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Engrenagem

Desde abril, a lição do Hokekyo estava sendo levada regularmente por Toda. nas segundas,
quartas e sextas-feiras. Nos outros dias da semana, ele mesmo decidiu a sua participação nas reuniões.
As reuniões de conversão que eram tradicionais desde a época do Presidente Makiguti, foram
reiniciadas nas residências de Kiyohara em Suguinami, de Konishi em Kamata, de Morikawa em
Tsurumi e em outros locais- Pron.overam as reuniões aos domingos em dois períodos, à tarde e à noite,
com a presença de Toda,
Certas associações religiosas estavam organizando atividades espetaculares, chamando atenções
para angariar e elevar os seus prestígios. Outras associações movimentavam com entusiasmo, visando
negócios lucrativos.
O círculo religioso agia também da mesma forma. As religiões antigas não podiam agir em grande
escala devido aos grandes revezes, mas as novas religiões, re-cém-formadas, iniciaram imediatamente as
suas atividades, ao ponto de receberem muitas críticas detestáveis pela socied.' lê de após guerra.
Risshokosseikai, Reiyúkai, Seitio-no-iê, o culto Dançante, Jikosson e outras religiões começaram a
surgir umas apôs as outras, como os brotos de bambu que surgem após a enxurrada.

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Toda não se importava com esses fatos. Prosseguia o seu sistema de intenso polimento de um pequeno
número, com base no Kyogaku (estudo sobre o budismo) a fim de fazerem-nos adquirir os
conhecimentos fundamentais do Budismo.
Dia a dia, a sua lição tornava-se brilhante e convincente. Os ouvintes não se mostravam nem um pouco
perturba-los, isso porque todos eram discípulos treinados pelo Presidente Makiguti, e tinham entendido o
Budismo através da "Filosofia do Valor".
A lição de Toda, quase nunca se referia à "Filosofia do Valor". Ao invés disso, revelava desde o início, a
"Filosofia-da-Vida". Era uma grandiosa "Filosofia de Shiki-ShinFuni" isto é, "Harmonia da Matéria e do
Espírito". Pregava com entusiasmo a vida nas três existências, citando uma variedade de exemplos e
dedicava todo o seu esforço em fazê-los compreender a Eternidade da Vida,
Dificilmente eles entendiam a lição. Havia um deles que começou a dizer com ironia;
— Compreendo a lógica da Filosofia do Valor, mas não posso acreditar na vida com suas três
existências.
— Não pode acreditar? Eu não posso fazer nada .. Que pena! Podem compreender a Filosofia da Vida e
não podem acreditar na existência real da vida prévia! A existência rea) da Vida nos três períodos: o
passado, o presente e o futuro. É o zénite do Budismo. É o principio último da existência. Não podemos
fazer nada, senão acreditar Se acreditar neste principio fundamental da vida, tudo vem a ser
compreendido facilmente, dito isto, a seguir, Toda permaneceu em silêncio por um momento,
— "A Filosofia do Valor" nada mais é senão, um sistema lógico que conduz ao Vendeiro Budismo, co-
mo se fosse uma introdução, í como os oegraus de

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uma escada que leva á compreensão do Verdadeiro Budismo. Não terá significado algum, se não
conseguirmos compreender e acreditar no próprio Myoho-rengue--kyo.
Assim, Toda continuava dizendo como se estivesse tentando convencer as crianças. Tanto ele como os
ouvintes perceberam que havia uma grande diferença no tocante à compreensão da lei do Myoho, muito
mais do que a diferença situacional pré e pós-guerra.
Toda sentiu novamente a necessidade premente da leitura do Hokekyo com a inteira profundidade.
Percebeu que seria uma temeridade, o fato de que os dirigentes da Gakkai estivessem obcecados com a
"Kati-ron" a Filosofia do Valor, ao ponto de considerar a Filosofia de Daishonin em plano secundário
E continuou:
— Como diz Nitiren Daishonin, se aluarmos obedientemente a nossa fé na dedicação á prática para si e
para os próximos (Jigyo-Keta), naturalmente chegaremos ao ponto em que é impossível deixar de
acreditar. É um fato que todos podem compreender. Isso é o principio básico da vida.
Seria um fato irrisório se pensarmos hoje, mas para aquela época a situação estava nessas condições.
Desejo, aqui expor sumariamente, a respeito de uma descoberta filosófica, a "Filosofia do Valor" da au-
toria de Tsunessaburo Makiguti.
Esta obra mudou radicalmente o conceito de valor exposto pelo grande filósifo alemão Immanuel Kant
(1724-1804) e sua corrente filosófica, esclarecendo que a "Coisa Verdadeira" ou a "Verdade" são os
objetos de reconhecimento e não fazem parte do conceito de valor que seria: o Bem, o Belo e o Lucro. O
valor maior ou máximo ele definiu como sendo "Bem Maior".
Assim, ele definiu que o Valor é a relação entre o

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sujeito que é a vida humana com o seu objeto, revelando desse modo o conceito concreto do valor.
Além disso, ele afirmou que o objetivo da vida humana, em resumo. é a aquisição e a criação do valor.
Para que uma pessoa consiga ter a sua vida com o valor mais elevado, é necessário atuar ao máximo a
energia vital própria que é o sujeito, já que o valor é a relação entre a vida humana e o seu objeto.
Portanto, esse valor máximo é a vida de bem maior ou bem estar ao máximo. Isto só deve ser
conseguido por meio da mais elevada e verdadeira religião que esclarece perfeitamente a vida humana.
Aqui, a Filosofia do Valor de Makiguti teve que entrelaçar forçosamente com a Filosofia-da-Vida de
Nitiren Daishonin e a sua axiologia vem atuar sobre os problemas básicos da fé.
Se alguém acreditar numa religião errada, esta pessoa cairá inevitavelmente numa vida de
desvalorização. Neste caso. em vez de criação de valor, torna-se criação de desvaleres. Portanto, a
infelicidade é a vida de criação de desvaleres.
Assim, partindo da Filosofia do Valor chegou à Filosofia-da-Vida de Nitiren Daishonin. A atividade
religiosa de Makiguti através das reuniões, foi denominada de "Reunião para a Confirmação
Experimental da Vida do Bem Maior".
O assunto da reunião era o relato de experiências sobre a prática da Nitiren-Shoshu e a sua Filosofia.
Tsunessaburo Makiguti, na sua carta que se tornou o seu último escrito, endereçada à sua esposa já
idosa, na véspera da sua morte, um mês antes, com a data de 13 de outubro de 1944, ele revela o
seguinte:
".. .Estou lendo atentamente a Filosofia de Kant. Revelei a "Filosofia do Valor", a obra que os filósofos
de há cem anos ou mesmo depois, não puderam tentar mes-
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mo que desejassem. Além disso, eu estou surpreso ao ver que a obra foi ligada por cima com o Hokekyo
e por baixo com as testemunhas das práticas de milhares de pessoas. Portanto, os ataques furiosos de
Sansho--Shima foram evidentemente inevitáveis como atesta a sutra.
A Filosofia de Valor, no seu último propósito veio fouvar o Dai-Gohonzon de Nitiren Daishonin.
Makiguti compreendeu que encontrar com o Dai-Gohonzon' é a mais alta e absoluta felicidade, para
quem procura o mais alto e grandioso valor nesta vida.
Portanto, como filósofo da Axiologia, atingiu a sabedoria para encontrar o Objeto de Valor máximo
que é o "Gohonzon".
Certamente seria uma verdade.
O sistema axiológico do bem, belo e lucro é, sem dúvida, uma verdade que faz compreender o
zénite do valor máximo, dentro das áreas de especulação humana.
Entretanto, mesmo a Filosofia do Valor observado do ponto de vista do Budismo de Nitiren
Daishonin prova que o Dai-Gohonzon tem Força do Buda e Força da Lei, ilimitadas e infinitas, que
superam todo o pensamento humano. O Nam-myoho-rengue-kyo existe com ou sem a Filosofia do
Valor.
Portanto, quando se considera o Myoho como valor, estaria limitando-o dentro da área da Filosofia
do Valor que é meramente lógica o que naturalmente, não pode ser possível.
Jossei Toda possuía um amor todo especial à lógica da Filosofia do Valor de Makiguti. Admirava
sinceramente ao ponto de tirar o chapéu, mas agora, precisava reconhecer o limite da criação humana a
respeito do valor.
Analisando-se a vida do Bem Maior, à maneira axio-lógica de Makiguti, surge uma. tendência
para a ética

