas urbanas nos próxi-
mos quatro anos. Os resultados têm sido promissores:
contratamos mais de 200 recém-formados, que vêm se TRABALHAR COMO EM UMA CORRIDA DE REVEZAMENTO
adaptando muito bem à nossa cultura. Quanto mais eu pensava sobre o problema, mais perce-
bia que para ser eiciente nossa abordagem precisava ir
além do que acontece nas salas de aulas urbanas. Fazer
EDUCAÇÃO URBANA É CRUCIAL com que os estudantes passem pela escola, cheguem
Penso muito sobre oportunidade econômica porque até a universidade e então consigam um bom trabalho
venho de uma família de classe média. Cresci nos su- requer o gerenciamento de uma série de passagens e
búrbios de Boston com meus quatro irmãos. Quando transições, como atletas em uma corrida de revezamen-
estava na faculdade, trabalhava meio período e ban- to com bastão. Por exemplo, algumas organizações sem
quei minha educação com empréstimos para estudan- ins lucrativos fazem um grande trabalho de coaching
tes e com meu próprio salário. Aos 30 e poucos anos, de estudantes do ensino médio para melhorar suas ca-
ainda pagava meus empréstimos estudantis. pacidades de estudo ou para que consigam bons resul-
Meu pai trabalhou por 32 anos na State Street, e nes- tados em exames de admissão na universidade. Po-
sa época a empresa era muito diferente. Na década de rém é raro que essas organizações auxiliem os alunos

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 19 


RADAR COMO EU FIZ

na escolha da universidade e no processo de inscrição,


que é o passo seguinte. Outras organizações fazem isso,
STATE STREET FATOS E NÚMEROS
FUNDADA EM 1792
mas muitas crianças não conseguem se organizar para SEDE BOSTON, MASSACHUSETTS
NÚMERO DE EMPREGADOS 29.970
as duas etapas. Então, quando os alunos chegam à uni-
LUCRO (EM US$ BILHÕES)
versidade, eles precisam de mentoria e coaching para LUCRO LÍQUIDO
ajudá-los a continuar matriculados e a ser bem-sucedi- RS$ 10,4
dos, o que demanda um tipo diferente de apoio. A ajuda RS$ 9,6 RS$ 2,0
é também necessária para que possam se preparar para RS$ 1,9
um emprego e obtê-lo. É similar ao que ocorre nos hos-
pitais: o paciente pode ser tratado por vários especialis-
tas, que precisam se comunicar bem entre si para que
consigam sucesso pleno.
Nós gostaríamos de criar um programa que com-
binasse todas as formas de expertise necessárias para
apoiar os jovens ao longo do ensino médio e da universi-
dade até o mercado de trabalho. O ponto principal seria
um sistema coordenado para acompanhar os estudan-
tes entre essas especialidades, em vez de acreditar que
os alunos vão encontrar o que precisam, quando preci-
sam, em uma colcha de retalhos de empresas e soluções.
Em síntese, queríamos juntar algumas dessas orga-
nizações não lucrativas com um histórico comprovado
de sucesso na aquisição e manutenção de estudantes tri- 2011 2012 2013 2014 2015

lhando o caminho desde a escola até o mercado de traba- FONTE STATE STREET
lho, inanciá-las para que pudessem crescer, coordenar
seus esforços para que deixassem de trabalhar isolada- Acabamos escolhendo quatro organizações que ha-
mente e então nos comprometer a contratar um grande víamos financiado anteriormente e uma com a qual
número desses estudantes depois da graduação. passamos a trabalhar pela primeira vez. A Year Up, se-
diada em Boston, oferece cursos intensivos de capaci-
tação para jovens de baixa renda. A uAspire ajuda estu-
AS CINCO PARCEIRAS dantes a obter inanciamentos universitários. Já a The
Com essa visão, a questão passou a ser: como conse- Boston Private Industry Council (PIC) auxilia alunos a
guiríamos isso? Graças à instituição de caridade da conseguir experiência proissional e a trilhar o caminho
State Street, já mantínhamos um relacionamento com da escola até o mercado de trabalho. A College Advising
organizações que abordavam partes especíicas des- Corps (CAC) assiste estudantes em busca de uma uni-
se problema mais amplo. Mas decidimos ampliar um versidade e no processo de inscrição. E a Botton Line
pouco o espectro. Pedimos que propostas nos fossem ajuda tanto alunos de baixa renda quanto os que são ar-
enviadas e então realizamos uma competição, no esti- rimo de família a entrar na faculdade e concluir o curso.
lo do programa de TV Shark Tank: Negociando com Tu- Ainda que as cinco organizações permaneçam sepa-
barões, entre empresas sem ins lucrativos, com o obje- radas, nossa expectativa é que trabalhem juntas — co-
tivo de selecionar cinco grupos que receberiam subsí- mo se fossem fornecedores de empresa que trabalham
dios pelos quatro anos seguintes. As organizações sem de forma coordenada para que as partes se encaixem
ins lucrativos necessitam de contratos de subsídios perfeitamente, a entrega seja sincronizada e a qualida-
multianuais, então não foi difícil conseguir que algu- de continue alta. A isso chamamos ação coordenada:
mas delas participassem da competição. nossa intenção é prestar esses serviços de forma com-
As empresas só perceberam como seria difícil de- plementar, sólida e devidamente contínua. Acompa-
pois que passaram a se envolver em nosso processo de nhamos de perto o que cada aluno está recebendo; to-
triagem. Para fazer parte da Boston WINs, precisariam das as cinco parceiras colocam seus dados em um siste-
começar a colaborar com outras organizações, o que ma compartilhado que é atualizado a cada quinze dias.
não é necessariamente seu ponto forte. Muitas empre- Contamos atualmente com a participação de 20 esco-
sas sem ins lucrativos eicientes e dinâmicas têm lí- las de ensino médio, em cada uma realizamos uma reu-
deres carismáticos; pedíamos a eles que deixassem de nião mensal na qual representantes das cinco empresas
lado o ego e se concentrassem em formas de colaborar, discutem o progresso individual dos alunos. Todos têm
o que nem sempre acontecia naturalmente. Meu feed- uma lista de 12 marcos a atingir em datas predetermina-
back inicial para todos foi ressaltar que os grupos pre- das — entregar artigos de faculdade, preencher formu-
cisariam pensar de maneira mais ampla. Acredito que lários para auxílio inanceiro, participar do programa
isso é parte do papel do líder — forçar as pessoas a ele- Job Shadow (no qual o estudante passa um período jun-
var seus níveis de ambição. to a um proissional para aprender como o trabalho é

20 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


“FOI FUNDAMENTAL
TER AQUELE APOIO”
Quando Alana Hans-Bodden frequentava uma escola pública na região de
Dorchester, vizinha de Boston, ela achava que era inteligente o suficiente
para tornar-se a primeira pessoa da sua família a entrar na faculdade.
Mas os passos que envolviam o processo — escolher a faculdade certa e se
inscrever para obter auxílio financeiro — eram mais do que ela conseguia
lidar. Hans-Booden, agora com 24 anos e associada sênior da equipe de
verificação independente da State Street, obteve ajuda da Bottom Line,
empresa sem fins lucrativos que faz parte do programa Boston WINs.
Ela explica como isso contribuiu para que ela não desistisse. Leia a
seguir trechos da entrevista:

Quando você começou a trabalhar mãe era contadora, e pouco antes de


com a Bottom Line? Comecei no morrer nós conversamos sobre como
ensino médio. Eles me ajudaram uma formação em estudos financeiros
com as inscrições para a faculdade, ou em contabilidade me seria útil no
artigos, entrevistas e com pedidos de futuro, especialmente porque seria
bolsa e auxílio financeiro. Procuraram muito difícil pagar por uma faculdade
se certificar de que encontrariam a de direito. Falei com minha conselheira
faculdade mais adequada. Frequentei na Bottom Line, e ela sugeriu que eu
a Bridgewater State University, e participasse do programa job shadow;
uma conselheira da Bottom Line me passei o dia ao lado de um funcionário
apoiou durante todo o tempo em que da State Street em pleno exercício de
lá estudei. Tínhamos reuniões formais seu ofício. Já no fim do meu último
três vezes por semestre — no início, no ano, pediram-me que discursasse
meio do curso e antes das provas finais. em um jantar oferecido para a
A empresa também organizava feiras Bottom Line. Depois que discursei,
de emprego e me ajudou a escrever um membro do departamento de
currículos e a me preparar para recursos humanos da State Street se
entrevistas de emprego. aproximou e começou a me apresentar
aos executivos. Fiz um estágio lá no
Você teria conseguido chegar à verão de 2015 e no outono passei
universidade sem essa ajuda? Acho a fazer parte da equipe em tempo
que sim; mas eu provavelmente teria integral. Meu trabalho é instigante;
trancado o curso quando minha mãe não é a mesma coisa todo dia. Tenho
faleceu. Eu tinha 20 anos, estava no de refletir sobre processos e analisar
segundo ano e passei a ser responsável dados com o objetivo de reduzir riscos
pela minha irmã de 12. A Bottom Line e aumentar a compliance.
me auxiliou a organizar as coisas
— como preencher corretamente os Qual seu envolvimento com a
formulários, enviar e-mails para os Boston WINs atualmente?
professores e notificar a quem de Mantenho contato com meus
direito para que eu pudesse cursar o conselheiros da Bottom Line,
semestre e permanecer matriculada. participo de eventos e me relaciono
Foi fundamental ter aquele apoio. profissionalmente com os funcionários
da State Street que vieram de
Como você acabou fazendo parte programas que formam a Boston WINs.
da State Street? Meu primeiro Olhando em retrospecto, percebo que
contato foi durante uma feira de saí da experiência com mais confiança,
emprego, ainda quando era caloura com uma boa noção do que queria
na faculdade. Eu estudava ciências fazer da minha vida, e mais capacitada
políticas e queria ir para a faculdade para me relacionar, ser eu mesma, e
de direito, e estudos financeiros não pedir ajuda quando necessito.
estavam no meu radar. Porém, minha

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 21 


RADAR COMO EU FIZ

feito), fazer rascunho de currículo, participar de entre- conosco, eles podem desenvolver suas capacidades e
vista simulada. A ação coordenada nos permite saber migrar pela organização.
se os alunos estão no caminho certo, identiicar aqueles Firmamos acordo para oferecer um inanciamento
que porventura tenham alguma falha no apoio recebi- de quatro anos, mas avaliamos cada uma das organiza-
do e nos certiicar de que transferências efetivas estão ções anualmente para ver como estão contribuindo com
ocorrendo entre as diferentes organizações, particular- o objetivo geral. E os jovens trabalham tão duro quanto
mente quando os estudantes fazem a importante tran- os funcionários. Eles reconhecem que a oportunidade
sição do ensino médio para a faculdade. que estão recebendo é especial.

O AMPLO ALCANCE DA BOSTON WINS NÃO É APENAS ALGO PARA SE SENTIR BEM
Depois de selecionarmos as cinco organizações, pedi- Como CEO, sou cuidadoso acerca do tempo que dedico à
mos que participassem de uma atividade de um dia — ilantropia. Respondo ao nosso conselho, composto de 11
eu mesmo participei. Queríamos ter certeza de que to- pessoas e sou responsável pelos acionistas, empregados
dos estavam comprometidos com nossa ideia. e clientes e pela comunidade. A maior parte do meu tem-
Eles estavam todos entusiasmados — afinal, ha- po, como é de esperar, é dedicada aos primeiros três gru-
viam acabado de vencer uma competição. Essas or- pos. Mas a ligação entre o envolvimento da nossa comu-
ganizações estavam acostumadas a ter controle, e es- nidade e minha própria consciência é bastante estreita.
se era o desaio. Era preciso explicar que seria diferen- Isso não é apenas algo para se sentir bem. Estamos com-
te agora, cada empresa teria de transferir clientes para petindo por talento nesta cidade, e todos os nossos em-
outras, e o objetivo era maximizar o impacto das cinco. pregados — especialmente os mais jovens — têm enorme
Não consigo enfatizar o suiciente quanto isso foi apreço pelo envolvimento da nossa comunidade. Todo
difícil. Cada uma dessas organizações sem ins lucrati- mês me reúno com grupos de funcionários para um café
vos vinha trabalhando a seu modo e tinha aperfeiçoa- da manhã e faço as mesmas duas perguntas: o que man-
do uma forma de lidar com determinada parte do pro- tém você na State Street? E o que faria você sair da State
blema. Estávamos tentando fazer com que elas pensas- Street? Eles sempre mencionam as condições lexíveis de
sem e trabalhassem holística e horizontalmente, como trabalho, as oportunidades de carreira e o envolvimento
jamais haviam trabalhado. da comunidade como aquilo que mais valorizam. A liga-
Lançamos o programa em junho de 2015 em um even- ção entre o envolvimento da comunidade e nossos em-
to prestigiado pelo prefeito de Boston, Marty Welsh, e pregados se traduz diretamente no modo positivo com
pelo governador de Massachusetts Charlie Baker. Foi que trabalhamos para nossos acionistas e clientes.
um apogeu maravilhoso da primeira fase do programa, Já cumprimos quase metade de nossos quatro anos
mas era só o começo. de compromisso para com a Boston WINs e acredito
A beleza da Boston WINs é sua capacidade de atrair que estabelecemos um bom ritmo. Já estamos pensan-
qualquer jovem da cidade envolvido com uma das cin- do em como ampliar o programa para além de Boston,
co organizações; todas já tinham seu próprio processo isto é, outras partes do país e do mundo. A State Street
de recrutamento antes de fazer parte da State Street (a tem grandes operações em Kansas City, Cingapura, Polô-
YearUp e a Bottom Line têm um processo formal de ins- nia, Irlanda e outros locais, e não há motivo para não fa-
crição, e os serviços oferecidos pela uAspire, PIC e CAC zer com que o projeto funcione também nesses lugares.
estão disponíveis a qualquer aluno de escola pública de O programa se encaixa muito bem na estratégia da
Boston). Como o sistema existente já estava funcionan- nossa empresa. Como CEO, minha prioridade é transfor-
do bem, decidimos não interferir; em vez disso, qual- mar a State Street em um negócio digital-tecnológico, is-
quer estudante que trabalhe com uma das cinco orga- to é, priorizar dados e análise. Essa mudança de estraté-
nizações é considerado automaticamente um jovem da gia teve impacto em nossas contratações. Precisamos de
Boston WINs. O novo programa conecta as cinco em- funcionários que se sintam à vontade com dados e saibam
presas, o que permite que o estudante que recebe auxí- analisá-los. Necessitamos de mais proissionais de TI.
lio da College Advising Corps para se inscrever em uma Acredito que a Boston WINs será responsável por
universidade seja instruído sobre inanciamento edu- uma parte importante do que a State Street conse-
cacional pela uAspire. Apenas em seu primeiro ano, a guirá atingir durante esta década. Se resolvermos o
Boston WINs auxiliou mais de 19.430 estudantes, e a problema do desenvolvimento de mão de obra urba-
State Street contratou 216 formados pela Boston WINs. na, criaremos um grupo variado de proissionais com
Abrimos uma unidade na University of Massachu- boa formação acadêmica e altamente motivados para
setts que permite aos estudantes trabalhar meio perío- nossa empresa, e ao mesmo tempo ofereceremos uma
do, adquirindo experiência proissional e nos dando possibilidade de solução para um problema que afeta
a chance de ver como trabalham. Temos, a todo mo- toda a comunidade. É um ótimo exemplo de como um
mento, mais de 50 estagiários da Bunker Hill Commu- programa benéico para a cidade pode também, simul-
nity College. Damos a eles um teste e, depois de forma- taneamente, beneiciar nossos acionistas.
dos, contratamos alguns permanentemente. Uma vez HBR Reprint R1804A–P Para pedidos, página 9

22 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


Foco
ABRIL 2018

As novas regras
da gestão de
talentos
O RH TORNA-SE ÁGIL 24
Ser ágil já não
é prerrogativa só
da tecnologia.
A metodologia agile
está sendo aplicada em
outras áreas e atividades,
desde desenvolvimento
de produto até
manufatura — e agora
está transformando o
modo como as empresas
contratam e administram
seu pessoal e crescem

CRIAÇÃO CONJUNTA
DA EXPERIÊNCIA DO
FUNCIONÁRIO 34
Uma conversa com
Diane Gherson,
chefe de RH da IBM

EXPERIMENTO DE
UMA EQUIPE: O CASO
DE UM BANCO 39
Como o ING
reformulou suas
operações bancárias
de varejo

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 23 


FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

24 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


O
RH
TORNA-SE
ÁGIL PETER CAPPELLI E ANNA TAVIS

Ser ágil já não é prerrogativa Você poderia dizer que o RH está se tornan- que mais de 90% das organizações já ado-
do ágil, mas em versão light: a área aplica os tam práticas ágeis. No Banco de Montreal
só da tecnologia. A princípios gerais sem adotar todas as ferra- (BMO), por exemplo, a mudança começou
mentas e protocolos do mundo da tecno- quando os funcionários formaram equipes
metodologia agile está logia. Trata-se da mudança da abordagem transfuncionais de desenvolvimento de
sendo aplicada em outras baseada em regras e planejamento para um produto para tornar a instituição mais fo-
modelo mais simples e rápido baseado no cada no cliente. As empresas aprenderam
áreas e atividades, desde feedback dos participantes. Esse novo pa- princípios ágeis com os colegas da TI, e a TI
radigma decolou, de verdade, na área de aprendeu a identiicar as necessidades dos
desenvolvimento de gestão de desempenho. (Numa pesquisa da clientes com os negócios. Como resultado
produto até manufatura — Deloitte de 2017, 79% dos executivos glo- o BMO, hoje, pensa na gestão de desem-
bais consideraram a agilidade de gestão de penho em nível de equipe, não mais no ní-
e agora está transformando
COLORMOS/GETTY IMAGES

desempenho uma alta prioridade organiza- vel dos indivíduos. Em algumas empresas
cional.) Mas outros processos do RH estão a mudança para RH ágil foi mais rápida e
o modo como as empresas começando a mudar. mais deliberada. A GE é o melhor exem-
contratam e administram Em várias empresas a transformação es- plo. Considerada durante muitos anos co-
tá se processando de forma gradual e qua- mo um paradigma de gestão por sistemas
seu pessoal e crescem. se orgânica, como relexo da TI, área em de controle, ela mudou para a FastWorks,

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 25 


FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

abordagem enxuta que reduz o controle i- Vale do Silício e nas empresas de software
nanceiro de cima para baixo e dá poder às em particular, copiando suas práticas ágeis
equipes para que administrem os projetos para gerenciar projetos. Por isso, os mode-
conforme as necessidades evoluem. los de planejamento de cima para baixo es-
As mudanças no RH já eram esperadas tão sendo substituídos por métodos mais
havia muito tempo. Depois da Segunda ágeis, orientados para o usuário, e mais
Guerra, quando as manufaturas domina- adequados à adaptação no curto prazo, co-
ram o cenário industrial, o planejamento mo prototipagem rápida, feedback iterati-
ocupava o centro dos recursos humanos: vo, decisões baseadas na equipe e “sprints”
as empresas recrutavam militares de carrei- centrados na tarefa. Como sugere Lynn
ra, ofereciam-lhes empregos rotativos que Roger, diretor de transformação do BMO,
promoviam seu desenvolvimento, prepa- “a velocidade é a moeda corrente nos no-
ravam-nos com anos de antecedência para vos negócios”.
assumir funções cada vez mais importan- Não havendo mais a justiicativa para
tes e atrelavam sua ascensão diretamente manter os antigos sistemas de RH, e com
a cada degrau que subiam na escada hie- o manual da agilidade disponível para ser
rárquica. A burocracia era o problema: as copiado, o RH está, inalmente, conseguin-
organizações queriam que suas práticas de do sua tão esperada reformulação. Neste
talento se baseassem em regras e fossem artigo, ilustramos algumas das profundas
internamente consistentes, para poderem mudanças que as empresas estão empreen-
cumprir, com segurança, planos de cinco dendo em sua administração de talentos e
anos (e, às vezes, de 15 anos). Isso era razo- descrevemos os desaios que enfrentam na
ável. Todos os outros aspectos das empre- transição para um RH ágil.
sas, dos negócios centrais até as funções
administrativas, estabeleciam metas, or-
çamentos e operações segundo a visão de ONDE OBSERVAMOS AS
longo prazo. O RH reletia e apoiava a forma MAIORES MUDANÇAS
como agiam. Como o RH tem contato com todas as
Por volta da década de 1990, à medida áreas — e todos os funcionários — da orga-
que os negócios se tornavam menos pre- nização, sua transformação ágil pode ser
visíveis e as empresas precisavam adquirir até mais abrangente (e mais difícil) que as
novas habilidades rapidamente, essa abor- de outras divisões. As empresas estão re-
dagem tradicional começou a declinar — formulando suas práticas de talento nas
mas não ruiu completamente. A contrata- seguintes áreas:
ção lateral de pessoas externas — para ob- EM RESUMO Avaliações de desempenho. Quando
ter mais lexibilidade — substituiu boa as empresas adotaram métodos ágeis em
parte dos planos de carreira e das promo- A RAZÃO DA MUDANÇA suas operações centrais, resolveram igno-
ções internas. Remuneração de “amplo De forma geral, os negócios rar a ideia de planejar com um ano ou mais
e operações centrais
espectro” permitiu que os gestores tives- das empresas foram em de antecedência o andamento dos proje-
sem margem maior para recompensar as grande parte substituídos: tos e os prazos de conclusão. Por isso, em
pessoas pelo crescimento e conquistas em modelos de planejamento muitos casos, a primeira prática de RH tra-
suas funções. No entanto, para a maioria de longo alcance deram dicional a mudar foi a avaliação anual de
o modelo antigo persistia. Como em outras lugar a métodos mais ágeis desempenho e as metas individuais. Como
que permitem inovação e
áreas, o RH ainda girava em torno do longo rápida adaptação. O RH as pessoas trabalhavam em projetos de pra-
prazo. A força de trabalho e o planejamento está começando a usar zo mais curto, com diferenças de amplitu-
de sucessão permaneceram, mesmo quan- práticas de administração de, conduzidos por diferentes líderes e or-
do as mudanças na economia e nos negó- ágil de talento para refletir ganizados em torno de equipes, a noção de
cios tornaram esses planos irrelevantes. e apoiar o que o resto da que o feedback de desempenho deveria ser
organização está fazendo.
As avaliações anuais continuaram, ape- fornecido uma vez por ano, pelo chefe, era
sar da insatisfação quase universal com praticamente inconcebível. Era preciso ha-
AS ÁREAS DE TRANSFORMAÇÃO
essa prática. As organizações estão ver mais avaliações, mais frequentes e rea-
No momento, estamos observando uma mudando radicalmente a lizadas por mais pessoas.
transformação mais generalizada. Por que forma como administram Uma antiga pesquisa da CEB Inc. apon-
agora? Porque a inovação rápida se tornou o desempenho, avaliam tou que, na verdade, as pessoas passaram
o talento, enfatizam e
uma necessidade estratégica para a maio- a receber menos feedback e apoio quando
desenvolvem habilidades,
ria das empresas, não apenas para algumas. abordam o recrutamento seus empregadores abandonaram as avalia-
Com o objetivo de colocá-la em prática, as e a recompensa e facilitam ções anuais. Isso porque muitas empresas
empresas passaram a prestar atenção no o aprendizado. não colocaram nada no lugar. Os gestores

26 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


não sentiram nenhuma necessidade urgen-
te de adotar um novo modelo de feedback
e desviaram sua atenção para outras prio-
POR QUE A TRANSIÇÃO DA INTUIT PARA
ridades. Mas abandonar as avaliações sem
um plano para preencher o vazio foi, obvia-
TORNAR-SE ÁGIL QUASE FOI SUSPENSA
mente, uma receita para o fracasso. A divisão de serviços financeiros da Intuit começou a se tornar
Depois de aprenderem essa difícil lição,
muitas organizações adotaram avaliações
ágil em 2009 — mas quatro anos se passaram até que isso se
frequentes de desempenho, muitas vezes transformasse em procedimento padrão de operação em toda
realizada projeto por projeto. Essa mudan- a empresa.
ça se espalhou para um grande número de Por que demorou tanto? Os líderes partiram de uma abordagem de mudança
indústrias: de vestuário (Gap); grandes em- de gestão “em cascata”, porque era isso que eles conheciam melhor. Não
presas farmacêuticas (Pizer); seguros (Cig- funcionou. Apoio irregular da gestão de nível intermediário, comprometimento
na); investimentos (Oppenheimer Funds); em tempo parcial da equipe que liderava a transformação, recursos
produtos de consumo (P&G); e contabilida- administrativos escassos e um período extenso de planejamento: tudo isso
de (todas as empresas Big Four). Ela é mais pesou no desenvolvimento do plano.
famosa na GE, em todas as áreas de negó- Antes que a metodologia agile pudesse ganhar força em toda a organização,
cios da empresa, e na IBM. Em geral, o foco a equipe de transição precisava adotar uma abordagem para tornar-se ágil e
está em entregar feedback mais frequente administrar a mudança. Analisando retrospectivamente, Joumana Youssef, um
ao longo do ano para que as equipes pos- dos líderes da mudança estratégica da Intuit, identificou várias descobertas
sam se tornar mais ágeis, bem como para críticas que mudaram o curso — e a velocidade — da transformação:
corrigir os erros ao longo do percurso, me-
lhorar o desempenho e aprender por meio q Mantenha o foco nos primeiros a aderir. Não perca tempo tentando converter
de iteração — esses são princípios impor- pessimistas.
tantes da metodologia agile. q Forme equipes pequenas, estáveis e autogeridas, conceda-lhes autonomia
No estilo centrado no cliente, os gesto- para realizar seu trabalho e mantenha-as responsáveis por seus
res e funcionários ajudaram a moldar, tes- compromissos.
tar e redeinir novos processos. A Johnson q Treine rapidamente líderes em todos os níveis nos métodos agile. Equipes
& Johnson, por exemplo, ofereceu aos seus ágeis precisam de total apoio para se autogerir.
negócios a oportunidade de participar de
um experimento: eles poderiam experi- q Saiba que será difícil mudar a gestão da linha de frente e dos gestores de
mentar um novo processo de feedback con- nível intermediário, porque as pessoas nessas posições precisam de tempo
tínuo com um aplicativo personalizado que para se adaptar à “liderança servidora” que trata basicamente de oferecer
permitia a funcionários, colegas e chefes coaching e apoio aos funcionários em vez de monitorá-los.
trocar comentários em tempo real. q Não desista. Mesmo que a mudança ágil seja mais rápida que a abordagem
O novo processo foi uma tentativa de em cascata, para mudar a mentalidade de sua organização é preciso
se afastar da estrutura de “cinco conver- persistência.
sas” da J&J — estabelecimento de metas,
discussão de carreira, uma avaliação de de-
sempenho no meio do ano, uma avaliação A Regeneron Pharmaceuticals, empre- exemplo, desejam métricas e estão interes-
de im de ano e uma revisão de remunera- sa de biotecnologia de rápido crescimento, sados em avaliar as competências, por isso
ção — e se aproximar do modelo de diálogo foi mais além na reformulação de suas ava- se reúnem com os gestores duas vezes por
contínuo. Os que empreenderam a mudan- liações. Michelle Weitzman-Garcia, chefe ano para avaliações de competência e re-
ça foram convidados a partilhar com os de- de desenvolvimento da força de trabalho visões formais intermediárias. Os grupos
mais suas experiências e problemas enfren- da empresa, argumenta que o desempenho que trabalham diretamente com os clientes
tados. O experimento durou três meses. dos cientistas que trabalham no desenvol- incluem em suas avaliações o feedback de
No início somente 20% dos gestores vimento de drogas, o grupo de suprimento clientes e consumidores. Embora seja mui-
do plano-piloto participaram ativamente. de produto, as equipes de venda e as ope- to mais difícil administrar quatro processos
Foi difícil superar a inércia dos anos ante- rações corporativas não deveriam ser me- separados, todos eles reforçam a nova nor-
riores nas avaliações anuais. Mas então a didas no mesmo ciclo ou da mesma forma. ma de feedback contínuo. E Weitzman-Gar-
empresa adotou o treinamento para mos- Ela observou que esses grupos de empre- cia airma que os benefícios para a organi-
trar aos gestores como feedback era impor- gados precisam de feedback diferente zação superam, de longe, os custos do RH.
tante e designou “campeões de mudança” e que eles até operam segundo calendá- Coaching. As empresas que adotaram
para modelar as atitudes que esperavam rios diferentes. com mais eicácia as práticas de talento
de suas equipes. Ao inal dos três meses, Por isso a empresa criou quatro dife- ágil investiram no aprimoramento das ha-
46% dos gestores do grupo-piloto tinham rentes processos de avaliação, especíicos bilidades de coaching dos gestores. Os su-
aderido: 3 mil comentários de feedback para as necessidades dos vários grupos. Os pervisores da Cigna recebem treinamen-
foram trocados. cientistas pesquisadores e pós-docs, por to de “coach” programado para gestores

