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Antigamente, quando o senhor Santo Ildefonso andava por aqui fazendo os trabalhos de Deus
na Terra, ficava temeroso de que acontecesse alguma coisa aos filhos quando estivesse longe.
Por isso, encarregou o pica-pau Ti de ficar tomando conta deles e avisá-los dos perigos.
O passarinho passou a fazer isso muito bem. Por qualquer coisa, voava para junto dos
meninos, pousava no ombro de um deles e cantava:
— Ti-ti-ti-ti...
Eles já sabiam. O passarinho não estava só dizendo seu nome. Estava era avisando de algum
risco. Então, tomavam cuidado e se defendiam. Por isso, nunca tinham problemas.
Santo Ildefonso ficou muito satisfeito. Para recompensar o passarinho Ti, fez que ele tivesse
uma plumagem bonita. E também o ajudou para que nunca lhe faltasse comida. Ensinou-o a
bater com o bico na casca das árvores, cavando buraquinhos para poder pegar as lagartas e
outros insetos que se escondessem lá dentro.
Então, o passarinho passava os dias nas árvores apanhando comida para os filhotes:
— Toque-toque-toque...
Mas, quando era preciso avisar os filhos de Santo Ildefonso, já se sabe. O pássaro Ti ia lá,
pousava no ombro de um deles e cantava:
— Ti-ti-ti-ti...
O pica-pau fazia seu trabalho tão bem que o santo resolveu ser generoso e dividir os avisos de
perigo com todo mundo. Disse ao passarinho:
— Ti, você agora fica encarregado de voar por perto das estradas e veredas, avisando aos
caminhantes quando houver algum perigo. Assim, eles podem se cuidar.
O pássaro Ti passou a fazer isso, sempre muito bem. Pousava no ombro de quem passava e
cantava:
— Ti-ti-ti-ti...
Mas os filhos do senhor Santo Ildefonso não gostaram nada da novidade. Não queriam dividir
com ninguém os avisos do pica-pau. Por isso, um dia, quando Ti chegou, os meninos cuspiram
nele.
— Senhor santo, veja só o que seus filhos me fizeram. Maltrataram-me e cuspiram em mim. E
cuspe de gente deixa passarinho manchado. Olhe só como minhas penas ficaram todas
salpicadas de saliva.
— Não posso fazer nada para consertar sua plumagem. Mas vou castigar meus filhos. De hoje
em diante, eles não vão mais se livrar de nenhum perigo e vão ter muitos problemas. E você
pode cuidar só da sua vida e de seus filhotes. Nunca mais precisa avisar ninguém de nada.
Por isso, até hoje, o pica-pau Ti tem as penas bonitas, mas sarapintadas. E sabe muito bem
procurar comida debaixo da casca das árvores.
Por isso, também, as pessoas correm riscos e têm problemas. Mas, às vezes, o passarinho se
lembra de seus tempos de avisador e canta, embora nunca mais tenha pousado no ombro de
ninguém. E até hoje, pelas estradas de Chiapas, o caminhante atento e devoto toma cuidado
quando ouve o pica-pau Ti no meio de uma viagem, pois sabe que pode ter contratempos pelo
caminho.
Rico em recursos visuais e lingüísticos, o conto que você acabou de ler pode ser um ótimo
instrumento didático. Quem dá a dica é Alice Vieira, professora de pós-graduação da
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que se baseou no texto para
conceber duas versões de plano de aula. A primeira se dirige às séries do primeiro grau menor,
e a segunda, às turmas de sétima e oitava. Acompanhe as sugestões.
Nas aulas de Português, a proposta é trabalhar diferentes leituras do texto. Que tal fazê-lo num
estilo de narração de jogo de futebol, em ritmo de câmera lenta ou como se fosse um noticiário
jornalístico?
Se os alunos se empolgarem com essa última categoria, peça que simulem entrevistas
com os personagens da história: o pica-pau Ti, os caminhantes, Santo Ildefonso (600-
667, espanhol) e seus filhos ciumentos. Para arrematar a atividade, e aproveitando a
mensagem que a lenda oferece, organize um debate sobre o egoísmo. Depois, solicite
aos alunos um texto individual com o seguinte tema: "Como podemos combater o
egoísmo no mundo?"
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As três respostas
Na Inglaterra daquele tempo, vivia na corte do rei João um importante prelado, o abade de
Canterbury, tão vaidoso que um dia chegou a se vangloriar de ser mais rico e de ter um palácio
mais belo do que o próprio soberano. Quando essa notícia chegou aos ouvidos do monarca,
este ficou muito irritado e mandou convocar o prelado à sua presença.
— A primeira pergunta é a seguinte: assim como me vês, sentado no meu trono de ouro, com a
minha coroa na cabeça e o cetro na mão, dize-me quanto eu valho em dinheiro. A segunda
pergunta é: quanto tempo eu levaria a cavalo para fazer a volta ao mundo? E a terceira é: o
que eu estou pensando aqui e agora?
Assustado, o abade de Canterbury pediu ao rei João que lhe concedesse três dias para pensar
nas respostas. O rei, fazendo-se de generoso e certo de que o prelado jamais responderia às
suas perguntas, concedeu-lhe esse prazo.
O abade saiu apressado, consultou doutores, sábios e feiticeiros, mas ninguém soube
responder àquelas perguntas. Ao entardecer do terceiro dia, de volta ao seu palácio, cruzou
com o pastor do seu rebanho de ovelhas. Reparando no aspecto abatido do amo, o pastor lhe
perguntou qual a razão de tamanha tristeza. O abade, num desabafo, contou-lhe sua infeliz e
perigosa situação. E muito se surpreendeu ao ouvir do pastor uma estranha proposta.
— Acho que sei a solução para o seu caso. Repare que nós dois temos a mesma altura e o
mesmo porte. Se confiar em mim, eu me apresentarei amanhã em seu lugar perante o rei,
disfarçado em traje de monge. Se Deus quiser, acharei as respostas às três perguntas.
Como não tinha nada a perder, o abade concordou com o plano. No dia seguinte, o pastor,
encoberto pelo capuz do hábito do monge, apresentou-se ao rei João à espera das três
perguntas, que o monarca lhe fez em seguida, sem reconhecê-lo.
— Então, abade atrevido, responde-me sem hesitar: assim como me vês, sentado no meu
trono de ouro, com a minha coroa na cabeça e o cetro na mão, quanto eu valho em dinheiro?
— A resposta, disse o pastor disfarçado, é a seguinte. Nosso Salvador foi vendido por 30
moedas. Portanto, o vosso valor é 29 moedas, pois acho que Vossa Majestade concordará que
vale uma moeda menos do que Nosso Senhor.
— Não pensei que eu valesse tão pouco, sorriu o rei. Mas dize-me agora em quanto tempo
posso cavalgar em volta do mundo.
— Vossa Majestade, respondeu o falso abade, deve levantar-se ao nascer do dia e seguir
cavalgando atrás do Sol até a manhã seguinte, quando o astro nascer outra vez. Assim, sem
erro, terá dado a volta ao mundo em 24 horas.
— Nunca pensei, riu o rei, que a volta ao mundo pudesse ser feita tão depressa. Mas agora me
diga, abade, o que estou pensando neste exato momento?
— Vossa Majestade, respondeu o esperto pastor, pensa que está falando com o abade de
Canterbury. Mas a verdade é que não passo de um pobre pastor de ovelhas.
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— Estou aqui para pedir perdão para mim e para o meu amo, o abade.
— Por teres alegrado o meu dia, eu te perdôo pelo atrevimento e mando te dar uma bolsa de
dinheiro como recompensa. Vai em paz e dize ao teu patrão que te agradeça porque, graças a
ti, eu o perdôo também. Mas ele que se guarde de novas gabolices!
Para trabalhar com o imaginário dos alunos, lance mão dos personagens e cenários medievais
que povoam o conto. Se quiser ir mais além, use o texto como apoio nas aulas de Português e
Geografia. Foi o que fez Vera Bastazin, professora de Literatura do Departamento de Arte da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É dela o plano interdisciplinar que
você verá a seguir, pensado para turmas de terceira a sexta série.
BEM-VINDOS À FANTASIA
"Na Inglaterra daquele tempo, vivia na corte do poderoso rei João um importante prelado, o
abade de Canterbury..." A primeira frase do conto introduz rapidamente o aluno no mundo dos
castelos e reis. Leia o período em voz alta e, em seguida, inicie um saudável e interessante
exercício de inquisição, formulando perguntas que devem ser respondidas oralmente. Como
será o interior e o exterior de um palácio? O que faziam os monarcas naquele tempo? Como se
vestiam os reis e as rainhas? O que era a corte real? Existem monarcas ainda hoje? Qual seu
papel atual? Só leia o restante do conto depois de ter instigado a imaginação da garotada. O
texto também é rico em palavras estranhas à linguagem corrente, como "prelado", "gabolice",
"confisco". Ótima oportunidade para, na aula de Português, treinar com a turma o uso do
dicionário. Depois de devidamente esclarecidas, essas palavras se aliam a outras para uma
nova atividade. A partir dos substantivos "rei", "abade" e "pastor", sugira que façam um
agrupamento de termos que se relacionem diretamente com os personagens da história. Como
no quadro abaixo.
Os dois ratinhos
Era uma vez dois ratinhos. Bom, na verdade, eram dois camundongos, desses bem
pequeninos que vivem nas casas velhas. E era mesmo onde eles moravam, numa casa de
fazenda que já tinha sido de avós e bisavós de gente. Por isso, a madeira cedia num lugar, o
reboco descascava em outro, um pedacinho de taipa caía mais adiante... Era uma maravilha de
moradia para ratinhos e camundongos. Havia túneis pelas paredes, amplas avenidas no forro e
vastos descampados no porão, além de ruas e vielas por todo o esqueleto da casa.
Pois uma dessas ruas é a que nos interessa — e era a que mais interessava a eles. A que
desembocava na cozinha.
Uma noite, os dois camundongos saíram para um passeio na cozinha. Era sempre uma festa.
Tinha lingüiça no fumeiro por cima do fogão de lenha.
Tinha chouriço pendurado na despensa.
Tinha queijo na prateleira.
Tinha um saco de fubá num canto.
Tinha tanta coisa para comer que nem dá para lembrar tudo.
Os dois ratinhos se banquetearam, se empanturraram, até se fartarem. Depois, deu sede. Mas
um deles ainda tinha lugar na barriga para comer mais um bocadinho. Enquanto discutiam se já
deviam ir beber água ou não, viram uma tigela imensa, coberta por um pano de prato de
beiradas bordadas em ponto de cruz.
Foram olhar de perto. Era leite que a cozinheira deixara para fazer coalhada. Uma tigela
cheinha, quase transbordando.
Pronto! Era a solução! Assim, matavam a sede e o restinho de fome ou gulodice ao mesmo
tempo.
Mas, quando se equilibraram na borda da tigela para beber, um deles perdeu o equilíbrio e
plaft! Caiu lá dentro. Na queda, tentou se agarrar ao rabo do outro e plaft! O segundo ratinho
também caiu.
Começaram a tentar sair. Mas era difícil, as bordas da tigela escorregavam. E eles estavam
pesados, de barriga cheia. Nadaram e se debateram, mas não dava para se apoiarem e sair.
Foram nadando, se debatendo e ficando cansados.
Um deles simplesmente desistiu. O outro resolveu que não ia entregar os pontos. Nadava,
nadava, mesmo que fosse em círculos, só para não parar de lutar. Quando cansava muito,
boiava ou se agarrava às bordas e depois voltava a nadar. Passou assim a noite toda.
De manhã, quando a cozinheira chegou à cozinha e levantou o pano de prato bordado que
cobria a tigela de coalhada, teve duas surpresas. Lá dentro tinha um camundongo morto. Mas
a surpresa maior não foi essa. Foi ver que a coalhada tinha virado manteiga, de tanto ser
batida. E, por cima, havia muito nítido um caminho feito de rastros — as pegadas frescas de
um ratinho que saíra caminhando sobre a manteiga e fora embora.
Moral: se é fábula, tem que ter moral, mas eu prefiro que você a descubra.
Em Os Dois Ratinhos, Ana Maria Machado reconta uma fábula tradicional que, como toda
fábula, possui uma moral. A escritora optou por não revelá-la, convidando cada leitor a
descobrir por conta própria a lição embutida no texto. Você pode enriquecer essa proposta em
classe, aprofundando a leitura com atividades interdisciplinares. É o que sugere Lúcia Pimentel
Góes, coordenadora da área de Literatura Infantil e Juvenil na Faculdade de Letras da
Universidade de São Paulo (USP). Depois de se empanturrarem com a história em aulas de
Ciências, Português, Matemática e Educação Artística, os alunos devem chegar a morais
diferentes. "E isso é ótimo", afirma Lúcia. "Ler descobrindo, criando e recriando é sempre mais
prazeroso."
LIÇÃO DE HIGIENE
Na aula de Ciências, aguce a curiosidade das crianças revelando que um rato é diferente de
um camundongo. Mas em quê? Para responder à pergunta, a turma pode se dividir em grupos
e estudar as características de cada animal: as espécies às quais pertencem, o espaço onde
vivem, como fazem seus ninhos e do quê se alimentam. Aproveite e passe noções de higiene.
No conto, os ratos aparecem como bichinhos simpáticos, que passeiam com tranqüilidade por
um cozinha repleta de utensílios e alimentos. É importante explicar a seus alunos que, apesar
da aparência inofensiva, a grande maioria desses roedores transmite doenças ao ser humano
— entre elas, a leptospirose. Por esse motivo, são necessárias precauções para mantê-los
longe de casa.
Estrelas em greve
Todas as noites, as mulheres se punham diante da televisão para ver as novelas. Os homens
cochilavam no sofá e a criançada brincava com os computadores. Ninguém tinha tempo de
olhar para o céu.
Sem platéia, as estrelas decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. A Lua, solidária
com as amigas, aderiu ao protesto e também se escondeu.
Foi um fuzuê no mundo inteiro. As galinhas, que dormiam com a estrela-d’alva, perderam o
sono e deixaram de botar ovos. As corujas pararam de piar. Os tatus não saíram mais das
tocas. Os grilos silenciaram. Os anjos da guarda, que desciam à noitinha para ninar as
crianças, perdiam-se no caminho. As damas da noite não abriram mais suas pétalas. No
escuro, o vento não enxergava nada e não sabia para onde soprar. Os poetas caíram em
desânimo e a produção de poesia imediatamente cessou. Os agricultores ignoravam se era ou
não a época certa para semear. As marés, desorientadas, subiam e desciam à deriva.
Então, os homens descobriram que aquilo tinha a ver com o sumiço das estrelas. Chamaram
os melhores astrônomos, mas eles não souberam explicar o ocorrido. Convocaram as
feiticeiras para resolver o assunto, elas fizeram lá suas mandingas, mas não adiantou nada. A
coisa estava realmente preta.
Até que, numa noite, um homem saiu de casa e se pôs a contemplar o céu na escuridão.
Lembrou que a mãe lhe ensinara a posição do Cruzeiro do Sul. Outro se juntou a ele e
recordou as histórias de Lua cheia, quando aparecia o lobisomem. Um velho ouviu a conversa
dos dois e veio contar que, em criança, tinha visto o Cometa Halley. Apareceu uma mulher e
comentou que só cortava os cabelos na Lua minguante. Outra mulher falou que, havia alguns
anos, vira uma estrela cadente e fizera um pedido. O marido ouviu-a e disse que o pedido era
ter o amor dele para sempre. Outro homem contou que lhe nascera uma verruga no dedo
porque, quando garoto, apontara para as Três-Marias. Aos poucos, as pessoas foram saindo
de casa e cada uma tinha sua história para contar sobre a Lua e as estrelas.
Quanto estavam todos na rua olhando o céu vazio, as estrelas, que os observavam do fundo
da noite, apareceram de surpresa, acendendo-se ao mesmo tempo. Foi lindo: parecia uma
chuva de gotas prateadas. Em seguida, despontou a Lua, com seu brilho magnífico, como um
holofote.
Dizem que um bom texto é aquele que consegue captar assuntos conhecidos do leitor. Nesse
sentido, Estrelas em Greve cumpre bem seu papel, já que trata de um tema atualíssimo: a
alienação do homem moderno. Pessoas enfurnadas em suas casas, sem tempo ou disposição
para apreciar o céu, povoam nosso cotidiano. E, sem dificuldade, as crianças acabam se
percebendo personagens da história. "Conquiste sua turma por aí", sugere Andréa Tammaro
Costa, coordenadora pedagógica do grupo de primeira a quarta série do Colégio Giordano
Bruno, em São Paulo. Andréa elaborou várias atividades a partir do conto, tendo como base de
lançamento o Português. Mas deixa claro que você também pode explorar o texto em outras
disciplinas. Anote as propostas da coordenadora para as séries iniciais.
Preparando o terreno
Antes da leitura, estimule um debate sobre o tema principal do conto: a falta de algo
importante. Peça aos alunos que imaginem os efeitos de um blecaute, por exemplo. Sem
energia elétrica, o que aconteceria com nossas noites, nossos banhos, nossas diversões?
Após a discussão, pergunte se alguém da classe conhece um livro, filme ou outra produção
que trate da questão da perda. Deixe que exponham aos colegas aquilo que sentiram ao se
depararem com o assunto. Está criado o clima para que você apresente a greve das estrelas.
O debate sobre suas possíveis conseqüências instiga à leitura do conto, que deve ser feita em
voz baixa. Solicite comentários.
Ao confirmar que compreenderam a história, acrescente suas observações sobre um ou outro
ponto não discutido.
Como se fosse
De nada adiantou a couraça contra o fio da espada. O sangue jorrou entre as frestas metálicas
e o jovem rei morreu no campo de batalha. Tão jovem, que não deixava descendente adulto
para ocupar o trono. Apenas, da sua linhagem, um filho menino.
Antes mesmo que a tumba fosse fechada, já os seus fiéis capitães se reuniam. A escolha de
um novo rei não podia esperar. E determinaram que o menino haveria de reinar, pois a coroa
lhe cabia de direito. Que começassem os preparativos para colocá-la sobre sua cabeça.
No dia da grande festa, antes que a coroa fosse pousada sobre os cachos do novo rei, a rainha
sua mãe avançou e, diante de toda a corte, prendeu sobre seu rosto uma máscara com a figura
do pai. Assim, ele haveria de ser coroado, assim ele haveria de governar. E os sinos tocaram
em todo o reino.
Muitos anos se passaram, muitas batalhas. O menino rei não era mais um menino. Era um
homem. Acima da máscara, seus cabelos começavam a branquear. Seu reino também havia
crescido. As fronteiras, agora longas, exigiam constante defesa.
E, na batalha em que defendia a fronteira do Norte, perseguido pelos inimigos, o rei foi abatido
no fundo de uma ravina, sem que de nada lhe valesse a couraça.
Antes que fechasse os olhos, acercaram-se dele seus capitães. Retiraram o elmo. O sangue
escorria da cabeça. O rei ofegava, parecia murmurar algo. Com um punhal, cortaram as tiras
de couro que prendiam a máscara. Soltou-se pela primeira vez aquele rosto pintado ao qual
todos se haviam acostumado como se fosse carne e pele. Mas o rosto que surgiu por baixo
dele não era um rosto de homem. A boca de criança movia-se ainda sobre mudas palavras, os
olhos do rei faziam-se baços num rosto de menino.
O conto Como se Fosse é uma narrativa de ficção e, como tal, possui características típicas:
numa certa época e num determinado ambiente, os personagens vivem um conflito que
apresenta um clímax e um desfecho. O texto em questão tem outro diferencial: a linguagem
rebuscada. Por isso, Maria Fernandes Cócco, pesquisadora na área de língua portuguesa e
autora de livros didáticos, sugere sua aplicação com turmas de sexta e sétima série. Os alunos
devem começar pelas palavras desconhecidas, procurando seus significados a partir do
contexto. Confira outras sugestões.
Tirando a armadura
Proponha um desmonte do conto com as seguintes análises:
1. Características físicas e psicológicas dos personagens, destacando a importância da mãe e
dos capitães para a história.
2. Época em que se passa o conto. Algumas expressões são reveladoras (rei, festas de
coroação, corte).
3. Identificação da seqüência temporal. "No dia da grande festa", "Muitos anos se passaram"
dão pistas sobre a ordem dos fatos.
4. Percepção do clímax — a máscara se desprende.
5. Confirmação do desfecho, com o rosto de menino num corpo de homem.
6. Ponto de vista do narrador. A história está em primeira ou terceira pessoa?
7. Elementos mágicos: a máscara perene e as feições infantis que resistiram ao tempo.
Outra opção é apresentar um texto sobre a Idade Média e compará-lo com a história. Os
alunos poderão, ainda, pesquisar sobre as guerras medievais e os costumes da época. Isso
permite ampliar o conhecimento a partir do conto.
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Guilherme Tell
Há muitos anos, antes de ser um país livre e soberano, a Suíça era governada por um regente
autoritário chamado Gessler. Todo mundo tinha medo dele, porque quem desobedecesse às
suas ordens era impiedosamente castigado. A única pessoa que não o temia era um bravo
caçador das montanhas de nome Guilherme Tell, respeitado pelos seus conterrâneos por ser,
além de homem de bem, um exímio arqueiro. Ninguém o superava na pontaria certeira com o
arco e a flecha.
O tirano Gessler, arrogante e vaidoso, gostava de aterrorizar a gente do povo. Por isso,
mandou erguer na praça principal um poste no qual fez pendurar o seu chapéu. Diante desse
ridículo símbolo de autoridade, todos os passantes deveriam se curvar. E todos obedeciam, de
medo de ser cruelmente punidos. Todos, menos Guilherme Tell, que não se submetia àquela
humilhação por considerá-la abaixo de sua dignidade. Até que um dia aconteceu de o próprio
Gessler estar na praça quando Tell passou por ali com seu filho de 8 anos.
Vendo que o caçador não se curvara diante do chapéu, Gessler ficou furioso e mandou que
seus soldados o agarrassem, gritando:
— Tell, tu me desafiaste, e quem me desafia morre. Mas tu podes escapar da morte se fizeres
o que eu te ordeno.
E o perverso Gessler mandou que encostassem o filho do caçador ao poste com uma maçã
sobre a cabeça. Então, continuou:
— Agora, Tell, terás de provar a tua fama de grande arqueiro acertando a maçã na cabeça do
teu filho com uma única flechada. Se acertares, o que duvido, sairás livre. Mas, se errares,
serás executado aqui, na frente de todo este povo.
E Guilherme Tell foi colocado no ponto mais distante da praça, com o seu arco e uma flecha.
Com o coração apertado, Guilherme Tell levantou o arco, apontou a flecha, esticou a corda e,
de dentes cerrados, mirou em direção ao alvo. Zummmm! A flecha zuniu no ar, rapidíssima, e
rachou ao meio a maçã sobre a cabeça da criança.
Um suspiro de alívio subiu da multidão, que assistia horrorizada àquele cruel espetáculo.
Nesse momento, Gessler viu a ponta de uma outra flecha escondida debaixo do gibão do
arqueiro.
— A segunda flecha era para varar o teu coração, Gessler, se eu tivesse ferido o meu filho.
E, pegando o menino pela mão, Guilherme Tell deu as costas ao tirano e foi embora.
Anos mais tarde, o arqueiro foi um valoroso combatente pela independência da sua terra e pela
liberdade de seu povo.
Seus alunos já devem ter ouvido falar no arquei-ro que flechou uma maçã sobre a cabeça de
uma criança. Mas eles provavelmente não conhecem a história inteira dessa lenda suíça aqui
recontada por Tatiana Belinky. Aproveite o clima de curiosidade em torno do tema para
desenvolver um plano de aula interdisciplinar voltado a turmas de 3ª e 4ª série. A proposta é da
professora de Português Maria Auxiliadora Fontana Bascio, do Colégio Horizontes, em São
Paulo, que vê no texto uma ótima oportunidade para transformar os alunos em arqueiros
valorosos, "sempre a postos para defender com unhas e dentes a própria independência e a
liberdade de expressão".
Brincando
Antes de apresentar o texto à turma, divida-o em sete partes até a passagem em que o tirano
pergunta "Para que a segunda flecha?". Com a classe separada em grupos, distribua o texto
em tiras de papel, de forma que cada grupo possa montar a história e criar um desfecho
diferente. As crianças, então, apresentam suas produções às demais. Num segundo momento,
peça aos alunos que desenhem os personagens principais ou que os retratem com formas e
cores diferentes. É esperado, por exemplo, que o tirano seja representado pela maioria em tons
fortes, próximos ao vermelho.
Desvendando
Já com a lenda de Guilherme Tell em mãos, os alunos partem para a pesquisa das palavras
desconhecidas. Depois, estudam o significado do termo "lenda", destacando sua forte
conotação popular.
Refletindo
O texto dá margem a uma série de reflexões éticas e morais. Anote algumas delas.
Transformando
O enredo da lenda pode virar uma notícia de jornal, por exemplo. Ou mesmo uma história em
quadrinhos, feita, de preferência, em grupo.
Interligando
É possível aprofundar o estudo da lenda envolvendo outras disciplinas além do Português. Em
História, por exemplo, sugira pesquisas sobre o movimento de independência da Suíça. As
crianças também podem localizar esse país europeu no mapa e destacar aspectos de relevo,
hidrografia, vegetação, clima, vestuário, costumes, línguas faladas — eis uma aula de
Geografia. Em Ciências, use a flecha para passar noções de sentido e velocidade, por
exemplo. A aula de Educação Artística permite a construção de uma maquete da Suíça na
época medieval. Maria Auxiliadora também propõe para essa disciplina uma associação entre a
ilustração do povo aterrorizado e o quadro O Grito, de Edvard Munch (1963-1944). Esse pintor
norueguês foi um dos criadores do expressionismo e se destacou pela atmosfera sombria e
angustiante de suas obras.
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Logo que aprendeu a ler, o menino começou a fazer descobertas. Um dia estava folheando um
livro e se deparou com a palavra "réptil". Procurou no dicionário e se surpreendeu com o
significado: animal que se arrasta. Cobras, por exemplo. Pensava que réptil tinha a ver com
rapidez e era justamente o contrário. O pai riu de seu espanto e disse que as tartarugas
também eram répteis. Aliás, uma lenda chinesa afirmava que Deus escrevera o segredo da
vida no casco de uma tartaruga.
O menino gostou dessa escrita de Deus, que utilizou o casco da tartaruga como se fosse uma
folha de papel. O pai lembrou que aprender a ler nos livros era só o começo. Com o tempo, o
filho poderia ler no rosto de uma pessoa sua história inteirinha. E bastaria observar os olhos de
um amigo para ver se neles brilhava a felicidade. Ou tocar as mãos de um homem do campo
para conhecer seus sofrimentos.
Mas o menino, curioso, queria mesmo era saber qual o segredo da vida. Por isso, começou a
se interessar pela vida das tartarugas. Conheceu a tartaruga-de-couro, cujo casco parecia uma
bola de capotão. A tartaruga-oliva, que lembrava o verde das azeitonas, e a tracajá, típica da
Amazônia. Descobriu que a tartaruga-de-pente tinha esse nome porque de sua carapaça se
faziam pentes, bolsas e aros para óculos. E aprendeu tudo sobre a tartaruga-cabeçuda, sobre
a tartaruga-gigante, atração das Ilhas Galápagos, e sobre a Ridley, das praias da Costa Rica.
Quanto mais estudava, mais o menino se convencia de que realmente poderia descobrir a
escrita de Deus naquelas criaturas que carregavam a casa nas costas. Elas tinham carapaças
misteriosas, com desenhos estranhíssimos, círculos coloridos, arestas longitudinais. Algumas
até pareciam pintura.
Você não precisa de uma lente de aumento para perceber que a emoção é o segredo desse
conto de João A. Carrascoza. Com uma narrativa sensível, o escritor paulista fala da busca
incessante do homem pelo mistério da vida usando um animal cativante ao mundo infantil: a
tartaruga. Mergulhe com seus alunos nessa pesquisa e aproveite para passear por disciplinas
como Português, Geografia e Educação Artística.
Elisa Pereira, diretora da educação infantil e do ensino fundamental na Escola Pueri Domus,
em São Paulo, propõe que se comece por um levantamento de curiosidades a respeito das
tartarugas. Antes mesmo de ler o texto, o que a classe já sabe e o que mais gostaria de saber
sobre esses animais?
A tapeçaria de Aracne
Há muito, muito tempo, na Grécia Antiga, contavam que Palas, a deusa da sabedoria (que
mais tarde os romanos chamariam de Minerva), ensinava todos os segredos de fiação e
tecelagem a uma moça chamada Aracne.
Aracne era de origem humilde, mas se tornou tão habilidosa com fios e tramas que até as
ninfas dos bosques e dos rios vinham vê-la trabalhar. Não só porque os tecidos que fazia eram
incomparáveis, mas até porque a graça de seus movimentos tinha a beleza de uma arte, desde
que puxava os chumaços de lã ou cânhamo até quando fazia novelos e meadas. E,
principalmente, depois, quando a linha macia e longa se convertia em belos panos num tear ou
era ricamente bordada em desenhos divinos. Divinos, sim. Pois todos os que viam o trabalho
de Aracne logo concluíam que ela aprendera seu ofício com Palas, e cobriam a deusa de
louvores.
Ora, quanto mais atenção atraía, mais Aracne se ofendia com os elogios a Palas e negava
qualquer mérito à deusa. Até que certo dia acabou exclamando:
Sou muito melhor tecelã que Palas! Se ela viesse competir comigo, todos iam ver isso. E, se
me vencesse, poderia fazer comigo o que quisesse.
Antes de aceitar o desafio, a deusa se disfarçou e veio visitar Aracne sob a forma de uma
velha, aconselhando-a a respeitar a experiência e a sabedoria dos anciãos e a reconhecer a
superioridade dos deuses.
— Se você se arrepender de suas palavras e pedir perdão, tenho certeza de que Palas a
perdoará — disse.
— Você está é de miolo mole, sua velha. Quer dar conselho? Vá procurar suas netas... Eu me
defendo sozinha. Palas tem medo de mim. Se não tivesse, já teria vindo me enterrar.
As ninfas e todas as mulheres se prostraram diante da deusa, mas Aracne manteve seu
desafio.
Sem perder tempo, cada uma das duas foi para um canto do enorme salão, com seus novelos,
meadas, fios e seu tear.
Durante muito tempo, uma belíssima tapeçaria foi surgindo em cada tear. Palas fez questão de
ilustrar em seu bordado todas as histórias de mortais que tinham desafiado os deuses e os
terríveis preços que tiveram de pagar por isso. Aracne, por outro lado, mostrou em sua
tapeçaria os inúmeros crimes que os deuses já tinham cometido, recriados com exatidão e
minúcia de detalhes. Cada uma, ao final, rematou seu trabalho com uma preciosa moldura
tecida.
Ninguém se surpreendeu com a perfeição da obra de Palas. Mas quem ficou surpresa foi a
deusa, pois, por mais que procurasse o mínimo defeito na obra de Aracne, não conseguiu
encontrar uma única falha. Com raiva, bateu várias vezes com seu bastão na testa da tecelã.
Não suportando a dor, Aracne passou um fio no pescoço para se enforcar. Mas Palas teve
pena e a segurou, suspensa no ar, dizendo:
— Você tem má índole e é vaidosa, mas tenho que respeitar sua arte. Não admito que morra.
Porém, você e seus descendentes viverão sempre assim, suspensos o tempo todo.
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E, ao partir, borrifou-lhe uma poção que fez o cabelo da moça cair, a cabeça e o corpo
encolherem, os dedos crescerem, e a transformou para sempre numa aranha, condenada a
fabricar fio e teia até o final dos tempos. Sempre com perfeição incomparável.
Muitas das crianças de hoje conhecem Hércules, herói de histórias em quadrinhos e desenhos
animados. O que elas talvez não saibam é que esse personagem tão "moderno" pertence à
mitologia grega. Não devem igualmente saber de suas doze tarefas, que lhe valeram a
imortalidade e foram reinterpretadas por Monteiro Lobato em Os Doze Trabalhos de Hércules,
obra publicada pela extinta Brasiliense. Esses são excelentes ganchos para apresentar à
classe A Tapeçaria de Aracne, lenda grega recontada aqui por Ana Maria Machado. A
sugestão é de Rosana de Almeida Resende Lima, pedagoga diplomada pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), SP. Ela leciona na Escola Municipal de Educação Infantil
Pedro de Oliveira, em Jundiaí, SP, onde costuma usar textos de literatura para trabalhar as
várias disciplinas. Acompanhe as sugestões da educadora.
Lembre aos alunos os temas escolhidos pelas desafiantes para suas respectivas tapeçarias.
Faça-os perceber que um mesmo fato pode ser interpretado de modos diversos por pessoas
diferentes.
Brincando de recontar
Finalize o trabalho dividindo a turma em pequenos grupos. Peça para as crianças imaginarem
outras situações ou um outro final para a narrativa e escreverem essa nova versão num papel.
Se elas quiserem, também podem recortar o texto original em tiras e colá-las em folhas de
papel, na ordem que desejarem, ilustrando o trabalho com seus próprios desenhos. Reunidas,
as folhas formam um livrinho muito especial.
Segredo de cientista
Lino vinha todo dia espiar pra ver se crescia de novo o rabo do bicho que ele tinha prendido na
porta, sem querer.
Então descobriu: lagartixa bota ovo! Encontrou no racho do muro, onde o animalzinho fora se
esconder fugindo dele, os ovos moles e esbranquiçados. Pegou, curioso, um pouco enojado.
Depois esmagou um a um contra a parede pra ver o que tinha dentro.
Daí começou a reparar nos bichos pequenos. Desenterrava minhocas. Prendia moscas no
copo e ficava olhando.
– Não põe porcaria no copo onde se bebe – a mãe bronqueava.
Então descobriu as formigas. Com um pau, cutucava o formigueiro.
Um dia entrou em casa gritando, os insetinhos subindo pelas pernas. A avó botou um ungüento
(remédio de gente velha, que ela guardava em potes na gaveta da mesa de cabeceira). Então
Lino aprendeu a abrir o formigueiro com cuidado, sem pisar em cima. Tirava os ovos brancos
de dentro, olhava, examinava.
– É curiosidade científica dele! – o pai dizia. E deu-lhe uma lente.
Contava pra todo mundo que o filho ia ser cientista.
A mãe, barriga imensa, vivia carregando o tricô pela casa. Ela e a avó estavam sempre
ocupadas, entretidas com as receitas de mais uma roupinha. Agora, com a lente, Lino passava
os dias observando lagartas e caracóis; aprisionava grilos e borboletas, abria casulos.
Mas foi depois que descobriu os ovos de aranha que o jeito do menino mudou.
Dos ovos da aranha tinham saído vivas dezenas de minúsculas aranhinhas, que se espalharam
correndo por todo lado. Então ele quebrou todos os ovos da geladeira, pra ver se tinha bicho
vivo dentro. Dessa vez levou bronca, que isso já era demais. Tinha virado mania. Ficou triste,
emburrado, não falou mais com a mãe, nem com a avó. E olhava pra mãe desconfiado...
"Onde será que ela guarda?" – pensava. E toca a procurar. Mexia em tudo, abria os armários,
olhava debaixo das roupas, nas gavetas.
– Não mexe aí, menino. São meus guardados. Que mania! – a avó reclamava.
Nas coisas da avó, não estavam. Olhou no cesto de lãs, na caixa de agulhas... Quem sabe
estavam nos potes de remédio? Se ao menos ele soubesse como eles eram...
Começou a curiosidade pelos livros nas estantes. Olhava as figuras, tinha livros com mapas,
índios, um montão de números. Pior: tinha livros sem figuras.
