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A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS CONSTITUIÇÕES PÓS

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

THE EVOLUTION OF FUNDAMENTAL RIGHTS IN THE POST-INDEPENDENCE


CONSTITUTIONS OF BRAZIL

Priscila Souza Maciel1

RESUMO
O presente trabalho buscou traçar a evolução constitucional do Brasil, seguindo uma
ordem histórica e doutrinária, que formaram o perfil das instituições nacionais.
Passando pelas Constituições de 1824 a 1988, verifica-se a construção de um país
que anseia por direitos e garantias fundamentais como a liberdade, a saúde, a
educação, o emprego e a moradia, entre outros. Tendo como objetivo demonstrar a
história como uma linha do tempo, apresenta-se, entre outros, os diferentes poderes,
constituições, separação de poderes, organização do Estado e direitos do homem.
Justifica-se assim a escolha do tema ao verificar a importância de conhecer parte da
história do Brasil, que continua em busca de sua construção e fundamentos, pois
ainda continua em formação, mesmo depois de tantos anos de renovações,
problemas e soluções, sem ter ainda se firmado totalmente. Como metodologia de
pesquisa, elegeu-se a Revisão de Literatura, com dados de doutrinas, legislação e
artigos científicos publicados em bancos de dados jurídicos.

Palavras-chave: Constituições. Evolução histórica. Direitos Fundamentais.

ABSTRACT
The present work sought to trace the constitutional evolution of Brazil, following a
historical and doctrinal order, which formed the profile of national institutions. Passing
through the Constitutions from 1824 to 1988, there is the construction of a country
that yearns for fundamental rights and guarantees such as freedom, health,
education, employment and housing, among others. Aiming to demonstrate history
as a timeline, it presents, among others, the different powers, constitutions,
separation of powers, organization of the State and human rights. Thus, the choice of
the theme is justified when verifying the importance of knowing part of the history of
Brazil, which continues in search of its construction and foundations, as it is still in
formation, even after so many years of renovations, problems and solutions, without
having still fully established. As a research methodology, Literature Review was

1
Docente do curso de Direito da Faculdade do Guarujá – 2º semestre/2020.
chosen, with data on doctrines, legislation and scientific articles published in legal
databases.

Keywords: Constitutions. Historic evolution. Fundamental Rights.

1. Introdução
São em número de oito as Constituições que o Brasil já teve durante a sua
história como um país independente e, em todas elas, os Direitos Fundamentais
estiveram presentes, com menor ou maior expressão, mas sempre expresso
constitucionalmente. Ampliou-se a cada nova Constituição, em uma linha crescente,
ampliando e introduzindo novos direitos fundamentais, acompanhando as mudanças
de acordo com o cenário internacional.
As variadas gerações de direitos foram absorvidas pelas Constituições
nacionais conforme iam surgindo nas diferentes Constituições de outros países e
essa evolução dos direitos fundamentais tornou-se tema desta pesquisa, podendo
formar uma ideia acerca do assunto, conforme se demonstra os principais tópicos
relacionado aos direitos fundamentais através da história do país pós
independência, passando por cada período político-constitucional em que as
Constituições estavam vigentes