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que é peculiar à sua filosofia. Além disso, quando o Dai-Cchonzon é utilizado como o meio de aluar na
Filosofia do Valor, o Dal-Gohonzon cairia dentro do âmbito da Filosofia do Valor. Parece que aqui
refletiu a sombra inconveniente de "Saisson-Nyuhi" que faz desmerecer o respeito e diminuir o valor.
Desde a libertação da prisão, Toda afastou temporariamente a Filosofia do Valor.
Em seguida, partiu desde início com o próprio Nam-myoho-rengue-kyo. Esta decisão resultou da
própria convicção obtida pela sua experiência sofrida dos anos e meses passados.
Ele reconhecia que a Filosofia do Valor é o pico mais elevado da Filosofia contemporânea. Entretanto,
considerando a Grande Filosofia-da-Vida de Nitiren Dai-shcnin, lembrava então a existência daquelas
"nove dobras de inferioridades".
Agora os ouvintes da lição do Hokekyo, são pessoas armadas de Filosofia do Valor do tempo da guerra.
De imediato eles não podiam compreender a intenção de Toda. Ficavam desnorteados pela Filosofia-da-
Vida e por sua vez, Toda perturbava-se também em relação a sles.
São fatos que atualmente estariam fora de cogitarão, porém, para romper esse paredão, foi necessário
despender anos de esforços e lutas-
A lição do Hokekyo, na sua segunda série, era diferente da primeira e não terminava mais em servir as
Oebidas. Em vez disso, logo iniciava as deliberações a ^erca da Soka-Gakkai.
Começaram brotar os novos entusiasmos. Surgiram muitas vezes os assuntos da reforma da organização.
Uns informavam aos outros as notícias dos velhos membros desaparecidos; outros, relatavam os planos
paia a orientação regional.

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A engrenagem começou a mover-se. Ela, que estava parada há três anos, resolve rodar de novo em
torno do seu eixo cuja figura central agora era Jossei Toda,
Chegou a realizar a Primeira Reunião dos Dirigentes da Nitiren Shoshu-Soka-Gakkai no dia primeiro de
maio. Compareceram nessa Reunião dos Dirigentes, um pouco mais de dez pessoas. Hoje, esse dia
tornou-se também uma data historicamente importante para a Gakkai.
As pessoas que aí reuniram-se, não ficaram desapontadas pelo pequeno número de comparecimento. Em
vez disso, ficaram mais contentes por ter sido encontrado um novo líder com quem podiam receber as
orientações da fé, como nos tempos anteriores à guerra.
Foi decidida a formação das Divisões com seus respectivos responsáveis. Em seguida foram estabeleci-
dos os quatro capítulos (Shibu) em Tsurumi e Tóquio e esquemas de reuniões programadas, já com as
respectivas datas, em torno de Jossei Toda.
No final da Reunião dos Dirigentes, Toda disse aos presentes:
-— Agradeço a dedicação de todos hoje. Assim, nossa Soka-Gakkai começou entrar em ação, mas
daqui para frente será muito difícil. Se nós não levantarmos fortemente decididos com fé inabalável, os
pés da Gakkai serão arrastados petas ondas da época. Além disso, pode-se dizer que o Japão está em pior
situação com a turbulência sem precedentes na história.
— Pode-se compreender mesmo ouvindo as noticias de hoje, na comemoração de 1.° de maio,
reuniram 500 mil trabalhadores no jardim em frente ao Palácio Impe-iial e levantaram as vozes de
protesto exigindo a solução dos problemas alimentares, a abolição do Regime Imperial e a implantação
do Governo Democrático. Foram decorridos vinte dias após a queda do gabinete Shi-