Subiu numa cadeira para alcançar mais em cima. Um dia Lino achou o que queria: a figura
mostrava um feto pequenino, todo encolhidinho dentro da barriga de uma mulher, como as
formiguinhas dos ovos brancos. Só que era avermelhado.
"Então são assim os ovos da mãe? E se eu encontrasse e quebrasse todos?" Voltou a procurar
adoidado.
Foi quando a mãe disse que ia para a maternidade.
– Só por uns dias, pra buscar seu irmãozinho.
E a vovó foi junto.
"Então os ovos... Aquele barrigão... Foi por isso que não achei em casa!"
Lino estava triste, confuso. Sentia falta da mamãe e da vovó, e tinha uma coisa ruim dentro
dele, que apertava.
À noite o pai chegou e quis saber por que ele tinha chorado. ("Como é que o pai sabia?")
– Menino de quatro anos não chora assim à toa. Ainda mais quando vai ser cientista! – o pai
falou: – Ainda mais agora, que vem um irmãozinho pra brincar com ele.
Então Lino achou que devia contar pro pai. Só ele podia ajudar! Lembrou dos ovos de aranha,
com todas aquelas aranhinhas saindo de dentro, de uma só vez. E contou pro pai. Falou tudo.
Naquela noite, Lino e o pai tiveram uma longa conversa, de "homem para homem".
Nos dias que correm, quase todo mundo concorda sobre a necessidade de tratar com clareza
as questões relativas ao sexo, mesmo com crianças bem pequenas, como o Lino do conto de
Stella Carr. Falar é fácil. Mas aqui as boas intenções podem bater de frente com certos
obstáculos. Por exemplo: nem todos os pais receberam, eles mesmos, uma educação que lhes
permita tocar com naturalidade num assunto que expõe sua intimidade aos filhos. Assim,
limitam-se a informar: "Você vai ganhar um irmãozinho!" Ou então optam por calar-se, mesmo
quando o abdome distendido da mãe praticamente esfrega no rosto das crianças o que está
acontecendo... Veja como ajudar esses alunos acompanhando as propostas da pedagoga
Maria Inês Marques, professora de Ciências do Colégio Três Poderes, em São Paulo.
Troca de experiências
Leia o conto para a classe, deixando os pequenos se manifestarem à vontade no decorrer da
leitura. No final, a maioria vai querer pronunciar-se espontaneamente, exibindo seus
conhecimentos sobre os animais em geral ou até sobre formas pelas quais eles e os seres
humanos se reproduzem. Nesse clima de troca de experiências, os mais tímidos e introvertidos
terão espaço para expor seus sentimentos e dúvidas.
Os ovos das lagartixas vão dar origem a novas lagartixinhas. Será que é certo esmagar
esses ovinhos só para ver o que tem dentro deles?
Nessa altura, mostre à classe álbuns ilustrados ou vídeos com imagens de diferentes animais
que põem ovos.
Por exemplo, artrópodes como a aranha, anfíbios como os sapos, répteis como a lagartixa e as
cobras, aves em geral e o estranhíssimo mamífero ornitorrinco, que tem uma espécie de bico e
dedos interligados por membrana, como o pato.
Na seqüência, peça aos alunos para fazer um desenho dos animais que eles mais gostaram.
Não se preocupe muito se as figuras ficam ou não semelhantes aos animais de verdade. Aqui o
importante é as crianças relaxarem e se divertirem, treinando ao mesmo tempo a memória e a
capacidade de observação.
Podem nascer filhotes dos ovos que estão na geladeira? Por quê?
Muitas famílias são compostas por mãe, pai e filhos. Por que será?
Em cima das respostas, faça-os entender que os dois sexos são indispensáveis para a
formação do ovo, que depois se desenvolve em um novo ser vivo. Um livro que pode ajudar
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você nessa tarefa é De Onde Viemos (Peter Mayle, Arthur Robins e Paul Walter, Editora Nobel,
48 págs.,18 reais).
A lebre na lua
Segundo alguns povos do Oriente, as manchas que aparecem na face da lua cheia se
assemelham à figura de uma lebre. E diz a lenda que isto aconteceu assim...
Há muitos milênios, viviam, à margem do rio Ganges, quatro bichos diferentes que eram
amigos e companheiros: um macaco, uma lontra, um pequeno chacal e uma lebre, a mais
virtuosa dos quatro.
Um dia ela reuniu os amigos e lhes disse: "Amanhã será lua cheia, o dia que nós reservamos
para meditar e fazer jejum. Não precisamos, pois, de comida, mas sugiro que cada um de nós
saia à procura de alimentos necessários para dar de esmola caso alguém nos venha pedir".
Os bichos concordaram e cada um foi se recolher para passar a noite, e no dia seguinte sair
em busca de comida. O chacal subtraiu o almoço de um pastor distraído, que era uma gamela
de coalhada com arroz. O macaco tirou algumas mangas maduras de uma mangueira próxima.
A lontra apanhou alguns peixinhos esquecidos por um pescador. E a lebre, que passara a noite
em profunda meditação, pensou consigo mesma: "Não vou preparar nada. Se algum
necessitado vier pedir comida, darei meu próprio corpo para ele se alimentar".
Essa idéia tão generosa chamou a atenção dos mundos superiores, e um dos espíritos, o deus
Sekra, decidiu descer até a terra, encarnado no corpo de um brâmane, para conferir em pessoa
as dádivas dos quatro amigos animais. Primeiro, ele apresentou-se à lontra: "Minha filha lontra,
estou com fome, desde ontem não como nada. Será que você poderia ceder-me algum
alimento? Em troca, eu lhe darei as minhas bênçãos." A lontra entregou-lhe os peixinhos, e ele
agradeceu, dizendo que voltaria logo mais para buscá-los. E foi falar com o pequeno chacal:
"Amigo chacal, você não teria algum alimento para dar a um pobre faminto?" O chacal
ofereceu-lhe a coalhada com arroz, e o brâmane agradeceu e disse que voltaria logo para
buscar a comida. Então, foi procurar o macaco pendurado pelo rabo num galho de árvore e fez
o mesmo pedido. O macaco ofereceu-lhe as mangas maduras. O brâmane agradeceu, dizendo
que voltaria logo para buscá-las.
Por último, o deus Sakra disfarçado em brâmane foi procurar a lebre que continuava a meditar
à beira da sua toca, e tornou a fazer a mesma pergunta, à qual a lebre respondeu: "Meu santo
homem, vou oferecer-lhe um lauto almoço. É um pedaço de carne fresca, que você só terá de
assar numa pequena fogueira. Prepare o braseiro. Quando o fogo estiver alto, eu trarei a carne
para o seu almoço."
O brâmane juntou alguns gravetos, acendeu uma alegre fogueira ao lado da toca da lebre e
perguntou então qual seria a carne que lhe serviria de almoço. "É o meu corpo", respondeu a
lebre, e no mesmo instante pulou para o meio do fogo. Mas o fogo ardia e não queimava a
lebre, que até reclamou: "Ó santo homem, o seu fogo não queima. Você vai ter de aumentá-lo,
pois do jeito que está, chego a sentir frio".
O texto saboroso e o vocabulário rico seriam razões suficientes para usar A Lebre na Lua nas
aulas de Português da 5ª série em diante. Mas para os professores Suely Nogueira e Marco
Aurélio Rocha, professores respectivamente de Ciências e de Geografia do Instituto de
Educação Anita Garibaldi, em São Paulo, SP, há ainda elementos na narrativa que podem ser
"trançados" entre várias matérias, como Geografia, História e Ciências. Acompanhe as
sugestões.
Palavras e idéias
1. Faça cópias da historinha e as distribua entre as crianças. Peça a estas para ler o texto, em
silêncio e com atenção, anotando os termos que não conhecem. Finda a leitura, mostre à
classe como usar o dicionário para descobrir os significados das palavras desconhecidas.
2. Chame uma criança para fazer a leitura do título e do 1º parágrafo do conto. Convoque uma
outra para ler o 2º e assim por diante, até o fim do texto. Escolha os estudantes que lêem
melhor para os parágrafos mais longos e os que têm dificuldades de leitura para os menores.
3. Divida a turma em grupos de 5 ou 6 crianças, para discutir qual é, para elas, a "moral da
história". Quando todas tiverem dado suas opiniões, peça para elegerem aquela que vai
representar a interpretação do grupo. Escreva na lousa as interpretações vencedoras,
eliminando aquelas que coincidirem. Lance aos alunos questões como as que seguem.
Eles acham que os animais da lenda agiram corretamente ao decidirem ajudar quem
lhes pedisse socorro? Por quê? Na opinião deles, a lebre da história fez bem ao
sacrificar a própria vida para matar a fome do pobre monge? Por quê?
Como agiriam se uma pessoa em necessidade lhes pedisse auxílio? Por quê? Fariam
algum sacrifício para ajudar essa pessoa? Por quê? Em caso de resposta afirmativa,
até que ponto iria o sacrifício? Por quê?
Os vários significados do termo (local onde o Sol nasce; os povos da Ásia; o lado
direito de um mapa etc.). Nesse ponto, verifique que povos orientais os alunos
conhecem, aproveitando para mostrar-lhes a composição da Ásia, que não inclui só
Japão, China e Coréia, como muitos podem imaginar.
As noções de hemisfério geográfico, paralelos e meridianos. Leve as crianças a refletir
sobre o fato de que a Terra está solta no espaço infinito, onde as noções de "em cima",
"embaixo", "esquerda" e "direita" não fazem sentido. Em seguida, faça-as ver que
convenções como as de hemisfério, paralelas e coordenadas são úteis para a
orientação, principalmente no caso de meios de transporte como navios e aviões, que
perdem os pontos de referência ligados à superfície terrestres e devem guiar-se pelas
coordenadas dos mapas e por instruções de rádio.
Peça para explicarem o porquê de suas respostas. Esse pode ser um gancho para estudar o
ambiente e a vida animal. Se quiser, trabalhe também o conceito de mamífero.
Diz a lenda que muito tempo atrás, num distante país do Oriente, havia um rei chamado Cefeu,
casado com a linda rainha Cassiopéia. Tal era a fama de sua beleza, que as pessoas vinham
em caravana dos lugares mais remotos apenas para contemplá-la. Com o passar do tempo, a
rainha começou a se considerar a mulher mais bonita do mundo. Foi nessa época que cometeu
um grande erro. Diante de uma multidão que a aclamava, ousou dizer que era mais bela que as
Nereidas. Estas ninfas, para infelicidade da rainha, eram protegidas pelo poderoso deus dos
mares — Posêidon —, que ficou irado com a comparação. Num acesso de fúria, ergueu-se das
águas segurando o tridente, seu enorme cetro de três pontas, e lançou uma maldição sobre o
reino. O nível do mar subiu rapidamente e inundou grande parte do país. Ainda insatisfeito, o
deus dos oceanos enviou um monstro marinho para devorar qualquer criatura que se
aproximasse do reino pela região costeira.
Os pescadores não se atreviam mais a sair de casa. Os navios estrangeiros que costumavam
trazer preciosas mercadorias, não podendo atracar, nem saíam mais de seus portos. E o rei
Cefeu foi aconselhado a realizar um sacrifício para aplacar a ira do deus ofendido. A vítima
escolhida foi a princesa Andrômeda, sua filha. Deveriam amarrá-la aos rochedos para ser
devorada por Cetus, o monstro que aterrorizava a costa. Andrômeda, que além de linda era
muito corajosa, resolveu apresentar-se ao sacrifício para salvar o reino. E assim foi amarrada
aos rochedos e ficou esperando o monstro.
Enquanto isso, longe dali, um jovem herói cumpria certa profecia. O belo Perseu, filho de Zeus
— deus da terra e do céu, que habitava o monte Olimpo — e da princesa Danae, havia
recebido três presentes muito especiais: o manto da invisibilidade, sandálias com asas e um
escudo de metal, tão polido que mais parecia um espelho. Sua incumbência era matar a
Medusa, um monstro em forma de mulher, cujos cabelos eram serpentes vivas. Todos os seres
que a Medusa olhava se transformavam imediatamente em pedra. Usando seu manto e voando
com as sandálias mágicas, Perseu conseguiu se aproximar da Medusa enquanto esta dormia.
Quando ela pressentiu a presença de alguém, despertou, mas viu apenas sua própria imagem
refletida no escudo polido do nosso herói. Antes que petrificasse, ele cortou-lhe a cabeça e
colocou-a dentro de uma bolsa mágica de couro.
Quando voltava dessa arriscada missão, o jovem encontrou Andrômeda acorrentada nos
rochedos e ambos ficaram perdidamente apaixonados. Mas, no exato instante em que eles se
olharam, o monstro Cetus apareceu. Foi só então que Perseu se lembrou que trazia consigo a
cabeça da Medusa. E não pestanejou. Aproximou-se o mais que pôde e mostrou os olhos
petrificantes da Medusa para Cetus, que imediatamente se transformou em pedra e caiu no
fundo do oceano. Quando tudo parecia terminado, Perseu aproximou-se de Andrômeda para
soltá-la, mas nesse exato instante uma gota de sangue da Medusa, que restara na bolsa, caiu
no mar. Posêidon era apaixonado pela Medusa mas nunca tinha conseguido tocá-la. Esta única
gota de sangue em contato com a água provocou um estrondo e uma abundante espuma
branca, da qual emergiu um belíssimo cavalo alado chamado Pégaso. E assim, ao ver o filho
de sua amada, Posêidon abandonou a idéia de vingança.
Muitas lutas o herói Perseu precisou vencer para chegar à felicidade e casar-se com
Andrômeda. E propagou essa vitória ao mundo, mostrando a todos a cabeça decepada da
inimiga. Por fim livrou-se dela ofertando-a à deusa Atena, sua protetora.
Segundo a lenda, Pégaso foi recebido no monte Olimpo, morada dos deuses gregos e, tempos
depois, transformou-se numa das constelações mais representativas da primavera — estação
do ano que começa em 23 de setembro no hemisfério Sul.
O segredo da vó Maria
Outro dia, eu estava na casa da vovó Maria e, enquanto ela assistia à novela, aproveitei para
brincar em seu quarto. Estava brincando de cabeleireira de minhas bonecas na penteadeira da
vó quando vi pelo espelho o velho guarda-roupa onde eram guardados os lençóis e as toalhas.
Sempre tivera vontade de abrir aquele móvel. Fui até ele, escancarei a porta e vi que era
grande, tão grande que eu podia até entrar e sentar em seu interior. E foi o que fiz. Fechei a
porta por dentro e tudo ficou escuro e em silêncio, um silêncio abafado que me isolou do resto
da casa. Fui me ajeitando entre os lençóis e as toalhas. Tateando no escuro descobri uma
lâmpada bem pequena e consegui acendê-la. Vi então duas gavetinhas com puxadores de
metal. Tentei abri-las, mas estavam emperradas, como se não fossem usadas há muito tempo.
Precisei usar toda minha força para conseguir puxar uma delas. A primeira coisa que vi lá
dentro foi um envelope com uma carta e uma foto de meu avô Pedro quando era moço. Eu
tinha uma vaga lembrança dele, velhinho, magro e alto. Uma lembrança distante, porque
quando ele morreu, eu era muito pequena. Tentei ler a carta, mas não entendi a letra, toda
enfeitada. Como os antigos escreviam diferente! Só entendi o final: "...com afeto e saudades,
Pedro, 1928". Acho que era uma carta de amor para a minha vó, escrita há 70 anos!
Logo depois, achei um bolo de fotos de gente que nunca ouvi falar. As pessoas pareciam de
cera. As fotos eram todas em marrom e branco, e estavam desbotadas, algumas rasgadas. As
mulheres de chapéu e os homens de bengala. As crianças bem penteadas: as meninas com
fitas no cabelo e os meninos com o cabelo repartido de lado. Foi estranho pensar que hoje
esses meninos e meninas deviam ser velhinhos iguais à minha vó.
Continuei remexendo a gaveta, que era bem comprida e funda. Não podia ver direito as coisas
porque a lampadinha a toda hora se apagava. Eu só podia sentir os objetos com as mãos. Foi
num desses momentos de escuridão total que peguei um saquinho pequeno, que parecia de
veludo e era bem leve. Dentro dele senti que havia papéis enroladinhos como se fossem
canudinhos e amarrados com uma fita. Quando enfim consegui acender de novo a lâmpada, vi
que os canudinhos eram pedaços de papel amarelados, roídos pelo tempo e pelas traças. A
fitinha era velha, toda desfiada. Fui desenrolando um dos canudinhos com muito cuidado, pois
tinha medo que se rasgasse. Nesse primeiro papelzinho estava escrito, com letra de criança, o
seguinte:
Segredo de Amabília
Tenho um segredo que ninguém pode saber: morro de
medo do escuro
Era o segredo de uma criança que vivera em outro tempo, bem distante, e que eu nem sabia
quem tinha sido. Será que essa Amabília era uma irmã da vó? Uma prima? Uma amiga?
Resolvi fechar esse primeiro segredo enrolando devagar o papel. Em seguida, abri todos os
outros, um a um.
Segredo de Henrieta
Detesto a tia Adélia. Principalmente quando ela vem nos
beijar.
Ela tem cheiro de naftalina.
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Segredo de Giulia
Gosto do meu primo Tadeu. Mas ninguém pode saber
disso nunca!
Segredo de Maria
Tenho um esconderijo secreto na minha casa: é dentro do
guarda-roupa de lençóis e toalhas. Lá eu passo horas e
ninguém me encontra. Acendo a lanterninha e leio os
livros de histórias que eu mais gosto.
Tomei um susto. Não sei, a única coisa que fiz foi guardar aqueles velhos segredinhos dentro
do saquinho de veludo, apagar a lâmpada e sair de fininho daquele guarda-roupa cheio de
histórias.
Depois disso, toda vez que olho pra vó Maria tenho vontade de contar que descobri o segredo
dela. Mas logo desisto, porque agora o segredo também é meu.
Beatriz
Em linguagem delicada e poética, a narrativa de Carla Caruso nos remete aos mais queridos
momentos da infância, quando, mesclando um pouco de realidade e muito de imaginação,
penetramos num mundo só nosso, onde podemos viajar no espaço e no tempo. É nesse
mundo que Beatriz, a heroína de O segredo da vó Maria, pode aproximar-se da avó como se
ambas tivessem a mesma idade e fossem companheiras de antigas e secretas brincadeiras —
coisa impossível na realidade. Pensando nisso foi que Lavínia Denti Vincenti, pedagoga,
bacharela em Letras, mestra em psicologia da educação e professora da EMPG Euclides
Custódio e da Scuola Eugenio Montale, de São Paulo, SP, elaborou as atividades que vão
ajudar você e sua classe a mergulhar no "rio do sangue" (como dizia Carlos Drummond de
Andrade), que liga antepassados e contemporâneos, desaguando no mar da humanidade —
que somos todos nós.
Trabalhando a observação
Leia o texto para a classe e, em seguida, peça que os alunos tentem lembrar a ordem em que
os acontecimentos do conto ocorreram e que objetos Beatriz foi encontrando. Incentive-os a
listar e, sempre que possível, descrever os objetos citados, como por exemplo, os lençóis e as
toalhas, a lampadinha, a gaveta, o envelope com a carta (como era a letra?), o saquinho dos
segredos (de que material era feito?), as fotos (como eram os meninos e meninas que nelas
apareciam?) etc.
Interpretando o texto
Lance a eles questões como:
O que você pode descobrir da vida da avó por meio dos objetos encontrados pela
menina? (O modo de vestir de uma época, as brincadeiras da avó com suas amigas, o
amor entre a avó e o avô e assim por diante.)
O que existe de semelhante entre a infância da avó e a da menina? Reflita junto com
os alunos sobre as coisas da infância que não mudam com o tempo: a busca de
esconderijos, a curiosidade, os segredos, a amizade, o amor etc.
O que existe de diferente entre o tempo da avó e o da menina (o jeito de se vestir, o
jeito de escrever etc.)?
Interdisciplinaridade
Ajude-os a elaborar uma listinha de perguntas para fazerem aos pais, tios, avós etc.
Por exemplo, "Que brinquedos e brincadeiras vocês tinham quando crianças?", "Como
era a escola?". Monte um painel com as respostas obtidas.
Diga a uma metade da turma para trazer à classe objetos de outras épocas (fotos,
brinquedos, livros) e à outra metade para trazer o mesmo tipo de coisas, só que atuais,
para uma comparação entre os dois grupos de objetos.
No meio do barulhão
De repente a gente fala.
É coisa de apavorar, E neste mesmo momento
A vida da gente estraga... A classe inteira se cala.
Dá vontade de matar!
Que mico que a gente paga!
Todo mundo sente certa apreensão quando tem de ir a algum lugar muito diferente daquele
que está acostumado a freqüentar. E não há quem não fique nervoso se tiver de dar sua
opinião sobre um assunto que não conhece bem. Principalmente se for criança, vivendo a fase
da vida em que é grande a necessidade de aprovação pelos outros e quando tudo é
aprendizado e adaptação. Pior ainda se estiver na escola, longe do aconchego de sua família e
exposta aos comentários muitas vezes impiedosos dos colegas.
Nas saborosas quadrinhas de Quem Tem Medo do Ridículo? Ruth Rocha procura, com muito
humor, sossegar os medos e vergonhas tão comuns na infância, deixando claro para a criança
leitora que ela não está sozinha nessa situação: o mundo inteiro está com ela! A professora
Rosana de Almeida Resende Lima, pedagoga e professora da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Pedro de Oliveira, em Jundiaí, SP, completa o trabalho de apaziguamento
propondo atividades que permitem às crianças revelar seus medos em grupo: percebendo que
os colegas possuem os mesmos sentimentos que elas, nas mesmas situações ou em situações
parecidas, elas relaxam e se dão o direito de ser o que são.
Quebrando barreiras
Para iniciar o trabalho com a classe, avise que eles irão ouvir uma poesia falando
sobre o medo. Comente que todos nós possuímos alguns temores e, muitas vezes,
temos vergonha de admitir isso.
Proponha que cada aluno, sem se identificar, escreva bem grande numa folha de papel
sulfite, qual é o seu maior medo.
Recolha os papéis sem olhar o que está escrito, para não encabular as crianças (este é um
assunto extremamente delicado para elas). Embaralhe os papéis e faça um grande painel com
todos eles.
Provavelmente, haverá vários papéis com medos iguais. Aproveite o fato para falar como esse
sentimento é comum. Diga que o medo faz parte de toda a nossa vida — ele apenas se
modifica com o passar do tempo.
Depois disso, leia as quadrinhas em voz alta para a classe, pois a beleza da poesia
está na sonoridade das palavras que a compõem.
Trabalhando os medos
Divida a turma em pequenos grupos. Cada grupo deve imaginar uma situação que eles
considerariam ridícula e depois descrevê-la. Quando terminarem, os grupos trocam
entre si os textos que elaboraram.
Se quiser, faça uma votação na classe para escolher as três situações consideradas as
mais ridículas de todas pela turma.
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Junto com as crianças, organize uma dramatização dessas situações, preparando os cenários
de acordo com a situação da estrofe que trata dos medos em questão.
A vez do texto
Explore as rimas. Por exemplo, diga aos alunos para lerem os três primeiros versos da
1a estrofe e depois inventarem o último verso, terminando com uma palavra que rime
com a última palavra do 2º verso. Feito isso, diga para escreverem a nova estrofe no
caderno.
Repita a atividade com outras estrofes e vá complicando as tarefas: mande-os partir de
um só verso ou, dependendo do nível da classe, até de uma única palavra do poema
para realizar o exercício.
Peça então que cada grupo elabore uma estrofe inteiramente nova, com uma situação
imaginária, e escreva essa estrofe num pedaço de cartolina. Reúna o material obtido e
então, em conjunto, todos montarão uma só poesia coletiva, que pode ficar exposta na
classe.
Terminado o trabalho, converse com a classe sobre a questão do preconceito, de como
nós, muitas vezes, não aceitamos as outras pessoas como elas são.
Comente ainda a respeito da autenticidade; que cada um deve ser aquilo que é, e não aquilo
que os outros querem que ele seja.
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A lenda de Órion
Dizem que na Grécia Antiga, muito tempo atrás, um jovem caçador chamado Órion
apaixonou-se por uma princesa de nome Mérope. Era filha do rei Enopião, com quem
morava numa ilha do Mar Mediterrâneo. Dona de grande beleza, Mérope era muito
amada pelo pai, que impedia os rapazes de se aproximarem da filha e namorá-la.
Acontece que Órion não era um jovem qualquer, mas filho do deus grego Posêidon,
conhecido na Roma Antiga como Netuno. Muito poderoso, esse deus reinava sobre os
mares. Com receio de deixar Posêidon zangado, Enopião permitiu a Órion achegar-se à
filha, com uma condição: devia capturar todos os animais ferozes que infestavam seu
reino. Sendo um hábil caçador, nosso herói aceitou a proposta, pedindo a mão da
princesa como prêmio pela façanha. Enopião nada respondeu e Órion interpretou seu
silêncio como consentimento. Durante um bom tempo o caçador enfrentou as feras, que
por fim conseguiu aprisionar e transportar para outra ilha, desabitada. Terminada a
missão, ele imaginou que pudesse, enfim, casar-se com Mérope. Contudo, os ciúmes de
Enopião em relação à filha falaram mais alto e ele escondeu-a do noivo num castelo.
Inconformado, Órion começou a trazer os animais caçados de volta à ilha de Enopião.
Numa de suas viagens foi capturado pelos soldados do rei, que o cegaram e em seguida
o abandonaram numa praia deserta. Felizmente, o caçador cego foi encontrado por um
ciclope, gigante mitológico de um olho só, que o conduziu até Aurora, a deusa do
amanhecer. Apaixonada que era por Órion, ela restituiu-lhe a visão, fazendo-o olhar
para onde o sol nasce. Porém, mesmo com a vista totalmente recuperada, o caçador não
conseguiu casar-se com Mérope.
Tempos depois apaixonou-se por Ártemis, a deusa da caça, conhecida entre os romanos
como Diana. Mas Ártemis tinha um irmão gêmeo, Apolo, muito ciumento dela. Numa
bela tarde, os dois irmãos saíram para um torneio de arco e flecha. No caminho, Apolo
desafiou Ártemis a acertar um alvo no mar, perto da linha do horizonte. Excelente
arqueira, Ártemis aceitou prontamente o desafio e retesou o arco na direção indicada
pelo irmão. Mal sabia ela estar apontando para Órion, que nadava à distância e foi
trespassado por sua flecha certeira. No dia seguinte, andando a beira-mar, a deusa
encontrou o corpo morto do amado, com uma de suas flechas cravada no coração. Pôs-
se a chorar, mas era tarde, o mal estava feito. Penalizado com sua dor, Zeus, o maior dos
deuses gregos, ofereceu-se para transformar Órion numa constelação. Ártemis aceitou a
oferta porque assim, pelo menos, poderia ver seu amado no céu. A mesma sorte não
coube aos dois cães fiéis de Órion, que ganiam desesperados ao ver seu dono brilhando
no céu noturno. Assim, também eles foram transformados por Zeus em constelações.
São elas Cão Maior e Cão Menor, que podem ser vistas no céu junto ao gigante caçador
nas noites quentes de verão do hemisfério Sul.
O leão de Neméia
Era uma vez um homem chamado Anfitrião, que vivia em Tebas, cidade da Grécia Antiga. Ele
era casado com Alcmena, neta de Perseu. Tão linda era Alcmena, que Zeus, o poderoso deus
dos deuses gregos, caiu de amores por ela. Alcmena, porém, era fiel ao marido. Mas, um belo
dia, Anfitrião teve de viajar por alguns dias e não avisou à mulher quando ia voltar.
Aproveitando-se disso, Zeus assumiu a forma física do esposo e passou a viver com Alcmena
como se fossem casados.
Algum tempo depois, ao tomar conhecimento de que Alcmena estava grávida, Zeus,
imaginando que o bebê fosse seu filho, declarou que o próximo descendente de Perseu seria o
soberano da Grécia. Porém, antes que Alcmena tivesse seu nenê, uma artimanha de Hera, a
ciumenta esposa de Zeus, fez nascer antes outra criança que tinha o sangue de Perseu —
Euristeu — que então tornou-se rei.
Logo em seguida Alcmena deu à luz não um, mas dois bebês: Hércules, filho de Zeus, e Íficles,
filho de Anfitrião. Quando os bebês tinham oito meses de vida, a deusa Hera, morrendo de
ciúmes de Alcmena e do filho que ela havia tido com seu amado, decidiu eliminar o pequeno
Hércules mandando colocar em seu berço duas imensas serpentes. Felizmente, o bebê já tinha
a força de um semi-deus e deu cabo dos dois bichos com as próprias mãozinhas!
Anfitrião e Alcmena deram a Hércules e Íficles a melhor educação que se podia ter na época:
eles aprenderam a dirigir carruagens, a usar o arco e flecha, a usar a lança e a tocar lira. Aos
18 anos, Hércules destacava-se entre todos os outros rapazes, por ser de longe o mais alto e o
mais forte. Nunca errava uma flechada ou um golpe de lança e seu olhar resplandecia. Com o
tempo, tornou-se um herói que todos chamavam quando precisavam de proteção ou de alguém
que lhe garantisse o sucesso numa luta. Foi depois de uma dessas lutas vitoriosas que
Hércules casou-se com Megara, uma das princesas do reino vencido, e com ela teve vários
filhos.
Do Monte Olimpo, a morada dos deuses gregos, Zeus observava a vida aventurosa do filho
com ternura, o que deixava Hera cega de ódio. Por fim, ela decidiu destruir a reputação de
Hércules para que Zeus o desprezasse. Hera fez com que o herói tivesse um ataque de
loucura e matasse a mulher e os próprios filhos. Quando voltou a si e viu o que tinha feito,
Hércules ficou desesperado e correu a consultar uma sacerdotisa para saber que castigo
poderia purificá-lo de seu terrível crime.
A sacerdotisa disse-lhe que devia servir ao rei Euristeu por doze anos. A cada ano, Hércules
deveria realizar um trabalho dificílimo. Quando os trabalhos estivessem completos, ele estaria
livre de seu crime, tornaria-se imortal como o pai e poderia viver com este no Olimpo. O
primeiro trabalho que Euristeu deu a Hércules foi trazer-lhe a pele do leão de Neméia, um
monstro terrível, com fama de indestrutível, que vinha aterrorizando a região há um certo
tempo.
Hércules aceitou o encargo e partiu para Neméia, levando um arco, uma lança e uma clava que
ele mesmo havia feito. Ao avistar a fera, o herói disparou uma flecha em sua direção. Mas a
flecha nem sequer arranhou a pele do animal. Hércules decidiu então atacar o monstro com a
clava, atraindo-o para uma caverna que tinha duas entradas. Tapou uma delas com pedras,
entrou pela outra e, depois de uma luta feroz, conseguiu estrangular a fera, passando a usar
sua pele como manto. A bravura do animal, porém, foi reconhecida por Zeus, que o
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transformou na constelação do Leão, que hoje brilha no céu do hemisfério Sul na entrada do
outono.
A gente vive aprendendo Eu não sei me recusar, Depois que eu estou na fila
A ser bonzinho, legal, Quando me pedem um favor. Pra pagar o supermercado,
A dizer que sim pra tudo, Eu sei que não vou dar conta, Já estou lá há muito tempo...
A ser sempre cordial... Mas dizer não é um horror! Aparece um engraçado...
A concordar, a ceder, E no fim não faço nada Seja jovem, seja velho,
A não causar confusão, E perco toda razão. Se mete na minha frente,
A ser vaca-de-presépio Fico mal com todo mundo, Mas eu nunca digo nada...
Que não sabe dizer não! Só consigo amolação. Embora eu fique doente!
Como coisas que não gosto, Embora ache desaforo, Mas depois que você disse
Faço coisas que não quero... Eu não consigo negar... Você fica aliviada
Deste jeito, minha gente, Meu Deus, como sou boazinha... E o outro que lhe pediu
Qualquer dia eu desespero... Vivo só para ajudar... É que fica atrapalhado...
Já comi pamonha e angu, Se alguém me pede que Mas não vamos esquecer
Comi até dobradinha... empreste Que existe o "por outro
Comi mingau de sagu O disco do meu agrado, lado"...
Na casa de uma vizinha... Sabendo que não devolvem Tudo tem direito e avesso,
Ou que devolvem riscado... Que é meio desencontrado...
Comi fígado e espinafre,
De medo de dizer não. Sou incapaz de negar, Quero saber dizer NÃO.
Qualquer dia, sem querer, Mas fico muito infeliz... Acho que é bom para mim.
Vou ter de comer sabão! Qualquer um, se tiver jeito, Mas não quero ser do
Me leva pelo nariz... contra...
Também quero dizer SIM!
Faça cópias do texto e distribua entre os alunos. Leia-o devagar, pronunciando bem as
palavras e "interpretando" cada estrofe.
Leia os versos uma segunda vez, agora com pausas a cada quadrinha. Nessas paradas, veja
se a turma tem dúvidas sobre o sentido dos termos e/ou expressões usados pela autora
(exemplos: "vaca-de-presépio", "engolir sapo"). Caso parte das crianças conheça o significado
de certa palavra mas as outras não, peça às primeiras para passar aos colegas o que sabem,
mas... por mímica!
Apresente à classe questões como: "Algum de vocês já esteve em situação parecida com as
descritas no texto?" É possível que várias crianças digam "sim" e comecem a contar suas
experiências. Estabeleça uma ordem para cada uma falar e vá anotando na lousa as situações
relatadas, juntando as semelhantes. Discuta os casos anotados e, a seguir, lance à turma o
seguinte tema: será que os adultos às vezes também aceitam coisas que gostariam mesmo é
de recusar? Ajude os alunos a montar um questionário para eles usarem numa pesquisa com
os pais e outros adultos conhecidos. Se alguns tiverem gravador ou câmera de vídeo e
souberem manejar esses aparelhos, peça para que os usem na pesquisa. A partir da discussão
que você promoveu em sala com as crianças, e das respostas obtidas por elas na pesquisa
com os adultos, puxe uma conversa final sobre as concessões que precisamos fazer para viver
em sociedade e aquelas que fazemos por medo de não sermos aceitos. Termine questionando:
vale a pena conseguir um afeto dirigido a uma falsa imagem que criamos de nós, e não ao
nosso verdadeiro eu?
Prepare os alunos para os exercícios, organizando-os em círculo, com você ao centro. Peça,
então, que fechem os olhos. Com voz pausada e tranqüila, dê os comandos:
pés paralelos e um pouco afastados. Imaginem-se como um conjunto tranqüilo, sereno. (Daqui
em diante, as crianças estarão preparadas para os exercícios a seguir.)
Movimento do balanço — Ergam-se sobre a parte da frente dos pés, mantendo-os paralelos e
um pouco afastados entre si. A seguir, batam a parte de trás da sola dos pés contra o chão,
aumentando o ritmo do sobe-e-desce até transformá-lo em vibrações que chegam à cabeça,
como se, com o corpo todo, vocês dissessem "sim, sim, sim" a si mesmos, a seus desejos e a
suas necessidades. Diminuam aos poucos os movimentos até parar por completo. Torçam de
leve a cabeça e a coluna para um lado e para o outro, como o corpo todo dissesse "não, não,
não" a tudo que incomoda ou magoa vocês.
