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Aula 05

Tema: Flexibilização do Estatuto do


Desarmamento

Professora Candice Almeida

Professor João Filipe Magnani


contato@redacaodecampeao.com.br; www.redacaodecampeao.com.br
TEMA: Flexibilização do Estatuto do Desarmamento
Posse de armas: saiba o que muda com o decreto assinado por Bolsonaro
Decreto assinado por Jair Bolsonaro facilita a aquisição e registro de armas. Texto não trata do porte.
(G1, 15.jan.2019)
O presidente Jair Bolsonaro assinou nesta terça-feira (15) o decreto COMO FICA
que facilita a posse de armas no país. O texto, no entanto, não trata "§ 1º Presume-se a veracidade dos fatos e das circunstâncias
do porte. afirmadas na declaração de efetiva necessidade a que se refere o
Entenda, abaixo, a diferença entre posse e porte e saiba o que muda inciso I do caput, a qual será examinada pela Polícia Federal nos termos
no decreto que regulamenta o Estatuto do Desarmamento: deste artigo."
• Posse de arma de fogo: autorização para manter uma arma O decreto acrescenta os parágrafos 7º, 8º, 9º e 10º:
de fogo em casa (ou numa residência de campo, por exemplo) ou no "§ 7º Para a aquisição de armas de fogo de uso permitido,
local de trabalho (desde que o dono da arma seja o responsável legal considera-se presente a efetiva necessidade nas seguintes hipóteses:
pelo estabelecimento). I - agentes públicos, inclusive os inativos:
• Porte de arma: documento que dá o direito de portar, a) da área de segurança pública;
transportar, comprar, fornecer, emprestar ou manter uma arma ou b) integrantes das carreiras da Agência Brasileira de Inteligência;
munições sob sua guarda. Para sair à rua levando uma arma junto ao c) da administração penitenciária;
corpo ou para usá-la para caçar, por exemplo, é necessário ter porte de d) do sistema socioeducativo, desde que lotados nas unidades de
arma. internação a que se refere o inciso VI do caput do art. 112 da Lei nº
Critérios para posse de armas 8.069, de 13 de julho de 1990; e
COMO ERA e) envolvidos no exercício de atividades de poder de polícia
Antes do decreto assinado nesta terça por Bolsonaro, o artigo 12, administrativa ou de correição em caráter permanente;
que trata dos critérios para a compra de armas, dizia que o interessado II - militares ativos e inativos;
em ter a posse deveria: III - residentes em área rural;
"I – declarar efetiva necessidade; IV - residentes em áreas urbanas com elevados índices de violência,
II – ter, no mínimo, vinte e cinco anos; assim consideradas aquelas localizadas em unidades federativas com
III – apresentar original e cópia, ou cópia autenticada, de índices anuais de mais de dez homicídios por cem mil habitantes, no
documento de identificação pessoal; ano de 2016, conforme os dados do Atlas da Violência 2018, produzido
IV – comprovar, em seu pedido de aquisição do Certificado de pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e pelo Fórum Brasileiro
Registro de Arma de Fogo e periodicamente, a idoneidade e a de Segurança Pública;
inexistência de inquérito policial ou processo criminal, por meio de V - titulares ou responsáveis legais de estabelecimentos comerciais
certidões de antecedentes criminais da Justiça Federal, Estadual, Militar ou industriais; e
e Eleitoral, que poderão ser fornecidas por meio eletrônico; VI - colecionadores, atiradores e caçadores, devidamente
V – apresentar documento comprobatório de ocupação lícita e de registrados no Comando do Exército.
residência certa;
VI – comprovar, em seu pedido de aquisição do Certificado de
Registro de Arma de Fogo e periodicamente, a capacidade técnica para
o manuseio de arma de fogo.
VII – comprovar aptidão psicológica para o manuseio de arma de
fogo, atestada em laudo conclusivo fornecido por psicólogo do quadro
da Polícia Federal ou por esta credenciado".
COMO FICA
Com o decreto, além das exigências anteriores, foi incluída uma
nova regra para casas com crianças e adolescentes:
"VIII – Em caso de residência habitada por criança, adolescente ou
deficiente mental, a pessoa que quiser ter arma terá de possuir um
cofre ou local seguro com tranca para armazená-la".