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 27 


FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

muito ocupados: são vídeos semanais de com as necessidades dos negócios e os pla- esse input é compartilhado em pequenas
90 minutos a que os funcionários assistem nos de aprendizagem e desenvolvimento. reuniões diárias das equipes e mantido
quando têm tempo. Os supervisores tam- A ideia é que a promoção da capacitação num aplicativo. Os funcionários decidem
bém participam das sessões de aprendiza- dos funcionários e das relações com os su- se incluem os gestores e outras pessoas em
do que, como os “sprints de aprendizado” pervisores aumenta o engajamento, e con- seus comentários dirigidos aos pares. O ris-
na gestão de projeto agile, são breves e di- sequentemente ajuda a empresa a inovar e co de comportamento maldoso é mitigado
versiicados para permitir que as pessoas avançar mais rápido. Embora ainda não te- pelo fato de que os comentários dos cole-
relitam e façam um test-drive de novas ha- nha sido tomada uma decisão sobre a mu- gas ao supervisor são compartilhados pela
bilidades no emprego. O feedback por pa- dança cultural de toda a empresa, a P&G já equipe. Qualquer um que tentar prejudicar
res também foi incorporado no treinamen- relata melhorias nos tópicos apontados, em os colegas estará exposto.
to de gestores da Cigna: os colegas formam todos os níveis de gestão. Nas organizações ágeis, o feedback “as-
grupos de aprendizado para compartilhar Equipes. O RH tradicional focava nas censional”, dos funcionários para os líde-
ideias e táticas. Eles estão tendo o tipo de pessoas — suas metas, desempenho e ne- res de equipe e supervisores, é altamente
conversa que as empresas querem que os cessidades. Mas agora que tantas empresas valorizado. Os centros de pesquisa sem ins
supervisores tenham com seus subordina- estão organizando seu trabalho projeto a lucrativos da Mitre Corporation tomaram
dos diretos, o que os faz sentir-se à vonta- projeto, seus gestores e sistemas de talento medidas para encorajá-lo, mas estão desco-
de em compartilhar seus erros entre si, estão se tornando mais focados nas equi- brindo que isso requer esforço concentra-
sem a “ameaça” de uma avaliação a pairar pes. Os grupos estão criando, executando do. Eles começaram com pesquisas perió-
sobre eles. e revisando suas metas e tarefas de acor- dicas conidenciais com funcionários e
A DigitalOcean, startup focada em do com a metodologia scrum — no nível focus groups para descobrir quais as ques-
software como infraestrutura de serviço de equipe, por enquanto, para adaptar-se tões que as pessoas gostariam de discutir
(SaaS), contrata coach proissional em tem- rapidamente às novas informações à me- com seus gestores. Depois o RH condensou
po integral onsite para ajudar todos os ges- dida que vão chegando. (“Scrum” pode ser esses dados para os supervisores com o
tores a dar melhor feedback aos funcioná- o melhor termo conhecido no léxico agile intuito de orientar suas conversas com os
rios e, mais genericamente, para desenvol- Ele foi emprestado do rugby, para indicar subordinados diretos. No início, porém,
ver capacitação interna de coaching. A ideia a formação compacta dos jogadores diante os funcionários hesitavam em fornecer
é que, se a pessoa tiver um bom coaching do adversário ao reiniciar o jogo.) Os gru- feedback ascensional — mesmo que fosse
ela se tornará um bom coach. Não se espe- pos também estão assumindo o encargo de anônimo e usado somente para ins de de-
ra que ninguém se torne um grande coach acompanhar seu próprio progresso, identi- senvolvimento — porque eles não estavam
— os funcionários da empresa que prefe- icar obstáculos, avaliar sua liderança e ge- acostumados a manifestar sua opinião so-
rem códigos a coaching podem progredir na rar insights para melhorar o desempenho. bre as atividades da gestão.
carreira técnica — mas as habilidades de co- Nesse contexto, as organizações preci- A Mitre percebeu que o fator mais crítico
aching são consideradas centrais para a car- sam aprender a lidar com: para conseguir que os subordinados fossem
reira de gestor. Feedback multidirecional. O feedback de sinceros era fazer os gestores declararem
A P&G também pretende tornar os ges- pares é essencial para correções de curso e explicitamente que eles queriam e apre-
tores melhores coaches. Isso faz parte de desenvolvimento do funcionário em am- ciariam os comentários. Caso contrário, as
um esforço maior para reestruturar o trei- biente ágil, porque os membros das equi- pessoas poderiam se preocupar — e com
namento e o desenvolvimento de supervi- pes sabem, cada um, melhor que ninguém, razão — que seus líderes não estivessem
sores e melhorar suas funções na organiza- a contribuição que podem oferecer. Rara- de fato abertos ao feedback e prontos pa-
ção. Simpliicando o processo de avaliação mente é um processo formal, pois os co- ra aplicá-lo. Como acontece com qualquer
de desempenho, separando a avaliação das mentários geralmente são dirigidos ao fun- pesquisa com funcionários, solicitar feed-
discussões de desenvolvimento e elimi- cionário e não ao supervisor. Isso mantém back dos subordinados e não tomar nenhu-
nando as sessões de calibração de talento o input construtivo e evita a sabotagem de ma atitude tem um efeito desanimador na
(barganha arbitrária entre supervisores que colegas, comum em ambientes de trabalho participação. Isso desgasta a coniança difí-
frequentemente aparecem com um mode- hipercompetitivos. cil de conquistar entre funcionários e seus
lo de classiicação subjetivo e politizado), a Mas alguns executivos acreditam que o gestores. Quando a nova gestão de desem-
P&G investe tempo signiicativo no cresci- feedback de colegas pode ter impacto nas penho e o processo de feedback foram in-
mento dos funcionários. Mas transformar avaliações de desempenho. Diane Gherson, troduzidos na Mitre, o CEO reconheceu que
os supervisores em coaches de seus funcio- chefe de RH da IBM, explica que “as rela- os centros de pesquisa precisariam intera-
nários em vez de fazê-los permanecer juí- ções entre gestores e funcionários mudam gir e melhorar. Um sistema revisado para
zes de atividades diárias foi um grande de- em contextos de rede (o conjunto de proje- feedback ascensional será lançado este ano.
saio para a cultura tradicionalista da P&G. tos nos quais os funcionários trabalham)”. Como o feedback se espalha pelas equi-
Por isso a empresa investiu pesadamente Como os ambientes ágeis praticamente in- pes em todas as direções, muitas empresas
no treinamento de supervisores em alguns viabilizam a “a monitoração” do desempe- utilizam tecnologia para administrar todo
tópicos: como estabelecer prioridades e nho no sentido antigo, os gestores da IBM esse volume de informação. Aplicativos
metas dos funcionários, como fornecer fe- solicitam input de outros para ajudá-los a permitem que os supervisores, colegas de
edback sobre contribuições, e como alinhar identiicar e resolver os problemas logo no trabalho e clientes ofereçam feedback ime-
as aspirações de carreira dos funcionários início. A menos que seja muito delicado, diato uns aos outros onde quer que estejam.

28 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


Essencialmente, os supervisores podem afetou os direitos de decisão: as organiza- ajudou a embarcar na metodologia agile de
baixar todos os comentários posteriormen- ções estão fazendo pressão para que essa forma mais ampla e a afrouxar o controle
te, na hora de fazer as avaliações. Alguns mudança seja levada a efeito até o nível sobre as tomadas de decisão.
aplicativos permitem que os funcionários dos funcionários da linha de frente com o Dinâmica de equipes complexas. Final-
e supervisores pontuem os progressos das objetivo de equipá-los e investi-los de po- mente, como a função do supervisor dei-
metas. Pelo menos um deles, o Slack, ajuda der para trabalhar de forma mais indepen- xou de ser apenas administrar pessoas
os gestores a analisar as conversas em plata- dente. Trata-se de uma grande mudança para assumir tarefas mais complexas de
formas de gestão de projetos para fornecer de comportamento, e as pessoas preci- promover dinâmicas de equipe saudáveis
feedback sobre colaboração. A Cisco utiliza sam de apoio para concretizá-la. Vamos e produtivas, é preciso muita ajuda nessa
uma tecnologia patenteada para coletar se- retornar ao exemplo do Banco de Montre- transição. A unidade especial de Inteligên-
manalmente dados brutos, ou “migalhas” al para ilustrar como ela se dá na prática. cia de Equipe da Cisco fornece esse tipo de
dos funcionários sobre o desempenho de Quando a instituição introduziu equipes apoio. Ela está encarregada de identiicar as
equipes de melhor desempenho da empre-
sa, analisar como operam e auxiliar outras
equipes a aprender a imitá-las. Ela utiliza
uma plataforma chamada Team Space que

“O feedback “ascensional” abrange toda a corporação e monitora os


dados dos projetos, necessidades e reali-
zações das equipes para medir e melhorar
dos funcionários para suas atividades nas unidades e em to-
da a empresa.

os líderes de equipe Remuneração. A forma de pagamento


está mudando igualmente. Uma adapta-
ção simples ao trabalho ágil, observada em

é valorizado em lojas de departamentos como a Macy´s, é


usar bônus pontuais para recompensar as

organizações ágeis. contribuições assim que ocorrem em vez


de se basear somente em aumentos de sa-
lários no im do ano. Pesquisas e experiên-

Mas requer esforço — cia mostram que a remuneração tem mais


eicácia como motivador quando oferecida

as pessoas não estão logo depois que o intento esperado se con-


cretiza. Recompensas imediatas reforçam
feedback instantâneo de forma vigorosa.

acostumadas a expressar Os aumentos anuais de salário baseados no


mérito são menos eicientes porque o inter-
valo decorrido é muito longo.
opiniões sobre gestão. A Patagonia, na verdade, eliminou os
aumentos anuais para seus trabalhadores
do conhecimento. Em vez disso, de acordo
com uma pesquisa sobre a direção que as
taxas de mercado estão tomando, a empre-
seus pares. Essas ferramentas permitem ágeis para projetar alguns novos serviços sa ajusta os salários para cada função com
que os gestores observem lutuações no de- para os clientes, os líderes seniores ainda muito mais frequência. Os aumentos po-
sempenho dos indivíduos com o decorrer não estavam totalmente prontos para abrir dem ser oferecidos também quando os
do tempo, mesmo dentro das equipes. É mão do controle, nem seus subordinados a funcionários assumem projetos comple-
claro que os aplicativos não fornecem um assumi-lo. Por isso, o banco introduziu co- xos ou mostram desempenho superior
registro oicial de desempenho, e os funcio- aches ágeis nas equipes de negócios. Eles de outras formas. A empresa reserva um
nários talvez preiram discutir os problemas começaram submetendo todos, até os exe- orçamento para o 1% dos funcionários no
pessoalmente e assim evitar que as conver- cutivos de alto nível, a “retrospectivas” — topo, e os supervisores podem defender
sas sejam registradas num arquivo possível relexões regulares e sessões de feedback qualquer colaboração que mereça essa
de ser baixado. Sabemos que as empresas realizadas depois de cada interação. Essa é designação, incluindo contribuições feitas
reconhecem e recompensam aprimoramen- a versão agile das avaliações pós-ação. Seu às equipes.
tos e o desempenho real; no entanto, escon- objetivo é continuar a melhorar os proces- A compensação também está sendo usa-
der problemas nem sempre compensa para sos. Como as retrospectivas identiicavam da igualmente para reforçar valores consi-
os funcionários. rapidamente sucessos, fracassos e cau- derados ágeis como aprendizado e compar-
Direitos de decisão da linha de frente. A sas concretas, os líderes seniores reconhe- tilhamento de conhecimento. No mundo
mudança fundamental relativa às equipes ceram seu valor imediatamente, o que os das startups, por exemplo, a empresa online

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 29 


FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

de aluguel de roupa Rent the Runway eli-


minou os bônus isolados incorporando-os
ao salário-base. Jennifer Hyman, CEO da
startup, relata que o programa de bônus es-
mais urgentes — e mais ágeis. Em 2015,
para acelerar seu crescimento, a nova di-
visão digital da GE foi pioneira em alguns
experimentos interessantes de recruta-
O que o
tava interferindo no feedback honesto
de pares. Os funcionários não estavam
compartilhando críticas construtivas, sa-
bendo que isso poderia ter consequências
mento. Por exemplo, uma equipe trans-
funcional opera em conjunto em todos os
requisitos da contratação. Um “gestor do
quadro de pessoal” representa os interes-
RH pode
inanceiras negativas para seus colegas.
O novo sistema evita esse problema “des-
vinculando os dois”, observa Hyman.
A DigitalOcean reformulou seu sistema
ses dos stakeholders internos que querem
que suas vagas sejam preenchidas rápida
e satisfatoriamente. Se a empresa preten-
de contratar, tal gestor é nomeado para in-
aprender
de remuneração para promover a equidade
de tratamento dos funcionários e a cultura
de colaboração. Atualmente, os ajustes de
salário ocorrem duas vezes por ano tendo
tegrar a equipe, e um perito em scrum su-
pervisiona o processo.
Para manter essa engrenagem em fun-
cionamento, a equipe foca em vagas cu-
com a
em vista tarefas e desempenho e as mu-
danças no mercado de trabalho. Mas o mais
importante é que a DigitalOcean fechou os
gaps nos pagamentos de tarefas equivalen-
jos obstáculos já foram removidos — ne-
nhuma requisição começa se a discussão
sobre as qualidades desejáveis do candi-
dato ainda não estiver concluída. As vagas
tecnologia
tes. Ela está deliberadamente impedindo são classiicadas e a equipe se concentra
a rivalidade interna, consciente dos pro- nas contratações de prioridade máxima Os primeiros a se tornar
blemas em culturas hipercompetitivas até completá-las. A equipe trabalha em
(veja o caso da Microsoft e Amazon). várias contratações de uma vez, e isso
ágeis no mundo da
Para personalizar a remuneração, a em- permite que seus membros partilhem in- tecnologia estão anos
presa analisa quem está produzindo im- formações sobre os candidatos que me-
pacto com suas atividades e quem precisa lhor se encaixam nos cargos. A equipe à frente de todos os
crescer e se desenvolver. Os dados so-
bre o impacto que os funcionários causam
mantém um rastreamento do tempo de
ciclo de preenchimento de vagas e moni-
outros na adoção da
ao negócio é um elemento importante nas tora todas as requisições para identiicar metodologia em escala.
discussões sobre remuneração. Negociar
para aumentar o próprio salário é forte-
gargalos e processos bloqueados. Atual-
mente, a IBM utiliza uma abordagem de
Então quem poderia
mente desaconselhado. E somente 1% das recrutamento similar. orientar melhor os
realizações é recompensado inanceira- As empresas também coniam mais na
mente; fora disso não existe processo de tecnologia para encontrar e rastrear candi- gestores e líderes de RH
remuneração por mérito. Todos os funcio- datos que se adéquam melhor ao ambien- enquanto se esforçam
nários são candidatos aos bônus, que se te de trabalho ágil. A GE, IBM e Cisco estão
baseiam mais no desempenho da empre- trabalhando com o fornecedor Ascendify para aplicar as práticas
sa que nas contribuições pessoais. A
DigitalOcean está diversiicando seu por-
para criar um software que faça exatamen-
te isso. A empresa de recrutamento de TI
de talento ágil em
tfólio de recompensas para incluir prêmios HackerRank oferece uma ferramenta onli- suas organizações?
signiicativos não inanceiros, como um ne com a mesma inalidade.
Kindle carregado com os “melhores livros” Aprendizado e desenvolvimento. Numa pesquisa
escolhidos pelo CEO. Tal qual o processo de contratação, o recente, milhares de
Como a DigitalOcean motiva as pessoas aprendizado e desenvolvimento (A&D)
a melhorar seu desempenho sem inlacio- precisa mudar para atrair com rapidez desenvolvedores de
nar as recompensas inanceiras? Matt Hof-
man, vice-presidente de gestão de pessoas,
novas habilidades para as organizações.
Muitas já dispõem de um conjunto de
software de vários
airma que a empresa foca na cultura que módulos de aprendizagem online que países e indústrias
inspire propósito e criatividade. Aparen- os funcionários podem acessar on de-
temente isso está funcionando. A última mand. Embora útil para as pessoas com
identiicaram os
pesquisa sobre envolvimento realizada pe- necessidades claramente deinidas, isso maiores obstáculos ao
la Culture Amp posiciona a DigitalOcean 17 soa como dar ao aluno a chave da biblio-
pontos acima do padrão da indústria em sa- teca e deixar que ele descubra sozinho o crescimento e as formas
tisfação com a remuneração.
Recrutamento. Com a recuperação da
que precisa estudar para aprender. Abor-
dagens mais recentes utilizam análises
que utilizaram para
economia desde a recessão de 2008, o re- de dados para identiicar as habilidades superá-los.
crutamento e a contratação se tornaram exigidas para determinadas tarefas e

30 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


progressos e depois sugerem aos funcioná- — principalmente no RH. Muitos processos tentando entender como treinar pessoas.
rios individualmente o tipo mais adequado precisam mudar para a organização se afas- A grande questão é se as empresas conse-
de treinamento e futuros serviços segundo tar de um modelo “em cascata”, baseado guirão ajudar os gestores a assumir todos
suas experiências e interesses. no planejamento (que é linear e não lexível esses desaios e reconhecer o valor que isso
A IBM utiliza inteligência artiicial pa- e adaptativo), e alguns estão diretamente representa.
ra gerar esse aconselhamento partindo do conectados com os sistemas de informa- As atividades do RH também exigirão
peril dos funcionários, que inclui cargos ção, denominação de cargos, e assim por recapacitação. O RH precisará de mais ex-
atuais e anteriores, trajetória de carreira diante. Para seguir na direção da TI baseada pertise em suporte de TI — principalmente
esperada e programas de treinamento con- em nuvem, que ocorre independentemen- considerando todos os dados de desempe-
cluídos. A empresa criou um treinamento te, tornou-se mais fácil adotar ferramentas nho gerados pelos novos aplicativos — e
especial para ambientes ágeis — usando,
por exemplo, simulações animadas criadas
em torno de uma série de “personas” para
ilustrar comportamentos desejáveis, como
fornecer críticas construtivas.
Tradicionalmente, o A&D incluiu pla-
nejamento de sucessão — a epítome da As empresas também
mentalidade de cima para baixo, de longo
prazo, segundo a qual as pessoas são trei-
nadas com anos de antecedência para as-
confiam mais na
sumir as funções de liderança mais impor-
tantes, geralmente na esperança de que
desenvolverão algumas capacidades no
tecnologia para
momento certo. No entanto, o mundo
nem sempre coopera com esses planos.
Geralmente as empresas acreditam que
encontrar e rastrear
na hora em que as posições da liderança
sênior estiverem vagas, as necessidades
serão outras. A solução mais comum é
candidatos que se
ignorar o plano e começar a busca a partir
do zero. Muitas organizações continuam
insistindo igualmente no planejamento
adéquam melhor
de sucessão de longo prazo. (Cerca de me-
tade das grandes empresas tem um plano ao ambiente de
para desenvolver sucessores ao posto mais
alto.) A Pepsi está dando um passo simples
que foge desse modelo e reduz o prazo.
Ela fornece breves atualizações trimestrais
trabalho ágil.
sobre o desenvolvimento de possíveis
sucessores — ao contrário das atualizações
anuais usuais — e retarda os encontros para
que eles ocorram mais perto do momento baseadas em aplicativos. Mas os proble- um conhecimento mais profundo sobre
em que provavelmente os sucessores as- mas das pessoas continuam sendo um equipes e supervisão direta. O RH não pre-
sumirão seus postos. ponto crucial. Muitas atribuições do RH, cisou mudar tanto nas últimas décadas co-
como abordagens tradicionais de recru- mo as linhas de operação que ele apoia.
tamento, embarque, coordenação de pro- Mas agora a pressão aumentou, e a pressão
DESAFIOS EM ANDAMENTO gramas e expertise, se tornarão obsoletas vem do nível operacional, o que torna mui-
Certamente nem todas as organizações ou nessas áreas. to mais difícil para o RH se prender às ve-
grupos estão desesperados em busca de Enquanto isso, novas tarefas estão sen- lhas práticas de administração de talento.
uma rápida inovação. Algumas atividades do criadas. Ajudar os supervisores a subs- HBR Reprint R1804B–P Para pedidos, página 9
devem continuar majoritariamente basea- tituir julgamento por coaching é um gran-
das em regras. Basta pensar no trabalho dos de desaio, não só em termos de capaci- PETER CAPPELLI é professor de administração da
contabilistas, operadores de sala de contro- tação, mas também porque lhes diminui Wharton School e diretor do Centro de
le de usinas nucleares e cirurgiões. Nesses o status e a autoridade formal. Mudar o Recursos Humanos da instituição. ANNA TAVIS é
casos, as práticas de talento ágil podem não foco de gestão de pessoas para gestão de professora associada de gestão de capital humano
ter signiicado. equipes talvez seja ainda mais difícil, pois da New York University e editora da seção
E mesmo quando elas são ade- as dinâmicas de equipe podem ser uma Perspectivas da revista People + Strategy,
quadas, podem encontrar resistência caixa-preta para aqueles que ainda estão destinada a executivos de RH.

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 31 


FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

MAIORES DESAFIOS COM MEDIDAS...

63%
Cultura da empresa em
47%
Falta de experiência
45%
Falta de apoio
43%
Resistência
conflito com o valor ágil com os métodos da gestão organizacional à
mudança

41%
Falta de proprietário
34%
Treinamento
34%
Predominância do
31%
Práticas/processos
20%Medidas,
do negócio/cultura/ insuficiente desenvolvimento ágeis inconsistentes ferramentas e dados
produto tradicional fragmentados

19 % 15%
Conformidade com
Colaboração a regulamentação
ineficiente e governança

... E OS ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA O SUCESSO

52%
Coaches
48%
Patrocínio
41%
Processos
36%
Implementação de
36%
Instrutores ou
internos ágeis executivo e práticas uma ferramenta consultores ágeis
consistentes comum para todas
as equipes

OBS OS ENTREVISTADOS PODIAM SELECIONAR VÁRIAS RESPOSTAS FONTE VERSIONONE, ESTADO DA PESQUISA AGILE, 2016.

32 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


Design & Negócios

apresenta
ied.edu.br

A metáfora do copo
meio cheio, meio vazio
Victor Falasca Megido, diretor geral do IED Brasil

Dependendo do ponto de vista, um copo pode estar meio cheio ou meio vazio.
Provavelmente não exatamente como na bela simetria desta imagem.
Mas o que você diria sobre ele?

Algumas pessoas estão treinadas Porém, um olhar mais atento, menos


para dar atenção à parte vazia, impulsivo e mais sintonizado dirá:
com o intuito de torná-la mais cheia. “O copo está meio cheio e meio vazio
Os otimistas! Há aquelas que observam ao mesmo tempo”. É assim a realidade,
a mesma imagem, porém com outra mais complexa, menos maniqueísta e
atitude: olham o que falta para gerar PDLVGHVDŕDGRUD7HPRVDOJRHQRV
mais vazio. Tendem ao vitimismo. falta algo, sempre. Não há situação
Ou olham a parte meio cheia com o LGHDO€LVVRTXHGLULDPRVŕO¨VRIRV
intuito de desvalorizá-la – os eternos e os designers! Para, em seguida,
insatisfeitos. Outras observam a parte beber a água, matar a sede e encher
cheia, para agradecer pela água. novamente o copo, sem por isso serem
A palavra gratidão está na moda. menos otimistas ou menos gratos, só
Às vezes, só se esquecem de bebê-la! mais pragmáticos e assertivos.