Movimento da cobra — Deitem-se de barriga para baixo, peito dos pés,dorso das mãos, testa e
queixo no chão. Juntem as pernas e contraiam as nádegas. Mãos sob os ombros, palmas das
mãos para baixo, dedos unidos. Inspirem enquanto levantam sucessivamente a testa, o queixo
e o pescoço, imitando uma cobra. Expirem. Agora, inspirando e expirando, empurrem o chão
com as mãos e elevem o peito e a barriga, deixando o resto do corpo apoiado no solo: uma
cobra preparando o bote! Fiquem assim por cerca de um minuto. Desfaçam a posição
descendo o tronco devagar, tocando o chão primeiro com a barriga, depois como peito, os
ombros, o queixo e por fim a testa. Repousem o lado direito do rosto no chão, braços ao longo
do corpo, dorso das mãos voltado para baixo. Relaxem completamente por dez a quinze
minutos.
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O caso do espelho
Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida
nos cafundós da mata.
Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do
lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e
moldura de madeira.
— É não! — respondeu o outro. — Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele.
Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou,
cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira.
No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da
penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando
a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
— Ah, meu Deus! — gritava ela desnorteada. — É o retrato de outra mulher! Meu marido não
gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele
macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
— Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher,
chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.
— Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho
lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo.
Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa.
— Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele
saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
— Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha,
cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada
que eu já vi até hoje!
Em O Caso do Espelho, Ricardo Azevedo reconta uma narrativa de origem chinesa, perfeita
para trabalhar com a imaginação e a capacidade de observação das crianças. E também com
seu humor, já que o conto está repleto de situações engraçadas. Por lidar com as imagens
formadas no espelho, ele também pode ser utilizado para passar aos alunos as primeiras
noções de óptica. Veja o plano de aula interdisciplinar elaborado pe-los professores Magali
Filizola Al-ves, de Português, e José Ary Lemos, de Ciências, ambos do Colégio Santa Inês, de
São Paulo.
Um bom começo é lançar para as crianças questões que as façam perceber que certas
tecnologias com as quais elas convivem no seu dia-a-dia nem sempre existiram. Comece, por
exemplo, com a eletricidade (não apenas a energia elétrica: também a de pilhas, baterias,
células de energia solar). Enquanto você pergunta "O que não teríamos hoje se não existisse a
eletricidade?", vá desenhando na metade esquerda da lousa uma tabela com duas colunas
(veja esquema abaixo). No topo da primeira, escreva "Tecnologia" e, na linha de baixo,
"Eletricidade". No topo da segunda, escreva "Benefícios". É possível que as crianças falem de
coisas como televisão, cinema, computador. Vá anotando tudo na 2a coluna. Esgotadas as
sugestões, pergunte sobre benefícios que elas não citaram: "E elevadores, haveria?";
"Microondas?"; "Radinhos de pilha?"; "Automóveis?" e assim por diante.
Introduza, a seguir, a questão dos espelhos. Como seria nossa vida sem os espelhos?
Possivelmente, os alunos dirão que seria difícil pentear os cabelos, fazer a barba, escovar os
dentes.
Pegue o espelho que levou para a sala, vire-o para a classe e pergunte: "Por que é que vemos
nossa imagem nos espelhos ?" Ouça as respostas e vá anotando tudo no lado direito da lousa.
Lance uma segunda questão: "E por que não vemos nossa imagem numa folha de papel?"
Caso nenhum aluno toque na questão da reflexão da luz pelos espelhos, explique um pouco
sobre o mecanismo da nossa visão: tudo o que vemos é a luz refletida pelos objetos. Sem isso,
não há visão. É possível que elas duvidem de suas palavras. Feche, então, as cortinas da sala,
apague a luz e pergunte: "Estão enxergando como antes?" Um coro de nãos será a sua
resposta.
Puxe um pouquinho a cortina, o suficiente para entrar um feixe de luz que se reflita no espelho.
"Que objeto ou pessoa vocês vêem melhor com esse pouquinho de luz?" A resposta será "O
espelho" ou "A luz do espelho". Pronto, agora você pode dizer que, quanto mais lisa uma
superfície, mais ela reflete a luz. Circule então o espelho e uma folha de papel pela classe para
que todos observem qual superfíce é mais lisa: a do papel ou a do espelho.
"Além do espelho, em que outras superfícies vocês já viram sua imagem refletida?" é a
pergunta seguinte. As crianças talvez falem de vidraças, móveis polidos, colheres etc. Se
ninguém sugerir, pergunte: "E na água?" Pelo menos alguns já terão observado seu reflexo
num balde d’água. Passe então para o próximo tópico da aula.
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Leia o conto em voz alta para as crianças. Procure representar dramaticamente as diversas
situações descritas, mudando a voz e a postura do corpo para a fala de cada personagem. O
humor do conto vai contagiar a classe. E nada como boas risadas em grupo para criar um clima
de companheirismo e disposição para o trabalho.
Distribua cópias do conto a todos. A seguir, faça os alunos analisarem a narrativa por um
ângulo diferente do usado pelo escritor. Será que, mesmo sem conhecer um espelho, o homem
do conto nunca teria contemplado a própria imagem? No final da discussão, divida a classe em
grupos e peça a cada um deles para reescrever o conto de Ricardo Azevedo, usando as
noções que aprenderam. Depois, monte um mural com os trabalhos.
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______________________
Poesia de Ruth Rocha
Nessa história em versos, Ruth Rocha mexe outra vez com a questão dos medos infantis.
E de novo lança contra eles a infalível arma do humor. Comparar o mundo canino com o
nosso é a proposta da professora Anna Flora, mestra em Teatro-Educação pela
ECA/USP, autora de 19 livros para crianças e jovens, entre eles A República dos
Argonautas (Cia. das Letras), O Retrato das Figuras (Quinteto) e do didático Escrever e
Criar, em parceria com a própria Ruth Rocha (FTD). Veja algumas atividades sugeridas
por ela para trabalhar o conto.
Investigue: quem na sala tem cachorro em casa? Como o animal é? Como se chama? O
que faz quando vê a criança? Ela já surpreendeu o bichinho fazendo alguma travessura?
Divida a turma em duplas: uma criança será o cachorro e a outra, o seu dono. Cada dupla
se exibe para os colegas, que serão as "visitas". O dono vai dizendo o que seu animal é
capaz de fazer. Enquanto isso, o "cachorro" usa a expressão corporal para obedecer às
ordens do dono.
Em seguida, a classe entrevista o cachorro. Como é o seu dono? Ele tem medo do quê?
Você gosta dele ou se sente obrigado a seguir suas ordens para ganhar casa e comida?
Por que você não larga dele e muda de vida?
Depois que todas as duplas se apresentam para a turma, invertem-se os papéis: quem
era cachorro vira dono e vice-versa.
Separe a classe em grupinhos (três ou quatro crianças em cada um). Peça para cada
grupo produzir um pequeno texto contando como se sentiu durante sua "vida de
cachorro". No final, convide os alunos a elaborar "Os Dez Mandamentos do Dono de Um
Bichinho de Estimação". As regras escolhidas ("Não deixar o animal sem água e comida",
por exemplo) serão copiadas em uma cartolina, que ficará sempre exposta na sala.
Com o ambiente bem descontraído, converse com as crianças sobre o sentido do texto de
"Quem Tem Medo de Cachorro?", no qual cada tipo de cão tem receio de um outro, nem
sempre maior ou mais forte que ele — o Dóberman, por exemplo, apresentado como o
mais feroz de todos, fica aterrorizado diante do pequeno Lulu da Pomerânia.
Debata com as crianças sobre as questões a seguir.
Será que a história fala mesmo só sobre cachorros? Ou ela foi escrita para nos lembrar
que, como os cães da narrativa, também tememos outros seres humanos? Quem, na
turma, temeria enfrentar um colega mais alto ou maior? Por outro lado, alguém conhece
crianças grandonas e fortes, mas que são tímidas e medrosas? E os adultos, será que
não têm mesmo medo de nada? Nem de um cachorrão bem bravo?
Encomende às crianças uma pesquisa com os pais, realizada em duas partes. Na
primeira, elas investigam os temores infantis da mãe e do pai, descobrindo como fizeram
para superá-los (ou não...).
Na segunda parte da pesquisa, os filhos procuram saber se agora os pais têm receio de
alguma coisa (vale medo de barata, de ver sangue, de perder o emprego, de bronca do
chefe...).
O resultado da pesquisa vai mostrar aos alunos que seus pais também sentem temores.
Explique que o medo é uma coisa normal e pode até ser benéfica, pois serve para nos
avisar dos perigos. Imagine se a gente não se amedrontasse ao ver um leão feroz vindo
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em nossa direção! Aproveite para dizer que a coragem não é ausência de medo, mas a
capacidade de enfrentá-lo quando é preciso.
Encerre a atividade com uma brincadeira no pátio. Divida a classe em grupos de dez. Use
cartolina e alfinetes de segurança para fazer conjuntos de crachás numerados de 1 a 10 e
assim identificados:
1 - Dóberman; 6 - Séter;
2 - Dinamarquês; 7 - Cóquer;
3 - Policial; 8 - Bassê;
4 - Bóxer; 9 - Púdol;
5 - Galgo; 10 - Lulu
Combine que, quando você der o sinal, o "cão" de número 1 correrá atrás do de número 2,
este perseguirá o de número 3 e assim sucessivamente. Quem for o Lulu (o número 10),
além de fugir do Púdol, terá também de correr atrás do Dóberman.
este número, Ruth Rocha (que se diz a pessoa mais medrosa do mundo...) faz uma última
narrativa sobre os medos comuns entre as crianças. Outra vez, sua preocupação é mostrar que
todo mundo tem medo de alguma coisa. Se é assim, não há motivo para alguém ter vergonha
do próprio medo. Para fechar o assunto com chave de ouro, a professora e escritora Anna
Flora — tel. (0_ _ 11) 262-6424 — elaborou uma aula especial, um tanto filosófica, tratando dos
"medinhos", que merecem tanto respeito quanto os "medões", e dos significados que medo e
coragem podem ter, dos pontos de vista ético e social. De nossa parte, uma sugestão: reúna os
outros poemas da autora e as aulas propostas para deles em um livrinho para você trabalhar
com suas turmas. Solte a imaginação e invente novas histórias e atividades feitas
exclusivamente para as crianças de sua classe.
Leia para os alunos as quadrinhas do Quem Tem Medo de Quê?. Divida a classe em pequenos
grupos, sorteando entre eles os nomes dos medos citados no poema: trovão, lagartixa, injeção,
escuro, vampiro, piolho, cachorro, avião, bicho de pena e lobisomem. Se não houver grupos
suficientes para todos os medos, sorteie mais de um para cada.
Cada grupo debate sobre o medo que recebeu no sorteio, tentando "enfiar-se" na pele de
alguém que tem mesmo esse sentimento. Depois, a equipe escreve uma minipeça de teatro na
qual um dos personagens tem o tal medo e os outros tentam "curá-lo", usando seus melhores
argumentos.
Os grupos trocam as peças entre si e sorteiam a ordem em que vão representá-las para os
colegas (a atividade de representação pode ficar para as próximas aulas).
Releia para a classe o conto Quem Tem Medo de Cachorro?, publicado na edição 124.
Comece debatendo com meninos e meninas sobre o medo que o Dóberman tem do Lulu.
Parece engraçado tamanho bichão assustador derreter-se diante de um punhadinho de pêlos
com nariz gelado! Argumente então que nossos medos às vezes são irracionais e misteriosos...
Conte como há pessoas que têm horror de besouro, de barata, de sapo, de gato... E até gente
que entra em pânico quando vê uma galinha ou outro bicho de pena, mesmo um pequenino
beija-flor... Todos devem ser respeitados, pois o tamanho do medo está dentro e não fora da
pessoa.
Convide as crianças da classe que têm receio de alguma coisa ou bicho pequeno a falar de seu
próprio "medinho", contando depois quando foi a última vez que se amedrontou.
Em seguida, peça a cada um para escrever uma descrição detalhada e ilustrada dessa
situação: o que sentiu quando o bicho (ou seja lá o que for) apareceu? Como era ele? O que a
criança fez? Use os trabalhos para montar com a turma um "Mural do Medo Pequeno".
Às vezes, alunos ou alunas que vão bem em trabalhos escritos, individuais ou em grupo,
entram em pânico quando precisam fazer sozinhas algum relato oral. Pode ser que essas
crianças tenham problemas de auto-estima, temendo não serem aceitas por você e/ou pelos
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colegas. Nesses casos, não force a criança a ficar em evidência. Em vez disso, faça-a
participar de atividades em grupos cada vez menores, até chegar a uma equipe de dois alunos
— ela e outro. Nesse ponto, passe a atividades individuais que exijam pouca exposição da
criança. Responder "sim" ou "não" a uma questão, por exemplo. Assim que a sentir segura
para fazer isso, vá aumentando aos poucos o grau de exposição: dizer uma pequena frase
durante uma representação, por exemplo, pode ser o próximo passo.
Vá assim, sem fazer muita pressão, sempre encorajando o aluno com frases afetuosas. À
medida que perceber sua aceitação e a dos colegas, ele irá se soltando.
Lance as questões: O que é coragem? Só é corajosa a pessoa que parece não sentir medo de
nada? Ou também aquela que vence o medo e faz o que tem de fazer? Quem tem mais
coragem: quem luta com alguém fisicamente mais forte ou quem defende alguém mais fraco?
Tem mais valor a coragem de quem defende seus próprios interesses ou a de quem luta pelos
direitos de um grupo mais pobre ou mais fraco?
Proponha aos alunos formar grupos para pesquisar em jornais e revistas notícias sobre
experiências, gestos que eles consideram corajosos, não só de pessoas isoladas, mas de
grupos que resistem a determinado tipo de opressão, trabalham na defesa de uma
comunidade, de um bairro e assim por diante. Convide o pessoal a usar as notícias coletadas
para montar um jornal mural com o seguinte título: "Quem Tem Medo, Mas Faz".
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Certa vez, um rei convocou os nobres da corte e declarou que era uma vaca. Os nobres
ficaram assustados. O soberano disse mais: desejava ser morto e ter sua carne cortada e
distribuída ao povo.
Achando que o rei havia enlouquecido, os nobres convocaram os principais médicos do reino.
Remédios e ungüentos foram experimentados mas, infelizmente, sem nenhum resultado.
Enquanto isso, o monarca piorava. Mugia o dia inteiro. Sujava o chão do palácio. De vez em
quando, saía galopando, dando coices e cabeçadas.
Passado um tempo, o rei chamou novamente seus principais nobres e ministros. Parecia
contrariado. Esbravejou. Disse que, porque suas ordens não haviam sido cumpridas, a partir
daquele dia não ia comer mais nada.
Uma nuvem negra pousou no futuro do reino. O povo, angustiado, acompanhava o drama de
seu querido rei, cada vez mais magro, fraco e abatido.
Um dia, um famoso cientista apareceu no reino. Diziam que era um grande médico. Diziam que
era um filósofo capaz de lidar com os mais intricados segredos da alma humana.
O sábio foi ao palácio examinar o rei. Deitado na cama, o monarca repetiu ao médico suas
alucinações. Mugiu. Confirmou que era uma vaca. Confirmou que seu único desejo era ser
morto, cortado e ter sua carne distribuída ao povo.
Coçando a longa barba, o sábio declarou que o rei tinha razão. Ordens reais eram leis que
precisavam ser cumpridas imediatamante. Em seguida, abrindo a porta, chamou o açougueiro.
Um homem imenso, vestido de branco, entrou no quarto com uma faca na mão. Perguntou
onde estava a tal vaca.
– Estou aqui! – gemeu o soberano, exultante, com os olhos alegres de loucura.
O açougueiro aproximou-se da cama. Levantou, cuidadoso,
a perna fina e branca do monarca. Balançou a cabeça, decepcionado. Aquela vaca estava
magra demais.
De que adiantava matar um animal que era só pele e osso? Cortar o quê? Distribuir o quê?
– Primeiro – aconselhou ele –, é necessário que essa vaca aprenda a se cuidar, a comer,
dormir direito e caminhar pelas montanhas, até ficar forte, alegre e cheia e saúde.
Dizendo que só voltaria quando a vaca estivesse no ponto certo, o açougueiro guardou a faca e
foi embora.
A partir desse dia, o rei decidiu alimentar-se de novo. Aos poucos, foi engordando, as cores
voltaram a brilhar em seu rosto, ficou forte e acabou esquecendo de vez que um dia havia sido
vaca.
Existiu ou existirá algum dia um rei tão bondoso ou tão louco ao ponto de querer que seus
súditos se alimentem de sua própria carne e seu próprio sangue? Qual a intenção desse “rei
que virou vaca”?Nem se ele fosse um chefe índio seria fácil compreendê-lo! Muitas tribos
comem os inimigos vencidos para dessa forma integrar a si próprios as qualidades dos
oponentes. Nosso rei, porém, quer ser comido pelos súditos! A pedagoga Rosana de Almeida
Resende Lima, Coordenadora Pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro
de Oliveira, em Jundíai, SP, preferiu deixar de lado esse aspecto do conto e montar atividades
possíveis de trabalhar em disciplinas como Português, Filosofia e História.
Veja as sugestões dela:
Inicie o trabalho preparando a turma para a narrativa que será apresentada posteriormente.
Comece com uma sondagem oral a respeito dos contos
de fadas que as crianças conhecem. Caso algum conto bem popular não seja citado por elas,
pergunte, por exemplo: “Alguém conhece uma
história em que a princesa machuca
o dedo num instrumento de tecer
e cai adormecida?”
Se quiser incluir narrativas modernas, estimule a classe a se lembrar de histórias como O Rei
de Quase Tudo, de Ruth Rocha.
Vá escrevendo na lousa os títulos das narrativas que os alunos vão citando. Levantados o
maior número possível de títulos, peça à turminha para dizer em quais das histórias um dos
personagens é um rei. Vale lembrá-los de títulos onde o rei foi esquecido por ser um
personagem pouco atuante, como é o caso de A Bela Adormecida.
Marque um X ao lado do título das narrativas “com rei”.
Peça aos alunos para refletir a respeito do comportamento e da personalidade dos reis dos
contos selecionados por eles.
O conto de Ricardo Azevedo cai como uma luva para você discutir com a turma os sistemas de
governo monarquista e presidencial. Veja algumas dicas:
Lance à classe perguntas como as seguintes: ”Qualquer menino ou menina pode ser
rei ou rainha quando crescer? Por que não?” Provavelmente os alunos vão dizer que
só quem pertence às famílias reais podem aspirar o trono de rei ou de rainha.
Peça para eles refletirem: “Dá para saber se o filho ou a filha de um bom rei também
vai ser um rei ou uma rainha bons?” As crianças sabem perfeitamente que os filhos
nem sempre “puxam” aos pais e vão admitir que é impossível dizer como será o filho
ou a filha de uma pessoa.
Argumente então: “O pai do primeiro de todos os reis não era rei.Como será então que
ele se tornou rei?” Isso dará margem a uma grande discussão que você poderá desviar
para o estudo de História e da questão de como o poder se transmite.
Finalize com a questão: “Está certo esse sistema de escolher a pessoa para governar
um país?” Muito possivelmente, os alunos acharão que não.
É o momento então de você explicar-lhes como funcionam os sistemas democráticos
de governo, como o presidencialismo. Divida novamente a classe em grupos e ofereça
um material informativo que fale a respeito da Monarquia e da República. Proponha
que comparem as duas formas de governo assim como os poderes de um rei e de um
presidente.
Após essa etapa trace oralmente com eles um paralelo entre a época em que se passa
a história e o Brasil dos dias de hoje.
– Aqui existe um rei?
– Quem exerce uma função semelhante à do rei ?
Para finalizar peça aos grupos que elaborem uma versão da história, tendo um
presidente como personagem principal. Lembre que outros papéis também terão que
ser mudados e que a solução deve ser coerente com a realidade atual.
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Folhas secas
Poético e intimista, o texto de Chico dos Bonecos quase não tem diálogos. Mesmo assim, no
final da leitura o leitor tem a sensação de ter assistido pessoalmente às cenas descritas pelo
autor. Simone Pierri, formada em Letras e professora de Português do Colégio Brasília de São
Paulo (tel. 0_ _11-271-0066), captou muito bem essa característica envolvente da narração de
Chico. E criou uma atividade bem criativa que você também pode usar com suas turmas de 5a
série em diante.
Mãos à obra
Comece pedindo aos alunos que descrevam, em uma só palavra, aquilo que sentem
ao olhar pela janela da sala de aula. Essa palavra deve ser escrita numa das “folhas”
colocadas por você na caixa.
Divida a classe em grupos de cinco ou seis membros. Entregue a cada participante
uma cópia do primeiro trecho do conto. Depois de ler e reler o texto, cada equipe
escreve, em conjunto, um final para a narrativa.
Findo o texto, diga aos grupos que elaborem uma dramatização do conto. Enquanto
eles preparam sua performance, você pode pôr
uma música de fundo.
52
Discuta o trabalho feito pela classe, sem esquecer a diversidade de finais, com todos
sentados em círculo. Feito isso, distribua a segunda metade do conto, avisando que
ninguém deve
lê-la até que todos tenham recebido sua cópia. Enquanto isso, uma nova música pode
sublinhar o momento de curiosidade: como termina realmente o conto? (Eu escolheria
uma música como o Concerto no 4 para Violino e Cordas, de Vivaldi). Com o som em
volume baixo, leia o conto inteiro, enquanto eles acompanham nas cópias o que você
diz. Terminada
a leitura, deixe a turma fazer seus questionamentos, suas comparações
e conclusões. Ajude-a fazendo perguntas como:
– Como foi o relacionamento entre a turma e o professor de Matemática naquela
situação?
– Será que aquela aula foi mesmo “perdida”? Por quê?
– Será que abrimos nossos olhos – verdadeiras janelas interiores – para novas
perspectivas e descobertas?
– Por que as folhas recolhidas no pátio por D. Natália exerciam tanto fascínio sobre
Hélder?
Recite para a classe o primeiro verso de um poema de Cecília Meireles que diz: “Cada
palavra, uma folha / no lugar certo”. Lance à sala questões como:
– Não serão palavras as folhas secas do conto de Chico dos Bonecos?
– Não teria sido essa a maneira simples e delicada que o autor encontrou para nos
passar um momento de pura alegria, com o que parecia apenas folhas secas
transformando-se em vida?
– E, justamente em vida de pássaro, um símbolo incontestável de liberdade?
– Não estaria a idéia de liberdade outra vez presente na explosão do saco plástico,
fazendo surgir o pássaro em meio às folhas secas que voam?
Fechamento
Finalize o trabalho fazendo uma colagem* em que as crianças utilizarão os materiais que
trouxeram de casa para expressar coletivamenteem forma de desenhos, poemas ou outros
meios as conclusões e os sentimentos que ficaram dos textos de Francisco Marques e de
Cecília Meireles.* Veja mais atividades como essa no livro 100 Jogos para Grupos, de Ronaldo
Yudi K. Yogo, Ágora, tel. (0 _ _11) 3871-4569, 20 reais.
53
A dança do arco-íris
Há muito e muito tempo, vivia sobre uma planície de nuvens uma tribo muito feliz. Como não havia solo
para plantar, só um emaranhado de fios branquinhos e fofos como algodão-doce, as pessoas se
alimentavam da carne de aves abatidas com flechas, que faziam amarrando em feixe uma porção dos fios
que formavam o chão. De vez em quando, o chão dava umas sacudidelas, a planície inteira corcoveava e
diminuía de tamanho, como se alguém abocanhasse parte dela.
Certa vez, tentando alvejar uma ave, um caçador errou a pontaria e a flecha se cravou no chão. Ao
arrancá-la, ele viu que se abrira uma fenda, através da qual pôde ver que lá embaixo havia outro mundo.
Espantado, o caçador tampou o buraco e foi embora. Não contou sua descoberta a ninguém.
Na manhã seguinte, voltou ao local da passagem, trançou uma longa corda com os fios do chão e desceu
até o outro mundo. Foi parar no meio de uma aldeia onde uma linda índia lhe deu as boas-vindas, tão
surpresa em vê-lo descer do céu quanto ele de encontrar criatura tão bela e amável. Conversaram longo
tempo e o caçador soube que a região onde ele vivia era conhecida por ela e seu povo como “o mundo das
nuvens”, formado pelas águas que evaporavam dos rios, lagos e oceanos da terra. As águas caíam de volta
como uma cortina líquida, que eles chamavam de chuva. “Vai ver, é por isso que o chão lá de cima treme
e encolhe”, ele pensou. Ao fim da tarde, o caçador despediu-se da moça, agarrou-se à corda e subiu de
volta para casa. Dali em diante, todos os dias ele escapava para encontrar-se com a jovem. Ela descreveu
para ele os animais ferozes que havia lá embaixo. Ele disse a ela que lá no alto as coisas materiais não
tinham valor nenhum.
Um dia, a jovem deu ao caçador um cristal que havia achado perto de uma cachoeira. E pediu para visitar
o mundo dele. O rapaz a ajudou a subir pela corda. Mal tinham chegado lá nas alturas, descobriram que
haviam sido seguidos pelos parentes dela, curiosos para ver como se vivia tão perto do céu.
Foram todos recebidos com uma grande festa, que selou a amizade entre as duas nações. A partir de
então, começou um grande sobe-e-desce entre céu e terra. A corda não resistiu a tanto trânsito e se partiu.
Uma larga escada foi então construída e o movimento se tornou ainda mais intenso. O povo lá de baixo,
indo a toda a hora divertir-se nas nuvens, deixou de lavrar a terra e de cuidar do gado. Os habitantes lá de
cima pararam de caçar pássaros e começaram a se apegar às coisas que as pessoas de baixo lhes levavam
de presente ou que eles mesmos desciam para buscar.
Vendo a desarmonia instalar-se entre sua gente, o caçador destruiu a escada e fechou a passagem entre os
dois mundos. Aos poucos, as coisas foram voltando ao normal, tanto na terra como nas nuvens. Mas a
jovem índia, que ficara lá em cima com seu amado, tinha saudade de sua família e de seu mundo. Sem
poder vê-los, começou a ficar cada vez mais triste. Aborrecido, o caçador fazia tudo para alegrá-la. Só
não concordava em reabrir a comunicação entre os dois mundos: o sobe-e-desce recomeçaria e a
sobrevivência de todos estaria ameaçada.
54
Certa tarde, o caçador brincava com o cristal que ganhara da mulher. As nuvens começaram a sacudir sob
seus pés, sinal de que lá embaixo estava chovendo. De repente, um raio de sol passou pelo cristal e se
abriu num maravilhoso arco-íris que ligava o céu e a terra. Trocando o cristal de uma mão para outra, o
rapaz viu que o arco-íris mudava de lugar.
Daquele dia em diante, quando aparecia o sol depois da chuva, sua jovem mulher escorregava
pelo arco-íris abaixo e ia matar a saudade de sua gente. Se alguém lá de baixo se metia a querer
visitar o mundo das nuvens, o caçador mudava a posição do cristal e o arco-íris saltava para
outro lado. Até hoje, ele só permite a subida de sua amada. Que sempre volta, feliz, para seus
braços.
Os mitos da criação do mundo existem em todas as culturas. Entre nossos índios, a idéia de
um buraco no céu por onde teriam descido os primeiros humanos é recorrente. Para os caiapó-
xicrin, por exemplo, os índios moravam no céu. Um dia, dois meninos caçando um tatu teriam
perfurado a camada celeste com uma flechada. Voltaram correndo para a aldeia para contar o
que tinham visto. A tribo teceu um cordão com cipós e colares e por ele desceu até a terra,
onde passou a morar. Para a narrativa de João Carrascoza, a pedagoga Ana Kalili, da Escola I.
L. Peretz, em São Paulo. propôs a aula que se segue, centrada na cultura dos primeiros
brasileiros.
Atividades iniciais
Faça cópias do conto e distribua entre as crianças. Peça a elas que leiam o texto em
voz alta.
Divida a classe em equipes de três ou quatro alunos. Cada grupo deve redigir um texto
coletivo contando o que faria se, como o caçador da história, descobrisse um outro
mundo.
Para avaliar o grau de informação que a classe tem sobre os índios, faça perguntas
como as seguintes: “Vocês já ouviram falar dos índios brasileiros?”, “Sabiam que eles
foram os primeiros habitantes de nosso país?”, “Quem poderia me dizer o nome de
alguma tribo?”, “Alguém sabe como eles costumam se vestir?”, “Como era sua
alimentação?” Deixe todos se manifestarem antes de passar à atividade seguinte.
Encomende às crianças uma pesquisa sobre nossas tribos em livros, enciclopédias,
revistas e na Internet. A pesquisa deve incluir uma lista de nomes indígenas, junto com
sua respectiva tradução. Alguns exemplos: “cumbica”, que significa “nuvem baixa”;
“itaú”, que quer dizer “pedra preta”, e assim por diante.
Para enriquecer a pesquisa deles, arranje objetos indígenas, como vasos ou bonecos
de cerâmica, cocares e instrumentos musicais, por exemplo chocalhos ou outros que
conseguir.
Você também pode, junto com a turma, escolher uma tribo, por exemplo a dos caiapós
ou ianomâmis, que tenha o costume de pintar o corpo. Use os motivos utilizados por
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eles como modelo para pintar os alunos com tinta lavável e não-tóxica. Se puder,
fotografe sua “tribo” pintada e monte um mural com as fotos.
Aproveite a aula para dizer que culturas consideradas “primitivas” por alguns não são
necessariamente piores do que a nossa – são apenas diferentes. Conte a eles, por
exemplo, como os índios são carinhosos com suas crianças, que nunca apanham nem
ficam de castigo.
Nessa altura, faça com a turma uma dramatização da narrativa de João Carrascoza.
Metade da classe trabalhará como o povo das nuvens e a outra metade representará o
povo da terra. Cada equipe deve escrever as falas de seus personagens: o caçador e
seu povo; a moça índia e sua família; a chuva, o sol e o arco-íris.
Utilize o conto para passar conceitos de solo, agricultura e ciclo da água. Conte à
classe que os índios fazem suas lavouras, colhem o que plantam
e mudam a roça para outro local, deixando o solo descansar. Assim, a terra tem tempo
de recuperar naturalmente os nutrientes cedidos aos vegetais na primeira plantação.
Providencie um espelhinho, uma bacia com água e uma folha de papel em branco.
Disponha a bacia sobre uma mesa próxima a uma janela por onde entre luz solar
direta. Com uma das mãos, mergulhe o espelho na água e movimente-o de modo que
os raios solares incidam diretamente nele e se reflitam para fora da água. Com a outra
mão, segure a folha de papel branco em frente à luz refletida. Mostre o arco-íris à
turminha.
Andarilhos
Andava pela estrada, sozinho. Um sol de rachar e os dois andando, sem parar. E andando,
resolvidos, iam os três desenxabidos.Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.
Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.
E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...
No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.
A leitura do conto de Chico dos Bonecos vai inspirar seus alunos a pesquisar a
origem do Universo e a refletir sobre seus objetivos na vida.
A professora de Português Simone Pierri, do Colégio Brasília, de São Paulo, sugere que você
coloque sua turma para pensar sobre o conto de Chico dos Bonecos. "A leitura vai estimular a
reflexão sobre crescimento pessoal, aprendizado e trabalho em equipe", afirma. O texto
também permite organizar atividades envolvendo Matemática e Ciências. "No trabalho, vão
entrar o treino de cálculo mental e até uma pesquisa sobre a origem do Universo", completa
Rita de Cássia Santos, que leciona as duas disciplinas no Brasília.
Simone propõe transferir o clima de encantamento do conto para sua sala. Deixe-a escura —
se preciso, forre os vidros — e ponha uma música suave para tocar. Ao lado da porta, coloque
uma caixa contendo várias estrelas de papel. Ao entrar na sala, cada aluno pega uma delas.
"Peça que a turma faça silêncio e se deixe levar pela melodia", explica Simone. Sugira que
pensem num caminho que poderiam seguir e respondam à seguinte questão: o que você
espera da vida? As conclusões devem ser escritas nas estrelas de papel, que serão coladas
numa árvore feita de cartolina. "A árvore ‘florescerá’ com os objetivos de cada um."
Em seguida, leia o texto de Chico dos Bonecos para os alunos, lembrando que os andarilhos,
como eles, estão em busca de algo. Terminada a leitura, abra a discussão. Só então distribua
os textos para todos e lance algumas perguntas: como se dá na escola o respeito pela
individualidade de cada um? Por que a reflexão é importante? Tenho medo de caminhar?
Acredito em meus sonhos? Há caminhos diferentes? Por que é importante trabalhar em
equipe? Quem estava certo, os andarilhos que permaneceram ou o que seguiu sozinho?
Depois, distribua para a classe a letra da música Preciso me Encontrar, de Candeia, gravada
por Marisa Monte (Deixe-me ir, preciso andar / vou por aí a procurar / rir pra não chorar...) e
sugira que eles estabeleçam um contraponto entre os dois textos.
Destaque do conto as frases "As pedras são farelos de estrelas" e "Essa terra tem parentesco
com o céu". Use-as como ponto de partida para falar sobre a origem do Universo. "Depois que
a classe discutir o assunto, peça uma pesquisa sobre o Big Bang", recomenda Rita de Cássia.
58
Na aula de Matemática, proponha que a turma identifique, entre os números citados no texto,
os múltiplos de 2 e de 3. Em seguida, toda a classe forma uma roda. Cada aluno deve dizer um
número, em seqüência, começando do 1. Os múltiplos de 3 ou os números que possuem esse
algarismo devem ser trocados pela palavra "pum". Quem erra sai da brincadeira.
O dinossauro amigo da Ruth Rocha nem é de verdade, mas serviu para contar às crianças tudo
sobre a formação do petróleo e seus inúmeros usos. "Com um tema tão rico, é fácil trabalhar
conceitos de qualquer disciplina", afirmam Paulo Basílio Leite e Inês Marques, respectivamente
professores de Ciências e Português do Colégio Aluizio Azevedo, do Recife. Em conjunto, eles
elaboraram as atividades a seguir.
Faça cópias ampliadas do texto, de forma que você tenha um para cada quatro alunos. Cole-o
em cartolina. Recorte os versos das quadrinhas e distribua um conjunto de recortes para cada
equipe. As crianças devem usar o material para montar frases, parágrafos e depois uma ou
mais histórias ilustradas com começo, meio e fim.
Distribua, então, as cópias de Meu amigo dinossauro. Peça que os alunos comparem o
trabalho deles com o de Ruth. Alguma criança usou rimas em suas histórias? É mais fácil ou
mais difícil contar uma história rimada? Alguém conhece outra narrativa em versos? Aqui,
dependendo do interesse das turma, introduza trechos de clássicos como Os Lusíadas ou A
Odisséia. Quem mora no Nordeste pode lançar mão dos saborosos romances de cordel.
Diga aos alunos para listar todos os objetos que usarem durante um dia inteiro. Ajude-os a
identificar quantos desses objetos tiveram sua origem no petróleo. Isso os fará perceber que o
"ouro negro" não é um distante assunto de adultos, mas faz parte da vida de todos nós. Alerte
a meninada para o fato de que o petróleo não traz só benefícios. Seu uso e seus subprodutos
geram poluentes ambientais perigosos.
estudantes, prepare perguntas sobre o fato de o petróleo ser um recurso natural não-renovável.
O que ocorrerá quando as reservas estiverem esgotadas? Converse com a turma sobre as
informações obtidas. Quais seriam as alternativas para evitar ou remediar o colapso energético
de nossa civilização? Discuta os prós e os contras de cada sugestão feita pelos estudantes —
álcool combustível, energia solar, eólica e outras —, tanto em relação à sua eficiência
energética como aos possíveis danos ao meio ambiente.
O amigo de Juliana
A Juliana tinha um amigo chamado Fungo. Ele morava na casa de bonecas e conseguia até ajeitar-se bem
nas pequenas cadeiras e na caminha azul, apesar de ser mais gordo que elas.