2. Dos Direitos Fundamentais e um breve histórico das Constituições


Os direitos fundamentais são inerentes aos indivíduos e vieram para garantir-
lhes bem-estar e liberdades, ou seja, dignidade. Surgiram como uma forma de limitar
o poder do Estado que, em diversos momentos históricos, tornou-se abusivo e
autoritário. Consideram-se os direitos humanos aqueles que foram positivados em
uma determinada lei do Estado (NOVO, 2019).
Contudo, esses direitos não são ilimitados, pois esbarram em outros direitos
já positivados. Para Alexandre de Moraes (2017, p. 45), esses direitos “não podem
ser utilizados como um verdadeiro escudo protetivo da prática de atividades ilícitas,
tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade
civil ou penal por atos criminosos [...]”, pois tais direitos e garantias fundamentais
surgiram lentamente na sociedade para garantir uma melhor qualidade de vida para
os indivíduos, de acordo com a época vivenciada, e não para justificar atos que
estejam em desacordo com a legislação do Estado ou que possam ferir o bom
convívio em sociedade.
Sendo a Constituição é a lei maior de um determinado Estado, é também o
conjunto de normas jurídicas que dita sua criação e tem sua elaboração feita de
acordo com a vontade soberana do povo, por meio de uma Assembleia Nacional
Constituinte. Tem como dever disciplinar a estrutura e organizar o Estado, por meio
de organização dos poderes públicos, cada uma com suas respectivas atribuições e
competências, tratando de direitos e garantias fundamentais, sendo assim a lei
maior que rege a sociedade como um todo.
A independência do Brasil aconteceu em 1822, com o apoio e liderança de
Pedro de Alcântara, o Príncipe D. Pedro I, durante o Primeiro Reinado, e com a
independência do Brasil declarada, o país se transformou em uma monarquia com a
coroação de D. Pedro I (NOVO, 2019).
Foi então outorgada por Dom Pedro I a primeira Constituição brasileira em 25
de março de 1824, concedendo poderes e criando uma organização político-
institucional do país, agora independente. Após convocar uma assembleia
constituinte com a tarefa de elaborar uma Constituição para o Brasil, Dom Pedro I
ordenou em 1823, a dissolução da Assembleia, já que o mesmo encontrava-se
descontente com as propostas de limitação de seus poderes e de definição das
atribuições do Poder Executivo. A tarefa de elaborar uma constituição para o Brasil
foi conferida, então, ao Conselho de Estado, tomando por base o projeto que esteve
em discussão na assembleia constituinte que fora dissolvida.
A história do país pode ser revista por meio das constituições e pelas
emendas que o Brasil, sendo possível visualizar os contextos econômicos, sociais e
políticos do Brasil de cada época, desde a independência até os dias atuais.

A Constituição Política do Império de 1824


Após a independência do Brasil ocorreu uma intensa disputa entre as
principais forças políticas pelo poder: O partido brasileiro, representando
principalmente a elite latifundiária escravista, produziu um anteprojeto, com o apelido
de "constituição da mandioca", que limitava a poder imperial (antiabsolutista) e
discriminava os portugueses (antilusitano) (GROFF, 2017).
Dom Pedro I, apoiado pelo partido português (ricos comerciantes portugueses
e altos funcionários públicos), em 1823 dissolveu a Assembleia Constituinte
brasileira e no ano seguinte impôs seu próprio projeto, que se tornou nossa primeira
constituição. Entre as principais alterações e características, podem ser apontadas:

Nome do país Império do Brasil


Carta outorgada Imposta, apesar ed aprovada por algumas
câmaras municipais da confiança de Dom
Pedro I
Estado Centralizado Monarquia hereditária e constitucional
Quatro poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e
Moderador (exercido pelo Imperador)
Mandato dos senadores Vitalício
Voto censitário e em dois Só para ricos e eleitores da paróquia e
graus eleitores da província
Estado confessional Ligado à igreja, com a religião católica como
religião oficial
Modelo externo Monarquias europeias restauradas após o
Congresso de Viana
Fonte: (GROFF, 2017).

Foi a de maior vigência (durou mais de 65 anos). Foi emendada em pelo ato
adicional de 1834, durante o período regencial, para proporcionar mais autonomia
para as províncias. Essa emenda foi cancelada pela lei interpretativa do ato
adicional, em 1840.
Os direitos estavam positivados nesta Constituição, mas não alcançavam a
população. Segundo Villa (2011, p. 11): “D. Pedro I inaugurou o arbítrio travestido de
defensor das liberdades – a esquizofrenia de um discurso liberal e uma prática
repressiva”.

