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Flexibilização Do Estatuto Do Desarmamento
Flexibilização Do Estatuto Do Desarmamento
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dezembro de 2013, promulgado pelo ex-presidente Lula, hoje Por último, há uma questão moral em jogo.
condenado e na cadeia. Instrumento não mata! Quem mata é quem o manuseia. Há mais
Estados como Rio Grande do Norte e Maranhão mortes por automóveis do que por armas de fogo! Vamos bani-
registraram aumento de homicídios por armas de fogo de, pela los? O que se faz? Estabelecem-se regras para a direção de
ordem, 379,8% e 300% no período de 2004-2014. Também veículos, da mesma maneira que se passa a fazer, agora, com a
houve crescimento expressivo no Pará, 96,9%; em Goiás, 70,6%; flexibilização do Estatuto do Desarmamento! Facas tornaram-se,
e no Rio Grande do Sul, 38,6%. nestes últimos anos, um instrumento usado para assassinatos.
Logo, a diminuição no estoque de armas não causou Alguém pensa em suprimi-las? Imagine-se cozinhar sem facas!
a diminuição dos homicídios. Tampouco o lema “mais armas, Pessoas que fazem mau uso de suas armas, assim
mais mortes”, frequentemente enunciado pelos defensores do como de seus veículos ou de suas facas, devem ser
desarmamento, é verdadeiro. O Brasil possui muito menos armas responsabilizadas por suas ações. É o processo de escolha em ato.
em mãos de civis na comparação com os EUA, mas quase seis Cada um deve assumir o que faz. Não cabe ao Estado tutelar o
vezes mais homicídios por armas de fogo. Diz-se que nos EUA comportamento individual!
existem mais de 350 milhões de armas. Fosse o lema verdadeiro,
os EUA seriam o pior lugar para viver no planeta!
DENIS LERRER ROSENFIELD - PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS
Flexibilização da posse de armas vai reduzir a criminalidade no país? -
(O Estado de S.Paulo, 16.jan.2019)
Bene Barbosa – especialista em segurança pública e presidente do Movimento Viva Brasil - SIM
É muito importante frisar que as propostas sobre foi tímido, me refiro, principalmente, à questão do porte. O
modificações em relação a posse e ao porte de arma nunca foram decreto já deveria ter avançado nessa questão. Não o fez por uma
apresentadas como solução para a segurança pública. Porém, questão política. Também achei desnecessário a parte que fala
podemos ter consequências positivas a partir do decreto assinado sobre a necessidade de um cofre ou um lugar seguro para a arma
ontem (terça-feira). Desde 2003, a partir do estatuto do dentro de casa. Considero desnecessário porque é óbvio. Claro
desarmamento e das campanhas todas para desarmar a que quem tem criança em casa ou alguma pessoa com deficiência
população, ocorreu um desbalanceamento. O cidadão de bem precisa ter um local adequado para guardar a arma. Isso não
aceitou e entregou sua arma, abriu mão de ter armas. Já o precisava estar escrito no decreto.
criminoso, não. Nada mudou para o criminoso. Ele continuou Sobre a fala de Onyx Lorenzoni, acho que ele tem razão.
tendo acesso e se abastecendo de armas no mercado ilegal. O Neste tema, a gente tem lidado com paixões. Então, tudo acaba
criminoso não teme a lei e, consequentemente, não precisou sendo interpretado de um lado ou de outro. O que ele deu foi só
fazer o que o cidadão de bem fez. Agora, com o decreto, isso vai um exemplo. Em termos de polêmica, um pouco parecido com
começar a se reverter. O cidadão vai poder se defender, não aquela fala da Ministra Damares Alves ( Ministra da Mulher, da
precisará estar mais totalmente despreparado. Por isso, acredito, Família e dos Direitos Humanos), aquela dos meninos usam azul
vai haver um impacto na violência - principalmente naquela em e as meninas usam rosa... Mas ele está certo. O índice de acidentes
que o criminoso tem mais contato com a vítima (invadindo envolvendo armas de fogo entre crianças de 0 a 14 anos é muito
residências, por exemplo). Claro, os resultados não aparecem da baixo. O que mata mais são acidentes automobilísticos,
noite para o dia. Mas irão aparecer. intoxicação por produtos domésticos, afogamentos... Acidentes
De um modo geral, considero o decreto positivo com armas de fogo estão no fim da lista e podem ser evitados com
– porém ele ainda foi tímido. Ele poderia ser mais profundo, mas cuidados básicos."
