Você está na página 1de 4

Lisboa | LNEC | 3-6 novembro 2020

http://encore2020.lnec.pt

A INTERVENÇÃO NO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO. USUFRUIR


VERSUS OCULTAR/REGISTAR. O CASO DA MAMOA DO CARAPITO
INTERVENTION IN ARCHAEOLOGICAL HERITAGE. USING VERSUS
HIDE/REGISTER. THE CASE OF MAMOA DO CARAPITO
Pedro Sobral de Carvalho (1), Alice Tavares Costa (2), Aníbal Costa (3), Vera Moreira Caetano (4)
(1) EON Indústrias Criativas, Lda, Portugal, pedrosobraldecarvalho@eonic.pt
(2) DECivil da Universidade de Aveiro, Portugal, tavares.c.alice@ua.pt
(3) DECivil da Universidade de Aveiro, Portugal, agc@ua.pt
(4) Conservadora restauradora em património arqueológico Portugal, vera.mcaetano@gmail.com

RESUMO
O Dólmen 1 do Carapito é um dos mais emblemáticos monumentos megalíticos do país tendo sido descoberto
em 1881 e explorado em 1933 pelos arqueólogos alemães George e Vera Leisner. A análise do pacote artefactual
e as datações radiocarbónicas obtidas colocam este dólmen nos primeiros momentos do megalitismo português,
nos inícios do IV milénio a.C, sendo um dos expoentes do megalitismo da Beira Alta, classificado como
Monumento Nacional pelo Decreto n.º 735/74 datado de 21 de dezembro.

O Dólmen 1 do Carapito em termos arquitetónicos apresenta uma câmara simples, aberta a Este, composta por
9 esteios, em planta poligonal, ligeiramente alongada, com 5,16 m de comprimento, 4,68 m de largura e 5,1 m
de altura, apresentando a entrada 1,54 m de largura. Pelo lado exterior foi identificado o que restava do sistema
de contrafortagem dos esteios.

Atualmente existem vestígios da mamoa, sendo percetível a elevação do terreno que indicia a sua volumetria e
que deveria ter cerca de 24 m de diâmetro. Testemunhos orais recordam a mamoa com os esteios do dólmen
cobertos até meio. Assim, o projeto que se apresenta baseia-se em três pressupostos que nortearam a solução:
valorizar, ensinar e comunicar.

Palavras-chave: Megalitismo / Carapito / Mamoa / Dólmen / Intervenção

ENCORE 2020 | 4º Encontro de Conservação e Reabilitação de Edifícios 159


A intervenção no património arqueológico. Usufruir versus ocultar/registar. O caso da Mamoa do Carapito

RESUMO ALARGADO
INTRODUÇÃO
O Dólmen 1 do Carapito é um dos mais emblemáticos monumentos megalíticos do país. A sua imponência e os
resultados das intervenções arqueológicas desenvolvidas, sobretudo nos anos sessenta do séc. XX, tornam-no
num dos expoentes do fenómeno megalítico da Beira Alta.

Classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n.º 735/74 datado de 21 de dezembro, este dólmen foi
alvo de trabalhos arqueológicos em 1966 por Vera Leisner e Leonel Ribeiro, cujos importantes resultados o
catapultaram para uma projeção internacional que ainda hoje poucos dólmens portugueses possuem, (Leisner
& Ribeiro, 1968).

O Dólmen 1 encontra-se localizado num terreno com o topónimo “Casa da Moura”, situado a oeste da ribeira de
Carapito, afluente do rio Dão, localiza-se na localidade do Carapito no concelho de Aguiar da Beira (distrito da
Guarda), a 640 m de altitude. Este monumento faz parte de uma necrópole composta por mais três monumentos,
integrados num Percurso Pedestre.

Preocupada com o estado atual do monumento, a Câmara Municipal de Aguiar da Beira, adjudicou, em 2017, à
Eon, Indústrias Criativas, Lda., o Projeto de Execução do Restauro e Consolidação do Dólmen 1 e Área Envolvente
de Carapito.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA. A IMPORTÂNCIA DA MAMOA DO CARAPITO NO MEGALITISMO


O Dólmen 1 do Carapito, Figura 1, sumariamente referenciado por alguns autores nos finais do séc. XIX
(Sarmento, 1883:17; Vasconcelos, 1927), é visitado por George Leisner em 1933 que dele faz uma planta e
levanta os motivos gravados do monólito tombado junto ao esteio de cabeceira (Leisner, G., 1934; Leisner &
Ribeiro, 1968: 17).

De todas as referências e estudos efetuados, interessa destacar os trabalhos efetuados entre abril e agosto de
1966. Estes trabalhos não se restringiram à escavação do Dólmen 1, tendo-se verificado a escavação arqueológica
de todos os monumentos da necrópole em número de quatro.