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r.ohara e apesar disso, ainda continuava a confusão em torno da sucessão ministerial.
A sua saudação ora se mantinha calma ora eloquentes, como o valente cavaleiro que comanda sobre
seu cavalo branco.
— Forçosamente nós devemos suportar os efeitos danosos da derrota. A instabilidade da situação políti-
ca, a insegurança da vida diária, a estagnação das ati" vidades económicas, enfim, vivemos, na verdade,
numa sociedade temerosa. Não há um local tranquilo no país. Entretanto, por feliz sorte, nós temos o
nosso Gohonzon. A Sutra revela que "o local de uma pessoa com a intensa fé é o próprio local de
tranquilidade (Gashido-Annon)". Não há o que temer. Os dirigentes da Soka-Gakkai nunca devem se
perturbar com os fatos triviais. Com essa fraqueza de espírito e degradação da conduta, jamais
poderemos conseguir o êxito na hora de Kos-sen-Rufu.
A atitude de Toda tornava-se cada vez mais rigorosa e as suas palavras faziam estremecer o coração dos
ouvintes.
— Eu, Jossei Toda, já decidi entregar o meu corpc ao Gohonzon, pela causa da Paz Mundial. Aqueles
que possuem a mesma decisão gostaria que me seguissem para onde eu for. Se dentre os presentes
estiver alguém que não deseja ou tenha a mesma decisão, peco-lhe o favor de se retirar deste recinto.
A sala foi dominada por uma atmosfera tensa e logo voltou ao silêncio absoluto. Os presentes engoliram
as suas vozes. O silêncio tornava-se cada vez mais opressivo. Apesar disso, não havia um que quisesse
desviar os olhos do Mestre Toda.
— Pergunto a todos. Qual é a decisão? Toda rompeu o. silêncio com altas vozes.
Os presentes foram salvos da opressão do ambien-
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te silencioso, pelo incentivo da sua voz. Todos, ao mesmo tempo, responderam com ânimo:
— Sim. f-aremos. . ,
— Por favor, Mestre. Não se preocupe jamais.
Toda sorriu suavemente.
— É verdade?
— Certamente! Pode ficar sossegado.
— Muito obrigado. Então, mãos à obra. Vamos trabalhar com todo o entusiasmo. Haja o que houver,
não poderemos jamais ficar amedrontados. Está certo?
Subitamente, Toda retirou o seu paletó. Em seguida, levantou um de seus braços, bem alto... e começou
entoar a "Canção dos Campanheiros" (Doshi-no-Uta),
As lágrimas brilhavam nos seus olhos, espontaneamente, sem cogitar o motivo do pensamento.
Todos os diligentes cantaram juntos, várias vezes.
À medida que foram repetindo a canção, a decisão de Toda foi compenetrando na sensibilidade de
todos.
A jovem Kiyohara cantava chorando, O semblante de todos estava corado de alegria e decisão,
mostrando a revelação desta nobre missão. Ao terminar a canção, Toda retirou os seus óculos e levou o
seu lenço aos olhos.
Terminada a reunião, todos saíram da sala, mas ninguém demonstrava o desejo de ir embora. No cami-
nho escuro, cercaram Toda com as palestras sorridentes sem se moverem.
Em seguida, este grupo de aproximadamente dez pessoas caminharam conversando prazerosamente em
direção à estação de Suidobashi.
A marcha desta noite é incomparavelmente diferente daquela passeata de 500 mil operários em
comemoração ao dia do Trabalho. Entretanto, nesta marcha, não havia sombras que ocultavam a
tragédia. Era a marcha

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de minorias selecionadas, mas todos estavam sorridentes em plena meia noite.
Toda disse em frente do guiché.
— Todos estão animados! Fizemos até passeatas em plena noite! Ao chegar em casa comuniquem às
respectivas esposas, que hoje aderimos à "Marcha da Comemoração", está bem?
Surgiram vozes de alegria. Eram vozes sorridentes, tão brilhantes, e realmente encantadoras.
Após despedirem uns aos outros, uma turma foi à plataforma de cima e a outra, à de baixo.
Dia 22 de Maio. — Foi realizada a Segunda Reunião dos Dirigentes. Era um movimento realmente in-
significante. Era uma reunião que parecia com os movimentos dos átomos da molécula.
Cada um dos participantes parecia estar guardando secretamente consigo o ideal chamado "Kossen-
Rufu" comunicável somente entre eles, e que ninguém mais podia percebê-los.
Nessa noite, três novos Diretores foram nomeados pelo Diretor Geral Toda. Eram Koiti Harayama,
Takeo Konishi e Hissao Seki, assim chamados Três Companheiros de Kamata. Com os quatro Diretores
do Grupo de Economistas, a Diretoria ficou assim composta de sete Diretores.
Haviam passado apenas vinte dias desde a Primeira Reunião dos Dirigentes. A Organização da Soka-
Gakkai deu um passo firme à frente.
Nesse intervalo de vinte dias, a situação social piorou rapidamente.
No dia 12 de maio a "Grande Convenção da Demanda do Arroz" promovida pêlos habitantes do Bairro
de Setagaya movimentou passeatas em direção ao Palácio Imperial, invadiu a residência do Imperador e
exigiu a declaração pública da Receita da Família Imperial.

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O Governo estava diretamente em face à dificuldade na organização do novo Gabinete.
Na eleição geral do dia 10 de abril, o Partido Liberal. liderado por Itiro Hatoyama ocupou o
primeiro lugar e o Partido Progressista de Shidehara foi para o segundo lugar. Os Partidos Socialista e
Comunista também tiveram seus sucessos notáveis. Nesta eleição ambos juntos obtiveram 10 milhões de
votos.
Sob as rédeas da sucessão ministerial, surgiram sucessivas manobras secretas e atritos nos
bastidores da política. Em 3 de maio, estavam prontos os planos políticos combinados pêlos dois
partidos, Liberal e Socialista. Shidehara elaborava a formação do Gabinete independente com o Partido
Liberal e aguardava a autorização de MacArthur.
Hatoyama preparou até as listas dos novos Ministros do seu Gabinete, mas o que ele recebeu foi a
ordem de expulsão.
Com a situação política para a sucessão do Hatoyama, surgiram: Tsuneo Matsudaira, ex-Ministro da
Casa Imperial e Takeo Kojima, um velho político. Entretanto, em 3 de maio, o ex-Ministro do Exterior,
Shigue-ru Yoshida apareceu como sucessor de Hatoyama.
A organização do Novo Gabinete atravessou um vendaval de dificuldades. Por outro lado, o povo
faminto tornava-se cada vez mais violento.
O Partido Comunista não deixou de aproveitar essa oportunidade. No dia 9 de maio, o partido
mobilizou 250 mil operários para a "Comemoração do Dia da Alimentação". Kyuiti Tokuda que se
tornou deputado, colocou-se à frente da demonstração, invadiu o Portão Sakashi-ta e exigiu a entrevista
com o Imperador.
Evidente, não poderia encontrar a mínima parcela de ombridade da nação japonesa. O povo
desejava apenas géneros alimentícios. O problema básico de suma

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importância era a estabilidade da vida diária. Desejava que alguém viesse resolver os seus anseios, seja
qual for o partido.
A guerra foi uma tragédia! " Após a guerra, também foi uma tragédia!
A União dos Trabalhadores da Empresa Estatal de Estrada de Ferro do setor de Tóquio, ordenou a todas
as estações, a concessão de passagens gratuitas em oferta aos participantes das passeatas. Todos os
sindicatos aderiram e apoiaram os movimentos.
Nesse momento começaram aparecer os cartazes com os dizeres agressivos — que chegaram até ser
processados mais tarde:
— Nós estamos com a barriga cheia'!! Vós que sois
os nossos subordinados, que morram. Assinado Imperador.
O autor desse cartaz, imediatamente se tornou um herói da luta trabalhista.
Realmente, foi uma época em que o país inteiro demonstrou o acesso de loucura, É fácil anarquizar. Di-
fícil é construir. Agora, na terra do Japão não havia mais a ressonância das melodias e das cores da feli-
cidade.
O movimento foi conduzido até na sede da elaboração do Gabinete que estava atravessada em crise e
um grupo de representantes dos movimentos, com Kyuiti Tokuda à testa, chegaram a esse local e aí
insistiram em permanecer até o fim.
Yoshida foi recusado pelo grupo de professores, após o seu convite para ingressar no Ministério e por
outro lado suportando as pressões dos movimentos populares, a sua organização do Gabinete estava
esperando uma crise a qualquer momento, como se estivesse na iminência de aborto.
Às sete horas da tarde, Yoshida chegou ao ponto

