Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
523
portamento tem um objectivo que é provocar timas como provocadores, mais frequentemente
mal-estar e ganhar controlo sobre outra pessoa; do que as raparigas (e.g. Kuther & Fisher, 1998;
(ii) o comportamento é conduzido repetidamente Matos & Carvalhosa, 2001; Olweus, 1994).
e ao longo do tempo (Mellor, 1990; Olweus, A frequência do bullying diminui com o
1994), isto é, este comportamento não ocorre aumento dos anos de escolaridade (DeHaan,
ocasionalmente ou isoladamente, mas passa a ser 1997; Olweus, 1993; Salmon, James & Smith,
crónico e regular; (iii) um desequilíbrio de poder 1998). E os alunos mais novos são mais frequen-
é encontrado no centro da dinâmica do bullying temente vítimas e a frequência de serem amea-
(e.g. Olweus, 1993; Pereira et al., 1994), onde çados diminuiu à medida que aumenta a idade
normalmente os agressores vêm as suas vítimas (e.g. Matos & Carvalhosa, 2001; Olweus, 1994;
como um alvo fácil (DeHaan, 1997). Sullivan, 2000).
Os diversos autores, de modo a investigar este
problema, têm operacionalizado este conceito 1.2. Características dos provocadores e das
nem sempre do mesmo modo. Isto é, em relação vítimas
aos comportamentos abrangidos, uns só se refe-
rem à violência física e outros referem-se à físi- De acordo com a definição de Boulton e Smith
ca, à verbal e à psicológica, sendo poucos aque- (1994), o provocador ou agressor é aquele que
les que referem a sexual; quanto ao número de frequentemente implica com os outros, ou que
intervenientes envolvidos, alguns não especifi- lhes bate, ou que os arrelia ou que lhes faz outras
cam que a provocação e a vitimação pode ocor- coisas desagradáveis sem uma boa razão. Os
rer individualmente ou em grupo; e no que diz agressores são caracterizados por agressão aos
respeito à duração do comportamento ao longo seus pares (Bosworth et al., 1999; Olweus,
do tempo, alguns questionam sobre o último pe- 1991), eles têm atitudes positivas para com a
ríodo escolar, outros sobre a totalidade da vida violência (Greenbaum et al., 1988; Olweus,
escolar, entre outros. Assim, de modo a investi- 1994), têm maior probabilidade de se sentirem
gar este problema, o conceito de bullying foi deprimidos (Kaltiala-Heino, Rimpelä, Marttu-
operacionalizado no presente trabalho da seguinte nen, Rimpelä & Rantanen, 1999; Salmon et al.,
forma: «Deves entender uma acção de provoca- 1998). Em relação aos pares, os provocadores
ção quando um aluno (mais velho ou mais forte) têm dificuldade em fazer amigos e têm poucos
ou um grupo de alunos, dizem ou fazem coisas amigos, de acordo com Boulton (1999). No que
desagradáveis a outro ou gozam com ele de diz respeito à escola, os agressores sentem-se in-
uma forma que ele não gosta nada. Não é uma felizes na escola (Due, Holstein & Jorgensen,
provocação quando dois alunos da mesma idade 1999; King, Wold, Tudor-Smith & Harel, 1996).
ou tamanho se envolvem numa discussão ou bri- Envolvem-se mais em comportamentos de risco
ga.» para a saúde, tais como fumar (King et al., 1996),
beber álcool em excesso (Due et al., 1999; King
1.1. Prevalência et al., 1996), usar drogas (DeHaan, 1997). Os
que são os provocadores na escola têm maior
Estudos em vários países revelam que os probabilidade do que os outros em se envolve-
comportamentos de bullying são comuns (Bos- rem na delinquência e na violência (Griffin,
worth et al., 1999) e que pelo menos 15% dos es- 1999; Pereira et al., 1994). Os provocadores ten-
tudantes na escola estão envolvidos nesses com- dem a pertencer a famílias que são caracteriza-
portamentos (Sudermann et al., 2000). das como tendo pouco calor/carinho ou afecto,
Em Portugal, são conhecidas as investigações com problemas em partilhar os seus sentimentos
de Pereira et al. (1994) relativas a dois Conce- e normalmente classificam-se como sentindo
lhos do Norte do país, segundo o qual 21% das que existe uma maior distância emocional entre
crianças entre os 7 e os 12 anos nunca foram os membros da família (DeHaan, 1997). Os pais
agredidas, 73% são agredidas «às vezes» e 5% dos provocadores usam mais «deitar abaixo» e
«muitas vezes». criticar do que elogiar e encorajar, e negligen-
Diversas investigações indicam que os rapa- ciam em ensinar aos seus filhos que a agressão
zes estão envolvidos no bullying, tanto como ví- não é aceitável (Greenbaum et al., 1988; Olweus,
524
1991), tendem a usar disciplina inconsistente e tese que abusos e rejeições pelos pares poderiam
pouca monitorização sobre onde os filhos estão levar a comportamentos agressivos para com os
ao longo do dia (Batsche & Knoff, 1994; Ol- pares e a vitimação pelos pares. Tendem, tam-
weus, 1991) e têm skills de resolução de pro- bém, a exibir desagrado pela escola (Rigby &
blemas pobres ou agressivos (Sudermann et al., Slee, 1993). Rigby e Slee (1993) revelam, ainda,
2000). Por vezes têm estilos de disciplina muito uma associação significativa entre o bullying e
punitiva e rígida, com os castigos físicos a serem maior frequência de sintomas físicos e psicoló-
muito comuns (Greenbaum et al., 1988; Olweus, gicos e fumar. O tipo de padrão de comporta-
1991). mento desregulado emocionalmente que caracte-
Segundo a definição de Boulton e Smith riza as vítimas provocativas pode ser o resultado
(1994), a vítima é alguém com quem frequente- de exposição a violência (Schwartz et al., 1997)
mente implicam, ou que lhe batem, ou que a e abusos em casa (Dodge, Bates & Pettit, 1990),
arreliam, ou que lhe fazem outras coisas desagra- ou a pais punitivos que utilizam estratégias agres-
dáveis sem uma boa razão. Verifica-se que as ví- sivas (Schwartz et al., 1997) e que rejeitam
timas típicas (ou passivas) são mais deprimidas (Dodge, Bates & Pettit, 1990). É de referir tam-
do que outros alunos (e.g. Kaltiala-Heino et al., bém as correlações positivas entre a vitimação
1999; Salmon et al., 1998). Apesar de fumarem e no grupo de pares e a exposição a negativismo
beberem menos do que os outros (Due et al., paternal e excesso de protecção materno (Ol-
1999), têm mais dores de cabeça e dores abdo- weus, 1993). Podemos então concluir que expe-
minais do que os outros (King et al., 1996; Wil- riências precoces de vitimação, de violência e
liams, Chambers, Logan & Robinson, 1996). tratamento rígido pelos adultos serve para desre-
As vítimas também têm menos amigos (e.g. Ol- gular a criança emocionalmente, levando poste-
weus, 1994; Schwartz, McFadyen-Ketchum, riormente a uma ira hiper reactiva e à vitimação
Dodge, Pettit & Bates, 1999), têm maior dificul- pelos pares (Schwartz et al., 1997). Adicional-
dade em fazer amigos (DeHaan, 1997; Suder- mente, foram encontradas diferenças significa-
mann et al., 2000) e isto porque sofrem de re- tivas no grupo vítimas provocativas para o esta-
jeição dos pares (Boulton & Smith, 1994; Sch- tuto socio-económico (Schwartz et al., 1997): as
wartz et al., 1999). As vítimas acham a escola vítimas provocativas tendem a ser de níveis so-
desagradável (Batsche & Knoff, 1994). As víti- cio-económicos mais baixos (Patterson, Kupers-
mas tendem a pertencer a famílias que são ca- midt & Vaden, 1990, citado por Schwartz et al.,
racterizadas como tendo uma educação de res- 1997).