 O O  
FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

Criação conjunta
da experiência
do funcionário
UMA CONVERSA COM DIANE
GHERSON, CHEFE DE RH DA IBM
LISA BURRELL
As empresas que estão implantando práticas da metodologia agile na administração
de talentos estão dedicando muita atenção à forma como os funcionários vivenciam
o local de trabalho — tratando-os de certa maneira como clientes. Diane Gherson,
diretora de recursos humanos da IBM, falou recentemente com a HBR sobre como
isso está ocorrendo, enquanto a icônica empresa de tecnologia reformula seu
modelo de negócio. A seguir, trechos editados da entrevista.
HBR: Em que sentido a IBM está colocan- os funcionários no processo do projeto — para acessar a internet”. Tudo isso afeta a
do a experiência do funcionário no trata-se de criação coletiva —, e interagimos pessoa ao ingressar na empresa.
centro da gestão de pessoas? ao longo do tempo para satisfazer as neces- Para fazer a coisa certa, você precisa tra-
GHERSON: Como muitas outras empresas, sidades das pessoas. balhar com um conjunto amplo de atores:
começamos com a crença de que se as pes- o pessoal da segurança para garantir que os
soas se sentissem felizes em trabalhar co- Que significa isso na prática? crachás de identiicação estejam prontos; a
nosco, nossos clientes também se senti- Um bom exemplo é a “chegada” dos funcio- administração para que a pessoa tenha um
riam. Esse não era um conceito novo — nários — o primeiro processo ao qual dedi- espaço físico para onde ir; o pessoal de TI
retrocedemos quatro ou cinco anos —, mas camos muita atenção. Queríamos pesso- para que o acesso remoto esteja ativado e
certamente o levamos muito a sério. Desde as que pensassem “estou superempolgado em operação. Tudo isso faz parte do proces-
então, percebemos que ele se conirmou. por estar aqui, sei o que devo aprender para so de admissão. Não é só ter uma reunião
Descobrimos que o engajamento dos fun- continuar”. Mas começamos muito timi- fantástica no primeiro dia com um monte
cionários explica dois terços da pontuação damente. Abordamos o processo de forma de novos contratados.
da experiência do cliente. E, se conseguir- tradicional, o que o fez se parecer a uma au-
mos aumentar a satisfação do cliente em la de orientação, como se fosse a experiên- Como a abordagem da IBM mudou em re-
cinco pontos, teremos receita adicional de cia que você tem no primeiro dia. Quando lação ao aprendizado e desenvolvimento?
20%. Então, é óbvio que há impacto. Esse começamos a perguntar aos novos contra- Agora as pessoas consomem conteúdo em
COLORMOS/GETTY IMAGES

é o plano da empresa para a mudança. tados quais haviam sido suas primeiras im- seus celulares e tablets — elas usam o You-
Mas foi preciso haver uma mudança pressões, ouvimos coisas como “não recebi Tube e o TED Talks para aprender o que
de mentalidade. Antes, costumávamos meu laptop no prazo”, “não consegui meu não sabem. Por isso tivemos de abando-
nos basear em especialistas para criar nos- cartão pessoal a tempo de participar da mi- nar nosso sistema tradicional de gestão
sos programas de RH. Agora, incluímos nha primeira reunião”, ou “tive problemas de aprendizagem e tratar a educação e o

34 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 35 
FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS
desenvolvimento de forma diferente. Mais Como você sabe disso? podemos recomeçar, sem problema. Mas
de uma vez, chamamos os millennials, con- Costumávamos utilizar um processo ma- realmente queremos saber sua opinião”. Fi-
vocamos nossos clientes e projetamos em nual trabalhoso: pedíamos às pessoas que zemos alguns vídeos sobre como acreditáva-
conjunto uma plataforma de aprendizado preenchessem questionários relativos a su- mos que ele seria. Obtivemos 18 mil respos-
personalizada para cada um dos 380 mil as habilidades e depois obtínhamos a apro- tas numa única noite. Felizmente, dispúnha-
funcionários da IBM. vação formal dos gestores. Mas isso se de- mos da tecnologia para analisá-las e saber o
O processo é moldado por função, com satualizou rapidamente, por isso paramos. que as pessoas apreciavam e não apreciavam.
recomendações inteligentes continuamente Agora os líderes de determinados conjun- De início, algumas pessoas disseram “isso
atualizadas. E sua organização se asseme- tos de tarefas ou setores fazem veriicações é conversa iada — vocês já sabem o que que-
lha à da Netlix, com diferentes canais. Você especíicas para saber se nossas inferências rem fazer”. Mas explicamos que de fato que-
pode ver como os outros classiicaram os estão corretas. Eles entrevistam os funcio- ríamos ouvi-las, e as convidamos para vários
diversos produtos. Há também um aconse- nários, identiicam o ponto em que se en- fóruns de discussão. Demorou certo tempo,
lhamento via chat ao vivo que ajuda os inte- contram e comparam os resultados com a mas acredito que conseguimos mudar a opi-
ressados em tempo real. inferência fornecida pelo nosso sistema. nião delas. Continuamos a nos comunicar:
Medimos os produtos que o RH ofere- “Certo, vocês gostam disso, vocês não gos-
ce, como aprendizado, com o Net Promoter A IBM também reformulou seu sistema tam daquilo. E essas são as áreas nas quais
Score (NPS) — a métrica mais avançada para de gestão de desempenho. Como os fun- aparentemente discordam”. Enquanto isso,
experiências irresistíveis. Antes, utilizáva- cionários se envolveram no processo? reuníamos protótipos para mostrar a elas.
mos uma escala de satisfação de cinco pon- Como você sabe, gestão de desempenho Para mim era evidente que havia algumas
tos. Se uma pessoa lhe atribuísse nota 3, vo- é como um para-raios na maioria das empre- regras básicas. Por exemplo, não conseguía-
cê acabaria airmando que ela estava satis- sas. Em vez de seguirmos a via normal — que mos nos livrar das discussões de desempe-
feita, mas com o Net Promoter, você precisa seria aferir o desempenho, reunir um gru- nho, e queríamos um sistema de remuneração
estar na extremidade da escala para esse re- po de experts, apresentar um novo projeto por desempenho. Mas em geral, estava tudo
sultado ter realmente signiicado, porque é e liderá-lo —, decidimos fazer uma criação muito claro. O processo todo levou menos
preciso subtrair todos os detratores. É mui- coletiva com nossos funcionários, numa es- tempo que a maioria das empresas leva para
to mais difícil fazer isso, mas o resultado
representa um feedback muito melhor so-
bre a experiência do funcionário. Na última
contagem, nosso NPS para aprendizagem
foi 60. Esse valor está na faixa “excelente”,
mas obviamente ainda é possível melhorar.
“As pessoas têm
Que ferramentas você usa para persona-
lizar o aprendizado?
probabilidade muito
O Watson Analytics permite inferir a ex-
pertise das pessoas pela impressão digital,
e podemos comparar as inferências com a
menor de resistir à
posição que elas deveriam ocupar em seu
conjunto especíico de tarefas. O sistema é
cognitivo, por isso ele conhece você — ele
mudança quando
já digeriu os dados sobre suas habilidades e
é capaz de lhe oferecer sugestões persona-
lizadas de aprendizado. Ele diz “OK, você
ajudam a moldá-la.”
precisa melhorar seu conhecimento nessas
áreas, e aqui estão os produtos que o ajuda- pécie de hackaton ampliado. Utilizamos de- reformular seus programas de gestão de de-
rão a fazer isso”. Você pode aceitar as suges- sign thinking e apresentamos o que pode ser sempenho, e mobilizamos cerca de 100 mil
tões imediatamente ou enileirá-las em seu descrito como um “carro-conceito” — uma funcionários. Finalmente perguntamos “co-
calendário para futuro aprendizado. O sis- espécie de test-drive que permitisse análise mo vocês querem chamá-lo?”. Dezenas de mi-
tema também analisa se você está perto cuidadosa, em vez de apenas conceitos. Fi- lhares de pessoas votaram. No inal restaram
ou não de ganhar um distintivo digital, que zemos isso em meados de 2015, e cinco me- três nomes, e Checkpoint foi selecionado.
começamos a usar somente nos últimos ses depois a ideia já estava implantada em A gestão de desempenho nunca será
anos para mostrar quais funcionários têm toda a empresa. Eis a magia de envolver to- perfeita. Mas como dizem, seu bebê nunca
habilidades práticas. A ferramenta o ajuda dos os funcionários — as pessoas têm proba- é feio. Nossos funcionários criaram seu pró-
a conseguir o distintivo recomendando de bilidade muito menor de resistir à mudança prio programa, e se orgulham disso. Esse
webinars especíicos e cursos internos e quando ajudam a moldá-la. sentimento pode ser conirmado pelas pos-
externos. Todo o sistema se baseia em inte- Para começar o processo de criação coleti- tagens em seus blogs quando pedimos que
ligência artiicial. Atualmente, essa inferên- va, um dia escrevi no meu blog: “Gostaría- comentassem o que estava funcionando e
cia de habilidades tem precisão de 96%. mos de receber seu input. Se você o odeia, o que não estava e dessem sugestões para

FOTOGRAFIA DE SALLY MONTANA


ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 37 
FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

melhorar o sistema. Vínhamos fazendo is- respondi prontamente a uma preocupação é dito dentro da organização, pois pode ser
so desde que o programa foi implantado. que tinha se transformado num abaixo-assi- ouvido também fora, pelas mídias sociais. O
A mensagem geral deles tem sido “é o que nado. Eu disse a eles: “Li todos os comentá- Glassdoor é um exemplo perfeito. No passa-
queríamos”. O programa foi citado como a rios, e vocês levantaram alguns pontos nos do, deve ter havido empresas onde não era
principal razão para a melhoria do engaja- quais ainda não tínhamos pensado. Estáva- bom trabalhar, mas só um pequeno círcu-
mento. Com esse sistema os funcionários mos tentando cuidar da segurança de vocês, lo de pessoas sabia disso. Atualmente todo
recebem muito mais feedback, e de formas mas concluímos que essa não foi a escolha mundo sabe, porque está no Glassdoor — e
muito mais fecundas. E o mais importante, certa. Vamos voltar para nossa política ori- isso transformou as empresas em casas de
eles não se sentem espectadores de nossa ginal”. Tudo isso aconteceu em 24 horas. As vidro. As pessoas podem enxergá-las por
transformação. Eles participam ativamente. pessoas sentiram-se ouvidas e valorizadas. dentro e decidir, como jamais puderam, se
Havíamos passado por situação semelhan- querem trabalhar nelas ou não.
Como você está usando a “análise de te cerca de um ano antes. Tivemos de incluir
sentimentos” para atender ainda mais às nos rendimentos as despesas pagas pela em- Voltemos às razões empresariais por trás
necessidades dos funcionários? presa quando o funcionário viajava para visi- da mudança da IBM para as práticas de
A análise de sentimentos é muito útil num tar um cliente durante uma semana, e em vez administração ágil de talento — você po-
mundo onde as pessoas estão sempre fa- de voltar para casa levava o marido (a esposa) de falar mais sobre elas?
zendo comentários online. Nossa tecnologia ou um amigo para passar o im de semana. Eu mencionei a satisfação do cliente. Os clien-
cognitiva analisa as palavras que as pessoas Como reembolsávamos as despesas do acom- tes atualmente procuram velocidade e agili-
escolhem e capta seu sentido. Ela identii- panhante, isso criava um problema de impos- dade como jamais buscaram. Antigamente, o
ca se é positiva ou negativa e se aprofunda tos. Tivemos de alterar o programa, pois isso que eles realmente queriam era o melhor pro-
ainda mais, dizendo se é fortemente positi- estava icando difícil, e mais uma vez os fun- duto e o melhor preço — eiciência era impor-
va ou fortemente negativa. Nesse sentido é cionários se rebelaram. Obviamente entendo tante, mas velocidade nem tanto.
quase como olhar uma partitura — ver onde por quê. Se você viajasse o tempo todo certa- No início da década de 2000 era possível
há notas muito altas ou muito baixas que mente gostaria da companhia de seu marido juntar num projeto uma equipe mundial de
são desagradáveis. Ela está sempre atrás (sua esposa) num im de semana. As pessoas experts, e eles dedicarem uma fração de seu
de nosso irewall, nunca é externa. Ela não não queriam que nós decidíssemos por elas. tempo ao projeto, porque trabalhavam em ou-
analisa qualquer informação que as pessoas Esse foi outro caso em que nos reunimos ra- tros projetos. Era possível participar de tele-
descartam ou de seus conteúdos de e-mail pidamente e dissemos “Veja, se eles quiserem conferências, o que é um complicador, porque
ou comportamento de navegação. Ela está se responsabilizar por seus próprios impos- as pessoas estão em diferentes fusos horários.
E certamente realizavam várias outras tarefas
enquanto participavam das teleconferências.

“Fomos capazes de detectar O projeto levaria de seis meses a um ano. Hoje


temos um grupo menor de pessoas dedica-
das que trabalham juntas durante três meses e

problemas com rapidez conseguem terminar tudo com a metodologia


agile. É uma forma diferente de reletir sobre
como criar valor para os clientes. Isso atende

e nos comprometemos às suas necessidades de velocidade.

Há esperança de que essa abordagem


resolvê-los.” ajudará a IBM a recuperar a receita e o
crescimento que perdeu na sua tran-
sição para a computação em nuvem e
outros negócios?
apenas observando o tom de seus blogs e tos, podem fazê-lo”. Foi um bom sinal de aler- Somos uma organização que está em trans-
comentários dentro do irewall. ta para não sermos tão paternalistas. formação: 45% de nossa receita provém de
Com essa abordagem você percebe rapi- Em organizações onde as pessoas não negócios nos quais não estávamos há cinco
damente se existe uma área que precisa de estão isicamente juntas, você pode utilizar anos, e somos uma empresa de US$ 80
aprofundamento. Conseguimos detectar análise de sentimentos para ter uma ideia de bilhões. Quando você empreende esse tipo
rapidamente os problemas quando eles co- onde estão os pontos de discórdia, onde sua de mudança e nota uma queda em algum
meçam a surgir e, mais importante, nós nos gestão não está muito forte, onde grupos de dos negócios herdados enquanto lança
comprometermos a encontrar soluções. Essa pessoas estão expressando opiniões negati- novos negócios, pode haver certa variação
COLORMOS/GETTY IMAGES

é a parte mais empolgante de poder traba- vas. Ela permite que você observe esses locais no desempenho. Você está simplesmente
lhar com uma plataforma social. Há vários ou grupos e descubra o que está acontecendo. trocando os pneus com o carro em movi-
exemplos de erros que cometemos. Alguns mento. E é claro, para isso precisa ser ágil.
de meus colegas decidiram que não reem- Os funcionários têm mais poder agora HBR Reprint R1804B–P Para pedidos, página 9
bolsaríamos as despesas de carona compar- que no passado?
tilhada. Os funcionários se rebelaram e eu Sim. Agora damos muito mais peso ao que LISA BURRELL é editora sênior da HBR.

38 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


Experimento de
uma equipe: o
caso de um banco
COMO O ING REFORMULOU SUAS
OPERAÇÕES BANCÁRIAS DE VAREJO.
DOMINIC BARTON, DENNIS CAREY E RAM CHARAN
Por volta de 2014, cerca de 40% de todas as trabalhou com Nick Jue, na época CEO do
Quando as tecnologias interações com clientes de varejo do ING grupo do ING Netherlands, para lançar uma
eram feitas via dispositivos móveis. (Atual- transformação piloto na sede da maior uni-
web e móveis mente o número está perto de 60% — e as vi- dade do ING, suas operações holandesas de
impactaram o setor sitas e ligações para contato com as agências
foram reduzidas para menos de 1%.) Mesmo
varejo. O primeiro passo foi ajudar outros lí-
deres seniores e o conselho a criar um novo
bancário, os clientes naquela época, os clientes que utilizavam sistema ágil baseado em equipes para orga-
serviços por celular esperavam fácil acesso nizar, desenvolver e avaliar talentos. (O ING
tornaram-se ainda mais à informação atualizada quando e onde se já tinha adotado as metodologias scrum e
logassem. Por exemplo, se alguém estives-
conscientes do que se iniciado a negociação de um empréstimo
agile em sua unidade de TI na Holanda, mas
essas formas de trabalhar eram novas para
poderiam fazer para si durante uma viagem de trem do trabalho pa- outras partes da organização.) Hamers e sua
ra casa, poderia querer continuá-la em seu equipe de liderança se reuniram com alguns
mesmos. Rapidamente desktop à noite. “Nossos clientes passavam a executivos de empresas de tecnologia que
maior parte do tempo online em plataformas eles respeitavam, e aprenderam como seu
eles abraçaram o que como Facebook e Netlix”, comenta Hamers. sistema de talentos oferecia melhores ser-
Ralph Hamers, CEO do “Foram elas que criaram o padrão para a ex-
periência do usuário. ”
viços aos clientes. No segundo semestre de
2015, a sede do ING Netherlands, onde tra-
grupo bancário global Isso signiicava que o ING precisava se balhavam cerca de 3.500 funcionários em
tornar mais ágil e mais focado no cliente tempo integral, tinha substituído a maior
ING, chama de “banco para atender seus mais de 30 milhões de parte de sua estrutura tradicional por uma
usuários no mundo todo, em cada etapa de organização luida, ágil, formada por tribos,
em qualquer lugar”. suas jornadas inanceiras. Por isso Hamers esquadrões e comitês.

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 39 


FOCO AS NOVAS REGRAS DA GESTÃO DE TALENTOS

Tribos, esquadrões e comitês


O novo sistema ágil do ING para formar talentos e administrar o desempenho organiza as pessoas
por domínio, necessidade do cliente e operação. Depois de experimentar essa estrutura em sua
unidade holandesa de banco de varejo, a empresa decidiu ampliá-la ainda mais.
TRIBO
UM CONJUNTO DE ESQUADRÕES FOCADOS NO MESMO DOMÍNIO —
POR EXEMPLO, APLICAÇÕES E INVESTIMENTO OU HIPOTECAS

LÍDER DA TRIBO
ESTABELECE
PRIORIDADES, ALOCA ESQUADRÃO
RECURSOS E SE GRUPO
COORDENA COM OUTRAS TRANSFUNCIONAL,
TRIBOS PARA GARANTIR AUTOCOMANDADO, DE
COMPARTILHAMENTO ATÉ NOVE PESSOAS,
DE CONHECIMENTO ENCARREGADO DE
ATENDER A UMA
NECESSIDADE ESPECÍFICA
DO CLIENTE. PODE SER
DISSOLVIDO QUANDO A
TAREFA FOR CUMPRIDA
OU SE INSERIR NUM
NOVO ESQUADRÃO

LÍDER DO COMITÊ
COMITÊ SUPERVISIONA O
SÃO MEMBROS DE COACHING E A GESTÃO
UMA DADA DISCIPLINA DE DESEMPENHO; É
COMO EXPERIÊNCIA RESPONSÁVEL POR
DO CLIENTE OU ACOMPANHAR E
ANÁLISE DE DADOS. COMPARTILHAR AS
ELES DESENVOLVEM MELHORES PRÁTICAS
EXPERTISE E
CONHECIMENTO
NOS ESQUADRÕES

COACH ÁGIL
TRABALHA COM PESSOAS
DONO DO PRODUTO E ESQUADRÕES NA
COLABORAÇÃO E
MEMBRO DO ESQUADRÃO (MAS SOLUÇÃO ITERATIVA
NÃO O LÍDER) QUE COORDENA DE PROBLEMAS
AS ATIVIDADES DO GRUPO E
ESTABELECE PRIORIDADES

FONTE ING

40 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


Foram criadas 13 tribos para atender áre- membros do esquadrão resolvem com rapi- decidir como continuar a melhorar o produ-
as especíicas, como hipotecas, seguros, dez questões que anteriormente teriam sido to para nossos clientes, ou se preferem um
aplicações e investimentos. Cada tribo era rebotadas por vários departamentos. O com- ‘fracasso rápido’”, oberva Hamers. (Apren-
formada por até 150 pessoas. (Funcionários partilhamento das informações é encorajado der com os erros é louvável.) Os esquadrões
em atividades de vendas, serviços e supor- por meio de mecanismos como scrums e pe- fazem também uma autoavaliação com-
te trabalhavam fora dessa estrutura — em quenas reuniões diárias — como as que costu- pleta depois de concluir qualquer compro-
equipes menores de idelização do cliente, mam ser realizadas em startups de tecnologia. misso, e as tribos de avaliações trimestrais
por exemplo — mas colaboravam com as Visualizar um projeto completo do começo ao (QBRs, na sigla em inglês) nas quais anali-
tribos.) E cada uma tinha um líder que es- im dá a cada esquadrão um sentido de apro- sam seus maiores sucessos e fracassos, revi-
tabelecia prioridades, alocava recursos e priação e de conexão com o cliente. sam o que aprenderam de mais importante
garantia que os conhecimentos e insights Implementar um sistema ágil de talen- e articulam metas para o trimestre seguinte.
fossem partilhados dentro das próprias to não signiica aceitar o caos. Na verdade, Essas salvaguardas ajudam a combater o
equipes e entre elas. um sistema bem projetado respeita regras e que Vincent van den Boogert, atual CEO do
O líder da tribo tem outra responsabili- salvaguardas claramente deinidas para ga- ING Netherlands — e de parte da equipe que
dade crítica: criar, com o input dos mem- rantir a estabilidade institucional. Cada tri- lançou a nova estrutura organizacional —
bros da tribo, esquadrões autogeridos for- bo, por exemplo, tem uma dupla de coaches considera um dos dois maiores desaios do
mados por, no máximo, nove pessoas pa- ágeis para ajudar os esquadrões e funcioná- sistema baseado em esquadrões. O primeiro
ra atender às necessidades especíicas do rios a colaborar efetivamente num ambiente é a possibilidade de que os esquadrões in-
cliente, não raro entregando e mantendo onde estes últimos são encorajados a resol- vestidos de poder, que atendem basicamen-
te às necessidades dos clientes, possam em-
barcar em mudanças que não estejam em
Trabalhando em sintonia com a estratégia da empresa. As
QBRs mitigam esse risco. O segundo desaio

pequenas unidades é um tanto contraintuitivo: os esquadrões


que se autoavaliam e se sentem plenamen-

transfuncionais, os te satisfeitos com as melhorias incremen-


tais que introduzem a cada duas semanas.
Eles são úteis neste caso, pois a gestão do

esquadrões resolvem os topo os utiliza para reformular metas am-


biciosas demais

problemas com muito mais A satisfação do cliente e o envolvimen-


to do funcionário estão em alta, e o ING está
comercializando novos produtos com mui-
rapidez que no passado. to mais rapidez. Por isso o banco começou
a estender essa nova forma de trabalho pa-
ra os quase 40 mil funcionários fora de sua
novos produtos e serviços. Esses esqua- ver problemas de imediato em vez de pas- terra natal. Para Hamers, a mudança pode
drões são transdisciplinares — geralmen- sá-los adiante. Embora você possa pensar não ser tão veloz. Os aplicativos para cada
te um mix de especialistas em marketing, que a adaptação seria mais difícil para fun- um dos 13 mercados de varejo do ING va-
analistas de dados, designers da experiência cionários que trabalham no banco há mui- riam em aparência, design e operação. Ha-
do cliente, engenheiros de TI e especialis- to tempo, isso não é verdade, airma Peter mers quer facilitar as coisas de modo que
tas em produtos. Um membro do esquadrão Jacobs, CIO do ING Netherlands. “Muitos qualquer cliente, em qualquer lugar, acesse
é designado como “dono do produto”, res- se adaptam até de forma mais rápida e tran- o mesmo ING. “As empresas de tecnologia
ponsável por coordenar atividades e estabe- quila que os da geração mais nova”, obser- têm uma plataforma única para o mun-
lecer prioridades. O esquadrão permanece va, “talvez porque sua expertise hoje produz do todo”, ele observa. “Não importa onde
unido pelo tempo que for necessário para mais impacto que no passado, quando tantas você usar a Netlix, Facebook ou Google,
atender o cliente do começo ao im — por aprovações formais eram exigidas. ” terá sempre o serviço. O ING precisa fazer
exemplo, ajudá-lo a manejar o aplicativo do A seguir vêm os comitês, que coorde- o mesmo. Somente assim conseguiremos
celular. Algumas tarefas são completadas nam membros da mesma disciplina — por conduzir todos os nossos clientes para o fu-
em duas semanas, outras podem levar 18 exemplo, análise de dados ou processos de turo das operações bancárias.”
meses. Às vezes, os esquadrões são dissol- sistemas — espalhados entre os esquadrões. HBR Reprint R1804B–P Para pedidos, página 9
vidos, e seus membros inseridos em outros Os chefes de comitê são responsáveis por
esquadrões. Com frequência, no entanto, rastrear e compartilhar as melhores práticas DOMINIC BARTON é diretor global da consultoria
os esquadrões que estão funcionando bem e outras atividades como desenvolvimento McKinsey & Company. DENNIS CAREY é vice-presi-
são mantidos e seguem atendendo aos proissional e avaliações de desempenho. dente da Korn Ferry. RAM CHARAN foi consultor de CEOs
e membro do conselho de algumas das maiores
clientes em numerosas necessidades. Avaliações regulares são criadas no corporações mundiais. São coautores de Talent wins:
Por trabalharem em unidades tão peque- sistema. A cada duas semanas, os esqua- the new playbook for putting people first (Harvard
nas e com colegas de várias disciplinas, os drões avaliam seu trabalho. “Eles precisam Business Review Press, 2018).

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 41 


Migração para cloud – muito se
falou, agora é hora de fazer
Jun Endo, VP Cloud Application Innovation - IBM Services - Latin America

Não é novidade que a onda de reinvenção digital atinge As organizações de TI, pressionadas como nunca, entendem
todos os setores da economia estabelecida, e a chamada ameaça que precisam repensar os modelos que funcionaram até aqui.
da “uberização” ou da “disrupção” já é tema batido. Líderes de Grandes empresas em todo o mundo reconhecem a necessidade
todos os setores já não dormem em berço esplêndido — além de ter uma TI mais ágil e flexível, capaz de atender a demandas
de procurarem preservar a base instalada, eles têm buscado flutuantes e a diferentes requisitos de sensibilidade de dados e
formas de se proteger contra essas ameaças e contra-atacá- regulamentação. Essa flexibilidade está sendo buscada através
las com modelos de negócio que produzam novas fontes de do uso de soluções de cloud computing, com estratégias que
receitas e permitam acesso a novos mercados e clientes. combinam os data centers tradicionais existentes com private
A busca envolve a entrega de uma experiência melhor para clouds e public clouds. As public clouds têm sido usadas
os clientes, alavancada pelo conhecimento profundo de suas em soluções de e-commerce, analytics e big data, soluções
preferências e de seu histórico, procura por eficiências ainda móveis, experiências digitais; as private clouds em situações
maiores em toda a cadeia produtiva, criação de modelos de de sensibilidade maior dos dados e cumprimento de requisitos
negócio totalmente novos, digitais. Envolve também entrega de regulatórios e processamentos batch; já as plataformas
inovação para os clientes antes da concorrência – a tradicional tradicionais em aplicações altamente customizadas e aplicações
e a nova. Vale lembrar que, hoje, criação e lançamento de legadas cuja modernização não faz sentido no negócio.
produtos, características e funções constitui um processo que Nas suas jornadas de reinvenção digital, as empresas
requer ciclos cada vez mais curtos, medidos em dias ou horas. têm priorizado a criação de plataformas totalmente
Nessa corrida frenética, muitos são os acidentes de digitais que promovam a melhoria de produtos e serviços:
percurso, ou derrapagens na curva que custam caro para as soluções analíticas para busca de insights, machine learning,
empresas. Problemas de indisponibilidade, segurança e erros inteligência artificial, soluções cognitivas e automação de
de funcionalidade afetam websites, mobile apps, centrais processos com robôs. Mas em pesquisa recente encomendada
de atendimento de bancos, varejistas, companhias aéreas, pela IBM, quase 70% das empresas apontaram a modernização
empresas de mídia, serviços públicos, enfim, que atire a dos sistemas transacionais existentes como sua prioridade
primeira pedra quem nunca foi impactado. número 1, à frente das citadas acima.
Tal priorização faz todo o sentido. Os sistemas tradicionais, de aplicativos mainframe, projetados e planejados para
pejorativamente chamados de legados, remam em sentido a modernização, aplicando padrões de microservices e
contrário na corrida pela inovação. Infalivelmente, qualquer event-driven architecture e usando aceleradores para obter um
inovação a ser introduzida requer integrações com os inventário correto das aplicações e suas interdependências,
sistemas atuais, além de um recorte na malha existente desses além do conhecimento das aplicações mainframe para
sistemas para eliminar o que está sendo substituído. Porém, estabelecer um plano de modernização viável. O resultado
a complexidade do emaranhado desenvolvido ao longo de foi o desenho de um conjunto de novos microssistemas,
décadas é enorme, o desenvolvimento de tais integrações organizados em domínios funcionais e projetados para
ou o recorte na malha é processo moroso e arriscado, e a permitir maior agilidade no processo de desenvolvimento
inovação não pode ser introduzida na velocidade esperada. e com uma projeção de até 40% de redução no custo
Em muitas das empresas, mais de 50% do budget de TI é operacional total. No setor bancário, está em curso
consumido na manutenção desses sistemas, e devido ao alto uma refatoração de aplicativos de canais, com a
acoplamento são justamente eles os gargalos de qualquer modernização da plataforma que integra esses canais aos
projeto. Muitas vezes são criadas soluções apartadas por sistemas principais do mainframe através de um modelo
completo dos sistemas existentes, como se fossem página de APIs. Projetamos uma nova TI híbrida, incluindo
em branco, mas tal abordagem nem sempre entrega a visão agile, DevOps, modelo operacional e governança cloud,
global que se almeja ter dos clientes nem um processo bem e modernizamos uma de suas aplicações críticas para o
integrado de ponta a ponta. E certamente a introdução modelo private cloud. Nas funções já migradas, houve
das inovações sem promover uma faxina constante só faz redução de até 60% no tempo médio de um release
aumentar a complexidade e os custos de TI. graças à adoção das práticas de DevOps e de automações.
A IBM tem suportado as organizações nesta jornada de O baixo acoplamento das funções permite maior agilidade
reinvenção digital e adoção de cloud graças a uma abordagem e flexibilidade para o negócio.
integrada para todo o ciclo de vida, desde a definição da A avalanche da reinvenção digital é irreversível,
estratégia até a implementação, o que abrange aplicações com crescente pressão sobre o desempenho, disponibilidade
novas e legados, infraestrutura, governança e processos de e segurança das soluções de TI. E não há saída fácil
TI. Essa abordagem permite a simplificação da jornada para para nos livrarmos das complexidades resultantes
um modelo que chamamos de TI Híbrida as a service, com de décadas de investimentos nas aplicações das empresas.
a criação de business cases para suportar as decisões de As organizações de TI têm estabelecido estratégias de
investimento e a adoção da cloud com medição de resultados cloud híbridas, porém, a sua adoção em escala é um
a cada passo. desafio. Método, aceleradores, ferramentas e, acima de
No Brasil, temos apoiado vários clientes nesta jornada tudo profissionais experientes são nossos trunfos para essa
de transformação. Em um deles, avaliamos um conjunto difícil empreitada.
Artigos
ABRIL 2018

46 OS ELEMENTOS 58 A CONTRATAÇÃO DE 70 QUAL O VALOR 78 DIVERSIDADE E


DE VALOR DO B2B UM LÍDER EMPREENDEDOR DE UM LIKE? AUTENTICIDADE
DENAMAZANIK/ISTOCK

Como medir — e O que procurar Aceitações nas As minorias hesitam em


entregar — o redes sociais não partilhar informação
que os clientes funcionam como sobre elas mesmas no
comerciais desejam você imagina trabalho. E isso é um
problema para todos

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 45 


DENAMAZANIK/ISTOCK

46 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


OS ELEMENTOS Como medir — e
entregar — o que clientes

DE VALOR empresariais querem


ERIC ALMQUIST,
DO B2B JAMIE CLEGHORN
E LORI SHERER

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 47


OS ELEMENTOS DE VALOR DO B2B

É sábado, e uma diretora


operacional está muito
satisfeita. Na semana
passada, ela fechou um
negócio de milhões de
dólares na compra de
uma frota de veículos
para sua empresa.
EM RESUMO
Para recompensar a si
O DESAFIO
À medida que os negócios mesma, quer um carro
esportivo conversível
B2B se tornam cada vez
mais comoditizados, as
considerações subjetivas e
às vezes bastante pessoais

para curtir nos fins de


dos clientes empresariais
relativas às suas decisões
de compra se tornam cada
vez mais importantes.

