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Secretário Executivo
LUCIANO OLIVA PATRÍCIO
Ministério da Educação Secretaria de
Educação Fundamental
GUIA
DO
LIVRONAUTA
Brasília, 2001
Equipe Técnica - SEF
Andrea Kluge Costa
Cecília Correia Lima Sobreira Sampaio
Cinara Dias Custódio
CDU 371.64
Caro professor,
Bom trabalho!
Mapa da obra 16
Aos
educadores de
educadores
(diretores, coordenadores pedagógicos,
supervisores e encarregados da biblioteca da
escola)
V
Mapa da obra
Capítulo 3
Capítulo 1
A mochila do livronauta
Antes de iniciar a viagem Os profissionais da escola irão
Este capítulo traz uma atividade experimentar o prazer de
que poderá fazer os membros aprofundar-se no território de
da equipe refletir de forma um texto, utilizando ferra-
Sobrevoando os continentes mentas como enciclopédia,
bem-humorada sobre a relação do planeta Acervo PNBE/98
que já construíram com os dicionários e atlas. Vamos su-
livros e com a leitura e escolher Este capítulo apresenta um guia gerir uma dinâmica que, de
por qual continente gostariam turístico-literário, que estimula forma prazerosa, permitirá que
de começar a explorar o planeta a equipe docente a excursionar os professores formem uma
Acervo PNBE/ 98: Ficção- pelas obras de literatura, poesia idéia da riqueza que há no
Prosa, Não-Ficção ou Ficção- e não-ficção recebidas do acervo, além de incentivá-los a
Poesia. Ministério da Educação em escolher um ou rnais territórios
1999. literários para visitar e
conhecer, de acordo com seu
gosto, características pessoais e
aspirações.
Guia do livronauta
Escolas
em
viagem
de leitura
Neste
Capítulo 4
Antes de
iniciar a
viagem...
Que tal, então, fazer uma rápida difíceis, complicados, pois eles podem
excursão por esse planeta desconhe- nos proporcionar descobertas incríveis
cido (ou quase) que é o Acervo e grandes alegrias intelectuais.
PNBE/98? Nele existem três conti-
nentes: Ficção-Prosa, Ficção-Poesia e A idéia, então, é principiar a visita ao
Não-Ficção. Nas páginas seguintes, planeta Acervo PNBE/98 pelo lado
sobrevoaremos essas regiões, para que acharmos rnais prazeroso. Os
nelas identificar os territó-rios-livros testes a seguir fazem pensar sobre o
que mais nos interessam e decidir se tipo de relação que você tem com os
queremos voltar a eles rnais tarde. livros e sobre qual é o continente que
rnais tem a ver com suas
Mas... por onde começar? Vamos características, gostos e necessidades
ouvir a opinião de um dos maiores — Literatura, Poesia ou Não-Ficção.
leitores de todos os tempos, o escritor
argentino Jorge Luis Borges. Ele
adotou o lema de um filósofo francês,
Michel de Montaigne (1533-1592):
"Nada faço sem alegria". E, por
considerar a leitura uma das
possibilidades de felicidade ao alcance
do homem, recomendava que lêsse-
mos, em primeiro lugar, os livros que
nos dão prazer e não exigem esforço.
Mais tarde, já fisgados pela leitura,
descobriremos que vale a pena o
sacrifício de decifrar textos
Os livros e você:
discutindo a relação
Assinale as afirmações verdadeiras para o seu caso. Atribua um
ponto a cada item marcado. Some os pontos e confira o gaba-
rito na página 25.
Total de pontos:
Emocional, racional, poético:
qual é o seu estilo?
A) Emocional
Total de pontos:
B) Racional
Se eu tivesse de escolher entre um bom filme de amor ou aventura
e um bom documentário, escolheria o documentário.
Total de pontos:
C) Poético
Sei pelo menos um poema de cor e o recito sempre que há
oportunidade.
Total de pontos:
E atenção!
Desenvolvimento
Sobrevoando os
continentes do planeta
Acervo PNBE/98
Vamos sobrevoar todos eles, para que você faça uma idéia da riqueza que
guardam. Percorrê-los é ter acesso a duas interpretações complementares do
Brasil: a da arte, oferecida pela literatura e pela poesia, e a da ciência,
oferecida pela não-ficção.
(*) Citado por Marisa Lajolo, em Monteiro Lobato, um brasileiro sob medida. Moderna. 2000.