Justificativa para ter armas


O decreto anterior não explicitava o que eram os casos de
necessidade para se ter uma arma em casa.
Já o texto do governo Bolsonaro traz uma lista de hipóteses que
podem ser consideradas como "efetiva necessidade". Por exemplo: ser
dono de estabelecimento comercial e industrial, morar em área rural ou
em área urbana de estados com altos índices de violência (pelos critérios
adotados pelo governo, isso vale para todos os estados do Brasil).
O novo texto também diz que a Polícia Federal vai continuar
examinando se há, de fato, a necessidade da posse de armas, mas deve
presumir como verdadeiros os fatos apresentados no pedido.
COMO ERA
"§ 1º A declaração de que trata o inciso I do caput deverá explicitar
os fatos e circunstâncias justificadoras do pedido, que serão
examinados pela Polícia Federal segundo as orientações a serem
expedidas pelo Ministério da Justiça. (Redação dada pelo Decreto nº
6.715, de 2008)."
A soberania do indivíduo gera o seu direito de portar armas defensivamente
Defender-se é um direito natural que não pode ser revogado pelo estado
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2657
(...)Cada indivíduo é dono de si próprio. Para exercer este direito , cada indivíduo deve ser livre, isto é, deve desfrutar a ausência de
de propriedade sobre seu próprio corpo — que é natural e indelével — coerção.
No entanto, como o mundo não é perfeito, o indivíduo deve A arma de fogo, por si só, é um objeto inanimado. Assim como
pensar em maneiras de se proteger de possíveis agressores. E dado que um automóvel ou uma faca, arma de fogo não é maligna. Maligno é o
nós todos somos diferentes em nossas forças e aptidões físicas, surge a uso ofensivo que alguém pode fazer dela (assim como também podem
necessidade de usarmos armas para nos defendermos de agressores fazer com carros e facas). Aqueles que pretendem usar armas como
externos mais violentos, mais fortes e mais fisicamente capazes. agressores deverão ter em conta que suas potenciais vítimas poderão
Agora, sempre haverá aqueles indivíduos pacíficos que preferem estar tão bem ou mais bem armadas que eles próprios. Este é um
abrir mão deste seu direito à defesa pessoal e transferi-lo à instituição elemento altamente dissuasivo, sem dúvidas. A arma limita as ações
do estado. É certo que eles têm essa prerrogativa. Ao fazerem isso, estão daqueles que querem interagir comigo por meio da força.
exercendo seu direito natural de agir livremente. Por fim, se, em um passe de mágica, todas as armas sumissem do
Completamente diferente e inaceitável, porém, é que estes mundo, por acaso a violência desapareceria? Óbvio que não. Os mais
indivíduos queiram obrigar todos os outros indivíduos a fazer violentos, mais fortes, e mais fisicamente capacitados estariam agora
exatamente o mesmo que eles. Tal comportamento é inaceitável mais livres para exercer seu domínio sobre os mais fracos, os quais
exatamente porque representa a abolição do direito mais básico do agora teriam de recorrer a facas, paus e pedras para tentar se defender
indivíduo: que é o de poder defender seu próprio corpo contra dos mais fortes.
agressões. E então deveríamos abolir facas, paus e pedras? Os defensores do
Estes defensores do desarmamento civil e do monopólio estatal desarmamento, que se acostumaram a usar esta lógica em seu cotidiano,
das armas e da violência falham fragorosamente em pelo menos três terão de seguir exatamente por este caminho, e propor a abolição das
aspectos fundamentais (certamente falham em vários outros aspectos, facas, dos paus e das pedras.
mas três já serão suficientes aqui): Conclusão
1) Se a população está completamente desarmada, pois delegou Esta é uma defesa do direito de portar e usar armas
sua defesa ao estado, quem irá defendê-la do estado? defensivamente. Ela se baseia no direito natural aristotélico-tomista, e
2) Se o estado não exercer esta sua prerrogativa de defender os não em argumentos utilitaristas — muito embora também seja
cidadãos — seja porque a polícia é incompetente, seja porque ela entrou perfeitamente possível defender o porte de armas em um contexto
em greve —, quem irá defendê-los dos mais fortes, dos mais violentos utilitarista.
e dos mais fisicamente capacitados? O ser humano possui direitos chamados de 'naturais' pelo simples
3) Se eles querem abrir mão de sua defesa própria e delegar tal fato de ter nascido. O indivíduo tem o direito de que não tirem sua
atribuição exclusivamente ao estado — e eles certamente devem ser vida, não restrinjam sua liberdade, e não confisquem sua propriedade