trição (Olweus, 1993) e excesso de protecção pe-
los pais (Olweus, 1994). Por seu lado, Schwartz, O presente trabalho tem como principal fina-
Dodge, Pettit e Bates (1997) afirmam que o grupo lidade estudar os comportamentos de bullying
das vítimas passivas não difere do grupo norma- entre pares nas escolas de Portugal. A importân-
tivo em nenhuma variável do ambiente em casa e cia e relevância deste trabalho situa-se em poder-
Bosworth et al. (1999) acrescentam que o tipo de mos saber o que acontece com os jovens portu-
família não é significativo. gueses e nas nossas escolas, para que se possa
Um grupo mais pequeno – 3% (Mellor, 1990), actuar de um modo eficiente na prevenção deste
as vítimas provocativas (tanto provocadores co- tipo de comportamento.
mo vítimas), que tentam retaliar quando são Este estudo tem como principais objectivos
atacadas (Batsche & Knoff, 1994), são caracteri- caracterizar e diferenciar os jovens com diferen-
zadas por uma variedade de reacções agressivas tes tipos de envolvimento no bullying, através da
(Olweus, 1994; Schwartz et al., 1997). Egan e construção de indicadores que, na literatura,
Perry (1998, citado por Schwartz et al., 1999) re- aparecem relacionados com estes comportamen-
ferem a existência de associações predictivas en- tos (consumo de tabaco, álcool e droga, relação
tre comportamento agressivo e aumentos na viti- com os pais e com os pares, sintomas físicos e
mação durante um ano escolar. As vítimas pro- psicológicos, atitude face à escola, nível socio-
vocativas experienciam frequentemente a recusa económico). Para tal foram utilizados os dados
pelos pares (Schwartz et al., 1997). Dodge (1991, do questionário «Comportamento e Saúde em
citado por Schwartz et al., 1997) colocou a hipó- Jovens em Idade Escolar», afim de desenvolver
525
uma versão reduzida. Os indicadores foram Apresenta assim um conjunto de questões
construídos através da avaliação da consistência relacionadas com expectativas para o futuro,
interna e foi examinada a relação entre os indi- história de consumos (consumo de álcool, tabaco
cadores e quatro grupos definidos em termos do e drogas), prática de exercício físico e tempos
comportamento de bullying: (a) nenhum envol- livres, hábitos alimentares e de higiene, bem
vimento, (b) provocador, (c) vítima e (d) vítimas estar e apoio familiar, ambiente na escola (ami-
provocativas – simultaneamente vítimas e provo- gos, professores e violência), imagem pessoal,
cadores. queixas de sintomas psicológicos e somáticos e
crenças e atitudes face ao VIH/SIDA. Para a ver-
são reduzida do HBSC, o critério utilizado na
2. METODOLOGIA construção dos indicadores, para a selecção dos
itens, era a contribuição para a consistência inter-
na (coeficiente alfa de Cronbach). Foram aceites
2.1. Sujeitos índices superiores a .63. Os indicadores finais
estão descritos de seguida e apresentados no
Os questionários foram recolhidos em 191 es- Quadro 1.
colas nacionais, de ensino regular, com um total
de 6903 alunos inquiridos. As escolas foram Bullying. A tradução portuguesa utilizada no
sorteadas de uma lista nacional, em primeiro lu- questionário para «bullying» foi «provocação».
gar foram sorteados 6 concelhos de cada distrito Para nos asseguramos de que os jovens com-
e em segundo uma escola de cada um desses preendiam o que se pretendia dizer com provo-
concelhos. Através de uma lista nacional de alu- cação, eram convidados a ler o seguinte texto:
nos inscritos por região e por anos de escolari- «As questões que se seguem dizem respeito a si-
dade, foi calculado o número de turmas. Deste tuações de provocação. Deves entender uma ac-
modo, foram seleccionados alunos dos 6.º, 8.º e ção de provocação quando um aluno (mais velho
10.º anos de escolaridade, correspondendo cada ou mais forte) ou um grupo de alunos, dizem ou
um destes anos, a uma idade média de 11, 13 e fazem coisas desagradáveis a outro ou gozam
16 anos. com ele de uma forma que ele não gosta nada.
No total da amostra, 53% dos jovens são do Não é provocação quando dois alunos da mesma
sexo feminino e 47% do sexo masculino, 34.9% idade ou tamanho se envolvem numa discussão
frequentam o 6.º ano, 37.5% o 8.º ano e 27.6% o ou briga.» O comportamento de bullying era
10.º ano de escolaridade. É uma amostra repre- avaliado por duas perguntas, a primeira relativa à
sentativa da população escolar dessas idades. vitimação e a segunda à provocação. Os alunos
foram questionados sobre quantas vezes neste
2.2. Instrumentos período lectivo (a) «foste provocado na escola» e
(b) «tomaste parte em provocações a outros estu-
O estudo «Health Behaviour of School-aged dantes». As opções de resposta incluíam: 1 = não
Children» (HBSC) trata-se de um estudo colabo- a 5 = várias vezes durante a semana. Resultados
rativo da Organização Mundial de Saúde (OMS). elevados indicam elevado envolvimento em
O questionário «Comportamento e Saúde em comportamentos de vitimação ou em comporta-
Jovens em Idade Escolar» utilizado neste estudo mentos de provocação.