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de mandar seu secretário particular a dizer aos delegados insistentes que já havia desistido da formação
do Gabinete. Parecia que a Soberania iria se transferir às mãos do povo que lutava pela democracia.
Entretanto, no dia seguinte, em 20 de maio, Mac-Arthur enviou uma séria advertência contra os
movimentos anarquistas do dia anterior:
— . , se é impossível para esta minoria da sociedade japonesa, tomar o controle e respeito por si próprio,
serei obrigado a tomar as medidas necessárias a fim de controlar e corrigir esta situação deplorável
Que imponência! Era um golpe a martelada contra os esquerdistas que aproveitavam da situação diante
do governo enfraquecido. Os lideres das lutas pela Democracia Popular sentiram-se estar por debaixo do
Regime de Ocupação e foram extinguidas as luzes do sonho revolucionário.
O Quartel General protegeu Yoshida que já pretendia abandonar a organização do Gabinete. A situação
política do Japão estava fora de controle do povo )a ponés. Estava sob a livre vontade das ordens das For
cãs de Ocupação dos Estados Unidos-
Dois dias após a advertência, finalmente foi organizado o Gabinete Yoshida.
Recentemente, apareceu num certo jornal um artigo desta natureza:

sob a Ocupação, não poderíamos conter as nossas iras contra a opressão da Terceira Nação, a
exuberância das bandeiras vermelhas, a falsidade do Tribunal de Tóquio e revestimento formal da
democracia. Muitas vezes criticávamos o Primeiro Ministro Yoshida para atacar MacArthur que estava
atrás-
— Compreendemos profundamente que existe algo solene na marcha da história e na profundeza da
socieda-

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de, incontroiável pela força de um homem. Sentimos a vontade de inclinar a cabeça para esse algo que
impulsiona a história. Durante os vinte anos decorridos após a guerra, vem marcando uma revolução
pacificamente. Entretanto não conseguimos decifrar o enigma contido nas palavras que está
ornamentando sobre & correnteza, como um ramalhete de flores, A renovação, a restauração, o bom
senso, o progresso, a inovação e a paz e mesmo até o centralismo das Nações Unidas não são. flores que
nasceram na terra do Japão. Seriam flores cortadas ou feitas de plástico importados do estrangeiro, . .
Qualquer pessoa pode fazer criticas. £ muito simples. Uma pessoa ou uma unidade conjunta de
pessoas que eliminasse radicalmente o drama desse povo e que construísse um verdadeiro Japão
democrático, na verdade, ele poderá ser admirado como um sustentáculo da História humana.
No mesmo dia, à noite, estava sendo realizada a Segunda Reunião dos Dirigentes.
Os manuscritos para a nova edição da revista "A Criação do Valor" já estavam colecionados nesta
noite. Eram revistas mimeografadas em papéis finos, cujo tamanho era a metade daqueles que
habitualmente são usados para a escrita japonesa.
A publicação da primeira edição da "Criação do Valer" da Soka Kyoiku Gakkai ocorreu em julho
de 1941. Era um órgão informativo para os três mil membros. Desde então, até maio do ano seguinte
contava nove números sucessivos, publicados mensalmente e os membros aumentaram até cinco mil.
Apesar disso, devido o racionamento de papéis, a publicação da revista foi suspensa. Em seguida, no ano
vindouro, em 1943, a tempestade de perseguições avançou sobre a Sociedade.

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Após o intervalo de 3 anos de interrupção — novamente foram reiniciadas as campanhas retóricas em
torno de palavras eloquentes.
Sendo os papéis de má qualidade, as palavras nãc ficaram bem imprimidas. Entretanto, na alegria da
nova publicação havia algo indescritível.
Apesar disso, a engrenagem começou a rodar, movendo-se com imenso prazer.
No dia 22 de Junho, reuniram-se vários membros da Divisão dos Jovens. Toda compareceu também,
embora de maneira formal. A organização foi criada.
No dia 3 de julho, no primeiro aniversário de sua libertação da prisão, realizaram a Reunião dos Direto-
res e a Reunião dos Dirigentes.
Realizaram-se em continuação, no dia 20 de julho. a reunião da Divisão das Senhoras, no dia 24 de
julho, a Reunião dos Debates Orais da Divisão dos Jovens. As reuniões de cada Capítulo (Shibu)
também tornaram-se mais ativas.
Numerosas engrenagens começaram a se mover. Toda percebeu afinal, que a Gakkai libertou-se do
estado de submersão e desmoronomento. Reconheceu também que cada dente de uma engrenagem era
necessário combinar exatamente com o outro.
Um grupo de engrenagens que finalmente começou a mover — estavam muito longe das grandes
engrenagens que ele imaginava. Comparando-se com o panorama das rotações da engrenagem gigante
que ele imaginava em sua mente, esta rotação parecia evidentemente insignificante.
Entretanto, ele cuidou com carinho, cada uma das pequenas engrenagens e dedicou cuidadosamente ao
polimento das peças. Mais do que isso, ficou totalmente absorvido. Além disso, não provocava
movimentos senão estritamente necessários, porém seguros e firmes.

