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Título do projeto: O desenvolvimento de software e os imaginários em torno dos mundos

digitais. Aportes à compreensão de controversias e lutas no âmbito de sistemas


sociotécnicos das tecnologias de informação e comunicação.

Pesquisadores responsáveis:
Diretora: Dra. Susana Morales
Co-Diretora: Mestre Mary Elizabeth Vidal
Integrantes: Dra. Victoria Mendizabal, Lic. Félix Lovera, Lic. Rafael Camino
Pesquisadores em formação: Lic. Matías Bordone, Lic. Federico Mathe, Lic. Nancy
Arias, Lic. Agostina Lauría
Consultores acadêmicos: Dr. Pedro Reyes García (Chile), Dr. Márcio Simeone
Henriques (Brasil), Mestre Laura Nayara Pimenta (Brasil), Graciela Natansohn (Brasil)

1. INTRODUÇÃO

- Problematização e delimitação do projeto.

O presente projeto supõe uma continuidade com as preocupações teóricas e


empíricas de nossa equipe de pesquisa, relacionadas à apropriação social da tecnologia e
do conhecimento. Desde que começamos a trabalhar com a questão, colocamos o foco
em uma conceituação de apropriação associada às práticas de uso, o que certamente
incluem aspectos simbólicos e de representação da tecnologia. Mas, nos últimos anos,
advertimos que uma análise desse problema concentrado nos usos poderia ser
reducionista. E é por isso que nos propomos a pensar sobre a noção de apropriação
como um paradigma. Assim, a apropriação é o movimento que um sujeito individual ou
coletivo realiza a tomar, com ou sem legitimidade, os recursos que definiu como valiosos
para si mesmo, seja por funcionalidade direta desses recursos ou o poder que sua posse
possui. Em um nível individual, esses recursos podem ser aqueles envolvidos na vida real
do sujeito (identidade, a subjetividade, as relações sociais, a sexualidade), ou aqueles
disponíveis em seu ambiente, tais como a natureza e espaço, objetos, tecnologias,
recursos, economia, conhecimento e informação. Agora, em termos sociais, a apropriação
se desenvolve através de estruturas organizacionais complexas que lidam, ao mesmo
tempo, com a conversão dos recursos disponíveis em recursos apropriados, da criação de
recursos a serem apropriados e da valoração destes como tal. Nessa linha, hoje, uma
parte muito significativa do esforço da produção econômica a nível global visa a criação
de dispositivos de circulação e vigilância discursiva (incluindo informação, conhecimento e
entretenimento) para fazer possível a legitimação das estruturas sociais, econômicas e
políticas vigentes no atual estágio do capitalismo. A apropriação individual envolve um
processo de reflexividade em relação ao reconhecimento de ser sujeito de poder e desejo.
Reflexividade que pode ou não ser consciente, mas que é uma condição e, ao mesmo
tempo, o resultado desse movimento de apropriação. A apropriação como prática
individual está ligada a processos de empoderamento e ocorre independentemente da
forma como a conceituamos. No que diz respeito à apropriação de tecnologias, por vários
anos insistimos que a apropriação também tem uma dimensão política, no sentido de que
representa uma elucidação sobre os condicionamentos sociais e ideológicos atribuídos
aos meios e tecnologias que permitem aos atores, individual e coletivamente, a adoção e
adaptação criativa desses dispositivos em função da construção de projetos de autonomia
individual e social. E uma vez que nenhum modo de produção e, portanto, nenhuma
ordem social dominante trata de esgotar a energia prático e humano, tornam-se
processos relevantes de reflexividade como encontrado na base da elucidação dos
imaginários que sustentam o discurso legitimador do social vigente, cuja transformação só
é possível na medida em que a apropriação é orientada para a ação coletiva de caráter
político.
A noção de apropriação refere-se não só aos empoderamentos individuais e/ou
coletivos, mas também aos modos de operação do próprio capitalismo. É por isso que a
categoria de apropriação nos permite um olhar multidisciplinar que nos possibilita, por
exemplo, superar a tão disputada dicotomia entre os estudos culturais e a economia
política da comunicação. Acreditamos que é necessário desenvolver uma matriz de
análise para estudar os processos de apropriação que, neste último estágio do
capitalismo, têm como espinha dorsal um modo de produção baseado no paradigma
digital. Espera-se que este olhar paradigmático contribua para a compreensão das
