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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Artes

Anderson Ladislau da Rocha

Segunda Avaliação de Arte e Antropologia II

Rio de Janeiro
2018
Anderson Ladislau da Rocha

Resenha do texto Objetos de Arte e Artefatos Etnográficos, de Sally


Price.

Trabalho apresentado à
disciplina de Arte e
Antropologia II, ministrada pelo
Prof. Dr. Maurício Barros, do
curso de Licenciatura em Artes
Visuais, da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro
2018
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Sally Price nos apresenta a problematização da arte vista na perspectiva do


ocidental diante da arte primitiva, muitas vezes considerada pelo Ocidente como
uma arte ultrapassada que requer de nós, primeiramente, um conhecimento da
representação de determinada obra ou artefato. Outro fator a ser levantado, é se há
uma limitação acerca da tentativa de interpretação da intenção do autor nas obras
de arte, seja no mundo ocidental ou no oriental. Aliás, o que é, para nós,
considerado oriental é, muitas vezes, tratado como exótico. Porém, quando há uma
inversão de valores, o mesmo ocorre quando um observador do Oriente observa e
analisa uma obra ocidental e requer um mínimo de compreensão para que, após
esta etapa, tenha-se a apreciação da obra com valor estético que pode haver
distinção entre os mundos do Ocidente e do Oriente.
Ao comparar um objeto com "identidades" distintas, percebe-se que o valor
mercadológico do objeto é inversamente proporcional à quantidade de informações
e detalhes descritos sobre o objeto. Por exemplo, um objeto que possui todas as
suas descrições, contextualização e interpretação etnográfica que, geralmente estão
presente em museus antropológicos, têm o seu valor comercial consideravelmente
elevado quando este mesmo objeto é exposto em um museu de arte, quando há a
ausência das descrições acerca do objeto.
Para o profissional da arte como, p.ex., o marchand e, da mesma maneira,
para o público de um modo geral, a relevância do objeto se torna valorizado por
meio da apreciação estética e não funcional. Não há, necessariamente, um interesse
na compreensão dos elementos que estão ligados ao objeto mas tão somente sua
estética que, sutilmente, é visível nas etiquetas numeradas que indicam o seu valor
comercial.
Naturalmente, o observador tem a pretensão de interpretar a intenção do
autor quando as obras são consideradas ocidentais em relação à arte primitiva. Da
mesma maneira é natural que as instituições trabalhem a fim de "explicar" os
significados de determinada obra considerada primitiva por ser, aos olhos dos
ocidentais, uma arte "exótica". Aplica-se, também, este raciocínio se o indígena ou
observador do mundo oriental estivesse diante de uma obra ocidental tendo que ler
todas as descrições daquela obra na intenção de compreender seus significados,
conforme Sally Price (2000, pg.125):
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"Para exposições que apresentam objetos como arte, a definição


implícita do que deveria "acontecer" entre o objeto e o observador é
relativamente constante; a tarefa/prazer do visitante do museu, tanto para
objetos Primitivos quanto para objetos Ocidentais, é concebida, em
primeiro lugar e antes de mais nada, como uma experiência sensório-
emocional, e não de cunho cognitivo emocional. Como observou um autor,
a contextualização da arte através de textos didáticos ofende "aqueles que
consideram que a obra-pirma é mais importante do que o significado que
ela tem para o não-iniciado e (...) aqueles que gostam de tornar puros seus
estimulantes estético"" (apud Lynes, 1954, pg. 261).

Inegavelmente, há uma discussão sobre o papel da arte e da antropologia


presente nos objetos ora considerados artefatos, ora considerados obras de arte.
Seja na arte, seja na antropologia, esses objetos são observados e analisados
conforme a sua contextualização. Em todo o caso, há nitidamente uma crítica da
autora sobre a obra na contextualização antropológica quando ela argumenta que
"perdem sua contextualização antropológica e são considerados capazes de
sustentar-se puramente pelo seu próprio mérito estético." (pg. 126). Esta crítica se
estende aos museus e artigos relacionados à arte quando estes afirmam que as
evidências etnográficas e a curiosidade social não se associam às experiências
estéticas, mas se opõem entre si.
Na primeira parte do texto, a discussão sobre o que é arte e artefato trará
como conclusão o fato de que tais artefatos somente tornaram-se arte quando
chegaram ao continente europeu, contudo, o conceito de arte era desconhecido e
ignorado pelos seus autores de origem aborígene. Para este processo, Jacques
Maquet cita uma distinção feita por André Malraux, em que este chamará de "arte
por metamorfose" o processo de apropriação da produção indígena pelo mundo
ocidente-europeu.
Na segunda parte do texto, Sally Price tratará da questão da distinção entre
os artistas primitivos e civilizados e suas influências na produção artística no
contexto dos museus e galerias. Para a autora, o artista ocidental cria, até certo
nível, de forma consciente as suas obras por conhecer os meios e os processos já
definidos pela classe artística que define os elementos e características nas
produções artísticas havendo, de certo modo, algumas exceções entre os artistas.
Por outro lado, a Arte Primitiva diferencia-se pelo fato de que a sua produção
artística não possui esta consciência ou intencionalidade da Arte Ocidental pois sua
produção acontece de forma mais espontânea e sem o conceito de estética e suas
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consequências. Além disso, os próprios autores não consideram a sua produção


como sendo "arte", mas sim expressões de liberalismo e ausência de preconceitos
reforçando a ideia de que arte é uma construção totalmente ocidental e que, por
isso, não há possibilidade de ser vista da mesma forma pelos orientais.
No Mundo Ocidental destaca-se a relação da obra original e a sua cópia. Esta
relação apresenta uma escala de valoração, ou seja, toda cópia só é reproduzida
quando há um reconhecimento da superioridade no valor, dando a esta obra, o
caráter de original e, portanto, passa a ser copiada por artistas conforme sua
habilidade técnica cuja finalidade é fazer com que sua obra tenha a melhor cópia
possível da obra original. Exemplo disso, é a comparação de Picasso com o
Primitivo, feito por um artigo de jornal quando trazia a seguinte pergunta: Which is
"primitive"? Which is "modern"? Tratava-se, portanto, de uma comparação entre a
obra de um artista renomado, já estabelecido na história e no mundo da arte, com
um artefato africano.
Faz-se necessário uma reflexão profunda sobre as perspectivas da
antropologia e da história da arte, sobretudo quando se trata de uma apreciação
artística acerca da Arte Primitiva pois o Homem do Mundo Ocidental tende a concluir
de maneira autoritária a sua percepção sobre uma produção da Arte Primitiva por
estar intrínseco, na sua formação cultural, seus conceitos de beleza e estética. Para
que isto não ocorra, torna-se importante a utilização da perspectiva antropológica
para que se tenha uma compreensão mais próxima possível do real significado e
interpretação das representações da Arte Primitiva. Dessa maneira, é possível
compreender as relações das Artes do Ocidente e Oriente dentro da
contextualização que cada uma carrega consigo evitando, desta maneira, uma
apropriação indevida transformando, para o contexto ocidental, em arte aquilo que
não foi criado, necessariamente, para ser uma obra de arte. A antropologia
transforma-se em um instrumento de observação extremamente relevante para que
nossos conceitos culturais não sejam transformados em universais de maneira
arbitrária imposta em outros ambientes culturais diferentes com autoritarismo e,
sobretudo, reconhecendo a diversidade cultural existente nas diversas camadas
sociais, econômicas e culturais nos mundos do Ocidente e do Oriente.

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