A Constituição Da República Dos Estados Unidos Do Brasil De 1891

É considerada a primeira Constituição do país a adotar como forma de


governo a república, surgiu dois anos após a queda do imperador Dom Pedro II,
período em que havia perdido o apoio das elites escravocratas da época e seu
governo estava bastante desgastado, pois não havia conseguido uma base social e
nem a adesão dos setores da nova economia cafeeira para manter-se no trono.
Caindo então pois não mais atendia aos interesses das classes dominantes (VILLA,
2011).
Dois anos antes foi proclamada a República, tendo como principal líder o
marechal Deodoro da Fonseca que, por causa da crise enfrentada pelo império, teve
amplo apoio das oligarquias, não havendo, assim, resistência diante da queda da
monarquia.
Essa Constituição teve forte influência da Constituição norte-americana de
1787, pelas ideias republicanas e liberais da época e também nos pensamentos do
filósofo positivista Auguste Comte, que acreditava que a sociedade era regida por
leis fixas e objetivas, tal como a natureza era regida segundo as leis da física, como
a gravidade
Com relação aos direitos fundamentais, esta Constituição manteve os direitos
já garantidos na Constituição anterior e ampliou mais alguns de primeira geração.
Seu ponto de inovação é seu rol demonstrativo de direitos, e a Constituição, em seu
art. 78, deixou em aberto a possibilidade de serem reconhecidos outros: “A
especificação das garantias e direitos expressos na Constituição não exclui outras
garantias e direitos não enumerados, mas resultantes da forma de governo que ela
estabelece e dos princípios que consigna” (LASSALE, 2011).
O ponto marcante de avanço em relação à dignidade da pessoa humana, foi a
inclusão do habeas corpus, no artigo 72: § 22: “Dar-se-ha o habeas-corpus sempre
que o indivíduo soffrer ou se achar em imminente perigo de sofrer violencia, ou
coacção, por illegalidade, ou abuso de poder”. Apesar de limitar-se à liberdade de
locomoção, foi o primeiro instrumento jurídico expresso em uma Constituição com o
intuito de proteger os direitos.
Quanto aos direitos fundamentais positivados também não alcançaram a
população em geral, pois a sociedade era fragilmente organizada, ou seja, os
direitos expressos na Constituição não correspondiam à realidade, pois eram
exercidos apenas por alguns e não pela coletividade.

A Constituição de 1934

Essa foi a segunda Constituição republicana instituída no Brasil e a terceira,


em termos gerais. Teve um período curto na história, durou somente até 1937.
Embora seu texto seja considerado como de regime democrático, ela foi elaborada e
promulgada após um período conturbado em que o presidente provisório, Getúlio
Vargas, governava de forma quase ditatorial depois de ter derrubado o presidente da
República Washington Luís em 1930, após um golpe militar, ou seja, ela veio como
uma forma de legitimar Getúlio Vargas no poder (VILLA, 2011).
Sendo assim, em 16 de julho de 1934, foi promulgada a nova Constituição
que se preocupou em manter os principais fundamentos da Constituição anterior,
como a República, o federalismo e o presidencialismo
Seguindo o mesmo padrão das anteriores, também deu ênfase aos direitos e
às garantias fundamentais, repetindo, em seu art. 113 e incisos, um extenso rol de
direitos individuais, e inovou ao tratar do direito à propriedade, afirmando, em seu
art. 13, XVII, que ele não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo.
Com relação à proteção desses direitos, foi mantido o habeas corpus e criado
o mandado de segurança no art. 13, XXXIII, que protegia o direito líquido e certo não
amparado pelo habeas corpus. Também foi criado o primeiro instrumento de defesa
da cidadania, que era a ação popular que visava à proteção do patrimônio da União,
dos estados e dos municípios contra qualquer ato lesivo (art. 113, XXXVIII).
A grande inovação desta Constituição foi a implementação dos direitos de
segunda geração ou dimensão, que seriam os direitos sociais, que exigiam uma
prestação positiva por parte do Estado para que eles fossem realmente
implementados, promovendo, assim, uma melhoria na qualidade de vida dos
indivíduos. Também se destaca a previsão dos direitos culturais que consolidava
ainda mais o Estado como um “Estado Social” (LASSALE, 2010).

A Constituição de 1937

Essa foi a quarta Constituição brasileira e a terceira após a instituição da


república, bem como a primeira Constituição republicana que teve um caráter
autoritário, outorgada pelo presidente da República Getúlio Vargas em 10 de
novembro de 1937, por meio de um golpe de Estado, o qual, apoiado pelos militares
a permanecer no poder, instaurou o chamado “Estado Novo” (NOVO, 2019).
Ela teve como influência a Constituição polonesa de 1935, e, por isso, a
oposição ao governo autoritário a chamava ironicamente de “Constituição Polaca”, a
qual, segundo Groff (2008, p. 115), “era uma Constituição de cunho fascista,
inspirada no regime fascista italiano e alemão”.
Ela inova ao trazer em seus artigos. 124 a 134 a instituição de diversas
garantias alusivas à família e à educação, à proteção da infância e da juventude e à
assistência do Estado às famílias com poucas condições financeiras (CASTRO,
2010).
Mas, apesar das inovações descritas e a manutenção de muitas conquistas
no âmbito social das constituições anteriores, tais direitos foram frequentemente
desprezados pelo governo autoritário vigente, bem como várias formas de repressão
aos indivíduos, como pena de morte, censura, dissolução de partidos políticos, fim
das eleições, entre outros (CASTRO, 2010).
Conforme o art. 173 com redação determinada pela Lei Constitucional n. 7, de
30 de setembro de 1942, todo pensamento ou posicionamento divergente do
governo estava sendo eliminado e houve uma retração de fato em relação aos
direitos e às garantias fundamentais. Foram suspensos os direitos e as garantias
individuais por causa da declaração do estado de emergência, conforme o art. 186,
sendo revogados somente em 1945 por meio da Lei n. 16, de 30 de novembro de
1945.
A tortura foi utilizada como forma de repressão; proibiram-se o
chamado lockout e o direito à greve, tendo em vista que, de acordo com o art. 139,
foram declarados movimentos antissociais nocivos ao trabalho e ao capital.
Nesse período, o país viveu um intenso e complicado estado de emergência,
e, por isso, os direitos e as garantias fundamentais, mesmos previstos de forma
expressa na Constituição, não alcançaram efetividade.