Capítulo 2
OS OLHOS DA IMAGINAÇÃO
Para facilitar uma exploração su- TERRITÓRIO
perficial dos territorios dessas fas- Nome do livro que você irá conhecer
cinantes regiões, um roteiro* foi
preparado, com os seguintes itens: CRIADOR
Nome do autor
COORDENADAS
Tempo e espaço para onde sua imaginação irá
transportá-lo
PALAVRAS-CHAVE
Palavras que o ajudam a captar imediatamente o
espírito do território/livro
SUMO DA HISTÓRIA
O que você pode encontrar nesse território/livro
livro retrata tanto essas formação do estado até 1895, com Marques Rebelo: Os
conflitantes relações quanto a o início da República no Brasil; O melhores contos
desordenada industrialização retrato (2 volumes), situado nas
das cidades com a introdução duas primeiras décadas do século CRIADOR
das usinas, fenômeno que XX; e O arquipélago (3 volumes),
Marques Rebelo é o pseudônimo
acaba por agravar ainda mais que chega até o Estado Novo, com
de Eddy Dias da Cruz (1907-1973).
as distâncias entre o governo de Getúlio Vargas.
Carioca da gema, narrou em suas
proprietários e empregados.
obras a fervilhante vida social do
PALAVRAS-CHAVE
Rio de Janeiro. Para muitos críticos,
Rio Grande do Sul - República - foi o primeiro ficcionista a retratar
tenentismo - Prestes - Vargas de fato o impacto do século XX no
(*) A Revista do Globo foi uma publicação
quinzenal de grande popularidade da antiga Brasil, declarando independência
Editora Globo de Porto Alegre, nas décadas
de 1920 a 1960.
dos modelos estrangeiros.
Continente Ficção-Prosa
Percorremos as vilas e fazendas do pela crítica e, sem dúvida, por A ação ocorre no cais do porto de
sertão nordestino entre os séculos quem quer que tenha lido esse Salvador, que serve de abrigo a um
XVIII e XIX. A ação situa-se par- empolgante épico. grupo de meninos e meninas de
ticularmente na cidade de Vargem rua.
da Cruz e na Serra dos Padres, len- A emocionante história de
dário lugar, no Nordeste, onde se Maria é daquelas para ser lida PALAVRAS-CHAVE
acredita haver um tesouro enter- com pipoca do lado e o cora- Salvador - meninos de rua - amor
rado. ção aos pulos: melhor que ci-
nema. SUMO DA HISTÓRIA
PALAVRAS-CHAVE Pedro Bala é o líder de um grupo
Nordeste - cangaço - mulher - de garotos abandonados, os capi-
TERRITORIO tães de areia. Vivendo de peque-
paixão
Capitães de areia nos furtos e trapaças, cruzando
SUMO DA HISTÓRIA com os rnais diversos tipos de
CRIADOR marginais e com um código de lei
Esta é a saga da cangaceira nor-
destina Maria Moura. O baiano Jorge Amado (1912), próprio, os meninos formam uma
filho de um fazendeiro de cacau, sociedade à parte.
Ao ficar órfã, Maria vê de repente formou-se em Direito no Rio,
todo o seu mundo conhecido de tendo sido deputado federal pelo Vivendo em constante perigo, são
sinhazinha ruir. A morte dos pais é Partido Comunista (1945), logo obrigados muitas vezes a lutar
o motivo para que os inimigos da cassado. Materialista e místico ao contra poderes maiores, como os
família apertem o cerco: eles mesmo tempo, é figura respeitada adultos, os preconceitos e as pró-
querem as terras e, para obtê-las, nos candomblés de Salvador. prias instituições.
não hesitarão em utilizar os méto- Estreou como escritor em 1932,
dos rnais violentos. Que resistência com O país do carnaval, e acabou
pode impor uma mulher jovem e tornando-se uma lenda viva das
sozinha naqueles tempos? letras brasileiras. É um de nossos
escritores mais lidos no país e no
Recusando-se à submissão, Maria exterior.
dá seu grito de liberdade: é matar
ou morrer, desafia ela, "pra nin- Recorde de vendas, Amado geral-
guém nunca rnais querer botar o pé mente retrata a vida, a sensuali-
no meu pescoço". dade e os valores das camadas po-
Continente Ficção-Prosa
Riobaldo viveu atormentado pelo carreira literária com 40 anos, con- TERRITORIO A madona
amor que sentia por Diadorim, um seguiu logo aprovação da crítica, a de cedro •
dos valentes guerreiros de seu qual afirmou unanimemente ter
bando. despontado no Brasil um novo ta- CRIADOR
lento narrativo.
