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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

DOCENTE: ALEXANDRE JORDÃO BAPTISTA


DISCENTE: NICOLE PRADO BEZERRA.

RESUMO DOS LIVROS III, IV E V DE “A REPÚBLICA"

SÃO LUÍS
2021
LIVRO III
Ainda no livro II, partindo da questão de como a justiça prevalece sobre a
injustiça, Sócrates então argumenta analisar a justiça no contexto de uma
cidade, da estrutura política da mesma em que esta seria o fundamento da vida
do indivíduo e cada grupo (Os trabalhadores, guerreiros e guardiões)
desempenharia suas funções específicas. Ao fim do livro II, o filósofo começa a
discutir sobre o tipo de educação a ser dada aos guardiões, pois por eles
pertencerem ao grupo político, cuidariam da integração da cidade. Já no livro III,
Sócrates continua falando dos guardiões e das histórias a serem ensinadas às
crianças para elas honrarem os deuses, seus pais e valorizar a amizade uns com
os outros. Além disso, as histórias de coragem contadas tinham a função de
imunizar as crianças contra o medo da morte, "Hades", pois os guardiões não
podem ser covardes e temer ao combate, à escravidão mais do que a morte. Por
isso, histórias que temem ao sofrimento, à morte, como os poemas de Homero
e de outros poetas, devem ser censuradas pois não acrescentam para a virtude
que um guardião precisa ter:
"Portanto, devem ainda rejeitar-se todos os nomes terríveis e medonhos relativos
a estes lugares, Cocito e Estige, espíritos dos mortos e espectros, e outras
designações do mesmo jaez que fazem arrepiar quem as escuta".
Acrescenta que é necessário também censurar qualquer referência aos prazeres
da embriaguez ou qualquer tipo de comportamento imoderado. Por mais
"poéticas e doces" que sejam, qualquer tipo de exercício de sensualidade
prejudica a função de um guardião. E além disso, argumenta que as histórias
que refletem qualquer tipo de injustiça triunfa sobre a justiça, que os injustos
costumam ter sucesso e os justos são miseráveis, por isso é preciso eliminá-las
já que nessa discussão, como Sócrates, Glauco e Adimanto não definiram o que
é justiça, então não é razoável que se conte histórias sobre justiça e certamente
errado ensinar histórias de injustiça conquistando a justiça. A partir disso,
Sócrates então passa a discutir sobre quais tipos de histórias deveriam ser
contadas aos futuros guardiões. Onde alguns poemas/histórias seriam narrativas
simples (O narrador conta a história por um ponto de vista), mas algumas
histórias seriam representacionais, em que os personagens fariam discursos e
ações de escravos e mulheres, por exemplo, por meio da imitação. Sócrates
discursa que na imitação, se o personagem for escravo, mulher, alguém
apaixonado ou colérico, esta deveria ser eliminada do Estado pois os guardiões
devem ser treinados em temperança e imitar o que é bom em todos os momentos
"O imitador puro do homem bom", e às vezes crianças poderiam copiar os
palavrões e as ações que vissem. Em seguida, Sócrates passa a abordar com
Glauco as formas da música com seus aspectos de melodia, harmonia, verso e
ritmo às quais os guardiões podem ser expostos. Essas várias formas de música,
ele argumenta, provocam várias reações emocionais e algumas podem
encorajar o desequilíbrio. Algumas formas de música parecem estar
preocupadas com as dores do amor não correspondido; outros celebram os
prazeres da embriaguez. Visto que esses e outros exemplos parecem influenciar
o desequilíbrio, certamente eles deveriam ser proibidos porque encorajam o
"relaxamento" quando, acima de tudo, se exige que os guardiões estejam
vigilantes. O discurso então segue, tendo a ginástica como tema. Para Sócrates,
os guardiões e guerreiros devem desempenhar atividades atléticas desde a
infância. Tendo disciplina e um regime alimentar adequado. Sujeitos a um
treinamento físico rigoroso, em que, baseado nesta educação e na ginástica
proposta, as crianças desenvolveriam uma virtude inerente e uma saúde
impecável, o que levaria a ser desnecessário as funções dos juízes e médicos,
precisando deste último só em casos graves. Após isso, Sócrates e Glauco falam
sobre como se deveria escolher os guardiões. Onde os mais velhos, os mais
inteligentes e os melhores guerreiros são as primeiras definições. É proposto
também exames e observações para avaliar sua natureza e sua disposição. E
ao fim do livro III, Sócrates faz uma comparação da cidade com o conto fenício
com as três divisões da cidade: Ouro para os guardiões, prata para os guerreiros
e bronze para os trabalhadores, porém um cidadão bronze poderia vir a se tornar
ouro.
"Mas ouve o resto da fábula: Na cidade sois todos irmãos, dir-lhe-emos,
prosseguindo nesta ficção, mas o Deus que vos formou misturou ouro na
composição dos auxiliares, ferro e bronze na dos lavradores e na dos outros
artesãos. Em geral procriareis filhos semelhantes a vós, mas, visto que sois
todos parentes, pode suceder que do ouro nasça um rebento de prata, da prata
um rebento de ouro e que as mesmas transmutações se produzam entre os
outros metais".