O INSIGHT CRÍTICO
Compreender a gama
completa de fatores
semana. Sem dúvida,
racionais e emocionais nas
compras de negócios — e
adaptar adequadamente as sua busca por bom preço
em uma compra pessoal
propostas de valor — pode
ajudar as empresas a evitar a
armadilha das commodities.

de lazer é diferente da
A NOVA ABORDAGEM
Avaliar produtos e
serviços de acordo com
36 fontes distintas de

que faz ao negociar para


valor cuja importância
para compradores B2B
foi demonstrada pelas
pesquisas. Cuidadosamente
incorporar aqueles que
determinam a lealdade
aos produtos e serviços. a empresa, certo?
48 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018
Talvez esses dois cálculos não sejam tão diferen- conformidade regulatória e respeito aos padrões éticos.
tes. Sua decisão sobre a frota obviamente incluiu cri- Acima dos quesitos básicos estão os elementos funcio-
térios objetivos, como preço, garantia e nível do ser- nais que abordam as necessidades econômicas ou de
viço, mas outros critérios mais subjetivos tiveram in- desempenho de produto das empresas, como redução
fluência. Por exemplo, os veículos devem refletir a de custo e escalabilidade. Cumprir esses elementos é
marca da empresa e seu design e forma de direção de- prioridade em setores tradicionais, como a manufatu-
vem ser atraentes para motoristas e passageiros, espe- ra. Como são, simultaneamente, compradores e ven-
cialmente os modelos de alto nível para executivos. dedores, as empresas B2B ainda focam a maior parte
Na realidade, as decisões entre empresas e as do de sua energia nos elementos funcionais.
consumidor não diferem de forma rígida. É verdade Os elementos do terceiro nível facilitam os negócios.
que os vendedores B2B precisam otimizar os preços, Alguns fornecem valores puramente objetivos, por
atender às especificações, cumprir regulações e se- exemplo, os que aumentam a produtividade do cliente
guir práticas éticas. A equipe de compra avalia rigoro- (economia de tempo, esforço reduzido) ou melhoram seu
samente os fornecedores e faz modelos de custo total desempenho operacional (simpliicação, organização).
de propriedade para garantir que critérios racionais e Aqui encontramos também o primeiro conjunto de ele-
quantiicáveis embasem sua análise de preço. mentos que envolvem o julgamento subjetivo dos com-
Hoje esses critérios são os quesitos básicos. À me- pradores, a saber, fatores que melhoram as relações en-
dida que os negócios B2B se tornam cada vez mais tre as partes, como boa adaptação cultural e compromis-
comoditizados, as preocupações subjetivas — às vezes so do vendedor com a organização-cliente.
bastante pessoais — dos clientes empresariais relati- Os elementos no próximo nível fornecem caracterís-
vas ao seu processo de compra são cada vez mais im- ticas subjetivas relacionadas com as prioridades de com-
portantes. Nossa pesquisa mostra que, em algumas pradores individuais, sejam elas pessoais (ansiedade re-
compras, considerações sobre a capacidade do produ- duzida, design e estética atraentes) ou relativas à carreira
to de conferir status ao comprador ou de reduzir sua (maior potencial de comercialização e expansão de rede).
ansiedade desempenham papel relevante. Reconhe- Aqui, os elementos de valor podem lidar com pre-
cer toda a gama de fatores racionais e emocionais por ocupações altamente emocionais. Frequentemente, o
trás das compras de negócio — e adaptar adequada- medo do fracasso acomete compradores que gastam
mente a proposta de valor — é fundamental para evi- grandes somas e tomam decisões que podem afetar as
tar a armadilha das commodities. receitas ou um número considerável de funcionários.
Para ajudar fornecedores B2B a compreender o es- Quando se compram softwares críticos para a missão,
pectro de prioridades dos clientes, analisamos diversos negociam-se empréstimos ou se alugam imóveis, os ris-
estudos quantitativos e qualitativos sobre o assunto cos são muitos. Considere a decisão de um fornecedor
realizado pela nossa empresa durante mais de três dé- de telecomunicações dos EUA, há vários anos, de atua-
cadas a im de veriicar o que era mais importante para lizar seu serviço de vídeo por ibra óptica. Ele escolheu
os compradores. Graças a essa pesquisa, identiicamos um fornecedor chinês que ofereceu o menor preço e,
40 “elementos de valor” fundamentais. Eles se enqua- em teoria, era a melhor opção. Contudo, uma vez insta-
dram em cinco categorias: quesitos básicos, funcional, lada, a nova rede sofria panes constantes, e a empresa
facilidade de fazer negócio, individual e de inspiração. de telecomunicações teve de lidar com um suporte téc-
Assim como nosso método para mercados de con- nico situado na China, a 12 horas de distância. Do pon-
sumo (ver “Os elementos de valor”, HBRBR, setembro to de vista do cliente, a falta de comunicação e os erros
de 2016), nosso modelo B2B classiica os elementos em de relacionamento do fornecedor — como a implemen-
uma pirâmide: na base estão os que fornecem valor mais tação de grandes mudanças sem aviso prévio — foram
objetivo, e no alto os que fornecem valor mais subjetivo. grandes problemas. Embora a empresa, eventualmen-
O modelo tem suas raízes conceituais na hierarquia das te, tivesse trocado o fornecedor de rede, desperdiçou
necessidades, descrita pelo psicólogo Abraham Maslow, muito tempo e dinheiro e teve prejuízos de reputação
em 1943. Quando era docente no Brooklyn College, Mas- com os clientes. Isso demostra por que alguns fornece-
low argumentou que as ações humanas são motivadas dores se beneiciam quando oferecem redução de risco e
pelo desejo inato de satisfazer necessidades que variam garantia de reputação aos responsáveis pelas compras.
das mais básicas (segurança, calor, comida e descan- No topo da pirâmide estão elementos de inspira-
so) às mais complexas (autoestima e altruísmo). Nossa ção: os que melhoram a visão de futuro do cliente, por
abordagem de elementos de valor amplia esses insights exemplo, os que de certo modo preveem mudanças
para incluir os executivos e suas motivações ao comprar de mercado; os que incutem esperança nos compra-
e usar produtos e serviços empresariais (ver quadro “A dores individuais, como a possibilidade de mudar pa-
pirâmide de elementos de valor B2B”.) ra a próxima geração de tecnologia com facilidade e de
Na base da pirâmide estão os quesitos bási- forma razoável; e os que aumentam a responsabilidade
cos: atende às especificações a preço razoável, em social da empresa.

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 49


OS ELEMENTOS DE VALOR DO B2B

OBJETIVO VALOR DE INSPIRAÇÃO

VISÃO

OTIMISMO RESPONSABILIDADE
SOCIAL

CARREIRA VALOR INDIVIDUAL

EXPANSÃO POTENCIAL DE GARANTIA DE


DE REDE COMERCIALIZAÇÃO REPUTAÇÃO

PESSOAL

DESIGN E CRESCIMENTO & REDUÇÃO DE DIVERSÃO &


ESTÉTICA DESENVOLVIMENTO ANSIEDADE BENEFÍCIOS

PRODUTIVIDADE ACESSO RELACIONAMENTO FACILIDADE PARA


FAZER NEGÓCIO

ECONOMIA ESFORÇO DISPONIBILIDADE CAPACIDADE DE COMPETÊNCIA


DE TEMPO REDUZIDO RESPOSTA

MENOS INFORMAÇÕES TRANSPARÊNCIA VARIEDADE COMPROMISSO ESTABILIDADE ADAPTAÇÃO


ABORRECIMENTOS CULTURAL

ORGANIZAÇÃO SIMPLIFICAÇÃO CONEXÃO INTEGRAÇÃO CONFIGURA- REDUÇÃO ALCANCE FLEXIBILIDADE QUALIDADE DOS
BILIDADE DE RISCOS COMPONENTES
OPERACIONAL ESTRATÉGICO
ECONÔMICO DESEMPENHO VALOR FUNCIONAL

MAIOR RECEITA REDUÇÃO QUALIDADE ESCALABILIDADE INOVAÇÃO


BRUTA DE CUSTO DO PRODUTO

QUESITOS BÁSICOS

ATENDE ÀS PREÇO CONFORMIDADE PADRÕES


ESPECIFICAÇÕES RAZOÁVEL REGULATÓRIA ÉTICOS
© COPYRIGHT 2018 BAIN & COMPANY INC.

ILUSTRAÇÕES DE NIK SCHULZ


50 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018
A pirâmide de elementos cionada com idelidade do cliente (ver quadro “Mais
valor, mais idelidade”). De fato, o desempenho nos

de valor B2B elementos e a lealdade do cliente têm relação estatís-


tica praticamente de um para um.
Deinimos excelência do elemento se a nota recebi-
A Bain organizou os 40 tipos distintos da fosse 8 ou mais na escala de 0 a 10, e desempenho
de valor que o B2B oferece aos clientes forte se essas fossem as notas em seis elementos ou
em uma pirâmide com cinco níveis. Os mais por pelo menos 65% dos tomadores de decisão
pesquisados. Em seguida, analisamos a correlação en-
valores mais objetivos ficam na base, e tre desempenho e idelidade do cliente comparando
quanto maior for o nível, mais subjetivos o Net Promoter Score (NPS) dos fornecedores — mé-
e pessoais são os valores nela contidos. trica-chave de lealdade obtida da subtração da por-
centagem dos clientes detratores da porcentagem dos
clientes promotores. Descobrimos que o NPS médio
daqueles com desempenho forte foi 60% maior do
Há muito tempo, os elementos na base da pirâmi- que o de empresas que se destacaram em apenas um
de são fáceis de medir, e a competição baseada neles a cinco elementos — e várias vezes maior que o de
tem sido direta. Os elementos mais emocionais nos ní- empresas que não se destacaram em nenhum elemen-
veis médio e superior são, tradicionalmente, mais di- to. Ficou claro que quanto mais, melhor, embora não
fíceis de isolar e quantiicar e, portanto, de implemen- seja realista, obviamente, tentar colocar todos os ele-
tar. Mas a batalha pela diferenciação caminha rumo a mentos em um único produto ou serviço.
esses aspectos menos transacionais. Para o estrategis- Descobrimos também que os clientes de infraes-
ta ou o gestor de produtos, dominar os aspectos intan- trutura de TI eram mais propensos a fazer compras re-
gíveis da experiência total do cliente — a interação e petidas de empresas com desempenho forte. Em mé-
a comunicação, o serviço e o suporte envolvidos no dia, 43% dos entrevistados disseram que a probabi-
produto ou serviço — é muito mais difícil do que tor- lidade de repetir a compra era alta, enquanto apenas
nar o produto ou serviço mais rápido, mais barato, ou 21% disseram o mesmo sobre empresas cujos resulta-
mais durável. dos não eram excelentes.
Os elementos B2B da estrutura de valor ajudam as Além disso, a análise indicou quais elementos são
empresas a enfrentar esse amplo desaio. Se elas usam mais importantes. Geralmente, infraestrutura de TI é
técnicas modernas de levantamento e análise estatís- considerada um mercado de commodities para caixas
tica para quantiicar todos os elementos de forma con- de hardware com funcionalidades similares. E, de fa-
sistente, podem descobrir o que os clientes realmen- to, os participantes, quando solicitados a classiicar a
te valorizam e os aspectos do produto ou serviço que importância dos elementos, colocaram a redução de
merecem investimento. Os executivos podem trazer custos no topo da lista.
rigor cientíico a áreas em que, antes, as tomadas de No entanto, fornecedores de infraestrutura de
decisão eram instintivas. Vejamos agora o que as em- TI ainda têm muito espaço para se diferenciar entre-
presas podem fazer para alcançar esse objetivo. gando o prometido nos elementos de todos os níveis.
Embora os entrevistados tivessem afirmado que a
redução de custos pesou mais na decisão, suas respos-
QUAIS SÃO OS ELEMENTOS MAIS IMPORTANTES tas a outras questões sugerem algo diferente. Quan-
Com o objetivo de entender como a entrega dos ele- do calculamos a inluência de cada elemento no NPS
mentos afeta o desempenho da empresa — e, parti- (analisando o impacto dos 36 elementos para deinir
cularmente, a fidelização de clientes —, pesquisa- se os entrevistados eram promotores ou não), a quali-
mos, em colaboração com a Research Now e a Lucid, dade do produto, a competência e a capacidade de res-
mais de 2.300 tomadores de decisão empresariais em posta surgiram como os melhores previsores de ideli-
dois setores: infraestrutura de TI e seguro comercial. dade do cliente. A redução de custos não icou sequer
Especificamente, reunimos informações sobre su- entre os dez primeiros (ver quadro “Quais são os ele-
as percepções de como os vendedores desses setores mentos mais importantes para os compradores de infra-
se saíram nos 36 elementos de valor que não os que- estrutura de TI? ”).
sitos básicos. (Não incluímos os quesitos básicos na Sete dos dez principais elementos icam no nível
análise porque são a base do negócio, e não áreas de da pirâmide referente à facilidade de fazer negócios,
diferenciação.) o que sugere que fornecedores de infraestrutura de
Nossa análise dos resultados revela quanto a ex- TI podem sair da armadilha das commodities destacan-
celência em múltiplos elementos dá bons resultados. do-se no fornecimento de valor objetivo e subjetivo.
Na infraestrutura de TI, ela está fortemente correla- Veja a plataforma de computação em nuvem Azure,

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 51


OS ELEMENTOS DE VALOR DO B2B

da Microsoft, que, segundo nossos dados, teve o me- usamos a análise de regressão para determinar quais
lhor resultado entre dez provedores de infraestrutu- aspectos induziram a idelidade às operadoras, outros
ra de TI, obtendo altas pontuações dos entrevistados elementos se mostraram mais importantes: qualida-
em 20 dos 36 elementos, incluindo economia de de do produto, experiência no negócio do cliente e ca-
tempo, menos aborrecimentos e capacidade de res- pacidade de resposta. Claramente, elementos que di-
posta. (A Azure teve também o NPS mais alto.) Em zem respeito à facilidade de fazer negócios e que in-
entrevistas de follow up, os entrevistados revelaram troduzem tanto valores objetivos quanto subjetivos
o motivo: a Azure se destacou por fornecer visibilida- também representam áreas de oportunidade para as
de imediata e recuperação de arquivos excluídos ou seguradoras.
perdidos, e por automatizar tarefas de gestão em nu-
vem — por exemplo, aumentando automaticamente,
conforme necessário, as capacidades de processamen- COLOQUE OS ELEMENTOS PARA TRABALHAR
to e armazenamento. Melhorar os elementos que são a fonte dos princi-
pais benefícios de seus produtos ou serviços permi-
tirá aos fornecedores atender melhor as necessidades

PARA EXPANDIR SUA


dos clientes. Eles também podem adicionar elemen-
tos criteriosamente para expandir sua proposta de va-
lor sem modiicar os produtos ou serviços em si. Em

PROPOSIÇÃO DE VALOR, A
ambos os casos, é preciso adotar o ponto de vista do
cliente, não a perspectiva operacional de dentro para
fora. Um produto ou serviço pode até ser bom, mas se

JOHN DEERE, FABRICANTE DE


os clientes acham que os processos de compra, rastre-
amento de pedidos, ou suporte técnico são péssimos,
muitos procurarão outros fornecedores.
Frequentemente, quando as empresas B2B reali-

EQUIPAMENTOS, APRIMOROU zam uma análise completa de elementos, icam sur-


presas com a distância entre suas autoavaliações e as
opiniões de clientes sobre a experiência geral de com-

ELEMENTOS RELACIONADOS pra e uso de seus produtos ou serviços. Em seguros


comerciais, por exemplo, as análises de elementos
mostram que os corretores valorizam particularmente

À PRODUTIVIDADE. a estabilidade, a qualidade do produto, a variedade de


recursos e a responsabilidade das operadoras. Quando
uma grande operadora avaliou seus corretores, desco-
briu que se saía bem na qualidade do produto em re-
lação aos principais concorrentes, mas icou atrás nos
Os clientes de seguros comerciais que pesquisa- elementos de relacionamento, particularmente a ca-
mos também mostraram idelidade alta aos provedo- pacidade de resposta. Agora, essa operadora está in-
res (operadoras de seguros, neste caso) que obtiveram vestindo na capacidade de resposta e na melhoria ge-
bons resultados em muitos elementos. No entanto, a ral da proposta de valor para os corretores.
diferença entre os de desempenho forte e os de de- Em outro setor, os mercados agrícolas, os elemen-
sempenho fraco não foi tão ampla, ou seja, conquistar tos apontam para o amplo potencial comercial do de-
a idelidade do cliente é mais difícil para as operadoras senvolvimento de novos tipos de serviço. Há muito, o
— talvez porque, historicamente, grande parte do va- fabricante de equipamentos John Deere se destacou na
lor do seguro comercial é entregue por corretores, cujo competência e na conigurabilidade, bem como no for-
relacionamento com os clientes de muitas operadoras necimento de garantia de reputação através da quali-
é bastante próximo. dade de seus produtos. Para ampliar sua proposta de
Em seguros comerciais, percebemos mais uma vez valor, a Deere recentemente investiu em aprimora-
que os elementos identiicados pelos clientes como os mentos relacionados à produtividade. Estes incluem
mais importantes eram diferentes daqueles que, de diagnósticos remotos e o aplicativo MyJohnDeere, que
acordo com nossa análise estatística, determinavam fornece informações aos agricultores sobre as condi-
sua lealdade. Quando perguntados o que mais dese- ções do solo e dados meteorológicos. Deere está fo-
javam de suas operadoras de seguros, os entrevista- cando também em elementos econômicos que pode-
dos apresentaram uma lista bastante previsível: redu- riam aumentar a lealdade. Introduziu analytics pelo
ção de risco, redução de custos, disponibilidade, esta- FarmSight, que ajuda os clientes a diminuir os custos
bilidade e redução de ansiedade. Ainda assim, quando de combustível, e os tratores autodirigidos AutoTrac,

52 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


Mais valor, 43%
mais fidelidade

PORCENTAGEM DE ENTREVISTADOS QUE INDICARAM


34% 36%
A probabilidade de os clientes

ALTA PROBABILIDADE DE RECOMPRA


recomendarem uma empresa de
infraestrutura de TI, conforme indicado 21% 21%
pelo Net Promoter Score, sobe junto com

NET PROMOTER SCORE


o número de elementos de alto valor
fornecidos. (Os elementos de alto valor
receberam classificação de 8 ou mais na 6%
escala de 0 a 10 de pelo menos 65% dos
1.050 tomadores de decisão empresariais
0 1—5 6+ 0 1—5 6+
pesquisados.) A probabilidade de recompra
NÚMERO DE ELEMENTOS DE ALTO VALOR NÚMERO DE ELEMENTOS DE ALTO VALOR
de um produto também aumenta com o
número de elementos de alto valor.
NOTA O NET PROMOTER SCORE É OBTIDO DA SUBTRAÇÃO DA PORCENTAGEM DE DETRATADORES (CLIENTES
QUE AVALIAM A EMPRESA COM NOTA 6 OU MENOS NA ESCALA DE 0 A 10) DA PORCENTAGEM DE PROMOTORES
(CLIENTES QUE LHE ATRIBUEM 9 OU 10). ELEMENTOS DE QUESITO BÁSICO (COMO ATENDE ÀS ESPECIFICAÇÕES
E PREÇO RAZOÁVEL) NÃO FORAM INCLUÍDOS NESTA ANÁLISE. FONTE BAIN & COMPANY

Quais são os elementos


IMPACTO RELATIVO DE CADA ELEMENTO NA LEALDADE DO CLIENTE

10%

mais importantes para 7,8


os compradores de 6,1
5,5
infraestrutura de TI? 4,5
3,9 3,6 3,6 3,4
Nas pesquisas, os clientes afirmaram que a
redução de custos era o elemento de valor
3,1 3,0
mais importante para eles. Mas uma análise
estatística das notas que eles deram aos
fornecedores em cada elemento e do Net
Promoter Score dos fornecedores revelou 0%
QUALIDADE

CAPACIDADE
DO PRODUTO

COMPETÊNCIA

DE RESPOSTA

OTIMISMO

INTEGRAÇÃO

VISÃO

REDUÇÃO DE RISCO

ADAPTAÇÃO
CULTURAL

SIMPLIFICAÇÃO

ECONOMIA
DE TEMPO

que a qualidade do produto, a competência


do fornecedor e a capacidade de resposta
influenciaram muito mais a fidelização
do cliente. Na verdade, quando todos os
elementos, além dos quesitos básicos, foram
classificados pelo seu impacto na lealdade, *PORCENTAGENS INDICAM O QUANTO CADA ELEMENTO CONTRIBUIU PARA PREVER QUE UM
CLIENTE SERIA UM PROMOTOR LEAL AO VENDEDOR. O TOTAL DE TODOS OS 36 ELEMENTOS É 100%.
a redução de custos ficou em 27o lugar. FONTE BAIN & COMPANY

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 53


OS ELEMENTOS DE VALOR DO B2B

que reduzem os custos trabalhistas. A cada aprimo- e as concessões que eles fazem ao usar seus produtos
ramento, a Deere recolheu feedback sistematicamen- e serviços. Como muitas pessoas podem estar envol-
te, tanto dos clientes quanto de sua estreita rede de vidas em decisões de compra, especialmente em or-
revendedores. ganizações maiores, vale a pena mapear quem está na
Observe que cada uma das inovações da Deere inclui equipe de compras, quem tem inluência nela e as di-
componentes digitais e de analytics de dados. Quando ferentes prioridades e fontes de valor para cada uma.
os gestores não têm certeza de onde concentrar seus es- (Um diretor de unidade de negócios pode querer aten-
forços para inovar com a tecnologia, uma análise de ele- der às necessidades do mercado no Sudeste Asiático,
mentos pode ser útil. Digamos que um orçamento de enquanto um usuário inal pode querer um produto
tecnologia da empresa permite construir um portal de que seja fácil de aprender.) Faça as entrevistas dentro
autoatendimento para veriicação de inventário ou um de um espectro de organizações de clientes, especial-
sistema back-end para gerenciar a cadeia de suprimen- mente aquelas que lideram o crescimento no seu se-
tos, mas não os dois. Qual deles a empresa deve esco- tor. Evite usar um painel de clientes ou grupo de usuá-
lher? Para responder a esta pergunta, a empresa deve- rios cujos membros podem dizer o que acham que vo-
ria pesquisar e entrevistar clientes sobre a importância cê deseja ouvir. E considere a realização das entrevis-
relativa de cada elemento, bem como sobre o desempe- tas através de uma terceira parte neutra, porque os
nho da empresa nos elementos. Ao analisar ambos os clientes são mais propensos a fornecer feedback since-
conjuntos de dados e fazer entrevistas de follow up com ro a um intermediário.
uma amostra de entrevistados, a empresa conseguiria Imagine maneiras de aumentar o valor para os clien-
determinar as prioridades dos compradores (e stakehol- tes. Tendo identiicado um conjunto de elementos que
ders inluentes), os quesitos nos quais ela ica atrás dos demandam atenção, conduza sessões de ideação de um
concorrentes e as áreas que merecem investimento. dia para definir em quais elementos fundamentais se
A FM Global, seguradora de propriedades, cons- concentrar primeiro. Entre os participantes, podem ser
truiu uma proposta de valor diferenciada em torno da incluídos planejadores de produtos, especialistas em
redução de risco baseada na experiência de milhares de preços, vendedores, representantes de serviços e outros
engenheiros. De fato, ela prioriza clientes potenciais estagiários voltados para o cliente, e até mesmo os pró-
de acordo com a probabilidade que eles têm de imple- prios clientes. Uma boa maneira de se preparar para es-
mentar suas recomendações e, assim, diminuir os ris- sas sessões é compilar material avançado de leitura, co-
cos. A empresa foi uma das primeiras no setor a inves- mo pesquisas e entrevistas de benchmark competitivo;
tir pesadamente em análise de dados e aprendizagem dar lição de casa (por exemplo, “Traga ideias”); e conver-
de máquinas. A FM Global combina dados internos de sar com clientes iéis aos concorrentes.
propriedade dos clientes com dados públicos, cria al- Refine, teste e aprenda. Avalie as melhores ideias
goritmos que preveem quando um cliente poderá so- da sessão de ideação discutindo sua atratividade para
frer danos como um incêndio ou um cano quebrado e, os clientes e a capacidade da empresa de entregar os
em seguida, envia alertas. Os clientes evitam interrup- resultados prometidos. Isso permitirá que você revise
ções e perdas dispendiosas nos negócios, e a FM Glo- os conceitos de valor antes do desenvolvimento, com-
bal se beneicia porque a taxa de retenção de clientes preenda como eles se encaixam na experiência global
está entre as mais altas do setor. do cliente e identiique os resultados tangíveis que os
clientes esperariam de quaisquer aprimoramentos.
Esses insights podem ser a base de melhorias rápidas e
COMECE sucessivas aos conceitos antes de um teste de merca-
Qualquer empresa B2B pode usar uma análise de ele- do ou de um lançamento mais amplo.
mentos para examinar e melhorar sua proposta de Aplique o teste do ácido. Depois de introduzir
valor. Para identificar os elementos que seus clien- melhorias, reavalie a comparação com os competido-
tes mais valorizam e determinar a melhor maneira de res — se possível, refazendo a pesquisa original. Es-
aprimorar seus produtos e serviços, siga estes passos: pecialmente em mercados em rápida mudança, seus
Compare a proposição de valor de sua empre- concorrentes provavelmente terão realizado suas pró-
sa com a de seus concorrentes, veriicando com seus prias inovações enquanto você revisava sua proposi-
clientes de que forma seus produtos e serviços se ção de valor. Uma análise de follow up objetiva é im-
saíram em relação aos rivais nos 36 elementos que não portante para garantir que suas iniciativas realmente
os requisitos básicos. Uma pesquisa quantitativa com tenham fornecido o valor que os clientes buscam.
uma amostra grande o suiciente para produzir resul- Vejamos esse processo na prática. Uma empresa de
tados coniáveis pode revelar insights substanciais. equipamentos de tecnologia global em diiculdade foi
Fale com os clientes para entender a experiência adquirida por uma rede de private equity (PE). Muitos
deles. Conduza entrevistas de follow up para explorar fundos de PE usam uma versão da análise de elementos
suas necessidades e fontes de satisfação e frustração, como parte de sua devida diligência nas empresas-alvo