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Se houvesse uma engrenagem falha, isso seria fatal. Por causa dessa engrenagem, todo o movimento
tornar-se-ia difícil. Conforme o caso ela poderia até fazer parar todo o movimento. Isso era temível e
ele tomava o máximo de cuidado para evitar esse problema.
As reuniões (Zadankai) da Gakkai são realmente rigorosas. Ali não há o mínimo de impureza da falsi-
dade. Nem há compromissos com as falsas doutrinas. Por isso mesmo, os convidados não decidiam
facilmente em sua conversão.
Jossei Toda, entretanto, lutava com paciência realmente admirável. Para os convidados que não se
converteram nas primeiras reuniões, convidava-os para acompanhar mais duas ou três vezes.
Recomendava ouvir os relatos de experiências das numerosas pessoas, ensinava em seguida a Filosofia
da Vida e esperava sempre até que o próprio convidado se convertesse, e por fim, de própria vontade
viesse a acreditar no Budismo de Daishonin.
— Não acham que é necessário um guia seguro para atravessar as ondas tempestuosas da vida e
navegar daqui para frente com uma religião poderosa que permite trazer as forças, os benefícios e
acumular a nossa sorte? Todos desejam o mesmo e estão procurando encontrar esta bússola. Não há
coisa mais temerosa do que uma religião falsa. Nós devemos acreditar numa religião que segue os Ditos
Dourados de Sakyamuni e Daishonin.
— Assim como não há dois sóis no firmamento, a verdadeira religião só existe uma para cada
época. É uma religião que faz libertar o mau destino e que mostra evidentemente a prova da felicidade na
vida diária, do contrário, a atuação da fé não teria o seu significado.
— Seja um ser humano, uma família, ou um país, ninguém pode fugir do Grande Principio da Vida
do Universo, que é Myoho. A prova está nos relatos de experiências apresentados há pouco. Somente,
que não
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sabíamos até agora ou melhor, nós não percebíamos; não somente isso, apesar de ter encontrado alguém
que ensinasse, não pode se convencer, e assim, pensam que os fatos não podem suceder desta maneira.
Qual é a sua opinião? Não acha assim. ..?
Toda sorriu espontaneamente e observou o rosto do convidado. Este concordou e respondeu com voz
baixa:
— É isso mesmo!
— Nesta religião, absolutamente não há falsidade. Seguramente pode ser feliz. Digo com toda minha
convicção. Se achar que é mentira, poderá deixar a qualquer momento.
Toda afirmava categoricamente. O convidado fitava a sua face inteira.
Os membros da Gakkai convertidos antes da guerra adotavam o sistema de Chakubuku, iniciando com o
diálogo sobre a Teoria da Filosofia do Valor e acabavam fazendo o Chakubuku baseando-se na Teoria da
Punição Divina. No Chakubuku de Toda, não ressaltava a Teoria do Valor e em vez disso ressaltava
desde o início até o fim, diretamente a Teoria do Benefício do Budismo. Apesar disso, o êxito do
Chakubuku não era fácil. A percentagem de convertidos era a mesma de antes da guerra.
Graças à instrução de Toda, as engrenagens, quer maiores ou menores, começaram a ser polidas gradati-
vamente.
Em dado momento apertavam-se os parafusos e em outras ocasiões colocavam-se os lubrificantes. E,
assim, os preparativos para a criação dos valores estavam sendo efetivados no lugar onde o público não
percebia.
Por outro lado, não havia um outro mundo que fosse cair em tanta confusão, a não ser o círculo
religioso de após-guerra como no Japão.
O Estado Xintoísta foi sufocado pelas Forças de

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Ocupação. Conseqüentemente os Templos Xintoistas caíram numa situação asfixiante.
— Existe Deus ou Buda? Qual nada' eram as respostas habituais da maioria do povo. Poderia ser
dito que o período após-guerra iniciou com o descrédito à religião. Sorte seria se as descrença® fossem
dirigidas contra as falsas religiões, mas, em vez disso, muitos corriam atras das novas religiões recém-
criadas. Que estupidez absurda!
Portanto, o povo provou que não possuía a capacidade ou método para avaliar a legitimidade ou a
falsidade no assunto da religião.
Nessa época, o povo começou a restaurar as suas condições de vida, após meio ou um ano de
opressões e misérias. As falsas religiões já miravam atentamente estas pessoas, à espera de oportunidade
para tirar o proveito.
Reiyukai, uma associação religiosa que por volta
de 1943 anunciava um milhão de adeptos, não sofreu nenhuma perseguição durante a guerra. Pelo
contrário, aproveitando-se da evacuação, formou numerosos pontos estratégicos em diversas partes do
Japão. Em 1944, após a morte do seu fundador, Kakutaro Kubo, a sucessora Kimi Kotani prosseguiu as
.atividades usando a tática de induzimento forçado chamado 'Omitibiki'- Em torno de 1949 ela chegou a
fazer uma propaganda exagerada de dois milhões de membros sob sua direção.
Rissho-Kosseikai, uma nova associação religiosa foi criada por Nikkei Niwano e Myokou Naganuma
em 1938 após o desmembramento do Reiyukai, não passava de 1 300 famílias no término da guerra,
mas começou peculia-riedades das religiões novas após a guerra, como surgem os capins e flores no
campo. Tanto Reiyukai como Rissho-Kosseikai não passam de uma exploração da moralidade em
respeito aos ancestrais tirada do costume japonês.

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•A devoção aos ancestrais é a base da solução de todos os sofrimentos'. Com esse ensinamento
medíocre mandava os seus adeptos a recitarem Nam-myoho-ren-gue-kyo a torto e a direito.
P. L. Kyodan, que antes da guerra se denominava Hitoncmiti (Caminho dos Homens), partiu da
Prefeitura de Saga em setembro de 1946 com o seu nome assim formado. P. L. é a sua abreviação de
'Perfect Liberty' e o seu preâmbulo da fundação é uma frase sonhadora de que "a vida é uma arte".
Através dos ambientes ou reuniões americanizadas combinados com os panoramas coloniais, promoviam
bailes e com isso, os adeptos que não passavam de dez mil no inicio de 1947, aumentou para 230 mil em
fins de 1949.
Omotokyo, uma outra religião que foi oprimida peio Governo Militar em 1935 por crime de Lesa
Majestade, após a guerra restaurou para 27 mil adeptos em 1949.
Tenrikyo sofreu as consequências das ondas da decadência do Xintoismo e conseqüentemente não mos-
trava atividades após a guerra, mas em 1949 a sua influência começou crescer novamente.
Sekai-meshiyakyo, ou Religião Messiânica Mundial de Mokiti Okada, é uma religião nova que se tornou
famosa. Através da propaganda otimista de seu fundador, que com as ondas eletro-espirituais que saem
das pontas dos dedos ao pressionar o corpo, todas as doenças são curadas, até mesmo desaparecem as
pobrezas e as desarmonias. Nem é preciso colocar os adubos nas plantações. Criou-se uma doutrina
demagógica e estava perturbando a sociedade, aproveitando-se das forças da maldade.
Jiu-kyo provocou o Motim de Kanazawa em Janeiro de 1945. A fundadora fc; Jikosson. Ela mesmo
declarava ser a personificação da Deusa do Sol. Assim ajuntaram numerosos fanáticos. A polícia
reconheceu que é uma