Jornalista, nascido em Niterói,
POR QUE SE AVENTURAR? Antonio Callado (1917-1998)
COORDENADAS sempre se preocupou em ir além da
A narrativa é fragmentada As histórias situam-se nas pequenas simples informação, traçando todas
como é fragmentada a memó- cidades e vilas do sertão de Goiás, as ligações necessárias para revelar
ria. Dessa maneira, o leitor na década de 1950. um painel completo da realidade
permanece ativo, convocado a brasileira em uma determinada
encaixar as peças de um que- PALAVRAS-CHAVE época.
bra-cabeças, para formar o Criança - sonho - perdas
todo da história. Entrar nos COORDENADAS
grandes sertões de Rosa é ter SUMO DAS HISTÓRIAS A história se passa em Congonhas
coragem de refletir sobre a O doze contos deste livro têm em do Campo (MG), cidade turística
luta entre o que há de lumi- comum o fato de serem contados famosa pelas esculturas barrocas
noso e o que há de obscuro em pelos próprios personagens: garo- em pedra-sabão, nas décadas de
nós — sobre nossas relações tos pré-adolescentes que narram 1940 e 1950.
com Deus e com o diabo, suas experiências segundo sua óti-
sobre as imprecisas fronteiras ca particular. Assim, não raro é a PALAVRAS-CHAVE
entre amizade e amor, sobre o fantasia que traz soluções para os Amor - roubo - responsabilidade -
quanto é perigoso viver. problemas reais. milagre
PALAVRAS-CHAVE
Pecado - perdão - família
Capítulo 2
viver: todos têm um nome a zelar e TERRITORIO memória confusa, Alaíde é auxi-
convenções a respeitar. Mas Valdo Teatro completo de liada por Madame Clessi, fantasma
casa-se com Nina, jovem sedutora, Nelson Rodrigues de uma dona de bordel que
caprichosa e vingativa. Sua falecera há tempos.
chegada rompe o frágil equilíbrio CRIADOR
familiar. Explodem paixões, Ambas as mulheres morreram de
O pernambucano Nelson
mágoas e rancores represados por forma violenta, depois de passa-
Rodrigues (1912-1980), pioneiro
tanto tempo, levando os persona- rem por estranhas situações amo-
da moderna dramaturgia brasileira,
gens a atos extremados como sui- rosas: Alaíde e sua irmã amaram o
com personagens extraídos da
cídio, assassinato e incesto. mesmo homem, Madame Clessi
paisagem urbana, em especial do
namorara um rapaz da idade de
Rio de Janeiro, foi um mestre na
POR QUE SE AVENTURAR? seu próprio filho.
arte de desconcertar público,
críticos e leitores, devassando o
POR QUE SE AVENTURAR?
Crônica da casa assassinada lado mais sórdido do homem e ex-
é composto por depoimentos, pondo suas neuroses e fraquezas
cartas e diários dos diversos de uma maneira absolutamente A situação inusitada em que
personagens. Com esse recur- amoral e original. as personagens se encontram
so, a intriga torna-se ainda levou o autor a separar o pal-
rnais interessante, pois os COORDENADAS co em três planos: o real, o da
acontecimentos são relati- Os dois primeiros volumes da série memória e o da alucinação,
vizados. O leitor busca a ver- trazem as cinco peças psicológicas recurso que tornou a peça
dade, mas qual seria ela? Não (volume 1) e as quatro míticas ainda rnais interessante.
temos propriamente fatos, (volume 2) do escritor. A maioria
temos versões, tão diferentes das peças se passa no Rio de Com esta coleção, o leitor tem
entre si quanto os seres que as Janeiro, nas décadas de 1940 a acesso a muitas das obras-
contam. 1960. primas do autor, cujo talento
atravessou continentes. Re-
Quanto rnais avançamos, SUMO DA HISTÓRIA centemente, até mesmo uma
rnais reviravoltas nos reserva companhia polonesa encenou
Vestido de noiva, uma das peças
a história. Ao final, amarran- Vestido de noiva.
rnais famosas de Nelson
do as diversas "pontas soltas" Rodrigues, conta a história de
e ligando todas as pistas, per- Alaíde, jovem que se encontra à
demos o fôlego ante o desfe- beira da morte após um acidente e
cho surpreendente. que reconstitui a série de acon-
tecimentos trágicos desencadeados
É 1er para crer. por seu casamento. Com a
TERRITORIO O SUMO DA HISTORIA TERRITORIO O vampiro
mulo Um fazendeiro rude e solitário, de Curitiba
antigo matador, esperando a morte
CRIADOR (natural) chegar, faz sua confissão CRIADOR
Darcy Ribeiro nasceu em Minas, a um padre. Ao balanço de seus Dalton Trevisan, paranaense
em 1922, e faleceu em 1997. An- muitos pecados mistura-se a (1925), além de escrever, exerce a
tropólogo, ensaísta, romancista e lembrança das mulheres que advocacia e é dono de urna fábrica
político, participou intensa e apai- amou e que o amaram. de vidros. E um dos rnais feste-
xonadamente da vida nacional, jados contistas da atualidade. Usa
preocupando-se em especial com POR QUE SE AVENTURAR? uma linguagem sintética, direta e
as questões ligadas à educação. descomplicada.