condições materiais e subjetivas em que ele ocorre, circula e reproduz a ordem social em
contextos tecnológicos contemporâneos.
Quais seriam as dimensões de análises que poderiam confluir em uma abordagem
integral – paradigmática – dos processos de produção e uso das tecnologías da
informação e da comunicação?
Em primeiro lugar, 1) as características, a evolução histórica e a análise
prospectiva das tecnologias como objetos. Ou seja, os desenvolvimentos técnicos. Por
sua vez, 2) as condições de disponibilidade, acesso e produção tanto dos
empreendimentos quanto do conteúdo que veiculam, fortemente marcados por gênero,
classe, raça e localização geopolítica. Este aspecto, em parte, também ligado às 3)
políticas públicas de usos sociais da ciência, tecnologia e comunicação, que são
articuladas e interdependentes com 4) os marcos regulatório e 5) estratégias de negócios
ao redor do acesso e uso de tecnologias. Precisamente, 6) as práticas de uso e as suas
vinculações com as ofertas e o surgimento de novas subjetividades e identidades
(políticas, culturais, econômicas) não pode ser entendida sem referência à 7) lógica
econômica do funcionamento e estrutura da indústria tecno-comunicacional. De tal
maneira, como um agente privilegiado, é a indústria tecno-comunicacional que fornece
direcionalidade às práticas de uso, 8) seus sentidos e o componente imaginário que
configuram e reconfiguram os contornos que vão tomando nossas sociedades. É por isso
que 9) a dimensão filosófica e ética sobre as formas e o resultado dessas configurações
são centrais para a reflexão que nos encoraja a continuar a criar, debater e postular um
entendimento alternativo e existente de ação social.
No projeto que estamos apresentando agora, estamos interessados em entender a
relação entre o tipo de sociedade que está se conformando com o uso massivo e
exponencial das TICs e o mundo como imaginado pelos atores envolvidos no
desenvolvimento de softwares. Assim, nosso objetivo é identificar e compreender algumas
das representações e metáforas – dimensão cultural – presentes nos discursos dos
desenvolvedores de softwares que se articulam com o trabalho de dar forma e conteúdo
ao tipo de sociedade do presente e do futuro. Questões como distopias, ficção científica,
futurologia, aparecem e alimentam imaginários sociais que, potencialmente, estão
associados à tarefa do design tecnológico. Nosso projeto é limitado às cidades de
Córdoba, Santiago do Chile, Cidade do México, Salvador e Belo Horizonte.
Algumas questões que orientam este projeto e que vão dar origem aos objetivos
gerais e específicos são:
Que tipo de sociedade está se conformando, entre outras práticas culturais, com o
uso estendido e exponencial das TIC – em particular, softwares – a curto, médio e longo
prazo?
Quais são os tipos de softwares em que as empresas estão trabalhando
atualmente? Quais são as necessidades que eles respondem? O que designam como
"soluções"? Quais atividades eles darão origen? Qual tipo de usuários estão imaginando?
O que pensando os desenvolvedores de softwares sobre questões controversas,
como as relações interpessiais e socializações mediadas pelas TIC, os processos de
aprendizagem, acesso à informação e ao conhecimento, governança da Internet,
interfaces homem/máquina, uso e proteção de dados pessoais, conhecimento/arte e
criatividade como valores de mercado, articulações/tensões entre tempos de lazer,
software livre x software proprietário, entre outras questões?
Que representações sustentam tais pensamentos? Através de quais metáforas são
expressas e que imaginários sociais são articulados?

- Hipóteses
Embora não tenhamos hipóteses baseadas em estudos anteriores ou análises
bibliográficas, podemos enunciar um conjunto reduzido de pressupostos que operam
como o horizonte de nosso trabalho. Eles são:
● Entre os especialistas em informática (e outros atores do sistema sociotécnico),
existem dificuldades em construir um consenso reflexivo sobre o impacto de seu
trabalho (e suas práticas) na formação da sociedade a curto, médio e longo prazo,
bem como em entender as implicações éticas, políticas, sociais, econômicas e
filosóficas da experimentação e desenvolvimento de softwares.
● Questões controversas – estejam ou não presentes no campo da reflexividade dos
atores envolvidos na criação de softwares – são resolvidas de maneira
generalizada, através do otimismo tecnológico.

