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Tempo Espaço Personagens Estado do poeta

Ao anoitecer. Sombras. As ruas Bulício, Tejo, maresia. Infere-se: muita gente nas ruas. Soturnidade e melancolia. Desejo
de Lisboa. absurdo (injustificado) de sofrer.
Infere-se: o aproximar da noite Céu baixo e de neblina. Gás Turba Enjoo pelo gás extravasado. Infere-
(iluminação, edifícios onde se extravasado, cheiro a gás. se a tristeza do Poeta, provocada
prepara o jantar, pessoas a Edifícios e chaminés. Cor pela cor monótona e londrina.
caminho de casa). monótona e londrina.
Ao fundo, carros de aluguer, A felicidade dos que partem, em
em direção ao comboio. oposição à infelicidade dos que
ficam, entre os quais o Poeta.
O Poeta manifesta desejo de
evasão para capitais europeias
onde é possível chegar de comboio.
A felicidade está onde não se está.
Ao cair das badaladas (velha A casa de madeira parecem Infere-se a existência de pessoas no
tradição, anunciando o fim do gaiolas. As casas são interior das casas. Os mestres
trabalho com o toque dos sinos). como viveiros, nelas se carpinteiros saltam de viga em viga,
amontoam as pessoas. como morcegos, abandonando o
trabalho.
Boqueirões, becos. Cais a que Os calafates, aos magotes, de O Poeta, a cismar, por boqueirões,
se atracam botes. jaquetão ao ombro, enfarruscados, por becos. O Poeta erra pelos cais a
secos, regressam a casa. que se atracam botes.
Tempo de evasão: recuo ao Espaço de evasão: os Evasão: mouros, heróis A realidade dura faz o Poeta ter
tempo dos Descobrimento Descobrimentos ressuscitados. Camões a salvar Os consciência da necessidade que
Lusíadas a nado. sente de evasão.
Fim da tarde, Hora de jantar No mar, vogam os escaleres de Infere-se a presença dos ingleses, nos O Poeta declara-se incomodado
um couraçado inglês. Em terra couraçados, os privilegiados da sorte com o fim de tarde.
serve-se o jantar nos hotéis da a jantar nos hotéis da moda.
moda.
Um trem de praça (onde Dois dentistas (arengam num trem Poeta revela simpatia pelos
arengam dois dentistas). As de praça). Um trôpego arlequim (um desfavorecidos e hostilidade para
varandas das casas. As lojas. desfavorecido da sorte) braceja com os bafejados pela sorte.
numas andas. Os querubins do lar (a
criançada, à espera dos pais, aos
saltinhos, nas varandas). Os
comerciantes, em cabelo
(descompostos), enfadam-se, à porta
das lojas, por falta de clientes.
Arsenais e oficinas. O rio a O operariado deixa o trabalho e Infere-se: o Poeta mostra ter
reluzir, viscoso. regressa a casa. As obreiras, consciência da vida miserável das
apressadas. As varinas, em grupo, varinas, mas também de que elas
hercúleas, galhofeira não têm consciência disso (a
felicidade está na ordem inversa da
consciência).
As varinas, de troncos fortes como O Poeta comisera-se com a vida
pilastras, agitam, ao andar, as ancas das varinas e antevê a desgraça dos
opulentas. Os filhos das varinas (que seus filhos, que antevê a
elas embalam à cabeça), vão dentro naufragarem nas tormentas. O
das canastras. Poeta, consciente, sofre pelas
varinas, que não revelam ter
consciência da realidade que as
afeta.
As varinas trabalharam, de manhã à
noite, nas descargas de carvão, nas
fragatas, vão descalças. As varinas
moram num bairro sem condições (aí
miam gatas, o peixe podre gera focos
de infeção).

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