Fundou a Universidade de Brasília
Para conhecer o lado erótico
e participou ativamente da COORDENADAS
do grande antropólogo e ci-
formulação da Lei de Diretrizes e Curitiba, no tempo em que os ho-
entista social Darcy Ribeiro.
Bases da Educação Nacional mens usavam bigodinho e cabelo
Suas tórridas descrições das ce-
(LDB) de 1996. Sua obra traz engomado e as mulheres sabiam o
nas amorosas protagonizadas
análises fundamentais para se que era uma anágua. Estamos entre
pelo mulo podem desassosse-
compreender as características do os anos de 1930-1960.
gar até defuntos nos seus
povo brasileiro. Escreveu, entre
túmulos.
outros: Maíra, O mulo (ficção), SUMO DAS HISTÓRIAS
Utopia selvagem e O povo brasilei-
Nelsinho, personagem amoral e
ro (sua última obra).
perversamente atraído pelo sexo
oposto, espreita os rnais diversos
COORDENADAS
tipos de mulheres (as próximas ví-
Fazenda dos Laranjos, em Goiás, timas ou algozes de suas aventuras
meados do século XX. eróticas). No anonimato de uma
grande cidade, o herói busca
PALAVRAS-CHAVE constantemente um prazer fugaz e
Solidão - erotismo egoísta, "vampirizando" e sendo
"vampirizado" por suas muitas
amantes.
Histórias diversas
Memórias da Emilia
O Picapau Amarelo
O poço do Visconde
O Saci
Reinações de Narizinho
(*) Pode ser um exercício desafiante
Serões de Dona Benta encontrar, entre as muitas e pertinentes
informações contidas nesta "Geografia", as
que estejam desatualizadas. Por exemplo, a
Viagem ao céu
população do planeta não é rnais de 3
bilhões...
Continente Ficção-Prosa
OLHOS DE POETA
zes dos crepúsculos e cada instante o interminável passado". Esse mila-
desditoso ou feliz das gloriosas gre, que só a poesia tem o dom de
dinastias de mortais, de deuses e realizar, você também poderá teste-
dragões que habitaram nele desde munhar.
TERRITÓRIO
Título do livro ou da obra
CRIADOR
Nome do autor e alguns dados sobre ele
O GOSTO DE UM POEMA/ O
GOSTO DE UNS VERSOS
Poema ou trecho de um poema, só para você
provar...
POR QUE ESCALAR O GOSTO DE UNS VERSOS indianista Gonçalves Dias, morreu
ESTA MONTANHA? (...) em um naufrágio pouco antes de
Erguei-vos, povo de bravos, aportar em sua terra). Correia foi
Espumas flutuantes é a única Erguei-vos, brasíleo povo, Não promotor no Rio e em Minas e
obra publicada em vida por consintas que piratas Na face viveu em Lisboa, sempre às voltas
um autor que, em seus 24 cuspam de novo! com uma saúde frágil e uma
breves anos, lutou com as ar- constante depressão.
Mostrai que as frontes sublimes
mas da poesia e da oratória
Os anjos cercam de luz, E não O GOSTO DE UM POEMA
para tornar o Brasil livre e
há povo que vença O povo de
justo. Percorrer suas páginas é
Santa Cruz!
voar de mãos dadas com um Mal secreto
espírito apaixonado e cantar Quando a turba que se agita
com ele: Saúda a campa adorada: — Se a cólera que espuma, a dor que mora
Foi um herói que esvaiu-se Nos N'alma, e destrói cada ilusão
Oh! Eu quero viver, beber braços da pátria amada! que nasce,
perfumes ("Ao povo") Tudo o que punge, tudo o que devora
Na flor silvestre, que O coração, no rosto se estampasse;
embalsama os ares; POR QUE ESCALAR Se se pudesse, o espirito que chora,
Ver minh 'alma adejar pelo ESTA MONTANHA? Ver através da máscara da face,
infinito, Quanta gente, talvez, que inveja
Qual branca vela n'amplidão Os poemas de Varela trans- agora
dos mares. portam-nos a um passado em Nos causa, então piedade nos
que o nacionalismo fazia su- causasse!
cesso e calava fundo na alma
TERRITÒRIO popular brasileira. Mas tam- POR QUE ESCALAR
bém são inspiradores seus ESTA MONTANHA?