foi o adoptado no estudo europeu em 1998 (Cur- Violência fora da escola. Avaliada por 4
rie, Hurrelmann, Settertobulte, Smith & Todd, itens (α = .68). Os alunos foram questionados
2000; Matos, Simões, Carvalhosa, Reis & Ca- sobre quantas vezes nos últimos 12 meses (a)
nha, 2000). Foram incluídas as questões demo- «estiveste envolvido numa luta?», (b) «com
gráficas e um conjunto adicional de questões so- quem lutaste?», (c) «estiveste envolvido numa
bre a imagem do corpo, a violência, o conheci- luta na qual sofreste uma lesão e tiveste que ser
mento e a atitude face ao VIH/SIDA, consumo tratado por um médico ou enfermeiro?» e «Nos
de drogas ilícitas e representações dos factores últimos 30 dias, quantos dias andaste com uma
de risco e protectores a ela associados e ainda a arma, como por exemplo uma navalha ou uma
actividade física. pistola, para defesa pessoal?». As opções de
526
QUADRO 1
Indicadores derivados do questionário «Comportamento e Saúde em Jovens em Idade Escolar»
DROGAS Já alguma veste tomaste haxixe, erva Quanto menor é o valor 0.71
Já alguma vez tomaste estimulantes deste indicador, mais
Já alguma vez tomaste heroína, ópio consome.
Já alguma vez tomaste medicação usada como droga
Já alguma vez tomaste cocaína
Quantas vezes consumiste drogas no último mês
527
ESCOLA Gosta da escola Quanto menor é o valor 0.73
Cansado de manhã deste indicador, mais
Bom lugar ele gosta da escola.
Participam na decisão das regras
Regras são justas
Tratados com severidade
Pertence à escola
Professores: pontos de vista
Professores: tratam com justiça
Professores: ajudam
Professores: interessam-se por mim
Professores: esperam demais de mim
É aborrecido
Faltar às aulas
Percepção de segurança
NÍVEL SOCIO- Qual a profissão do teu pai Quanto menor é o valor deste 0.77
-ECONÓMICO Qual a profissão da tua mãe indicador, maior é o nível
socio-económico.
resposta incluíam: 1 = não a 5 = várias vezes /pes- dos baixos indicam elevados sintomas de depres-
soas /dias. Resultados elevados indicam elevada são. Relativamente às queixas de sintomas físi-
violência fora da escola. cos e psicológicos, os alunos foram questionados
Relação com os pais. Avaliada por 4 itens sobre quantas vezes nos últimos 6 meses senti-
(α = .65). Os sujeitos foram questionados sobre ram (a) «dores de cabeça», (b) «dores de estôma-
com que à vontade é que se sentem para falar go», (c) «dores nas costas», (d) «irritabilidade»,
sobre os temas que os preocupam com (a) «pai» (e) «nervosismo», (f) «dificuldade em adorme-
e (b) «mãe», «se eu tiver problemas na escola, os cer» e (g) «tonturas». As opções de resposta
meus pais estão prontos a ajudar» e «os meus incluíam: 1 = quase todos os dias a 5 = raramen-
pais encorajam-me a ter bons resultados». As op- te ou nunca. Resultados baixos representam ele-
ções de resposta incluíam: 1 = sempre/muito fá- vadas queixas de sintomas físicos e psicológicos.
cil a 5 = nunca/não tenho ou não vejo essa pes- Consumo de substâncias. Foi avaliado em
soa. Resultados baixos indicam boa relação com separado o consumo de drogas (6 itens, α = .71)
os pais. e o de álcool e tabaco (6 itens, α = .83). Relati-
Relação com os pares. Avaliada por 9 itens vamente ao consumo de drogas os alunos foram
do HBSC (α = .63), em que se questionavam os questionados sobre se alguma vez tinham toma-
sujeitos sobre a qualidade da sua relação com os do (a) «haxixe, erva», (b) «estimulantes», (c)
colegas (ex.: «é fácil ou difícil para ti arranjares «heroína, ópio, “crack”, morfina», (d) «medica-
novos amigos?»). As opções de resposta incluí- ção usada como droga», (e) «cocaína» e uma úl-
am: 1 = muito fácil /sempre a 5 = muito difícil tima questão em que eram inquiridos sobre
/nunca. Resultados baixos indicam boa relação «quantas vezes consumiste drogas no último
com os pares. mês?». As opções de resposta incluíam: 1 = sim
Saúde mental. Foi avaliado em separado a /várias vezes e 2 = não /nenhuma. Resultados
frequência de sintomas de depressão (6 itens do baixos indicam elevados consumos de drogas.
HBSC, α = .75) e as queixas de sintomas físicos Relativamente ao consumo de tabaco e álcool, os
e psicológicos (7 itens do HBSC, α = .68). No alunos foram questionados sobre «quantas vezes
que diz respeito à frequência de sintomas de de- fumas tabaco presentemente?», «quantos cigar-
pressão, os alunos foram questionados sobre, por ros fumas por semana?», com que frequência be-
exemplo, «Nos últimos seis meses com que fre- bes (a) «cerveja», (b) «vinho» e (c) «bebidas es-
quência te sentiste deprimido». As opções de res- pirituosas» e «já alguma vez ficaste embriaga-
posta incluíam: 1 = sempre a 5 = nunca. Resulta- do?». As opções de resposta incluíam: 1 = todos
528
os dias a 5 = nunca. Resultados baixos indicam interna (α = .77). Resultados baixos indicam ele-
elevados consumos de substâncias. vado nível socio-económico.
Factores de protecção. Considerámos como
factores de protecção aqueles comportamentos
que promovam a saúde, como a prática de exer- 3. RESULTADOS
cício físico ou a imagem corporal. Avaliado por
7 itens (α = .65). Os sujeitos eram questionados Para efeitos de análise e tratamento estatístico
sobre, por exemplo, «Fora das horas da escola, dos dados, foram utilizados diversos procedi-
quantas vezes costumas fazer exercício físico su- mentos e análises, disponíveis no programa «Sta-
ficiente para ficares ofegante e a transpirares?». tistical Package for Social Sciences – SPSS –
Resultados baixos indicam elevados factores de Windows» (versão 9.0).
protecção.
