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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE DIREITO “PROFESSOR JACY DE

ASSIS”

DIREITO PROCESSUAL CIVIL II


PROFª. DANIELA DE MELO
CROSARA

1º ATIVIDADE - PETIÇÃO INICIAL


TURMA 78J (2020-2)

ERICK HENRIQUE CINTRA


(11911DIR207)

RHUAN NASCIMENTO BATISTA


(11911DIR202)

UBERLÂNDIA, 09 DE AGOSTO DE 2021.


AO EXMO.(A) SR.(A) DR(A) JUIZ(A) DA _ª VARA CÍVEL
DA COMARCA DE UBERLÂNDIA - MG

MARIA DE NAZARÉ, brasileira, viúva, aposentada, inscrita no CPF


sob o nº 111.111.111-11, residente e domiciliada na Av. Do Direito, 111, Bairro
Centro, Uberlândia, Minas Gerais, CEP 00000-00, representada por seu filho,
ANTÔNIO DE NAZARÉ, brasileiro, solteiro, atendente de telemarketing,
inscrito no Cadastro Físico de Pessoas sob o nº 222.222.222-22, residente e
domiciliada na Av. Do Direito, 111, Bairro Centro, Uberlândia, Minas Gerais,
CEP 00000-00, por intermédio de seus procuradores “in fine” assinado, vem à
presença do excelentíssimo juízo, propor a presente:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, c/c PEDIDO DE TUTELA


PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

em face de OPERADORA DE PLANO DE SAÚDE, pessoa jurídica de


direito privado inscrita no CNPJ sob o nº 33.333.333/3333-33, localizada na Av.
Do direito, 1111, Bairro Centro, Uberlândia, Minas Gerais, CEP 00000-000
pelos seguintes fatos e fundamentos:

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A parte autora vem, inicialmente, pedir ao excelentíssimo juízo a


concessão do benefício da gratuidade da justiça, por ser pobre no sentido legal,
nos termos da lei 1060/50 e art. 5º, LXXIV da CF/88. Não sendo suficiente a
grave crise econômica que assola o país, trazendo de volta o fantasma da fome e
da miséria, a reclamante ainda enfrenta, como demonstrado abaixo, debilitado
quadro de
saúde, sendo-lhe absolutamente impossível praticar qualquer atividade laboral.
Cumpre lembrar que sua família também não possui grandes rendimentos,
motivo pelo qual não se pode contar com muito apoio financeiro.

Nesse sentido, qualquer despesa extraordinária provocaria um relevante


desfalque no orçamento mensal da parte autora, prejudicando-lhe o sustento e o
acesso a itens básicos de subsistência. Por esses motivos, pede-se a concessão
da gratuidade da justiça.

DOS FATOS

A requerente foi vítima de um AVC, acidente vascular cerebral, no dia


10/07/2021, permanecendo internada no Hospital Particular de Uberlândia até
os dias atuais, mesmo que tal permanência não fosse o recomendado por seu
médico, uma vez que esse, dotado do saber da profissão que realiza, instruiu que
a autora fosse tratada em sua residência, haja vista que, segundo o profissional
de saúde, o tratamento em formato “home care” seria de suma importância para
o aumento do conforto, dignidade e recuperação do quadro de saúde da
requerente.

Contudo, contrariando as recomendações médicas e utilizando de maneira


abusiva das cláusulas contratuais estipuladas, o plano de saúde de Maria de
Nazaré, recusou-se em cobrir os gastos do tratamento “home care” prescrito
pelo seu médico responsável. Nesse sentido, a ré suscitou a seguinte cláusula do
contrato firmado entre as partes, dizendo que não haveria de arcar pelo
tratamento na modalidade, pois essa não estava explícita no documento
acordado:

“Cláusula 3: Será de responsabilidade do plano de saúde, arcar


com as custas do tratamento, internação e medicamentos do
segurado, sempre que acometido por doença grave”
Excelência, fica evidente que a requerida está claramente atentando contra
a saúde da requerente, aproveitando-se da sua própria omissão nos termos do
contrato para tirar benefício financeiro em prol do estado de saúde debilitado da
autora. Desse modo, a autora, que se encontra internada, teve que recorrer ao
seu filho Antônio, representante legal no processo, para que esse viesse por
meios legais lutar pela saúde sua mãe e fazer com que ela receba o tratamento
adequado e recomendado que claramente lhe é de direito é fundamental para
assegurar a requerente a proteção do bem mais importante que qualquer ser
humano tem, a sua vida, tendo em vista que essa pode estar em xeque pelo não
cumprimento das medidas médicas recomendadas, visto que não cabe a
operadora do plano de saúde a escolha da modalidade de tratamento do
paciente, mas sim ao profissional responsável.