54 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


a im de obter informações sobre suas perspectivas de convencer os parceiros era fundamental. Assim, a em-
crescimento. Nesse caso, porém, a empresa PE fez uma presa realizou pequenos testes regionais dos incenti-
análise de elementos após a aquisição para determinar vos econômicos e do novo suporte de vendas, fazendo
como reverter o declínio nas vendas. Os principais pro- ajustes com base nos comentários dos parceiros. Essa
dutos da empresa, vendidos principalmente por meio colaboração ajudou a revigorar a iniciativa da empresa
de distribuidores e revendedores de valor agregado, para facilitar os negócios. Ao mesmo tempo, a empre-
estavam perdendo terreno para concorrentes de menor sa desenvolveu modelos sobre como as mudanças afe-
custo na Europa, particularmente para uma empresa de tariam a economia de cada parceiro principal e o pró-
mercados emergentes cuja tecnologia se tornara boa o prio P&L (lucros e perdas) da empresa.
suiciente para comoditizar o mercado. A situação tor-
nou-se crítica em 2015, quando a receita caiu mais de
20%. Trabalhando com a Bain, os novos investidores do
PE abordaram as três questões que seguem para deter-
minar onde investir: VALE A PENA MAPEAR
QUEM ESTÁ NA EQUIPE
Como nossa proposta de valor se compara com
a dos concorrentes? Pesquisas e entrevistas com
vendedores e parceiros da empresa, bem como com

DE COMPRAS, QUEM
clientes inais, evidenciaram vários elementos críticos
de valor nos quais o resultado da empresa foi fraco.
Primeiro, não era fácil fazer negócio com ela: sua ca-

TEM INFLUÊNCIA E AS
pacidade de resposta era fraca, e a empresa demorava
várias semanas para entregar o inventário. Segundo,
para os parceiros a empresa não tinha compromisso de

DIFERENTES FONTES DE
relacionamento, pois, às vezes, vendia diretamente a
alguns de seus grandes clientes. Terceiro, a integração
com os parceiros era fraca porque a empresa não ti-
nha bons dados sobre o que e quanto os parceiros ven-
diam todas as semanas, o que agravava os problemas
de inventário. “De longe o fabricante mais complexo
de lidar”, observou um cliente. Finalmente, a empre-
sa não tinha uma boa oferta de produto de entrada, al-
VALOR EM CADA CASO.
go que permitiu aos concorrente dos mercados emer-
Uma vez que o fornecedor de equipamentos de tec-
gentes tirar grande vantagem. Além de tudo, surgiu a
nologia implantou as mudanças de forma mais ampla e
constatação de que os produtos da empresa já não ti-
a proposta de valor passou a valer, a empresa foi capaz
nham uma vantagem de desempenho que justiicasse
de reverter o curso e retomou a lucratividade com cres-
um preço maior.
cimento de receita de um dígito. Também melhoraram
Como superar fraquezas e aproveitar as oportu-
suas pontuações de idelidade dos clientes, e a empresa
nidades para se diferenciar no mercado? Para ava-
está no caminho certo para ganhos ainda maiores.
liar as fraquezas que os dados e as entrevistas mostra-
ram, a empresa decidiu aumentar o nível de suporte
GESTORES DE FORNECEDORES B2B enfrentam dezenas de
de vendas para as parceiras, proporcionando melhores
opções ao tentar decidir onde alocar recursos escassos
treinamentos e ferramentas em áreas como segmenta-
para melhorar e comercializar seus produtos e servi-
ção de clientes, identiicação de mercado e preciica-
ços. A combinação de prioridades objetivas e subjeti-
ção para simpliicar seu processo de vendas. Para atrair
vas e as perspectivas frequentemente conlitantes em
os donos das parceiras, ofereceu deduções de back-end
um único cliente empresarial podem ser difíceis de
que valorizavam o crescimento e a lealdade; para mo-
acomodar. Os elementos de valor permitem que os ges-
tivar os vendedores, simpliicou a estrutura de descon-
tores identiiquem o que mais importa para cada con-
tos e facilitou a venda. Para resolver problemas de in-
junto importante de stakeholders e como a empresa po-
ventário, colocou seus próprios funcionários dentro de
de se destacar da massa de competidores.
parceiros-chave de distribuição para limpar o luxo de
HBR Reprint R1804C–P Para pedidos, página 9
dados e antecipar falta de estoque. Para resolver o pro-
blema do nível de entrada no mercado, acelerou o in-
vestimento em uma família de produtos populares. ERIC ALMQUIST é sócio da área de Estratégia do Consumidor
& Marketing da Bain & Company e chefe global de
Podemos lançar um produto mínimo viável insights do consumidor da Bain. JAMIE CLEGHORN é sócio de
sem quebrar o banco? Fazer todas essas mudanças Estratégia do Consumidor & Marketing e de Tecnologia da Bain.
concomitantemente teria sido extremamente caro, e LORI SHERER é sócio de Analytics Avançada da Bain.

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 55


Metade das empresas foi
vítima de crime ou fraude
nos últimos dois anos
Metade das empresas brasileiras sofreu algum tipo de
crime econômico nos últimos dois anos, percentual
semelhante ao verificado no mundo (49%), segundo a
Global Economic Crime and Fraud Survey da PwC, que
ouviu mais de 7.200 entrevistados em 123 países. De
acordo com a pesquisa, o investimento das organizações
no combate a estes crimes também cresceu: 52% das
empresas no Brasil e 42% no mundo aumentaram seu
comprometimento financeiro para combate a estes
delitos no último biênio. Para os próximos dois anos,
44% (global) dos entrevistados devem ampliar o
combate a crimes econômicos.

O aumento dos investimentos tem uma justificativa:


os crimes econômicos têm um impacto elevado
para as organizações. Dos entrevistados, 16% no
mundo afirmam que as perdas financeiras diretas –
considerando apenas o impacto do crime mais grave
vivenciado – ficaram entre US$ 1 milhão e US$ 50
milhões e 7% dos brasileiros relataram prejuízos acima
de US$ 50 milhões. Já para 66% no Brasil e 64% no
mundo, essas perdas foram de até US$ 1 milhão nos
últimos dois anos. Considerando os custos secundários,
como investigações e intervenções, 31% das empresas
brasileiras e 29% no mundo afirmam ter gasto até duas
vezes mais do que perderam com o crime.

31%
das empresas brasileiras afirmam ter gasto até
duas vezes mais do que perderam com o crime.

O mundo pede novas leituras.


www.pwc.com.br/imperativos-negocios
Empresas chegaram a
registrar perdas acima de
US$ 50 milhões

Conscientização Tipos de crimes


A pesquisa mostra que há uma crescente O roubo de ativos segue na liderança como o
conscientização das empresas sobre os delitos principal crime econômico experimentado pelas
econômicos. Em 2016, apenas 12% das companhias organizações nos últimos dois anos, com 45%
nacionais e 36% no mundo confirmavam ter sido das ocorrências globais e 51% dos registros no
vítimas destes crimes. Brasil. Na comparação com 2016, no entanto,
há uma queda neste tipo de delito, quando 64%
“Não é possível dizer que o maior percentual de crimes (global) e 65% (Brasil) relataram o crime.
relatados esteja diretamente relacionado a um aumento
real do número de delitos cometidos. O que a pesquisa Os principais tipos de crimes sofridos pelas
nos mostra é que há maior compreensão do que é empresas nos últimos 24 meses foram: fraude
o crime econômico e onde está ocorrendo”, explica em compras (34% no Brasil e 22% no mundo),
Leonardo Lopes, sócio da PwC. “Podemos verificar suborno ou corrupção (26% no Brasil e 25%
isso nos crimes cibernéticos, onde há uma consciência no mundo), fraude cometida pelo consumidor
muito maior pelas empresas dos seus impactos e da (24% no Brasil e 29% no mundo), crime
necessidade de investimento em investigações e em cibernético (22% no Brasil e 31% no mundo),
controles preventivos”, acrescenta. fraude contábil (22% no Brasil e 20% no
mundo) e má conduta empresarial (19% no
Os níveis de relatos de criminalidade econômica contra Brasil e 28% no mundo).
as organizações em diferentes regiões do globo também
cresceram nos últimos 24 meses: 53% ante 28% na Apesar de não encabeçar a lista de delitos, o
América Latina; 54% ante 37% na América do Norte; e crime cibernético continua sendo uma grave
62% ante 57% na África. ameaça para as empresas. No Brasil, 14% dos
participantes acreditam que nos próximos dois
Os controles corporativos foram apontados como anos este será o crime de maior impacto para
o principal meio de detecção dos crimes. No Brasil, seus negócios. No mundo, esse percentual sobe
59% dos participantes e 52% no mundo afirmam que para 26%.
os delitos econômicos mais graves foram detectados
desta forma. As delações seguem em alta: 29% no De 2016 para 2018, 22% dos participantes
Brasil e 27% no mundo afirmam que as delações ou brasileiros e 31% dos globais foram afetados por
sistemas formais de denúncia foram a fonte inicial de ataques cibernéticos via malware ou phishing.
constatação dos crimes. O custo dos ataques: 25% no Brasil e 24%
no mundo das empresas sofreram roubo de
ativos e 19% no Brasil e 21% no mundo foram
extorquidas via ramsonware.

Baixe gratuitamente
o aplicativo PwC BR
na Apple Store. PwC Brasil @PwCBrasil @PwCBrasil PwC Brasil PwC Brasil

Neste documento, “PwC” refere-se à PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda., firma membro do network da PricewaterhouseCoopers, ou conforme o contexto sugerir, ao próprio
network. Cada firma membro da rede PwC constitui uma pessoa jurídica separada e independente. Para mais detalhes acerca do network PwC, acesse: www.pwc.com/structure
© 2018 PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda. Todos os direitos reservados
58 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018
A CONTRATAÇÃO
DE UM LÍDER
EMPREENDEDOR
O QUE PROCURAR TIMOTHY BUTLER

O
s empreendedores se torna- científica de separar verdadeiros
ram os novos heróis do mundo empreendedores de outros candida-
dos negócios. Do mesmo modo tos talentosos; em vez disso, recorrem
que Robert McNamara e seus a estereótipos.
parceiros formavam, na Ford, Em minha pesquisa, examinei ma-
o chamado “whiz kids” (jovens prodí- neiras de as empresas lidarem com
gios, em tradução livre), grupo de elite esse problema. Para entender o que
que elevou o patamar dos CEOs gerais, faz de um empreendedor alguém es-
o que lhes conferiu status de estrela, pecial, comparei os resultados de
nomes como Mark Zuckerberg e Steve testes psicológicos feitos com mais
Jobs fizeram dos empreendedores os de quatro mil empreendedores de
mais novos ícones do mundo corpora- sucesso de diferentes países com
tivo. Na Harvard Business School, onde aqueles de cerca de 1.800 líderes
sou orientador do programa de desen- de negócios que não se descrevem
volvimento de carreira, até mesmo os como empreendedores, mas como
alunos que planejam ingressar em em- gestores. Como era de esperar, os
presas blue-chip e não têm nenhuma dois grupos têm muito em comum.
intenção de fundar uma start-up se Em 28 de 41 dimensões de liderança,
sentiriam insultados se alguém lhes não houve praticamente nenhuma
dissesse que não são “empreende- diferença de capacidade entre eles.
dores”. E entendo o motivo: o empre- No entanto, ao observar mais aten-
endedorismo é muito valorizado no tamente as avaliações de capacidade
mercado de trabalho atual. Empresas com dados sobre interesses pesso-
de todos os tamanhos e configurações ais e personalidade desses líderes e
almejam ser reconhecidas como alta- empreendedores, descobri que estes
mente inovadoras, eficientes e ágeis têm três características que os distin-
— qualidades essas atribuídas tradi- guem: capacidade de prosperar em
cionalmente a empreendedores. Ainda momentos de incerteza, desejo in-
assim, quando recrutam candidatos tenso de criar e ter projetos próprios
as empresas não têm uma maneira e uma qualidade ímpar de persuasão.

ILUSTRAÇÃO DE ALEX FINE


ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 59 
A CONTRATAÇÃO DE UM LÍDER EMPREENDEDOR

Descobri ainda que diversas das qualidades muitas ve- que a atingida por líderes não empreendedores. Essa
zes associadas a líderes empreendedores não se aplicam. característica pode ser causa de conlito em situações
Por exemplo, empreendedores nem sempre são em que o compartilhamento de informações e poder é
extraordinariamente criativos. Contudo, são mais vital para o desempenho da empresa. Além disso, não
curiosos e incansáveis. Procuram não correr riscos se adequará bem em organizações de estrutura matri-
— mas acham instigantes as incertezas e novidades. cial, que necessitam de fronteiras porosas entre grupos
Neste artigo, vou tratar de alguns mitos acerca dos de trabalho, ou que requerem muita colaboração.
empreendedores e expor uma realidade mais matiza- Os responsáveis pelas contratações devem levar
da. Darei, ainda, conselhos práticos, baseados em evi- em conta o desaio de liderança especíico para o qual
dências, sobre perguntas a serem feitas em entrevistas estão recrutando. Em se tratando de uma situação
e triagens de currículos que podem ser usadas por re- nova, de uma reviravolta ou qualquer outra circuns-
crutadores para distinguir candidatos empreendedo- tância que exija muita iniciativa em um projeto con-
res de pessoas talentosas e de enorme potencial. tido, um estilo empreendedor provavelmente será
útil. No entanto, se a situação envolver um alto grau
de interdependência da matriz e das unidades, talvez
CONHEÇA SUAS NECESSIDADES você obtenha melhor resultado contratando alguém
Antes de ir atrás de líderes empreendedores, os execu- com um diferente peril de liderança.
tivos devem responder a uma pergunta importante: a Caso você realmente decida que sua empresa pre-
empresa precisa realmente de um? Nem todos os desa- cisa de um líder empreendedor, então é importante
ios organizacionais exigem uma atitude empreende- entender a personalidade empreendedora de forma
IDEIA EM RESUMO dora. Em meu estudo, aqueles que formavam o grupo soisticada e matizada. Vamos analisar agora as per-
de criadores bem-sucedidos atingiram pontuação ex- cepções populares sobre empreendedorismo e ver o
O PROBLEMA tremamente alta em uma escala que media o desejo por que de fato, segundo a pesquisa, motiva as pessoas
Embora os empreendedores poder e controle — pontuação notavelmente maior do que são boas nisso.
sejam os novos heróis
do mundo dos negócios,
muitas empresas não
têm uma forma científica
para contratar gestores
com características
de empreendedor; em
vez disso, recorrem a O ESTEREÓTIPO: Empreendedores são envolve não apenas uma disposição para seguir em
frente em ambientes imprevisíveis, mas um alto es-
estereótipos. excepcionalmente criativos. tado de motivação que se manifesta ao se aproximar
A SOLUÇÃO A VERDADE POR TRÁS DO ESTEREÓTIPO: do desconhecido e do que ainda não foi testado. Para
as pessoas que conseguem notas altas nesse quesito,
Uma análise de resultados
de testes psicológicos Empreendedores são curiosos em busca de o incerto é uma fonte de estímulo e não de ansiedade.
com mais de quatro mil
empreendedores e 1.800
aventura, aprendizado e oportunidade. Vamos examinar o caso de Charlotte Yates, que le-
vou sua liderança empreendedora para a Sprint e a
gestores demonstrou Uma ideia comum é que empreendedores e pessoas IBM antes de finalmente ajudar a fundar a Telwares,
três características
que gostam de ambientes inovadores e em constante empresa de telecomunicações. Quando estava em um
que diferenciam os
empreendedores: mudança são mais criativos. Mas existem várias formas ambiente corporativo maior, ela se valia de uma abor-
capacidade de prosperar de criatividade no mundo dos negócios. Alguns execu- dagem que a diferenciava da maioria de seus colegas
em momentos de incerteza, tivos são extremamente criativos para consertar o que em posição de liderança. “Não segui o processo elabo-
desejo intenso de ter não está funcionando e gostam do desaio de reverter rado pela IBM nem a cadeia de comando normal por-
projetos próprios e poder
um sistema para um estado prévio de funcionamento que era a única maneira de conseguir realizar meu tra-
de persuasão.
ideal. Embora seja verdade que empreendedores se balho”, airma ela. “Não me via em uma caixa fechada
CONCLUSÃO destacam pela originalidade de suas ideias, isso se e predeterminada; não via limites. Olhava para uma
Empreendedores não são aplica também a muitos que não são empreendedores. folha em branco e perguntava para mim mesma o que
sempre mais criativos do Na verdade, o que distingue os empreendedores dos eu queria criar ali.”
que gestores em geral, demais é algo um pouco diferente — ao mesmo tempo Empreendedores apreciam o processo de “inven-
mas se sentem bem
mais amplo e profundo do que aquilo que é abarcado ção”. Assim como Yates, eles são menos propensos às
ampliando os limites. Não
gostam de correr riscos, pela palavra “criatividade”: a capacidade de prosperar convenções do que seus colegas e estão mais dispostos
mas acham instigantes as em momentos de incerteza. a acreditar que as coisas podem ser melhoradas. Por
novidades. Tal qual artistas, Um ponto importante para essa dimensão é estar isso, prosperam em ambientes onde existe uma oportu-
querem criar e ter projetos aberto a novas experiências. Em minha pesquisa, desco- nidade de mercado mas não um produto ou serviço, ou
próprios e são vendedores
bri que essa é a única característica que mais diferencia onde há um produto, mas a estratégia go-to-market não
natos. Os responsáveis
por contratações devem líderes empreendedores de seus colegas convencionais. está clara. Saboreiam os estágios iniciais dos projetos e
procurar sempre essas Estar aberto a novas experiências signiica ter uma tendem a icar menos envolvidos conforme os projetos
qualidades. incansável necessidade de explorar e aprender. Isso vão se tornando mais rotineiros e estáveis.

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A CONTRATAÇÃO DE UM LÍDER EMPREENDEDOR

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O ESTEREÓTIPO: Empreendedores gostam e mais procuradas; ter corrido riscos reais nas empresas

vão em busca de situações de risco. por onde passou; e comandar projetos para os quais os
recursos eram poucos e os resultados incertos.
A VERDADE POR TRÁS DO ESTEREÓTIPO: Ao serem entrevistados, os empreendedores vão
fazer perguntas audaciosas, tomar a iniciativa durante
Empreendedores sentem-se mais a conversa, demonstrar pouca preocupação sobre sua
confortáveis em situações de risco. adaptação ou se estão dando as respostas desejadas e
transparecer um entusiasmo puro, quase impaciente.
Outra visão corrente é que empreendedores adoram
As respostas dos candidatos parecem seguras ou “pro-
situações de risco — ou da emoção de correr riscos. Isso
tocolares”? Não deixe passar nenhuma oportunidade
não é verdade; empreendedores não são paraquedistas
que permita aos candidatos demonstrar disposição e
do mundo dos negócios. Assim como todos no mundo
capacidade de explorar o desconhecido.
corporativo, eles procuram minimizar os riscos em to-
As perguntas a seguir vão ajudar a identiicar can-
das as situações. Contudo, muitos estudos mostram
didatos aptos a prosperar em momentos de incerteza.
que empreendedores sentem-se mais confortáveis em
Contudo, não procure a melhor resposta; veja até que
situações de risco do que executivos convencionais.
ponto o candidato defende o valor da investigação, do
Em outras palavras: ao aceitar que correr risco é neces-
aprendizado, das novas técnicas e da propensão para
sário para conseguir um objetivo desejado, os empreen-
correr risco em busca de um resultado importante.
dedores convivem e lidam melhor com essa ansiedade
o O que você mais teme: ansiedade ou frustração?
que, para outros, é inibidora. Minha pesquisa mostrou
também que, em relação ao conforto em situações de o Você está disposto a se envolver em problemas para
risco, os colegas dos líderes empreendedores os colo- conseguir que algo importante aconteça?
cam em uma posição signiicativamente mais alta do o O que você mais valoriza: instinto ou conheci-
que executivos mais tradicionais. mento? Por quê?
Líderes empreendedores não são necessariamente o O que você mais valoriza: imaginação ou análise?
mais irmes e mais resistentes ao estresse do que seus Por quê?
colegas — ao analisar a capacidade de resiliência, em o Um explorador espacial está procurando pessoas
mais de 360 avaliações não encontrei nenhuma dife- para colonizar Marte. Converse com a parte de você
rença signiicativa entre os dois grupos. Em vez disso, que diria sim para tal missão e com a que diria não.
percebi que ambientes imprevisíveis e ambíguos são,
o Nós (ou um concorrente) decidimos lançar este pro-
para líderes empreendedores, uma fonte de motivação.
duto desta forma. Como isso poderia ter sido feito
Essa é a segunda razão que mostra que eles prosperam
de outra maneira?
em momentos de incerteza.
o Rapidamente, escolha uma das opções de cada uma
dos pares a seguir. (Não tente acertar a resposta,
AVALIE A CAPACIDADE DE PROSPERAR mas procure um padrão.)
EM MOMENTOS DE INCERTEZA CONSISTÊNCIA ou FLEXIBILIDADE
Estar aberto a novas experiências e sentir-se confor- COMPROVADO ou POTENCIAL
tável em situações de risco constitui o principal com- CUIDADOSO ou ARROJADO
ponente da capacidade de se sair bem em ambientes
EXPLORAR ou ACOMODAR
imprevisíveis, embora muitas pessoas tenham um
entendimento equivocado do que é essencial para ser PREVISÍVEL ou POSSÍVEL
determinado, forte ou resiliente. Essas qualidades são BÔNUS ou SALÁRIO
bastante desejáveis em um líder (e a situação da sua SEGURANÇA ou OPORTUNIDADE
empresa talvez exija isso), mas são irrelevantes se o que
você procura é um líder empreendedor. PRÊMIO ou SATISFAÇÃO
Aqui está, na verdade, o que você deve avaliar: o can- QUEBRA-CABEÇA ou FOLHA EM BRANCO
didato fez escolhas que favorecem claramente a aven- ÁGIL ou ESTÁVEL
tura e o processo de aprendizagem em vez da convenção
MUDANÇA ou CONTINUIDADE
e da minimização dos riscos? Exemplos podem incluir a
escolha de uma faculdade menos renomada para perse- CONHECIDO ou DESCONHECIDO
guir uma paixão especíica; passar um ano no exterior PACIÊNCIA ou ENTUSIASMO
em local remoto como uma maneira de amadurecer; es- FRONTEIRA ou DOMÉSTICO
colher trabalhar para uma empresa pequena e altamente
PREDETERMINADO ou ABERTO
inovadora em vez de uma empresa grande e prestigiada;
destinos de férias que incluam privações, mas sejam ex- SELVAGEM ou DOMESTICADO
periências únicas; morar em uma parte interessante e VARIEDADE ou CERTEZA
diversiicada da cidade em vez de em áreas residenciais HERDAR ou CRIAR

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A CONTRATAÇÃO DE UM LÍDER EMPREENDEDOR

O ESTEREÓTIPO: Empreendedores são AVALIE A PAIXÃO POR PROJETOS PRÓPRIOS


mais ambiciosos do que outros líderes. Se você quer descobrir quem é ávido por delegar tare-
fas em projetos, do início ao im, procure destrinchar
A VERDADE POR TRÁS DO ESTEREÓTIPO: as seguintes opções: O candidato tem sido um criador
em vez de um participante? Em vez de concorrer à
Empreendedores são movidos pela presidência da classe, por exemplo, fundou um clube
necessidade de ter os próprios produtos, novo, uma atividade nova no campus ou um negó-

projetos e iniciativas. cio? (Pontos devem ser dados para um padrão que
demonstre a busca por qualquer tipo de liderança.)
Tomou decisões em sua carreira que lhe proporciona-
Como dito anteriormente, líderes empreendedores,
riam obter controle criativo? Seu caminho proissional
como um grupo, atingem pontuação notavelmente alta
tem sido atípico ou de quem aproveita uma oportu-
no que diz respeito à necessidade de poder e controle
nidade em vez de promoções em sequência? Tem
— e consideravelmente mais alta do que líderes con-
sido o “responsável pela própria vida” desde muito
vencionais (embora este último grupo consiga também
cedo? Foi um empreendedor, de sucesso ou não, em
níveis altos). Intrigado com isso, entrevistei alguns em-
algum momento?
preendedores. Notei uma variação interessante, muitas
Depois, observe estes sinais: o candidato “domina”
vezes associada a líderes empreendedores, a respeito
a entrevista começando a elaborar uma ideia de como
da necessidade de poder: para eles, é mais importante a
as exigências do cargo podem ser alcançadas? Participa
propriedade que o domínio. Não se trata de supremacia
quase que de imediato de qualquer problema apresen-
sobre os subordinados, ou de exigir respeito e autori-
tado como se aquilo lhe “pertencesse” (preferencial-
dade; trata-se de controle sobre o produto inal. Dessa
mente de maneira não arrogante)? Procura por garan-
forma, os empreendedores têm mais em comum com
tias de que terá a autonomia necessária para liderar o
escritores e artistas do que com ditadores.
novo projeto?
Empreendedores delegam tarefas. Eles querem
Algumas perguntas para considerar durante a
estar no meio do barulho e da confusão enquanto um
entrevista:
novo projeto, dia a dia, ganha vida e começa a andar,
o Quais líderes você admira? Por quê?
e então deslancha. Eles não icam sentados num escri-
tório confortável e bem decorado mexendo peças de o Do que você se orgulha?
xadrez para um jogo em progresso no andar de baixo. o O que conduz, na maior parte dos casos, um
Querem ser artesãos com as mãos na argila molhada. novo projeto ao fracasso: falta de liderança ou de
Desejam tirar um produto do forno e dizer “isto é meu” colaboração?
— não de maneira egoísta ou gananciosa, mas que signi- o Qual a melhor atitude para um empresário: paixão
ique “eu moldo materiais que se transformam em coi- ou proissionalismo?
sas úteis e de valor”. Muito depois de a Apple se tornar o Psicologicamente, você leva trabalho para casa?
uma das maiores empresas de todos os tempos, Steve
o O que você faz no trabalho representa quanto do
Jobs continuava a participar de toda discussão impor-
que você é?
tante sobre o design dos produtos, a segurar nas mãos
os protótipos e a avaliar cada detalhe, do brilho ao peso. o Rapidamente, escolha uma das opções de cada
Para um espírito empreendedor, ter poder signiica ser o uma dos pares a seguir. (Mais uma vez, não tente
proprietário e a força motora por trás de toda iniciativa. acertar a resposta; procure um padrão.)
Essa forma de expressar poder é diferente do poder POSSUIR ou ADMINISTRAR
do chefe (baseado na sua posição), do poder por carisma SUGERIR ou CONDUZIR
(em que a capacidade de inluenciar pessoas decorre de LIDERAR ou PARTICIPAR
sua personalidade), ou do poder do especialista (quando
FORMA ou CONTROLE
o conhecimento faz com que as pessoas se submetam a
você). O verdadeiro empreendedor não se vê exercendo CAPITÃO ou NAVEGADOR
poder de cima para baixo; enxerga-se no meio de um cír- POSSE ou TÍTULO
culo em vez de no topo de uma pirâmide. Pode ou não GRAÇA ou PODER
ser carismático, mas seus métodos não servem para ins-
pirar as massas na convenção anual para que então possa CONCLUIR ou CONTEMPLAR
retornar à sua sala confortável de cheia. Ele quer estar ALMEJAR ou CONSEGUIR
envolvido nas atividades urgentes. SOCIEDADE ou DOMÍNIO
Isso não quer dizer que os empreendedores não de-
CONHECIMENTO ou PODER
monstram sinais de autoridade, perícia ou carisma —
há muitos que fazem isso —, mas o que os une não é a PRESIDENTE ou MINISTRO
vontade de tomar decisões. Para eles, um projeto novo LUCRO ou EQUIDADE
é uma forma de mostrar ao mundo quem eles são.