Atitudes face à escola. Foi avaliado por 15 3.1. Comportamento de bullying
itens (α = .73). Os sujeitos eram questionados
sobre a sua escola, como por exemplo «presen- 47.4% dos sujeitos afirmam já ter sido vítimas
temente, o que sentes pela escola?». As respostas de bullying e 36.2% já terem provocado colegas
incluíam sempre 5 opções: 1 = sempre a 5 = nun- mais novos ou mais fracos.
ca. Resultados baixos indicam uma atitude favo- De acordo com as respostas às questões rela-
rável face à escola. tivas à participação em comportamentos de bul-
Expectativas futuras. Avaliada por 1 item. lying, os sujeitos foram distribuídos em quatro
Os alunos foram questionados sobre «o que pen- grupos: os que não relatam envolvimento (res-
posta «não» às questões de vitimação e de pro-
sas fazer quando acabares a escolaridade obriga-
vocação), os que se definem como provocadores
tória?». As opções de resposta incluíam: 1 = con-
(responderam «uma vez ou mais» à questão de
tinuar os estudos (universidade ou instituto), 2 =
provocação), os que se definem como vítimas
continuar os estudos (curso técnico ou profissio-
(responderam «uma vez ou mais» à questão de
nal), 3 = formação profissional ou negócio, 4 =
vitimação) e os que se definem como simulta-
arranjar emprego, 5 = ficar desempregado e 6 =
neamente vítimas e provocadores (resposta «uma
não sei. Resultados baixos indicam elevadas ex-
vez ou mais» às questões de vitimação e de pro-
pectativas de futuro. vocação). A distribuição da totalidade da amos-
Caracterização socio-demográfica. Para além tra pelos 4 grupos assim definidos encontra-se
do sexo (opções de resposta: 1 = rapaz e 2 = ra- no Quadro 2. A maioria dos sujeitos descreve-se
pariga), escolaridade, idade, e o número de pes- como estando envolvida em comportamentos de
soas que moram em casa, era avaliado o nível bullying (57.5%), e destes apenas 10% se define
socio-económico da família por 2 itens referen- unicamente como provocador. Os rapazes estão
tes à profissão do pai e da mãe. As respostas sempre mais envolvidos do que as raparigas em
abertas a esta questão foram codificadas de acor- comportamentos de bullying (χ2=373.80, g.l.=3,
do com as 5 categorias da Escala de Graffar para p<.001). Os mais novos (χ 2=212.87, g.l.=6,
a profissão (1.º nível – licenciados, directores de p<.001) e os que frequentam anos de escolari-
empresas, profissionais com títulos universitá- dade mais baixos (χ2=257.05, g.l.=6, p<.001)
rios e militares de alta patente; 2.º nível – chefes estão significativamente mais envolvidos em
de secção administrativas, subdirectores, peritos comportamentos de vitimação e em comporta-
e técnicos; 3.º nível – adjuntos técnicos, dese- mentos de duplo envolvimento (como vítimas e
nhadores, caixeiros, contra-mestres, oficiais de como provocadores).
primeira, encarregados, capatazes e mestres de
obras; 4.º nível – operários especializados, moto- 3.2. Perfil diferencial dos quatro tipos de en-
ristas, polícias, cozinheiros, dactilógrafos; 5.º ní- volvimento com o bullying
vel – trabalhadores manuais ou operários não es-
pecializados, jornaleiros, porteiros, contínuos, Para analisar a relação entre os diversos indi-
ajudantes de cozinha, mulheres de limpeza), e cadores e o comportamento de bullying, foi utili-
apresentam um nível aceitável de consistência zada a análise da variância (One-Way ANOVA)
529
QUADRO 2
Distribuição dos sujeitos pelos 4 grupos, comparação por sexo, idade e por nível de escolaridade
M F M F M F M F
30.9% 52.8% 11.2% 9.2% 23.6% 19.5% 34.3% 18.5%
11 13 16 11 13 16 11 13 16 11 13 16
39.0% 35.7% 51.7% 7.8% 10.5% 11.7% 24.1% 22.1% 18.8% 29.1% 31.7% 17.8%
6.º 8.º 10.º 6.º 8.º 10.º 6.º 8.º 10.º 6.º 8.º 10.º
37.3% 37.5% 55.8% 8.3% 11.1% 11.2% 23.4% 22.2% 17.9% 31.0% 29.3% 15.1%
QUADRO 3
Médias das variáveis consideradas nos quatro grupos de sujeitos
Grupos: Nenhum Provocador Vítima Vítimas
envolvimento provocativas
INDICADORES: M M M M
(d.p.) (d.p.) (d.p.) (d.p.)
VIOLÊNCIA FORA DA ESCOLA 1.62a 2.57b 2.20c 3.44d
(1.43) (2.30) (1.88) (2.53)
RELAÇÃO COM OS PAIS 6.95a 7.40b,c 7.27b 7.54c
(2.42) (2.65) (2.62) (2.58)
RELAÇÃO COM OS PARES 16.60a 16.19a 17.79b 17.58b
(4.26) (4.31) (4.96) (4.68)
SAÚDE MENTAL (DEPRESSÃO) 23.96a 23.33b 22.82b 22.37c
(4.23) (4.33) (4.69) (4.53)
SAÚDE MENTAL (SINTOMAS FÍSICOS 4.26a 4.11b 4.10b 4.02c
E PSICOLÓGICOS) (.67) (.75) (.75) (.76)
CONSUMO DE DROGAS 11.92a 11.77b 11.90a 11.86c
(.40) (.80) (.48) (.59)
CONSUMO DE TABACO E ÁLCOOL 28.77a 27.18b 28.85a 27.97c
(3.35) (4.69) (3.06) (3.83)
FACTORES DE PROTECÇÃO 21.40a 20.25b 20,70a,b 20.01b
(4.88) (4.41) (4.84) (4.92)
ATITUDE FACE À ESCOLA 33.09a 35.65b 34.49c 35.74b
(7.50) (8.69) (8.06) (8.03)
EXPECTATIVAS FUTURAS 1.98a 2.27b,c 2.29b 2.47c
(1.71) (1.80) (1.87) (1.91)
NÍVEL SOCIO-ECONÓMICO 6.60a 6.86 6.75 6.94b
(2.36) (2.21) (2.34) (2.25)
SEXO 1.66a 1.48b 1.48b 1.38c
(.47) (.50) (.50) (.49)
IDADE 14.35a 14.39a 13.94b 13.81b
(1.78) (1.62) (1.69) (1.58)
ESCOLARIDADE 2.06a 2.03a 1.86b 1.75c
(.82) (.77) (.77) (.72)
NÚMERO PESSOAS/CASA 3.77a 3.84a,b 3.75a 3.93b
(1.66) (1.78) (1.68) (1.72)
a, b, c, d – Médias com letras desiguais correspondem a grupos significativamente diferentes para p<0.05, de acordo com o teste post-hoc de Tukey
530
para comparar os quatro grupos previamente mais elevados do que o grupo com vítimas pro-
definidos: (a) provocadores, (b) vítimas, (c) víti- vocativas.