Fungo era talentoso. Escrevia poemas, histórias e desejava ser um grande escritor, porém sentia falta de
um mestre. Juliana, definitivamente, não podia ser esse mestre, pois aprendera a escrever havia pouco
tempo.
Além do mais, ultimamente a amizade deles andava estremecida, porque Juliana dava mais atenção às
bonecas que a ele. Fungo não entendia qual era a graça que ela via naquelas bonecas mudas, sem cultura e
sem sentimentos.
Fungo suspeitava que fossem mesmo burras, principalmente aquele boneco Tob, que parecia uma
montanha de músculos inúteis, pois nem se trocar sozinho ele sabia. Era uma dependência total, um
vexame, e Juliana é que precisava trocá-lo toda vez.
Numa certa madrugada, em que Fungo estava sem sono, viu jogado no chão o caderno de Juliana com
uma redação assim:
Fungo leu e achou pobre, mal escrito, com cinco erros de português, além da falta de estilo. Num ato de
ousadia arrancou a página e reescreveu a redação do jeito que ele achava que ficava melhor:
61
Fungo foi dormir orgulhosíssimo de sua redação, feliz com a chance de receber comentários da professora
de Português de Juliana, essa, sim, uma verdadeira mestra.
No dia seguinte, a amiga voltou furiosa da escola e proibiu Fungo de escrever uma linha que fosse em
seus cadernos, pois os colegas da classe tinham achado que ela estava maluca por escrever tais bobagens.
Redação muito criativa, cheia de imaginação e bem escrita, precisa apenas caprichar mais na letra. Nota
dez.
Fungo adorou, achou o máximo e pensou até em entrar para a escola. Claro, só quando a
Juliana se acalmasse. Talvez pudesse ficar na classe dentro da mochila, já que os adultos
com certeza não iriam entender um monstro culto como ele querendo assistir aula.
Conto de Eva Furnari, ilustrado pela autora
Levar o absurdo a sério, por algum tempo, pode ser uma tática pedagógica
eficaz
uitas crianças têm amigos imaginários. Quer dizer, imaginários para os outros, principalmente
os adultos. Para elas o companheiro é bem real. Às vezes, até demais, como no caso de
Juliana, a menina do conto desta edição. Imaginem que atrevimento o do Fungo trocar o
trabalho de escola da garota pelo seu. E ainda ganhar elogio da professora!
Tire cópias do texto e distribua entre os alunos. Peça que façam uma leitura silenciosa. Lance
então as questões sugeridas a seguir. Use as respostas da turma para estimular a troca de
idéias.
Você acha que Fungo poderia ter uma família como a de Juliana? Por quê?
Se Juliana apresentasse Fungo aos outros amigos dela, como seria o relacionamento entre
eles? Por quê?
62
Juliana afirma que tem uma família legal. Você escreveria a mesma coisa sobre sua família?
Por quê?
Você tem um amigo imaginário? Se tiver, escreva um texto contando como ele é, onde mora,
como é o relacionamento entre vocês e outros detalhes que desejar. Ilustre com um desenho.
Use argila ou papel machê para fazer uma escultura de seu amigo. Pinte com guache ou
aquarela.
Se você não tem um companheiro imaginário, redija um texto dando sua opinião sobre o
assunto.
Em sua opinião, Juliana considera Fungo tão importante quanto seus outros amigos? Justifique
sua resposta.
Você também acha a escola importante, como Fungo? Explique suas razões.
Você achou certo Fungo refazer a redação de Juliana sem ela saber? Como se sentiria se um
amigo seu fizesse isso com você? Qual seria sua atitude?
É bom ter uma pessoa para nos ajudar no dever de casa? Você tem alguém para ajudá-lo(a)?
Encontre na narrativa um parágrafo que tenha chamado sua atenção. Troque idéias sobre ele
com seus colegas.
Releia o conto, procurando palavras com uma, duas, três e quatro sílabas. Divida uma folha de
papel em quatro colunas, onde serão escritas as palavras de acordo com a classificação:
monossílabas, dissílabas, trissílabas e polissílabas.
63
A morada do inventor
A lata de lixo é o destino mais comum de aparas de papel, retalhos de tecido e o jornal de
ontem. "Essa é uma atitude vista em quase todas as casas", lamenta a professora Eunice
Lamarca, que se especializou em aproveitar em sala de aula materiais inúteis à primeira vista.
"O resultado disso é um enorme desperdício, inclusive de inventividade, como bem nos mostra
o poema de Elias José", completa.
Na opinião de Eunice, não há melhor atividade para ser desenvolvida após a leitura de Morada
do Inventor do que a construção de objetos de sucata. Antes de apresentar o texto aos alunos,
peça que consigam em casa vários materiais que seriam descartados. Na data marcada para
apresentar os objetos, divida a turma em grupos e sorteie entre eles tudo o que foi angariado.
Em seguida, escreva o texto de Elias José no quadro ou providencie cópias para todos. Depois
da leitura silenciosa e dos comentários, vem a tarefa: cada equipe tem de decidir como dar
uma nova utilidade aos objetos recebidos no sorteio. O grupo deve primeiro colocar o plano no
papel, seja por meio de desenho ou texto, para só então começar o trabalho prático. No final da
aula, um representante de cada equipe apresenta sua obra ao restante da turma.
extremidade nos orifícios de oito tampas, tomando o cuidado de alternar as cores (letra A na
ilustração ao lado). Está pronta uma das pernas do palhaço. Em seguida, monte a segunda
perna.
Junte as pontas dos dois fios e passe ambos por outras oito tampinhas (B), formando o tronco.
Os braços são feitos da mesma maneira, só que com apenas seis tampas cada um. Passe as
pontas dos fios que saem do tronco e dos braços por mais quatro tampinhas (C), para montar o
pescoço. Faça um furo que atravesse a bolinha de isopor bem no centro. Introduza nele os
quatro fios, amarre-os juntos na parte superior da bola e corte as pontas (D). Para esconder os
nós, cole um chapeuzinho. O rosto é pintado com guache e os cabelos são de lã, colada nas
laterais da cabeça.
Picasso
De verso em verso, Adriana Abujamra Aith apresenta, com muita graça, um pouco da vida e da
obra do espanhol Pablo Ruiz y Picasso (1881-1973), "fazedor de arte" desde menino. Ela
destaca o período cubista do artista, quando ele pintava figuras fragmentadas — como se
fossem vistas de vários ângulos diferentes ao mesmo tempo. Uma das obras dessa fase
aparece acima: é Guernica, nome da cidade catalã bombardeada pelos fascistas durante a
Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Vera Bastazin, professora-doutora em Literatura, do
Departamento de Arte da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sugere
algumas atividades para você trabalhar com a classe.
Leia o texto em voz alta para os alunos, deixando-se levar pela sonoridade das palavras e pelo
ritmo dos versos. Enquanto lê, mostre a eles os elementos característicos da poesia:
Ao contrário dos textos em prosa, os poéticos não "dizem" de forma clara, explícita, mas
sugerem idéias que se transformam em imagens, sons e sentimentos na cabeça do leitor.
As idéias se expressam por linhas chamadas versos. Certos poemas possuem um único
bloco de versos. Outros, como o Picasso, têm vários blocos, separados entre si pelo espaço de
uma linha — são as estrofes.
Peça às crianças para fazer uma leitura silenciosa do texto e depois pintar com sua cor
preferida todas as letras das três primeiras estrofes que tenham sons de: /s/ (por exemplo,
Pica/s/o; tro/s/a; pare/s/e; E/s/panha) e /z/ (fa/z/ia; te/z/oura). A seguir, é a vez de falar em voz
alta as palavras coloridas, destacando os sons /s/ e /z/. O exercício vai levá-las a perceber a
diferença entre um som surdo (s) e um sonoro (z).
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Estimule os alunos a perceber que, nas três primeiras estrofes há: alguém ("Picasso"/
"menino levado"); que produz uma ação ("faz troça com traços"); realizada em um tempo
determinado e contínuo ("desde pequeno"/ "não parou mais").
Leve para a sala de aula gravuras mostrando pinturas de diferentes fases do artista.
Aproveite o Guernica acima para tratar do cubismo, importante para a construção do olhar
plural, isto é, da capacidade de ver uma mesma coisa de diferentes formas e por meio de
diversos ângulos. Feche o assunto com uma atividade de recorte e colagem para a turma
perceber a desmontagem de uma figura e suas diferentes possibilidades de reconstrução.
Use o Guernica como gancho para conversar sobre História: as guerras civis, o autoritarismo,
o longo caminho que várias nações (na Europa e fora dela) percorreram para conquistar a
democracia.
Foi nos anos finais da década de 40. (Há tanto tempo!) Meu primogênito Ricardo completara 6
anos de idade, e resolvemos matriculá-lo no primeiro ano primário da Escola Americana, do já
então tradicional Mackenzie College, que ficava a três quadras da nossa casa. E Ricardinho,
que era uma criança tímida e um tanto ensimesmada, não gostou nem um pouco da
experiência de ficar "abandonado" num lugar estranho, no meio de gente desconhecida — uma
coisa para ele muito assustadora. E não houve jeito de fazê-lo aceitar tão insólita situação. Ele
se recusava até mesmo a entrar na sala: ficava na porta, "fincava o pé", sem chorar mas
também sem ceder... Eu já estava a ponto de desistir da empreitada, quando a professora da
classe, dona Nicota, se levantou e veio falar conosco. E todo o jeito dela, a maneira como ela
olhou para o Ricardinho, o timbre e o tom da sua voz, a expressão do seu rosto e até a sua
figurinha baixinha, meio rechonchuda, não jovem demais, muito simples e despojada,
causaram imediatamente uma sensível impressão no menino. A tensão sumiu do seu rostinho,
seu corpo relaxou, e — ora vejam! — ele respondeu com um sorriso ao sorriso da dona Nicota!
— Você vai gostar. — E acrescentou, para minha surpresa, — Eu mesma vou levar você para
a sua casa. E amanhã cedo, eu mesma vou buscar você, para vir à escola comigo.
Eu não sabia como agradecer. E nem foi preciso — o que dona Nicota disse, ela cumpriu. E
durante vários dias, até semanas, ela passou pela nossa casa, pouco antes do início das aulas,
e levou o Ricardinho pela mão, a pé, até a escola e a sua sala. E o trouxe de volta, da mesma
maneira. E até quando, certo dia, o menino estava adoentado e não pôde ir à escola, ela voltou
para lhe dar uma "aula particular", em casa – para ele não se atrasar no programa. Tudo isso
na maior simplicidade, como se fosse a coisa mais natural do mundo...
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O Ricardinho adorava a dona Nicota — e não era para menos. Dona Nicota era a mais perfeita
e linda encarnação da "professora primária" ideal — a mais nobre e fundamental das
profissões: a de ser a primeira a preparar uma criança pequena nas suas primeiras incursões
na vida real — com competência, dedicação, compreensão, paciência e carinho. E a
consciência plena de estar dando à criança uma verdadeira base para o futuro cidadão.
Por que estou contando tudo isso a vocês, hoje? Porque, no Dia do Professor, eu senti que não
poderia prestar maior homenagem a todos os "mestres-escolas" do Brasil do que incluí-los
nesta "crônica-tributo" a dona Nicota, exemplo e paradigma de uma modesta e maravilhosa
professora "montessoriana" e um grande ser humano.
Ricardo saiu de sob a asa de dona Nicota lendo e escrevendo. E hoje, jornalista, tradutor e
escritor, esse avô de três netos continua se lembrando de dona Nicota, com carinho e gratidão.
Essa dona Nicota que a estas horas deve estar dando aulas montessorianas aos anjinhos do
céu.
Esta aula é para você, professor! Veja refletidos na crônica bons momentos de
sua carreira
A “Crônica para dona Nicota" é como um espelho mágico. Madza Ednir, pedagoga da Oficina
de Corte e Costura de Idéias, de São Paulo, sugere que você a utilize como mote para uma
atividade diferente. "Este exercício pode ser feito individualmente ou com seus colegas",
recomenda. O objetivo, de acordo com Madza, é encontrar refletidos no texto alguns feitos de
sua carreira docente, considerados "a coisa mais natural do mundo" e que devem estar
marcados na memória de seus alunos. Pondere sobre três pontos:
Quantas vezes você já deparou com estudantes que se recusam a entrar no jogo da
aprendizagem como Ricardinho, que empacou na porta da sala? Lembre-se de como
conseguiu incentivá-lo a transpor os obstáculos.
O sorriso de dona Nicota eliminou a tensão do menino Ricardo. Tente rever o dia em que, ao
se defrontar com a agressividade de uma criança, você a desarmou usando afeto, sinceridade
e humor.
Dona Nicota prometeu buscar Ricardinho em casa — e cumpriu. Procure lembrar pelo menos
uma vez em que você tenha demonstrado aos estudantes coerência entre discurso e gesto,
fazendo com que se sentissem pessoas únicas e especiais.
"Se foi fácil relembrar experiências positivas na sala de aula é sinal de que, como dona Nicota,
você procura transmitir aos alunos a certeza de que são amados e respeitados, condição
básica de aprendizagem", afirma Madza. Se, no entanto, você teve dificuldades em invocar
69
imagens positivas de sua prática, a consultora sugere um último exercício: "Imagine como você
gostaria de ser lembrado daqui a vinte anos".
Sozinha
Sozinha, coitada.
Nunca estava acompanhada.
Pega-pega, sozinha não tinha.
Queimada, sozinha não dava.
Então, ela sentava a pensar.
Mas estava tão sozinha que nem pensamento vinha.
Se Sozinha assim estava,
mais sozinha ia ficar,
Porque o S da Sozinha resolveu se mandar.
Mal Ozinha se deu conta, o O aproveitou o embalo e saiu rolando.
Desolada, sentia-se uma zinha qualquer.
"Ô, Zinha", disse o Z.
E zapt, fugiu ligeiro, deixando Inha para trás.
"Inha, Inha, inhaaaá!"
Desandava a chorar.
Chorava, chorava até a lágrima secar.
E agora, o que fazer?
Olhou para um lado.
Olhou para o outro.
Para lá, para cá.
Até que seu pé se animou. Levantou a Inha e se pôs a sambar.
Ali de cima, os olhos de Inha observavam o seu pé,
que sacudia e sacudia.
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A história de Adriana Abujamra Aith e Ieda Abbud mostra como Sozinha virou Inha e espantou
a solidão. Crianças e adolescentes que começam a dar os primeiros passos no aprendizado de
viver em sociedade precisam compartilhar, desde a escola, emoções e experiências com os
colegas. Para discutir o tema em sala de aula a educadora Marília Marques Machado preparou
algumas sugestões. A partir dos jogos propostos a turma vai poder refletir sobre o que é estar
sozinho.
Inicie explorando os sentimentos que essa palavra traz aos alunos. Essa etapa deve ser feita
antes da leitura do conto. Em grupos, faça um exercício de "tempestade cerebral". Quem
começa a brincadeira deve dizer uma palavra sobre o título do texto. Em seguida, cada
participante diz a sua idéia relacionada à anterior. Por fim, escolha algumas expressões que
surgiram na conversa. Leia para a turma toda, provoque ligeiros comentários e fixe-as num
mural. A atividade pode durar dez minutos.
Após esse aquecimento, inicie o próximo jogo. "Esta sugestão exige uma reflexão maior e o
aluno tem a possibilidade de argumentar, concluir e sintetizar idéias", explica Marília. Distribua
para cada grupo uma folha com dobras propondo um questionamento sobre a solidão. Cada
aluno deve usar apenas uma face da dobra em sua resposta. Depois que a folha dobrada tiver
passado por todo o grupo, a "sanfona de respostas" pode ser aberta. Leia, discuta e estimule
os alunos a escolher uma das opções para colocá-la em discussão. Faça então um plenário
71
para que os grupos defendam seus pontos de vista. Lembre-se de colocar as idéias
conclusivas de seus alunos no mural da sala.
A leitura é feita somente depois dessa discussão. Peça um paralelo entre o que as autoras
apresentaram e as produções da sala. Converse também sobre os pontos divergentes.
Feito o trabalho de reflexão, você pode ainda colocar em prática as idéias que surgirem. Uma
boa dica é a técnica do "cineminha". Recorte papeizinhos do mesmo tamanho ou use blocos
pequenos. Os alunos desenharão na primeira folha a personagem Sozinha e, nas seguintes, a
personagem com pequenas alterações, o que dará a ilusão de movimento quando eles
trocarem rapidamente de folha. Coloque como condição criar ilustrações para as seguintes
frases: "Nunca estava acompanhada"; "Mas estava tão sozinha que nem pensamento vinha";
"Até que seu pé se animou"; "A alegria era tanta que atraiu muita gente".
Se seus alunos são pequenos, coloque como proposta a confecção de peças de papelão
grosso e pintadas e que representem as partes do corpo citadas no texto e as lestras S, O e Z.
O corpo pode ser montado e preso por um barbante, de modo que Inha se transforme em uma
marionete, com os pés em destaque. Monte um espetáculo teatral, tendo como cenário os
murais em letras garrafais, para a representação cênica do texto.
No último dia de férias, Lilico nem dormiu direito. Não via a hora de voltar à escola e rever os
amigos. Acordou feliz da vida, tomou o café da manhã às pressas, pegou sua mochila e foi ao
encontro deles. Abraçou-os à entrada da escola, mostrou o relógio que ganhara de Natal,
contou sobre sua viagem ao litoral. Depois ouviu as histórias dos amigos e divertiu-se com
eles, o coração latejando de alegria. Aos poucos, foi matando a saudade das descobertas que
fazia ali, das meninas ruidosas, do azul e branco dos uniformes, daquele burburinho à beira do
portão. Sentia-se como um peixe de volta ao mar. Mas, quando o sino anunciou o início das
aulas, Lilico descobriu que caíra numa classe onde não havia nenhum de seus amigos.
Encontrou lá só gente estranha, que o observava dos pés à cabeça, em silêncio. Viu-se perdido
e o sorriso que iluminava seu rosto se apagou. Antes de começar, a professora pediu que cada
aluno se apresentasse. Aborrecido, Lilico estudava seus novos companheiros. Tinha um
japonês de cabelos espetados com jeito de nerd. Uma garota de olhos azuis, vinda do Sul,
pareceu-lhe fria e arrogante. Um menino alto, que quase bateu no teto quando se ergueu, dava
toda a pinta de ser um bobo. E a menina que morava no sítio? A coitada comia palavras,
olhava-os assustada, igual um bicho do mato. O mulato, filho de pescador, falava arrastado,
estalando a língua, com sotaque de malandro. E havia uns garotos com tatuagens, umas
meninas usando óculos de lentes grossas, todos esquisitos aos olhos de Lilico. A professora?
Tão diferente das que ele conhecera... Logo que soou o sinal para o recreio, Lilico saiu a mil
por hora, à procura de seus antigos colegas. Surpreendeu-se ao vê-los em roda, animados,
junto aos estudantes que haviam conhecido horas antes. De volta à sala de aula, a professora
passou uma tarefa em grupo. Lilico caiu com o japonês, a menina gaúcha, o mulato e o
grandalhão. Começaram a conversar cheios de cautela, mas paulatinamente foram se
soltando, a ponto de, ao fim do exercício, parecer que se conheciam há anos. Lilico descobriu
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que o japonês não era nerd, não: era ótimo em Matemática, mas tinha dificuldade em
Português. A gaúcha, que lhe parecera tão metida, era gentil e o mirava ternamente com seus
lindos olhos azuis. O mulato era um caiçara responsável, ajudava o pai desde criança e
prometeu ensinar a todos os segredos de uma boa pescaria. O grandalhão não tinha nada de
bobo. Raciocinava rapidamente e, com aquele tamanho, seria legal jogar basquete no time
dele. Lilico descobriu mais. Inclusive que o haviam achado mal humorado quando ele se
apresentara, mas já não pensavam assim. Então, mirou a menina do sítio e pensou no quanto
seria bom conhecê-la. Devia saber tudo de passarinhos. Sim, justamente porque eram
diferentes havia encanto nas pessoas. Se ele descobrira aquilo no primeiro dia de aula,
quantas descobertas não haveria de fazer no ano inteiro? E, como um lápis deslizando numa
folha de papel, um sorriso se desenhou novamente no rosto de Lilico.
O primeiro dia é o melhor momento para você preparar e entrosar sua turma
para as tarefas do ano
Voltar às aulas é uma festa, sinônimo de incerteza em relação ao futuro e alegria por conhecer
os colegas e rever velhos amigos. Um sentimento comum a estudantes e professores. Assim
como o Lilico do conto, seus alunos vão se tornar um grupo ao trabalhar juntos, desenvolver a
confiança mútua e resolver os conflitos de forma construtiva. Segundo Lucia Maria Vinci de
Moraes, orientadora educacional da Escola Móbile e uma das responsáveis pelo curso de
Magistério da Escola Vera Cruz, ambas em São Paulo, a atitude do professor é determinante
no desenvolvimento do grupo. "Ela define se o clima na sala de aula é de aceitação ou
discriminação", diz. "O primeiro dia, assim, deve ter o caráter de celebração, pois é o começo
de um capítulo na vida de todos." Leia a seguir algumas sugestões de Lucia para que você e
seus alunos comecem a se conhecer.
Círculos Duplos – Ainda no pátio, divida a classe em dois grandes grupos, numerando os
alunos em 1 ou 2. Os de número 1 ficam dentro de um círculo e os de número 2, do lado de
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fora. Forme pares com um estudante de dentro e outro de fora, colocados frente a frente. Se o
número de participantes for ímpar, entre na atividade. Comece fazendo perguntas sobre gostos
e interesses de cada um. Você sabe o nome de seu par? Se o aluno não souber, deve
perguntar. Qual seu programa de TV favorito? Qual sua comida predileta? Que lugar gostaria
de conhecer? Qual o animal preferido? A cada resposta, o grupo que está fora do círculo "roda"
para o colega ao lado. No final, converse sobre as sensações ao executar a tarefa.
Leitura – Em seguida, peça que os alunos leiam, em círculo, o conto Uma Lição Inesperada,
que inspira essas atividades. Terminada a leitura, estimule a turma a fazer comentários,
contando seus sentimentos nesse primeiro dia de aula. Aproveite para contar como você se
sente.
Painel – Por último, coloque uma grande folha de papel ou cartolina no centro do círculo. Nela,
cada aluno deve escrever seu nome. Estimule a garotada a lembrar o que cada um conhece
dos colegas, para escrever um comentário ao lado do nome (e com a assinatura de quem está
escrevendo). A atividade termina quando todo o painel estiver preenchido.
O menino estava voltando a pé da escola. A vida para ele parecia uma coisa sempre igual.
Chegar em casa, comer, fazer lição, brincar, tomar banho, jantar, dormir, acordar. No dia
seguinte, tudo a mesma coisa outra vez.
Um ruído veio de um terreno baldio. Parecia uma voz. Por entre as folhagens, o menino viu um
cachorro cobrindo o focinho com as patas. O bicho, de repente, resmungou:
O cabelo do menino ficou duro feito arame. Saiu correndo, mas parou. Onde já se viu cachorro
falar? Deu risada de si mesmo. Já estava quase na 4a série. Sabia escrever, ler e fazer contas.
Aquilo só podia ser alguma confusão.
Deu meia volta e passou de novo pelo terreno baldio. O cachorro agora estava andando de
uma lado para o outro dizendo:
O menino sabia que aquilo era impossível. Mesmo assim, sentiu pena do cachorro, um bicho
não muito grande com o focinho sujo de terra.
O animal soltou um uivo tão sem esperança que o menino entrou no mato e perguntou se ele
estava precisando de alguma coisa.
Dois olhos surpresos examinaram o menino de alto a baixo. Depois, o bicho encolheu-se,
escondendo o rosto com as patas. O menino sentou-se e acariciou aquela cabeça peluda.
— Se eu contar o que acabo de descobrir hoje — disse o animal — você não vai acreditar.
— Faz tempo, conheci uma cachorra linda. Eu estava fazendo xixi num poste. Ela passou.
Abanei o rabo. Ela também. Foi amor à primeira vista.
— No fim — continuou ele — a gente acabou se casando. A cachorra era viúva e tinha uma
filha já grandinha. Cuidei dela como se fosse minha própria filha. Um dia, meu pai veio me
visitar. Ele também era viúvo. Só sei que os dois gostaram um do outro, namoraram e casaram.
— Do casamento de meu pai com minha filha — contou o animal — nasceu uma ninhada de
três cachorrinhos que, ao mesmo tempo, são meus netos, pois são filhos de minha filha, e
meus irmãos pois são filhos do meu pai. Eu também tive três filhotinhos. Eles passaram a ser
irmãos da minha madrasta, a filha da minha mulher. Portanto, além de meus filhos, são meus
tios.
— Meu pai é casado com minha filha, ou seja, minha madastra é também minha filha. Por outro
lado, sou pai dos irmãos do meu pai, logo, pai de meu próprio pai. E como o pai do pai de
alguém é avô desse alguém … — e aí o cachorro agitou-se — descobri que sou avô de mim
mesmo!
Abraçado com o menino, o animal chorou ainda durante um bom tempo. Depois, enxugou as
lágrimas, pediu desculpas, despediu-se e, com ar agradecido, sumiu no matagal. Naquele dia,
o menino chegou em casa mais tarde, almoçou e foi para o quarto. Deitado na cama, ficou só
pensando. Como a vida pode ser uma coisa rica, complicada, meio louca, bonita, espantosa e
cheia de surpresas!
A enteada que é madrasta, o pai que virou genro e um cachorro que é avô de si mesmo. No
conto "Voltando da Escola pra Casa", o autor mostra de forma divertida as situações curiosas
criadas pelos casamentos entre os cachorros. Desafie seus alunos a desfazer esse nó. Faça-
os perceber que a saída não está apenas na lógica. Ricardo Azevedo considera a cachorrada
como uma família única, em que os laços de parentesco se formam também por vínculos
afetivos. É assim que o pai vira genro — que no coração é como filho — e faz com que o
protagonista vire avô de si mesmo.
O papel da escola
Usando pincel e papel craft, escreva com letras bem grandes as quatro frases que compõem o
primeiro parágrafo do texto. Enrole cada uma delas e amarre com barbante ou fita. Coloque os
alunos em círculo e deixe os rolos no meio. A partir daí crie um pequeno suspense, fazendo
com que adivinhem o que eles farão na aula. Pergunte o que está escrito nos papéis. Depois
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disso os rolos devem ser abertos e o material organizado. Se o resultado for diferente do que
está no texto peça que a turma refaça o trabalho após a leitura. Leia o parágrafo em voz alta e
faça um breve comentário sobre o que é estudar.
Em seguida, os alunos devem fazer a leitura completa do conto para ver como essas questões
foram resolvidas. Ajude-os a identificar todos os cachorros e a relação entre eles. Em grupos
de quatro ou cinco proponha que desenhem em cartolina as relações entre os personagens (as
conexões familiares podem ser marcadas com barbante ou lã colorida). Cada equipe apresenta
o trabalho para que todos vejam se o resultado foi o mesmo. Nesse momento é interessante
que os estudantes comparem os painéis com núcleos familiares humanos. Registre as idéias
básicas no quadro-negro.
Para terminar a aula aborde a questão do estudar, mostrando que toda a atividade fez com que
eles desenvolvessem um jeito de aprender diferente. Faça algumas provocações: Como é
possível estudar para aprender e saber mais? De que jeito se estuda? As anotações podem ser
usadas para desencadear um estudo mais detalhado e até de caráter interdisciplinar. Peça que
cada criança monte a relação entre as pessoas de sua família seguindo o modelo utilizado na
elaboração do trabalho feito em sala de aula.
Um encontro fantástico
T odos os anos eles se reuniam na floresta, à beira de um rio, para ver a quantas andava a sua
fama. Eram criaturas fantásticas e cada uma vinha de um canto do Brasil. O Saci-Pererê
chegou primeiro. Moleque pretinho, de uma perna só, barrete vermelho na cabeça, veio
manquitolando, sentou-se numa pedra e acendeu seu cachimbo. Logo apontou no céu a
Serpente Emplumada e aterrissou aos seus pés. Do meio das folhagens, saltou o Lobisomem,
a cara toda peluda, os dentes afiados, enormes. Não tardou, o tropel de um cavalo anunciou o
Negrinho do Pastoreio montado em pêlo no seu baio.
– Se tivesse alguma moça aqui, ele já teria chegado para seduzi-la – comentou a Serpente
Emplumada.
Ouviram nesse instante um rumor à margem do rio. Era o Boto saindo das águas na forma de
um belo rapaz.
– Difíceis – respondeu o Saci e soltou uma baforada. – Não assustei muita gente nessa
temporada.
– Comigo acontece igual – disse o Negrinho do Pastoreio. – Vivo a achar coisas que as
pessoas perdem no Sul. Mas não atendi muitos pedidos esse ano.
– Seu caso é diferente – disse o Lobisomem. – Você não é assustador como eu, o Saci e a
Serpente Emplumada. Você é um herói.
– Acho que é a concorrência – disse o Boto. – Andam aparecendo muitos heróis e vilões
novos.
– Pois é – resmungou a Serpente Emplumada. – Até bruxas andam importando. Tem monstros
demais por aí...
– São todos produzidos por homens de negócios – disse o Saci. – É moda. Vai passar...
– Espero – disse o Lobisomem. – Bons aqueles tempos em que eu reinava no país inteiro, não
só no cerrado.
– Eu conheço um – disse o Saci. – Vamos juntos atrás dele! – E foi o primeiro a se mandar, a
mil por hora, em uma perna só.
Cada região do Brasil guarda uma variedade enorme de histórias. No conto, João Carrascoza
apresenta algumas dessas crenças e questiona se elas permanecem vivas na imaginação
popular. Toninho Macedo, presidente da Comissão Paulista de Folclore e coordenador do Setor
de Folclore da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, explica que é fundamental
colocar os alunos em contato com nossas tradições. "Os mitos, lendas e contos fazem parte do
inconsciente coletivo e continuam, nos dias de hoje, a estimular o imaginário de adultos e
crianças", diz. O texto, assim, abre uma porta para o mundo do folclore. Aproveite a sugestão
de aula e faça a turma descobrir o Brasil.
Depois de conversar sobre as crenças que aparecem no texto é o momento para que a
garotada exponha histórias próprias. Pergunte se eles conhecem alguma curiosidade ou lenda
típica da região onde vivem. Prepare-se para surpresas pois com certeza surgirão informações
bastante interessantes. Estimule a participação de todos, inclusive nos comentários.
Desenho coletivo
Feita a discussão, é hora de recriar os personagens. Peça à turma para reescrever o conto ou
alguma das histórias que surgiram durante os debates em sala. Outra boa idéia é oferecer
atividades artísticas para, com o uso de rabiscos e borrões, eles materializarem suas
impressões. Para isso, você pode propor que o trabalho seja realizado em equipe. Coloque um
pedaço grande de cartolina ou papel craft na parede ou forme um círculo com os alunos. O
material deve ficar no centro da roda. Usando giz e tintas, peça que um deles inicie o desenho,
esboçando uma parte da história. Em seguida, cada um faz um complemento, até que todos
tenham participado e o cartaz se torne uma expressão coletiva.
Boto
Personagem popular no Pará. A crença diz que ao cair da noite o boto transforma-
se em um rapaz alto e muito bonito. Namorador e simpático, costuma freqüentar
bailes para atrair as moças. Nunca tira o chapéu, que usa para esconder o orifício
no alto da cabeça.
O boto é sempre culpado nos casos de adultério, de sedução de virgens e é o pai
dos filhos de origem desconhecida.
Serpente Emplumada
Conta-se que certo dia, na região de Bom Jesus da Lapa (BA), um missionário
amarrou uma serpente feroz com o fio da barba em uma cova.
Ela começou a criar penas e as pessoas temiam ser atacadas pelo monstro. Um dia,
Frei Clemente aconselhou a todos que rezassem. A cada reza uma pena cairia. E
assim foi até que o monstro morreu. Ainda hoje a cidade tem mais tradição
religiosa.
Lobisomem
Há relatos em todo o Brasil.
Como homem é geralmente magro, branco, de orelhas compridas e nariz
levantado. Nas noites de quinta para sexta-feira ele vira lobo, porco ou cão. Sai à
procura de recém-nascidos e animais para sugar seu sangue. Em alguns lugares
acredita-se que toda mulher que tiver sete filhos machos gera entre eles um
lobisomem. A maldição é quebrada quando alguém o fere.
Saci-Pererê
É comum nos Estados do Sul, mas também aparece em outras regiões, como na
Sudeste. A lenda fala sobre um menino negro, com uma perna só e pouco mais que
meio metro de altura que leva sempre um cachimbo na boca. Usa um gorro
vermelho que o torna encantado. Espanta os viajantes na estrada e costuma
trançar as crinas dos cavalos para que ninguém possa desfazer o emaranhado.
Negrinho do Pastoreio
Muito popular no Rio Grande do Sul, conta a história de um menino negro que
trabalhava como escravo para um fazendeiro. Um dia, cuidando dos cavalos no
campo, ele perde os animais. Como castigo, é surrado e depois jogado ainda
sangrando em um formigueiro, ficando lá até morrer. Hoje ele é visto cavalgando
pelo pasto e ajuda quem lhe acende uma vela a encontrar objetos perdidos.
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A seca e o inverno
A literatura de cordel foi por muitos anos a principal forma de veiculação de notícias em vários
Estados do Nordeste. Com o tempo, ela foi perdendo importância e, hoje, muitos estudantes
nem sequer a conhecem. As professoras Sandra Lúcia de Souza Menezes e Margaret Mota de
Lima, do Instituto Educacional O Canarinho, de Fortaleza, criaram duas propostas de aula para
turmas de 4ª a 6ª série. A primeira apresenta e a segunda aprofunda o manejo dessa forma
popular de versificação.
Rimas pares
Leia em voz alta A Seca e o Inverno, para que seus alunos apreciem a sonoridade dos versos.
Use o dicionário para tirar as dúvidas e estimule uma discussão coletiva sobre o texto. Como o
autor apresenta a vida do nordestino durante a seca? Para você, o que justifica trocar o
Nordeste pelo Sul, saída apontada na primeira estrofe? O que muda para o roceiro com a
chegada das chuvas?
Peça que a turma compare o cordel com outros métodos de versificação. Tenha em mãos
outros exemplos de cordel, para avaliar a quantidade de estrofes e versos, a linguagem, as
rimas e a temática. Enquanto A Seca e o Inverno é metrificado em quatro linhas com rimas no
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segundo e quarto versos, a maioria dos cordéis trabalha com versos de seis linhas, mantendo a
metrificação nos versos pares.
Trovadores medievais
Para as classes mais familiarizadas com a literatura de cordel, o debate começa com outras
indagações. Como definir a literatura de cordel? Que aspectos deve conter um texto para ser
considerado cordel? Que linguagem está presente, com freqüência, nesse estilo literário?
Quais as temáticas mais abordadas pelos cordelistas? O que você sabe sobre Patativa do
Assaré e outros poetas populares?
O texto de Patativa do Assaré pode ainda mostrar os contrastes regionais entre Nordeste e o
que o autor chama genericamente de Sul. Êxodo rural, diferenças de fauna, flora, clima e a
política de combate à seca revelarão a verdadeira vocação do cordel: usar rimas para propor
soluções para problemas atuais.
Pechada
O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era
gaúcho, recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
– Aí, Gaúcho!
– Fala, Gaúcho!
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu
idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia,
mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a
mesma língua, só com pequenas variações?
– Mas o Gaúcho fala "tu"! – disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
– E fala certo - disse a professora. – Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são
português.
Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
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– O que?
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e
pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo
retirados do seu corpo.
– O que foi que ele disse, tia? – quis saber o gordo Jorge.
– E o que é isso?
– Nós vinha...