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A CONTRATAÇÃO DE UM LÍDER EMPREENDEDOR

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O ESTEREÓTIPO: Empreendedores Você deve, essencialmente, avaliar essa dimensão em-

são vendedores natos. preendedora como se estivesse fazendo a entrevista


para um cargo de executivo de vendas.
A VERDADE: Esta afirmação é correta. o Qual é a sua experiência com vendas?
Minha pesquisa corroborou muitos outros estudos o Poderia contar um desaio em particular que você
que destacam a relevância da coniança e da persua- enfrentou trabalhando com vendas?
são entre líderes empreendedores. Quando chegar a o Descreva uma situação real em que foi extrema-
algum lugar ou conseguir que algo seja feito se torna mente importante mudar a opinião dos outros.
fundamental, mas não está claro como fazer com que o Qual é a diferença entre convencer um grupo
isso aconteça, você deve, primeiro, acreditar que é ca- de colegas executivos e efetuar uma venda para
paz de atingir seu objetivo e, depois, convencer todas um cliente?
as pessoas que podem ajudá-lo de que você também
consegue — e, muitas vezes, com pouca ou nenhuma
evidência para auxiliá-lo. LÍDERES EXCEPCIONAIS têm muito em comum, e a maior
Empreendedores devem ser capazes de vender sua parte deles pode se adaptar às exigências de quaisquer
ideia para futuros colegas de equipe antes de ter qual- desaios organizacionais que lhe forem coniados. No
quer outra coisa para oferecer. Muitos têm de vender entanto, líderes que são verdadeiramente empreen-
suas ideias para investidores iniciais e, depois, investi- dedores sobressaem quando uma situação exige total
dores de risco e aos que querem irmar parcerias. E to- domínio de um projeto ou problema, icam mais mo-
dos os empreendedores devem ser capazes de vender tivados conforme a incerteza aumenta e tem a incrível
para o consumidor. capacidade de convencer os outros a seguir sua linha
O mesmo se aplica às pessoas que lideram novos de conduta. Esse perfil pode ser problemático em
projetos dentro de grandes corporações. Lee Iacocca, empresas complexas, nas quais unidades de trabalho
renomado executivo do ramo automobilístico nos estabelecidas precisam atuar intensamente em con-
Estados Unidos, foi um empreendedor que passou junto, atravessando fronteiras, e os chefes precisam
toda sua carreira em grandes empresas. Embora tenha compartilhar informação e poder diariamente. Mas se
se preparado para ser engenheiro, ele mudou de ramo sua empresa precisa de alguém que transforme ideias
e passou para vendas ainda no início da carreira, e foi inovadoras em empreendimentos desenvolvidos e
graças à sua incrível capacidade de vender que ele se autônomos — ou que seja capaz de criar e dar vida
tornou excepcional. Sua capacidade de persuasão o a modelos completamente novos —, talvez esteja
ajudou em todos os momentos. Duas de suas proezas na hora de contratar um líder empreendedor. E,
no ramo das vendas se tornaram lendárias: convencer seguindo os conselhos dados neste artigo, você pode
os executivos da Ford a investir pesado no desenvolvi- ter certeza de que está contratando exatamente aquilo
mento de carros esporte mais baratos (o que levou à in- que você procura.
crível história de sucesso do Mustang) e conseguir que HBR Reprint R1804D–P Para pedidos, página 9
o Congresso aprovasse uma lei sem precedentes que
evitou a falência da Chrysler. TIMOTHY BUTLER é professor e orientador do programa de
desenvolvimento profissional e de carreira da Harvard
Business School. É autor do livro Getting unstuck: a guide to
discovering your next career path (Harvard Business School
AVALIE A CAPACIDADE DE PERSUASÃO Press, 2010).
Avaliar a capacidade de persuasão é diferente de esti-
mar a capacidade de prosperar na incerteza e a paixão
por projetos próprios. A maioria das evidências virá
diretamente da interação com os candidatos. Líderes
que atingem pontuação elevada nesse quesito vão exa-
lar confiança e convencer de verdade de que podem
realizar o trabalho. A coniança deles não vai parecer
bravata ou engodo, mas se mostrará bem fundamen-
tada. De modo seguro e inteligente vão especular os
fatos relevantes e as prováveis atitudes a ser tomadas.
Serão honestos em relação aos imprevistos, mas, ao
mesmo tempo, não vacilarão sobre sua capacidade de
superar incertezas.
A seguir algumas perguntas que podem ser úteis
sobre o comportamento anterior dos candidatos; con-
tudo, elas devem ter peso menor do que o comporta-
mento e as atitudes deles durante o processo de seleção.

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TECNOLOGIA E como a tecnologia pode, se não impedir,
pelo menos estancar os processos de
protecionismo de comércio internacional?
DESENVOLVIMENTO Devemos encontrar maneiras de lidar com elas [tecno-
logias], pois elas podem ajudar muito no processo de de-
ECONÔMICO senvolvimento econômico. Nós estamos, na Organização
Mundial do Comércio, começando a implantar o Acordo de
Facilitação de Comércio, que pode reduzir os custos comer-
Em seu segundo mandato como ciais mundo afora em uma média de 14%. Boa parte do pro-
diretor-geral da Organização Mundial cesso de aceleração de procedimentos alfandegários tem
a ver com novas tecnologias, informação, transparência,
do Comércio (OMC), o embaixador
digitalização e pagamentos eletrônicos.
Roberto Azevêdo fala sobre os benefícios do
Acordo de Facilitação do Comércio. as ferramentas tecnológicas, como a
inteligência artificial, podem limitar a ingerência
Ele analisa o impacto das novas tecnologias política no comércio internacional?
e da inteligência artificial para que pequenas e Uma possibilidade seria a inteligência artificial na análise
médias empresas vençam entraves burocráticos de risco das pequenas e médias que estão transacionando
com bancos mundo afora há vários anos. Se você tivesse
que ainda dificultam o acesso a mercados
um banco centralizado que já tivesse o histórico das tran-
externos. A entrevista foi realizada em parceria sações, diminuiria muitíssimo o tempo de avaliação. Feita
com o Intelligent Tech & Trade Initiative (ITTI). de maneira mais segura e com tecnologias de rastreio de
blockchain, você pode rastrear as operações, diminuindo o
Entrevista Thais Herédia risco de lavagem de dinheiro e outras fraudes.
EU NÃO VEJO NO MUNDO MODERNO
A POSSIBILIDADE DE UM MODELO
SUSTENTÁVEL DE DESENVOLVIMENTO
COMERCIAL SEM UM FORTE
COMPONENTE DE TECNOLOGIA.

o que a omc pode fazer para ajudar como você vê o avanço da inteligência artificial
as pequenas e médias empresas? em paralelo ao investimento em educação e
Para uma grande empresa, um custo operacional é uma desenvolvimento da competitividade?
linha na planilha do cálculo de custos; para uma peque- Ela ajuda muito, neste momento, como um contrapeso. Na
na, significa não fazer o negócio. Como se facilita o acesso adoção de uma política pública de larga escala com visão es-
à informação às pequenas e médias empresas? A primei- tratégica, muitas vezes a quantidade de fatores envolvidos
ra e óbvia constatação é usar tecnologias de transparên- nessa avaliação é gigantesca. Há esses modelos economé-
cia online. Estamos criando um projeto com o Centro In- tricos de equilíbrio parcial, geral, coisas complicadíssimas.
ternacional de Comércio, que é lastreado pela OMC, para A inteligência artificial pode resolver essas coisas de uma
consolidar informações de como exportar para determi- maneira mais eficaz para o processo decisório. Mas é uma
nados mercados via web. O pequeno produtor quer ex- realidade ainda não muito presente na cabeça das pessoas.
portar, por exemplo, daqui para o Quênia: o que precisa? Nos governos, ainda se pensa de uma maneira século 20.
Quais são os documentos? Os requisitos alfandegários?
Estamos com uma agenda de inclusão que abrange como
fazer com que o comércio internacional não seja uma ex-
clusividade das grandes empresas, mas que atinja as pe-
quenas, o cidadão comum.

no seu entender, quanto a tecnologia


afeta a competitividade? SOBRE UM BRASIL
Eu não vejo no mundo moderno a possibilidade de um mo- UM BRASIL é uma plataforma multimídia composta por
delo sustentável de desenvolvimento comercial sem um entrevistas, debates, documentários e publicações que
forte componente de tecnologia. Isso vale nas esferas es- abordam soluções para os problemas do País em seus mais
tatal e privada. Tem um desafio enorme que é o humano. diferentes aspectos, de forma plural e apartidária. Um ambiente
Não é possível falar de desenvolvimento tecnológico sem de ideias feito por gente do mundo todo que pensa no Brasil.
ter recursos humanos capazes de lidar com os recursos tec-
nológicos. Não se trata só de gerenciar e criar inovações,
mas de lidar com essas informações. O processo de educa- Acesse o aplicativo
de QR Code pelo
WWW.UMBRASIL.COM
ção tem que mudar. Temos que preparar os nossos jovens celular e assista
para o mercado de trabalho do século 21. às entrevistas @CanalUMBRASIL
QUAL
O
VALOR
DE UM
Muitas empresas gastam bilhões
de dólares por ano em elaboradas
LESLIE K. JOHN,
DANIEL MOCHON,
OLIVER EMRICH
E JANET SCHWARTZ LIKE?
ACEITAÇÕES NAS
campanhas para marcar e consolidar
presença nas redes sociais. Pense na
transmissão ao vivo de um salto de REDES SOCIAIS
40 mil metros de altura cujo atleta
estabelece assim um novo recorde NÃO FUNCIONAM
mundial (Red Bull) e nos estranhos
tweets enviados supostamente por
uma conta invadida por um hacker COMO VOCÊ
que tiveram origem, de fato, na
própria empresa (Chipotle). IMAGINA.
70 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018
HOLLOWAY/GETTY IMAGES

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 71 


QUAL O VALOR DE UM LIKE?

O Facebook é a plataforma mais popular: 80% das propensas a consumir seus produtos. Depois, exami-
empresas listadas pela Fortune 500 têm páginas ativas namos se os likes afetam as compras de seus amigos.
no Facebook. Diariamente, uma quantidade enorme Em seguida, avaliamos se os likes inluenciam outras
de conteúdos associados às marcas (branded content) coisas que não o consumo — se podem, por exemplo,
— artigos, fotos, vídeo e outros — aparece nessas e em convencer as pessoas a se tornar mais saudáveis. Por
outras redes sociais com o objetivo de atrair seguidores, im, investigamos se pagar ao Facebook para impul-
relacionar-se com eles e fazer com que consumam nu- sionar likes, mostrando conteúdos associados às mar-
merosos produtos. Até o Departamento de Estado dos cas nas páginas dos seguidores, aumenta as chances
Estados Unidos parece estar fascinado pela busca de de mudanças signiicativas de comportamento. Opta-
seguidores, haja vista os US$ 630 mil gastos entre 2011 mos por usar o Facebook porque é a rede social domi-
e 2013 para angariar likes em sua página no Facebook. nante, mas acreditamos que as descobertas podem ser
Os publicitários justificam esses investimentos estendidas a outras plataformas.
argumentando que atrair seguidores nas redes so- Os resultados foram claros: as redes sociais não
ciais e expô-los às marcas aumentam as vendas. De funcionam da maneira como pensam muitos publici-
acordo com essa lógica, internautas que endossam tários. O simples ato de curtir uma empresa não inlui
socialmente uma marca dando um like na página da no comportamento de um cliente nem leva ao aumen-
empresa no Facebook gastarão mais do que fariam to das compras, e tampouco estimula o consumo dos
habitualmente; por sua vez, esses apoios levarão seus amigos. No entanto, impulsionar likes com conteúdo
amigos (e amigos de seus amigos) a consumir mais — associados à marca pode apresentar resultados ex-
provocando uma reação em cadeia de novos negócios. pressivos; e, uma vez que essas páginas são pontos de
Os indícios parecem conirmar essa lógica: muitas em- encontro de consumidores iéis, podem ser usadas pe-
presas descobriram que clientes que interagem com as las empresas como fonte de feedback e de informações
empresas por meio de redes sociais gastam, de fato, sobre os clientes. Valendo-se desse conhecimento, os
mais dinheiro do que outros consumidores. Um estu- publicitários podem construir novas e mais eicientes
do feito há pouco pela comScore e pela Facebook mos- estratégias para as redes sociais.
EM RESUMO tra que, em comparação com o restante da população,
as pessoas que deram um like na página da Starbucks
A QUESTÃO no Facebook ou que têm um amigo que curtiu a página VERIFICANDO OS EFEITOS DOS LIKES
Muitas empresas gastam na rede social gastaram 8% mais e efetuaram 11% mais Princípios básicos de psicologia dão margem à sus-
bilhões de dólares todo transações no período de um mês. peita de que curtir uma página no Facebook poderia
ano em extravagantes
campanhas nas redes Porém, esse estudo, assim como outros similares, mesmo mudar um comportamento e aumentar as
sociais. Mas essas tem um erro de lógica fatal: confunde causa e efeito. vendas. Pesquisas mostram que as pessoas demons-
campanhas aumentam É possível que conseguir seguidores nas redes sociais tram “dissonância cognitiva” quando suas atitudes
o lucro? aumente o consumo de um produto — mas é possível não condizem com seus ideais, o que torna plausível
também que as pessoas que já têm uma opinião posi- que um usuário de rede social que aprove uma mar-
O PROBLEMA tiva em relação à empresa estejam mais propensas a ca no Facebook esteja propenso a consumi-la. Porém,
Publicitários muitas vezes
confundem causa e efeito. segui-la, e é por isso que compram mais do que as que não foi o que descobrimos.
É possível que conseguir não seguem a marca. Em 23 experimentos realizados Em um de nossos primeiros estudos, conduzi-
que as pessoas sigam uma nos últimos quatro anos envolvendo mais de 18 mil do por Leslie John, Oliver Emrich e nossos colegas
empresa nas redes sociais pessoas, usamos um método de teste com duas va- Michael Norton e Sunil Gupta, da Harvard Business
aumente o consumo de um riáveis, A/B, para examinar um ponto contrastante cru- School, metade dos participantes foi convidada a cur-
produto — mas é possível
também que as que já cial: o que teriam feito os consumidores se não tives- tir uma nova marca de cosméticos no Facebook. Me-
têm uma opinião positiva sem seguido a página da empresa? Levando em conta tade não recebeu o convite. Todos os participantes,
da empresa estejam mais os milhões de dólares em orçamento do departamento então, receberam cupons para uma amostra grátis —
propensas a segui-la, e de marketing que são destinados por muitas empresas resgatá-los equivaleria a comprá-los. Membros de am-
é por isso que compram às redes sociais, a distinção não é insigniicante; e tem bos os grupos estavam igualmente inclinados a usar
mais.
uma grande implicação na distribuição dos recursos os cupons, independentemente de terem sido convi-
A OPORTUNIDADE dos publicitários e em como eles administram a pre- dados a curtir a página. Essa descoberta se repetiu em
Para extraírem o máximo sença de suas marcas nas redes sociais. pesquisas subsequentes, na quais aumentamos o tem-
de uma campanha nas Em nossos experimentos aumentamos, gradual- po entre o convite para curtir a página e a extensão da
redes sociais, as empresas mente, o nível de complexidade para testar quatro validade do cupom; o mesmo aconteceu quando utili-
devem combinar estratégias maneiras cada vez mais interativas pelas quais o Fa- zamos uma variedade de marcas novas e já existentes.
de marketing push e pull,
impulsionando os likes cebook pode afetar o comportamento dos clientes. Em 16 estudos, não encontramos nenhuma evidência
com conteúdo associado Primeiro, vimos se o fato de curtir uma empresa, isto de que seguir uma empresa nas redes sociais muda o
à marca. é, segui-la de maneira passiva, deixa as pessoas mais hábito de consumo das pessoas.

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QUAL O VALOR DE UM LIKE?

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Na segunda leva de pesquisas, procuramos anali-
sar se curtir uma página inluencia o comportamento
dos amigos virtuais. Quando alguém curte uma marca
no Facebook, seu like é mostrado para uma parcela de MEÇA O RETORNO DE LIKES NO FACEBOOK
seus contatos. Qualquer nova interação com a empre-
sa — likes, postagens, comentários e compartilhamen- Os publicitários em geral têm dificuldade de comprovar o retorno
tos — aparece também no feed de notícias de alguns sobre investimentos para ações feitas em redes sociais.
amigos. No marketing tradicional, a divulgação boca a Veja abaixo uma maneira fácil de quantificar o valor dos likes
boca já mostrou que pode aumentar as vendas, mas o na sua página do Facebook.
valor de uma validação, por algumas razões, pode ser
menor nas redes sociais. Primeiramente, em muitas VOCÊ VAI PRECISAR DE:
plataformas, como Facebook, Twitter e Instagram, ter UM PARÂMETRO. Para que você quer conseguir likes? Para aumentar as vendas,
seguidores não signiica exposição da marca nem para mudar o comportamento offline dos usuários, ou algum outro motivo? Seus
quem curte nem para seus amigos. Algoritmos do pró- parâmetros devem promover ações que possam ser medidas; para as vendas,
prio Facebook determinam o que será exposto no feed por exemplo, a medição é simples; para outros parâmetros, como a atitude do
de notícias de um usuário, e um like de determinado consumidor em relação à marca, talvez você precise de mais dados, por meio
internauta será divulgado para apenas alguns amigos de uma pesquisa de opinião, digamos.
(sem essa ferramenta, as pessoas seriam expostas a O CAMINHO PARA CONVIDAR. Você precisa convidar as pessoas a curtir sua página.
uma média diária de 1.500 postagens). Em segundo Uma maneira simples de fazer isso é obter o e-mail daquelas que fazem parte do
lugar, alguns usuários aparentemente curtem marcas seu público-alvo.
de maneira indiscriminada ou por algum motivo par-
ticular — para conseguir um desconto, por exemplo. DEPOIS, SIGA ESTES PASSOS:
Para testarmos os efeitos de uma aceitação nas re- CONSIGA LIKES. Convide metade do seu público a curtir sua página — este é seu
des sociais, pedimos a 728 pessoas que recentemente “grupo experimental”. Os demais clientes formam seu “grupo de controle”.
haviam curtido a página de uma empresa no Facebook Anote o grupo designado para cada cliente.
que nos passassem o e-mail de três amigos. Para cada CONFIRME SUAS HIPÓTESES. Veja se o incentivo em busca de likes deu resultado —
um enviamos um cupom relativo a algum produto de antes verifique se um grande número de pessoas aceitou seu convite. Olhar o
uma das empresas, mudando a informação a respei- aumento de seguidores em sua página no Facebook na época em que você enviou
to de quem havia feito a indicação. Em cada grupo, o convite lhe dará um número aproximado.
dissemos a uma das pessoas que seu amigo aprovou
a empresa de maneira convencional, isto é, não virtu-
ANUNCIE. Coloque alguns anúncios no Facebook para mostrar os novos seguidores
conseguidos graças às suas mensagens de marketing. Você pode fazer isso
al, e lhe enviou o cupom; a outra, que seu conhecido
pagando ao Facebook para impulsionar suas postagens.
curtiu a marca no Facebook e lhe mandou o vale; já
ao terceiro, informamos apenas que o amigo lhe en- CONFIRA O RESULTADO. Verifique os parâmetros estabelecidos. Digamos que foram
caminhou o cupom — as pessoas deste último grupo as vendas: se a média gasta por aqueles que estão no grupo experimental é maior
constituíam o grupo de controle. do que a dos que estão no grupo de controle, a diferença mostra o valor de um
Comparamos, então, a porcentagem de resgate like. Claro que haverá imprecisão nos resultados. Talvez você perca as compras
dos cupons nos três grupos: 6% dos que souberam da feitas pelas pessoas que utilizaram um e-mail diferente do que você tinha em seu
aprovação tradicional utilizaram o cupom, contra ape- cadastro. Para aumentar a precisão, busque um público grande e certifique-se
nas 4% dos que souberam que o amigo dera um like de que sua lista de e-mails é a mais atualizada possível.
na página do Facebook. Já entre os membros do gru-
po de controle, a taxa de resgate do cupom foi de 5%.
Ou seja, curtir a marca na rede social não aumentou o
consumo dos amigos. por práticas saudáveis: exercitar-se, comprar alimen-
tos nutritivos, fazer exames médicos periodicamente
e tomar vacinas — os pontos podem ser trocados por
A DIFERENÇA DE COMPORTAMENTO NO prêmios. A empresa queria saber se conseguir likes em
MUNDO REAL E NO MUNDO DIGITAL sua página do Facebook afetaria esses comportamen-
Em nosso último bloco de experimentos, Daniel Mo- tos. Chamamos todos os novos clientes da Vitality pa-
chon e Janet Schwartz, acompanhados de Dan Ariely, ra participar de uma pesquisa online sobre a empresa
da Duke University, trabalharam juntamente com Ka- e o Facebook; durante a entrevista, um grupo selecio-
ren Johnson, executiva da Discovery Vitality. Situada nado aleatoriamente foi convidado a curtir a página da
na África do Sul, essa empresa de seguros oferece um empresa na rede social; o restante formou o grupo de
amplo programa voltado para o bem-estar e qualidade controle. Nos quatro meses subsequentes, monitora-
de vida de seus clientes. As pessoas ganham pontos mos os pontos acumulados pelos dois grupos.

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QUAL O VALOR DE UM LIKE?

Por terem curtido a página da Vitality, os clientes e do aumento do pull (esforços para atrair os clientes
do primeiro grupo podiam interagir com a empresa no para as redes sociais e outros canais de comunicação).
Facebook, plataforma constantemente atualizada pela “Mais judô, menos caratê” passou a ser uma máxi-
empresa. Com conteúdo bastante inovador, a página ma popular. No entanto, nossa pesquisa sugere que
tem um aplicativo que dá às pessoas a oportunidade o marketing em redes sociais será ineicaz se utilizar
de compartilhar suas histórias bem-sucedidas de saú- somente a estratégia pull. O manual moderno de ma-
de e bem-estar, fazer perguntas para especialistas e rketing para redes sociais deve combinar abordagens
participar de votações sobre futuras atividades físicas. novas e tradicionais.
Contudo, a não ser que os clientes visitem a página, é Use likes a seu favor. Atualmente a Facebook não
pouco provável que o conteúdo apareça em seu feed oferece às empresas a opção de pagar para dar des-
de notícias, ainda que eles a tenham curtido; os algo- taque às postagens de seus clientes mais ativos — de
ritmos do Facebook provavelmente iltrarão
essas informações. Assim, desconiamos que
o investimento feito pela Vitality em conte-
údo ligado à sua marca na rede social tenha
sido em vão. Ao comparamos o comporta-
A BOA NOTÍCIA É QUE
mento dos dois grupos, não vimos nenhuma
diferença — os convidados a curtir a página EXISTE UMA MANEIRA
DE CONVERTER LIKES
da empresa não acumularam mais pontos
que os demais. Novamente constatamos que
um simples like não muda comportamentos.
Dito de outra forma: curtir a página de uma
empresa que oferece vacinas para gripe não EM COMPORTAMENTO
SIGNIFICATIVO, E É
signiica que a pessoa vai tomar a vacina.