mas provocativas e (d) nenhum envolvimento. O Consumo de substâncias. Foram encontradas
Quadro 3 mostra as médias dos quatro grupos diferenças significativas entre os grupos em fun-
nas variáveis consideradas, bem como as com- ção do consumo de drogas (F (3, 6992) = 44.59,
parações Post-hoc (utilizando o teste de Tukey, p<.001) e em função do consumo de tabaco e
p<.05). álcool (F(3, 5982) = 46.51, p<.001). O grupo dos
provocadores apresenta níveis de consumo de
Violência fora da escola. Foram encontradas droga e de tabaco e álcool mais elevados do que
diferenças significativas entre os quatro grupos o grupo sem envolvimento (M = 11.92 e M = 28.77,
ao nível da violência fora da escola (F (3, 6405) respectivamente), do que o grupo das vítimas
= 303.48, p<.001). O grupo sem envolvimento (M = 11.90 e M = 28.85) e do que o grupo com
apresenta níveis de violência fora da escola mais vítimas provocativas (M = 11.86 e M = 27.97).
baixos (M = 1.62) do que qualquer dos outros Factores de protecção. Foram encontradas
grupos, enquanto que o grupo com vítimas pro- diferenças significativas entre os grupos em fun-
vocativas apresenta níveis de violência fora da ção dos factores de protecção (F(3, 1845) = 8.29,
escola mais elevados do que o qualquer outro p<.001). O grupo dos sem envolvimento apre-
(M = 3.44). Os dois outros grupos apresentam senta níveis menos elevados (M = 21.40) de facto-
níveis intermédios de violência fora da escola, res de protecção do que outros grupos (provoca-
sendo no entanto mais elevados os valores para dor: M = 20.25 e vítimas provocativas: M = 20.01).
os provocadores (M = 2.57) do que para as víti- Atitude face à escola. Foram encontradas
mas (M = 2.20). diferenças significativas entre os grupos em
Relação com os pais. Foram encontradas di- função da atitude face à escola (F (3, 6318) =
ferenças significativas entre os grupos em função 45.65, p<.001). O grupo sem envolvimento apre-
da relação com os pais (F (3, 6502) = 20.77, senta a melhor atitude face à escola (M = 33.09)
p<.001). O grupo sem envolvimento apresenta me- e o grupo com vítimas provocativas é o que apre-
lhor relação com os pais (M = 6.95) do que qual- senta a pior atitude face à escola (M = 35.74).
quer dos outros grupos (provocador: M = 7.40; Dentro dos grupos com valores intermédios, os
vítima: M = 7.27 e vítimas provocativas: M = provocadores (M = 35.65) têm uma atitude me-
7.54). O grupo das vítimas apresenta níveis de nos positiva face à escola do que o grupo das ví-
relação com os pais mais elevados do que o gru- timas (M = 34.49).
po com vítimas provocativas. Caracterização socio-demográfica. Foram
Relação com os pares. Foram encontradas di- encontradas diferenças significativas entre os
ferenças significativas entre os grupos em função grupos em função do sexo (F(3, 6803) = 131.76,
da relação com os pares (F (3, 6347) = 36.17, p<.001). O grupo sem envolvimento (M = 1.66)
p<.001). O grupo sem envolvimento e o grupo apresenta resultados mais elevados do que outros
dos provocadores (M = 16.60 e M = 16.19 res- grupos (provocativas: M = 1.48, vítimas: M = 1.48
pectivamente) apresentam melhor relação com e vítimas provocativas: M = 1.38). O grupo com
os pares do que outros grupos (vítima: M = 17.79 vítimas provocativas apresenta resultados mais
e vítimas provocativas: M = 17.58). baixos do que o grupo dos provocadores e do
Saúde mental. Foram encontradas diferenças que o grupo das vítimas. Foram encontradas di-
significativas entre os grupos em função da saú- ferenças significativas entre os grupos em função
de mental, tanto ao nível da frequência de sin- do ano de escolaridade (F(3, 6800) = 68.18, p<.001).
tomas de depressão (F (3, 6520) = 50.58, p<.001) O grupo sem envolvimento (M = 2.06) e o grupo
como das queixas de sintomas físicos e psicoló- dos provocadores (M = 2.03) apresentam resul-
gicos (F (3, 6512) = 42.01, p<.001). Em ambos tados mais elevados do que outros grupos (víti-
os casos o perfil de resultados é idêntico: o gru- mas: M = 1.86 e vítimas provocativas: M = 1.75).
po sem envolvimento apresenta níveis de saúde O grupo com vítimas provocativas apresenta re-
mental mais elevados do que qualquer dos outros sultados mais baixos do que o grupo das vítimas.
grupos, e o grupo dos provocadores e o grupo Foram encontradas diferenças significativas en-
das vítimas apresentam níveis de saúde mental tre os grupos em função da idade (F(3, 6718) =
531
46.63, p<.001). O grupo sem envolvimento (M = rencia do grupo dos provocadores relativamente
14.35) e o grupo dos provocadores (M = 14.39) à relação com os pais, à prática de exercício físi-
apresentam resultados mais elevados do que ou- co e à imagem corporal, à atitude face à escola,
tros grupos (vítimas: M = 13.94 e vítimas provo- às expectativas futuras e ao número de pessoas
cativas: M = 13.81). Foram encontradas diferen- que mora em casa. Mas o grupo das vítimas pro-
ças significativas entre os grupos em função do vocativas relata mais comportamentos de violên-
número de pessoas que mora em casa (F(3, 6803) cia fora da escola, piores relações com os pares,
= 4.25, p<.005). O grupo com vítimas provoca- mais sintomas de depressão e de queixas de
tivas (M = 3.93) apresenta resultados mais ele- sintomas físicos e psicológicos, menores consu-
vados do que outros grupos (vítimas: M = 3.75 e mos de drogas, tabaco e álcool, são mais novos e
sem envolvimento: M = 3.77). Foram encontra- estão em anos de escolaridade inferior do que o
das diferenças significativas entre os grupos, grupo dos provocadores. O grupo das vítimas
sem envolvimento e com vítimas provocadoras, provocativas ainda se diferencia do grupo dos
em função do nível socio-económico (F(3, 3177) provocadores relativamente ao sexo.
= 4.08, p<.007). O grupo sem envolvimento apre- Ainda o grupo das vítimas provocativas tem
senta resultados mais baixos (M = 6.60) que cor- um nível socio-económico mais baixo do que o
respondem a um maior nível socio-económico grupo sem envolvimento.
do que o grupo com vítimas provocativas (M =
6.94).