Poemas
versos que falam de amor e
CRIADOR mostram a sublimação do so- A melancolia e o desalento
Luiz Nicolau Fagundes Varela frimento, como Cântico do íntimos, dos quais Raimundo
(1841-1875), nascido no Rio de calvário, escrito logo após a Correia padecia, transforma-
Janeiro, era apaixonado pelos ro- morte de um filho pequeno. dos em versos, acalentam nos-
mânticos. Sentimental e naciona- sa própria dor e fazem-nos
lista, abandonou a Faculdade de pensar... O autor prima pelo
Direito e adotou um estilo de vida TERRITÓRIO rigor da técnica, da métrica,
exótico, de andarilho solitário, Poesias da rima, do vocabulário e dos
pobre e errante, empreendendo temas, traço característico do
longas viagens e entregando-se à CRIADOR Parnasianismo brasileiro. Seu
bebida. vocabulário e sua sintaxe
Raimundo da Mota Azevedo
sofisticados atraem por nos
Correia (1859-1911) nasceu a
permitir provar um pouco da
bordo do navio San'Luíz, nas cos-
excentricidade poética que
tas do Maranhão (em 1864, outro
marcou época.
maranhense notável, o
TERRITORIO Poesias POR QUE ESCALAR O GOSTO DE UNS VERSOS
completas ESTA MONTANHA?
(...)
de Ferro Central do Brasil. Bri- onde negros não tinham lugar. Ó Fulô? Ó Fulô?
lhante, estudou francês, inglês, A poesia de Cruz e Souza, (Era a fala da Sinhá
latim e grego, o que não o impediu talhada em linguagem chamando a Negra Fulô.)
de sofrer toda a carga do pre- musical, sofisticada, seduz Cadê meu frasco de cheiro
conceito racial de seus contempo- mesmo os iniciantes, após a Que teu Sinhô me mandou?
râneos. Seus principais temas são, leitura dos primeiros versos.
por um lado, a denúncia das in- —Ah, foi você que roubou! Ah,
justiças, a defesa da igualdade so- foi você que roubou!
cial e, por outro, a busca do Ab- TERRITORIO Poesia
soluto, de um Ideal místico. Mor- completa (...)
reu tuberculoso, em virtude das O Sinhô foi açoitar
precárias condições em que vivia, CRIADOR Sozinho a Negra Fulô. A
aos 37 anos. negra tirou a saia E tirou
O médico Jorge de Lima ( 1893-
o cabeção, De dentro dele
1953), nascido em Alagoas, era fi-
O GOSTO DE UNS VERSOS pulou Nuinha a negra
lho de senhor de engenho e co-
Fulô.
meçou a fazer poesia ainda criança,
no primário. Aos 17 anos já se
Os miseráveis, os rotos São as Essa negra Fulô!
tornava famoso nos meios literá-
flores dos esgotos. São espectros Essa negra Fulô!
rios com o soneto O acendedor de
implacáveis Os rotos, os
lampiões, uma resposta ao poema
miseráveis. São prantos negros Ó Fulô? Ó Fulô?
Mal secreto, de Raimundo Correia.
de furnas Caladas, mudas, Cadê, cadê teu Sinhô
Em 1925, adere ao Modernismo.
soturnas. Que nosso Senhor me mandou?
(..) Ah, foi você que roubou,
Foi você, negra Fulô?
As sombras das sombras mortas
Cegos, a tatear nas portas.
("Essa Negra Fulô ")
Procurando o céu, aflitos E
varando o céu de gritos.
CRIADOR
O mineiro Carlos Drummond de
Andrade (1901-1987), príncipe
dos poetas brasileiros, foi jorna-
lista e funcionário público exem-
plar. Tímido e discreto em sua vida
pessoal, na poesia revelava-se
ousado, revolucionário, tanto na
forma como no conteúdo. Seus
versos são as vezes irônicos ("Mun-
Continente Ficção-Poesia
do, mundo, vasto mundo, se eu me O riso não veio, Não POR QUE ESCALAR
chamasse Raimundo seria uma veio a utopia E tudo ESTA MONTANHA?
rima, não uma solução"), outras fugiu E tudo mofou,
vezes apaixonados ("Que pode E agora, José? Ao 1er esta obra, você penetra-
uma criatura, senão, entre criatu- rá nos anseios, nas angústias e
ras, amar? / Amar e esquecer, amar E agora, José? Sua nas dúvidas da alma moderna.
e malamar / amar, desamar, doce palavra, Seu Drummond expressa em seus
amar?"), outras ainda críticos ("A instante de febre, Sua poemas sentimentos que nos
bomba / é um cisco no olho da gula e jejum, Sua inquietam, como a falta de co-
vida, e não sai"), ou filosóficos ("E biblioteca, Sua lavra municação, a insegurança, a in-
agora, José?") — e sempre de ouro, Seu terno de diferença, o amor desencon-
agudamente verdadeiros, re- vidro, sua trado e impossível, a solidão.
veladores, canções capazes de incoerência, Seu ódio
"acordar os homens e adormecer as — e agora?
