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Supremo Tribunal Federal

PRISÃO PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO 928 DISTRITO FEDERAL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : GOVERNO DA ITÁLIA
EXTDO.(A/S) : ROCCO MORABITO OU MORABITO ROCCO
ADV.(A/S) : LEONARDO DE CARVALHO E SILVA MORETTO

DECISÃO

PRISÃO PREVENTIVA PARA


EXTRADIÇÃO REQUERIDA PELO
GOVERNO DA ITÁLIA. MANDADO DE
PRISÃO CUMPRIDO. PEDIDO DE
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA.
INDEFERIMENTO. PEDIDO DA
INTERPOL DE MANUTENÇÃO DA
APREENSÃO DE OBJETOS.
DEFERIMENTO.

Relatório

1. O Escritório Central Nacional da INTERPOL no Brasil, pelos


delegados de Polícia Federal, representou pela prisão preventiva para fins
de extradição em desfavor do nacional italiano Rocco Morabito,
“considerado fugitivo procurado para cumprimento de penas privativas de
liberdade, em razão de quatro condenações criminais, todas relacionadas a tráfico
internacional de substâncias entorpecentes e envolvimento com organização
criminosa (tipo máfia), que lhe impuseram penas de 22 (vinte e dois), 30 (trinta),
22 (vinte e dois) e 29 (vinte e nove) anos de prisão” (fl. 3).

A autoridade policial informou que as “investigações apontam que


Rocco Marabito possa estar no Estado do Rio Grande do Sul” (fl. 7).

2. Em 29.10.2019, decretei a prisão preventiva de Rocco Morabito,


nos termos do art. 84 da Lei n. 13.445/2017, para fins de extradição.

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3. Em 26.6.2020, o delegado de Polícia Federal Bruno Eduardo


Samezima informou que
“até o presente momento, não foi possível dar cumprimento ao
mandado de prisão em desfavor de ROCCO MORABITO.
O presente caso é tratado como prioritário pelo Escritório
Central Nacional da INTERPOL em Brasília, e conta hoje com
equipes trabalhando em quatro estados da federação, em busca de
informações que levem a localização do prófugo.
É importante destacar que ROCCO MORABITO é um dos
foragidos mais procurados da Europa, com elementos que indicam se
tratar de membro influente de uma das maiores organizações
criminosas da Itália, fatos esses que tornam mais complexa a sua
localização.
No entanto, seguimos acreditando que ele possa estar em
território brasileiro e, tão logo ele seja encontrado, comunicaremos o
cumprimento do mandado de prisão a Vossa Excelência” (grifos
nossos).

4. Em 15.12.2020, despachei que, “considerando que a prisão preventiva


para extradição foi decretada há mais de um ano e, até a presente data, não houve
exito no cumprimento do mandado, oficiem-se ao Ministro de Estado da Justiça e
Segurança Pública e ao Ministro de Estado das Relações Exteriores para que
realizem consulta ao Governo da Itália e informem se persiste o interesse na
continuidade deste processo”.

5. Em 18.2.2021, o Ministério da Justiça, pelo Departamento de


Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, encaminhou
“cópia da Nota Verbal nº 21, pela qual a Embaixada da Itália informa que
persiste o interesse do Ministério da Justiça daquele país na extradição do
nacional italiano ROCCO MORABITO”.

6. Em 24.5.2021, o delegado Chefe do Escritório Central Nacional da


INTERPOL informou que
“na data de hoje (24/05/2021), foi dado cumprimento, em João
Pessoa/PB, ao Mandado de Prisão expedido aos 29/10/2019 nos autos

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do processo de Prisão Preventiva para Extradição n° 928 em desfavor


do italiano ROCCO MORABITO.
Considerando que o procurado, segundo informações das
autoridades italianas, seria um dos líderes da organização criminosa
italiana de tipo mafiosa denominada ‘Ndrangheta’ e o fato de ele já ter
se evadido do sistema penitenciário uruguaio, em 2019, quando
aguardava processo de extradição para a Itália, solicitamos que seja
autorizada sua imediata transferência para estabelecimento prisional
do Sistema Penitenciário Federal, nos termos do art. 3°, incisos I e VI,
do Decreto n° 6.877/2009, conforme disponibilidade de vaga já
confirmada junto ao Departamento Penitenciário Nacional, sendo
certo que o local de recolhimento final do preso será informado a Vossa
Excelência tão logo concretizada a transferência” (fl. 107).