A Constituição de 1946
Essa Constituição foi promulgada pela Assembleia Constituinte em 18 de
setembro de 1946. Foi a quinta Constituição brasileira, a quarta republicana e a
terceira de caráter republicano-democrático, durante uma redemocratização do
Estado brasileiro que vinha de um governo autoritário desde 1930 (HERKENHOFF,
2014).
Era um governo de incoerências o de Getúlio Vargas, como quando se aliou
durante a Segunda Guerra Mundial contra os países do “Eixo”, representados pela
Alemanha, Itália e Japão, em que a luta era contra a ditadura nazifascista, já que o
Brasil era governado de forma ditatorial.
Outras situações que incomodavam a população deram causa à deposição de
Getúlio Vargas pelos militares, assumindo o governo o então presidente do Supremo
Tribunal Federal José Linhares até a eleição democrática do novo presidente, o
general Gaspar Dutra.
Essa pode ser considerada uma Constituição social, sendo a mais
democrática até o momento, pois novamente assegurava os direitos e as garantias
fundamentais dos cidadãos que, na Constituição anterior, haviam sido restringidos.
Também dava uma maior autonomia aos estados e municípios, o que antes não
acontecia já que havia uma maior concentração de poder na União (LASSALE
2010).
Houve uma restauração dos direitos de primeira e segunda gerações que
haviam sido inseridos nas constituições de 1891 e 1934, além de terem sido
restaurados também os instrumentos jurídicos que protegiam o exercício desses
direitos: habeas corpus, mandado de segurança, ação popular e os princípios da
legalidade e irretroatividade da lei.
Fato importante desta Constituição foi a instituição do princípio da ubiquidade
da justiça tratada no art. 141, § 4º, nos seguintes termos: “A lei não poderá excluir da
apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual”.
Além das referidas restaurações de direitos e da novidade mencionada, foram
inseridos o direito de livre expressão sem medo de ser censurado, o direito à
inviolabilidade do sigilo de correspondências e a liberdade de livre associação para
fins lícitos.
Foi também a primeira Constituição a estender às mulheres o direito de votar,
o que antes, na Constituição de 1934, era restrito apenas àquelas que trabalhavam
de forma remunerada em funções públicas, buscando a igualdade de todos perante
a lei.
Quanto aos direitos sociais, as inovações foram: direito dos trabalhadores à
participação nos lucros da empresa, estabilidade para empregados urbanos e rurais
e indenização em situações de dispensa imotivada. Também houve valorização da
família ao inserir a assistência à maternidade, à infância e à adolescência e às
famílias numerosas, entre outros direitos.
A Constituição de 1967
Foi elaborada e promulgada formalmente pelo Congresso Nacional em 24 de
janeiro de 1967, entrou em vigor em 15 de março de 1967, após o golpe militar no
ano de 1964, que destituiu do poder o então presidente da República João Goulart,
instaurando assim, no Brasil, um regime militar que realizou profundas mudanças na
vida econômica, política e social do país (LASSALE, 2010).
Esse golpe foi apoiado pelos Estados Unidos, pois, após a Revolução
Cubana, o medo era que o comunismo se instalasse no continente americano, e
com isso, na década de 1960, na América Latina, vários regimes democráticos,
foram derrubados por golpes militares com o pretexto de impedirem a expansão do
regime comunista.
No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o
Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição,
poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos
e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
Com isso, visando a dar uma maior legitimidade à ditadura militar, o então
presidente marechal Humberto Castello Branco convocou de forma extraordinária o
Congresso Nacional para a votação do projeto de Constituição. Segundo Groff
(2016, p. 121): “tratava-se de uma convocação autoritária, com to- dos os meios de
pressão e de repressão que não permitiam a livre expressão”.
Novamente, várias conquistas dos cidadãos obtidas ao longo do tempo
foram restringidas por causa do governo autoritário instaurado. Embora fossem
previstos os direitos básicos de liberdade, segurança individual e propriedade, além
de direitos de reunião e associação para fins lícitos, não havia prerrogativas que os
assegurassem, visto que decretos e emendas eram usados para limitá-los ou, até
mesmo, anulá-los.