TERRITORIO ___________
crianças..."
Poesia completa e prosa
Com a chave na mão
GOSTO DE UM POEMA Quer abrir a porta, não existe porta;
CRIADOR
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou; O mineiro Murilo Monteiro Men-
José
Quer ir para Minas, des (1901-1975) era considerado
Minas não há rnais. por Manuel Bandeira "o rnais com-
E agora, José? A festa
plexo, o rnais estranho e seguramen-
acabou, A luz apagou, O
Se você gritassse, Se te o rnais fecundo poeta desta ge-
povo sumiu, A noite
você gemesse, Se você ração". Drummond, em 1972, in-
esfriou, E agora, José? E
tocasse A valsa dignou-se pela pífia repercussão,
agora, você? Você que é
vienense, Se você nas rodas literárias brasileiras, do
sem nome, Que zomba dos
dormisse, Se você importante Prêmio Internacional de
outros, Você que faz versos,
cansasse, Se você Poesia Etna- Taormina conferido a
Que ama, protesta, E
morresse... Mas você Murilo, que ensinava literatura
agora, José?
não morre, Você é brasileira em Roma. Em uma
duro, José! "microdefinição do autor", o poeta
Está sem mulher, Está sem
assim se descreve: "Sinto-me com-
discurso, Está sem carinho,
Sozinho no escuro, pelido ao trabalho literário: pelo de-
Já não pode beber, Já não
Qual bicho do mato, sejo de suprir lacunas da vida real;
pode fumar, Cuspir já não
Sem teogonia, Sem pela minha teimosia em rejeitar os
pode, A noite esfriou, 0
parede nua Para se 'avances' da morte (...); pelo meu
dia não veio, O bonde
encostar, sem cavalo não reconhecimento da fronteira
não veio,
preto Que fuja a realidade-irrealidade; pela certeza
galope, você marcha, de que jamais serei guerrilheiro
José! José, para onde? urbano e muito menos rural,
embora gostasse de derrubar uns
dez ou quinze governos dos quais
omitirei os nomes (...)".
Capítulo 2
POR QUE ESCALAR movimento musical conhecido por POR QUE ESCALAR
ESTA MONTANHA? "bossa nova". Seus versos caíram ESTA MONTANHA?
na boca do povo e garantem-lhe
Walmir Ayala, em sua Apre- vida eterna também neste mundo:
Entre os modernos, Vinícius de
sentação, explica o porquê: "Tristeza não tem fim, felicidade
Moraes é um dos poetas que
"Ler Quintana é das coisas sim"; "O futuro é uma astronave /
com rnais delicadeza soube fa-
rnais saborosas que qualquer que queremos controlar / não tem
lar de amor e manejar imagens
alfabetizado pode desfrutar. tempo, nem piedade / nem tem
eróticas. Erotismo e amor são
Principalmente porque na hora pra chegar"; "Chega de
núcleos temáticos em torno dos
música de seus versos palpita saudade, a realidade é que sem ela
quais o poeta desenha uma tri-
uma vida possível, uma vida não pode ser..."
lha que nos leva ao topo.
da qual, nós, leitores, nos
apropriamos com gula, e le- O GOSTO DE UM POEMA
E as poesias infantis de
mos e relemos ouvindo o rea-
Vinícius, em Arca de Noé ?
lejo, apalpando os fantasmas, Soneto da fidelidade Essas são feitas para tocar o co-
os cataventos, as confidencias
ração de crianças, adolescentes
com Deus, e o humor, ah, essa De tudo, ao meu amor, serei atento e adultos com menos ou rnais
ponta diabólica de humor que Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto de 100 anos. Veja que lindo:
lhe enfeita o lirismo e nos Que mesmo em face do maior encanto
aporta inesperado riso". (...) Dorme, meu pequenininha,
Dele se encante rnais meu
Dorme que a vida já vem. Teu
pensamento.
pai está muito cansado De
tanta dor que ele tem (...).
TERRITÓRIOS Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu ("O filho que eu quero ter ")
Antologia poética
canto
Livro dos sonetos A
E rir meu riso e derramar meu pranto
arca de Noé Ao seu pesar ou seu contentamento. TERRITÓRIOS
A educação peia pedra
CRIADOR E assim, quando mais tarde me e depois
Marcus Vinícius de Melo Moraes procure Serial e antes
(1913-1980) nasceu no Rio de Quem sabe a morte, angústia de quem
Janeiro e era conhecido carinho- CRIADOR
samente como "o poetinha". Além
João Cabral de Melo Neto (1920-1999), recifense,
de escritor versátil — sua obra
diplomata, escritor que prima pelo rigor da linguagem, traz
também abrange o teatro e a pro-
imagens surrealistas em seus poemas, traduzindo em pura
sa—, foi advogado, diplomata e
beleza lingüística a aridez da seca nordestina. O poema O
compositor, autor, com Toquinho,
cão sem plumas, que fala do rio Capibaribe,
de alguns clássicos da nossa MPB.