– Nós vínhamos.
– Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma
tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.
"Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas
de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol
e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo
brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
– Aí, Pechada!
– Fala, Pechada!
A diversidade de opiniões, formas de vestir-se ou culto religioso deve ser vivida como algo que
enriquece. Não como justificativa para excluir os "diferentes". O texto de Luis Fernando
Verissimo aponta para essa questão essencial na escola: o convívio com as diferenças.
Segundo Ana Maira Zortéa e Marta Bergallo Rodrigues, assessoras pedagógicas da Secretaria
Municipal de Educação de Porto Alegre, é preciso deixar claro para os alunos que uma cultura
não é superior às outras — da mesma forma que nenhum ser humano tem mais valor que os
demais. O assunto está nos capítulos de Pluralidade Cultural e Ética, temas transversais dos
Parâmetros Curriculares Nacionais.
"A escola deve se preocupar com a contribuição que os conteúdos de sala de aula dão para a
formação de sujeitos cooperativos, livres para expressar suas idéias e capazes de aprender na
troca com os outros", afirma Ana Maira. Ela e Marta sugerem atividades para turmas da pré-
escola à 4a série. De início, peça uma pesquisa sobre as origens, os costumes e os gostos
culinários das famílias de seus alunos.
Formas de Socialização
Com base nos relatórios, organize diferentes formas de socialização. Uma idéia é promover
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uma refeição com alimentos que contem um pouco de cada história familiar. No dia, as
crianças e os convidados ensinam músicas e brincadeiras — e contam casos pitorescos sobre
avós, tios e primos. Outra proposta é organizar uma exposição com objetos significativos,
levados de casa para a escola. Vale tudo: desde uma bomba de chimarrão (para os gaúchos)
até uma foto antiga, roupas ou livros.
Nas aulas de Língua Portuguesa, peça que cada estudante apresente uma palavra nova ao
grupo. Sugira que todos consultem parentes mais velhos. Valem também expressões de outras
regiões. Em seguida, proponha um jogo na forma de um desafio "O que é, o que é...?" Registre
os vários significados levantados pelas crianças. Terminada a brincadeira, monte um dicionário
com o verdadeiro sentido das palavras. As que provocarem mais polêmica podem virar alvo de
pesquisas mais detalhadas.
Um bom exercício de Matemática consiste em montar uma linha do tempo para cada
estudante. Ela começa no nascimento do mais velho parente consultado, inclui os demais
familiares e chega aos dias de hoje. Calcule, então, a diferença de idade entre as gerações
(pais e filhos, pais e avós...). "Nessa hora, você pode trabalhar os conceitos de século, década
e ano", sugere Marta.
O temporal no Amazonas
Passamos o dia em Ponta Alegre, aldeia dos índios Maués, banhada pelo rio Andirá. Muito
aprendi com o jovem tuchaua, conhecedor de ervas mágicas e amigo das estrelas. Ao
entardecer, saímos de canoa com motor de popa, ao rumo da Freguesia, pequenina
comunidade no coração da floresta. Era tempo de cheia. Soprava de leve o vento geral.
Éramos quatro a bordo. Viajávamos rente à margem abarrancada, já na metade do percurso,
quando, de repente, o temporal desabou.
"Este vai ser dos medonhos", disse sereno, lá na popa, onde manejava o motor, Morón, um
índio meu amigo. Junto a ele, no chão da canoa, o seu filho menino, todo encolhido de frio.
Lembro-me de que, antes de escurecer totalmente, do banco da frente onde eu viajava, virei-
me e vi o brilho intenso dos seus olhos enormes. Era o pavor. Na proa, sem camisa, o cabloco
Jari, morador da Freguesia.
Só os relâmpagos nos ajudavam, cortando o céu de um lado a outro: a luz fugaz nos mostrava
um tronco enorme, um pedaço de árvore ainda com ramos frescos, já quase em cima de nós.
O índio, ágil e calado, desviava a canoa num golpe de leme. A escuridão era tanta que eu
sequer enxergava a minha mão aberta a centímetros do meu rosto. Mesmo assim, em alguns
instantes, tive a certeza de que o piloto conseguia distinguir, dentro da treva espessa, alguma
coisa das águas e das margens. Um filho da floresta.
A tempestade cessou pouco antes de chegarmos à Freguesia. E duas coisas aconteceram que
eu preciso contar. A primeira é que, de repente, demos com várias canoas vindo em nossa
direção. Eram homens e mulheres daquele pedaço verde do mundo, certos de que deveríamos
chegar no começo da noite e nossa tardança já era tanta, nos sabiam surpreendidos pelo
temporal e decidiram ir ao nosso encontro, para nos salvar. Quando nos viram, foi um imenso e
prolongado grito de alegria, saído de todas as bocas. Do coração solidário. A segunda coisa é
que depois do temporal o céu acendeu as suas estrelas, perdão, todas as suas estrelas, que
brilhavam enormes, pairando soltas no campo da noite.
C ada região do Brasil é marcada por diferentes características. Nenhuma delas, no entanto,
pode ser estudada sem que se entenda como a população vive e interage com o meio
ambiente. Thiago de Mello, natural do Amazonas, conhece como ninguém a importância da
água para o nortista. Na narrativa, o autor mostra como as chuvas e os rios comandam a vida
das pessoas. Para que seus alunos embarquem nessa viagem, Guilherme Fernandes,
professor da Universidade Federal do Pará e doutorando em Literatura e Cultura Popular, criou
esta sugestão para turmas de 3ª a 7ª série.
Comece o trabalho pedindo uma pesquisa sobre a escassez de água. Os alunos perceberão
que em alguns lugares existe falta (Nordeste) e em outros, fartura (Amazônia). Antes da leitura
do texto, explique que eles vão conhecer uma história sobre o homem da Região Norte e o
convívio com rios e tempestades. É importante que todos percebam onde estão o conflito (a
luta contra o temporal) e os personagens (narrador, índio e caboclo). Parta das atitudes de
cada um em relação às águas revoltas, aos trovões e ao balanço da canoa para explorar os
conceitos de sujeito, verbo e adjetivo, em Língua Portuguesa.
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Fale sobre os diferentes tipos de texto, enfatizando a linguagem literária, gênero a que
pertence "Temporal no Amazonas". Apresente exemplos de metáfora (coração da floresta,
amigo das estrelas, o céu acendia as estrelas) e de vocabulário característico da região
(caboclo, medonho, tardança). Destaque que a palavra tuchaua, que aparece no início da
narrativa com o significado de chefe da tribo, também pode ser grafada como tuxaua.
Características regionais
Outra idéia é pesquisar os meios de transporte mais usados em outros lugares do Brasil,
levando-se em conta as características geográficas. Mostre que no Norte são comuns as
embarcações de diversos tipos: canoa, montaria, barco-motor, navio, catamarã, alvarenga. E
nas outras regiões? Divida a turma em grupos e proponha a construção de modelos desses
veículos. Depois, monte uma exposição. Durante a confecção das miniaturas, apresente
conteúdos de Matemática. No primeiro ciclo do Ensino Fundamental, explore a noção de
objetos geométricos e os conceitos de grandezas e medidas. Para o segundo ciclo, o ideal é
abordar o sistema de numeração decimal e questões relativas ao espaço e à forma, que
aparecem no estudo das figuras geométricas presentes nas embarcações.
Em História, use os personagens índio e caboclo para fazer uma linha do tempo sobre a
colonização do país pelas várias raças — os estudantes vão compreender como se deu a
miscigenação. E lembre-se: temas ligados a Ética, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente
aparecem com freqüência no texto e devem ser discutidos em todas as disciplinas.
Emas
cobras, pregos.
arnica da avó.
A gente sabia
A ema é um curioso representante do Centro-Oeste. Tem três dedos nos pés e até 1,30 metro de
altura. O macho choca os ovos de várias fêmeas. Na visão do poeta, tem moelas de alicate e um
estômago onde cabe tudo — vidro, lata, cobra, prego... O mato-grossense Manoel de Barros
explora em seu poema as figuras de linguagem. Na brincadeira com as palavras ele leva o leitor
a entrar num baú de memórias e escreve como se os versos fossem uma extensão do vaivém do
pensamento. A ema criada pelo artista plástico goiano Siron Franco é também uma
representação — as impressões que ele tem dela. Ana Maria Nogueira, mestre em artes visuais,
e Maria Luiza Bretas, coordenadora do Programa Cantinho de Leitura de Goiás, prepararam as
sugestões para trabalhar o texto e a obra em sala de aula.
Divida a sala em cinco grupos e comece com um jogo. Uma criança fala um número de 1 a 23.
Cada escolha define uma letra do alfabeto (ao número cinco corresponde o E; ao oito, o H).
Peça que os grupos escrevam o maior número possível de nomes de animais que comecem com
a letra escolhida. Ganha quem tiver a maior lista.
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Baralho de versos
Depois desse aquecimento, explore as idéias ligadas a Geografia e Ciências. Estimule os alunos
a falar tudo o que souberem sobre o habitat dos animais citados, características e alimentação.
Apresente os mais comuns na Região Centro-Oeste e fixe-se, posteriormente, na ema. Feita essa
discussão, é hora de apresentar o poema. Com antecedência, copie o texto cinco vezes e recorte
verso por verso. Cada grupo deve receber o material já recortado e embaralhado. Peça que todos
montem o quebra-cabeça da maneira que acharem mais lógica. Proponha a leitura grupo por
grupo e saliente as diferenças observadas. Terminada essa etapa, cole no quadro o poema de
Manoel de Barros transcrito num cartaz e verifique quem mais se aproximou do original.
A partir daí inicie o trabalho com a linguagem. Questione os possíveis significados das
expressões "elas ficavam flanando", "moelas de alicate", "botar cabresto na ema", "a ema quase
voa no correr" e "eu tinha vontade de dobrar o vento no correr". Para concluir, proponha que os
grupos criem poemas sobre os animais da região pantaneira e ilustrem em papel pardo.
Terminado o texto, explore a obra de Siron Franco. Explique que a arte contemporânea se
apropria de gestos e formas para expressar sentimentos. No caso, o resultado foi uma espécie
única de ema. Peça que os alunos pesquisem como é o animal. Proponha que construam, como
na arte contemporânea, um objeto representativo dele. Para isso, podem usar restos de peças de
automóveis, galhos de árvores ou qualquer outro tipo de sucata que tenha semelhança com o
gogó da ema. Monte os objetos trazidos numa grande instalação.
A chuva
D á para imaginar um poema sem versos? Até 1956, quando surgiu a poesia concreta, poucas
pessoas ousavam pensar assim. Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos
deram destaque a aspectos visuais e sonoros e o papel principal do texto passou a ser da
palavra. A seguir, você conhece as sugestões de Odonir Araújo de Oliveira, professora de
Língua Portuguesa e Literatura e assessora pedagógica em São Paulo, para trabalhar o poema
de Arnaldo Antunes em aula de aula. As idéias servem para todas as séries. Aprofunde as
atividades de acordo com a resposta da turma. "Para explorar a linguagem poética é
fundamental estimular as descobertas, mostrando que é possível ter inúmeras impressões",
ensina Odonir.
Inicie com a leitura frase a frase para que os estudantes percebam o ritmo, as rimas e a
estrutura. Estimule-os a dar explicações que justifiquem o modo como o autor construiu o texto.
Em seguida peça que leiam novamente, deste vez prestando atenção à sonoridade: a repetição
da palavra chuva e o efeito causado pelo som /ch/. Afinal, o que o poeta quer dizer?
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Para turmas mais avançadas é possível também explorar a estrutura sintática. Compare as
frases em que a palavra chuva aparece como sujeito agente, orações em que o verbo está
elíptico ("A chuva sobre os varais") e frases nominais ("A chuva apenas", "A chuva de
canivetes"). Questione sobre as diferenças e o efeito que cada uma confere aos versos. Peça
que listem todas as estruturas que aparecem no poema e os exemplos que correspondem a
cada uma delas.
Toda essa discussão vai abrir espaço para desenvolver uma série de atividades. Peça uma
pesquisa sobre o concretismo. Vale trazer outros poemas e letras de música de Arnaldo
Antunes para cantar e declamar na sala de aula. Sugira que todos criem as próprias poesias.
Agora, estenda o trabalho para outras disciplinas. Em Geografia, uma boa sugestão é
pesquisar os maiores e menores índices pluviométricos no Brasil, apontando as causas e
conseqüências da falta ou do excesso de chuva (o racionamento de energia certamente vai
animar o debate). Proponha que os alunos confeccionem mapas e trabalhem com legendas.
Em Matemática, compare os números pesquisados e peça a criação de gráficos como síntese
do material. Em Ciências Naturais, discuta com a classe os conceitos de chuva e o ciclo da
água. Você pode ainda complementar esse trabalho com a observação dos dias chuvosos. O
que acontece quando a chuva é fraca ou forte? Como ela começa e termina? Qual a diferença
de som? Registre as conclusões com textos ou desenhos.
Dona Licinha
A senhora não me conhece. Faz tanto tempo e me lembro de detalhes do seu jeito,
sua voz, seu penteado e roupas... A senhora ensinava na 3a série B e eu era aluna
da 3ª série C no Grupo Escolar do Tatuapé... Passava no corredor fazendo figa para
mudar de classe, pra minha professora viajar e nunca mais voltar, pra diretora
implicar e me mandar pra 3a B... Nunca tive tanta inveja na minha vida como tive
das crianças da série B...
Lembro que na sua sala se ouviam risadas quase o tempo todo. Maior gostosura!
De vez em quando, um enorme silêncio quebrado por uma voz suave...era hora de
contar histórias. Suspirando, eu grudava na janela e escutava o que podia...
Também muitos piques e hurras, brincadeiras correndo solto. Esconde-esconde,
telefone sem fio, campeonato de Geografia. Tanto fazia a aprontação inventada.
Importava era sentir a redonda contenteza dos alunos.
A sua sala era colorida com desenhos das crianças, um painel com recortes de
revistas e jornais, figurinhas bailando em fios pendurados, mapas e fotos... Uma
lindeza rodopiante mudada toda semana! Vi pela janela seus alunos fantasiados,
pintados, emperucados, representando cenas da História do Brasil! Maior
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Nunca ouvi berros, um "Cala boca", "Aqui quem manda sou eu" e outras mansidões
que a minha professora dizia sem cansar. Não escutei ameaças de provas de
sopetão, castigos, dobro da lição de casa, chamar a diretora, com que a minha
professora me aterrorizava o tempo todo...
Dona Licinha, eu quis tanto ser sua aluna quando fiz a 3a série. Não fui... Hoje,
tanto tempo depois, sou professora. Também duma 3a série. Agora sou sua
colega... Só não esqueço que queria estar na sua classe, seguir suas aulas
risonhas, sem cobranças, sem chateações, sem forçar barras, sem fazer engolir o
desinteressante. Numa sala colorida, iluminada, bailante. Também quero ser uma
professora assim. Do seu jeito abraçante.
Hoje, vi uma garotinha me espiando pela janela. Arrepiei. Senti que estava
chegando num jeito legal de estar numa sala de aula... Por isso resolvi escrever
para a senhora. Vontadona engolida por décadas. Tinha que dizer que continuo
querendo muito ser aluna da Dona Licinha. Agora, aluna de como ser professora.
Fazendo meus alunos viverem surpresas inventivas.
Um abraço apertado,
cheinho de gostosuras, da
Ciça
O grupo de professores pode começar escolhendo um colega para ler, com dramaticidade, a
carta, da qual todos devem ter uma cópia. O objetivo é descobrir qual é a magia que envolve as
aulas de dona Licinha. Antes de iniciar a leitura dramática, apresente as questões a seguir,
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sem esperar pelas respostas O objetivo é fazer com que todos se familiarizem com o que será
conversado depois.
Ela trabalha com os estudantes fora da sala de aula, ao ar livre, e, por isso, eles se sentem
soltos e alegres?
Será que os alunos gostam mais das aulas quando não têm limites, quando tudo podem
dentro da classe?
Você, dentro da sala, dá sempre respostas prontas aos questionamentos? Isso agrada às
crianças, que não precisam se esforçar para pensar nem para resolver situações desafiadoras?
Será que um professor pode ser competente no ofício de ensinar e, ao mesmo tempo, se
tornar admirado e querido por seus alunos?
Todas as questões levam a uma reflexão sobre alguns equívocos muito comuns em torno do
que é ser um bom professor — imagem que costuma ser associada apenas ao "bonzinho". O
que é ser "bonzinho"? Dona Licinha era querida por ser "boazinha"? Será que um dos motivos
para tal encantamento não é o modo como ela conduz à descoberta de novos conhecimentos
numa atmosfera de afeto e alegria?
Elos de afetividade
Depois da leitura da carta-crônica, o ideal é partir para uma conversa franca sobre as questões
propostas. O importante não é buscar respostas únicas, definitivas, mas fazer circular idéias a
respeito do ofício de ensinar e das razões pelas quais alguns professores, em determinados
momentos da carreira, se transformam em modelo para jovens e crianças — e serão
lembrados por eles pelo resto da vida. Durante a discussão, evite o tom de mea culpa que
muitas vezes domina encontros entre colegas. Quando todos sentirem que o que foi falado é o
bastante até aquele momento, unam-se em volta de uma mesa com bolo e velas e comemorem
com alegria o orgulho de ser professor.
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Viola no saco
Vocês sabem por que quando alguém perde uma discussão, ou coisa assim, e tem
de se calar, se diz que "fulano meteu a viola no saco"? Pois eu vou contar.
Há muito tempo, quando os bichos falavam e muitas coisas eram diferentes, havia
muita festança no mundo. Um dia houve uma festa no céu e todos os bichos foram
convidados. Entre eles, um dos mais esperados era o Urubu, porque as danças
dependiam das músicas que ele tocava na viola.
No dia da festa, o Urubu enfiou sua viola no saco e, antes de iniciar a viagem, foi
beber água na lagoa. Lá encontrou o Sapo Cururu, que se secava ao sol. Enquanto
o Urubu bebia, o espertalhão do Cururu, que também queria ir à festa, se escondeu
dentro da viola para viajar de carona.
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Quando o Urubu chegou ao céu, foi muito bem recebido, pois todos esperavam por
ele para começar a dançar o cateretê e a quadrilha. Mas antes o chamaram para
beber umas e outras.
O Urubu foi, deixando a viola encostada num canto. O Cururu aproveitou para pular
da viola sem ser visto e foi se empanturrar com os quitutes da festa. O Urubu
também comeu e bebeu até não poder mais e não viu que o Cururu, aproveitando
uma distração sua, se escondera de novo dentro da viola para tornar a tirar uma
carona na volta para a terra.
Quando chegou a hora de voltar, o Urubu guardou a viola no saco e saiu voando de
volta para casa. Durante o vôo, estranhou que a viola estivesse tão pesada. "Na
vinda foi fácil, mas na volta está difícil. Será que fiquei fraco de tanto comer e
beber?", pensou ele. Por via das dúvidas, examinou o saco com a viola e acabou
descobrindo o malandro do Sapo Cururu agachado lá dentro. Furioso por ser usado
desse jeito, o Urubu começou a sacudir o saco com a viola, para despejar o Cururu
lá do alto e se ver livre dele.
O Urubu, tolo, querendo se vingar do Sapo, viu lá de cima uma lagoa e tratou logo de
despejar o Sapo dentro d’água, que era pra ele se afogar. O espertalhão do Cururu, que
só queria era isso mesmo, saiu nadando, feliz da vida. O bobão do Urubu só não ficou
"a ver navios" porque não havia navios naquela lagoa. E é por isso que, quando alguém
perde a partida e tem de sair quieto e calado, dizem que "fulano teve de meter a viola no
saco"...
"É preciso dar oportunidades para que os alunos, com base em uma discussão franca sobre
questões presentes no cotidiano, possam refletir a respeito de situações originadas em ações
marcadas pelo uso da esperteza", explica Olgair Gomes Garcia, professora de Didática da
Pontíficia Universidade Católica de São Paulo e diretora de Ensino Fundamental da Secretaria
Municipal de São Paulo. Estimule a reflexão, a criatividade e a comunicação usando as
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sugestões de Olgair, que podem ser trabalhadas a partir da 4a série (com turmas de 6ª e 7ª, a
atividade pode ser mais aprofundada, conforme os questionamentos que surgirem).
Cochicho em grupo
Escolha um local espaçoso da escola. Pode ser a sala de aula, se ela for grande, ou o pátio.
Proponha que a turma se divida em grupos de três ou quatro e inicie uma rápida atividade de
"cochicho". Cada um deve contar aos colegas da equipe, em voz baixa, situações desastrosas
que viveram e como se saíram delas. Em conjunto, as crianças elegem o caso mais engraçado
e o apresentam em voz alta para todos os colegas.
Com o clima já bem descontraído, fale sobre "Viola no Saco" e em seguida distribua cópias do
texto. Faça uma leitura oral usando recursos de dramatização e estimule comentários sobre o
conteúdo da história. Quando começarem a aparecer opiniões a respeito dos personagens
centrais, faça uma intervenção e proponha um debate com o tema "A esperteza: defeito ou
virtude?". Para organizar a atividade, divida a classe em três grupos. Um deles será
encarregado de coordenar, organizar e desenvolver o debate. Os outros dois devem se dividir
entre a defesa do urubu e a do sapo cururu.
O sucesso do trabalho depende de uma boa preparação para que os alunos possam ter o
envolvimento e a segurança necessárias. É interessante, por exemplo, que o urubu, o sapo e
outros personagens estejam presentes no debate (alguns estudantes caracterizados vão ajudar
a compor o clima). Durante a realização das discussões, com uma duração previamente
combinada, fique atento e registre as principais questões e pontos de conflito que forem
aparecendo. Principalmente as que envolvam atitudes e valores.
Após o debate, você pode ainda fazer alguns encaminhamentos. Elabore um roteiro e peça
para os grupos se auto-avaliarem. Para encerrar, faça uma avaliação com toda a classe e,
usando os dados levantados, apresente os assuntos que surgiram no julgamento simulado.
Para finalizar, proponha a realização de um projeto interdisciplinar sobre solidariedade.
Houve um tempo em que os bichos falavam, e eles falavam tanto que Esopo resolveu recolher
e contar as histórias deles para todo mundo.
Esopo era escravo de um rei da Grécia, e divertia-se inventando uma moral para as histórias
que ouvia dos animais.
Na verdade, nem todos os moradores do país eram capazes de entender a linguagem dos
animais, mas Esopo era. Sobretudo dos pequeninos, que falavam muito baixinho, como por
exemplo os ratinhos que moravam num buraco da parede da cozinha do palácio.
Um dia, quando limpava o chão da cozinha, Esopo ouviu uns ruídos que vinham de dentro do
buraquinho. Os ratinhos estavam muito agitados e preocupados pois, o rei havia colocado um
gato grande e forte para tomar conta dos petiscos reais e o tal gato não era de brincar em
serviço, já tinha devorado vários ratos.
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Um deles, muito espevitado, parecia ser o líder e, de cima de uma caixa de fósforos,
discursava:
— Meus amigos, assim não é mais possível, não temos mais paz e tudo porque o rei resolveu
trazer aquela fera para cá. Precisamos fazer alguma coisa, e logo, porque senão esse gato vai
acabar com a nossa raça!
Era uma assembléia de ratos e todos estavam muito empenhados em solucionar o problema
que os afligia: um gato, grande e forte, que o rei havia mandado colocar na cozinha.
Já tinham perdido vários amigos nos dentes afiados da fera: o Provolone, o Roquefort, o
Camembert e o pobre Tatá, o mais amado de todos.
Uns achavam que deveriam matar o tal gato; outros diziam que era impossível: "Como matar
uma fera daquelas?"
Horácio estava quase convencido de que a sina de seu povo era morrer entre os dentes do
gato. Com lágrimas nos olhos, já ia descendo da caixa de fósforos quando Frederico, um
ratinho muito tímido que nunca falava, resolveu dar sua opinião:
— Como vocês sabem, eu não gosto muito de falar, por isso serei rápido, mas antes vocês vão
responder a uma pergunta: Por que esse gato é tão perigoso para nós, se somos tão ágeis e
espertos?
E Horácio respondeu:
— Ora, Frederico, esse gato é silencioso, não faz nenhum barulho. Como é que vamos saber
quando ele se aproxima?
— Exatamente como eu pensei. Me perdoem a modéstia, mas acho que a idéia que tive é a
melhor de todas as que ouvi aqui .Vejam só, é simples: Vamos arrumar um guizo, pode ser até
aquele que pegamos da roupa do bobo da corte. Lembram? Aquele que achamos bonitinho e
que faz um barulho enorme.
— A gente pega o guizo e coloca no pescoço do gato. Quando ele se aproximar, vamos ouvir o
barulho e fugir. Não é simples?
Todos adoraram a idéia. Era só colocar o guizo que todos ouviriam o gato se aproximar.
Todos os ratos foram abraçar Frederico e estavam na maior euforia quando, de repente, um
ratinho que não parava de roer um apetitoso pedaço de queijo, resolveu perguntar:
Era o fim da euforia dos ratinhos. Para Esopo, a moral da história era a seguinte: "Não adianta
ter boas idéias se não temos quem as coloque em prática". Ou ainda: "Inventar é uma coisa,
colocar em prática é outra".
U m desavisado que passe por uma reunião de professores no início do ano pode pensar que
a cena é uma repetição da assembléia dos ratinhos de Esopo. Começo de trabalho é assim:
muita animação, energia e planos para o novo semestre. Só que, com o passar do tempo, a
empolgação pode diminuir. Afinal, trabalho em equipe nem sempre é fácil. Antes de colocar
idéias em prática, é preciso enfrentar problemas e pesar vários pontos de vista.
Peça que todos se coloquem em círculo. Antes de distribuir o texto, anuncie que o objetivo é
desenvolver a importância do trabalho em equipe. Comece com uma proposta de leitura que
favoreça o compromisso e a valorização dos elementos do grupo. Cada pessoa deve ler, em
voz alta, um parágrafo da história. Alerte para a necessidade de todos se expressarem de
forma clara e se manterem atentos.
Agora, cabe a cada um explicar o significado do que produziu. Anote no quadro-negro ou numa
cartolina palavras-chave relacionadas ao tema "trabalho em equipe" à medida que elas
aparecerem nos relatos. Em seguida, relacione a história "No tempo em que os bichos falavam"
com o conjunto de palavras-chave levantadas. Leve os colegas a refletir: os ratos estavam
trabalhando em equipe?
Com base nessa discussão, o grupo levantará os critérios para considerar um trabalho como
sendo de equipe. Esses parâmetros podem ser colocados num cartaz que fique disponível para
consulta.
Tênis é de lona e borracha. Cueca é de pano e elástico. Caderno é de arame e folha de papel.
Televisão é de plástico com uma antena em cima e uma tela na frente.
Vaca é de couro, chifre e quatro tetas pingando leite. Cachorro é um ônibus peludo cheio de
pulgas. Ser humano é feito de carne, osso, coração e idéias na cabeça.
Tem gente que pensa que terra só serve para cavar buraco no chão, para ser hotel de minhoca,
para enfiar poste de luz ou então para sujar o pé de lama em dia de chuva, mas não é nada
disso.
Uma vez eu tive um sonho. Sonhei que estava dormindo com vontade de fazer xixi. Continuei
sonhando e pulei da cama. Pobre de mim! Quando pisei no chão, descobri que naquele sonho
não existia chão. Lá fui eu caindo, despencando, voando, esvoaçando. O mundo ali era um
lugar sem terra, por isso tudo vivia boiando no ar. Saí do quarto, fui voejando, passei pela sala
cheia de cadeiras, móveis e mesas voando e cheguei no banheiro. Lá dentro, o chuveiro, a pia
e a privada pareciam umas coisas brancas flutuando no espaço. Fui tentar fazer xixi, mas a
privada não parava quieta. A vontade apertava cada vez mais. Tentei fazer pontaria, caprichei
na mira, mas não deu. No fim, o sonho acabou. Acordei todo molhado com meu irmão, lá
embaixo, gritando socorro. Acontece que a gente dorme em cama beliche, eu em cima e ele
embaixo.
Meu irmão me xingou de tudo quanto foi nome. Expliquei a ele que se não fosse a terra firme o
beliche estaria voando e aí, sim, ia ser muito pior.
Pensando bem, a terra é a coisa mais importante do mundo em que vivemos. Ela é o solo, o
chão, a gleba, o piso,
Sem a terra, não ia ter nem milho, laranja, caqui, jabuticaba, banana, pêra, uva, cacau,
pitanga, mexerica, romã, maçã, abacate, melancia, abacaxi, nem amendoim nem nada.
O mundo ia ser só um monte de coisa nenhuma cercado de água para todos os lados.
Mas a terra tem seus truques. Ela não gosta de ser maltratada, não senhor!
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Quando fazem queimadas ou destroem o mato ou enchem o chão de lixo e porcaria a terra fica
triste vira deserto, corpo árido, seco, estéril, que não dá mais nada.
Ela, que era generosa, formosa, úmida, florida, risonha, fofa, macia, fértil, cheia de sombra,
cheia de perfume, cheia de riachinhos, borboletas, besourinhos, bichinhos e bichões, de
repente fica tão dura e rachada que só consegue inventar pó, areia e desolação.
C olocar o pé na terra, colher fruta na árvore ou mergulhar no rio. Todas essas atividades criam
uma aproximação mágica entre o homem e a natureza. Promover o contato direto com o
mundo que nos cerca e despertar a consciência de que é preciso preservá-lo faz com que os
jovens assumam o papel de cidadãos. Ricardo Azevedo nos leva a imaginar como seria se não
houvesse terra, chão. Lú Mendes e Candú Marques são consultoras pedagógicas do projeto
Fura-Bolo, da Fundação Cargill, que tem o objetivo de levar boa literatura a crianças carentes, e
prepararam sugestões para usar com turmas de 1a a 4a série.
101
Na faixa etária indicada para essa atividade, a criança parte da interação com o mundo
concreto para construir o conhecimento. Ela deve olhar o que existe ao redor para conceber
idéias e conceitos sugeridos pelo tema. Faça a seguinte provocação: imagine um encontro com
um extraterrestre. Como você apresentaria nosso planeta? O que gostaria de mostrar em
primeiro lugar? Peça que todos desenhem o que pensaram e apresentem os registros ao
restante da turma.
Depois, trace um paralelo entre o que autor escreveu e a experiência do aluno. Faça os
seguintes questionamentos:
"Quando a terra fica triste ela vira deserto, corpo árido, seco, estéril, que não dá mais nada." E
você quando está triste, como fica?
"Quando a terra está alegre fica cheia de perfume, risonha, fofa, fértil." E você?
Converse em roda sobre as respostas dadas pela garotada. Observe que as descobertas podem
ser, num segundo momento, traduzidas em diferentes linguagens (dramática, verbal, plástica e
gráfica) e organizadas dentro de uma dinâmica de grupo.
Pensar nas próprias experiências é sempre um caminho para construir conhecimento. É bem
mais fácil entender a irritação da terra lembrando momentos em que a gente já se sentiu
assim. Essa proposta é uma forma de relacionar a beleza e a preservação da natureza ao
desenvolvimento e bem-estar do homem.
O segundo tema remete a uma percepção mais subjetiva da realidade, muito comum na
infância, que é a sensação de "perder o chão". No texto, o narrador sonha que, ao acordar, não
tem onde pisar. Leia essa passagem em voz alta. Trabalhe a idéia de perda de controle, que é
sugerida de forma metafórica no sonho do narrador.
Depois da leitura, peça a todos que, em silêncio, lembrem-se de situações em que se sentiram
perdidos. Dê um tempo para a reflexão e oriente-os a se expressarem na forma de texto.
Aprofunde a atividade sugerindo a leitura do trabalho de cada um. Uma boa idéia é reunir o
material num livro com o título "Quando a terra deixou de existir para a ..... série".
A luva
F oi nos tempos distantes do amor cortês. No reino medieval do rei Franz era dia de festa, e o
ponto alto das festividades era a exibição de feras selvagens, trazidas de terras distantes, na
arena do grande castelo. Em volta da arena erguiam-se as arquibancadas, encimadas por altos
balcões onde brilhavam os nobres da corte, ao lado das belas damas faiscantes de jóias. Entre
elas se destacava a donzela Cunegundes, tão rica e formosa quanto orgulhosa, e de pé ao seu
lado estava o seu apaixonado adorador, o jovem cavaleiro Delorges, cujo amor ela desdenhava,
distante e fria.
Chegou a hora do início da função. A um sinal do rei, abriu-se a porta da primeira jaula, da qual
saiu, majestoso, um feroz leão africano e, sacudindo a juba dourada, deitou-se na areia,
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preguiçoso. Abriu-se a segunda jaula, liberando um terrível tigre de Bengala, que encarou o
leão com olhos ameaçadores e deitou-se também, tenso, como quem prepara um bote mortal.
Em seguida, abriu-se a terceira jaula, da qual saltaram, quais enormes gatos negros, duas
panteras de dentes arreganhados, deitando-se agachados e aumentando a tensão do ambiente.
Fez-se um silêncio no público: todos aguardavam ansiosos um pavoroso embate mortal entre
os quatro monstros felinos... E neste momento, como que sem querer, a donzela Cunegundes
deixou cair, do alto do balcão, sua branca luva, bem no centro da arena, entre as quatro feras
assustadoras. E dirigindo-se com um sorriso irônico ao seu cavaleiro adorador, falou, afetada:
"Cavaleiro Delorges, se de fato me amais como viveis repetindo, provai-o, indo buscar e me
devolver a minha luva."
O cavaleiro Delorges não respondeu nada e sem titubear, desceu rápido do balcão e com
passos decididos pisou na arena, entre as fauces hiantes e as presas arreganhadas das quatro
feras. Calmo e firme ele apanhou a luva, e sem olhar para trás e sem apressar o passo, voltou
para o balcão, sob os sussurros de espanto e admiração de todo o público presente.
A donzela Cunegundes estendeu a mão num gesto faceiro para receber a luva e com um sorriso
cheio de promessas, falou:
Mas em vez de entregar-lhe a luva, o cavaleiro Delorges atirou-a no belo rosto da dama cruel e
orgulhosa: "Dispenso a vossa gratidão, senhora!", ele disse.
Q ue texto bonito! É o que vem à cabeça do leitor que chega à última linha do conto de Tatiana
Belinky. Que segredos tem um escritor para criar este efeito de magia? Serão poderes especiais
conferidos a poucos privilegiados? Claro que não. Seguindo a proposta de aula elaborada por
Heloisa Cerri Ramos, consultora pedagógica de NOVA ESCOLA, é possível mostrar aos alunos os
recursos da língua para criar efeitos e, assim, montar uma bela narrativa. E, na seqüência,
convidá-los a criar, eles mesmos, uma história.
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Comece pedindo à turma que imagine o que acontecerá num conto que tem como título A
Luva. Dê tempo para que todos falem. Peça que observem as ilustrações, especialmente as
cores e os traçados. Que sensação eles provocam? O ilustrador quis transmitir a idéia de
leveza? De tempos antigos? As indagações são um exercício para que todos aprendam a ler
imagens, uma competência importante, que deve ser desenvolvida desde cedo.
Depois, faça a leitura em voz alta, com expressividade, colocando entonação especial nas
palavras. Esses momentos costumam ser mágicos, tanto para o professor quanto para os
estudantes. Peça que eles também leiam, desta vez sozinhos, em silêncio, cada um saboreando
as palavras a seu modo. Pergunte quem gostaria de ler, em voz alta, para todos os colegas, na
aula seguinte. Enfatize que leitura em público exige preparação e ensaio.