7. Em 25.5.2021, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se


“pela imediata transferência do extraditando para o sistema penitenciário
federal”.

8. Em 25.5.2021, deferi o pedido de imediata transferência do


extraditando para estabelecimento prisional do Sistema Penitenciário
Federal.

9. Em 26.5.2021, a defesa constituída pelo extraditando peticionou


“embora cediço da vigência do princípio democrático da
publicidade dos atos processuais, dada a repercussão midiática do
presente caso, requer se digne Vossa Excelência de apreciar o presente
pedido de tramitação em segredo de justiça, ante a ausência do
interesse público maior que venha a ser prejudicado.
Portanto, por se tratar de assunto que expõe excessivamente a
intimidade do requerente, sendo que a ampla divulgação representa
maior gravidade ao envolvido, evidenciando uma circunstância
excepcional, requer a decretação do segredo de justiça para o presente
processo”.

10. Em 27.5.2021, a defesa do extraditando opôs embargos de

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declaração “em face da respeitável decisão que determinou a imediata


transferência do extraditando para estabelecimento prisional do Sistema
Penitenciário Federal” para afirmar que “quando se trata de submeter o
extraditando a uma segregação, antecedente de possível extradição, mais rigorosa
e restritiva, essa fixação não pode se dar de forma arbitrária, com fulcro em
cenário midiático alheio à verdadeira situação. Devendo, por isso, guardar
‘congruência lógico-jurídica’”.

11. Em 27.5.2021, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, pela


Diretoria do Sistema Penitenciário Federal, protocolou a petição n.
55309/STF para informar que “se manifesta favorável à inclusão e, dessa sorte,
caso seja assim decidido pelo Juízo Federal Corregedor, indica a Penitenciária
Federal em Brasília/DF para a inclusão do preso, neste caso considerada a
Unidade mais adequada”.

12. Em 28.5.2021, o delegado Chefe do Escritório Central Nacional da


INTERPOL informou que “na data de ontem (27/05/2021), o preso ROCCO
MORABITO foi incluído no Sistema Penitenciário Federal, estando custodiado
na Penitenciária Federal de Brasília/DF, à disposição do Supremo Tribunal
Federal”.

13. Em 28.5.2021, indeferi o pedido de decretação do segredo de


justiça, não conheci dos embargos de declaração e mantive a autorização
de transferência do extraditando para estabelecimento prisional do
Sistema Penitenciário Federal.

14. Em 31.5.2021, em nova petição, o delegado Chefe do Escritório


Central Nacional da INTERPOL noticiou, que no ato de prisão, foram
arrecadados materiais com o extraditando, requerendo, ao final, “que os
itens acima relacionados possam permanecer apreendidos de forma vinculada ao
Processo de Prisão Preventiva nº 928 e posterior correspondente Processo de
Extradição, a fim de que, caso a Extradição ao final venha a ser concedida,
possam ser entregues às autoridade italianas”.

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Afirmou ainda que, “além dos itens acima relacionados, foram


arrecadados diversos documentos de identificação brasileiros e uruguaios com
suspeita de falsificação material e ideológica, e que serão encaminhados à
Superintendência Regional da Polícia Federal em Paraíba, para análise de
instauração de inquérito policial”.

15. Em 2.6.2021, por petição, o Diretor do Sistema Penitenciário


Federal informou que “o preso foi incluído na Penitenciária Federal de
Brasília/DF, na data de 27/05/2021, mediante decisão da 15ª Vara Criminal e
Execução Penal, com Juizado Especial Federal Criminal Adjunto – SEEU,
responsável pela Corregedoria Judicial da referida Unidade Penal Federal”.

16. Em 4.6.2021, a defesa do extraditando opôs embargos de


declaração nos embargos de declaração alegando que “a razoabilidade e a
proporcionalidade da medida têm impedido que a prisão cautelar seja decretada
contra extraditando, quando não for fundamentada a sua decretação, ainda que
requerida por autoridade estrangeira”.

Sustentou que “as sentenças proferidas em desfavor de Rocco Morabitto


datam de há muito tempo, que, além de não observarem o contraditório e o direito
a ampla defesa (REVELIA SEM QUALQUER OITIVA OU
INTERROGATÓRIO), tomou por base a condenação em mera delação premiada
e, o mais grave, ABSOLUTAMENTE PRESCRITAS”.