291
seita do Xintoismo em cuja doutrina contém a ideia ultra-nacionalista e começou prender os seus líderes
alegando a violação da Lei que proibia a possessão das armas e de transportes de géneros alimentícios,
Aqui se tornou notável a luta desesperada do ex-Yokozuna Futabayama, aquele famoso campeão de luta
de Sumo, contra os policiais.
KarI Marx dizia: "a religião é o ópio do povo". Ele se referia ao Cristianismo. Infelizmente, ele não
chegou a conhecer profundamente o Budismo Oriental. Nem podia cogitar da vida nas Três Existências.
Tampouco ele podia atingir qualquer iluminação. As criticas e refutações de Nitiren Daishonin contra o
falso Budismo foram bem maiores do que as repercussões de Marx. Afirmava categoricamente com sua
profunda lógica que a religião falsa é a origem condutora da queda ao inferno e é a causa da ruina de um
país, de uma família ou de um indivíduo. Marx dizia que a religião é como o ópio, nocivo contra a
revolução política e económica. Entretanto Niliren Daishonin refutou as doutrinas heréticas e implantou
a Legítima Doutrina do Budismo para a formação básica do progresso eterno da cultura, da educação, da
ecoríomia e da política.
O Culto Dançante, por outro lado, era um tipo de religião, fora do comum dentre as que surgiram depois
da guerra. Com o nome de KOTAUIN-GU-KYO, causava noticias sensacionais nos jornais. Em março
de 1946, Sayo Kitamura. a fundadora desta religião fanática, fazia sermões curiosos e danças exóticas
em pleno coração de Tóquio, perto da Ponte Sukiya, chamando atenções dos transeuntes e até mesmo
dos jornais e filmes de reporta-nRns, com suas "danças inconscientes". Por incrível que pareça
começaram surgir seguidores que apresentavam as demonstrações de danças e cantos nas ruas de todo o
pais. Em torno do ano de 1949 este culto chegou a anunciar 300 mil adeptos.

292
Assim, um bando de religiões novas, sem princípios e sem fundamentos, longe de serem
consideradas como religiões, começaram a invadir todo o Japão. Nesta época, estas religiões eram
acatadas pelo povo desesperado em aliviar os sofrimentos. Nessas circunstâncias era natural que até
mesmo os homens sensatos confundissem as religiões certas e erradas ao ponto de dizerem que:
"Todas as religiões são iguais".
Era um país destruído em cujas montanhas ou entre--rios não cresciam senão matos e assim a terra do
Japão estava em tristes condições.
Com a derrota, foi abolido o Ato da Associação Religiosa pelo Quartel General, Tal ato favoreceu muito
as religiões novas e naturalmente todas as religiões obedeceram.
Solicitando-se as licenças mediante o preenchimento de formalidades, imediatamente podiam partir para
uma ativídatíe religiosa qualquer. Não havia necessidade de pedirem autorizações. Nunca houve uma
outra época assim tão fácil de se criar uma religião.
Foi em abril de 1951 que se introduziu o sistema de autorização, quando foi adotada a Lei da
Associação Religiosa. Nesse intervalo de 5 anos, podiam ser criados quaisquer tipos de religiões com
suas atividades das mais extravagantes. Além disso, gozava inteiramente da isenção dos impostos.
Na Prefeitura de Shizuoka vivia um homem astuto chamado Kifune. Ele criou uma religião com o fim
de sonegar os impostos. A sua religião denominada *Kodo-jikyo-Jinguionmyoryo-Tenshajingu-Shityo',
foi transformando as lojas das travessas atrás das ruas principais, como dependências da sua igreja.
Argumentava que todas as atividades dos seus negócios tinham a finalidade religiosa e assim, fugia
admiravelmente dos pagamentos dos impostos. Por exemplo: o seu Instituto de Beleza definia

293
como sendo a 'prática de atividades religiosas para embelezar as condições de vida' e denominava
'Associação dos Institutos de Beleza para os Crentes', a sua alfaiataria era uma 'Cooperativa de Vendas
de Roupas para os Crentes' e o seu salão de chá era um 'Hotel para Coexistência e Coprosperidade' e
assim evitava o pagamento dos impostos.
Esta atividade chamada 'Kodojikyo' começou desde 1947 e não foi acusada como violação da Lei da
Associação Religiosa, mas foi processada como crime contra a Economia Popular e desde então esta
religião decaiu rapidamente- Ela desapareceu ao mesmo tempo que foi vigorando o cumprimento da Lei
da Associação Religiosa.
A argumentação do certo e do falso, do alto e do baixo, do profundo e do superficial, deve ser debatida
em cada ramo de especialidades, assim como a política no campo da política e a religião no campo da
religião, com a supervisão atenta e seletiva nascida da comunidade pela própria iniciativa do povo. Isso
seria um passo para a democracia.
Nessa época também continuavam as corrupções e as negociatas entre os políticos conservadores. Eles
não eram líderes dignos de suas responsabilidades. Os líderes religiosos eram piores ainda.
Aproveitando os costumes e as tendências humanas da época e a fraqueza da situação da época, eles
enganavam o povo e sugavam o seu dinheiro com as pregações demagógicas.
Na verdade, não há outro negócio mais lucrativo do que a empresa religiosa, se esta agir como um
negócio de má fé. Se tirassem apenas o dinheiro, só poderiam ser punidos como impostores ou ladroes.
Mas, em vez disso, exploravam o nome da fé para propagar a heresia. Isso seria a manobra do dem ónio
que suga para sempre o sangue vivo dos seres humanos.

294
Imperdoáveis são os fundadores das religiões heréticas.
A religião é livre. — Não há dúvida de que é livre para sempre. Entretanto, deve-se considerar que há
também a liberdade na propagação. Aqui surge a necessidade de promover a Revolução Religiosa. Eis
aqui, a decisão de Toda.
Não somente as novas religiões, as antigas também não foram excessões. Apesar disso as religiões
antigas com muito custo tiveram que se sustentar agindo como Agências Funerárias, pois, as suas terras
foram confiscadas pela lei da Reforma Agrária.
O Cristianismo no Japão, com a recepção do Supremo Comandante Cristão Gen. MacArthur, estava
trabalhando com toda elegância. Receberam quantidades imensas de donativos dos países estrangeiros e
tiveram também colaborações especiais das Forças de Ocupação-Sabe-se que foram espalhadas 2
milhões e 400 mH bíblias em todo o país. Os missionários expandiram suas atividades a todos os cantos
do país. Surgiram muitos frequentadores japoneses nas igrejas, levados pela necessidade de
intercomunicação com os estrangeiros. Muitos rapazes, entraram pêlos portões das igrejas católicas
atraídos pelo interesse em conhecer â língua estrangeira e pela vontade de sentir o ambiente exótico. Era
uma espécie de moda. Entretanto, as raízes eram superficiais. Com a 'retirada do velho cabo da guerra
que desaparecia' essa moda desapareceu como nuvens e neblinas com a despedida de MacArthur.
Jossei Toda vivia calmo no meio da época de confusão religiosa. Trabalhava da melhor maneira
possível, esforçando como sempre, segura e progressivamente. Apesar de chegar o dia 3 de julho — não
havia sobra de

