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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Coordenação Pedagógica – IBRA
DISCIPLINA
ANALISE DO DISCURSO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03
INTRODUÇÃO
As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras,
afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos
educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou
aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e
provado pelos pesquisadores.
texto funciona, como ele produz sentido, sendo concebido como objeto linguístico
histórico, não esquecendo que o texto é espaço significante.
Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final
da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar
dúvidas e aprofundar os conhecimentos.
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A linguagem é uma atividade exercida entre falantes: entre aquele que fala e
aquele que ouve, entre aquele que escreve e aquele que lê. A linguagem é um
trabalho desenvolvido pelo homem – só o homem tem a capacidade de se expressar
pela linguagem verbal.
É por isso que dizemos que não há discurso neutro, todo discurso produz
sentidos que expressam as posições sociais, culturais, ideológicas dos sujeitos da
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2 CARACTERÍSTICAS DO DISCURSO
comportamento (de firmeza, dúvida, opinião) em relação àquilo que diz (usa para
isso recursos da língua como: infelizmente, talvez, certamente, na verdade, eu acho)
e em relação àquele com quem fala (explicitamente por expressões do tipo: você,
caro leitor, ou escolhendo os termos adequados ao seu nível sociocultural, usando
uma linguagem mais informal, gírias ou linguagem mais formal de acordo com a
situação).
10) Por causa desse caráter dialógico da linguagem, dizemos que o discurso
tem um efeito polifônico. Isto é, porque meu discurso dialoga com outros discursos,
outras vozes nele estão presentes, vozes com as quais concordo (e vêm reforçar o
que eu digo) ou vozes das quais discordo total ou parcialmente. Outra palavra usada
para expressar esse caráter polifônico da linguagem é heterogêneo. O discurso é
heterogêneo (polifônico) porque é sempre atravessado, habitado por várias outras
vozes.
Outros autores, de linha mais europeia, partem de uma relação entre o dizer
e as condições de produção desse dizer, recorrendo a conceitos exteriores ao
domínio de uma linguística imanente para dar conta das unidades mais complexas
da linguagem.
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Doutora em Linguística pela USP/Universidade de Paris/Vincennes. Tem experiência na área de
Linguística, com ênfase em Teoria e Análise Linguística, atuando principalmente nos seguintes
temas: análise de discurso, linguística, epistemologia da linguagem e jornalismo científico. É
pesquisadora 1A do CNPq (Lattes).
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O que Bakhtin afirma aqui é que o signo reflete e retrata uma realidade. Ele
reflete na medida em que se refere uma realidade que lhe é exterior e retrata
porque, dentro dos seus mais variados índices de valor possíveis, um se sobressai e
outros se ocultam. Decorre dessa constatação que o mesmo signo tem significados
diferentes de acordo com a situação histórico/social do sujeito e que todo e qualquer
discurso se constitui como diálogo entre vários enunciados, estes constituídos
socialmente.
4.1 Ideologia
[...] Althusser afirma que, para manter sua dominação, a classe dominante
gera mecanismo de perpetuação ou de reprodução das condições
materiais, ideológicas e políticas de exploração. É ai então que entra o
papel do Estado que, através de seus Aparelhos Repressores – ARE –
(compreendendo o governo, a administração, o exército, a polícia, os
tribunais, as prisões et.) e Aparelhos Ideológicos – AIE – (compreendendo
instituições tais como: a religião, a escola, a família, o direito, a política, o
sindicato, a cultura, a informação), intervém ou pela repressão ou pela
ideologia, tentando forçar a classe dominante a submeter-se às relações e
condições de exploração.
4.2 O discurso
Para expressar a sua ideologia, o sujeito faz uso dos discursos, nos quais,
segundo Brandão (2004, p. 33) em sua contribuição dada por Foucault, discursos
são como um conjunto de enunciados que se remetem a uma mesma formação
discursiva (“um discurso é um conjunto de enunciados que tem seus princípios de
regularidade em uma mesma formação discursiva”).
Para Foucault:
Diante disso, segundo Mussalim (2003), Lacan faz uma releitura de Freud
recorrendo ao estruturalismo de Saussure e Jakobson, em uma tentativa de abordar
com mais precisão o inconsciente. Para ele, o inconsciente se estrutura como uma
linguagem, como uma cadeia de significantes, como se houvesse sob as palavras,
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a) aquela em que o locutor ou usa das suas próprias palavras para traduzir o
discurso de um Outro (discurso relatado) ou então recorta as palavras do Outro e as
cita (discurso direto);
Segundo Brandão (2004, p. 45), foi Pêcheux quem tentou fazer a primeira
definição empírica geral da noção de condição de produção, inscrevendo a noção do
esquema informacional da comunicação elaborada por Jakobson, colocando em
cena os protagonistas do discurso e o seu referente, permitindo compreender as
condições (históricas) da produção de um discurso. Pêcheux, segundo Brandão, vê
“nos protagonistas dos discursos não a presença física de organismos humanos
individuais, mas a representação de lugares determinados na estrutura de uma
formação social”.
b) por crer que tem plena consciência do que diz e que por isso pode
controlar os sentidos de seu discurso (esquecimento n. 2).