('Antologiapoética") figura entre os dez melhores poemas
Boêmio, grande amigo, grande
brasileiros do século XX.
namorador, amou e foi amado por
muitas mulheres. Participou do
vive
Quem sabe a solidão, fim de quem
UM OLHAR ANALITICO
A Região Quatro irá encantar os ções de brasileiros célebres. Em
livronautas adeptos de uma abor- seus territórios, sermões, memó-
dagem rnais pessoal, que lhes per- rias, biografias e crônicas pode-
mita ir fundo nas idéias e motiva- rão ser visitados.
TERRITÓRIO
Nome do livro a ser explorado e data de sua
primeira edição
CRIADOR
Nome do autor e alguns dados sobre sua vida
RECORDAÇÃO DE VIAGEM
Um pequeno trecho do livro, para provar que
estivemos lá e aumentar sua vontade de ir
também
Capítulo 2
teatro, como França Júnior, José TERRITORIO _____________ • Uma obra que, como diz o pró-
de Alencar, João Caetano, Artur De Anchieta a Euclides — prio autor, "obedece à acessibi-
Azevedo, e nossos contempo- breve história da literatura lidade, seletividade, senso de
râneos: Nelson Rodrigues, Ari- brasileira fórma... e tenta contribuir para
ano Suassuna, Gianfrancesco restabelecer o diálogo entre os
Guarnieri, Dias Gomes. Primeira edição em 1977 estudos literários e o homem
sensível de cultura média".
RECORDAÇÃO DE VIAGEM CRIADOR
José Guilherme Merquior, diplo- RECORDAÇÃO DE VIAGEM
"O surto admirável do teatro mata e ensaísta, nasceu no Rio de
paulista é obra do industrial Janeiro em 1941 e morreu em " Os sertões são, antes de mais
italiano Franco Zampari, Boston, EUA, em 1991. Doutor em nada, uma retratação. Retra-
criador, em 1948, do Teatro estudos latino-americanos pela tação do tribuno republicano,
Brasileiro de Comédia, cuja Universidade de Paris, e em Socio- que tinha condenado
história não só domina o pa- logia pela London School of dogmaticamente, sem procu-
norama nacional dos últimos Economic and Politic Sciences, rar compreender o fenômeno,
anos, mas tem sido a fonte de Merquior ocupou postos diplomá- o "obscurantismo reacionário"
outras companhias jovens de ticos em Paris e em Montevidéu. dos jagunços de Antônio
mérito. A fórmula do novo Fez parte da equipe do ministro Conselheiro, e, em contato
mecenas era simples: o cos- Leitão de Abreu, do Gabinete Civil direto com o hinterland
mopolitismo de São Paulo re- do governo João Figueiredo, em (interior), foi levado a reco-
clama uma atividade cênica 1981. Em 1983, tornou-se um dos nhecer o heroísmo anônimo
semelhante à de Paris, Lon- escritores rnais jovens a entrar para das populações sertanejas."
dres ou Nova York." a Academia Brasileira de Letras.
O QUE VAMOS
ENCONTRAR
• A história de Irineu Evangelista
de Sousa, barão e visconde de
Mauá, nosso primeiro industrial,
homem de acurada visão comer-
cial que, começando a vida como
office-boy (em 1822), construiu
em Niterói um grande estaleiro e
fundição, tornando-se depois
dono de bancos, estradas de
ferro, companhias de navegação,
expandindo seus negócios para a
Argentina e o Uruguai.
A mochila do
lívronauta
Procedimentos
2 Convide os professores a
visitarem o Planeta Acervo
PNBE/98 percorrendo os stands e
cópia das resenhas de ficção-po-esia;
ao grupo 3, cópia das resenha de não-
ficção. Se houver mais de três
folheando os livros que rnais lhes grupos, o grupo 4 receberá também
chamem a atenção. Cada docente cópia das resenhas de ficção-prosa; o
receberá uma folha em branco, na grupo 5, ficção-poesia, e assim por
qual poderá escrever os títulos de diante.
livros de autores brasileiros que
considera importantes, mas que não
foram incluídos no Acervo
PNBE/98.
com os professores
de ficção, não-ficção e de referência disponíveis no Acervo PNBE/98
6 0s grupos apresentarão as
propagandas dos livros selecio-
nados. Depois de cada apresentação,
outros o que a equipe descobriu
graças ao auxílio do material de
apoio.
os espectadores poderão fazer per-
guntas para obter rnais detalhes.