LIBERE O PODER DOS LIKES


A boa notícia é que existe uma maneira de
converter likes em comportamento signii-
POSSÍVEL ENCONTRÁ-LA
cativo, e é possível encontrá-la em qualquer
manual de marketing do século 20: publici- EM QUALQUER MANUAL
dade. Todo ano a Facebook arrecada mais
de US$ 22 bilhões com propaganda. A maior
parte dessa receita vem de empresas que
DE MARKETING DO
procuram driblar os algoritmos da rede social
pagando para ter certeza de que seu conteú-
do vai aparecer em destaque para um grande
SÉCULO 20: PUBLICIDADE.
número de usuários.
Um experimento subsequente feito com a Vitality, acordo com nosso estudo, isso exerceria enorme inlu-
usando os dois grupos do primeiro estudo, provou que ência no comportamento dos usuários. As empresas
essa iniciativa pode ser eicaz. Por um período de dois mais astutas podem transpor esse obstáculo buscando
meses, a Vitality pagou à Facebook a exibição de duas comentários eloquentes em suas redes sociais e inte-
postagens semanais aos membros do grupo convida- grando-os às suas mensagens de marketing. A empre-
do a curtir a página. Isso fez diferença: dessa vez esses sa de roupas esportivas Lululemon reúne conteúdos
participantes conseguiram, em média, 8% mais pontos produzidos por seus seguidores rastreando hashtags
que os do grupo de controle. Levando em conta como é (como #thesweatlife, #vidasuada) e os retuíta. Já a va-
difícil convencer alguém a frequentar a academia, con- rejista de moda Free People adiciona fotos do Insta-
sumir comida saudável e praticar outras atividades que gram de seus clientes às páginas de seus produtos. A
promovem o bem-estar, o resultado é impressionante. empresa de outdoors Lamar Advertising, durante uma
O que isso signiica para os publicitários? Com o au- promoção de férias, exibiu fotos em que as pessoas ha-
mento da popularidade das redes sociais nos últimos viam marcado a hashtag #ThankfulThisHoliday (agra-
dez anos, muitos previram uma revolução nas estra- decido pelas férias). Outras empresas adotam a cres-
tégias de marketing. Não era incomum ouvir falar do cente prática de pagar a formadores de opinião para
im da estratégia de marketing push (em que as empre- que experimentem sua marca e a endosse junto a seus
sas promovem e anunciam seus produtos e serviços) seguidores para assim impulsionar as apreciações nas

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redes sociais. Essa tática gerou vários outros aplicati- verdade, esse tipo de ação pode ter um efeito contrá-
vos, como o ReadyPulse, que automaticamente asso- rio, conquistando pessoas que não são verdadeira-
ciamarcas a formadores de opinião. mente ligadas à marca.
Transforme apreciações em algo relevante. Empresas que buscam essa opção devem privile-
Outra prova de que um like não inluencia o compor- giar o crescimento orgânico, deixando que os clientes
tamento de amigos virtuais é a ineicácia desse tipo procurem seus produtos. Quase por deinição, as pes-
de apreciação; nossa pesquisa comprovou que curtir soas que se dão ao trabalho de procurar uma empresa
uma página em uma rede social não carrega o mesmo nas redes sociais vão se tornar seus clientes mais de-
peso de uma recomendação feita na vida real. Porém, votos, consequentemente os mais valiosos. Como um
pesquisa feita por Sinan Aral, do MIT, e seus colegas grupo, esses clientes são um trunfo: eles vão fornecer
mostra que aprovações e indicações, de maneira geral, feedbacks apaixonados que poderão ser usados na
podem estimular iniciativas. Um experimento consta- melhora da qualidade do desenvolvimento, gerencia-
tou que a chance de uma pessoa fazer o download e mento e entrega dos produtos; defender a marca con-
usar um aplicativo é maior se ela souber que este foi tra reclamações injustiicadas; e serão os primeiros a
recomendado por um amigo do que se simplesmente adotar e divulgar novas ofertas.
lhe informarem que o amigo o baixou. Outras pesqui- A Lego, por exemplo, usa as redes sociais para jun-
sas indicam que apreciações digitais feitas de maneira tar sugestões dadas por clientes para novos produtos
mais significativa podem diminuir a lacuna entre a e para vender novas linhas. Uma marca alemã de gra-
eicácia das recomendações nas redes sociais e as do nola, MyMuesli, pediu a seus clientes que publicassem
mundo real. Um estudo, por exemplo, concluiu que no Instagram imagens das receitas de granola por eles
postagens no Facebook que mostram que um usuário criadas, e, depois, colocou-as à venda em sua página na
está consumindo determinado produto — não que ele internet. A empresa holandesa de aviação KLM usa sua
simplesmente o curtiu — aumenta a possibilidade de conta no Twitter como uma ferramenta de feedback —
outra pessoa consumi-lo. Esse resultado é ainda mais além de responder às mensagens dos clientes, a com-
evidente quando consumidores enviam a seus amigos panhia mostra que está atenta aos comentários deles,
mensagens pessoais recomendando o produto. No en- divulgando nitidamente o tempo estimado de resposta
tanto, promover esse nível de comprometimento com no cabeçalho de seu Twitter (e atualizando-o de cinco
uma marca pode ser caro e difícil. em cinco minutos). Saber que serão ouvidos pode dei-
Nossas pesquisas indicam que quando uma em- xar os clientes mais dispostos a fornecer informações às
presa quer demonstrar o engajamento de um cliente, é empresas, além de fazer com que reajam educadamen-
mais produtivo escolher postagens e outros conteúdos te quando há uma (inevitável) reclamação.
mais criativos e signiicativos por eles divulgados do Do mesmo modo que as redes sociais têm cresci-
que um simples like. O site TripAdvisor, por exemplo, do como um canal de divulgação de marcas, tem au-
avisa internautas que procuram hotel quais de seus mentado o entusiasmo pelo seu potencial para impul-
amigos do Facebook já se hospedaram ali. No campo sionar vendas. Contudo, uma pesquisa recente com
político, uma campanha para aumentar o compare- 427 publicitários de empresas americanas mostrou
cimento às urnas descobriu que dizer que um amigo que 80% deles são incapazes de quantificar o valor
foi votar aumenta as chances de as pessoas votarem. dos esforços empreendidos nas redes sociais. Além
Contudo, um aviso: essa tática pode gerar alguns disso, em um estudo da Fortune 500, 87% dos direto-
problemas de privacidade. O Facebook interrompeu res de marketing admitiram não poder comprovar que
a veiculação de anúncios personalizados (social ads) as redes sociais atraem novos clientes. Nossa pesqui-
que exibiam fotos do peril de amigos usando deter- sa mostra por que os publicitários estão frustrados
minado produto — um dos motivos foi a preocupação com as redes sociais: eles as estão usando de manei-
com a privacidade dos usuários. ra equivocada. Ampliar as iniciativas por meio de
Utilize a estratégia pull para encontrar seus anúncios pode não só oferecer às empresas um retor-
clientes mais fiéis e escute o que eles têm a di- no maior sobre seus investimentos, como também
zer. Uma das razões que faz com que anúncios no Fa- criar a oportunidade de se conectar com seus clientes
cebook sejam eicientes é o fato de a página de uma mais iéis.
empresa na rede social atingir um público bastante HBR Reprint R1804E–P Para pedidos, página 9
relevante; likes mostram o caminho para anúncios
personalizados. Ainda que uma empresa decida não LESLIE K. JOHN é professora da Harvard Business School. DANIEL
investir em propaganda, ela pode usar as redes sociais MOCHON é professor de marketing da Freeman School of
Business, da Tulane University. OLIVER EMRICH é professor de
para obter informações sobre seus clientes mais iéis. administração e mídia social da Johannes Gutenberg University,
Para isso não é preciso tentar atrair novos seguidores em Mainz, Alemanha. JANET SCHWARTZ é professora de marketing
com um conteúdo chamativo ou coisas do gênero; na da Freeman School of Business, da Tulane University.

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As minorias hesitam em partilhar informação sobre elas mesmas no trabalho. Isso é um problema para todos.

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Katherine W. Phillips, Tracy L. Dumas e Nancy P. Rothbard

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DIVERSIDADE E AUTENTICIDADE

importância. Mas não é. Abrir-se para os outros requer


assumir riscos e conquistar coniança, e sem isso as
probabilidades de criar relacionamentos mais profun-
dos que levem ao sucesso e felicidade no trabalho são
menores. Nossa pesquisa foca nos afrodescendentes,
mas essa dinâmica se aplica à adaptação e trajetórias
proissionais de todos aqueles que pertencem a mino-
rias no ambiente proissional, como mães que traba-
lham, funcionários idosos em startups dominadas por
jovens e pessoas cuja visão política conservadora as
faz sentir-se como estranhos em organizações domi-
nadas por liberais ou progressistas.
Décadas de valiosos estudos mostram que a similari-
dade atrai — um fenômeno conhecido como homoilia.
Nossa pesquisa foca num aspecto especíico da homo-
ilia: sendo esse o verdadeiro self da pessoa, é mais fá-
cil revelar elementos de sua vida pessoal e formar cone-
xões sociais com o próprio grupo do que transpor uma
fronteira demográica como o background racial. É im-
portante que as empresas tenham isso em mente quan-
do aspiram tornar-se mais diversiicadas. Simplesmente
Quando Marcus foi admitido num importante banco in- contratar membros de um grupo minoritário não garante
EM RESUMO ternacional logo depois de terminar a universidade, ele que eles se sintam à vontade ou preparados para formar
acreditava que o sucesso era decorrência dos números os relacionamentos necessários para progredir.
O PROBLEMA
Formar relacionamentos sólidos que ele apresentou. “Garanta os mais altos lu-
transpondo fronteiras cros, capte o maior número de clientes, seja discreto e
raciais no trabalho pode faça seu trabalho”, ele comenta, lembrando sua estra- EVENTOS SOCIAIS PODEM CRIAR TENSÕES
ser difícil. É mais fácil ser tégia. Durante anos, Marcus agiu exatamente assim e Os eventos sociais fora do escritório são oportunidades
seu verdadeiro selff revelar recebeu prêmios por seu trabalho exemplar em tran- importantes para formar relacionamentos com cole-
elementos de sua vida
pessoal e formar conexões sações complexas. Mas, apesar de receber os maiores gas. Investigamos mais de 300 funcionários com vários
sociais dentro de seu rankings de seu grupo, ele continuou sendo preterido backgrounds raciais — metade deles empregados em
próprio grupo do que cruzar nas promoções. Um dia ele se muniu de coragem e per- tempo integral numa grande variedade de empresas,
fronteiras demográficas. guntou ao chefe por quê. “Você é muito bom no que faz, metade dos quais frequentavam cursos de MBA — so-
Mas, para os funcionários mas o problema é que os colegas sentem como se não o bre sua participação nesses eventos. Eles relataram que
que hesitam em se abrir,
a probabilidade de criar conhecessem”, respondeu o chefe. Marcus agradeceu se envolveram em três modalidades de atividade social
relacionamentos mais a crítica. “Eu estava com medo de me abrir”, ele obser- relacionada ao trabalho: (1) eventos oiciais da empresa,
profundos que levem ao va. Então ele tratou de superar esse medo e começou como festas comemorativas, piqueniques, excursões
sucesso e à felicidade no a aceitar convites para almoços e outras oportunida- para eventos esportivos e assim por diante, organiza-
trabalho é menor. des sociais com colegas e encontrar áreas de interesse dos pelo departamento de RH e abertos a todos os fun-
comuns, como ilhos, esportes universitários, fantasy cionários; (2) reuniões informais orquestradas por pe-
A SOLUÇÃO
Organizações que games e novos restaurantes. Ele começou a falar mais quenos grupos de pessoas do staff, como happy-hours,
identificam esse desafio abertamente de sua vida fora do escritório — condição chás de bebê e almoços; (3) atividades de desenvol-
podem tomar medidas indispensável para criar relacionamentos. “Quando iz vimento proissional, como eventos de serviços comu-
específicas para torná-lo isso, as coisas começaram a mudar”, ele observa. Hoje nitários, retiros para formação de equipes e seminá-
mais fácil. Criar uma Marcus é o principal sócio executivo do banco. rios para criação de habilidades. Dentre todos, os drin-
estrutura de eventos
sociais (como práticas para Nada nessa série de fatos sugere que Marcus é afro- ques ad hoc depois do expediente eram, de longe, os
quebrar o gelo) pode reduzir descendente. Ele é, e na nossa experiência (sustenta- mais comuns.
a ansiedade associada da pela nossa pesquisa) sua etnia desempenhou um O problema não é que essas minorias não estejam
a pequenas conversas papel importante no seu desconforto em “abrir-se” predispostas a sair com colegas. Na verdade, nossa pes-
desestruturadas. Os líderes no trabalho. Exatamente como Marcus, muitos outros quisa revela que as taxas de participação são simila-
devem formar um lastro
de aprendizado, segundo membros de minorias não conseguem entender que a res às de outros grupos demográicos. No entanto, em
o qual as diferenças entre mobilidade de sua carreira pode ser afetada pelos sen- nossa pesquisa, as minorias relatam que com mais fre-
as pessoas criam uma timentos de familiaridade ou proximidade dos colegas quência comparecem aos eventos movidas pela sensa-
oportunidade de conhecer em relação a eles. E até para aqueles que sabem dis- ção de obrigação ou medo de consequências negativas
algo novo. E a tutoria pode so, formar relacionamento no local de trabalho trans- para a carreira. Uma pesquisa anterior mostrou que es-
ser particularmente útil para
as minorias caso se sintam pondo fronteiras raciais pode ser difícil. Considerando sa socialização pode fazer as pessoas se sentir mais pró-
marginalizadas dentro da os obstáculos que as minorias enfrentam ao navegar ximas, e nossos estudos conirmam isso — com uma
organização. pela cultura corporativa, isso pode parecer de menor diferença importante: independentemente da raça, as

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“NÃO ME SINTO SEGURO EM
pessoas que preferem se esquivar desses eventos nor-
malmente saem da empresa sem se sentir mais conec-
tadas com os colegas que quando ingressaram.

COMPARTILHAR INFORMAÇÃO
Um motivo que faz com que esses encontros não
sirvam para ajudar as minorias a se relacionar com os
colegas de trabalho é a diiculdade que as pessoas têm

QUE, MAIS TARDE, PODERÁ


de entabular conversa com diferentes linhas raciais.
“Que devo dizer nessas situações de relacionamentos
sociais?” Uma executiva negra perguntou: “Como pos-

SER USADA CONTRA MIM.”


so participar da conversa quando, muitas vezes, não
tenho ideia do que estão dizendo? Eu não assisto aos
mesmos programas de TV, nem acompanho os esportes
que eles estão discutindo”. Quando a conversa gira em
torno de fofocas do trabalho, os funcionários perten-
centes a minorias airmam que eles se retraem porque sobre quem eu sou, a música que aprecio, os lugares
sentem que não têm as relações de coniança necessá- que gosto de frequentar, como posso esperar que meu
rias para participar de conversas que envolvem críti- colega de trabalho me valorize pelo que sou? O que há
cas ou ofensas discretas aos chefes. Como airmou um de errado em ser fã de Kirk Franklin?”.
executivo negro, “não me sinto seguro compartilhan-
do informação que, mais tarde, poderá ser usada con-
tra mim”. Como iniciar conversas nesses eventos pode ESTRATÉGIAS PARA REDUZIR O ESTRESSE
ser desaiador, várias minorias que entrevistamos dis- As organizações que esperam aumentar a diversidade
seram que, intencionalmente, chegavam mais tarde ou e promover a carreira de minorias raciais podem se be-
saíam mais cedo — eles compareciam, e pronto. neiciar se estiverem cientes desses desaios — e tomar
Numa segunda bateria de estudos com o objetivo medidas para fazer os funcionários de diferentes gru-
de entender os obstáculos à autorrevelação, pesquisa- pos demográicos se sentir confortáveis em seus rela-
mos mais de 300 jovens afrodescendentes, hispânicos cionamentos pessoais. Mas como garantir que minorias
e outros proissionais de minorias raciais que preten- raciais e membros majoritários se sintam dessa forma
diam ser admitidos num programa MBA de elite. Ao — tanto social como proissionalmente? O objetivo de
serem indagadas sobre até que ponto estavam dispos- nossa pesquisa é entender as várias dimensões do pro-
tas a revelar informações pessoais a um colega de tra- blema. Com base em trabalhos de outros pesquisado-
balho branco ou a um afrodescendente num evento res, sugerimos várias estratégias que podem ser úteis.
social da empresa, essas pessoas, com alto nível edu- Estrutura. Primeiro, identiique o papel que es-
cacional, relataram sentir-se mais desconfortáveis em sa estrutura pode desempenhar para aliviar o descon-
se abrir com colegas brancos que com negros, princi- forto criado por uma socialização desestruturada. Em
palmente se sentissem que seu desempenho no traba- vez do coquetel habitual de confraternização, em que
lho era mediano (em vez de alto). Suas respostas indi- algumas pessoas (de qualquer raça) procuram circular
caram medo de que a informação pessoal que pusesse pela sala se apresentando e escolhendo como, quan-
em destaque sua raça (a chamada revelação de conir- do e com quem iniciar e encerrar conversas, pense nu-
mação de status) pudesse reforçar estereótipos poten- ma abordagem diferente. Se a reunião for pequena,
cialmente prejudiciais às avaliações de desempenho e peça a um líder que apresente todos e foque na con-
impedir a ascensão para cargos de liderança. tribuição que esses talentos únicos podem oferecer
Vejamos o caso de Karen, proissional de alto ní- ao grupo. Numa reunião mais ampla, formar equipes
vel de escolaridade de uma instituição de ensino su- ou apresentar um indivíduo competitivo pode criar
perior. Ela se lembra de uma conversa numa festa de uma experiência mais agradável, não apenas para as
aniversário que seus colegas lhe ofereceram. Um co- minorias, mas para todos que consideram desaiador
lega branco perguntou “O que você fez no dia do seu se misturar com pessoas com quem não estão fami-
aniversário?”. Ela respondeu: “Fui a um concerto liarizados. Lembre-se de que, independentemente
com meu marido e alguns amigos”. O colega fez en- do grau de diversidade do grupo de trabalho, todos os
tão a pergunta lógica: “O que você foi ver?”. Ela assis- seus integrantes têm uma coisa em comum: o trabalho
tira a uma apresentação de Kirk Franklin, artista gos- em si. Isso signiica que eventos para celebrar uma vi-
pel afrodescendente muito popular entre seus amigos tória ou destacar o próprio trabalho coletivo ajudarão
também afrodescendentes. Karen supôs que o cole- os membros do grupo a se relacionar com facilidade.
ga não estivesse familiarizado com Franklin, por isso Esse mesmo senso de estrutura e papéis pode ser
apenas balbuciou “você não deve conhecê-lo” e mu- útil quando, de volta ao escritório, os gestores se reuni-
dou de assunto. Isso pode parecer um diálogo inócuo, rem para discutir o desempenho dos funcionários. Pense
mas anos depois Karen se lembra de que a conversa foi nos benefícios de indicar alguém para icar de olho nos
muito signiicativa: “Se eu não me sinto confortável comentários subjetivos que se reiram ao desempenho

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DIVERSIDADE E AUTENTICIDADE

AS ORGANIZAÇÕES PRECISAM a interagir com os outros. Se uma conversa se encami-


nha para a música, por exemplo, um afrodescendente
que aprecia ópera ou concertos pode revelar isso, por-

RECONHECER QUE AS FRONTEIRAS que esse interesse está na contramão dos estereótipos
raciais. Não estamos sugerindo falsidade, mas empe-
nho genuíno em partilhar informações que criem pon-

RACIAIS PODEM SER UM tes entre fronteiras.


Tutoria. As organizações precisam reconhecer que
as fronteiras raciais podem ser de fato um impedimen-

IMPEDIMENTO REAL PARA A to para a socialização — e esse impedimento não vai


desaparecer da noite para o dia. Elas devem pensar em
criar um sistema de tutoria informal amistoso no qual

SOCIALIZAÇÃO. os funcionários mais experientes possam ajudar a faci-


litar as relações sociais para os ingressantes, em espe-
cial minorias, que podem se sentir marginalizadas na
organização. Designar coaches, tutores ou protetores
social e não ao desempenho proissional. Reconheça que cria um ambiente mais igualitário e ajuda as pessoas
as melhores conversas sobre desempenho são especíi- a se conectar, apesar das diferenças. Esse papel deve-
cas e descritivas e focam em ações e comportamentos re- ria envolver feedback. O chefe de Marcus assumiu um
lacionados ao trabalho. Quando as observações seguem risco ao responder que a carreira dele não estava de-
para o lado pessoal ou incerto, elas geralmente são codii- colando porque lhe faltavam laços sociais. É mais fácil
cadas e cheias de suposições culturais. (Comentários co- assumir esse risco se ele izer parte das responsabilida-
mo “Marcus simplesmente não se encaixa” e “sentimos des de um gestor experiente designado — e uma parte
como se não o conhecêssemos” são bons exemplos.) aceita e apropriada do processo de feedback.
É claro que críticas especíicas sobre o comportamen- É importante que as pessoas envolvidas sejam gen-
to social dirigidas aos negócios podem ser válidas, mas tis e compreensivas umas com as outras, reconheçam
muitas vezes esses comentários informais são equivoca- o desaio dessas atividades e ofereçam aos outros o be-
dos e constituem uma forma de penalizar aqueles que neicio da dúvida. Os comportamentos sociais que des-
evitam participar da happy-hour das quintas-feiras por- crevemos são difíceis de dominar, mas simplesmente
que se sentem diferentes da maioria. Designar alguém, discutir as diferenças sociais pode ser desconfortável.
antecipadamente, para alertar sobre esses comentários É sensato proceder cautelosamente com a autorreve-
pode manter as discussões da gestão focadas nas dimen- lação. Todos nós vivenciamos situações de “compar-
sões mais relevantes do desempenho. tilhamento exagerado” ou “informação demasiada”.
Aprendizagem. Preste atenção nas pesquisas sobre O compartilhamento deveria ser encorajado com cuida-
diversidade que mostram as vantagens de adotar uma do e com foco nas pequenas vitórias iniciais.
orientação para o aprendizado: as organizações e as pes-
soas se beneiciam quando são expostas a diferenças. DALTONISMO NÃO É uma estratégia eficaz para tratar
Embora essa orientação costume ser estabelecida no ní- diferenças raciais no local de trabalho. Ao contrá-
vel organizacional — moldada e reforçada por líderes —, rio, nossa pesquisa sugere que identiicá-las e desta-
as pessoas podem falar e agir de forma a espelhá-la. Em cá-las, juntamente com os desafios inerentes, pode
vez de perguntar, por exemplo, “você assistiu ao Modern representar um longo caminho para chegar a relacio-
Family de ontem?” — e correr o risco de colocar seu in- namentos satisfatórios. As pessoas não precisam ser
terlocutor em imediata desvantagem caso o gosto dele os “melhores amigos” para trabalhar eicientemen-
seja diferente do seu —, tente iniciar a conversa da se- te juntas, mas as amizades tendem a torná-las mais
guinte forma: “Não consigo encontrar nada na TV que felizes e as equipes mais eicientes. Formar laços no
me agrade no momento, e quero tentar alguns progra- trabalho é uma arma poderosa, principalmente pa-
mas novos. O que você está assistindo que realmente es- ra aqueles cuja colaboração transpõe fronteiras ra-
tá gostando?”. Isso legitima as escolhas de todos e reduz ciais. Com o tempo, as pessoas formarão relaciona-
o sentimento de que as pessoas possam ser julgadas por mentos mais profundos se falarem mais sobre sua vi-
suas respostas, ou que certas partes da cultura devem ser da pessoal. Para que isso aconteça, devem estar dis-
universais. Perguntas abertas e curiosas como essas de- postas a deliberadamente sair de sua zona de con-
monstram que ser diferente valoriza mais as pessoas — forto e se conectar com pessoas diferentes. Isso po-
a essência da orientação para o aprendizado. de parecer um risco, mas vale a pena assumi-lo.
Numa organização que adota essa abordagem, é ob- HBR Reprint R1804F–P Para pedidos, página 9
vio que as pessoas devem sentir-se mais confortáveis
KATHERINE W. PHILLIPS é professora da Columbia Business
em se abrir. E à medida que o fazem, as minorias devem School. TRACY L. DUMAS é professora associada da Ohio
pensar em começar sua autorrevelação compartilhan- State University. NANCY P. ROTHBARD é professora da University of
do interesses de desconirmação de status, que as ajuda Pennsylvania.

82 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


Experiência
ABRIL 2018

É POSSÍVEL REDUZIR O
“TEMPO EM SOLO” SEM
AUMENTAR A EQUIPE? 84
Como uma empresa aérea
ajustou a produtividade

ILUSTRAÇÃO DE GREG KLETSEL


ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 83
ESTUDO DE CASO
É POSSÍVEL REDUZIR O
“TEMPO EM SOLO”
SEM AUMENTAR A EQUIPE?
ETHAN BERNSTEIN E RYAN W. BUELL

Kentaro Hayashi abotoou a camisa


de seu uniforme e icou imaginando
se daria conta do recado.
Como presidente da RSA Ground, subsidiária da Rising Sun Airlines responsável pelo aten- ETHAN BERNSTEIN e
dimento das aeronaves em todo o Japão, estava sob enorme pressão nos últimos meses. RYAN W. BUELL são
professores assistentes de
Graças a um aumento de demanda por viagens aéreas, os voos da Rising Sun estavam ago- administração da Harvard
ra mais ocupados e mais frequentes do que nunca. Mesmo assim, no último ano a média de Business School.
“tempo de permanência em solo”— o tempo que a equipe de Ken levava para limpar, visto-
riar e reabastecer cargas e combustível — havia passado gradualmente de 12 para 20 minu- Os estudos de caso
tos. Num mundo de cronogramas de voo intrincados, intervalos apertados de decolagem e ficcionais da HBR
apresentam problemas
proissionais de voo inconstantes, esses atrasos custavam caro. enfrentados por líderes de
O problema foi facilmente diagnosticado: a RSA Ground estava tentando trabalhar mais empresas reais e oferecem
com o mesmo número de funcionários. Mas Ken sabia que não poderia simplesmente che- soluções de especialistas.
gar até os membros do conselho e pedir mais verba para aumentar a equipe. Eles insistiriam Este é baseado no caso
que em primeiro lugar era preciso tornar a equipe mais eiciente. E após várias reuniões sem Need for new creed of
doctor-managers: talent
resultado com o diretor executivo de operações, o chefe do RH e consultores do setor, Ken management, retention
decidiu que era preciso investigar a questão ele mesmo. and employer brand
É por isso que ele agora trajava o uniforme da RSA Ground. Seu plano era trabalhar disfar- dilemmas at XYZ Hospital,
çado como membro da equipe de atendimento por alguns dias, começando como proissio- de Sunanda Nayak e
nal de limpeza das aeronaves no aeroporto internacional de Narita, onde os gargalos da RSA Jyotsna Bhatnagar.
eram piores. Também tinha planejado icar por algum tempo nas equipes de limpeza e ma-
nutenção de três outros aeroportos — Haneda, Osaka e Sendai — para sentir como seus fun-
cionários estavam lidando com todas as aeronaves na frota, desde os jatinhos que serviam
principalmente voos domésticos, de curta escala, até os enormes aviões com cabines múlti-
plas que faziam voos internacionais de longa escala.
Quando Ken pediu ao CEO da Rising Sun, Daishi Isharu, permissão para fazer isso, seu
chefe riu entusiasmado. “Gosto de sua iniciativa Kentaro-san — não só nas trincheiras, mas
dos vasos sanitários!” Então rapidamente icou sério. “Com certeza apoiarei essa pesquisa.
No entanto, você precisa garantir que vale a pena. Daqui uma semana quero uma proposta
de como voltar aos 12 minutos, se não a dez. Quanto mais rápido nosso serviço, mais felizes
nossos clientes e maiores nossos lucros.”
A única pessoa na RSA Ground que sabia do plano de Ken era o chefe de distribuição de
pessoal, que tinha concordado em alocá-lo em várias equipes como um “funcionário tempo-
rário” nos dias seguintes.
Aguardando na pista do terminal com cinco outros trabalhadores de limpeza enquanto
os passageiros desembarcavam, Ken estava mais nervoso do que esperava. Tinha estudado
os manuais para todos os tipos de aeronave e até praticado alguns procedimentos — esvaziar
bolsos atrás dos assentos, limpar bandejas, aspirar assentos. Mas agora era responsável por
metade dos assentos de classe econômica num Boeing 787, e não imaginava poder concluir a

84 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


tarefa nos dez minutos desejados (deixando dois “Aquele jovenzinho metido diz que você é o
minutos para inspeção). Por sorte, a tarefa dos especialista por aqui.”
sanitários estava nas mãos de outra pessoa — “Isso provavelmente é verdade”, respondeu
um homem baixo de cabelos grisalhos que, Nobuo com um sorriso discreto.
paramentado com seus óculos de proteção e “É um bom trabalho?”
luvas plásticas, parecia muito mais experiente “Trabalho duro. Trabalho sujo. Mas paga as
que os demais. contas. E alguns de nós se orgulham em fazê-lo
Ken consultou seu relógio: 6h14. Quando a por- bem.”
ta para a ponte de embarque se abriu, ele e o resto “Os tempos em solo parecem apertados. Tra-
de sua equipe seguiram em ila até o avião e se dis- balhei o mais rápido que pude, seguindo todas as
tribuíram cada um em sua posição designada. técnicas no manual, e ainda levei 18 minutos.”
“Eu já tinha terminado os toaletes em oito.
EXISTEM MACETES As pessoas poderiam ir mais rápido. As mais ex-
Dezoito minutos depois tinham terminado: re- perientes fazem isso. Mas há poucos de nós por
sultado não terrível, mas também não incrível. aqui agora.”
O cronograma dizia que tinham dez minutos até Ken gelou. Os índices de desligamento tinham
que chegasse o próximo avião, então jogaram su- disparado nos últimos anos, junto com os de
as luvas e panos em uma lata de lixo e se reuni- tempo de permanência em solo. Mari Kata, sua
ram numa pequena sala de espera. chefe de RH, vinha contratando trabalhadores
“Primeira vez?”, um dos membros mais jo- temporários e de meio-período a toque de caixa
vens da equipe perguntou a Ken. — 20 a 30 por mês — para assumir o trabalho, mas
“Sim.” poucos continuaram. Acharam o trabalho duro e
“Sou Toshi. Estou aqui há somente um mês. Vai estressante demais e, como Toshi, provavelmen-
icando melhor. Você aprende a fazer mais rápido. te estavam loucos para encontrar trabalhos que
Mas nunca tão rápido quanto a gerente quer!” pagassem mais e dessem mais prestígio.
“Onde está a gerente?”, perguntou Ken. Ela “Por que você continuou?”, Ken perguntou.
tinha lhe passado a tarefa quando bateu o ponto, Nobuo encolheu os ombros. “Não tenho edu-
às 6, mas desde então não a tinha visto. cação ou treinamento para fazer outra coisa. Isso
“Dona Cronômetro supervisiona outra equipe é o que sei fazer. E sou bom nisso. A gerente diz
pela manhã, ela ica conosco na parte da tarde.” que sou o único a quem ela conia os toaletes.”
“Dona Cronômetro?” “Como você icou tão bom nisso?”
“Sim. Ela ica segurando um cronômetro e vai “Tem alguns macetes, mas” — Nobuo disse,
informando o tempo para mantermos o ritmo. Às agora ao pé de ouvido— “não estão no manual.”
vezes isso é bom, mas pode icar irritante. Querem “Você os compartilharia comigo?”, pergun-
que nosso tempo em solo seja de 12 minutos. Tudo tou Ken, não entendendo por que estava também
bem para um 787 com metade da capacidade. Mas sussurrando.
a semana passada cuidamos de 747s o dia inteiro “Não agora. O próximo avião está chegando.
— com apenas seis pessoas na equipe — e foi sim- Se estiver aqui ainda na semana que vem, pode-
plesmente impossível. Depois de ultrapassarmos o mos conversar.
limite nos dois primeiros tempos em solo, tivemos Na hora do almoço Ken tentou se aproximar
de deixar de lado alguns itens. No dia seguinte Do- de Nobuo novamente, mas Dona Cronômetro o
na Cronômetro estava brava e em cima da gente interceptou na cantina.
por causa das reclamações dos clientes.” “Como está indo seu primeiro dia?”
“Então as equipes precisam aumentar?” “Muito bem, obrigado.”
“Sim. Talvez sete pessoas para um 787, dez “Minha outra equipe também tem um novo
para um 747. Mas olhe para mim, falando de avi- funcionário temporário e, embora eu quisesse
ões! Cresci numa fazenda e este foi o único em- observar vocês dois pela manhã, não podia arris-
prego que consegui quando vim para Tóquio. car colocar dois trabalhadores inexperientes nu-
Nem contei para minha família que estava fazen- ma única equipe.” Ela olhou para a planilha em
do isso; icariam constrangidos. Espero sair da- seu tablet. Acho que até o momento seu grupo
qui em um ou dois meses. Se você for icar mais está chegando à média de 18 minutos de tempo
tempo, deve conversar com Nobuo-san.” Ele em solo. A outra equipe chegou a 16. Vamos ver
apontou para o homem de cabelos grisalhos que se vocês conseguem o mesmo.” Ela estava anima-
estava no canto dando goles de seu cantil. “Ele da, mas séria.
trabalhou aqui a vida toda.” E por incrível que pareça, naquela tarde a equi-
Tinham ainda cinco minutos de intervalo, pe de Ken reduziu seu tempo para 16 minutos. Ele
então Ken foi até ele. não sabia se era porque todos tinham entrado no
“Olá, Nobuo-san”, disse, inclinando ritmo ou porque os comandos de Dona Cronôme-
levemente a cabeça. tro —“Cinco minutos, metade concluída, pessoal!