Pode-se perceber que o discurso não é geral como a língua, nem individual
e a-sistemático como a fala. Ele tem a regularidade de uma prática, como as
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Para que haja uma objetividade deve haver uma grande distância entre o
sujeito e o objeto de estudo e esta grande distância pode ser analisada na medida
em que é parte do poder do discurso. O discurso científico é um discurso que
esconde o sujeito e, ao esconder, o sujeito se transforma em um “não sujeito”. O
poder do sujeito no discurso científico é o seu lugar de esconderijo. Porque, o
cientista escondendo-se, dá ao seu discurso um tom de objetividade. Esta é uma
característica do discurso científico, diferencial se comparada com o discurso
político, o literário, o midiático e até o discurso religioso.
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Ao conversarmos com um físico ele dirá que nós fazemos cultura: “não é
bem científico o que o cientista social faz”. Até porque diferentes cientistas sociais,
analisando um mesmo fato chegarão a conclusões distintas. O discurso científico
pretende-se objetivo, pode-se imaginar facilmente um cenário onde cinco cientistas
estudam em diferentes lugares acerca de um fenômeno e chegam à mesma
conclusão, tanto que há célebres disputas pela autoria de algumas descobertas
científicas, por parte de laboratórios que chegaram, ao mesmo tempo, às mesmas
conclusões. A distância possível entre os sujeitos e seus discursos nas diversas
ciências pode explicar muitas das suas características epistemológicas.
Mas não é somente a tevê que busca impor a sua verdade, os editoriais, as
páginas de opinião dos jornais são ainda mais veementes ao se colocarem como o
discurso da verdade: defendem suas posições a partir dos mesmos princípios do
discurso científico, fazem análises cuidadosas, citam autoridades científicas
nacionais e internacionais, discutem políticas públicas a partir de indicadores aceitos
como confiáveis na academia. O jornalismo escrito busca a objetividade, se coloca
como o analista imparcial.
período getulista, também sabia qual era a posição do jornal em que escrevia Carlos
Lacerda, qual era a posição dos “Diários e Emissoras Associadas”. Nos outros
países também foi assim e na Europa ainda continua sendo em alguns casos.
cidades com diferentes grupos políticos no poder, se colocam frente a ele (PINTO,
2005).
que se torna fundamental. Um exemplo (que tem mudado ao longo das últimas
décadas, felizmente) é o da “dona de casa”. Ela é considerada desinformada, não
compreende nada e é desligada dos problemas nacionais.
Todo político que quer falar para todas as pessoas, para as pessoas mais
simples e mais ignorantes, diz: “aqui estamos nós, com pessoas como professores,
trabalhadores, funcionários públicos e até donas-de-casa”. Essa dona-de-casa é
também uma pessoa com muito tempo na vida. Ela caminha, em uma cidade como
São Paulo de supermercado em supermercado fazendo pesquisa de preço, cada
vez que vai comprar um produto.
mais aberto a outros discursos e a ser constituído como sujeito diferente do que ele
é.
O discurso que lhe dá sentido, que lhe assujeita é mais provisório e menos
exitoso em seu trabalho de fixação. E assim acontece com as democracias. Quanto
mais uma democracia se repete, quanto mais tempo existe, menos aventuras são
aceitas nessa democracia, porque menos os sujeitos estão abertos para discursos
aventureiros. O discurso democrático tem atualmente mais fixidade do que jamais
teve na história do ocidente. Há cada vez menos espaço para esses tipos de
discursos, há um conjunto de sentidos acumulados, somos sujeitos de uma
democracia e temos direitos nessa democracia e não é qualquer um que pode
enunciar um discurso não democrático, por exemplo, capaz de ser aceito (PINTO,
2005).
É por isso que o marketing e o discurso político estão tão próximos, porque
os diversos discursos na arena política estão buscando o mesmo espaço, ao
contrário, por exemplo, do discurso científico, onde as pessoas estão produzindo a
sua própria pesquisa e a pesquisa do outro não a impede de acontecer, o espaço
não está em disputa.
Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996. GADET, F & HAK,
PINTO, Céli Regina Jardim. Elementos para uma análise de discurso político
(2006). Disponível em:
http://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/viewFile/821/605 Acesso em: 10
set. 2011.