3.3. Predição dos comportamentos de provo-
Da análise destes resultados podemos concluir cação e de vitimação
que o grupo dos provocadores não se diferencia Resultados da análise de regressão múltipla
do grupo das vítimas no que diz respeito à saúde para a predição do comportamento de provoca-
mental, à relação com os pais, às expectativas
ção e de vitimação a partir dos indicadores (Beta
futuras, ao sexo e ao número de pessoas que mo-
padronizados) (Quadro 4).
ra em casa. Mas o grupo dos provocadores tem
A violência fora da escola, a atitude face à es-
melhores relações com os pares, mostra mais
cola, a idade, o nível socio-económico, o sexo, a
consumos de drogas e de tabaco e álcool, exibe
saúde mental (sintomas físicos e psicológicos) e
mais comportamentos de violência fora da esco-
o consumo de tabaco e álcool explicam 12.3% da
la, pratica mais exercício físico e tem melhor
imagem corporal e apresenta atitudes mais nega- variância do comportamento de provocação
tivas face à escola do que as vítimas. E ainda re- (R²aj=.123, F(7,2084)=42.93, p<.001).
lativamente à idade e ao ano de escolaridade, o A violência fora da escola, a relação com os
grupo dos provocadores é mais velho e estão em pares, a saúde mental (sintomas físicos e psicoló-
anos de escolaridade superiores do que o grupo gicos), a saúde mental (depressão), a relação com
das vítimas. os pais, a idade, o sexo, o nível socio-económico
O grupo das vítimas provocativas não se dife- e a atitude face à escola explicam 18.4% da vari-
rencia do grupo das vítimas relativamente à rela- ância do comportamento de vitimação (R²aj=.184,
ção com os pares e à idade. Mas o grupo das víti- F(9,2080)=53.37, p<.001).
mas provocativas revela mais comportamentos
de violência fora da escola, tem uma pior relação Podemos concluir, do presente estudo, que os
com os pais, apresenta mais sintomas de depres- jovens que mais frequentemente referem não se
são e de queixas de sintomas físicos e psicológi- envolver em comportamentos de bullying são as
cos, consome mais drogas, tabaco e álcool, tem raparigas, os mais velhos e os que frequentam
uma atitude face à escola e expectativas de futu- um nível de escolaridade mais elevado. Este
ro mais desfavoráveis, têm um nível de escola- grupo sem envolvimento no bullying ainda se
ridade inferior e um maior número de pessoas a caracteriza por ser diferente do grupo dos provo-
viver em casa do que o grupo das vítimas. O gru- cadores ou do grupo das vítimas nos indicadores
po das vítimas provocativas ainda se diferencia relativos à violência fora da escola, à relação
do grupo das vítimas relativamente ao sexo. com os pais, à saúde mental (sintomas de depres-
O grupo das vítimas provocativas não se dife- são e queixas físicas e psicológicas), à atitude
532
QUADRO 4
Coeficientes de regressão padronizados (Betas) das equações de regressão que prevêem
os comportamentos de provocação e de vitimação
**P<.001; *P<.05
533
envolvimento duplo; também alunos mais novos que os provocadores (e.g., Olweus, 1993; Suder-
são mais frequentemente vítimas e a frequência mann et al., 2000).
de serem ameaçados diminuiu à medida que au- Quanto às características dos jovens com en-
menta a idade. volvimento duplo, verificou-se que têm índices
No que diz respeito às características dos de violência fora da escola maiores do todos os
provocadores, verificou-se que estes têm índices outros grupos, têm piores relações com os pais
de violência fora da escola maiores que as víti- do que o grupo sem envolvimento (também re-
mas, têm piores relações com os pais do que o ferido por Olweus, 1993 e por Schwartz et al.,
grupo sem envolvimento (tal como referem Sch- 1997) e são aqueles que têm piores relações com
wartz et al., 1997), que são aqueles que de todos pares (e.g., Schwartz et al., 1997). São os que
os grupos – nenhum envolvimento, provocador, exibem, de todos os grupos, mais sintomas de
vítima e envolvimento duplo – revelam melhores depressão (e.g., Kaltiala-Heino et al., 1999) e
relações com os seus pares, ao contrário do que apresentam mais queixas de sintomas físicos e
alguns autores sugerem (e.g., Boulton, 1999; psicológicos (e.g., Rigby & Slee, 1993). Conso-
Greenbaum et al., 1988). Têm mais sintomas de mem mais drogas do que as vítimas e do que os
depressão e maiores queixas de sintomas físicos sem envolvimento, consomem mais tabaco (e.g.,
e psicológicos do que o grupo sem envolvimento Rigby & Slee, 1993) e álcool do que as vítimas,
(confirma os resultados de Forero, McLellan, são aqueles que mais exercício físico praticam e
Rissel & Bauman, 1999; Salmon et al., 1998), que têm melhor imagem corporal. São os que
são os maiores consumidores de drogas e de ta- têm a atitude face à escola mais desfavorável
baco e álcool (também referido por Due et al., (e.g., Rigby & Slee, 1993), têm menores expec-
1999; King et al., 1996), relativamente ao grupo tativas de futuro quando comparados com o gru-
sem envolvimento praticam mais exercício físico po das vítimas e com o grupo sem envolvimento,
e têm melhor imagem corporal. Têm uma atitude têm um nível socio-económico mais baixo do
desfavorável em relação à escola quando compa- que o grupo sem envolvimento (e.g., Schwartz et
rados com as vítimas (e.g., Bosworth et al., al., 1997), são o grupo dos alunos mais novos e
1999; King et al., 1996) e menores expectativas têm menos escolaridade.
de futuro quando comparados com o grupo sem Podemos assim afirmar que o grupo com en-
envolvimento, são o grupo dos alunos mais ve- volvimento duplo é aquele onde se verifica exis-
lhos (e.g., Olweus, 1991, 1993, 1994; Whitney tirem maiores factores de risco, isto porque se
& Smith, 1993) e têm mais escolaridade que as envolvem mais em comportamentos de violência
vítimas (e.g., Olweus, 1994; Sudermann et al., fora da escola, revelam mais queixas de depres-
2000). são e de sintomas físicos e psicológicos. Este
Em relação às características das vítimas, ve- perfil mostra a necessidade de se proporcionar a
rificou-se que são aquelas que têm piores rela- estes jovens acompanhamento adequado, uma
ções com pares (tal como referem Olweus, 1994; vez que de acordo com Spence e Matos (2000),
Schwartz et al., 1999) e com os pais quando os factores de risco parecem ter um efeito não
comparados com o grupo sem envolvimento. apenas aditivo, mas multiplicativo, ou seja a pro-
Têm mais sintomas de depressão e maiores sin- babilidade aumenta consideravelmente quando
tomas físicos e psicológicos (confirmando os es- aumenta o número de factores de risco que afec-
tudos de Griffin, 1999; Pereira et al., 1994), con- tam o jovem.