Como próximo passo, analise com a classe as atitudes dos protagonistas, a donzela
Cunegundes e o cavaleiro Delorges. Peça que opinem e justifiquem suas idéias, num exercício
de argumentação. Pergunte que nome atribuiriam às atitudes da moça: orgulho, soberba,
vaidade, tirania... Aproveite para discutir o comportamento humano. Lembre a turma que há
um gênero literário que apresenta formas de conduta humana representadas por animais — a
fábula —, e faça a seguinte pergunta: Cunegundes poderia ser comparada ao pavão da fábula
"O Corvo e o Pavão" (leia abaixo o Exclusivo On-line)?
Análise do texto
A segunda parte da aula começa com a análise dos recursos da escrita empregados pela
autora. É um texto narrativo clássico, com a situação inicial harmônica, introdução de um
conflito que interfere nela, desenvolvimento e solução desse conflito. Para iniciar o estudo,
pergunte aos alunos que sensações e impressões eles tiveram ao ler o conto: de medo, de
leveza, de ternura, de alegria, de tempos antigos. Provavelmente eles dirão que a história passa
a imagem de antiguidade, de leveza...
Diga a eles que essas impressões resultam de escolhas lingüísticas. Peça-lhes que observem
essas opções no parágrafo inicial. Quais são os substantivos desse trecho? Ensine-os a percebê-
los, bem como os seus caracterizadores. Que adjetivos ou expressões adjetivas estão
relacionados aos substantivos? À medida que forem falando, escreva no quadro-negro. Faça-os
observar que as escolhas remetem a imagens antigas: tempos distantes, amor cortês, reino
medieval, grande castelo, por exemplo. Leveza, delicadeza, beleza e ternura vêm de frases
como "belas damas faiscantes de jóias", "donzela formosa", "apaixonado adorador".
Passe em seguida para os tempos verbais. O primeiro parágrafo inicia-se com o pretérito
perfeito do indicativo (foi). Já para os verbos seguintes foi escolhido o modo imperfeito do
indicativo: era, erguiam, brilhavam, destacava, estava, desdenhava. Peça aos alunos que
comparem o uso das formas de passado. Leve-os a perceber que o imperfeito dá idéia de algo
que não se concluiu, que acontecia com freqüência. É o tempo verbal adequado para falar de
ações que costumavam acontecer numa época remota. Pergunte por que esse tempo verbal foi
escolhido. E o dos parágrafos seguintes? A predominância é do pretérito perfeito. Nesses
trechos é contado o que aconteceu um dia à Cunegundes e Delorges. Trata-se, portanto, de
algo já concluído.
A sensação de época antiga também está presente na linguagem do diálogo entre a donzela e
o cavaleiro. Pergunte o que mais chama a atenção nessa linguagem. Provavelmente dirão que
são as formas verbais da 2ª pessoa do plural (amais, viveis, provai-o, ganhastes), forma de
tratamento atualmente em desuso. Enfatize que o uso de recursos como substantivos e
adjetivos que remetem à época antiga, tempos verbais, o pronome "vós" e a própria ilustração
são intencionais.
Hora de escrever
104
A seguir, proponha uma produção de texto que faça uso consciente e intencional dos recursos
lingüísticos estudados com o conto A Luva. Peça que cada aluno escreva uma história que se
passe nos dias de hoje, mas na qual as personagens tenham o mesmo comportamento da
donzela e do cavaleiro. A escolha de substantivos, adjetivos e caracterizadores do substantivo,
do tempo verbal, da forma de tratamento e da ilustração vai depender do efeito que cada um
tentará produzir.
Embora seja elaborado para turmas de 3º e 4º ciclos, é possível adaptar esse trabalho para o
início do Ensino Fundamental e para a Educação Infantil. A partir do título e das ilustrações,
pergunte-lhes sobre o que deverá ser a história. A seguir, leia o texto. Converse sobre a época,
as personagens, que opinião as crianças têm sobre a atitude da donzela; pergunte como
reagiriam, se fossem o cavaleiro.
O que é o que é?
Bola de ouro
Correndo, sem choro,
Na ponta do pé.
O que é, o que é?
Bola de prata
Quicando, sensata,
No peito do pé.
105
O que é, o que é?
Bola de meia
Caindo sem peia
No pio do pé.
O que é, o que é?
Bola de neve
Roçando de leve
A planta do pé.
O que é, o que é?
Bola de fogo
Ardendo no jogo
De pé contrapé.
O que é, o que é?
Bola de cera,
Chegando matreira,
De pé-ante-pé.
O que é, o que é?
Bola fagueira
Saindo certeira
Do arco do pé.
É gol de Pelé.
Poema de Armando Nogueira permite estudar a estrutura das adivinhas e conhecer o Rei do
Futebol
Q uando estão pouco inspirados, os poetas costumam pôr a culpa nas musas — seres
mitológicos ligados ao estímulo criativo. Mas Armando Nogueira não tem do que reclamar:
para descrever em versos um gol de Pelé, ele pôde escolher qualquer uma das 1284 vezes em
que o Rei do Futebol estufou as redes adversárias. Haja incentivo!
106
Agora é com você. Conheça as propostas de uso do poema elaboradas por Maria Paula Parisi
Lauria, autora de livros didáticos de Língua Portuguesa, e bom jogo... ops, boa aula.
Comece resgatando o valor das adivinhas nas várias culturas e em diferentes tempos. Na
Antiguidade, a decifração de enigmas era prova de inteligência. Com o passar do tempo, a
prática perdeu o sentido filosófico. Hoje, tais enigmas são encontrados na voz anônima do povo
e, particularmente, na boca das crianças. Pergunte quem entre os alunos tem adivinhas
guardadas na memória. Peça que eles as recitem para os colegas tentarem descobrir as respostas.
Tenha à mão algumas adivinhações para motivar a classe.
Para iniciar o trabalho com o texto, omita temporariamente o verso final escrito por Armando
Nogueira. A idéia é que as crianças descubram, ou no mínimo discutam, a solução comum a
todas as pistas fornecidas pelo autor (apresente-o à garotada usando os dados do quadro). A
leitura em voz alta pode ser feita por você ou ainda por um ou mais alunos.
Pergunte o que há em comum entre as quadrinhas que compõem o poema ("O que é, o que é?";
"bola de"; uso do gerúndio; construções e expressões a partir da palavra "pé"). Lembre que o
grau de aprofundamento na abordagem desses elementos textuais deve variar de acordo com a
série. Nesse momento, aproveite para falar do significado de palavras e expressões não muito
comuns ao vocabulário dos alunos, como "sensata", "sem peia" e "matreira".
Chame a atenção para os usos que o poeta faz da palavra "pé": ao relacioná-la a outros termos
("do arco do pé" e "pio do pé"), resgatar expressões ("pé-ante-pé") e explorar efeitos de sentido
("De pé contrapé"). Uma consulta ao verbete "pé" num bom dicionário pode dar a dimensão da
quantidade de frases e gírias da nossa língua formadas com esse vocábulo. Deixe claro que o
texto poético permite certas subversões em relação às regras estabelecidas no idioma ("pé-ante-
pé" em vez de pé ante pé).
Peça que os estudantes recortem artigos de jornais ou revistas nos quais apareçam descrições de
jogadas que resultaram em gol. Esse material permite comparar o estilo mais objetivo e
denotativo do texto jornalístico com o estilo mais subjetivo e conotativo do poema.
Com a aproximação de mais uma Copa do Mundo, é interessante lembrar o maior ícone da
história do futebol: Pelé. Oriente a realização de pesquisas biográficas e iconográficas sobre ele
(o quadro é só o "pontapé inicial"). Esse estudo pode resultar na montagem de uma exposição
fotos acompanhada de textos em forma de adivinhas, ou ainda na apresentação de jograis
poéticos tendo o futebol como tema.
Para polemizar, explique que os ídolos, grandes craques que são remunerados como tal, são
minoria. Segundo a Confederação Brasileira de Futebol, de cada 100 jogadores profissionais em
ação no país, 86 recebem até dois salários mínimos por mês.
Uma menina muito ressabiada. Era como se tivesse medo de gente. Família, padrinhos, vizinhos
e professores não conseguiam entender o que a impedia de viver em paz com seus iguais.
"Mas o problema é justamente esse", gesticulava ela, amaciando com seus dedinhos o pêlo
macio de seu gato magro, branco e preto — o Bandidão. "Não somos iguais, não somos iguais,
é tudo mentira. Eu olho para a Pati, o Ivan, o Ademir, a Tatá e só vejo diferenças."
108
Bandidão não estava nem aí para aquela conversa sempre tão óbvia. Entediado, deu um pinote,
abandonando o colo de sua dona. Mas, ainda no ar, enquanto preparava suas patas para uma
aterrissagem em segurança, ouviu sair dos lábios dela, também como um pinote, algo que a
garota nunca havia dito: "E quem não tem duas pernas? Ou não escuta? Ou tem dois olhos
mas um é de vidro? Ou é muito feio? Aí não é gente? Para ser gente não basta nascer? E os
bebês, não são diferentes? Por que vocês insistem em me convencer de que somos iguais?
Gente não é como figurinha, que nós arrumamos em fila, deixando de lado as amassadas e as
rasgadas para decidir o que fazer com elas depois".
Bandidão estava emocionado. Entendera tudo, ora pois pois. A menina não tinha medo de
gente. Acuada, sofria por outras razões. Faltava-lhe era coragem para discordar do pensamento
dos adultos.
Confiante por ter conseguido, enfim, explicar sua angústia para os pais, ela experimentou uma
sensação nova: sentiu pressa, muita pressa de ir para a escola. Pela primeira vez, sentia prazer
em ser gente. Dedicou um último olhar de amor para Bandidão e seguiu pela rua.
O conto de Claudia Werneck aborda, de forma leve e simpática, um tema delicado e sempre
atual: a inclusão. Por si só, a leitura instiga questões éticas que vão prender a atenção dos
estudantes e permitir que eles entendam por que não podemos ser comparados a figurinhas,
novas ou amassadas. Quem sugere o roteiro a seguir é a professora Maria Teresa Eglér
109
Para começar, tenha em mente o que você pode fazer para praticar uma pedagogia inclusiva:
Estimule tanto o trabalho individual quanto as atividades grupais, pois a combinação de ambos
ajuda no desenvolvimento de responsabilidades e da consciência de que o saber é resultado da
produção coletiva.
"Uma escola para todos", destaca Maria Teresa, "combate as atitudes corporativistas, que
distorcem o sentido da inclusão para proclamar os direitos de grupos, como o de professores
especialistas e alunos especiais."
Reconhecer diferenças
Depois de ler com a garotada o texto "Não Somos Figurinhas!", pergunte quem concorda com
as idéias apresentadas pela protagonista. Peça que todos (inclusive os que discordam)
justifiquem as opiniões. Então, tomando cuidado para não constranger nem intimidar ninguém,
corrija as eventuais distorções na percepção de realidade daqueles que consideram todas as
pessoas iguais. Deixe claro que a menina do conto reconhece nossas diferenças individuais e
que esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa.
"Estamos em época de racionamento de eletricidade, pois há risco de apagão. Entro numa sala
de aula. A turma é de 4ª série e a professora me recebe com cordialidade. Percebo que os
alunos estão envolvidos com tarefas de Matemática. Porcentagem é o assunto da hora.
Pergunto como ela está lidando com esse conteúdo complexo numa turma tão difícil — há uma
criança cega e outra, o xodó dos colegas, com síndrome de Down. Ambas encontram-se, de
acordo com a professora, defasadas na compreensão da Matemática e de outras disciplinas
‘porque a classe é bem forte’.
A meninada procura saber quais são nossas usinas elétricas e quanto por cento cada uma
produz da energia total do país. A atividade inclui pesquisar as fontes alternativas de energia
existentes no Brasil. Há revistas, livros e papéis por todo lado.
Meninos criam cartazes de cartolina, cheios de números — obtidos ao calcular o que as regiões
Norte e Nordeste poupam porcentualmente —, e o que a escola gasta por dia, conforme o
medidor do consumo elétrico. Eles comparam os dados e checam as porcentagens em
máquinas de calcular. Sabem me dizer quando o uso aumenta ou diminui e levantam hipóteses
sobre a oscilação. É o menino cego quem me aponta os picos de gasto. Quando chega sua vez,
ele também usa a calculadora.
110
Sento-me à mesa do garoto cego e seus três companheiros de equipe. Eles recortam anúncios
de um jornal. Dois ditam os preços para outro, que os repassa para o colega cego. Este, por
sua vez, calcula a diferença de preço em seu sorobam. Depois, juntos, buscam a porcentagem
de ganhos em reais.
O rapaz que dita os valores, oservando meu olhar encantado com a rapidez do aluno cego
dedilhando o sorobam, não quer ficar atrás e me mostra que também sabe usar o instrumento.
Enquanto isso, a professora está no fundo da sala, combinando com outro grupo detalhes de
uma lição sobre a importância do cálculo de porcentagens para resolver problemas na escola,
em casa, nas compras no esporte, no lazer..."
Como seus alunos avaliam a atuação dessa professora? A atenção dispensada ao garoto cego
corresponde às necessidades dessa criança? Ela parece integrada ao grupo? Por que não
recebe uma tarefa mais fácil? E quanto ao rapaz com síndrome de Down, por que ele não
acompanha o ritmo de aprendizagem da turma? Que tratamento ele deveria receber? A
inclusão, nesses dois casos, é efetiva?
Leve-os a concluir que as diferenças individuais devem ser reconhecidas e valorizadas para que
todos participem efetivamente da vida em sociedade.
Cidadania
Objetivo: Entender que os seres humanos não são todos iguais e que características físicas,
raciais e culturais, entre outras, diferem as pessoas. Perceber que o respeito a essas
diferenças é condição básica para a prática da inclusão de todos na sociedade
Como chegar lá: Dê como exemplos nossas atitudes cotidianas e reflita com os alunos sobre
as posturas preconceituosas que muitas vezes assumimos sem perceber
Dica: O assunto é delicado e inspira cuidados, já que o conceito de inclusão pode contrariar
convicções arraigadas pelo convívio familiar. Procure sempre mostrar as conseqüências das
atitudes excludentes
Sonhos
Finalmente os computadores chegaram à escola. Os alunos olhavam para eles com orgulho, curiosidade e
respeito.
Naquela noite, Marilena foi dormir feliz. Muito romântica, sonhava com um príncipe encantado e, para
ela, o computador era como um super-herói. Acreditava que ele transformaria sua vida.
"Mas como? Não entendo nada de computação..." — pensou, insegura. E, para espantar a preocupação,
virou-se na cama.
111
De repente, ouviu um ruído estranho. Olhou para o canto do quarto e... iluminado por uma luz azulada, lá
estava ele: o computador. Intrigada, a menina levantou-se, aproximou-se, pé ante pé, e qual não foi seu
espanto quando surgiu na tela do monitor um jovem simpático que foi se apresentando:
— Oi! — respondeu ela, bastante surpresa. E pensou: "S.O.? Só espero que não seja de Serapiano
Osmundo..."
Sorrindo ao perceber o olhar de espanto da garota, S.O. completou: — ...para coordenar os trabalhos aqui.
A menina sorriu encabulada e tentou fingir que sabia da existência de outros "sistemas operacionais" e da
possibilidade de escolher entre eles. Depois, resolveu confessar:
E comentou, preocupada:
— Para homem? Você nunca ouviu falar de Ada Lovelace? Em meados do século 19, Ada criou o
primeiro programa de computador. Ela foi a primeira programadora do mundo!
— Bem, computador, computador... — hesitou ele. — Os programas de Ada eram pra ser usados num
avô dos micros... um precursor do computador, planejado por Charles Babbage, um matemático e
cientista meio maluco.
E ela sorriu.
E dith Modesto, a autora de Sonhos, cria um clima onírico e romântico para nos
apresentar o computador sob um ponto de vista incomum. O final da trama, em
aberto, permite que o leitor tire as próprias conclusões sobre o destino da
personagem e estimula a criança a mergulhar no universo da Informática.
112
NOVA ESCOLA convidou José Amando Valente a transformar esse incentivo numa
proposta de aula. O educador, que leciona no Departamento de Multimeios do
Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e coordena o Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo, na
PUC de São Paulo, aceitou o desafio. Ele sugere atividades práticas para
demonstrar os recursos e a versatilidade dessa máquina que o imaginário popular
ainda enxerga como um bicho de sete cabeças. Diga que, deletados os mitos, o
computador pode se revelar uma ferramenta indispensável para quem pretende
ficar antenado com o mundo.
"Quem freqüenta uma auto-escola não aprende a história dos carros. Senta-se ao
volante e, já nos primeiros minutos, sai dirigindo", pondera o professor Valente.
Essa premissa também vale para a lição a seguir. O objetivo é fazer a garotada de
2a a 4a série pôr a mão no micro e explorar ao máximo os recursos do
equipamento. Afinal, a desenvoltura no trato com qualquer ferramenta só vem com
alguma prática.
Agora só falta o e-mail. Convide a classe a trocar experiências sobre a lição correio
eletrônico. Explique que, como nas cartas, a mensagem só chegará se o endereço
do destinatário for preenchido corretamente. Peça que cada aluno anexe a seu
bilhete o arquivo com o texto escrito no início da aula.
do livro Você Diz que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais, publicado pela Fundação Cargill),
Afaste as carteiras de modo que haja espaço para metade da classe ficar sentada
(em cadeiras ou tapetes) e a outra metade, em pé, formando um corredor (os
alunos dispostos frente a frente). Cada um lê para seu par o poema que escolheu
em casa — e a turma toda ouve. Quando surgirem dois textos iguais, junte os
alunos para que, terminada a leitura individual, eles façam uma leitura combinada
(jogral). Se você preferir evitar a repetição (que não é ruim, pois poesia torna-se
melhor quanto mais lida e relida), promova uma rodada inicial na qual cada
estudante fala apenas o título do texto escolhido, de forma que os pares ou trios se
reúnam. Assim que o grupo que ficou em pé recitar seus poemas, passe a vez para
os que estavam sentados. Isso permite que todos tenham um tempo inteiramente
dedicado a ouvir, sem se preocupar com o próprio desempenho na hora de
declamar.
Do original à paródia
Para fixar o conceito de paródia, sugira que a turma faça com outros textos de
Drummond a mesma apropriação operada por Ricardo Azevedo. Exemplifique o
116
Aula interdisciplinar
Como chegar lá: Por meio de um jogo didático, a Quadrilha Poética, a classe
entrará em contato com a obra de Drummond, para depois comparar o poema
Quadrilha com a paródia criada por Ricardo Azevedo publicada nesta edição. Outros
exemplos de paródias produzidas com base no poema Canção do Exílio também são
sugeridos
Muitas das minhas lembranças da infância têm relação com metais: eles parecem
ter exercido poder sobre mim desde o início. Destacavam-se em meio à
heterogeneidade do mundo por seu brilho e cintilação, pelos tons prateados, pela
uniformidade e peso. Eram frios ao toque, retiniam quando golpeados.
Eu adorava o amarelo do ouro, seu peso. Minha mãe tirava a aliança do dedo e me
deixava pegá-la um pouco, comentando que aquele material se mantinha sempre
puro e nunca perdia o brilho. "Está sentindo como é pesado?", ela acrescentava.
117
"Mais pesado até do que o chumbo." Eu sabia o que era chumbo, pois já segurara
os canos pesados e maleáveis que o encanador uma vez esquecera lá em casa. O
ouro também era maleável, minha mãe explicou, por isso, em geral, o combinavam
com outro material para torná-lo mais duro.
Um bom jeito de estudar os metais que cercam nossa vida é montar uma
exposição
O texto que ocupa as duas primeiras páginas desta seção foi extraído do romance
Tio Tungstênio — Memórias de uma Infância Química. No livro, o médico inglês
Oliver Sacks relembra a meninice passada em Londres nas décadas de 1930 e 40,
118
Introduza o assunto com uma conversa informal. Diga aos alunos que a Química
em geral e os metais em particular permeiam quase todas atividades cotidianas e
representam um papel essencial no processo do desenvolvimento da tecnologia.
Exposição de metais
Proponha um debate sobre o significado dos metais para a espécie humana desde
épocas remotas. Lembre que as últimas fases da pré-história ficaram conhecidas
pelo nome dos metais mais utilizados — é o caso das idades do cobre e do bronze.
E o que dizer das famosas corridas do ouro, que arrastaram legiões de aventureiros
para os rincões mais inóspitos do planeta, em busca de fortuna? Cite uma
infinidade de artefatos, desde o mais rudimentar parafuso até o revestimento dos
foguetes espaciais. Será que essas maravilhas existiriam sem os metais?
Completada essa etapa, oriente a classe a montar uma exposição com todos os
metais conhecidos por ela (o texto de Oliver Sacks pode ser um bom ponto de
partida). Confira a listagem e, se preciso, incremente-a. Para essa atividade, a
garotada precisa pesquisar:
Ciências
119
Samba do aproach
Eu tenho savoir-faire
Meu temperamento é light
120
Objetivo
Ensinar os alunos a usar diferentes estratégias de leitura para se aproximar da intenção do
autor. Ao ler, podemos ter diferentes intenções. Aqui importa atribuir sentido ao uso que o
compositor Zeca Baleiro faz de palavras de origem inglesa e francesa no Samba do Approach.
As atividades propostas enfocam o caráter cultural do signo lingüístico e pretendem mostrar
como usar adequadamente o dicionário.
Primeira aula
Durante a leitura:
Leia a canção em voz alta. Faça pausas e pergunte o que a turma entendeu.
Motive os estudantes a rever perspectivas e conceitos equivocados. É provável que
muitos não compreendam palavras estrangeiras.
Proponha uma leitura silenciosa com o objetivo de apontar outras palavras
estrangeiras além de approach.
Convide os alunos a dizer o que encontraram e como entendem o que cada termo
quer dizer. Sugira que procurem as definições no dicionário.
Entregue os dicionários inglês-português e encomende uma pesquisa sobre as
palavras que não foram encontradas na atividade anterior. Proponha que os grupos
façam anotações e depois comparem com o que produziram os colegas de outros
grupos. Importante: mesmo dicionários inglês-português não oferecem algumas
das respostas. Questione a classe sobre os motivos que levam um vocábulo a ser
dicionarizado.
Pergunte, então, por que incorporamos ao nosso vocabulário palavras de outros
idiomas. Encarregue os alunos de tomar nota das próprias hipóteses, já que a
discussão terá continuidade.
Segunda aula
122
Propor uma análise coletiva da definição que o Novo Dicionário Aurélio oferece
para brunch: "Ing. br(eakfast) + ( l )unch, refeição farta e substanciosa, ingerida
especialmente nos fins de semana e feriados, e que substitui o desjejum e o
almoço". Ressalte que não existe uma palavra em português com o mesmo
significado, o que impossibilita a existência do verbete em dicionários português-
inglês. Outro aspecto que merece atenção: algumas camadas sociais no Brasil já
incorporaram o costume de substituir o café da manhã e o almoço por uma refeição
só — principalmente nos fins de semana — e a chamam de brunch.
Agora tome a expressão happy hour. A prática de se reunir no final da tarde para
beber e comer algo leve já existia entre nós quando passamos a usar a expressão
em inglês para nomear esse momento, certo?
Chegou a hora de pedir que os alunos pesquisem o verbete brunch no dicionário
inglês-inglês. Eles verão uma descrição similar à oferecida pelo Novo Aurélio, só
que em inglês.
Pergunte, então, por que alteramos nossos hábitos de tempos em tempos e
criamos palavras. Se houver oportunidade, defina estrangeirismo e explique que
muita gente considera "sofisticado" e "elegante" empregar vocábulos importados
mesmo quando há equivalentes em português. Discuta a Lei 1.676/99, do deputado
federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), que tenta reduzir o estrangeirismo na mídia.
Por fim, sugira que todos releiam o texto e tentem traduzir a intenção do autor ao
chamar sua obra de Samba do Approach. Que hábitos ele descreve no texto? Que
grupos sociais se identificam com essa linguagem? Peça que os adolescentes
retomem suas anotações para debater em grupo. Observe que Zeca Baleiro mescla
palavras recentes na nossa cultura a outras mais antigas, como ferryboat, macho
man e pop star.
Trocando em
miudos
Há três termos usados no início deste plano de aula que merecem um olhar mais atento.
Signo, para os lingüistas, designa o conjunto formado pela palavra e o que ela quer dizer. Mais
adiante aparece decodificação. Leve em conta que toda língua é um código cheio de sinais
que só fazem sentido para seus usuários. Decodificar é traduzir esse código. É ler ou ouvir
uma palavra e entendê-la. A proposta de aula também cita referências simbólicas. O termo
referências, no caso, indica conhecimento. E simbólicas, aqui, tem a ver com o sentido não
literal das palavras. Referências simbólicas, portanto, são o conhecimento de mundo
necessário para perceber as entrelinhas de um texto.
Material necessário
Vários dicionários de Língua Portuguesa (editados em anos diferentes), dicionários
português-inglês, inglês-português, português-francês e francês-português e
dicionários inglês-inglês e francês-francês. Se a escola tiver acesso à internet,
oriente a classe a utilizar o site www.uol.com.br/dicionarios. O ideal é que a aula
seja conduzida pelos professores de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira.
A autora
Este roteiro pedagógico, para 7ª e 8ª séries, foi elaborado por Celina Bruniera,
consultora de Língua Estrangeira do Prêmio Victor Civita — Professor Nota 10, para
ser desenvolvido em duas aulas de 50 minutos.
123
Dois alvinegros, Santos e Botafogo, faziam os grandes jogos dos anos 60. Pelé x
Garrincha, fora outros gigantes dos dois timaços.
Num desses jogos, em São Paulo, os cariocas fizeram uma exibição inesquecível e,
estranhamente, pouco badalada nos embates entre os dois melhores times do país
naquela época. Aliás, sempre que se fazem referências aos jogos entre Botafogo e
124
Pelé e Mané estavam em campo, mas o diabo estava era no corpo que vestia a
camisa sete, não a dez. O lateral-esquerdo Dalmo, do Santos, viveu uma tarde de
terror. Garrincha pegava a bola e, andando, levava Dalmo até dentro da grande
área, onde o zagueiro não podia fazer falta.
O Pacaembu não acreditava no que via: um ponta andar desde a intermediária até
a área sem que o lateral tentasse tirar a bola, temeroso do drible desmoralizante.
Até que Dalmo percebeu que tinha virado motivo de chacota dos torcedores, muitos
dos quais nem santistas eram, mas que iam ao campo na certeza do espetáculo.
E Dalmo resolveu bater antes de chegar à grande área. Bateu uma vez, Garrincha
caiu, o árbitro marcou a falta e repreendeu o paulista. Bateu outra vez, Garrincha
voltou ao chão, o árbitro marcou a falta e ameaçou Dalmo de expulsão, porque
naquele tempo o cartão amarelo não existia.
A terceira falta de Dalmo foi a mais violenta, como se ele estivesse pensando:
"Arrebento essa peste, sou expulso, mas ele não joga mais".
Pensado e feito. Enquanto o gênio das pernas tortas estava estirado no bico direito
da área dos portões principais do Pacaembu, o árbitro determinava a expulsão de
Dalmo, cercado por botafoguenses justamente irados com seu gesto.
Eis que, como um acrobata, Garrincha levanta-se, afasta seus companheiros, bota
o braço esquerdo no ombro de Dalmo e o acompanha até a descida da escada para
o vestiário, que, então, ficava daquele lado.
Material necessário
Cópia da carta de Pero Vaz de Caminha
Objetivos
Reconhecer a crônica como gênero da Língua Portuguesa; desenvolver a escrita e a produção de
texto e refletir sobre a função e as transformações desse gênero
Apesar de o texto de Kfouri não ser irônico nem humorístico, vale a pena
diferenciar essas duas características. A ironia é caracterizada pelo uso de
linguagem indireta, com a intenção de criticar fatos ou personalidades. Já o humor
pode ou não conter algum tipo de julgamento por parte do autor, mas o discurso é
sempre direto. As charges, por exemplo, geralmente são irônicas; já alguns
quadrinhos têm como intenção simplesmente fazer rir. Em O dia em que a caça
consolou o caçador no Pacaembu, a intenção do narrador foi homenagear o célebre
jogador Garrincha, e não ridicularizar Dalmo.
Muitas das características da crônica podem também pertencer aos contos, como o
número reduzido de personagens e o fato trivial a ser tratado. Algum contos, como
os do escritor Rubem Braga (1913-1990), já foram considerados crônicas por
apresentarem temas mais complexos, extensos e profundos.
126
Peça à turma para ler atentamente a crônica de Juca Kfouri e identificar pelo menos
cinco características do gênero. Qual o significado do título? Ainda com a classe
dividida em equipes, proponha que cada uma imagine o diálogo que teria ocorrido
entre Garrincha e Dalmo depois da expulsão do jogador santista e que
coletivamente produza uma crônica. Os alunos devem se colocar no papel de um
repórter.
A seguir, mostre a carta de Pero Vaz de Caminha e peça a todos que identifiquem
as diferenças entre a linguagem usada à época pelo relator do rei de Portugal e
pelo jornalista esportivo, nosso contemporâneo. Como seria a crônica de Caminha
se fosse escrita nos dias de hoje? E a de Kfouri, se tivesse sido produzida em 1500?
Eis mais uma atividade para estimular a imaginação e a produção de texto.
Será que os recursos utilizados pelo jogador Dalmo para impedir os gols do
Botafogo ainda são válidos hoje em dia? É comum ver a mesma atitude de
Garrincha - de perdoar o adversário - nos jogadores atuais? Essas questões rendem
uma boa discussão sobre ética e sobre os interesses do futebol.
Por fim, os alunos devem trazer de casa o caderno de esportes de um jornal diário.
Cada um escreve uma crônica sobre alguma notícia ou fato pitoresco ocorrido em
algum jogo, de qualquer esporte.
Ana Terra
Seus irmãos eram assassinos. Nunca mais poderia haver paz naquela casa. Nunca
mais eles poderiam olhar direito uns para os outros. O segredo horroroso havia de
roer para sempre a alma daquela gente. E a lembrança de Pedro ficaria ali no
rancho, na estância e nos pensamentos de todos, como uma assombração. Ana
pensou então em matar-se. Chegou a pegar o punhal que o índio lhe dera, mas
compreendeu logo que não teria coragem de meter aquela lâmina no peito e muito
menos na barriga, onde estava a criança. Imaginou a faca trespassando o corpo do
filho e teve um estremecimento, levou ambas as mãos espalmadas ao ventre, como
para o proteger. Sentiu de súbito uma inesperada, esquisita alegria ao pensar que
dentro de suas entranhas havia um ser vivo, e que esse ser era seu filho e filho de
Pedro, e que esse pequeno ente havia de um dia crescer... Mas uma nova sensação
de desalento gelado a invadiu quando ela imaginou o filho vivendo naquele
descampado, ouvindo o vento, tomando chimarrão com os outros num silêncio de
pedra, a cara, as mãos, os pés encardidos de terra, a camisa cheirando a sangue
de boi (ou sangue de gente?). O filho ia ser como o avô, como os tios. E um dia
talvez se voltasse também contra ela. Porque era "filho das macegas", porque não
tinha pai. Tremendo de frio Ana Terra puxou as cobertas até o queixo e fechou os
olhos.
Trecho do Livro Ana Terra, parte da obra O Tempo e o Vento, de Érico
Veríssimo
Objetivos
Reconhecer o romance como gênero da Língua Portuguesa; identificar os elementos desse tipo de
texto; refletir sobre a função e a importância do romance na literatura brasileira; e desenvolver a
escrita de narrativas.
128
O escritor sempre dizia que para contar histórias era preciso usar linguagem
simples, procurando estabelecer uma comunicação rápida e fácil entre o autor e o
leitor. Para trabalhar o gênero romance, o professor Ulisses Infante, da Faculdade
de Alagoas, em Maceió, preparou a aula a seguir para turmas de 5ª a 8ª série.
Peça à turma que leia o trecho de Ana Terra. Antes de propor algumas questões,
conte que as narrativas de ficção apresentam o desenvolvimento da ação no tempo
e no espaço por meio da movimentação de personagens. Pergunte aos estudantes
onde se passa a cena e como é descrita a iluminação do ambiente. Será que esses
detalhes são importantes para a criação de uma atmosfera adequada ao que se vai
ser contado?
Nesse gênero, quem conta a história é o narrador, que pode ou não ser um
personagem da história, mas sempre adota um ponto de vista (ou foco narrativo).
Ele pode demonstrar conhecimento total dos dados do universo narrado — incluindo
pensamentos e decisões íntimas dos personagens — ou mostrar apenas o que pode
ser captado pela observação dos fatos.
Com base nessas informações, coloque as seguintes perguntas para a classe: que
nível de conhecimento temos da intimidade de Ana Terra? Temos informações
129
E vem o sol
Entrou na casa atrás da mãe, sem esperança de ser feliz. Estava cheio de sombras,
sem os companheiros. Mas logo o verde de seus olhos se refrescou com as coisas
novas: a mulher suave, os quadros coloridos, o relógio cuco na parede. E, de
repente, o susto de algo a se enovelar em sua perna: o gato. Reagiu, afastando-se.
130
O gato continuava afofando-se nas suas pernas. Mas elas queriam o corredor. E, na
leveza de um pássaro, o menino se desprendeu da mãe. Ela não percebeu, nem a
dona da casa. Só ele sabia que avançava, tanta a sua lentidão: assim é o
imperceptível dos milagres.
Então chegou à porta do quarto — e lá estava o outro menino, que logo se virou ao
dar pela sua presença. Miraram-se, os olhos secos da diferença. Mas já se
molhando por dentro, se amolecendo. O outro não lhe perguntou quem era, nem
de onde vinha. Disse apenas: Quer brincar? Queria. O sol renasceu nele. Há tanto
tempo precisava desse novo amigo.
Material necessário
Cópias do texto E vem o sol, de João Anzanello Carrascoza, e contos de diferentes autores e
épocas (veja sugestões em Quer saber mais?)
Objetivos
Conhecer a origem do conto; ler e compreender o texto E vem o sol; analisar os elementos que
caracterizam o gênero; e produzir um conto.
131
A partir do século 19, o conto conquistou seu lugar definitivo. O Brasil revelou
grandes nomes nessa área, como Machado de Assis (1839-1908). Outros
importantes escritores como Monteiro Lobato (1882-1904), Mário de Andrade
(1893-1945), Guimarães Rosa (1908-1967) e Clarice Lispector (1920-1977)
também são contistas de destaque. Ainda hoje, os brasileiros continuam a tradição
com Lygia Fagundes Telles, Dalton Trevisan e Ignácio de Loyola Brandão. Na
literatura estrangeira, merecem registro o americano Edgar Allan Poe (1809-
1849),o belga-argentino Julio Cortázar (1914-1984), o colombiano Gabriel García
Márquez, o russo Anton Tchecov (1860-1907) e a inglesa Virginia Woolf (1882-
1941).
A leitura de E vem o sol, do escritor paulista João Anzanello Carrascoza, vai ajudar
seus alunos a se familiarizar com o gênero. O autor, que além de escritor é
publicitário e professor, conseguiu nesse texto representar bem as características
do conto. Você vai poder mostrar às turmas de 7ª e 8ª séries quais são elas com
esse plano de aula preparado pela professora Heloisa Cerri Ramos, consultora de
Língua Portuguesa, em São Paulo.
Leia o texto E vem o sol em voz alta e apresente o autor aos estudantes. Depois,
peça a eles para comparar a discussão inicial com a situação vivida pelo
personagem principal.
Depois que a turma já tiver conhecido o estilo literário, proponha que o conto seja
transformado em história em quadrinhos. Com essa atividade, os jovens vão
perceber a seqüência de eventos e a relação de causa e conseqüência entre eles,
além de detectar elementos característicos de qualquer narrativa.