inegavelmente atende a demanda da população, que desde 2005,
após o plebiscito, esperava e decidiu por isso. Quando digo que
Ariel de Castro Alves - Advogado e membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos - NÃO
Apesar dos indícios dos abusos de violência policial, eu Ou seja, a violência vai se tornar pior. Do ponto de vista da
defendo que a polícia precisa ser bem remunerada, equipada e segurança pública é bastante temeroso. A posse vai atrair o porte.
ter o monopólio das armas de fogo. O decreto não terá nenhum As pessoas vão circular armadas pelas cidades. Quantas vezes
reflexo positivo na segurança pública. Minha segurança não sou você foi revistado na rua? Eu tenho quarenta anos e nunca fui.
eu quem tem que fazer. Quem tem que garantir minha segurança Quem vai controlar se a pessoa tem um cofre em casa para
é o estado e as polícias. Não é o papel do indivíduo se proteger. guardar sua arma de um jeito seguro? Vai aumentar o número de
Isso é o reconhecimento que a política pública de segurança é crimes fúteis, coisas que poderiam ser resolvidas de outras
inexistente – e que a partir de agora nós estamos vivendo um maneiras. Vai aumentar a violência no campo, nos conflitos
faroeste. agrários. Vai aumentar a violência contra as minorias.
Mais do que isso, o decreto estimula que em todo A fala de Onyx Lorenzoni sobre liquidificador e armas é
estabelecimento comercial o dono tenha uma arma. Ora, o inaceitável. Um liquidificador no máximo pode, em última
criminoso conta com o fator surpresa. O cidadão não vai hipótese, arrancar o dedo de alguém. Um liquidificador não
conseguir reagir mesmo tendo posse de arma. Além disso, o atinge o coração, o pulmão ou a cabeça de ninguém. É uma
criminoso deve chegar com mais violência – porque imagina que comparação esdrúxula. A letalidade é incomparável. Isso é a
agora pode correr algum risco de encontrar um cidadão armado. institucionalização do faroeste.
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específico de assassinato, que é aquele que tem como Deixando de lado as vicissitudes do aqui e agora para
motivação conflitos interpessoais como brigas de trânsito, adotar visões de longo prazo, pode-se afirmar que os ganhos
desavenças matrimoniais etc. Aqui, a presença da arma de civilizacionais da humanidade no controle da violência
fogo pode fazer a diferença entre os hematomas e escoriações ocorreram quando delegamos a terceiros a tarefa de punir. O
típicos de quem "sai no braço" e a morte. ponto máximo desse processo foi a criação de Estados com
É difícil calcular o peso desses conflitos no total de suas polícias. O desarmamento se inscreve nessa lógica.
assassinatos, já que as investigações deixam muito a desejar. Embora a proteção oferecida pelo poder público seja das mais
Na cidade de São Paulo, 17% dos homicídios dolosos resultam imperfeitas, não me parece que seja o caso de retroceder à
de discussões ou brigas de casal, podendo ser mais já que não justiça com as próprias mãos.
há informação sobre 43% dos óbitos.
MÃOS À OBRA
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao
longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da
língua portuguesa sobre o tema: “Flexibilização do Estatuto do Desarmamento”, apresentando
proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Seu texto deve ter entre 07
e 30 linhas escritas.