295
tempo para sentir a nostalgia dos fatos passados há um ano.
Em sua mente havia somente o futuro. Apenas um verde retrato do Kossen-Rufu. Dedicava todas as suas
energias, exclusivamente para a formação dos valores humanos.
A Revolução Religiosa de Martinho Lutero (1483-1546), na Alemanha, era apenas uma reforma dentro
da comunidade cristã.
A Revolução Religiosa que agora Toda pretendia levar avante era uma nova luta baseada no Budismo
de Nitiren Daishonin, tendo como inimigos todas as religiões heréticas do Japão.
Era necessário lutar como leão, o rei das selvas. Era necessário ensinar a Grande Filosofia-da-Vida para
que todos compreendessem. Era necessário demonstrar claramente as provas da verdade. Além disso, era
necessário incutir no centro da Organização, um grande pilar de aço, o espírito da Nitiren Shoshu que
inflama pura e entusiasticamente.
Teve somente os momentos de descanso quando visitou o Templo Supremo, por ocasião do Curso de
Verão. Foram momentos passados no Daissekijí contemplando O majestoso Monte Fuji junto de seus
companheiros, ou quando fazia preces sinceras de Gongyo e Daimoku, iluminado pela benevolência do
Dai-Gohonzon ou durante as orientações.
No Curso de Verão, antes da guerra, havia participações de 30 a 150 por ano em torno do Presidente
Maki-guti. Entretanto, após a opressão de 1943, o curso foi naturalmente abandonado.
No dia 7 a 10 de agosto de 1946, 29 membros participaram no Primeiro Curso de Verão de Após-Guerra.
Dentre eles estavam os recém-convertidos. Já estavam

296
aparecendo seguramente os resultados das atividades do
Chakubuku.

Eis aqui uma breve história do Templo Supremo de


Daissekiji.
Nitiren Daishonin faleceu em Ikegami, Bushu, onde atualmente é Tóquio. Conforme o último testamento
de Nitiren raishonin, o sucessor direto, Nikko Shonin, tornou-se o Segundo Sumo Prelado do Templo
Kuonji, em Monte Minobu.
Entretanto, Sanenaga (Nitien) Hakii, o governador de Minobu que havia sido convertido para o Budismo
de Nitiren Daishonin por intermédio do Chakubuku de Nikko-Shonin, cometeu erros nos procedimentos
de fé, após a morte de Nitiren Daishonin.
É desnecessário dizer que os erros na conduta da fé foram devidos à falta de conhecimento da doutrina
do Verdadeiro Budismo. Além disso, quem persuadiu para tal procedimento foi Mimbu Ajari Niko,
proveniente de Mobara, Kazussa (atua! Prefeitura de Tiba) para Minobu, três anos após o falecimento de
Daishonin,
Logo que ele chegou, Nikko Shonin nomeou este bonzo versátil e multi-habilidoso, como instrutor-chefe
do Seminário. Entretanto, ele não desejava honrar o rigoroso Nikko Shonin como seu mestre e em
virtude da sua ideia avançada e da sua inteligência geniosa tomou atitudes contrárias às intenções do
Fundador.
O Estatuto da Escola de Fuji, escrito por Sanmi Niti-jun (Puji-Isseki-Monto-Zonji) declara:
1 — Ao pé do Monte Minobu, na vila Hakii, Província de Kai (atual Prefeitura de Yamanashi) está
situado o túmulo do Mestre. Mas, Nikko é obrigado a romper com Nambu Rokuro Nyudo (nome budista
de Nitien) governa-

297
dor da província onde está localizado o túmulo, um dos primeiros discípulos de Nikko, peio
descumprimento das recomendações do falecido Mestre e por causa dos motivos de transgressão aos
preceitos, resolve deixar o lugar onde o Mestre viveu por nove anos e que em seguida vem se dedicando
por meses e anos até hoje. As razões são as seguintes:
Construiu a imagem de Sakyamuni e ofereceu-lhe contribuições (Gokuyô), considerando-a como objeto
de adoração (razão 1), Em seguida, visitou Templos Xin-toístas que haviam sido proibidos por Nitiren
Daishonin durante os nove anos de permanência em Monte Minobu. No ano do falecimento de Nitiren
Daishonin, visitou templos de Nisho e Mishima (razão 2). Com pretexto de elevar a virtude da família,
ergueu um monumento na vila Nambu, chamado Fukushi-no-Tô (Pagode da Sorte) e ofereceu à seita
herética do Budismo (razão 3). Além disso, com o motivo de incentivar a fé budista, construiu e em-
belezou um templo para a seita herética de Kuhon-Nem-butsu que se localiza na província de Kai (razão
4). Advertido por Nikko sobre essas quatro heresias (Shiko-no-Hobô), Hakii disse-lhe que havia sido
permitido. Por essas razões resolve romper as relações de Mestre-Discípulo com Hakii Nyudo e seus
descendentes por muito tempo, em virtude de não corresponder à intenção do falecido Nitiren Daishonin.
Como se vê claramente neste documento, Hakii não procurava corrigir os seus atos de Hobô, apesar das
advertências de Nikko Shonin por várias vezes.
Se deixasse passar desta maneira, é evidente que o Monte Minobu se transformaria num local impuro e
profano.
Finalmente, na primavera de 5 de dezembro de 1288 — Nikko Shonin deixou definitivamente o Monte
Minobu, obedecendo à intenção de Nitiren Daishonin que dizia:

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'Meu espírito não viverá neste' Monte, quando o seu governador vier a transgredir as Leis do Verdadeiro
Budismo'.
Com 43 anos de idade Nikko-Shonin mudou para Kawai, perto de Fuji.
Há a seguinte dec.laração no testamento do Budismo de Daishonin: 'Quando o chefe da Nação adotar
este Budismo Supremo (com o consentimento da maioria do povo), o Kaidan deverá ser construído no
Honmonji (Templo Principal) em Monte Fuji'.
Além disso, na 'História de Fuji e Nikko-Shonin', escrita por 59.° Hori Nitikô-Shonin há o seguinte
detalhe sobre a designação da área do Monte Fuji para o futuro estabelecimento do Templo Supremo de
Daissekiji:
'Montes e vales acidentados de Minobu com densas florestas onde se ouve os gritos dos macacos, seria
certamente o local puro e sagrado? O planalto amplo de Monte Fuji onde pela majestade se impõe a
admiração ao céu e à terra, não seria o local mais indicado para a terra de Rycjussen? Não deveriam aqui, na
base desta montanha fazer prosperar os filhos puros do Verdadeiro Budismo, tanto dos clérigos como dos
seguidores?
Se a pessoa é pura, a lei será pura- Da mesma forma, se a lei é pura, o local deverá ser puro. Como
poderá deixar de dar atenções a esse loca! tão privilegiado? Que feliz coincidência! Não seria uma
estratégia absolutamente mais inteligente para o líder da propagação do Verdadeiro Budismo de Daishonin,
construir imediatamente o castelo suntuoso em defesa da Lei, aperfeiçoar majestosamente a Academia do
Kossen-Ftufu, para satisfazer o ardente desejo do Grande Mestre e isso não seria o caminho mais direto para
oferecer gratidões à Benevolência do Buda?
Está claramente escrito que a despedida de Monte Minobu foi, na verdade, uma boa sorte para a época
atual.
Daissekiji foi construído pelo Segundo Sumo Prelado
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Nikko Shonin, que recebeu todas as heranças de Nitiren Daishonin. com a dedicação, auxílio e proteção de
Nanjo Shitiro Jiro Tokimitsu, o Governador da Província de Ue-no, Junto ao Fuji. O nome Daissekiji
(tempo da grande rocha) é derivada de Oishigahara (planície da grande rocha)-
Além disso,-há a seguinte referência na História de Nikko Shonin sobre a sua mudança de Kawai para Shí-
monojôe em seguida para Oishigahara a fim de efetívar a construção de Daissekiji:
'Vila de Kawai era um local inadequado. Não passava de uma área estreita e fechada — servia apenas para a
residência temporária. Nanjo, que possuía os laços estreitos de discípulo e mestre para com Nikko Shonin,
não podia deixar de tomar as providências e imediatamente convidou-o para Ueno, oferecendo gentilmente
o abrigo no templo particular da família Nanjo, chamado Jibutsudô. Nikko Shonin morou cerca de dez anos
nesse templo servindo como academia e alojamento para o Daissekiji, com o nome de Shimo-no-Bô.
Esse local era mais amplo do que Kawai, mas nào possuía o panorama que superasse as belezas naturais de
Oishigahara. É um planalto que alcançava a vista até mil milhas de distância, que imediatamente atrás, situa
os vertentes do Monte Fuji e em cuja frente se avista a Baia de Suruga. Além disso, há matas virgens com as
florestas de árvores antigas. Há estradas e também os rios e cachoeiras. É um local ideal para a Terra
Sagrada com os seus quatro requisitos preenchidos no 'Shishin-So-Ou'. O Mestre, com os seus discípulos
admiravam frequentemente a beleza local e derramava chuvas de Doutrinas Puras, sentado sobre a grande
rocha, (mais tarde foram retiradas as terras ao seu redor e deixou inteiramente exposto, denominando-o
Seppo-Ishi, a Pedra da Pregação).

300
Com a cooperação dos seus discípulos Nitimoku, Nikke e outros, além dos devotos Tokimitsu e Nobutsuna
(Nitta), através desses esforços em conjunto, a obra foi realizada sucessivamente e o Templo acabou de ser
construído no mês de outubro de 1320.
Os discípulos de Nikko-Shonin construíram os seus próprios alojamentos ao redor do Templo Principal.
Nitimoku, o mais direto e dedicado discípulo construiu o Ren-zobô com a frente para leste, Nitizen
construiu Shoubô ao sul, Nishu, Nissen e Nikke, sucessivamente o Rikyobô, Jozembo e Jakunitibô, para
defender o Templo Principal, salvaguardar o Dai-Gohonzon, conservar as relíquias, dedicar à memória dos
falecidos e assim, naturalmente, foram solidificados os alicerces para a conservação do Budismo de Nitiren
Daishonin desde a despedida do Monte Mino-bu. Mais tarde, foram construídos outros alojamentos como
Rishobô, Kujobó e outros à frente, leste e oeste do Templo Principal.
Nikko Shonin, como fundador de Daissekiji, continuou a construção do Templo Supremo e incentivou
numerosos discípulos, jovens e veteranos para as viagens de propagação fazendo entoar os gongos do
Budismo para as regiões distantes do seu conhecimento, principalmente para Ko-Shun (atual Prefeituras
Yamanashi e Shizuoka). Nessa época, foi enviada uma série de cartas fazendo advertências ao Governo da
época, apesar disso infelizmente, não foi atendida...'
'Shishin-So-Ou' que foi citado há pouco significa literalmente a concordância dos quatro deuses.
Corresponde às quatro condições para um local ideal. Oishigahara que Nikko Shonin escolheu para fundar
o Templo Supremo de Daissekiji, satisfaz exatamente estas condições.
De acordo com a obra chinesa 'Onyosho', o lugar mais ideal seria:

301
— À esquerda. Correndo as águas limpas do rio descendo do leste ao sul.
— À frente. A existência de grande reservatório de água como represa ou mar.
— À direita. Uma ampla estrada dirigindo para oeste.
— Atrás. A montanha.
Após a consolidação das bases do Kossen-Rufu em Oishigahara, o desenvolvimento de Daissekiji foi algo
notável. O Budismo de Nitiren Daishonin foi transmitido de gerações a gerações por mais de setecentos
anos através dos sucessivos Sumo-Prelados, assim como a água pura passa inteiramente de um cálice ao
outro sem perda e sem mancha.
"Jo-Jakkodo!" (Terra feliz para sempre). "Ryojussen!" (Montanhas dos Budas),. " Fuji-Daissekiji, onde está
consagrado Dai-Gohonzon, No coração de Toda estava guardada a chama do destino para a Humanidade, é
realmente, a terra sagrada do mundo. No futuro em breve, as pessoas de todo o mundo virão reunir aqui e
aqui será a fonte da verdadeira paz eterna, para o futuro eterno.
Durante todo o curso de verão, ele permaneceu com traje em japonês. Conversava com todos os participan-
tes, gentilmente, como se estivesse em família. Orientava os problemas da vida e da família, ora minuciosa-
mente ora amavelmente conforme a ocasião ou rigorosamente conforme a pessoa.
Nesse primeiro curso de verão foram realizadas reuniões de explanação do Gosho, perguntas e respostas,
zadankai e até excursões para Shiraito-no-Taki (Cachoeira das Linhas Brancas).

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O programa de maior importância dentre todos eram as preces de Daimoku,
Cem Toda â frente, permaneciam duas a três horas de manhã e de noite fazendo Daimoku, mesmo procuran-
do mover as pernas adormecidas,
A intenção de Toda era apenas o desejo de alcançar a Paz Mundial. Sua atitude era una seriedade para a
luta.
No momento da despedida em frente ao Sanmon, o portão principal de Daissekiji. após a estadia de quatro
dias do Curso de Verão, o semblante de todos irradiavam saúde e pureza, como se estivessem saindo de um
banho quente.
Eram faces que mostravam a união ou Itai-Doshin*.
Em seguida, as atividades desse grupo foram sendo desenvolvidas, visando os objetivos de outubro, dentro
da sociedade confusa de após-guerra com a crise inflacio-nária e desordem ideológica. Suas atividades eram
apenas um ponto focal iluminado que estava perdido na vasta planície. Este ponto focal se estendera de uma
grama a outra. Isso seria uma força da natureza?
Nesse ano, 1.° de Julho, os Estados Unidos fizeram nova experiência com a bomba atómica no Ato! de
Bikini, no arquipélago de Marshall,
Dez de agosto — Marshal e Stuart fizeram uma declaração conjunta a respeito da inexequibilidade de
tréguas entre a China Comunista e Nacionalista.

* Uai Ooshin: Diferente*, pç.--': nas com mesmo pensamento

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