Capítulo 4
Escolas em
viagem de leitura
Nossas sugestões
Nossas sugestões
Nossas sugestões
Nossas sugestões
Nossas sugestões
Nossas sugestões
Nossas sugestões
Procedimento
Como colocar o
planeta Acervo
PNBE/98 na órbita da
proposta pedagógica
de sua escola: Plano
de Ação
Se você nos acompanhou até los para que percebam suas O caminho para se enfrentar
aqui, pode ser que esteja com próprias características como este e outros desafios com que
vontade de começar a explorar, leitores e a motivá-los a 1er uma escola depara como or-
com seus professores, as possi- algumas das obras do Acervo ganização que aprende passa
bilidades do Acervo PNBE/98 PNBE/98. pelo planejamento de ações,
como mais uma ferramenta de realizado de forma coletiva,
aperfeiçoamento profissional e Mas... como realizar progres- com envolvimento de todos os
humano e de fortalecimento da sos, passo a passo, de forma interessados.
proposta educacional de sua inteligente, rumo à ampliação
unidade. das oportunidades oferecidas UM EXEMPLO
aos professores de se exercita-
Já apresentamos, nos capítulos rem como leitores, capazes não Uma escola fictícia, "Alberto
anteriores, sugestões de al- só de utilizar os livros em fun- Caieiro", tem por missão
gumas dinâmicas que podem ção da proposta pedagógica que "Possibilitar que todos os
ser adaptadas e utilizadas pela implementam, mas também de alunos aprendam a ser, a
liderança educacional da escola perceber na leitura uma forma conviver, a fazer e a aprender
em reuniões com os docentes, de felicidade e de crescimento sem cessar, investindo no
visando a sensibilizá- pessoal? aperfeiçoamento humano e
Plano de O QUÊ
COMO
Ação Procedimentos
INDICADORES DE
ÊXITO
I .Ao final da oficina, todos os 6. Organizar o local Preparação do local, dispondo as carteiras
participantes selecionaram das oficinas em U, colocando um quadro-negro ou
três livros que gostariam de flipchart em local visível e montando a
ler. exposição de livros do Acervo
2. Um mês depois da
realização das oficinas, 60% 7. Realizar as oficinas Aplicação das dinâmicas previamente
dos participantes preparadas
compartilham com os
colegas o resumo de um
livro do Acervo PNBE/98.
QUEM QUANDO I
NDICADORES
B
Relação das obras do Encarregado da 13/6 Os livros do Acervo estão separados
Acervo fornecida pela biblioteca, em ficção-prosa, ficção-poesia e
Secretaria de coordenador não-ficção e expostos de forma
Educação; fita crepe, pedagógico atrativa na sala onde serão
cartazes, papel realizadas as oficinas
crepom
Como nascem
os livro nautas
Caro leitor, cara leitora, aqui termina um livro que pode ser
o começo de novas e instigantes historias.
Madza Ednir
Pedagoga pela USP, mestre em Educação
pela PUC/SP, consultora em Comunicação
e Educação do Cecip (RJ), autora, dentre
outros livros, de Ler e escrever, muito
prazer, com Beatriz Cardoso
Auto da Compadecida 35
Ariano Suassuna Ficção-prosa
De Anchieta a Euclides
Diários índios — os urubus-kaapor José Guilherme Merquior Não-ficção 96
Ficção-prosa 38
laiá Garcia Machado de
Ficção-prosa 37
Iracema Assis José de
Lavoura arcaica Raduan Nassar Ficção-prosa 59
Os bestializados — o Rio de Janeiro e a República que não foi José Murilo de Carvalho Não-ficção 90
Dicionário Aurélio da língua portuguesa Aurélio Buarque de Holanda Ferreira Referência 112
Dicionário didático de português Maria Tereza C. Biderman Referência 112
Dicionário etimológico Nova fronteira da língua portuguesa Antônio Geraldo da Cunha Referência
112
Enciclopédia dicionário ilustrado Koogan/Houaiss Referência
III
Enciclopédia Barsa - Referência III
Geoatlas Maria Elena Simielli Referência 108
Redação
Carla Saukas (ficção-prosa)
Edleuza Ferreira (ficção-poesia)
J. C. Leão (não-ficção)
Fabiana Pino (dicionários, enciclopédia, atlas)
Madza Ednir (sugestões de dinâmicas)
Revisão técnica
Jorge Miguel Marinho (ficção) Maria
Cecília Martinez (não-ficção)
Revisão
Cecilia Fujita Rejane de
Meneses Sonja
Cavalcanti Yana
Palankof
Realização
CECIP
Coordenação de produção
Dinah Frotté
Diagramação e editoração
Cristiana Lacerda