Como resultado dos vários trabalhos arqueológicos realizados no Dólmen 1 do Carapito somos hoje capazes de
o caracterizar, em termos arquitetónicos, como um dólmen de câmara simples, aberta a Este, composta por
9 esteios, de planta poligonal, ligeiramente alongada, com 5,16 m de comprimento e 4,68 m de largura,
apresentando o vão de entrada 1,54 m. Pelo lado exterior foi identificado o que restava do sistema de
contrafortagem dos esteios.

De notar que não existem vestígios da mamoa, sendo, no entanto, percetível uma elevação do terreno que indicia
a sua volumetria que deveria possuir cerca de 24 m de diâmetro. As pessoas mais idosas de Carapito ainda se
lembram de a mamoa cobrir a até meio os esteios do dólmen.

Um dos aspetos mais fantásticos deste monumento são os motivos gravados nos seus esteios. O primeiro esteio
com gravuras a ser identificado foi o fragmento do esteio G que se encontrava tombado no interior e poisado
sobre a sua base maior, levando o casal Leisner e Leonel Ribeiro a denominá-lo de pedra de “altar”. Estes motivos
foram levantados em 1934 por George Leisner (Leisner, 1934). Com a missão Leisner/Ribeiro em 1966,
identificaram-se os motivos do esteio I. (Leisner & Ribeiro, 1968, Leisner, 1998). A grande especialista E. Shee
Towhig faz novos decalques e melhora os levantamentos em 1981.

Os trabalhos de levantamento efetuados para o projeto de valorização e restauro, em curso, permitiram o registo

160 Lisboa | LNEC | 3-6 novembro 2020


de novos motivos gravados.

Figura 1 – Vista do Dólmen 1 do Carapito antes dos trabalhos arqueológicos de 1966 (Leisner, 1998: tafel 146)

PRESSUPOSTOS ORIENTADORES DA INTERVENÇÃO


A elaboração da iniciativa de recuperação e valorização do Dólmen 1 do Carapito define-se por um princípio
básico e elementar: a preservação e salvaguarda de toda a estrutura dolménica, bem como as manifestações
artísticas (gravuras) que lhe conferem a sua singularidade.

Partindo deste pressuposto, a preservação e salvaguarda do monumento depende inteiramente de medidas de


intervenção que tenham por base a cobertura de toda a câmara dolménica, considerando ser esta a única forma
de garantir a conservação das gravuras a curto, médio e longo prazo. É fundamental impedir a entrada direta de
elementos climatéricos que possam desencadear fenómenos de alteração da superfície pétrea podendo levar à
perda do substrato mineralógico e consequente perda de leitura dos petróglifos.

O projeto contempla soluções técnicas exequíveis por meio da reconstituição da mamoa, minimizando o
contacto físico entre os novos elementos e os originais. Contempla também um sistema de drenagem de águas
pluviais para diminuir a incidência dos níveis de humidade nas pedras dos esteios e um sistema de ventilação
para evitar fenómenos de condensação no interior do monumento. Salienta-se ainda a valorização atribuída à
acessibilidade ao monumento, quer através da requalificação do percurso pedonal, quer pela criação de um
espaço de estacionamento do lado oposto da ribeira. A apresentação do património arqueológico ao grande
público é um meio essencial de acesso ao conhecimento das origens e do desenvolvimento das sociedades
modernas, constituindo simultaneamente, o mais importante meio para divulgar e fazer compreender a
necessidade de proteger este património.

AGRADECIMENTOS
Alice Tavares agradece o apoio da Fundação Portuguesa para a Ciência e Tecnologia (FCT) no âmbito do seu
programa de pós-doutoramento com a referência SFRH/BPD/113053/2015 bem como ao RISCO – Universidade
de Aveiro.

ENCORE 2020 | 4º Encontro de Conservação e Reabilitação de Edifícios 161


A intervenção no património arqueológico. Usufruir versus ocultar/registar. O caso da Mamoa do Carapito

Nota
Artigo completo publicado no dossier do ENCORE 2020 da Revista Al-Madan, n.º 23, 2020.

REFERÊNCIAS
LEISNER, Vera; RIBEIRO, Leonel, 1968 – Die Dólmen von Carapito. Madrider Mitteilungen. 9, pp. 11-62.
RIBEIRO, Leonel; LEISNER, Vera, 1968 – Relatório dos trabalhos da missão arqueológica Leisner/Ribeiro,
realizados na Beira Alta. Arqueologia e História. 9.ª série, I, pp. 13-28.
SARMENTO, F. Martins, 1883 – Expedição científica à Serra da Estrela, em 1881. Relatório da Secção de
Arqueologia. Lisboa: Sociedade de Geografia, Imprensa Nacional. Texto reimpresso in Dispersos. 1933,
pp. 129-152. Coimbra: Imprensa da Universidade.
VASCONCELOS, José Leite de, 1919-1920 – Coisas Velhas. In O Archeologo Português. 24, pp. 215-237.

162 Lisboa | LNEC | 3-6 novembro 2020

Você também pode gostar