Emenda Constitucional Nº 1 de 1969


Essa Constituição foi elaborada por uma Junta Militar que reivindicou o poder
constituinte derivado durante o recesso do Congresso, e não houve nenhuma
discussão nem votação, sendo assim outorgada. Não existe um total consenso,
porém, para muitos doutrinadores, era considerada como a Constituição de 1969,
sob o título de Constituição da República Federativa do Brasil, e foi praticamente
uma atualização mais radical da já autoritária Constituição de 1967.
Segundo Lenza (2017, p. 152), “podemos considerar a EC n. 1/69 como a
manifestação de um novo poder constituinte originário, outorgando uma nova Carta,
que ‘constitucionalizava’ a utilização dos Atos Institucionais”.

A Constituição de 1988
A Constituição da República Federativa do Brasil, também chamada de
“Constituição Cidadã”, nome dado por Ulysses Guimarães, que, na época, era o
presidente da Assembleia Nacional Constituinte, foi promulgada em 5 de outubro de
1988 (ALEXANDRINO; PAULO, 2017).
Sendo democrática e liberal, sofreu grande influência da Constituição
portuguesa de 1976 e foi a que demonstrou maior legitimidade popular. Foi a sétima
Constituição do Brasil e a que deu mais ênfase aos direitos e às garantias
fundamentais, na qual o constituinte se preocupou, desde o seu preâmbulo, a
valorizar a dignidade da pessoa humana.
Segundo Lenza (2017, p. 157):
No preâmbulo da CF/88 foi instituído um Estado Democrático, destinado a
assegurar os se- guintes valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias:
o exercício sociais e individuais; a liberdade; a segurança; o bem-estar; o
desen- volvimento; a igualdade; a justiça.