somem menos drogas, praticam mais exercício Podemos constatar que os determinantes dos
físico e têm melhor imagem corporal. Têm uma comportamentos de provocação são sexo, idade,
atitude mais desfavorável em relação à escola do violência fora da escola, atitude face à escola,
que o grupo sem envolvimento (e.g., Batsche & queixas de sintomas físicos e psicológicos, con-
Knoff, 1994; Boulton & Smith, 1994; DeHaan, sumos de tabaco e álcool e nível socio-económi-
1997), são os que menos tabaco e álcool conso- co. Para os comportamentos de vitimação, os de-
mem (e.g., Due et al., 1999), apresentam meno- terminantes são sexo, idade, violência fora da es-
res expectativas de futuro, são o grupo dos alu- cola, relação com os pares, sintomas de depres-
nos mais novos (e.g., Olweus, 1991, 1993, 1994; são e queixas de sintomas físicos e psicológicos,
Salmon et al., 1998) e têm menos escolaridade relação com os pais, atitude face à escola e nível
534
socio-económico. Assim, os determinantes dos Daqui surge uma proposta para investigações
comportamentos de provocação e de vitimação, futuras, julgamos ser pertinente a realização de
revelam um mal-estar e uma falta de saúde posi- estudos futuros com o objectivo de construir um
tiva entre os jovens envolvidos no bullying. Pe- modelo estrutural, com base na literatura, para os
lo contrário é de realçar que os jovens devem comportamentos de vitimação e de provocação.
possuir saúde positiva e um bem-estar de modo a Ainda sugerimos a utilização de instrumentos,
não se envolverem nestes tipos de comportamen- como o Questionário Provocador/Vítima de Ol-
to. Ainda, em relação à análise do padrão de weus, para mais facilmente se poderem comparar
comportamentos dos jovens que se encontram estudos sobre o bullying sem diferenças na ope-
duplamente envolvidos, é de realçar um exagero racionalização deste conceito.
de mal-estar, como já foi referido.
A violência fora da escola ser um determinan-
te dos comportamentos de provocação e de viti- REFERÊNCIAS
mação, explica que também fora da escola os in-
divíduos se envolvem em comportamentos anti- Arnette, J., & Walsleben, M. (1998). Combating fear
sociais. Isto dá-nos a entender a dimensão que and restoring safety in schools. Retirado em 30 de
Maio de 2000 da World Wide Web: www.tyc.state.
este problema pode atingir se não forem tomadas
tx.us
medidas adequadas para o prevenir. Batsche, G. M., & Knoff, H. M. (1994). Bullies and
Uma outra sugestão que estes resultados nos their victims understanding a pervasive problem in
fornecem é a de que enquanto os consumos de the schools. Retirado em 9 de Setembro de 1999 da
substâncias como tabaco e álcool conduzem à pro- World Wide Web: ector.colorado.edu
vocação, são os sintomas de depressão, a relação Beck, G. (1995). Bullying among young offenders in
custody. Retirado do PsycLIT: Bullying and Delin-
com pares e com pares que levam à vitimação.
quency.
Isto é, é notória a diferença entre o tipo de com- Bosworth, K., Espelage, D., & Simon, T. (1999).
portamento externalizante dos provocadores e o Factors associated with bullying behavior in mid-
internalizante das vítimas. dle school students. Journal of Early Adolescence,
A escola, segundo Pereira et al. (1994), deve 19 (3), 341-362.
ser um local de bem-estar e de aprendizagem, Boulton, M. (1999). Concurrent and longitudinal rela-
então a escola deve ser um dos principais mo- tions between children’s playground behavior and
social preference, victimization, and bullying.
bilizadores do combate ao bullying afim de os Child Development, 70 (4), 944-954.
jovens se poderem sentir bem e de poderem rea- Boulton, M. J., & Smith, P. K. (1994). Bully victim
lizar as suas aprendizagens. Isto que vai estar de problems in middle-school children: stability, self-
acordo com a medida 13 das recomendações da perceived competence, peer perceptions and peer
O.M.S., segundo a qual «no ano 2015, os habi- acceptance. Retirado em 9 de Setembro de 1999 da
tantes da região europeia deverão ter maiores World Wide Web: ector.colorado.edu
Currie, C., Hurrelmann, K., Settertobulte, W., Smith,
oportunidades para viver em envolvimentos R., & Todd, J. (2000). Health and health behaviour
físicos e sociais mais saudáveis, tanto em casa among young people. HEPCA series: World Health
como na escola, no local de trabalho e na comu- Organization.
nidade local». É pois determinante o papel das DeHaan, L. (1997). Bullies. Retirado em 24 de Maio de
escolas na promoção da saúde e na prevenção da 2000 da World Wide Web: ndsuext.nodak.edu
violência. Dodge, K. A., Bates, J. E., & Pettit, G. S. (1990). Me-
chanisms in the cycle of violence. Science, 250,
Em conclusão, este estudo vem realçar as 1678-1683.
características dos jovens que provocam outros Due, E., Holstein, B., & Jorgensen, P. (1999). Bullying
na escola e dos que são provocados e os factores as health hazard among school children. Retirado
que diferenciam e que determinam estes dois ti- em 14 de Fevereiro de 2000 da World Wide Web:
pos de comportamentos, de modo que as inter- www.ncbi.nlm.nih.gov:80
venções a serem feitas para parar os comporta- Forero, R., McLellan, L., Rissel, C., & Bauman, A.
(1999). Bullying behaviour and psychosocial
mentos de bullying sejam adequadas e direccio-
health among students in New South Wales, Aus-
nadas para as características dos nossos jovens e tralia: cross sectional survey. Retirado em 2 de Fe-
não somente baseados em experiências de outros vereiro de 2000 da World Wide Web: www.bmj.
países. com
535
Greenbaum, S., Turner, B., & Stephens, R. (1988). Set Salmon, G., James, A., & Smith, D. M. (1998). Bullying
straight on bullies. Retirado em 9 de Setembro de in schools: self reported anxiety, depression, and
1999 da World Wide Web: ector.colorado.edu self esteem in secondary school children. Retirado
Griffin, H. T. (1999). School bullies the target of new em 16 de Fevereiro de 2000 da World Wide Web:
prevention program. Retirado em 23 de Maio de www.bmj.com
2000 da World Wide Web: www.ministers.sa.gov.au Schwartz, D., Dodge, K. A., Pettit, G. S., & Bates, J. E.