livres para isso —, qual o direito que eles têm de impor esta diretiva a honestamente adquirida. Tais direitos não nos são dados pelo estado.
todo o resto dos cidadãos, abolindo a capacidade destes de defender seu Nenhum governo pode revogar estes três direitos básicos. Se um direito
próprio corpo contra agressões? é natural, ele inerente à condição humana. O estado pode até não
O desarmamentista deve responder a estas três perguntas reconhecer estes direitos, mas eles não deixam de existir.
satisfatoriamente — utilizando a lógica e os direitos naturais — caso Defender-se contra agressões à sua pessoa e propriedade é um
queira convencer a todos de que ninguém tem o direito à autodefesa. direito inalienável. Se quiser exercê-lo por meio de uma arma de fogo,
tanto melhor para ele.
Armas e direitos (O Estado de S.Paulo, 21 jan 2019 )
(...)O novo governo, em seu decreto, foi site GunPolicy.Org, estima-se que existam entre 2 milhões e 3
extremamente sensato, regrando objetivamente a posse de milhões de armas de fogo em mãos civis na Suíça, cuja população
armas, deixando pouca margem para interpretações subjetivas é de pouco mais de 8 milhões de pessoas. Proporcionalmente,
ou politicamente corretas. Disciplinou a posse em domicílios e esse país é um dos cinco mais armados do mundo. Pois bem, em
estabelecimentos comerciais de tal modo que cada pessoa possa 2015 a Suíça registrou apenas 18 homicídios por arma de fogo.
ter quatro armas. Aliás, nem muito é, pois se uma família possuir No caso do Paraguai, país vizinho, os números são
duas ou três casas e igual número de negócios, sua cota já estará igualmente importantes. O país tem quase 7 milhões de pessoas
preenchida. Trata-se, diria, de um direito primeiro, o de a pessoa e mais de 1 milhão de armas de fogo em mãos civis. Em 2014 o
poder, em seus lugares próprios, usufruir sua vida, defendendo Paraguai registrou 318 mortes por armas de fogo.
seu corpo, sua família e seu patrimônio. Proporcionalmente, há mais armas de fogo em mãos civis no
Sem isso o cidadão fica claramente desprotegido, à Paraguai do que no Brasil, porém há muito mais mortes por
mercê de qualquer ameaça. Quem se beneficia dessa situação são armas de fogo no Brasil do que no Paraguai. A taxa de mortes por
os bandidos, os criminosos, que podem invadir qualquer armas de fogo no Brasil foi de 21,2 por 100 mil em 2014; no
domicílio e estabelecimento sem medo algum. Meliantes têm Paraguai, 4,7 por 100 mil também em 2014. Interessante, não?
“direito” à violência e à apropriação de corpos e bens alheios! Os desarmamentistas costumam argumentar que
O Estatuto do Desarmamento cometeu a proeza de após o Estatuto do Desarmamento houve significativa queda na
desarmar as pessoas de bem, deixando os criminosos à vontade, taxa de crescimento de homicídios por armas de fogo. Ou seja,
esses se armam a seu bel-prazer. Isso quando não são auxiliados ainda que as taxas tenham mantido a tendência de crescimento,
por esses representantes do politicamente correto, que correm teria havido expressiva desaceleração, o que não deixaria de ser,
em seu apoio toda vez que são mortos, feridos ou presos. Quando em todo caso, paradoxal!
um policial morre, silêncio absoluto; quando um criminoso sofre Acontece que essa desaceleração só é percebida
o mesmo destino, surge imediatamente uma imensa barulheira, quando se observam os dados nacionais, em que o Estado de São
como se seus supostos direitos não tivessem sido observados. É Paulo, onde as mortes por armas de fogo desabaram no período,
um mundo invertido! ajuda a derrubar o índice nacional. E desabaram por uma política
Os politicamente corretos adoram estatísticas, de Estado, centrada principalmente na inteligência e na
sobretudo para triturá-las e enganar os incautos. O fracasso do repressão ao crime. Agiram contra os criminosos, e não contra as
Estatuto do Desarmamento é patente. Temos 15 anos de sua pessoas de bem!
vigência e a taxa de homicídios ultrapassa 60 mil por ano. Mais Há, porém, muitos Estados onde os homicídios por
do que o número de soldados americanos mortos no Vietnã! armas de fogo aumentaram vertiginosamente em plena vigência
Falar que a nova política governamental vai piorar a situação soa do estatuto e desse Zeitgeist desarmanentista. Vejamos: de
risível! acordo com o Mapa da Violência, em 2004 a Bahia tinha 11,7
A ideia de que povo armado piora o índice de homicídios por 100 mil habitantes. Em 2008 o índice subiu para
homicídios é outra falácia desarmamentista. Segundo dados do 26,4. Em 2010 alcançou 32,4. O Estatuto do Desarmamento é de