2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

Objetivo Geral:
Realizar uma aproximação aos tipos de sociedades que estão se conformando a partir do
uso estendido e exponencial das TIC, especificamente dos softwares (softwares de
aplicações, softwares de sistemas e ferramentas de programação computacional), e sua
relação com as representações dos desenvolvedores de software do âmbito privado,
público e de organizações sociais.

Objetivos específicos:
● Descrever os tipos de desenvolvimentos mais difundidos em que os atores
envolvidos na criação do softwares estão trabalhando.
● Explorar as opiniões existentes entre os diferentes atores ligados ao
desenvolvimento de softwares, em torno de aspectos controversos, tais como:
relações interpessoais e socialização mediada por TIC, processos de
aprendizagem, acesso à informação e conhecimento, governança na Internet,
interfaces homem/máquina, uso e proteção de dados pessoais, conhecimento/arte
e criatividade como valores de mercado, articulações/tensões entre tempos de
lazer, software libre x software proprietário, tecnologia e cuidado com o meio
ambiente, entre outras questões.
● Analisar as representações sociais que fundamentam essas opiniões, as metáforas
através das quais elas são expressas e os imaginários que as articulam.
● Gerar dispositivos de disseminação e um campo de reflexão em torno do que foi
pesquisado para ser oferecido a instituições educacionais e organizações de
usuários.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Este projeto tem uma finalidade exploratória na primeira etapa, na qual se privilegia
uma abordagem qualitativa do problema a ser analisado. Nossa preocupação central é o
conhecimento e a compreensão do significado que os agentes atribuem às suas próprias
práticas e como os expressam na forma de opiniões. Estamos interessados em identificar
a visão sobre os diferentes tópicos (declarados nos objetivos) que os desenvolvedores de
software suportam e que podem ser associados a um conjunto de representações. Para
isso, realizaremos entrevistas com um grupo de especialistas, vinculados a empresas
privadas, universidades e ao movimento de software livre ou comunidades de usuários /
produtores. Por sua vez, faremos observações participante em eventos de programadores
estilo "maratona hacker", onde são colocados em diálogo as demandas de organizações
em torno de um problema social específico, que é acompanhado com o desenvolvimento
de "soluções" por grupos de desenvolvedores de software. Em uma segunda etapa,
orientada a um tipo de estudo descritivo, será buscada a triangulação de técnicas de
coleta de dados, com a aplicação de pesquisas para desenvolvedores e usuários.
Finalmente, como esse projeto o impacto social da geração de conhecimento (na forma
de pesquisa-ação) surge, teremos um conjunto de produtos (livros de ficção,
documentários) que servem como gatilhos de espaços para a reflexão em instituições ou
organizações educacionais de usuários, com a implementação de grupos focais que
permitem a abertura para futuras linhas de ação e pesquisa.

4. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
Atividade / semestre 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º
Estudo de antecedentes / Indagações teóricas
Decisões metodológicas. Preparação do trabalho de
campo
Realização do trabalho de campo
Processamento e análise dos dados do campo
Produção de materiais de divulgação
Produção do informe final e encerramento
● Contato com Fabrício Benevenuto do DCC UFMG
● Contato com Inova e BHTEC, através do Rolf
● Construção da lista com os possíveis entrevistados
● Tradução do questionário
● Leitura e revisão do questionário
● Preparação para o pré-teste (metodologia e procedimentos)
● Escolha de 2 participantes para Pré-teste
● Realização do pré-teste
● Verificar com Susana os procedimentos de gravação (áudio, vídeo?)
● Elaborar Termo de Consentimento para sessão da entrevista. Se for em vídeo,
colher o termo de sessão de imagem, caso seja necessário. (Não faremos nada
sem ter o termo assinado e sem avisar as pessoas do procedimento)
● Estimar tempo da entrevista
● Perguntar para Susana: pode fazer entrevista por Skype/videoconferência ou é
somente presencial?
● Colocar alerta de Maratona Hacker no gmail (só poderemos ir a maratonas
realizadas em BH e RMBH)
● Monitorar outros eventos de desenvolvimento de softwares
● Pedir aos entrevistados para indicar outros profissionais.
● Perguntar à Susana o tipo de coleta para as Maratonas. Qual o tipo de
procedimentos? O que será observado?
● Após os pré-testes vamos fazer observações ao questionário e passar o informe
para Susana.
● Fazer o pré-teste antes da Semana Santa.

5. BIBLIOGRAFIA

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