LIVRO IV
O que dá abertura ao livro IV é ainda o tema da educação dos guardiões, que
começa com uma pergunta feita por Adimanto:
"Que dirás então em tua defesa, ó Sócrates, se alguém afirmar que não tornarás
estes homens nada felizes, precisamente por culpa que eles usufruam qualquer
bem da sua parte, como os outros, que possuem campos [...] e que tem, em
especial, aquilo que há momentos referias, o ouro e a prata e quanto se julgue
que constitui a felicidade?"
Sócrates responde lembrando que seu objetivo ao construir esta cidade não é
fazer nenhum grupo feliz às custas de outro grupo, mas fazer a cidade como um
todo tão feliz quanto possível. Não se deve proporcionar aos guardiões o tipo
de felicidade que os tornaria algo diferente de guardiões. Ele compara este caso
à construção de uma estátua. A cor mais bela, ele afirma, é a cor de púrpura
(Roxo). Portanto, se a intenção fosse tornar os olhos da estátua os mais lindos
possíveis, deveria ser pintado de roxo. Como nenhum ser humano tem olhos
dessa cor, isso prejudicaria a beleza da estátua como um todo, portanto, "não
seriam sombreados com cor de púrpura, mas a negro". Na estátua, como na
cidade, é preciso lidar com cada parte de maneira adequada, a fim de tornar a
situação melhor para o todo. Sócrates passa a abordar vários tópicos
relacionados ao estilo de vida dos guardiões. Ele argumenta para Adimanto que
não haveria riqueza ou pobreza na cidade, pois não haveria dinheiro. Adimanto
replica que uma cidade sem dinheiro não pode se defender contra invasores,
mas Sócrates lembra a Adimanto que a cidade teria os melhores guerreiros e
ressalta que qualquer cidade vizinha ficaria feliz em vir pedir socorro se
prometessem a eles todos os inimigos de guerra. Sócrates limita o tamanho da
cidade, alertando para que ela não se torne tão grande que não possa mais ser
governada. Ele sugere que os tutores guardem sua própria educação
fundamental acima de tudo, e que eles compartilhem tudo em comum entre eles,
incluindo esposas e filhos. Ele declara que a cidade justa não tem uso para as
leis. Se a educação dos tutores prosseguir conforme planejado, eles estarão em
posição de decidir sobre qualquer questão política que surgisse. Tudo o que é
considerado uma questão de lei pode ser deixado ao julgamento dos
governantes/guardiões devidamente educados. Sócrates declara que a cidade
justa está completa. Já que essa cidade foi criada para ser a melhor cidade
possível, podendo afirmar que tem todas as virtudes. Para definir essas virtudes,
basta olhar para a cidade e identificá-las. Portanto, Sócrates passa a examinar
cada uma das quatro virtudes: Sabedoria, Coragem, Temperança (harmonia) e
Justiça. Onde ele aborda sobre sabedoria primeiro. A sabedoria está com os
guardiões por causa de seu conhecimento de como a cidade deve ser
administrada. Se os guardiões não governassem, se fosse uma democracia, sua
virtude não se traduziria na virtude da cidade. Mas, como estão no comando, sua
sabedoria se torna a virtude da cidade. A coragem está com os auxiliares. Só a
coragem deles conta como virtude da cidade, porque são eles que devem lutar
pela cidade. Um fazendeiro corajoso, ou mesmo governante, não faria bem à
cidade. A temperança e a justiça, em contraste com a sabedoria e a coragem,
estão espalhadas por toda a cidade. A temperança é identificada com o acordo
sobre quem deve governar a cidade, e a justiça seria seu complemento, o
princípio da especialização, a lei de que todos fazem o trabalho para o qual são
mais adequados. A justiça, portanto, é como a temperança que não tem lugar
definido para ocupar no todo social. Todos devem ser justos, manterem-se em
sua função. Fazerem o que lhe é devido, não interferir no que não lhe deve e
nem tomar o que deve ao outro para si.