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dezembro de 2013, promulgado pelo ex-presidente Lula, hoje Por último, há uma questão moral em jogo.
condenado e na cadeia. Instrumento não mata! Quem mata é quem o manuseia. Há mais
Estados como Rio Grande do Norte e Maranhão mortes por automóveis do que por armas de fogo! Vamos bani-
registraram aumento de homicídios por armas de fogo de, pela los? O que se faz? Estabelecem-se regras para a direção de
ordem, 379,8% e 300% no período de 2004-2014. Também veículos, da mesma maneira que se passa a fazer, agora, com a
houve crescimento expressivo no Pará, 96,9%; em Goiás, 70,6%; flexibilização do Estatuto do Desarmamento! Facas tornaram-se,
e no Rio Grande do Sul, 38,6%. nestes últimos anos, um instrumento usado para assassinatos.
Logo, a diminuição no estoque de armas não causou Alguém pensa em suprimi-las? Imagine-se cozinhar sem facas!
a diminuição dos homicídios. Tampouco o lema “mais armas, Pessoas que fazem mau uso de suas armas, assim
mais mortes”, frequentemente enunciado pelos defensores do como de seus veículos ou de suas facas, devem ser
desarmamento, é verdadeiro. O Brasil possui muito menos armas responsabilizadas por suas ações. É o processo de escolha em ato.
em mãos de civis na comparação com os EUA, mas quase seis Cada um deve assumir o que faz. Não cabe ao Estado tutelar o
vezes mais homicídios por armas de fogo. Diz-se que nos EUA comportamento individual!
existem mais de 350 milhões de armas. Fosse o lema verdadeiro,
os EUA seriam o pior lugar para viver no planeta!
DENIS LERRER ROSENFIELD - PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS
Flexibilização da posse de armas vai reduzir a criminalidade no país? -
(O Estado de S.Paulo, 16.jan.2019)

Bene Barbosa – especialista em segurança pública e presidente do Movimento Viva Brasil - SIM
É muito importante frisar que as propostas sobre foi tímido, me refiro, principalmente, à questão do porte. O
modificações em relação a posse e ao porte de arma nunca foram decreto já deveria ter avançado nessa questão. Não o fez por uma
apresentadas como solução para a segurança pública. Porém, questão política. Também achei desnecessário a parte que fala
podemos ter consequências positivas a partir do decreto assinado sobre a necessidade de um cofre ou um lugar seguro para a arma
ontem (terça-feira). Desde 2003, a partir do estatuto do dentro de casa. Considero desnecessário porque é óbvio. Claro
desarmamento e das campanhas todas para desarmar a que quem tem criança em casa ou alguma pessoa com deficiência
população, ocorreu um desbalanceamento. O cidadão de bem precisa ter um local adequado para guardar a arma. Isso não
aceitou e entregou sua arma, abriu mão de ter armas. Já o precisava estar escrito no decreto.
criminoso, não. Nada mudou para o criminoso. Ele continuou Sobre a fala de Onyx Lorenzoni, acho que ele tem razão.
tendo acesso e se abastecendo de armas no mercado ilegal. O Neste tema, a gente tem lidado com paixões. Então, tudo acaba
criminoso não teme a lei e, consequentemente, não precisou sendo interpretado de um lado ou de outro. O que ele deu foi só
fazer o que o cidadão de bem fez. Agora, com o decreto, isso vai um exemplo. Em termos de polêmica, um pouco parecido com
começar a se reverter. O cidadão vai poder se defender, não aquela fala da Ministra Damares Alves ( Ministra da Mulher, da
precisará estar mais totalmente despreparado. Por isso, acredito, Família e dos Direitos Humanos), aquela dos meninos usam azul
vai haver um impacto na violência - principalmente naquela em e as meninas usam rosa... Mas ele está certo. O índice de acidentes
que o criminoso tem mais contato com a vítima (invadindo envolvendo armas de fogo entre crianças de 0 a 14 anos é muito
residências, por exemplo). Claro, os resultados não aparecem da baixo. O que mata mais são acidentes automobilísticos,
noite para o dia. Mas irão aparecer. intoxicação por produtos domésticos, afogamentos... Acidentes
De um modo geral, considero o decreto positivo com armas de fogo estão no fim da lista e podem ser evitados com
– porém ele ainda foi tímido. Ele poderia ser mais profundo, mas cuidados básicos."
inegavelmente atende a demanda da população, que desde 2005,
após o plebiscito, esperava e decidiu por isso. Quando digo que