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 85


ESTUDO DE CASO É POSSÍVEL REDUZIR O “TEMPO EM SOLO” SEM AUMENTAR A EQUIPE?

Vamos dar um gás nessa reta inal!” — os tinha ins- equipes e lhes dar melhor treinamento e maiores
pirado a trabalhar um pouquinho mais. salários. Precisamos garantir que os Toshis apren-
Após cada turno ela fazia uma rápida inspeção dam rapidamente como as coisas são feitas e que
no avião e apontava para o trabalhador de limpeza os Nobuos continuem conosco. É a única maneira
que não só tinha terminado nos dez minutos de- de conseguirmos tempos de solo mais curtos.”
sejados como também o havia feito sem nenhum “Que tipo de aumento no orçamento está su-
erro ou omissão. Nas primeiras três vezes, Nobuo gerindo que peçamos?”, perguntou Ken.
foi o indicado, o que ele reconheceu com um ace- “Eu teria de analisar os números, mas talvez
no de cabeça e um sorriso. Outra funcionária, tam- 20%.”
bém mais velha, venceu as duas rodadas seguin- Ken voltou-se para seu diretor inanceiro exe-
tes, o que a deixou radiante, e então os louros vol- cutivo, esperando uma reação, e teve uma: “Co-
taram para Nobuo até o im do turno. Durante um mo todo o respeito, Mari-san, eu icaria extrema-
dos anúncios de Dona Cronômetro, ele pensou ter mente desconfortável colocando um pedido des-
visto Toshi lançar um olhar irrequieto. E quando ta dimensão à diretoria. Nós prometemos a eles e
passaram com passos lentos pela tripulação de voo aos acionistas que melhoraríamos as margens de
na ponte de embarque, percebeu que a meta de 16 lucro este ano”.
minutos estava bem abaixo de suas expectativas Ken não queria rebater imediatamente a pro-
também. Pareciam impacientes e frustrados e mal posta de Mari, mas concordava com o diretor i-
cumprimentaram os funcionários da limpeza. nanceiro. Ele teria de pressionar muito para ter
Quando Ken bateu o ponto de saída às 14h30, aprovação de metade dessa quantia, e Daishi
a gerente lhe disse: “Você trabalha bem. E sua Isharu certamente esperaria um retorno quase
isionomia não me é estranha. Já esteve conos- imediato sobre esse investimento.
co antes?” “Bem, é claro que poderíamos fazer avanços
“Não como parte da equipe de limpeza, se- com menos dinheiro”, disse Mari.
nhora, mas talvez noutro lugar no aeroporto, Mayuka Mori, o diretor executivo de opera-
sim”, disse Ken, cuidadoso. ções interrompeu: “Posso dar minha opinião? A
“Bem, espero que volte.” mensagem que o relato de Kentaro-san me passa
“Acho que vou para Haneda amanhã.” é a importância dos gerentes. As equipes desem-
“Acho que estamos todos com diiculdades de penham melhor quando estão seguindo a boa
encontrar bons funcionários”, ela respondeu. prática e estão plenamente coordenadas”.
“Sim, estamos”, pensou Ken. “Cronômetros e competições são ideias in-
críveis. Se quisermos contratar pessoas ou pagar
MAIS NOBUOS mais, isso deve ocorrer no nível da gerência. Mas
Suas tarefas nas equipes de atendimento nos ou- poderíamos ter uma supervisão mais forte e con-
tros aeroportos foram semelhantes. Ken conhe- trolar mais de perto com nossa equipe atual se
ceu funcionários experientes, acostumados a ta- trabalhássemos para isso.”
refas extenuantes, que sabiam como concluir o Yoshiyuki Taniguchi, o diretor executivo de
trabalho, mas de alguma forma pareciam desen- tecnologia foi o próximo: “Concordo com a su-
corajados. Conversou com trabalhadores mais as ideias, Mayukasan, mas por que não utilizar
novos, muitos deles de meio período, que viam tecnologia para obter o mesmo resultado? Fazer
a RSA Ground como uma parada desagradável, um investimento pontual num sistema que utili-
e idealmente breve, no seu caminho rumo a um za dispositivos portáteis de monitoramento para
emprego melhor. E viu gerentes eicientes que se acompanhar o desempenho do funcionário, in-
desdobravam em mil funções. cluindo tempos em solo, individuais e de equipe,
Quando convocou uma reunião com sua equi- e a qualidade do trabalho realizado. Não precisa-
pe executiva para compartilhar essas observa- mos de mais Donas Cronômetro — precisamos da
ções, seus colegas icaram pasmos. próxima geração de supervisão”.
“Desculpe-me, Kentaro-san, mas você fez o Yoshiyuki já tinha mencionado isso a Ken,
quê?”, disse Mari, mal conseguindo articular a mas da mesma forma que a sugestão de Mari,
pergunta. exigiria uma despesa signiicativa de capital ini-
“Trabalhei disfarçado nas equipes por quatro cial. Programas piloto que utilizavam esses siste-
dias.” mas em outras empresas pareciam promissores,
Todos ouviram sentados em silêncio, estupe- mas os resultados eram confusos.
fatos. Finalmente Mari se pronunciou. “Bem, se- “Não há maneiras mais criativas e menos dis-
nhor, quero aplaudi-lo por compreender como as pendiosas de resolver esse problema?”, perguntou
equipes de solo são importantes para nosso negó- Ken. Não foi a primeira vez que lançava a pergunta
cio. E acredito que aquilo que viu conirma o que ao grupo. O experimento de “chefe disfarçado”
venho dizendo o tempo todo. Precisamos investir era para ter lhe dado algumas ideias novas, mas a
em nosso pessoal — contratar mais membros para única ideia que lhe vinha era clonar Nobuo.

86 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


QUE MEDIDAS É CLARO QUE Ken não pode clonar Nobuo
no sentido literal, mas pode certamente
consistente possível — para a limpeza
de aeronaves maiores. Nenhuma dessas

A RSA GROUND tentar clonar o que ele faz em uma série de


maneiras.
sugestões exigiria um investimento ele-
vado — somente tempo e energia para

DEVERIA TOMAR No mínimo, deveria encorajar os gesto-


res da RSA Ground a captar e documentar
colocá-las em prática.
Depois de implementar uma ou mais

PARA MELHORAR O mais do conhecimento detido pelos seus


melhores funcionários de limpeza e manu-
delas, Ken deveria se concentrar em solu-
ções em prazos mais longos para atrair e

TEMPO EM SOLO? tenção. Dona Cronômetro já está examinan-


do o trabalho dos membros de sua equipe e
reter talentos. Na Çelebi somos capazes
de encontrar pessoas gabaritadas para

OS ESPECIALISTAS reconhecendo o alto desempenho, mas não


está fazendo perguntas suicientes sobre
trabalhos de nível menor, pois lhes ofere-
cemos oportunidades claras de progres-

RESPONDEM como Nobuo e sua outra funcionária gaba-


ritada estão fazendo seu trabalho tão bem.
Deveria ser incentivada a fazê-lo e a com-
so na carreira. Um funcionário de limpe-
za pode se tornar um condutor de carrinho
de bagagem ou um operador aeroportuá-
partilhar o que aprende com o restante da rio. Também recompensamos as pessoas
equipe. que fazem um excelente trabalho. Um
Ken poderia também criar funções de lí- aceno de Dona Cronômetro não é sui-
der de equipe para Nobuo e outros traba- ciente. Então, em algum momento, Ken
lhadores experientes. Dê-lhes a coniança e deveria ir até Isharu e pedir um orçamento
o respeito que merecem e os coloque numa para monitorar desempenho por meio
posição em que possam compartilhar roti- de um sistema de pontos e oferecer bônus
neiramente seus “macetes” com os colegas. aos indivíduos e equipes mais eicientes.
Não há por que dar um dos piores trabalhos
ao melhor proissional de limpeza da equi-
pe. O talento e o empenho de Nobuo devem
ser ressaltados, e não escondidos atrás de
uma porta de banheiro.
A RSA Ground deveria também pensar
em designar seus Nobuos para ser observa-
dos por gestores da empresa atentos e moti-
vadores, e uma equipe de projeto encarre-
gada em redesenhar processos documen-
taria e divulgaria sistematicamente as boas
práticas dos funcionários mais talentosos.
Uma mudança especíica que posso su-
gerir é a criação de equipes menores e mais
estáveis: três ou quatro funcionários que
sempre trabalham juntos, dos quais pelo
menos um tenha experiência signiicativa.
Essa estrutura encorajaria as pessoas a con-
iar e aprender uns com os outros, incre-
mentando a coordenação, colaboração e
eiciência. Os grupos poderiam ser com-
binados — também da maneira mais

ATILLA KORKMAZOĞLU
é o presidente das operações
em solo e de carga na Çelebi
Aviation Holding.

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 87 



COMENTÁRIOS DA
COMUNIDADE HBR
VIKRAM OBEROI é o diretor
administrativo e CEO Treine, recompense,
da EIH Ltd., a empresa matriz promova
do Oberoi Group. Dê aos profissionais de lim-
peza marcadores simples
de contagem regressiva
O PROBLEMA DE KEN começa com as contra- membros da equipe de liderança reservá- para ajudar a medir seu
tações. A RSA Ground parece não selecio- vamos tempo todos os dias para trabalhar ritmo. Designe-os para a
nar as pessoas certas para as tarefas cruciais e apoiar os grupos de operações em várias mesma área por um mês
de limpeza e manutenção. Considerando partes do hotel. Se havia muitos hóspedes a fim de consolidar seu
o envelhecimento da população no Japão, fazendo check-in, eu era o porteiro; se a treinamento na boa prática
uma solução seria contratar pessoas de lavanderia estava muito ocupada, eu punha e “macetes”. Crie um sis-
faixa etária maior para trabalhar em tempo as roupas na máquina; se o bar estava lotado, tema de recompensa para
integral, como Nobuo, que se orgulha em servia as bebidas. Isso me dava insights sobre os que desempenham seu
desempenhar tarefas consideradas meno- os pontos fortes e fracos de nosso negócio e trabalho com excelência,
res. Mas a empresa poderia também pensar enfatizava a importância de trabalhos que na como Nobuo. E comece a
em iniciativas mais criativas. sociedade altamente estratiicada da Índia promovêlos e a outros tra-
Na Oberoi contratamos pessoas com poderiam de outro modo ser desprezados balhadores seniores para
potencial de subir dois níveis na organiza- como posições de uma casta inferior. posição de gerência.
ção com apoio e treinamento. Escolhemos Também utilizamos autonomia e reco- Kenneth Goh, membro da
graduados de escola de hotelaria dispostos nhecimento como ferramentas de enga- tripulação de cabine
a começar em posições de inician- jamento dos funcionários. Um de nossos
Envolva passageiros e
te — linha de frente, serviços domésticos, programas, chamado Empower, autoriza-os
equipe
refeições e bebidas — e ir ascendendo na a gastar até US$ 30 para agradar hóspedes
Eu tentaria descobrir como
carreira. Como muitos jovens na Índia de forma signiicativa e personalizada.
os passageiros e a equipe
não têm acesso a esse tipo de educação, Recentemente um hóspede que estava
poderiam se envolver para
selecionamos formandos do ensino médio fazendo check-in em um de nossos hotéis
ajudar com essas tarefas
para trabalhar conosco cinco dias por se- mencionou a uma funcionária de serviços
de limpeza mediante uma
mana e passar o sexto dia num programa domésticos que suas costas doíam após um
pequena recompensa. Se
de aprendizado a distância de bacharelado voo prolongado; a funcionária providen-
a RSA Ground “desse um
de três anos em gestão de hotelaria. A ciou para ele uma massagem de 30 minutos
caráter de jogo” ao proces-
empresa paga por essa educação, o que como cortesia no spa do hotel.
so, explicasse por que está
possibilita encontrar e manter funcioná- Os gerentes reúnem essas histórias para
fazendo isso e o tornasse
rios talentosos e treinados desde cedo. compartilhá-las em suas orientações no im
divertido e não ofensivo,
O treinamento também poderia ser do dia, e as melhores são enviadas por e-mail
os profissionais de limpeza
melhorado na RSA Ground. Nobuo e ou- a toda a empresa de modo que todos possam
poderiam se transformar
tros têm conhecimento especializado que aprender com elas. Comemoramos quando
em inspetores.
precisa ser compartilhado, portanto Ken as pessoas têm um bom desempenho e ino-
Penny Osborne, consultor,
deveria reuni-los para reescrever o manual vam, e damos prêmios de reconhecimento
This May Hurt
de procedimento dos funcionários. em base mensal, trimestral e anual.
Uma questão importante é se seria Uma última ideia, de baixo custo, é tor- Crie prêmios
viável obter os tempos melhores em solo nar os esforços da RSA Ground em obter Se Nobuo não se sente à
almejados pela Rising Sun sem reduzir as melhores tempos em solo mais visíveis. A vontade em compartilhar
despesas. As pessoas podem ser mais soli- linha aérea indiana IndiGo diz aos viajantes seus macetes imediatamen-
citadas, mas não podem render o impos- que a partida pontual é extremamente im- te, a cultura da empresa
sível. Os instintos de Ken estão certos: ele portante para os passageiros e para a linha pode não estar permitindo
precisa ouvir os funcionários em solo. aérea — e pede aos passageiros que a ajude que ele desafie o status
Dona Cronômetro enfatiza o tempo a cumprir essa meta coletando o próprio li- quo. Eu instruiria a diretoria
e cria um senso de urgência. Entretanto, xo e entregando-o aos atendentes de bordo que criasse prêmios de
Ken poderia investir em tecnologia para pouco antes do pouso. Se os aviões da “agente de mudança” para
contagem regressiva e manter as pessoas Rising Sun tiverem portas frontais e trasei- funcionários que apresen-
nos trilhos — liberando-a e aos outros ge- ras, isso permitirá aos passageiros embar- tam novas ideias.
rentes para se concentrar em criar equipes car por ileira enquanto os proissionais Fhatuwani Lidovho, can-
vencedoras. da limpeza terminam suas tarefas. didato a MBA, Wits Business
Quando comecei como gerente geral School
na Oberoi Rajvilas, em 1997, eu e outros HBR Reprint R1804G–P Para pedidos, página 9

88 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


RESUMO DA EDIÇÃO ABRIL 2018

FOCO
AS NOVAS REGRAS DA
GESTÃO DE TALENTO
A agilidade não é mais
uma prerrogativa somente
da tecnologia — agora,
ela está transformando a
forma como as empresas
contratam, desenvolvem e O RH TORNA-SE ÁGIL
administram seu pessoal. Os negócios centrais e as funções das empresas
substituíram, em grande parte, os modelos de
Coaching é outro item importante: conseguir
que os gestores deixem de julgar os funcionários
O pacote fornece um guia planejamento de longo prazo, por métodos que
permitem que eles se adaptem e inovem com
para ajudá-los no seu desenvolvimento diário.
Equipes,e não indivíduos, são o foco agora, que o
para a transição. mais rapidez. Os departamentos de RH estão
começando a utilizar práticas de talento ágil para
trabalho está cada vez mais organizado projeto
por projeto, e isso significa que as organizações
refletir e apoiar o que o resto da organização precisam enfrentar feedback multidirecional,
página 23 realiza. Em certo sentido, eles estão se tornando conceder direitos de decisão ao pessoal das
“ágeis light” — adotando os princípios gerais, mas linhas de frente e lidar com dinâmicas de grupo
não todos os protocolos do mundo da tecnologia. mais complicadas. A remuneração também
No artigo, Peter Cappelli, da Wharton, e esta mudando: algumas empresas oferecem
Anna Tavis, da Univerity of New York, discutem bônus pontuais, enquanto outras eliminaram
as profundas mudanças que as empresas estão completamente os bônus e reajustam os salários
atravessando em seis áreas críticas. As avaliações com muito mais frequência, de acordo com as
de desempenho anuais são, em muitos casos, a mudanças de desempenho e dos valores de
primeira prática tradicional a ser abolida. À medida mercado. O recrutamento tornou-se mais rápido
que os funcionários trabalham em projetos de e mais ágil, e as novas práticas de aprendizado
prazos mais curto, muitas vezes, sob o comando e desenvolvimento ajudam os funcionários a
de diferentes líderes, e organizados em torno de identificar e acessar as habilidades e treinamento
equipes, as empresas estão reconhecendo que os de que precisam para avançar na carreira.
empregados precisam de feedback mais frequente, Nas últimas décadas, o RH não precisou mudar
durante todo o ano, para que possam corrigir tanto quanto as linhas de operação que ele apoia.
os erros ao longo do percurso, melhorar seu Mas agora a pressão é grande e organizações como
desempenho e aprender por meio de iteração. IBM, Regeneron Pharmaceuticals e até o Banco de
Montreal estão abrindo o caminho.

CRIAÇÃO CONJUNTA DA EXPERIMENTO DE UMA EQUIPE: CASO DE UM BANCO


EXPERIÊNCIA DO FUNCIONÁRIO À medida que as operações bancárias móveis se
As empresas que estão implantando generalizaram e os clientes tornaram-se cada vez
práticas de talento ágil dedicam especial mais cientes do que podem fazer sozinhos, o grupo
atenção à forma como os funcionários bancário global ING lançou uma transformação
vivenciam o local de trabalho — em alguns piloto em sua unidade de banco de varejo da
casos, tratando-os como clientes. Diane Holanda, substituindo a maior parte de sua
Gherson, diretora de recursos humanos estrutura tradicional por uma organização fluida
da IBM, discute como isso está ocorrendo, e mais ágil formada por tribos, esquadrões e
enquanto a icônica empresa de comitês. Dominic Barton, Dennis Carey e Ram
tecnologia reformula seu modelo Charan explicam essa nova forma de trabalhar,
de negócios. que está sendo estendida para todo o banco.
HBR Reprint R1804B–P

ABRIL 2018 HARVARD BUSINESS REVIEW 89


ARTIGOS COMO EU FIZ
MARKETING GESTÃO DE PESSOAS FINANÇAS DIVERSIDADE

O CEO DA STATE
STREET E A CRIAÇÃO
OS ELEMENTOS DE A CONTRATAÇÃO QUAL O VALOR DIVERSIDADE E DE EMPREGOS
VALOR DO B2B DE UM LÍDER DE UM LIKE? AUTENTICIDADE PARA JOVENS
Eric Almquist, Jamie
Cleghorn e Lori Sherer
EMPREENDEDOR Leslie K. John, Daniel
Mochon, Oliver Emrich e
Katherine W. Phillips,
Tracy L. Dumas e Nancy
MARGINALIZADOS
pág. 46 Timothy Butler | pág. 58 Janet Schwartz | pág. 70 P. Rothbard | pág. 78 Joseph Hooley | página 84

À medida que os produtos Quando Marcus foi admitido Muitas empresas gastam Em geral, os membros de Em 2014, recebi um telefone-
B2B tornam-se mais como- num importante banco bilhões de dólares por ano minorias não conseguem ma do escritório do governa-
ditizados, as considera- internacional logo depois de em elaboradas campanhas entender que a mobilidade dor de Massachusetts. Eles
ções subjetivas, muitas ve- terminar a universidade, ele para marcar e consolidar de suas carreiras pode ser me pediam que participasse
zes bastante pessoais dos acreditava que o sucesso era presença nas redes sociais. afetada por sentimentos de de uma parceria público-pri-
clientes do negócio, são decorrência dos números Pense na transmissão ao familiaridade com seus cole- vada (PPP). O objetivo era
cada vez mais importan- sólidos que ele apresentou. vivo de um salto de 40 mil gas ou de proximidade com melhorar a qualidade das
tes nas transações de com- “Garanta os mais altos lucros, metros de altura cujo atleta eles. Mesmo para aqueles faculdades públicas locais.
pra. Para descobrir o que capte o maior número de estabelece assim um novo que percebem isso, pode Desenvolvimento de mão de
é mais importante para os clientes, seja discreto e faça recorde mundial (Red Bull) ser difícil relacionar-se com obra é um problema que me
compradores B2B, a Bain, seu trabalho”, ele comenta, e nos estranhos tweets pessoas de outras raças no preocupa, e todo CEO recebe
empresa de consultoria, lembrando sua estratégia. enviados supostamente por local de trabalho. Ser seu ligações como essa de tem-
analisou resultados de es- Durante anos, Marcus agiu uma conta invadida por um verdadeiro self, divulgar ele- pos em tempos. Tento ajudar
tudos qualitativos e quanti- exatamente assim e recebeu hacker que tiveram origem, mentos de sua vida pessoal sempre que posso, por isso
tativos de clientes. De uma prêmios por seu trabalho de fato, na própria empresa e formar conexões sociais é disse sim.
forma geral, ela identificou exemplar em transações (Chipotle). mais difícil quando as pes- Fui a algumas reuniões e
40 “elementos de valor” complexas. Mas, apesar O Facebook é a plata- soas tentam fazer isso trans- logo fiquei frustrado. Não era
discretos, que se enqua- de receber os maiores forma mais popular: 80% pondo fronteiras demográ- minha primeira experiência
dram em cinco categorias: rankings de seu grupo, ele das empresas listadas pela ficas como o background em PPPs, e embora algumas
apostas na mesa, funcional, continuou sendo preterido Fortune 500 têm páginas racial. Ajudar os relaciona- tivessem sido bem-suce-
facilidade de negociação, nas promoções. Um dia ativas no Facebook. Dia- mentos prosperarem no lo- didas, muitas não deram
individual e inspirador. Os ele se muniu de coragem e riamente, uma quantidade cal de trabalho, entre pesso- certo. Ao participar de uma
elementos variam de estri- perguntou ao chefe por quê. enorme de conteúdos asso- as de diferentes raças, pode reunião, comecei a imaginar
tamente objetivos — rela- “Você é muito bom no que ciados às marcas (branded exigir esforço especial. com que meios a State Street
cionados a precificação e faz, mas o problema é que content) — artigos, fotos, Os autores sugerem solucionaria
especificações, por exem- os colegas sentem como vídeo e outros — aparece várias estratégias que as alguns dos problemas rela-
plo — a mais subjetivos, se não o conhecessem”, nessas e em outras redes organizações podem usar cionados ao desenvolvimen-
como reduzir a ansiedade respondeu o chefe. Marcus sociais com o objetivo de para fazer com que funcio- to de mão de obra.
e melhorar a reputação do agradeceu a crítica. “Eu atrair seguidores, relacio- nários de diferentes grupos Nossa empresa tem uma
comprador. Entender toda estava com medo de me nar-se com eles e fazer com demográficos sintam-se grande instituição de carida-
essa gama de considera- abrir”, ele observa. Então ele que consumam numerosos confortáveis ao se envolver de, então já gastávamos mi-
ções racionais e emocionais tratou de superar esse medo produtos. Até o Departa- uns com os outros. (1) lhões de dólares anualmente
e modelar a proposição de e começou a aceitar convites mento de Estado dos Es- Identifique o papel que nas áreas de educação e na
valor para aqueles que os para almoços e outras tados Unidos parece estar essa estrutura — pode formação de profissionais.
clientes mais prezam é ex- oportunidades sociais com fascinado pela busca de se- desempenhar ao facilitar o A State Street é uma das
tremamente importante colegas e encontrar áreas guidores, haja vista os US$ desconforto da socialização maiores empregadoras de
para evitar a armadilha da de interesse comuns, como 630 mil gastos entre 2011 e livre. (2) Adote uma orien- Boston. Todo ano contrata-
commodity. filhos, esportes universitários, 2013 para angariar likes em tação para o aprendizado, mos milhares de funcioná-
HBR Reprint R1804C–P fantasy games e novos sua página no Facebook. fazendo perguntas abertas rios recém-formados. Isso é
restaurantes. Ele começou HBR Reprint R1804E–P e interessantes que de- importante. O grande prêmio
a falar mais abertamente de monstrem que ser diferente da pessoa que conclui sua
sua vida fora do escritório só valoriza a pessoa. (3) formação acadêmica é uma
— condição indispensável Pense em criar um sistema oferta de emprego e uma
para criar relacionamentos. de companheirismo de carreira, e podemos oferecer
“Quando fiz isso, as coisas tutoria informal, no qual isso de uma maneira que
começaram a mudar”, ele funcionários mais expe- nenhuma organização sem
observa. Hoje Marcus é o rientes ajudam a facilitar fins lucrativos é capaz.
principal sócio executivo os relacionamentos sociais HBR Reprint R1804A–P
do banco. para os novos contratados.
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90 HARVARD BUSINESS REVIEW ABRIL 2018


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