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PSICOLOGIA INSTITUCIONAL: UMA REFLEXÃO SOBRE A PROMOÇÃO DA

AUTONOMIA NAS INSTITUIÇÕES.

Luana M. R. Carvalho, Faculdade da Alta Paulista.


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Tamirys A. L. Ferreira, Faculdade da Alta Paulista.
Deborah Karolina Perez, Faculdade da Alta Paulista.
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O presente trabalho surgiu da experiência das estagiárias durante o Estágio de


Formação de Psicólogos I, com ênfase em Psicologia das Instituições e Processos
de Gestão. Esse traz algumas concepções históricas acerca do surgimento da
Psicologia Institucional, assim como uma reflexão acerca do trabalho que o
psicólogo realiza nessa área, por fim, algumas reflexões sobre a promoção da
autonomia nessas instituições. Desse modo, Guirado (2009) afirma que há
aproximadamente três décadas começou a existir interesse em aplicar a psicologia
para além das áreas que se exercia, nesse momento a psicologia passou a ser
aplicada nas instituições. Atualmente, possuem dois títulos para os trabalhos
exercidos nas instituições, tais como: Psicologia Institucional e Análise Institucional.
Psicologia Institucional é um termo criado por J. Bleger (Higiene Mental e Psico-
higiene, 1984). Segundo tal abordagem, a instituição como um todo torna-se alvo de
intervenção, sendo assim, quando alguém trabalha com Psicologia Institucional,
adota tanto a instituição e suas relações, como a intervenção do psicólogo do ponto
de vista psicanalítico (GUIRADO, 2009). Já a Análise Institucional tem como
idealizadores René Loureau e Georges Lapassade. Tal movimento propõe um modo

1Luana M. R. de Carvalho, graduanda em psicologia, Faculdade da Alta Paulista,


luana_delvalle@hotmail.com.
2Tamirys A. L. Ferreira, graduanda em psicologia, Faculdade da Alta paulista,
tamiiryscardoso@hotmail.com.
3Deborah Karolina Perez, psicóloga, docente e supervisora de estágio do curso de
psicologia da Faculdade da Alta Paulista – FAP, Tupã-S.P,
deborahkarolina@yahoo.com.br.
especifico de compreender as relações sociais, o conceito de instituição e o modo
de inserção do psicólogo que é de caráter político. Além disso, eles visam provocar
rupturas na burocracia das relações instituídas, ou seja, romper com o sistema
hierárquico (GUIRADO, 2009.). Após algumas concepções históricas acerca do
surgimento da Psicologia Institucional, faz-se necessário compreender como se dá a
atuação do psicólogo nas instituições. Segundo Bleger (1984), o profissional de
psicologia antes de ingressar na instituição deve conhecer os objetivos da mesma e
possuir seus próprios objetivos, como conseguir condições que tendem a promover
a saúde e o bem-estar dos integrantes da instituição. Compreendido como o
psicólogo deve realizar seu papel, podemos refletir acerca da promoção da
autonomia nesse espaço. Na concepção de Baremblitt (1992) as instituições são
entendidas como lógicas, que podem ser leis, normas, hábitos ou regularidades de
comportamentos, desta forma, as instituições regulam a atividade humana, ou seja,
o que deve ou não ser feito. Levando em consideração a concepção desse autor e
entendendo que promover a autonomia significa promover a liberdade, a
independência e autossuficiência, devemos nos questionar como é possível que os
indivíduos se tornem autônomos? O que se observa nas instituições é uma “falsa
liberdade”, pois a liberdade a qual nos referimos não é apenas aquelas que permite
o direito de ir e vir, mas sim aquela que possibilita aos indivíduos o direito de pensar
e de manifestarem as suas particularidades. Ao invés de promoverem indivíduos
autônomos, as instituições visam por meio da “falsa liberdade”, produzirem
indivíduos disciplinados e de acordo com Foucault (1982), visam produzir corpos
dóceis (algo possível de manipular, suscetível de dominação.) e mudos. Em seu livro
Vigiar e Punir, Foucault (1982), afirma que a tecnologia disciplinar tem o objetivo de
ilustrar um corpo dócil que pode ser transformado. Sendo assim, a disciplina atua de
forma individual e detalhada sobre os corpos, através de uma combinação de
observação hierárquica e sanção normalizadora, que se unem ao exame. Desse
modo, a partir da experiência das estagiárias, foi possível constatar na prática essa
figura de punição, a qual Foucault denomina tecnologia disciplinar. Em uma das
instituições, os usuários eram submetidos a atividades em grupo, dinâmicas e rodas
de conversas, com intuito de refletirem assuntos como sociedade, amizade, família e
solidariedade e, com isso, exercitarem a autonomia. Contudo, não pode-se afirmar
se desta forma é realmente possível promover a autonomia, uma vez que os
usuários apenas seguiam um roteiro de atividades anteriormente definidas, sem ter
a oportunidade de manifestarem as suas opiniões, participarem das escolhas,
assuntos e atividades. Além disso, pode-se perceber a presença marcante daquilo
que Foucault denomina de sansão normalizadora, uma vez que as instituições se
caracterizam pela padronização do tempo. Em outra instituição, foi possível
constatar que os usuários possuem aula de computação, basquete, coral, jiu jttsu,
filmes, brincadeiras no parque e atividades em sala, porém, tudo previamente
estabelecido, ou seja a criação de técnicas e métodos para que a criança consiga
alcançar a sua independência, ter vontade própria e iniciar atividades sem ajuda e
sem lhe ser solicitado, como é o propósito da autonomia, não acontece. Assim,
podemos constatar que existe uma preocupação, pelo menos no papel, com a
promoção de sujeitos autônomos, porém, esse termo fica muito vago, pois não se
diz de que forma será feito e por fim, não é o que ocorre. O que existem são
criações de várias atividades para preencher todo o tempo dos usuários com
propósito de educar e promover sujeitos disciplinados.

Palavras-chaves: Psicologia Institucional; Autonomia; Falsa Liberdade.

Referências Bibliográficas

BAREMBLITT, G. Sociedade e Instituições. Compêndio de análise institucional e


outras correntes: teoria e prática. Belo Horizonte: Record, 1992, p. 25-34.

BLEGER, J. Psicologia Institucional. Psico-higiene e Psicologia Institucional.


Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1984.

DREYFUS, H; RABINOW, P. A Genealogia do Indivíduo Moderno como Objeto. In:


Uma Trajetória Filosófica. Forense Universitária, 1982, p.158-177.
GUIRADO, M. Psicologia institucional: O exercício da psicologia como instituição.
Interação em Psicologia. Curitiba, jul./dez., 2009, p.323-333.

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