Alegou que “o augusto Decisum, ora vergastado, se mostra desmotivado.


A uma, porque, se revela contraditório e resulta ininteligível como, em que
pese ter contestado as alegações defensivas, afinal, a margem da ordem jurídica –
e, inclusive, transversamente parecendo se buscar retirar ao extraditando a
possibilidade de articular agravo regimental perante a Colenda Segunda Turma
desse Pretório Excelso –, em vez de apenas rejeitá-los conforme cumpria, Vossa
Excelência resolveu no sentido do não conhecimento dos primevos embargos
declaratórios.
A duas, porque, se mostra total e absolutamente inextrincável e

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incompatível com as precisas balizas legais constantes no arcabouço normativo


brasileiro e não se explica a sumária inclusão de mero extraditando estrangeiro –
isto é, de ádvena que não reveste a situação de condenado ou processado pela
prática de qualquer crime no Brasil –, no Sistema Prisional Federal, em Regime
Disciplinar Diferenciando (RDD), no SEEU, sob jurisdição de Juízo Federal
Especial de execuções penais com sede em Brasília (DF)”.

Argumentou que “a extraordinária previsão legal exclusivamente


reservada pela Lei n° 11.671/2008 para o caso de CONDENADOS ou PRESOS
PROVISÓRIOS que cometeram FALTAS GRAVES enquanto segregados pela
prática de delitos no território nacional, fora aplicada, com todo respeito,
indevidamente ao extraditando”.

Afirmou que “o extraditando encontra-se privado de liberdade, a


disposição desse Pretório Excelso, desde o dia 24-5-2021, por tempo indefinido,
purgando prisão penal em regime fechado, ora isolado pelo Estado brasileiro, sem
razão plausível, em Presídio Federal de Máxima Segurança (a fim de aprazer a
INTERPOL e agradar às autoridades italianas), em Brasília (DF), puramente em
virtude do decreto de prisão preventiva para fins de extradição expedido pela
Eminente Relatora deste feito em 29-10-2019”.

Defendeu que o extraditando, “em que pese ser detento de nacionalidade


italiana, possui família constituída no Brasil e FILHA BRASILEIRA, com
residência fixa” e requereu
“seja CONHECIDO e PROVIDO o presente recurso
processual, a fim de se SANEAR a respeitável decisão guerreada, e
para o efeito que seja revogada a prisão preventiva para fins de
extradição, em se expedindo, de IMEDIATO, o competente ALVARÁ
de SOLTURA em favor do extraditando.
Outrossim, quando assim não for, em subsídio, pugna seja dado
provimento ao presente recurso processual aclaratório, a fim de se
CONHECER dos primevos EMBARGOS DECLARATÓRIOS, a
permitir a interposição de Agravo Interno perante a Colenda Segunda
Turma dessa Egrégia Suprema Corte, sendo-lhe impostas as medidas

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que entenderem necessárias para se acautelarem de sua submissão ao


que essa Corte vier a decidir sobre o seu destino”.

17. Em 10.6.2021, o Ministério da Justiça, pelo Departamento de


Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, noticiou que
“a Embaixada da Itália tomou ciência sobre o cumprimento do mandado de
prisão preventiva para fins de extradição do nacional italiano ROCCO
MORABITO em 1º de junho de 2021”.

18. Em 11.6.2021, decidi:


“Na espécie, a defesa, alegando contradição, insiste na tese de
que o extraditando não deveria ter sido transferido para o sistema
penitenciário federal.
Essa questão foi expressamente analisada na decisão que
autorizou a transferência e nos primeiros embargos de declaração:
‘Tem-se nos autos, portanto, que o extraditando seria um
dos líderes de organização criminosa italiana do tipo máfia e que
ele já teria, em 2019, se evadido do sistema penitenciário
uruguaio, enquanto aguardava processo de extradição para a
Itália.
Consta dos autos, ainda, a informação de que ‘ROCCO
MORABITO é um dos foragidos mais procurados da Europa,
com elementos que indicam se tratar de membro influente de
uma das maiores organizações criminosas da Itália.
(...)
não conheço dos embargos de declaração e mantenho,
tornando agora definitiva, a autorização de transferência do
extraditando Rocco Morabito para estabelecimento prisional do
Sistema Penitenciário Federal’.
21. Os embargos de declaração não se prestam a provocar a
reforma da decisão embargada, salvo no ponto em que tenha sido
omissa, contraditória ou obscura ou para corrigir erro material, o que
não se dá na espécie.
O exame da petição dos segundos embargos é suficiente para
constatar que, a pretexto da alegada contradição, o que que se busca é
modificar o conteúdo do julgado para fazer prevalecer a tese

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apresentada pela embargante.