Ariel de Castro Alves - Advogado e membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos - NÃO
Apesar dos indícios dos abusos de violência policial, eu Ou seja, a violência vai se tornar pior. Do ponto de vista da
defendo que a polícia precisa ser bem remunerada, equipada e segurança pública é bastante temeroso. A posse vai atrair o porte.
ter o monopólio das armas de fogo. O decreto não terá nenhum As pessoas vão circular armadas pelas cidades. Quantas vezes
reflexo positivo na segurança pública. Minha segurança não sou você foi revistado na rua? Eu tenho quarenta anos e nunca fui.
eu quem tem que fazer. Quem tem que garantir minha segurança Quem vai controlar se a pessoa tem um cofre em casa para
é o estado e as polícias. Não é o papel do indivíduo se proteger. guardar sua arma de um jeito seguro? Vai aumentar o número de
Isso é o reconhecimento que a política pública de segurança é crimes fúteis, coisas que poderiam ser resolvidas de outras
inexistente – e que a partir de agora nós estamos vivendo um maneiras. Vai aumentar a violência no campo, nos conflitos
faroeste. agrários. Vai aumentar a violência contra as minorias.
Mais do que isso, o decreto estimula que em todo A fala de Onyx Lorenzoni sobre liquidificador e armas é
estabelecimento comercial o dono tenha uma arma. Ora, o inaceitável. Um liquidificador no máximo pode, em última
criminoso conta com o fator surpresa. O cidadão não vai hipótese, arrancar o dedo de alguém. Um liquidificador não
conseguir reagir mesmo tendo posse de arma. Além disso, o atinge o coração, o pulmão ou a cabeça de ninguém. É uma
criminoso deve chegar com mais violência – porque imagina que comparação esdrúxula. A letalidade é incomparável. Isso é a
agora pode correr algum risco de encontrar um cidadão armado. institucionalização do faroeste.

Todos contra todos (Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo, 09 DEZ 2014)


Não creio que faça muito sentido, como sustenta a de ser muito mais violentos que nós. Estima-se que a taxa
bancada da bala, rever o Estatuto do Desarmamento, que média de homicídios em sociedades sem Estado chegue a 15%,
estabeleceu regras razoavelmente rígidas para a aquisição e o que representa 517 vezes mais que os 29 por 100 mil
porte de armas de fogo. Ainda que um ou outro detalhe da registrados no Brasil hoje.
regulamentação possa ser revisto, a ideia geral de dificultar o É claro que criminosos não deixam de carregar e usar
acesso a revólveres e espingardas é correta. armas porque fazê-lo é ilegal. Uma das definições de bandido
Não se trata, é óbvio, de uma panaceia. A inexistência é justamente não respeitar as leis. O que a menor
de armas de fogo até o século 15 não impediu nossos ancestrais disponibilidade de armas faz é prevenir um tipo muito

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específico de assassinato, que é aquele que tem como Deixando de lado as vicissitudes do aqui e agora para
motivação conflitos interpessoais como brigas de trânsito, adotar visões de longo prazo, pode-se afirmar que os ganhos
desavenças matrimoniais etc. Aqui, a presença da arma de civilizacionais da humanidade no controle da violência
fogo pode fazer a diferença entre os hematomas e escoriações ocorreram quando delegamos a terceiros a tarefa de punir. O
típicos de quem "sai no braço" e a morte. ponto máximo desse processo foi a criação de Estados com
É difícil calcular o peso desses conflitos no total de suas polícias. O desarmamento se inscreve nessa lógica.
assassinatos, já que as investigações deixam muito a desejar. Embora a proteção oferecida pelo poder público seja das mais
Na cidade de São Paulo, 17% dos homicídios dolosos resultam imperfeitas, não me parece que seja o caso de retroceder à
de discussões ou brigas de casal, podendo ser mais já que não justiça com as próprias mãos.
há informação sobre 43% dos óbitos.

MÃOS À OBRA
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao
longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da
língua portuguesa sobre o tema: “Flexibilização do Estatuto do Desarmamento”, apresentando
proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Seu texto deve ter entre 07
e 30 linhas escritas.

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