Kaltiala-Heino, R., Rimpelä, M., Marttunen, M., (1997). The early socialization of aggressive vic-
Rimpelä, A., & Rantanen, P. (1999). Bullying, tims of bullying. Child Development, 68 (4), 665-
depression, and suicidal ideation in finnish adoles- 675.
cents: school survey. British Medical Journal, 319, Schwartz, D., McFadyen-Ketchum, S., Dodge, K. A.,
348-351. Pettit, G. S., & Bates, J. E.. (1999). Early behavior
King, A., Wold, B., Tudor-Smith, C., & Harel, Y. problems as a predictor of later peer group victi-
(1996). The health of youth: A cross-national sur- mization: moderators and mediators in the path-
vey. Canada: World Health Organization. ways of social risk. Journal of Abnormal Child
Kuther, T. L., & Fisher, C. B. (1998). Victimization by Psychology, 27 (3), 191-201.
community violence in young adolescents from a Spence, S., & Matos, M. (2000). Intervenções preven-
suburban city. Journal of Early Adolescence, 18 tivas com crianças e adolescentes. In M. Matos, C.
(1), 53-76. Simões, & S. Carvalhosa (Org.), Desenvolvimento
Matos, M., & Carvalhosa, S. (2001). Violência na esco- de competências de vida na prevenção do desajus-
la: vítimas, provocadores e outros. 2, 1. FMH/ tamento social. Lisboa: IRS/MJ.
PEPT/GPT. Sudermann, M., Jaffe, P., & Schick, E. (2000). Bullying
Matos, M., Simões, C., Carvalhosa, S., Reis, C., & Ca- information. Retirado em 23 de Maio de 2000 da
nha, L. (2000). A saúde dos adolescentes portu- World Wide Web: www.yrbe.edu.on.ca
gueses. Faculdade de Motricidade Humana/PEPT- Sullivan, K. (2000). The anti-bullying handbook. Ox-
Saúde/GPT da CMLisboa. ford University Press: Auckland.
Mellor, A. (1990). Bullying in Scottish secondary Whitney, I., & Smith, P. K. (1993). A survey of the na-
schools. Retirado em 1 de Setembro de 1999 da ture and extent of bullying in junior middle and
World Wide Web: www.scre.ac.uk secondary schools. Retirado em 9 de Setembro de
Mellor, A. (1993). Finding out about bullying. Retirado 1999 da World Wide Web: ector.colorado.edu
em 1 de Setembro de 1999 da World Wide Web: Williams, K., Chambers, M., Logan, S., & Robinson, D.
www.scre.ac.uk (1996). Association of common health symptoms
Mellor, A. (1997). Bullying at school – advice for fami- with bullying in primary school children. British
lies. Retirado em 1 de Setembro de 1999 da World Medical Journal, 313, 17-19.
Wide Web: www.scre.ac.uk
Olweus, D. (1991). Bully/Victim problems among
schoolchildren: Basic facts and effects of a School- RESUMO
Based Intervention Program. Retirado em 9 de
Setembro de 1999 da World Wide Web: ector. O presente estudo pretende caracterizar e diferen-
colorado.edu ciar os jovens provocadores e vítimas nas escolas
Olweus, D. (1993). Bullying at school. Oxford e portuguesas. Numa amostra representativa da popula-
Cambridge: Blackwell. ção escolar nacional do 6.º, 8.º e 10.º ano de escolari-
Olweus, D. (1994). Annotation: bullying at school: ba- dade (n=6903), analisaram-se os comportamentos de
sic facts and effects of a school based intervention bullying/provocação em contexto escolar, através do
program. Journal of Psychology and Psychiatry, 43 questionário «Comportamento e Saúde em Jovens em
(7), 1171-1190. Idade Escolar» – versão portuguesa do questionário
Pereira, B., Almeida, A., & Valente, L. (1994). Projecto internacional de 1998, da rede Health Behaviour in
«bullying» – análise preliminar das situações de School-aged Children (HBSC), apoiada pela Organiza-
agressão no Ensino Básico. Comunicação apresen- ção Mundial de Saúde. Os resultados são consistentes
tada no 6.º Encontro Nacional de Ludotecas e Es- com os de outros estudos sobre a diferença entre se-
paços de Jogo ao Ar Livre, Lisboa, Portugal. xos, idades e anos de escolaridade – os rapazes, os
Peters, R., & McMahon, R. (Eds.) (1996). Preventing mais novos e os de anos de escolaridade mais baixos
childhood disorders, substance abuse, and delin- estão mais envolvidos no bullying. Confirmam-se as
quency. Sage Publications. características, referidas também na literatura exis-
Rigby, K., & Slee, P. T. (1993). Dimensions of inter- tente, dos provocadores (afastamento em relação à fa-
personal relation among Australian children and mília e à escola, bom relacionamento com os pares,
implications for psychological well-being. Retirado consumo de substâncias e exibição de sintomas físicos
em 16 de Fevereiro de 2000 da World Wide Web: e psicológicos e depressão), das vítimas (afastamento
www.ncbi.nlm.nih.gov em relação à escola, problemas no relacionamento com
536
os pares, exibição de sintomas físicos e psicológicos e School-aged Children» – Portuguese version from the
depressão) e das vítimas provocativas (afastamento em 1998 international survey Health Behaviour in School-
relação à família e à escola, problemas no relaciona- aged Children (HBSC), under the auspices of the
mento com os pares e exibição de sintomas físicos e World Health Organization.
psicológicos e depressão). Apresentam-se os determi- The results confirm other studies, taking in account
nantes para os comportamentos de provocação (sexo, the differences between sex, age and scholarship. The
idade, violência fora da escola, atitude face à escola, younger boys and those with lower scholarship are
sintomas físicos e psicológicos, consumo de tabaco e more involved in bullying. As referred in existing lite-
álcool e nível socio-económico) e de vitimação (sexo, rature, we confirmed the characteristics of bullies
idade, violência fora da escola, relação com os pares, (disconnection from family and school, good relation-
depressão e sintomas físicos e psicológicos, relação ships with peers, substance use and physical and psy-
com os pais, atitude face à escola e nível socio-econó- chological symptoms and depression), their victims
mico). (disconnection from school, problems in relationships
Palavras-chave: Bullying, provocadores, vítimas, with peers and physical and psychological symptoms
escola, pares, adolescentes. and depression) and of the provocative victims (dis-
connection from family and school, problems in rela-
tionships with peers and physical and psychological
symptoms and depression). The causes for bullying
ABSTRACT behaviours (sex, age, violence outside school, attitude
toward school, physical and psychological symptoms,
The present study has been achieved in order to alcohol and tobacco use and socio-economic status)
characterize and to show the difference between young and victimization (sex, age, violence outside school,
bullies and their victims in Portuguese schools. It is an peer relations, depression and physical and psycho-
analysis on a representative sample of the national logical symptoms, family relations, attitude toward
scholar population from the 6th, 8th and 10th grades school and socio-economic status) are described.
(n=6903), of bullying behaviours in school environ- Key words: Bullying, bullies, victims, school, peers,
ment, using the questionnaire on «Health Behaviour in adolescents.
537