A pretensão da embargante é rediscutir a matéria. Este Supremo
Tribunal assentou serem incabíveis os embargos de declaração quando,
a pretexto de esclarecer uma inexistente situação de obscuridade,
omissão ou contradição, a parte vem a utilizá-los com o objetivo de
infringir o julgado e de, assim, viabilizar indevido reexame da causa
(RTJ n. 191/694-695, Relator o Ministro Celso de Mello).
O embargante insiste em rediscutir o assentado, expressamente
e com clareza e motivação jurídica, na decisão dos primeiros embargos
de declaração. Os segundos embargos de declaração têm natureza
protelatória.
22. Quanto à pretensão de revogação da prisão preventiva do
extraditando, há que se realçar que essa questão não foi arguida pela
defesa nos primeiros embargos de declaração, pelo que não se há
cogitar de omissão.
23. Sobre o pedido para que seja ‘dado provimento ao presente
recurso processual aclaratório, a fim de se CONHECER dos primevos
EMBARGOS DECLARATÓRIOS, a permitir a interposição de
Agravo Interno perante a Colenda Segunda Turma dessa Egrégia
Suprema Corte’, a faculdade de interpor ou não recurso diz respeito
exclusivamente à análise jurídica da parte, o que independe do
conteúdo da decisão monocrática proferida.
24. Pelo exposto, não conheço dos embargos de declaração nos
embargos de declaração.
25. Apesar de não conhecidos os embargos de declaração nos
embargos de declaração, o pedido de revogação de prisão preventiva
trata de matéria que pode ser a qualquer momento alegada e decidida
nos autos, devendo ser previamente ouvido o Ministério Público.
26. Manifeste-se a Procuradoria-Geral da República sobre o
pedido da INTERPOL de manutenção da apreensão do itens que
estavam com o extraditando no momento da prisão e sobre o pedido
defensivo de revogação da prisão preventiva”.

19. Em 10.8.2021, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se


“pela manutenção da prisão cautelar para fins de extradição de Rocco Morabito e
pelo deferimento do pedido de apreensão de objetos formulado pela INTERPOL”.

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Examinada a matéria posta à apreciação, DECIDO.

20. O mandado de prisão preventiva para extradição em desfavor do


extraditando foi expedido em 29.10.2019. Seu cumprimento somente se
deu em 24.5.2021, mais de um ano meio depois, mesmo após diversas
diligências realizadas pela INTERPOL.

Tanto demonstra a dificuldade de localização do extraditando em


território nacional. Sua liberdade, nesta fase, pode frustrar eventual
execução da extradição, se vier ela a ser julgada procedente.

21. Ademais, o extraditando é “considerado fugitivo procurado para


cumprimento de penas privativas de liberdade, em razão de quatro condenações
criminais, todas relacionadas a tráfico internacional de substâncias entorpecentes
e envolvimento com organização criminosa (tipo máfia), que lhe impuseram
penas de 22 (vinte e dois), 30 (trinta), 22 (vinte e dois) e 29 (vinte e nove) anos
de prisão” (fl. 3).

Esses fatos típicos estão previstos na legislação brasileira, pelo


menos do que se pode verificar neste juízo sumário e provisório, próprio
desta fase do processo (art. 33, caput, c/c art. 40, inc. I, da Lei n. 11.343/06):

“Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir,


fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de
500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
(...)
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são
aumentadas de um sexto a dois terços, se:
I - a natureza, a procedência da substância ou do produto
apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a

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transnacionalidade do delito”.

Os delitos imputados ao extraditando são graves e puníveis


legalmente no Brasil com pena máxima de vinte e cinco anos, sendo
classificados como de alto potencial ofensivo, nos termos da legislação
brasileira.

22. Afirma-se, nos autos, que o extraditando seria um dos líderes de


organização criminosa italiana, tendo, em 2019, se evadido do sistema
penitenciário uruguaio, enquanto aguardava processo de extradição para
a Itália.