É nesse momento da vida de Arthur que a aura mágica se quebra e ele passa a
viver sujeito a erros e desilusões. Ignorando o conselho de Merlim, Arthur casa-se
com Guinevere que logo depois o trai com seu melhor amigo. A dor dilacera o
coração de Arthur. No auge do sofrimento, o rei é vítima de um feitiço e concebe
um filho com a meia-irmã, Morgana, hábil nas artes da bruxaria. Mordred, o
príncipe maldito, é treinado para destruir o próprio pai. Quando Arthur cai, em
campo de batalha, Merlim o abraça e chora, e o rei lhe pede: "Conte ao mundo
minha história, Merlim!"
O Mago aceita a missão, sabendo que a vida de Arthur continha um toque divino. E
que, além do sofrimento, restaria sempre seu sonho: a busca de um mundo de
justiça, honra e fraternidade.
Material necessário
Cópias do texto Arthur, o rei em busca de um mundo ideal, de Heloisa Prieto, e lendas brasileiras
(indicações no quadro Quer saber mais?)
Objetivos
134
Conhecer a origem da lenda; compreender o texto Arthur, o rei em busca de um mundo ideal;
identificar as características do gênero; refletir sobre valores como justiça, honra e fraternidade;
e desenvolver a escrita desse tipo de narrativa.
Nas lendas, os fatos seguem uma seqüência lógica no tempo e no espaço assim
como os textos narrativos. Porém, entre os personagens sempre há um que se
destaca por seus poderes sobrenaturais ou por ser autor de atos heróicos, como no
caso de Arthur. Outro atributo relevante desse gênero é a relação direta com o
momento histórico de determinada região e com o povo que a cria. O final é
sempre emblemático, com desfecho maravilhoso ou extraordinário.
O plano de aula a seguir, elaborado para turmas de 3ª e 4ª séries, vai ajudar seus
alunos a perceber as características do gênero. As autoras são as professoras
Claudia Vanessa Sartori Telles de Souza Quaiotti e Viviane Furlan Frasson, do
Colégio Sidarta, em São Paulo.
Leia com a turma apenas o título de Arthur, o rei em busca de um mundo ideal e
discuta a intenção da autora. Geralmente, o nome da obra traz pistas sobre o teor
da história. Pergunte se alguém conhece o personagem e seus feitos e anote no
quadro-negro as observações. Em seguida, leia o texto em voz alta para a classe e
confronte-o com as idéias levantadas no primeiro momento. Conte às crianças que
essa é uma adaptação de lendas que surgiram na Idade Média, na Grã-Bretanha,
sobre o rei Arthur.
Como proposta final, sugira a produção de uma lenda em duplas. Os alunos podem
usar como base algum acontecimento social ou político ou fenômeno natural
recente, como furacão ou terremoto, e colocar em prática as características do
gênero. Uma opção é envolver as crianças de 1ª e 2ª séries, convidando-as para
um sarau, no qual ouvirão as produções de seus alunos. Outra sugestão é explorar
a riqueza das lendas brasileiras. Leve algumas para a sala de aula para que os
estudantes leiam e se sensibilizem com nossos personagens e suas ações
mirabolantes. Depois, peça que eles pesquisem com seus familiares e tragam
outras lendas para expor oralmente aos colegas.
A abelha chocolateira
Era uma vez uma abelha que não sabia fazer mel.
Na colméia havia umas 50 mil abelhas e Anita era a única com esse problema. Ela se esforçava
muito, muito mesmo. Mas nada de mel...
136
Todos os dias, bem cedinho, saía atrás das flores de laranjeira, que ficavam nas árvores
espalhadas pelo pomar. Com sua língua comprida, ela lambia as flores e levava seu néctar na
boca. O corpinho miúdo ficava cheio de pólen, que ela carregava e largava, de flor em flor, de
árvore em árvore.
Anita fazia tudo direitinho. Chegava à colméia carregada de néctar para produzir o mais gostoso
e esperado mel e nada! Mas um dia ela chegou em casa e de sua língua saiu algo muito escuro.
Todo mundo sabe que os zangões se zangam à toa, mas aquela história estava ficando feia
demais. Em vez de mel, Anita estava produzindo algo doce, mas muito estranho.
Todas as abelhas começaram a zumbir e a zombar da pobre Anita. A única que ficou ao lado
dela foi Beatriz, uma abelha mais velha e sábia.
Um belo dia, um menino viu aquele mel escuro e grosso sobre as plantas próximas da colméia,
que Anita tinha rejeitado de vergonha. Passou o dedo, experimentou e, surpreso, disse:
- Chocolate? Alguém disse chocolate? - indagou a rainha, que sabia que o chocolate vinha de
uma fruta, o cacau, e não de uma abelha.
Era mesmo um tipo de chocolate diferente, original, animal, feito pela abelha Anita, ora essa,
por que não...
Nesse momento, Anita, que ouvia tudo, esboçou um tímido sorriso. Beatriz, que também estava
ali, deu-lhe uma piscadela, indicando que tinha tido uma idéia brilhante.
No dia seguinte, lá se foram Anita e Beatriz iniciar uma parceria incrível: fundaram uma fábrica
de pão de mel, juntando o talento das duas para produzir uma deliciosa combinação de mel com
chocolate.
Moral da história: as diferenças e riquezas pessoais, que existem em cada um de nós, são
singulares e devem ser respeitadas.
Material necessário
Objetivos
137
Reconhecer a fábula como gênero da língua portuguesa; identificar os elementos desse tipo de
texto; e refletir sobre a moral e a ética no convívio social.
Com diálogos curtos e texto econômico, a fábula é uma história de ficção, escrita
em verso ou em prosa. Uma de suas principais características é ter como
personagens animais e plantas e objetos animados, que ganham características
humanas. Essa forma alegórica de contar uma história apresenta as virtudes e os
defeitos do mundo dos homens e leva a interpretações sociais para ilustrar um
ensinamento ou uma regra de conduta. É por isso que toda fábula tem, no
desfecho, uma moral.
Essa narrativa de natureza simbólica tem origem remota e incerta, pois se mescla à
necessidade do homem de criar e de contar histórias para transcender as atividades
cotidianas e recriar o mundo. Algumas fontes indicam que a fábula começou a ser
contada na Suméria, no século 8 a.C. Mas foi na Grécia Antiga, em meados do
século 5 a.C., pelas mãos do escravo Esopo, que ela ganhou a fórmula atual:
sintética, alegórica, tendo animais demonstrando sentimentos e uma pitada de
humor. Esopo sempre terminava as fábulas explicando a moral e, assim, ensinava
valores. Graças ao francês Jean de la Fontaine (1621-1692), a fábula introduziu-se
definitivamente na literatura ocidental, dessa vez de forma menos sintética e mais
contextualizada. Ontem e hoje, com nuanças e autorias diferentes, as histórias se
repetem.
Esses textos podem ser dramatizados. Divida a turma em quatro grupos e entregue
a cada um uma fábula diferente. Após a leitura, cada grupo vai bolar um roteiro e
definir quem será cada personagem. Como lição de casa, peça para treinarem suas
falas - um aluno deve ser o narrador. Reserve uma aula para um ensaio geral outra
para a apresentação dos grupos.
A idéia é ver se o aluno se identifica com a moral da história. Lembre que a moral
deve ser trabalhada como conseqüência da situação que a fábula apresenta e
nunca isoladamente. Por fim, sugira que as crianças produzam uma narrativa em
que apareçam personagens com características bem distintas. O objetivo é
incentivá-las a trabalhar com as diferenças e as riquezas que existem em cada
pessoa, a base da moral da fábula de Katia Canton.
Aconteceu na caatinga
majestoso Mandacaru, que apontava para o céu seus espinhos, os grandes braços
abertos em cruz.
O Calango então se reuniu com os outros bichos e plantas para encontrar uma
solução. E foi a velha Cobra quem matou a charada:
- Quem está causando a seca são essas plantinhas importadas e metidas a besta!
Eu me arrastei por debaixo da terra e vi o que elas fazem: bebem toda a nossa
água e não deixam nada para a gente.
- Oxente! - gritou o Calango. - Então vou contar isso aos homens e pedir uma
solução.
- Os homens não me deram atenção - disse. - Falaram que eu não tenho instrução,
não fiz universidade e que eu estou atrapalhando o progresso da caatinga.
E todos os bichos e plantas ficaram tristes, mas estavam com tanta sede que nem
sequer puderam chorar: não havia água para fabricar as lágrimas. Por muitos dias
ficaram assim, e quando estavam à beira da morte houve um movimento: era o
Preá, que levantou o narizinho, farejou o ar e, esquecendo a timidez, gritou:
- Eu vou ver o que foi - e o Calango saiu veloz, espalhando poeira para todos os
lados.
- Estou recebendo água de novo! Hum... É muito bom! Mas vejam! O Calango está
de volta com novidades!
E todos ficaram alegres, sentindo a água subir pelas raízes. Olharam para o céu
azul da caatinga, aquele céu claro, o sol brilhante, olharam uns para os outros e
viram que eram irmãos, na mesma Natureza, no mesmo Tempo, na mesma Terra.
Objetivos
Apreciar o texto literário; aprender a tomar notas e a pesquisar; localizar nos mapas do Brasil diferentes
tipos de vegetação e relacionar informações sobre flora e clima da caatinga; compreender os impactos
provocados pela algaroba na região; refletir sobre o desequilíbrio ecológico causado pela ação do
homem na natureza.
Material necessário
Cópias do texto Aconteceu na caatinga, de Clotilde Tavares;
mapas físicos do Brasil;
livros e textos sobre meio ambiente;
imagens sobre a vegetação do país;
141
Caatinga, em Pernambuco: fotos da região que sofre com a seca são referência para desenhos dos
alunos
Você pode ler a história para a turma e depois distribuir cópias do conto. Com ele
em mãos, os alunos vão acompanhar a segunda leitura compartilhada. Para iniciar
a discussão, Neurilene sugere citar o desabafo do Calango: "Os homens não me
deram atenção (...). Falaram que eu não tenho instrução, não fiz universidade e
que eu estou atrapalhando o progresso da caatinga". Os alunos concordam com a
atitude dos homens? Debata com eles os diferentes saberes que existem na
sociedade.
Outra questão vale ser discutida. Pergunte à classe quais sentidos podem ser
construídos com base nesta fala da Cobra: "É como dizia a minha avó: cada
macaco no seu galho!" Qual a relação entre esse ditado popular e a história de
Clotilde Tavares? Incentive os alunos a dar opiniões e explicar coletivamente o
conflito apresentado no enredo.
Com base nesses registros, proponha aos alunos produzir um desenho que
apresente as características da caatinga. A idéia é atualizá-lo conforme avançarem
as pesquisas. No final do trabalho, ele servirá para apoiar o seminário.
Vá com os alunos à biblioteca e peça que indiquem fontes que desejam usar para
obter outras informações sobre a caatinga e os desequilíbrios ecológicos. Mapas,
enciclopédias, revistas, jornais, sites e livros didáticos são alternativas. Analise os
materiais e distribua-os entre os grupos para que todos possam oferecer
contribuições próprias na hora de socializar as descobertas.
Cada equipe amplia a pesquisa em casa e, com base nas anotações, elabora um
texto. Reserve uma aula para supervisionar o trabalho final, que deve incluir, além
do texto escrito, mapas, fotos e as ilustrações preparadas pelos próprios
estudantes. Ajude a garotada a montar a apresentação oral. Após o seminário, faça
uma aula expositiva para sistematizar o resultado dos estudos dos alunos,
aprofundando o conceito de equilíbrio ecológico.
No começo, isso não era um grande problema. Maria Angélica não se importava
quando Tadeu comemorava as vitórias do time dele e Tadeu até dava parabéns
144
para Maria Angélica quando o clube dela vencia. Mas talvez isso só acontecesse
porque os dois times eram muito ruins, e as vitórias, muito raras.
Tadeu comprou um uniforme azul e amarelo para ir ao estádio. Maria Angélica foi
com uma enorme bandeira verde e branca.
Os dois sentaram lado a lado durante a partida. Para evitar brigas, tentavam não
vibrar demais quando seus times acertavam um lance, nem zombar do outro
quando a equipe adversária cometia algum erro.
O zero a zero vinha mantendo a paz do casal, porém, no último lance do jogo,
quando o time de Tadeu marcou o gol da vitória, ele não se conteve e gritou:
"Gooooooooool!".
Mas ele não parou por aí. Começou a dançar em volta de Maria Angélica enquanto
cantava "Ê, ô, ê, ô, o meu time é um terror, ê, ô, ê, ô, o seu time é perdedor".
- Tudo bem, Maria Angélica, se você quer que eu pendure as chuteiras, é assim que
vai ser. Mas isso me deixa muito triste, porque a gente fazia uma tabelinha e tanto.
145
Eu acho que você bate um bolão e sempre que eu chegava em casa corria para o
abraço. Sabe, eu vestia a camisa do nosso casamento... eu jogava por amor...
Tadeu olhou fundo nos olhos de Maria Angélica e, com voz emocionada, cantou:
- Tadeu, foi a coisa mais linda que alguém já me disse. Então os dois beijaram-se,
fizeram as pazes e viveram felizes para sempre.
____________________________
Conto de José Roberto Torero
O tema futebol não sai da boca da meninada. Boa oportunidade para apresentar às turmas
de 1ª a 4ª série um texto bem-humorado sobre o amor pelo esporte nacional
Esporte inglês
O substantivo time originou-se de team, que quer dizer grupo de pessoas associadas em uma
atividade.
Para todos entrarem no clima da história Tadeu x Maria Angélica, fale sobre o autor
e o ilustrador (leia o quadro à direita). Você vai aproximá-los da garotada se relatar
um acontecimento interessante da vida de cada um ou se citar outros trabalhos que
tenham feito e que já sejam conhecidos pelo grupo.
Revele por que você escolheu esse conto para ser lido em classe. A leitura sempre
tem um propósito - para distrair, para buscar uma informação, porque um amigo
indicou. Ofereça uma boa prévia da história. Essa antecipação deve suscitar nas
crianças o desejo de ler e ajudá-las a entrar no contexto. Mas cuidado para não
contar tudo! Antes de começar a leitura, ouça o que os alunos têm a dizer sobre as
informações que você passou e valorize as diferentes idéias.
Na hora da leitura, capriche na entonação, enfatize frases e vibre com elas. Quando
Tadeu grita "Goooooooool!", é gol com dez letras "o" mesmo. Se alguma palavra
dificultar a compreensão, não se preocupe: as crianças perguntam. Deixe seus
comentários para o final. Destaque que a narrativa tem um humor construído com
expressões lingüísticas típicas do futebol. Cite como o autor trata do final do
romance proposto por Maria Angélica: "Tadeu, você passou dos limites. Cartão
vermelho!" Ou mesmo como o marido propõe uma continuidade para a relação do
casal: "Quem sabe uma prorrogação?" Explique que a graça está em usar
metáforas futebolísticas para falar de amor. Não se acanhe de ler Tadeu x Maria
Angélica várias vezes. Um mesmo texto pode sempre revelar um aspecto inédito a
cada nova leitura.
Quem é quem
Amantes do futebol
José Roberto Torero nasceu em Santos e torce pelo Santos. Quando tinha 12 anos, fez teste
para jogar num time de várzea chamado Universo. Rejeitado pelo clube, desistiu de ser jogador de
futebol. "Como não consegui fazer um gol de letra, decidi estudar Letras", ele conta. Cursou
também as faculdades de Jornalismo e de Cinema. Escreve uma coluna sobre futebol no jornal
Folha de S. Paulo desde 1998 e já publicou 13 livros, entre eles O Chalaça (prêmio Jabuti em
1995), Pequenos Amores, Uma História de Futebol e Futebol É Bom pra Cachorro. Torero é
também autor de roteiros para televisao e cinema. Ganhou alguns troféus pela direção de curtas-
metragens e acaba de ter a felicidade de ver seu time vencer o campeonato paulista deste ano.
Gustavo Duarte é são paulino desde que nasceu mas, aos 8 anos, quando foi para Bauru (SP),
aprendeu a torcer para o Noroeste. Em 2000, deixou para trás a família e o Alfredão (o estádio
Alfredo de Castilho) para fazer design gráfico nas revistas Casa Claudia e Veja, da Editora Abril,
em São Paulo. Atualmente, faz charges para o jornal Lance!, em que também ilustra as colunas de
Armando Nogueira e Paulo César Vasconcelos. Em 2005, publicou, junto com Mario Alberto, o livro
Charges do Lance!.
CONSULTORIA
Denise Nalini, coordenadora pedagógica da Parangolé Assessoria de Cultura, Arte e Educação, em Recife
147
A Gata Apaixonada
Quando perguntam como é que eu consegui sair com a Carla, eu respondo que foi
por causa do Aldemir Martins. O pintor famoso.
Sorvete?
De outro gato?
Do Aldemir Martins.
Morava. Morreu há pouco tempo. Minha mãe era apaixonada pela pintura dele. Ele
ilustrava livros, revistas, jornais... Pintava cangaceiros, galos, passarinhos,
peixes...
A gente comia em pratos desenhados por ele, tinha lençóis, tapetes, cortina de
banheiro...
Carla me levou pra um canto da sala. Em cima de uma imitação de lareira, havia
uma tela do Aldemir Martins, pequena, com o desenho de um gato. Um gato gordo,
vermelho e azul, um focinho enorme, mostrando as garras, sedutor, os olhos
verdes calmos, hipnóticos.
Então ela me puxou pra trás de uma cortina pesada, que cobria a vidraça que dava
pro jardim.
149
Tati entrou na sala. Pulou pro beiral da falsa lareira e parou em frente ao quadro,
olhando pro gato pintado. Ficamos assim uns 20 minutos, escondidos, calados. Até
que ele apareceu. O velho Sorvete.
O gato mais descolado do pedaço. Veio gingando, passou entre os móveis, parou
na frente da lareira, olhou pro alto, e não gostou nada do que viu.
Briga de gato é mais rápido que videogame. Tati pulou, atravessou uma janela
aberta e fugiu pro jardim, com o Sorvete atrás.
Minha mãe dizia que um artista é capaz de recriar a vida. Se Deus existe, com
certeza é um artista. Mas acho que você vai ter de trancar o Sorvete em casa,
Rodrigo.
Não, Carla. A gente encontra outro jeito. Pra mim as pessoas, os bichos, qualquer
coisa que se mexa... têm de ter liberdade. Têm de ter uma janela aberta.
Isso. É assim que eu gosto dele. Eu também sou meio selvagem. Sabe o que eu
faço?
Eu como o tomate inteiro. Eu não fico esperando a minha mãe partir e colocar na
salada!
Ela riu. Não sei de onde eu tirei essa história do tomate. Aí me empolguei, e ia dar
mais exemplos de como eu era selvagem, mas a cortina abriu de repente e o pai
dela apareceu.
O cara ficou nervoso, quase chamou a polícia, mas depois a gente explicou, ele se
arrependeu e acabou até deixando a filha sair comigo.
Gatos são uma das marcas do pintor, que nasceu em Ingazeiras (CE) em 1922 e
morreu no início deste ano. Mas ele se tornou famoso no Brasil e no exterior
também por trabalhos mostrando galos, mulheres, flores, frutas e o Nordeste. De
uma viagem na carroceria de um caminhão, ao lado de retirantes, surgiu sua
primeira série de desenhos, com "paus-de-arara", rendeiras e cangaceiros.
Aldemir gostava de ver sua arte acessível ao grande público. Para ele, o artista
tinha como meta aproximar as pessoas da arte. Seus desenhos estampam diversos
produtos — o que é citado no conto durante conversa entre os personagens Carla e
Rodrigo.
Distribua cópias de A Gata Apaixonada para todos e peça que iniciem a leitura
individual. Isso permite estabelecer uma relação particular com o texto e construir
a própria história com a leitura. Depois, em pequenos grupos, os estudantes podem
comentar sobre o que mais lhes chamou atenção. Além de prazeroso, compartilhar
impressões implica relacionar o que foi lido com as experiências pessoais.
O pobre cocozinho...
Era uma vez um cocô. Um cocozinho feio e fedidinho, jogado no pasto de uma
fazenda. Coitado do cocô! Desde que veio ao mundo, ele vinha tentando conversar
com alguém, fazer amigos, mas quem passava por ali não queria saber dele:
151
De vez em quando ele via uma criança e torcia para que ela chegasse
perto dele, mas era sempre a mesma coisa:
- Olha a porcaria! - repetiam todos.
Não restava nada para o cocô fazer, a não ser cantar baixinho:
Obs: Montar plano de aula de acordo com situações surgidas em sala de aula
Os mais velhos diziam que lá sempre foi assim e que, se é assim, assim será até o
fim; sentiam-se cansados de imaginar como seria viver num lugar claro e diferente.
Os mais jovens sonhavam e diziam que conhecer o Sol era o maior desejo que
tinham no mundo, no universo.
Um desejo infinito.
Por que ninguém pensava em se mudar dali? Porque lá havia o mais lindo luar e o
mais delicioso banho de mar e um povo com um sonho em comum. Às vezes,
coisas assim são suficientes para nos fazer ficar.
Num dia noite, chegou um, chegaram dois e mais três ou cinco equilibristas. Era
uma família de artistas! Enquanto uns tocavam, os outros faziam lances incríveis,
coisa de especialista!
Há muito tempo o vilarejo não recebia visita tão animada. Os equilibristas estavam
acostumados a se apresentar até o Sol raiar e estranharam: já se sentiam
cansados e nada de o dia clarear.
E foi assim que souberam que em Santantônio da Lamparina o dia era tão escuro
como a noite e que já estavam acordados fazia dois dias e meio.
- Daí o nome.
- Diz meu avô que o avô dele dizia que o seu tataravô ensinou que é assim porque
sempre foi assim e assim será até o fim!
Voltaram.
Com a ponta do dedo fez um picote. Um pequeno rasgo no céu, por onde passou
um facho de luz.
Devagar o rasgo foi aumentando, sozinho; como furo de meia velha, que vai
crescendo até virar um rombo...
Até hoje, não se cansam de ver o Sol nascer e depois o Sol se pôr e de novo o Sol
nascer e mais uma vez o Sol se pôr. Acham graça, agradecidos.
Silvinha Meirelles
Obs.: Montar plano de aula de acordo com situações surgidas em sala de aula
Na casa do cozinheiro
154
Panelinha
Panelão
Panelinha
Panelão
Panelinha pim pim
Panelão pão pão pão
Vivo entre panelas
Pim piririm pampam
Frigideiras e tigelas
Pão pão pim
Quem sou?
Quem sou?
O cozinheiro, acertou!
Minha casa é muito musical
Panelinha agudinha
Pim pim pim piririm pim pim
Panelão gravão
Pão pão pão pararão pão pão
Minha filha maior
Toca o instrumento maior
Enquanto o feijão cozinha
Hélio Ziskind
Obs.: Montar plano de aula de acordo com situações surgidas em sala de aula
( A letra musicada está no site novaescola, ed. Dezembro 2006)
poluicaodasaguas@com.br
155
(16:14:00) Alex grita com TODOS: S.O.S! Tenho que escrever sobre
poluicão das águas e estou sem idéia nenhuma!!!!!!!!!
(16:14:21) Alex fala para JANUÁRI@: Seria, mas não encontro o raio do cê-
cedilha neste teclado!
(16:16:51) JANUÁRI@ se entusiasma com Edu e Zé: Sabia que vcs não são
tão ruins assim?
(16:16:58) Alex grita com TODOS: Tive uma idéia genial. VALEU! Vou
correndo escrever, senão esqueco! D+! FUI!!!!!!!
(16:18:21) LU ri para [=^.^=]: Ai, meu herói… sabia que “ciliar” vem de
cílio? Sem cílio, o olho seca.
156
(16:18:54) [=^.^=] no reservado com LU: Sem mata, o rio seca. Sabia que
meu email é indiog@to.br?
(16:19:31) [=^.^=] no reservado com LU: Vai me escrever? DIZ QUE SIM!
…
Objetivos
Estimular a reflexão individual e coletiva sobre problemas ambientais. O fato de os
personagens do conto de Roger Mello estarem em diferentes pontos de um mesmo rio e o
perceberem de maneiras diversas ajuda a chamar a atenção dos alunos para os problemas de
onde vivem. O plano de aula mostra como a água está inter-relacionada a todas as formas de
vida na Terra e às atividades cotidianas e destaca a importância do uso sustentável dos
recursos hídricos e os danos causados à saúde por sua má qualidade.
Primeiro dia
Para introduzir o tema pergunte: Que "cara" a água tem para você?
Divida a classe em grupos e solicite que cada um relate o valor que a água tem
para os integrantes. Essa importância pode estar relacionada ao lugar onde ela é
encontrada (mar, rio, torneira), à cultura (pintura, música, lenda, dança, tradição
ou ritual religioso) ou a necessidade e o bem-estar (banho, natação, bebida). As
idéias devem ser sintetizadas em frases, desenhos e outras representações.
Segundo dia
158
Solicite aos grupos uma pesquisa sobre doenças relacionadas à falta de acesso à
água potável e ao esgoto tratado, à disposição inadequada do lixo e à presença de
transmissores de doenças, como mosquitos e ratos.
Terceiro dia
Com base em tudo o que foi aprendido até aqui, a turma deve propor algumas
soluções para os problemas encontrados — campanhas, mutirões de limpeza e
outras ações que envolvam a comunidade.
Material necessário
Canetas azuis e vermelhas
Blocos de anotações
Artigos de revistas, jornais e internet
Máquina fotográfica
A autora
Este roteiro pedagógico, para classes de 5a a 7a séries, foi elaborado por Andrée de
Ridder Vieira, presidente da Associação Super Eco e consultora em gestão e
educação ambiental da S.O.S. Mata Atlântica, da WWF do Brasil e da Conservation
International do Brasil.
159
Perdidos na excursão
Marquito desabou na poltrona. Completamente moído. Exausto! Agarrou o telefone, ligou pro
Tiagão. Dos dois lados do fio, só queixas e reclamações. E altos xingos.
Bocas raivosas, por nada ter dado certo. Só confusão durante a excursão inteira.
160
Tiagão ouvia rindo. Logo enfezou. Lembrou da primeira desviada. Um caminho lindo que deu
numa cachoeira despencante. Puladas, procuras, nadadas, volta estropiada pra estrada
arrebentada... Depois, só mancadas...
A chuva desviante da trilha. A paralisada hesitante se era pra virar à direita ou à esquerda.
Marquito parou de sorrir. Partiu pros desabafos gritados. A armação das tendas no escuro e a
descoberta rápida de o lindo lugar estar cercado de cobras... Berros desesperados!
O dar de cara com uma margem do rio sem nenhuma ponte para cruzar... O medaço de se
afogar atravessando a pé.
Tiagão espirrou. Gripou bravo. Desligou avisando que foi a primeira e última excursão
ecológica. Pra ele, fim de papo. Marquito resmungou enfezado. Jurou jurado. Outra, só
sabendo antes por onde ia pisar. Chegava de perder tempo, perder a paciência, perder o
ânimo.
Para que seus alunos não se percam como a dupla, ensine a importância dos mapas
e como interpretá-los. Basta ler a história para perceber isso.
Material necessário
Papel vegetal
Lápis de cor
A carta geográfica permite ver áreas de uma perspectiva não habitual, de cima
para baixo. Assim, fica mais fácil entender posições, dimensões e distâncias
absolutas e relativas entre os elementos naturais e aqueles construídos pelo
homem.
Objetivos
Descobrir a importância de ler e interpretar mapas com base em elementos gráficos, legendas
e posições relativas (proximidade e distância com relação a algum ponto), bem como construir
cartas geográficas tanto de forma gráfica como verbal. Levantar discussões sobre a
importância de preservar o meio ambiente.
Primeiro dia
Depois de lido o conto, pergunte à classe o que faltou à turma de Marquito e Tiagão
para ter um passeio mais agradável. Em seguida apresente o mapa. Para que o
aluno se familiarize com a linguagem cartográfica, mencione que ele foi criado
seguindo regras do mapeamento convencional.
Peça que todos selecionem, de revistas, jornais e outros materiais, figuras que
mostrem a mata Atlântica, uma cachoeira, um portão, uma ponte e os outros
elementos da área destacada. Isso ajuda a criar uma referência de como é, na
realidade, o que aparece no mapa. (É o que se chama de referência imagética.)
A escala gráfica funciona como uma régua para fazer medições sem precisar de
cálculos.
Chame a atenção para a palavra "Norte", escrita no canto direito do mapa. É ela
que dá a orientação. Por convenção internacional, quando não aparece a seta o
Norte está na parte superior. Essa indicação é importante para posicionar-se com o
uso da bússola.
Segundo dia
Terceiro dia
Peça que a turma relate os trajetos criados para os personagens num texto
pautado nos elementos da paisagem e nas referências de orientação e mensuração.
"Saindo do Centro de Convivência do parque, caminharam pela trilha principal na
direção Norte por aproximadamente 600 metros, encontrando a cachoeira", e assim
por diante.
O dicionário de formas
Era uma vez eu, Zé Sorveteiro, que me apaixonei por uma princesa que acabara de
chegar do outro lado da Terra. Bolei para ela um dicionário de quatro palavras:
bola, quadrado, retângulo, triângulo. Japonês se escreve com desenhos. Com
desenhos a princesa aprenderia português!
164
Não demorou, ela estava arrasando. Ia até meu carrinho e pedia, desenhando no
ar:
– Triângulo-bola.
Mas toda princesa tem uma fera para encontrar bilhetes. Uma hora a fera mandou
me chamar. Aí…
– Um traço com um pingo é chuva. Três – !!! – muita chuva. Casa, chuva, chuva,
chuva. Estou só avisando… Cuidado com goteiras.
Hoje, 60 anos depois, repito, valeu a pena. E lá vou eu apanhar uns triângulos
vermelhos para a minha rainha arrumar no triângulo do retângulo do quadrado da
frente. Perfeito. Daqui a pouco a jarra da mesa da sala estará toda perfumada com
os… Como é mesmo? Vá lá! Com os triângulos vermelhos.
6 a 8 anos
Objetivos
Reconhecer, nomear, comparar, descrever e desenhar formas geométricas
planas e não planas, resolver problemas e compreender o que é um 165
dicionário e qual sua utilidade.
Material necessário
Papel sulfite
Lápis de cor
Giz de cera
Papel espelho recortado em quadrados, círculos, triângulos e retângulos
Sólidos geométricos (cones e esferas)
Jornais e revistas
Bulas de remédios
Dicionários
Enciclopédias
Livro infantil
Primeira etapa
Segunda etapa
166
Liste com a garotada o nome das formas que Zé Sorveteiro pôs no dicionário e
leve todos para procurar pela escola objetos onde elas apareçam. Ao encontrar algo
que contenha uma ou mais formas do dicionário, os estudantes devem parar e
desenhá-lo numa folha branca, com giz de cera ou lápis de cor. De volta à sala,
todos explicam seus desenhos aos colegas.
Discuta as diferentes soluções, o que mais bem traduz o pedido da princesa (cone
e esfera) e por que ela mostrou o triângulo e a bola. Explique que, no dicionário de
Zé Sorveteiro, não havia um repertório maior de formas e as figuras utilizadas
eram as mais parecidas com um cone e uma esfera.
Terceira etapa
Destaque o trecho: "E lá vou eu apanhar uns triângulos vermelhos para minha
rainha arrumar no triângulo do retângulo do quadrado da frente". Questione: de
que parte da casa e de que objetos Zé Sorveteiro está falando? A turma deve
ilustrar o que imagina ser a resposta.
Forme duplas e sugira que elaborem algumas adivinhações com base nas figuras
estudadas, como fez o personagem da história. Depois troque os trabalhos para
que a garotada descubra o segredo dos colegas.
O espelho e a perua
167
Primeira etapa
Leve um espelho grande para a sala de aula. Proponha que o grupo "leia" a
própria imagem. Para que a dinâmica fique mais rica, deixe à disposição dos
estudantes um baú com roupas e acessórios que vão ajudá-los a se enfeitar. É
essencial que todos participem dessa etapa.
Segunda etapa
Terceira etapa
Leve para a sala de aula vários tipos de superfície espelhada. Peça a cada um que
se observe nos objetos. Questione: qual deles permitiu se ver com mais nitidez?
Por que a imagem refletida muda de forma? Provavelmente eles vão perceber que
os objetos planos deformam menos as feições. O objetivo é levar a turma a
compreender que quanto mais curvo e irregular for o espelho maior é a distorção
da imagem refletida.
Primeiro amor
170
É que nem saudade. Mesmo que a pessoa nunca tenha sentido, quando sente já
sabe logo que aquilo é saudade, ou melhor, que saudade é aquilo: aquele vazio que
queria ser cheio. É que nem azia. A sensação puxa a palavra exata na hora, e a
pessoa diz "Que azia!", ainda que seja a primeira vez que tem uma.
Primeiro amor é que nem festa surpresa. Quando acontece não avisa, mas é tão
óbvio que dali pra frente não dá mais para viver sem pensar nele. Apesar de
Tatiana só ter 14 anos, quando viu Felipe pela primeira vez, com sua roupa de
goleiro, teve certeza: "Amei". E amou mesmo. Pulava. Sofria. Gargalhava de amor
quando ele chegava à escola ou jogava nos treinos. Quando ele defendia uma bola,
queria ser bola. Tatiana estava mesmo apaixonada.
O amor já estava transbordando quando ela foi contar a novidade pra Chiquinha
Mota Pereira, sua amiga imaginária desde que elas eram pequenas. As duas
cresceram juntas, Tatiana de verdade e Chiquinha de mentira, se é que se pode
chamar de "mentira" alguém que, apesar de imaginária, é amiga verdadeira.
Tatiana nem dormiu direito, ligada naquela urgência dos que amam pela primeira
vez na vida, esperando amanhecer e ir pra escola, olhar fundo nos olhos de Felipe,
pra conferir se havia algum sinal de amor vindo de lá, feito um espelho.
Finalmente deu 7 e meia e a campainha tocou. Ia começar a aula. Todos nos seus
lugares, restou um lugar vazio. "Cadê Felipe, meu Deus?" Foi na hora do recreio
que ela recebeu a notícia: "Felipe saiu da escola porque o pai dele foi transferido
pra uma outra cidade".
E agora? Não foi fácil aquela manhã segurar o choro pra mais tarde.
- Será que todo amor de verdade tem que ter um impedimento pra se tornar
impossível? - Tatiana soluçou baixinho. E Chiquinha respondeu (ou perguntou):
- Ou será que todo amor, pra se tornar possível, tem que provar que é de verdade?
Paisagem do brodósqui
171
Paisagem de Brodósqui,
a terra manjedoura,
roxeada, avermelhada,
matriz duradoura
do menino Candinho.
O papagaio de papel
no imenso azul do céu...
O descanso de um boizinho
num pacato povoado.
Um especial bauzinho
na areia depositado.
Um cavalo apressado
Por um homem montado.
Uma modesta igrejinha,
num vilarejo, abençoada
pelas mãos pintoras
do Candido menino,
Portinari consagrado,
estrela a brilhar
no cenário da pintura
universal, brasileira.
Aquilo
172
Uns tinham certeza de que aquilo não podia ser de jeito nenhum.
Outros também tinham certeza. Disseram: — Viva! Que bom! Até que enfim!
Muitos ficaram preocupados. Exigiram que aquilo fosse proibido. Garantiram que
aquilo era impossível. Que aquilo era errado. Que aquilo podia ser muito perigoso.
Alguns, inconformados, resolveram perseguir aquilo. Disseram que aquilo não valia
nada. Disseram que era preciso acabar logo com aquilo ou, pelo menos, pegar e
mandar aquilo para bem longe.