DO DIREITO

Nesse sentido, expressa nos autos a recomendação médica acerca da


necessidade da implementação do tratamento “home care” no tratamento
médico da parte autora, bem como expressa a gravidade de seu quadro, por
tratar-se de um AVC, doença grave, há de se falar do entendimento
jurisprudencial favorável apresentado pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA:

AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL. NECESSIDADE DE REEXAME DE
PROVAS. SÚMULA N. 7/STJ. PLANO DE SAÚDE.
COBERTURA. HOME CARE. CLÁUSULA ABUSIVA.
1. Recurso especial cuja pretensão demanda reexame de
matéria fática da lide, o que encontra óbice na Súmula 7 do STJ.

2. "O serviço de home care (tratamento domiciliar) constitui


desdobramento do tratamento hospitalar contratualmente previsto
que não pode ser limitado pela operadora do plano de saúde. Na
dúvida, a interpretação das cláusulas dos contratos de adesão deve
ser feita da forma mais favorável ao consumidor" (REsp nº
1.378.707/RJ, Rel.

Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Terceira Turma,


DJe 15/6/2015).

3. Agravo interno a que se nega provimento.

(AgInt no AREsp 1086737/RJ, Rel. Ministra MARIA


ISABEL

GALLOTTI , QUARTA TURMA , julgado em

20/03/2018 , DJe 05/04/2018).”

Além da interpretação favorável à prestação do serviço de home care


apresentada pelo STJ, o caso em questão, é também súmula em tribunais do
Brasil, como pode ser observado na Súmula 90 do TJ-SP:

Súmula 90: Havendo expressa indicação médica para a utilização


dos serviços de “home care”, revela-se abusiva a cláusula de
exclusão inserida na avença, que não pode prevalecer.
Ademais, por tratar-se de uma relação de consumo, é necessário trazer
aos autos o entendimento legal do Código de Defesa do Consumidor em relação
a cláusulas e condutas abusivas como a apresentada pela ré que afrontam o Art.
51, IV, do CDC, que dispõe:

"Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(...) IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas,


que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;"

Outrossim, temos o texto mor do direito brasileiro, a Constituição da


República Federativa do Brasil de 1988, que demonstra em seu texto a
necessidade do Estado em agir em prol da saúde de seus cidadãos e a redução
de eventuais danos causados a essa, como disposto em seu art. 196:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.

Por fim, não restando mais nenhuma possibilidade de dúvida acerca da


obrigação da requerida no cumprimento da ordem médica e para que seja
respeitado o direito fundamental do acesso à saúde da requerida é necessário
que a ré cumpra as medidas médicas, cessando sua omissão e os danos causados
à requerente.
DA CARACTERIZAÇÃO DE RELAÇÃO DE CONSUMO

Fica evidente, pelo conteúdo apresentado nos autos, bem como pelo
entendimento do STJ, que a relação firmada entre as partes é tutelada pelo
Código de Defesa do Consumidor, ou seja, deve-se levar em conta o Art. 47 do
presente código, onde as cláusulas contratuais devem ser interpretadas em favor
do consumidor, e também o Art. 6º, VIII, do CDC, sendo necessária e aplicável
a inversão do ônus da prova. Segue o entendimento do STJ acerca da presença
de relação de consumo na contratação de plano de saúde:

PLANO DE SAÚDE. Centro Trasmontano. Internação. Hospital


não conveniado. - O reembolso das despesas efetuadas pela
internação em hospital não conveniado, pelo valor equivalente ao
que seria cobrado por outro da rede, pode ser admitido em casos
especiais (inexistência de estabelecimento credenciado no local,
recusa do hospital conveniado de receber o paciente, urgência da
internação etc.), os quais não foram reconhecidos nas instâncias
ordinárias. - A operadora de serviços de assistência à saúde que
presta serviços remunerados à população tem sua atividade regida
pelo Código de Defesa do Consumidor, pouco importando o nome
ou a natureza jurídica que adota. Recurso não conhecido.