LIVRO V
Sócrates agora se propõe a argumentar vários exemplos de injustiça buscando
explicar ainda mais o conceito de justiça. A justiça é, como ideal, única, mas
excedem os exemplos de injustiça. Quando Sócrates está prestes a falar sobre
injustiça, Polemarco e Adimanto interrompem e pedem que Sócrates explique
melhor sobre a vida dos guardiões. No início do diálogo, foi determinado que,
como parte do acordo na cidade, os guardiões deveriam possuir tudo em
comum. A questão que Adimanto coloca agora é:
"Que caráter tem essa comunidade? É que podia haver muitas! Há muito que
aguardamos, crentes que nos dirás alguma coisa sobre a procriação de filhos:
Como fazê-la e, uma vez gerados, como os criar, e toda essa questão da
comunidade de mulheres e filhos, que anuncias".
A resposta de Sócrates é que, embora para ele as mulheres são principalmente
fisicamente mais fracas do que os homens, ao estabelecer as três classes, que
todo cidadão deveria ser destinado ao trabalho que mais lhe convinha. Isso vale
tanto para as mulheres quanto para os homens, portanto, as mulheres devem
ser educadas da mesma forma que os homens, se quiserem assumir seu lugar
como guardiãs. As mulheres devem ser consideradas candidatas tanto a
governantes em potencial quanto a auxiliares. E sua educação nas artes e na
ginástica não deve ser separada, mas igual: Elas devem ser treinadas
juntamente com os homens. O discurso de Sócrates era de que os homens e
mulheres da classe dos guardiões, sendo negados todos os bens pessoais,
compartilhariam tudo em comum. No caso dessa classe, o antigo conceito de
casa privada e vida familiar deveria ser mudado. Os guardiões viveriam juntos
como uma única unidade familiar. Para garantir a melhor qualidade de
descendência para essa classe, os homens e mulheres criariam seus filhos em
comum, de acordo com alguns métodos empregados na criação dos animais
domésticos, como cães e cavalos. Visto que os guardiões devem compartilhar
tudo em comum como membros de uma nova "família", os filhos aprenderiam a
se chamar de "irmão" e "irmã". Aprenderiam a ver os idosos como “pai” ou “mãe”,
garantindo assim respeito e tranquilidade doméstica às pessoas do
Estado. Porque eles pertenceriam juntos como membros de uma única grande
família, eles deveriam se livrar das rivalidades e ciúmes vindos da tradição das
antigas "famílias" privadas. Isso levaria a uma maior igualdade social para os
membros dessa classe e iria garantir uma melhor unidade na cidade ideal.
Porém, como as esposas e os filhos deveriam ser vistos em comum, isso não
significa que os tutores adultos poderiam ser sexualmente promíscuos. Suas
uniões sexuais deveriam ser conduzidas sob a vigilância dos governantes. O
método que essa reprodução seletiva seria conduzida, explica Sócrates, é que
em horários designados no calendário e nos períodos mais apropriados de sua
atividade sexual e fertilidade, os homens e mulheres dessa classe seriam
reunidos em "festas de casamento", mas eles não teriam permissão para
escolher livremente seus parceiros sexuais. Em vez disso, eles seriam
"ensinados" que os governantes mais velhos decidiriam todos os pares de
parceiros sexuais por sorteio, onde os governantes teriam organizado os
parceiros sexuais por meio de uma seleção cuidadosa, de forma que garantisse
o sucesso do método que os governantes adotassem. Quanto as crianças ao
nascer, deveriam ser criadas em comunidade e sustentadas por cidadãos
destinados como enfermeiros. Além disso, as crianças não poderiam reconhecer
seus pais biológicos. Não seria correto permitir que os filhos desenvolvessem
afeto familiar. As mães biológicas às vezes seriam proibidas de amamentar seus
filhos, que receberiam uma ama de leite para suas necessidades. Gláucon e os
outros participantes do diálogo, estavam tendo várias dúvidas sobre a eficiência
da cidade ideal de Sócrates. Eles argumentam que a proposta era muito irreal,
que perturbaria a ordem do Estado e que isso era impraticável. Sócrates
responde então a essas questões lembrando que uma vez que tudo o que esses
guardiões possuem agora é uma propriedade comunal, onde não haveria
disputas sobre uma propriedade privada. As velhas disputas sobre o que é "meu"
e o que é "seu" e as ideias sobre herança iriam desaparecer. Isso tinha que ser
visto como a melhor forma de garantir a harmonia na cidade ideal. Como as
razões da desordem interna teriam desaparecido, essa classe funcionaria de
maneira ainda mais tranquila, porque cada cidadão da classe sentiria um vínculo
familiar comum com todos os outros cidadãos. Gláucon então pede que se defina
como uma cidade tão justa, ideal poderia vir a existir. Em que Sócrates afirma
que essa é uma crítica difícil de abordar. Então Sócrates explica que o modelo
da cidade ideal permaneceria válido para se discutir sobre justiça e injustiça,
mesmo que não se possa provar que tal cidade possa vir a existir. Sócrates diz
que a cidade ideal não pode existir até que os filósofos governem como reis ou
reis se tornem filósofos. Ele também aponta que esse é o único caminho possível
para alcançar a felicidade completa tanto na vida pública quanto na privada.
Indica que eles deveriam discutir filosofia e filósofos para justificar essas
afirmações, pois os filósofos amam e buscam a sabedoria, amam ver a verdade.
Filósofos são os únicos que reconhecem e encontram prazer no que está por
trás das aparências. Sócrates então diferencia entre aqueles que conhecem e
aqueles que tem opiniões, já que a opinião é aquela que vê o que parece ser.

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