Consta dos autos, também, que “ROCCO MORABITO é um dos


foragidos mais procurados da Europa, com elementos que indicam se tratar de
membro influente de uma das maiores organizações criminosas da Itália”.

Somado a isso, a INTERPOL noticiou que, com o extraditando,


“foram arrecadados diversos documentos de identificação brasileiros e uruguaios
com suspeita de falsificação material e ideológica, e que serão encaminhados à
Superintendência Regional da Polícia Federal em Paraíba, para análise de
instauração de inquérito policial”.

Essas circunstâncias demonstram os requisitos legais determinantes


para a manutenção da prisão preventiva do extraditando, pelo seu alto
grau de periculosidade, pela objetiva possibilidade de nova fuga e de
eventual prática de crimes de falsidade no Brasil.

Nesse mesmo sentido o parecer da Procuradoria-Geral da República:

“No caso, o extraditando é procurado pela Justiça italiana desde


1995 para cumprir penas decorrentes de 4 condenações pelos crimes
de tráfico de drogas e envolvimento em organização criminosa, que
lhes impuseram as penas de 22, 30, 22 e 29 anos de prisão, por fatos
ocorridos entre os anos de 1988 e 1994 (fls. 56/73 dos autos

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eletrônicos).
Verifica-se, ainda, que o extraditando possui perfil de alta
periculosidade, ante a notícia de que seria um dos líderes da
organização criminosa italiana de tipo mafiosa 'Ndranggheta', bem
como por ter se evadido do sistema penitenciário uruguaio, em 2019,
quando aguardava processo de extradição para a Itália.
Registre-se, por fim, que o extraditando encontra-se custodiado
em unidade do Sistema Penitenciário Federal desde 25 de maio de
2021, por estarem presentes os requisitos do art. 3º da Lei nº
11.671/08 (fls. 208/211 dos autos eletrônicos) e que, na ocasião de sua
prisão, foram encontrados em seu poder diversos documentos de
identificação brasileiros e uruguaios com suspeita de falsificação
material e ideológica.
Desse modo, considerada a gravidade dos delitos imputados ao
requerente, o tempo pelo qual se encontra foragido da Justiça italiana e
seu perfil de alta periculosidade, há de se reconhecer que sua situação
não se enquadra em nenhuma das hipóteses descritas no art. 86, da Lei
nº 13.445/19, razão pela qual há de ser indeferido o pedido de
revogação da prisão cautelar para fins de extradição”.

23. O art. 86 da Lei 13.445/2017 estabelece:

“O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério Público,


poderá autorizar prisão albergue ou domiciliar ou determinar que o
extraditando responda ao processo de extradição em liberdade, com
retenção do documento de viagem ou outras medidas cautelares
necessárias, até o julgamento da extradição ou a entrega do
extraditando, se pertinente, considerando a situação
administrativa migratória, os antecedentes do extraditando e
as circunstâncias do caso”.

24. Assim, nos termos dos elementos fáticos apresentados e dos


processuais expostos, é de se concluir que, neste momento, ainda subsiste
a necessidade da prisão preventiva do extraditando para garantir a
efetividade de eventual futura extradição.

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25. Ausente excesso de prazo na prisão. Efetivada em 24.5.2021, foi o


Governo da Itália comunicado em 1º.6.2021. O pedido de extradição foi
protocolado neste Supremo Tribunal Federal em 9.7.2021, já tendo sido
realizada a audiência de interrogatório do extraditando.

26. Quanto à alegação de ter o extraditando filha brasileira e viver


em união estável no Brasil, isso não impede o eventual deferimento da
extradição, nos termos da Súmula n. 421 deste Supremo Tribunal Federal:

“Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando


casado com brasileira ou ter filho brasileiro”.

27. Pelo exposto, indefiro o pedido de revogação da prisão


preventiva do extraditando.

28. Quanto ao pedido da INTERPOL sobre os bens arrecadados com


o extraditando, para que permaneçam apreendidos, tem-se no art. 97 da
Lei n. 13.445/2017:
“A entrega do extraditando, de acordo com as leis brasileiras e
respeitado o direito de terceiro, será feita com os objetos e
instrumentos do crime encontrados em seu poder”.

Assim, autorizo que os bens arrecadados permaneçam apreendidos


até o final do processo de extradição, quando a destinação será decidida
de forma definitiva.

Publique-se.

Intime-se.

Brasília, 16 de agosto de 2021.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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