(STJ - REsp: 267530 SP 2000/0071810-6, Relator: Ministro RUY


ROSADO DE AGUIAR, Data de Julgamento: 14/12/2000, T4 -
QUARTA TURMA, Data de Publicação: --
> DJ 12/03/2001 p. 147 JBCC vol. 193 p. 69 JBCC vol. 189

p. 351 LEXSTJ vol. 142 p. 198 RJADCOAS vol. 22 p. 75 RSTJ


vol. 149 p. 380)
DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA

Conforme consta do art. 300 do Código de Processo Civil de 2015, “a


tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.”

A tutela de urgência tem como requisitos indispensáveis à sua concessão


o fumus boni juris e o periculum in mora. No presente caso, é possível
identificar com nitidez a presença de ambos os requisitos.

A recusa do plano de saúde em conceder a assistência médica domiciliar é


notoriamente abusiva, uma vez que o próprio médico responsável pelo
tratamento de Maria recomendou o “home care”, a fim de viabilizar a dignidade
intrínseca a todo ser humano. Desse modo, sem a pretensão de firmar certezas
absolutas, é ao menos evidente que a parte autora tem o direito de, não havendo
óbice por pendências financeiras em relação ao plano de saúde contratado,
receber a assistência médica em seu domicílio. A recusa do plano de saúde em
conceder conforto e dignidade a um corpo que, lutando contra a natureza
imutável da fisiologia humana, passa por imensurável sofrimento, é uma
afronta, dentre outros, ao princípio da dignidade da pessoa humana, erigido
como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil pelo art. 1º, inc.
III, da Constituição da República de 1988.

Ademais, tendo em vista a precária condição em que se encontra a saúde


da autora, o próprio decurso do tempo pode tornar inútil o resultado do processo;
nesta vida, a única certeza que podemos firmar é que, cedo ou tarde, receberemos
a visita da indesejada das gentes, e um estado de saúde debilitado torna mais
concreta a certeza por ora abstrata. Nesse sentido, a concessão da tutela que se
pede é pressurosa, vez que fundamental à viabilização da condição de existência
digna de Maria de Nazaré, enquanto seu corpo puder suportar.
Por fim, em relação à reversibilidade da tutela, prevista pelo §3º do art.
300 do Código de Processo Civil, observa-se que, ainda que, hipoteticamente,
fique demonstrado ao longo do processo que a razão cabe à parte ré, a tutela que
se pede é plenamente passível de reversão ao status quo ante, não podendo, por
isso, constituir óbice à sua concessão.

DOS PEDIDOS

Com base em todo o exposto, a parte autora vem ao excelentíssimo juiz


requerer que sejam deferidos todos os seguintes pedidos:

1. Que seja determinado à parte reclamada realizar a concessão da assistência


médica domiciliar, fornecendo todos os medicamentos e materiais
necessários, consoante prescrição médica, sob pena de multa diária de
valor proporcional ao valor dos produtos no caso de recusa ou omissão da
parte ré;

2. A condenação em definitivo da parte ré, ao final deste processo,


garantindo-se a continuidade da assistência médica domiciliar e das
demais obrigações em debate;

3. Que a parte ré seja condenada a ônus sucumbenciais;


4. O deferimento liminar do pedido de tutela de urgência satisfativa;
5. A realização da audiência de conciliação;
6. A concessão da inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do
CDC, em face da clara hipossuficiência da parte autora em relação à ré;
7. O deferimento do benefício da justiça gratuita;
8. A citação por via postal da requerida no endereço qualificatório;
9. O deferimento de todos os meios de provas requisitados.
DAS PROVAS

Provará o alegado por meio de provas documentais, testemunhais,


depoimento pessoal e prova testemunhal.

DO VALOR DA CAUSA

À causa, dá-se o valor de R$ 1000,00 (hum mil), para meios legais, com
fulcro no Art. 292, II, do Código de Processo Civil de 2015.

DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

A parte autora, desde já, manifesta seu interesse na realização de


audiência de conciliação, nos termos do art. 334 do CPC/15 e da lei 13.140/15,
evidenciando seu interesse na solução amistosa e justa deste litígio.

Essas são as considerações do peticionário, pede-se deferimento.

Uberlândia, 09 de agosto de 2021

Erick Henrique Cintra

OAB/MG 000.000

Rhuan Nascimento Batista

OAB/MG 000.000

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