Muitos defenderam e elogiaram aquilo. Juraram que aquilo era bom. Que aquilo ia
ser melhor para todos. Que esperavam aquilo faz tempo.
Mas outro alguém disse não! E foi correndo esconder aquilo devagarinho no fundo
do coração.
Se sentir vontade, pegue um lápis e uma folha de papel e escreva sobre aquilo:
diga, em sua opinião e em seu sentimento, o que é aquilo, como é aquilo, o que
aquilo faz, de onde aquilo veio, para onde aquilo vai e que sentido, afinal, aquilo
tem. Se quiser, desenhe aquilo também.
Material necessário
Objetivos
O silêncio na ditadura
Preconceito na berlinda
O céu era duríssimo, mas o menino esperto atirou suas flechas adornadas com
plumas de mawir. Espanto e alívio! A cada flechada do garotinho, o céu subia um
bom pedaço. Foram três, até o céu ficar como é hoje.
Antes do céu subir para bem longe, os ikolens podiam deixar a Terra e ir morar no
alto. Iam sempre que ficavam aborrecidos com alguém, ou brigavam entre si, e
subiam por uma escada de cipó. Gorá, o criador da humanidade, cansou de ver
tanta gente indo embora e cortou o cipó, para a Terra não se esvaziar demais.
Objetivos
Antes, um aquecimento
Não apresente o texto logo de início. Comece uma conversa sobre o tema,
perguntando aos estudantes que tipo de mitos eles conhecem em nossa sociedade
ou em outras. E as lendas? Provavelmente eles se lembram do saci, da iara, da
mula-sem-cabeça... Mas o que seriam mitos, mitologias, lendas? Explique que a
história que conhecerão a seguir é um mito de um dos povos indígenas brasileiros,
os ikolens-gavião. Mencione a imensa quantidade de nações indígenas, cada qual
vivendo em uma região do país, com línguas e culturas distintas. Pergunte aos
alunos o que sabem sobre o modo de vida desses povos. Nas aldeias existe luz
elétrica, televisão? Será que, à noite, o céu visto nas cidades é parecido com o que
as crianças indígenas vêem? Ao conversar com a garotada sobre as diferenças
culturais, você desperta a percepção da alteridade, o reconhecimento da identidade
do outro.
Leitura e interpretação
Em outra aula, peça à turma para realizar em grupo uma atividade artística para
representar a narração. Uma boa sugestão é produzir uma história em quadrinhos.
As equipes podem ser fiéis ao contexto indígena ou fazer adaptações. Com a
produção concluída, organize uma exposição, destacando como o enredo se
transforma. Cada grupo dará importância para um aspecto.
177
Depois, reflita com a turma sobre como as histórias são transmitidas de geração
em geração nas culturas indígenas. Tradicionalmente, esses povos empregam
recursos da oralidade. Entretanto, muitos deles estão começando a fazer uso da
linguagem escrita. Que mudanças podem ocorrer a partir desse fato? Que
diferenças há entre os recursos da oralidade e da escrita?
Outras pesquisas
Quando eu era menina e sentia medo, no lugar de chorar, ficava com raiva.
— Lá no fundo da garagem.
Pronto. Nada como a curiosidade para espantar o medo. Na garagem, vovó o abriu
e retirou de dentro dele uma espécie de régua:
— Não, isso é uma palmatória. Quem errasse na escola levava uma batida na
palma da mão.
— Pra lembrar que a gente precisa ser mais forte do que as injustiças. Olhe... meu
dedal preferido. Foi com ele que eu costurei essa roupa — e ela me mostrou um
vestidinho com uma espécie de short por baixo.
— Sim, e era considerada atrevida. Mas foi assim que conquistei seu avô.
— Nadando de roupa?
— Eu vinha de uma família pobre. Seu avô, não. Ele lia, gostava de dançar.
— E de nadar também?
— Sim, e por isso fiz esse maiozinho. Corri até a praia de chapéu. Seu avô estava
tomando sol. Fingi que tinha perdido o chapéu no mar. Ele era um cavalheiro e veio
ajudar. O chapéu foi parar no fundo. Apostamos uma corrida para ver quem o
apanhava. Ele gostou da minha ousadia.
— E logo me casei. Guardei o dedal pra lembrar que a gente precisa tecer a
felicidade, e o maiô, porque um pouco de coragem não faz mal a ninguém. Olhe
essa caixinha de música. Seu avô me deu quando você nasceu. Não é linda?
179
Vovó mostrou para mim outros objetos e assim fui descobrindo que se não fosse o
mar, que eu temia, não haveria o encontro de meus avós e que viver é saber
perder o medo de tudo o que a gente nunca espera e nunca vai conseguir controlar.
Material necessário
Cartolinas
Cola
Gravador
Lápis coloridos
Tesouras
Máquina fotográfica
Objetos antigos e atuais
Objetivos
Comece a aula contando que o texto que você irá ler é sobre uma avó que abre um
baú secreto para a neta. Proponha uma atividade de previsão. Escreva o título da
história no quadro-negro e peça que as crianças desenhem em uma folha de papel
tudo o que, acreditam, haveria dentro do tal baú. Depois, cole na parede uma
cartolina com o desenho de uma grande arca e diga aos estudantes para colar ali os
seus desenhos, já recortados. Só então a história será lida. Em seguida, fixe na
parede um novo cartaz com o desenho do baú e dos objetos que foram realmente
encontrados: a palmatória, o dedal, o maiô e a caixinha de música. Será que todos
são conhecidos? Se possível, mostre diferentes fotos ou ilustrações.
Comente com a classe em que contexto cada uma das quatro peças foi ou tem sido
utilizada com o passar do tempo. Faça uma tabela contendo os aspectos que
permaneceram inalterados e que se modificaram. É preciso listar também o que
deve ser pesquisado. A palmatória, por exemplo, apesar de estar relacionada ao
ambiente em que os alunos estão, a sala de aula, hoje não tem mais função. A
181
O maiô rende uma boa discussão sobre o modo de vestir em diferentes lugares e
épocas e sobre valores morais. Como as mulheres vão à praia atualmente? O dedal
remete a um tempo em que não se compravam roupas prontas e em que muitas
mulheres sabiam costurar. As discussões sobre a caixinha de música podem ficar
interessantes se a turma puder comparar o tipo de melodia que agradava os
ouvidos das mocinhas de antigamente com o som apreciado hoje.
Monte com a turma um roteiro de perguntas divididas por temas. Por exemplo: a
escola, a moda, o comércio, a estrutura familiar, as brincadeiras... Depois é só
marcar o dia das visitas. Para enriquecer ainda mais o bate-papo, peça aos
velhinhos para levar relíquias que demonstrem como era a vida antigamente. Se os
alunos levarem objetos que fazem parte de seu cotidiano, surgirá um ótimo
exercício de comparação. Encerre o evento com um gostoso chá.
Se eu fosse um artista
surrealista
Eu também sonharia assim
Perguntaria teu nome
E no meio da fome
Pediria pra você ficar e pintar comigo
Eu iria me nutrir da tua mão de chocolate
E da tua pele de pêssego.
Juntos, iríamos passar tinta, comemorar
e colorir todos os sonhos do mundo.
Material necessário
Papel sulfite
Lápis de cor e de cera
Tintas coloridas
Aparelho de som
CDs
Objetos com diferentes texturas
Objetivos
Provocar o potencial imaginativo e criador; fazer a releitura do pensamento
poético de um artista e não de uma obra; promover a observação, o estudo e a
compreensão das obras de arte surrealistas; perceber as imagens que povoam
o pensamento humano; e experimentar técnicas artísticas.
O cartaz e o Poema pra Dalí, de Katia Canton, são as bases do plano de aula
elaborado pela arte-educadora Míriam Celeste Martins, da Universidade Estadual
Paulista e do Espaço Pedagógico, de São Paulo. Indicado para a 4ª série, ele é um
mote para levar os alunos ao contato com a produção de Dalí no ano em que é
comemorado o centenário de seu nascimento.
A sua imaginação
Imagine em como representar o objeto escolhido para expressar a sua idéia sobre
ele ou fazer com que se transforme em outra coisa — no pôster, a estranha forma
no lado direito é o próprio Dalí. Brincando com a imaginação, você levará os
estudantes a ir além do real e a superar as dificuldades de colocar as idéias "sem
pé nem cabeça" no papel.
Num primeiro momento, não mostre nenhum material à classe. Peça às crianças
para trazer de casa um objeto qualquer e proponha que o desenhem. Depois,
convide-as a fechar os olhos e coloque uma música de fundo. Diga, então, que uma
mágica pode transformar o objeto desenhado em qualquer outra coisa.
Sugira que brinquem com a imaginação, como fez Dalí na instalação da sala Mae
West (acima), no museu do artista, com base na obra de mesmo nome. Cortina,
piso, janelas e paredes formam o rosto da atriz americana dos anos 1930. Faça os
estudantes rirem de suas próprias idéias e em seguida, eles devem escolher uma
das invenções e desenhá-la.
Técnicas surrealistas
Só então leia a poesia com a turma. Questione quais elementos da obra do artista e
da própria garotada estão presentes no texto. Alerte para o fato de o poema
permitir diversas leituras e diga que a falta de um encadeamento lógico é
característica do surrealismo. Aponte como as atividades pareciam "Um sonho de
menino/Estranho/Versátil/Admirável" e peça que os estudantes encontrem no texto
menção à obra reproduzida no pôster. No final, eles mesmos poderiam se tornar os
objetos inventados e criar uma performance na escola. Cabe a você, professor,
imaginar e ousar!
185
Fora do normal
— Pode pegar aí dentro da minha mochila — disse ela e continuou seu papo com
Alice.
Num gesto brusco, com as faces ruborizadas, voltou a mão lá para as profundezas
da mochila. E atordoado pensou. "Minha nossa, o que isto está fazendo aqui, nas
coisas da Aninha?! A mais novinha da classe, a menorzinha, meiga, boazinha?!"
— Achou, Caio?
— O quê?! Ah, a borracha, Aninha? Achei. Quer dizer, não! Mas deixa pra lá. O
Pedro tem uma. E ele foi em direção ao melhor amigo. Que aliás, era apaixonado
por Aninha. "Por Aninha? Da camisinha?! O Pedro precisa saber disso!", decidiu
Caio. E baixinho para o companheiro segredou:
— Cara, uma bomba. A Aninha não é quem a gente pensa! E contou tudo a Pedro,
que revoltado contou pro Juca, que pasmado deixou escapar pro Plínio, que por
distração babou pra Nanda, que envergonhada avisou Aninha, que rindo contou à
Déia, que uma fera berrou pra classe inteira:
— Quer dizer, moçada, que menino pode andar munido de camisinha, que é chique,
bom pra prevenção. E nós, meninas, não?!
— Não vem com esse papo, Déia. Quem anda com camisinha na bolsa é porque tá
a fim de transar!, berrou Pedro lá do fundo.
— Ué, e menina não pode ter vontade de transar?! — contestou Alice, firme.
— Eu nem tenho vontade ainda — emendou rápido Nanda — mas isso não me
impede de carregar uma!
— Vai ver que é por isso que ninguém quer te namorar! — gritou Aninha.
Material necessário
Cópias do conto Fora do Normal para todos os alunos.
Objetivos
Refletir sobre as relações de gênero e prevenção das doenças
sexualmente transmissíveis, inclusive aids, entre adolescentes; discutir
comportamentos que expressam estereótipos e preconceitos; reconhecer
como construções culturais as características socialmente atribuídas ao
masculino e ao feminino; e conscientizar-se sobre a prática de sexo
seguro.
Prepare-se para uma viagem pela alma humana. Falar de sexo é tratar de mitos,
medos, inquietações, fantasias, curiosidades, preconceitos, crenças e dúvidas,
muitas dúvidas — que não pertencem apenas às crianças e aos jovens. Por vezes, a
discussão envolve as suas próprias dúvidas e preconceitos. E quem não os têm? Eis
o desafio da Orientação Sexual! O conflito não pode justificar a ausência do tema
transversal na escola. Por isso, aproveite o conto de Valéria Polizzi para levantar
questões sobre o corpo (erótico e reprodutivo), o ficar, o namoro, a masturbação,
as relações sexuais, os métodos anticoncepcionais, a gravidez na adolescência e a
diversidade sexual. O texto também abre caminho para discussões sobre relações
de gênero e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, as DSTs. O plano
de aula, sugerido pelo educador Antonio Carlos Egypto, do Grupo de Trabalho e
Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS), de São Paulo, está focado na
interpretação de texto para alunos de 8ª série. A proposta estimula o livre pensar
dos adolescentes e o choque de idéias, sem preocupação com conclusões. O
objetivo é que cada um reflita e encontre as suas próprias respostas.
Esta aula não deve ser um momento raro ou ocasional na escola. Uma conversa
sobre sexo deve acontecer com regularidade, constar no planejamento pedagógico
e se disseminar pelas disciplinas.
Camisinha é indispensável
187
Todos sabem que a camisinha é importante para a prevenção das DSTs nas
relações sexuais. Além disso, ela é um bom método para evitar uma gravidez sem
planejamento. Você concorda que tanto os homens quanto as mulheres têm desejo
sexual e que a relação sexual pode acontecer quando não se espera ou não se
planejou?
Não é verdade que mesmo os adeptos da abstinência sexual ou da virgindade
muitas vezes não conseguem realizar suas crenças na prática? Não seria muito pior
se a relação sexual acontecesse sem proteção?
Questione se o risco de uma gravidez não planejada e de pegar uma DST não
deveria ser capaz de superar preconceitos machistas. Se o homem tem que estar
prevenido, por que a mulher não? Por que ela é vista como "galinha" (ou a fim de
transar) e isso é motivo de crítica, fofoca ou término do namoro pelos meninos?
Não é isso mesmo que as meninas têm que fazer, assim como os meninos?
Atente para o fato de que muitas vezes os alunos respondem o que você espera
deles, o que não significa que eles concordem com o que disseram, ou mesmo que
levem o assunto a sério. Mas se forem estimulados a pensar livremente e a se
expressar, a situação pode mudar com a aquisição de novos sentidos para o tema.
Veja onde cada aluno se enquadraria nessa pesquisa e pergunte: não está mais do
que na hora de mudar certos valores?
188
— Filho, tome o dinheiro para o trem, mas guarde-o sempre nesta bolsinha. Só tire
da bolsinha as notas que precisar e nunca a deixe aberta!
O menino guardou bem aquelas palavras e foi se despedir da mãe. A mãe achou
que a bolsinha não era segura. Pegou outra, maior, e ensinou ao garoto:
— Meu filho, leve a bolsinha de dinheiro sempre dentro desta bolsa. E nunca a
deixe aberta!
O menino foi se despedir da avó. A avó, mais precavida, achou melhor lhe dar uma
bolsa maior ainda. E explicou:
— Meu neto, ponha sempre a bolsa com a bolsinha dentro desta bolsona. E nunca a
deixe aberta!
O menino ouviu tudo com atenção e foi embora pegar o trem. Chegando ao guichê,
abriu a bolsona e tirou dela a bolsa. Fechou a bolsona e abriu a bolsa. Tirou a
bolsinha, fechou a bolsa, abriu a bolsona, guardou a bolsa, fechou a bolsona.
Então, abriu a bolsinha, tirou uma nota de dez e fechou a bolsinha. Abriu a bolsona,
tirou a bolsa, fechou a bolsona, abriu a bolsa, guardou a bolsinha, fechou a bolsa,
abriu a bolsona, guardou a bolsa, fechou a bolsona. Só então deu o dinheiro para o
funcionário do guichê. Mas este não quis dar o bilhete.
O menino, então, abriu a bolsona, tirou a bolsa, fechou a bolsona, abriu a bolsa,
tirou a bolsinha, fechou a bolsa, abriu a bolsona, guardou a bolsa, fechou a
bolsona, abriu a bolsinha, tirou mais uma nota de dez, fechou a bolsinha. Daí abriu
a bolsona, tirou a bolsa, fechou a bolsona, abriu a bolsa, guardou a bolsinha,
fechou a bolsa, abriu a bolsona, guardou a bolsa e fechou a bolsona. Deu a outra
nota para o funcionário, que lhe devolveu o troco.
Para guardar o troco, o menino abriu a bolsona, tirou a bolsa, fechou a bolsona,
abriu a bolsa, tirou a bolsinha, fechou a bolsa, abriu a bolsona, guardou a bolsa,
fechou a bolsona, abriu a bolsinha, guardou o dinheiro, fechou a bolsinha, abriu a
bolsona, tirou a bolsa, fechou a bolsona, abriu a bolsa, porém, antes que ele
guardasse a bolsinha na bolsa, fechasse a bolsa, abrisse a bolsona, guardasse a
bolsa na bolsona e fechasse a bolsona, o trem passou e ele... perdeu o trem!
(Pluralidade cultural)
Histórias e ritmos do nosso folclore
Material necessário
Folhas de sulfite
Lápis de cor
Três bolsas de diferentes tamanhos
Fantoches dos personagens: menino, mãe, pai, avó e vendedor de
bilhete
Objetivos
É difícil fugir das primeiras imagens que vêem à cabeça quando o assunto é
folclore: o saci-pererê, o colorido bumba-meu-boi, as bandeiras das festas de São
João, a beleza de Iara, a mãe-d'água, o temível lobisomem... As manifestações
populares brasileiras são ricas e numerosas, porém não se resumem a festas e
mitos. A cultura popular está presente em casa, na receita antiga da avó, nos
causos de vizinhos e amigos, no chá indicado pela tia contra dores no corpo e até
nas quadrinhas e piadas do avô. Esses costumes permanecem, se propagam
oralmente — mesmo em tempos de avanço na tecnologia das comunicações — e
ganham novas versões por onde passam. "Nada representa melhor o homem, na
sua unidade e na sua esplêndida variedade, do que o folclore, cujo estudo elucida o
conhecimento da continuidade e das reformulações históricas", afirmou a poetisa
mineira Henriqueta Lisboa (1904-1985) na introdução de um livro pioneiro no
assunto, da década de 1950.
Família é ponto de partida A história A bolsa... faz parte da tradição oral mineira.
Há muitos anos, um padre em Caraça (MG) a contou para a aluna Rosane
Pamplona, que agora a reconta nas páginas de ESCOLA. Antes de ler o conto para a
turma, acione conhecimentos prévios, como idéias e hipóteses de alguns temas que
aparecem na trama. O primeiro deles é a família. Pergunte às crianças como é a
formação familiar de cada uma. Pai, mãe e avós convivem na mesma casa? Como
eles se relacionam? Qual a função de cada um deles nas tarefas domésticas?
Aproveite a conversa para explorar valores como colaboração, generosidade,
amizade e amor. E fique atenta para valorizar as diferentes organizações familiares!
190
Faça a turma visualizar a cena apresentada pelo conto, típica da vida no interior,
com a família unida na mesma casa. Pergunte como foi a primeira vez em que as
crianças viajaram para o campo ou para a cidade. Foi difícil chegar lá? Com quem
estavam? Quais os preparativos?
Explore o contraste entre a vida rural e a urbana. Essas diferenças são folclóricas
em nossa cultura, assim como o trem, valorizado na poesia Trem de Ferro, de
Manuel Bandeira, e em músicas como O Trenzinho do Caipira, de Heitor Villa-Lobos.
Esse meio de transporte remete à região Sudeste, marco do desenvolvimento
econômico ocorrido em meados do século 19. Pergunte quem já andou de maria-
fumaça. Que barulho ela faz?
Trava-línguas e poesias
Paradoxos
A vida parecia cada vez mais complicada para Alberto. Não ruim, pelo contrário,
mas cada vez mais difícil.
Há alguns anos, ele não tinha com o que se preocupar... Bastava se entregar aos
estudos e às descobertas. Ah! Como ele estava seguro em meio aos seres
invertebrados, aos redemoinhos, às constelações, aos tubos de ensaio e aos
elementos químicos...
Então por que dentre todos os jovens da escola justamente ele tinha sido o
escolhido pela mais linda e encantadora menina do grupo?
A vida parecia, sim, mais estranha para Alberto, que, sem entender o porquê de
seu comportamento, ficou quase duas horas tentando montar uma imagem real da
atmosfera de Saturno, que, recentemente, descobriram ser colorida devido aos
gases que a compõem. Uma imagem bela o suficiente para tocar o coração de
qualquer menina!
Duas horas perdidas tentando montar uma foto enquanto o mundo científico estava
em polvorosa com o registro de uma colisão de galáxias! E ele ainda assim tinha
certeza de que o tempo perdido tinha valido a pena!
De acordo com Einstein, são paradoxos a Terra se mover em torno do Sol e a água
ser constituída por dois gases altamente inflamáveis...
Quem sabe paradoxos tão grandes como este que ele agora está vivenciando:
saber que tudo o que lhe interessa na vida são as explicações científicas e que não
existe explicação científica para o que mais lhe interessa neste momento, o amor.
MATERIAL NECESSÁRIO
Lanterna
Disco de papelão ou CD
Placa quadrada de madeira
Bola
OBJETIVOS
Compreender que a ciência não é infalível e que o conhecimento científico evolui;
planejar experimentos que possam confirmar verdades científicas; conhecer exemplos
de conhecimentos científicos que foram superados; comprovar, com base em
pesquisa com os mais velhos, como o conceito de criança saudável evoluiu.
Usando a fonte de luz, projete a sombra da placa plana (a Terra!) na parede; mude
várias vezes a posição da mesma. Repita, agora, com o disco. Perceba que,
dependendo da posição, a sombra será redonda, o que não acontece com a placa
193
quadrada. Por fim, repita a experiência com a bola. Com base nessas observações,
a idéia de a Terra ser plana não é nenhum absurdo. A simples observação não
mostra o contrário. O mesmo acontece com a idéia do geocentrismo.
Explique aos estudantes que os antigos gregos, ao olhar a sombra da Terra na Lua,
durante os eclipses, entendiam que a forma circular da sombra indicava que nosso
planeta era, no mínimo, uma circunferência, tal como nosso disco. Foram
necessários muitos cálculos de geometria para demonstrar que a Terra estava mais
para a bola do que para o disco.
Geração espontânea
A invencionice do século 18 não pára por aí. É desse período a idéia da geração
espontânea. Os cientistas acreditavam que a matéria viva poderia surgir da matéria
não viva. O médico belga Jean Baptiste van Helmont (1577-1644) escreveu até
uma receita para fazer surgir ratos. Bastava juntar camisas sujas a um punhado de
trigo e um pouco de palha ou feno. Para obter os pequenos roedores, era só deixar
a "mistura" descansando no escuro, em um celeiro fechado, por 21 dias.
Uma atividade interessante pode ser realizada por seus alunos para que
compreendam a falibilidade da teoria da geração espontânea. Pergunte se eles
acreditam que o bicho da goiaba nasce do fruto apodrecido. Peça então que
planejem um experimento controlado para derrubar essa idéia. A turma não precisa
realizar a atividade. O importante é perceber quais controles são necessários para
validar as conclusões. Primeiro, é necessário evitar que a mosca pique a goiaba.
Num segundo momento, observar imediatamente o fruto após ter sido picado pela
mosca. Dessa forma, é possível verificar que não há fungos e bactérias, mas que a
porta para a entrada desses organismos foi aberta.
Gorduchos saudáveis
Termine a aula pedindo aos alunos que façam uma pesquisa com pais e avós sobre
qual a idéia de criança saudável que se tinha no passado. Deixe que debatam sobre
o tema, apresentando as informações que trouxeram de casa. Muitos deverão
contar que os bebês precisavam ser, antes de tudo, gordinhos. Hoje, tanto a
pediatria como os conhecimentos em nutrição desassociam a saúde do peso
exagerado de uma criança.
194
O amigo secreto
Quando Juju terminou de falar, um tênis, que mais parecia uma nave espacial, foi
parar nas mãos de Felipe. Este contou porque comprou o CD importado para o Luís.
Que explicou porque escolheu a bermuda de surfista para o Bruno.
Ela que-que-brou!"
"O técnico avisou que, se ela enguiçasse de novo, já era", disse meu pai.
Aí, minha mãe disse: "Se a gente fosse esquimó, jogava a caça sobre a neve,
cobria com gravetos pros lobos não roubarem, e pronto. Mas, em pleno verão
brasileiro, geladeira é prioridade. Precisamos comprar uma nova".
"E daí que o mesmo dinheiro não sai da mesma carteira duas vezes", disse meu
pai.
Meu pai respondeu: "O computador e outras coisinhas. Nossa geladeira é dúplex,
ela custa mais caro".
"Bolem um presente criativo e que não custe nada", falou meu pai.
— Mostra! Mostra!
O maior sucesso.
— O quê?
MATERIAL NECESSÁRIO
Revistas semanais
Jornais diários
Calculadoras
OBJETIVOS
Observar com olhar crítico a propaganda veiculada em TV, rádio, jornal e
revista; conhecer a legislação do Brasil e de outros países sobre
publicidade para crianças; reconhecer o valor do dinheiro; promover
hábitos de consumo mais saudáveis; e desenvolver a criatividade com a
produção de um presente artesanal.
Dia das Crianças, das Mães, dos Pais, dos Namorados, festa do amigo secreto... As
comemorações acabam sempre pedindo um presente. Comemorar, nesse caso,
acaba virando sinônimo de comprar. Quem mais se anima são os publicitários, que
incentivam o consumo, e os comerciantes, porque as vendas aumentam, e muito.
Do outro lado estão os compradores, seduzidos pelas novidades. Mas o que fazer
quando a despesa com a "lembrancinha" não cabe no orçamento doméstico? Para
que a garotada entenda a questão, é preciso incentivar o consumo consciente e
ensinar desde cedo o valor do dinheiro e a diferença entre necessidade e desejo.
O conto O Amigo Secreto, de Regina Chamlian, trata de uma situação que poderia
muito bem acontecer com algum de seus alunos. Resolver o conflito pelo qual
passou o personagem Bruno é desafio para crianças e adolescentes que vivem sob
o constante apelo das compras. O plano de aula a seguir vai ajudar você a discutir
com os estudantes de 5ª a 8ª série as razões do consumismo. A sugestão é de José
Domingos T. Vasconcelos, professor de Física e consultor pedagógico em Educação
Ambiental e Consumo, em São Paulo.
Proponha que cada aluno observe e descreva duas propagandas veiculadas em TV,
rádio, revistas e outdoors: uma que ele goste, outra que não goste. Oriente a
observação com as seguintes perguntas:
Qual é a faixa etária, o sexo e a etnia das pessoas que participam da propaganda?
Sugira que cada um faça uma lista de coisas que gostaria de comprar neste final de
ano: óculos de sol, roupa, mochila, presente para o amigo secreto... Terminada a
seleção, entregue a eles este roteiro de questões:
De quanto dinheiro vou precisar para comprar tudo? (Faça uma pesquisa de
preços e, com a ajuda da calculadora, ponha os gastos no papel.)
Por fim, oriente a turma a comparar os gastos da compra de final de ano com o
salário mínimo do trabalhador brasileiro, que é de 260 reais. Quantos dias de
trabalho são necessários para poder comprar a lista inteira?
Você sentiria vergonha ou orgulho em dar a um amigo algo feito por você?
Para finalizar, organize com a classe uma brincadeira de amigo secreto para
comemorar o final do ano letivo. Apresente o desafio: o presente tem que ser feito
pelos próprios estudantes. Quem será o artesão mais criativo?
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Ricardinho andava sem sorte. Acho até que, se ele fosse jogar cara-ou-coroa ou
par-ou-ímpar dez vezes seguidas, ele perderia todas elas.
O caso é que ele tinha aprendido que “em cima” se escreve separado e “embaixo”
se escreve junto. Mas, na hora de escrever suas redações, ele seeeeempre se
confundia e acabava fazendo tudo ao contrário.
Foi queixar-se pra Vovó. Afinal, a Vovó tinha sido professora a vida inteira e sabia
tudo, tudinho mesmo de todas as coisas.
– Assim?
– Então é essa?
– É claro, você só tem duas, não é? A mão esquerda é a que fica do lado do
coração.
– Ah, ficou fácil! Mas o que tem a ver mão esquerda levantada com “em cima” e
“embaixo”?
– Veja, querido: seus dedos, “em cima”, estão separados e, “embaixo”, eles estão
juntos, grudados na palma, não estão? Quando você ficar em dúvida, é só levantar
a mão aberta, que você nunca mais vai errar! “Em cima” é sempre separado e
“embaixo” é sempre junto!
Ricardinho achou genial a idéia da Vovó. No dia seguinte, na escola, tratou logo de
contar o novo truque para o Adriano, seu melhor amigo na primeira série.
– É fácil. Eu, por exemplo, sei que a minha mão esquerda é esta, que está do lado
da pintinha que eu tenho na cara.
Ricardinho chegou a sugerir que o Adriano pintasse uma pinta na cara com a
caneta, mas Adriano acabou achando mais fácil saber que a sua mão esquerda era
aquela com que ele escrevia e desenhava e a direita era... bom, era a outra!
MATERIAL NECESSÁRIO
Papel Kraft
Caneta de ponta grossa
Giz
OBJETIVOS
Entrar em contato com as dificuldades próprias da orientação e refletir sobre
ela; resolver problemas comuns, desenvolvendo a sociabilidade e o senso
coletivo; adquirir as primeiras noções de orientação para se deslocar com mais
segurança; orientar-se com base em referências; aplicar o uso de esquerda e
direita em situações do dia-a-dia; escrever textos coletivos após a realização
de atividades de aprendizagem.
O plano de aula a seguir, adequado a turmas de 1ª série, foi sugerido por Cláudio
Giordano, consultor de Geografia e professor da escola Lourenço Castanho, em São
Paulo. (Sobre localização na escola, veja também nesta edição.)
Leve os alunos ao pátio ou à quadra. Abra uma roda e leia o conto Lado a lado,
bem bolado. Explique que a atividade será sobre movimentação na escola. Faça
perguntas sobre os caminhos que utilizam para seguir de onde estão até algum
ponto no próprio prédio, como a biblioteca ou a cantina. Identifique, pelas
respostas, o modo como a turma se desloca e utiliza referências. Dessa forma, você
conhece as hipóteses e experiências dos alunos, uma maneira de avaliar que
permite planejar as próximas etapas.
Desenhe em papel Kraft um esboço da escola visto de cima, ou seja, uma planta.
Outra possibilidade é fazer o mapa com giz no chão do pátio ou da quadra. Nele,
risque os trajetos que os alunos descreveram. Se achar conveniente, peça para as
próprias crianças indicarem seus caminhos no mapa. A partir daí, elas já estarão
estimuladas para a aula de orientação, já que algumas dificuldades devem ter
201
surgido. Se a escola tem uma área muito pequena, as etapas anteriores podem ser
pouco eficazes. Nesse caso, fale sobre a importância de se deslocar com segurança
pedindo para os estudantes contarem como fazem para ir de casa até a escola.
A próxima etapa tem por objetivo identificar as crianças que utilizam o braço
esquerdo ou o direito para se orientar, as que usam outras referências (uma porta,
um vaso, um painel etc.) e aquelas que ainda não sabem lidar com esses
procedimentos. É possível que haja diferenças dentro do grupo. Alguns estudantes
podem estar em nível mais avançado e contribuir para estimular os demais.
Pergunte a eles como fariam para explicar a um novo colega como chegar até
algum ponto dentro da escola. Nesse momento, a classe pode apresentar alguma
dificuldade se houver várias opções. Referências vão ser necessárias.
Utilize novamente o mapa da escola. Indique nele o caminho descrito pelos alunos
para observar se a orientação é eficiente ou se há falhas. Identifique os
deslocamentos eficazes e destaque quem utiliza a esquerda e a direita para se
orientar. Pergunte se todos sabem diferenciar os dois lados e peça para – em
duplas ou trios – desenharem uma pessoa e pintarem cada braço de uma cor.
Outros exercícios podem ser feitos, como escrever com letras bem grandes as
palavras esquerda e direita nas laterais do quadro-negro. Utilize as mesmas cores
do exercício feito com os braços para facilitar a memorização.
Para reforçar a importância dos referenciais, dê uma volta com a turma pela escola
e chame a atenção para objetos que se destaquem e possam ser utilizados como
indicação, um vaso ou um bebedouro, por exemplo. De volta à sala de aula, os
alunos relatam quais são esses objetos e os desenham no mapinha. Peça que
expliquem novamente o trajeto ao colega utilizando as referências desenhadas e as
noções de direita e esquerda. Pergunte se eles perceberam alguma diferença entre
o primeiro caminho e aquele que utiliza essas novas informações. Para encerrar a
atividade, escreva um texto coletivo destacando as vantagens dos novos
procedimentos mencionados pela própria garotada. Transcreva o relato em
cartolina branca e afixe no painel da classe.
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Minha querida C.
Recebi ontem duas cartas tuas, depois de dous dias de espera. Calcula o prazer que
tive, como as li, reli e beijei! A mª tristeza converteu-se em súbita alegria. Eu
estava tão aflito por ter notícias tuas que saí do Diário à 1 hora para ir à casa e
com efeito encontrei as duas cartas, uma das quais devera ter vindo antes, mas
que, sem dúvida, por causa do correio foi demorada.
Também ontem deves ter recebido duas cartas minhas; uma delas, a que foi escrita
no sábado, levei-a no domingo às 8 horas ao correio, sem lembrar-me (perdoa-
me!) que ao domingo a barca sai às 6 horas da manhã. Às quatro horas levei a
outra carta e ambas devem ter seguido ontem na barca das duas horas da tarde.
Deste modo, não fui eu só quem sofreu com demora de cartas. Calculo a tua aflição
pela minha, e estou que será a última.
(...) tu não te pareces nada com as mulheres vulgares que tenho conhecido.
Espírito e coração como os teus são prendas raras; alma tão boa e tão elevada,
sensibilidade tão melindrosa, razão tão reta não são bens que a natureza
espalhasse às mãos cheias pelo teu sexo. Tu pertences ao pequeno número de
mulheres que ainda sabem amar, sentir e pensar. Como te não amaria eu? Além
disso tens para mim um dote que realça os mais: sofreste.
Obrigado pela flor que me mandaste; dei-lhe dous beijos como se fosse em ti
mesma, pois que apesar de seca e sem perfume, trouxe-me ela um pouco de tua
alma.
Sábado é o dia de minha ida; faltam poucos dias e está tão longe! Mas que fazer? A
resignação é necessária para quem está à porta do paraíso; não afrontemos o
destino que é tão bom conosco.
MACHADINHO
Material necessário
Cópias da carta Minha querida C.
Livros de Machado de Assis ou trechos de obras
Computadores com acesso a internet e e-mails
Objetivos
Peça à turma que aponte as correspondências que os pais recebem, como extrato
bancário, propaganda, contas... Elas mostram que, apesar do desenvolvimento
tecnológico, a mensagem escrita é fundamental para a comunicação entre pessoas
e instituições. Explique que o texto-carta transita entre o público e o privado e faz
parte da vida pessoal, do trabalho e da literatura.
Em seguida, explique que uma carta bem redigida deve ter a seguinte estrutura:
local e data; saudação; o "corpo"; saudação final e assinatura. Depois, divida os
alunos em grupos e peça a eles que escrevam uma carta incorporando Carolina. O
que ela responderia para Machadinho?
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Explique à turma que a comunicação por carta depende do correio - e que falhas na
postagem podem mudar uma história. Já no início do texto fica evidente o caminho
percorrido pela mensagem de Machado e a aflição do remetente, que tinha nela o
único meio de contato com a amada.
Este texto de Machado não é literatura, mas uma carta pode, sim, virar arte.
Apresente à classe a canção Meu Caro Amigo, de Chico Buarque de Holanda - que
apresenta toda a estrutura de uma correspondência -, e peça uma comparação com
Minha querida C.