Foi grande a importância dada por esta aos direitos e às garantias


fundamentais que eles foram posicionados no seu texto, antes mesmo da
organização do Estado, o que não ocorria nas constituições anteriores.
No título I (Princípios Fundamentais), há grande menção aos direitos,
principalmente, como mencionado anteriormente, em seu preâmbulo. O foco do
título II (Direitos e Garantias Fundamentais), no qual o constituinte quis mostrar a
importância desses direitos.
Segundo Groff (2017, p, 101): “além dos direitos fundamentais constituírem os
princípios fundamentais da Constituição, eles se encontram presentes de uma forma
direta ou indireta em todo corpo da Constituição”. Isso demonstra que ela está em
conformidade com os principais pactos internacionais sobre os direitos humanos e
também está na mesma linha da Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948.
Além dos direitos já expressos nas constituições anteriores, tanto os direitos e
as garantias individuais como os direitos sociais e coletivos, a Constituição de 1988,
além de trazer significativas inovações, preocupou-se em garantir de forma mais
efetiva o exercício deles, de modo que pudessem se tornar realidade (CASTRO,
2010),
Um ponto importante a ser considerado acerca da valorização dos direitos e
das garantias fundamentais foi a elevação deles ao status de cláusula pétrea,
definido no art. 60, § 4º. A grande inovação trazida por esse texto constitucional de
forma expressa foi a aplicabilidade imediata desses direitos, conforme consta no art.
5º, § 1º: “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata”.
Primeiramente, essa eficácia imediata vincula o Estado aos seus órgãos, de
modo a garantir, por meio de políticas públicas, o exercício desses direitos por parte
dos indivíduos, o que seria a chamada eficácia vertical dos direitos fundamentais.
Também ela vincula os particulares que constituem a chamada eficácia horizontal
desses direitos (GROFF, 2017).
Outra grande novidade foi a positivação dos direitos de terceira e quarta
gerações ou dimensões, o que nas constituições anteriores não era previsto, como:
direitos de solidariedade ou fraternidade, direito a um meio ambiente equilibrado,
direito a uma saudável qualidade de vida, direito à democracia, à informação,
pluralismo político, entre outros.
Em relação à proteção ao exercício desses direitos, os remédios
constitucionais, ela reitera os já consagrados anteriormente e propõe inovações.
Dessa forma, no seu art. 5º, estão dispostos habeas corpus, mandado de
segurança, ação popular, direito de certidão, direito de petição, habeas data,
mandado de injunção e mandado de segurança coletivo. Isso mostra a preocupação
clara que o constituinte teve em tentar garantir esses direitos que foram quase que
totalmente suprimidos no período autoritário anterior (MORAES, 2017).
Outras situações expressas nessa Constituição merecem destaque: direito ao
voto pelos analfabetos, voto facultativo para os jovens de 16 a 18 anos e direitos e
garantias dos trabalhadores, como redução da jornada de trabalho, licença-
maternidade, licença--paternidade, direito à greve, entre outros. Os trabalhadores
rurais e domésticos foram inseridos nos direitos trabalhistas, o que antes não era
previsto.
Trouxe ainda grandes conquistas de direitos e proteção em relação às
minorias, como crianças, jovens, idosos, mulheres, negros, índios e pessoas com
deficiência.
Foi o marco de um novo período na história do Brasil, pois se iniciava a Nova
República. O país voltava à democracia após mais de 20 anos de ditadura, em que a
repressão, a censura e o autoritarismo imperavam, os direitos e as garantias
fundamentais eram deixados de lado em prol de uma política nacional em que o
pensamento divergente do estabelecido pelo governo era extirpado, os atos de
censura eram acobertados legalmente por meio dos atos institucionais, tudo em
nome da ordem e do progresso (GROFF, 2017).
O intuito agora era de firmar a democracia, em que todos realmente seriam
iguais perante a lei, em que a dignidade da pessoa humana seria garantida por meio
de políticas sociais.

Considerações finais
O presente trabalho apresentou uma breve explanação sobre a evolução dos
direitos e das garantias fundamentais ao longo da história das constituições
brasileiras, desde a Constituição do Império de 1824 até a Constituição de 1988,
vigente na atualidade e chamada de Constituição Cidadã.
Notou-se que desde o início, houve uma tentativa de valorizar o cidadão, pois,
já na primeira constituinte, foram inseridos direitos fundamentais, conforme o que
ocorria em outros países do mundo mas, por muito tempo, desses direitos não
alcançaram a população em geral, mas os indivíduos já começavam a sentir que
precisavam reivindicar seus direitos perante o Estado que, em vários momentos na
história do Brasil, foi repressivo e autoritário.
Nas constituições que se seguiram, verifica-se que novos direitos foram
inseridos e o Estado passou a ser exigida uma posição para garantir o exercício
desses direitos e melhorar a qualidade da condição humana.
Houve, também, momentos de autoritarismo, onde as conquistas recuavam e,
os direitos e as garantias fundamentais, até então conquistados lentamente pela
sociedade, começaram a ser reprimidos, voltando assim o Estado a intervir na
sociedade de forma a garantir seu poder, às custas das liberdades individuais e
coletivas. Retrocedeu-se e o Brasil passou a andar na contramão das tendências
internacionais de valorização dos direitos humanos.
Com a revolta da população contra o Estado autoritário e a busca pelo
exercício dos seus direitos, reivindicou-se a volta do Estado democrático, com
liberdade e autonomia e uma efetiva participação popular nas decisões do Estado.
Conclui-se que excetuando-se os períodos de ditadura, o Brasil buscou
caminhar na linha de direitos e garantias ao cidadão conforme países importantes,
sempre com a valorização da dignidade da pessoa humana e que o que vemos é a
positivação dos direitos e garantias não é suficiente para melhorar a qualidade de
vida do homem, mas não se vê implementação de políticas públicas por parte do
Estado para sua efetividade.
A Constituição de 1988 tem um amplo rol de direitos e garantias
fundamentais, mas ainda não possui a capacidade de garantir uma melhor qualidade
de vida dos indivíduos, sendo necessário que o cidadão exija do Estado as
condições necessárias para o exercício dos direitos, bem como as condições para
uma melhor qualidade de vida.

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NOVO, B. N. et al. As constituições brasileiras. São Paulo: Saraiva Epub, 2019.

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