Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Epidemiologia e Saúde dos Povos Indígenas no Brasil (Carlos E..A. Coimbra Jr., Ricardo V. Sant …
Carlos E . A . Coimbra, Jr
Saúde e Povos Indígenas (Ricardo V. Sant os and Carlos E. A Coimbra Jr., edit ors)
Carlos E . A . Coimbra, Jr
Cenários e tendências da saúde e da epidemiologia dos povos
indígenas no Brasil
COIMBRA JR., CEA., SANTOS, RV and ESCOBAR, AL., orgs. Epidemiologia e saúde dos povos
indígenas no Brasil [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; Rio de Janeiro: ABRASCO, 2005.
260 p. ISBN: 85-7541-022-9. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution-Non
Commercial-ShareAlike 3.0 Unported.
Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribuição -
Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não adaptada.
Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons
Reconocimento-NoComercial-CompartirIgual 3.0 Unported.
CENÁRIOS Ε TENDÊNCIAS DA SAÚDE
Ε DA EPIDEMIOLOGIA DOS POVOS
INDÍGENAS NO BRASIL
R i c a r d o V e n t u r a S a n t o s , C a r l o s E . A. C o i m b r a Jr.
O s povos i n d í g e n a s n o Brasil a p r e s e n t a m u m c o m p l e x o e d i n â -
m i c o quadro de saúde, d i r e t a m e n t e r e l a c i o n a d o a processos históricos de m u -
danças sociais, e c o n ô m i c a s e a m b i e n t a i s atreladas à expansão e à c o n s o l i d a ç ã o
d e frentes d e m o g r á f i c a s e e c o n ô m i c a s da s o c i e d a d e n a c i o n a l n a s diversas r e g i õ e s
f i c u l t a n d o o u i n v i a b i l i z a n d o a s u b s i s t ê n c i a ; e / o u a p e r s e g u i ç ã o e m o r t e d e indi-
víduos ou m e s m o c o m u n i d a d e s inteiras. N o p r e s e n t e , e m e r g e m outros desafios
à saúde dos povos i n d í g e n a s , q u e i n c l u e m d o e n ç a s c r ô n i c a s não-transmissíveis,
c o n t a m i n a ç ã o a m b i e n t a l e d i f i c u l d a d e s d e s u s t e n t a b i l i d a d e a l i m e n t a r , para c i t a r
uns poucos e x e m p l o s .
o q u e d e c o r r e da e x i g ü i d a d e d e i n v e s t i g a ç õ e s , da a u s ê n c i a d e i n q u é r i t o s e c e n -
sos, a s s i m c o m o da p r e c a r i e d a d e dos s i s t e m a s d e i n f o r m a ç õ e s s o b r e m o r b i d a d e e
m o r t a l i d a d e . Q u a l q u e r d i s c u s s ã o s o b r e o p r o c e s s o s a ú d e / d o e n ç a dos p o v o s i n d í -
g e n a s p r e c i s a l e v a r e m c o n s i d e r a ç ã o , a l é m das d i n â m i c a s e p i d e m i o l ó g i c a e d e -
mográfica, a e n o r m e sociodiversidade existente. S ã o c e n t e n a s de etnias, falantes
d e c e n t e n a s d e l í n g u a s distintas, q u e t ê m e x p e r i ê n c i a s d e i n t e r a ç ã o c o m a s o c i e -
d a d e n a c i o n a l as m a i s diversas. H á d e s d e a l g u n s p o u c o s g r u p o s v i v e n d o a i n d a re-
l a t i v a m e n t e i s o l a d o s n a A m a z ô n i a , a t é o u t r o s c o m significativas p a r c e l a s d e suas
populações vivendo e m cidades c o m o M a n a u s , C a m p o G r a n d e , S ã o Paulo e ou-
tros c e n t r o s d e m é d i o a g r a n d e p o r t e .
C o m b a s e n o s d a d o s d i s p o n í v e i s , n ã o é possível t r a ç a r d e f o r m a satisfató-
DEMOGRAFIA
1
Ainda segundo Azevedo ( 2 0 0 0 ) , do ponto de vista demográfico, a questão primordial já
não é se o contingente populacional indígena está crescendo ou não — em seu conjunto,
sem dúvida está —, mas sim quais são os fatores que explicam o crescimento acelerado
(queda da mortalidade, aumento da fecundidade ou uma combinação de ambos). Consi-
derando a sociodiversidade existente, um outro desafio é caracterizar a multiplicidade de
experiências demográficas das centenas de etnias indígenas no país.
c e r e t a x a s b r u t a s d e n a t a l i d a d e e m o r t a l i d a d e , e s s e n c i a i s para c o m p r e e n d e r a
d i n â m i c a d e m o g r á f i c a , para m o n i t o r a r o perfil d e s a ú d e / d o e n ç a e para p l a n e j a r
a ç õ e s de saúde e e d u c a ç ã o , r a r a m e n t e são disponíveis. Q u a n d o disponíveis, c o -
m o s a l i e n t a R i c a r d o ( 1 9 9 6 : v ) , "... [os d a d o s ] são bastante heterogêneos quanto à
sua origem, data e procedimento de coleta ... Mesmo quando são dados resultan-
tes de contagem direta, via de regra os recenseadores não dominam a língua, não
entendem a organização social nem a dinâmica espacial e sazonal das socieda-
des indígenas, produzindo, portanto, informações inconsistentes e totais errados,
para mais ou para menos".
2
As categorias de "cor ou raça" adotadas pelo I B G K são as seguintes: branco, preto, ama-
relo, pardo e indígena. Sobre os povos indígenas nos censos nacionais no Brasil, ver Aze-
vedo ( 2 0 0 0 ) e Oliveira ( 1 9 9 7 ) .
duos residentes em aldeias sem a presença de agentes governamentais ou de mis-
sionários. Além disso, no censo predomina um "conceito de índio genérico", ha-
ja vista que não são disponibilizadas informações sobre grupos étnicos específi-
cos (Xavánte, Kayapó, Yanomámi, e t c ) .
M e s m o com essas limitações, a inclusão da categoria "indígena" no cen-
so é uma iniciativa de grande importância, sobretudo considerando a escassez de
dados existentes. Desde já os resultados dos dois censos que incluíram a catego-
ria "indígena" ( 1 9 9 1 e 2 0 0 0 ) impõem desafios interpretativos de grande magni-
tude. Por exemplo, os totais de pessoas que se autodeclararam "indígena" nos
censos de 1991 e 2 0 0 0 foram de, respectivamente, 2 9 4 . 1 4 8 e 7 0 1 . 4 6 2 , ou seja,
um crescimento de mais de 1 0 0 % em menos de uma década (Tabela 1). O au-
mento foi bastante desigual, variando de 6 1 , 2 % na Região Norte a 4 1 0 , 5 % na
Região Sudeste. As razões que explicam esse notável incremento são desconhe-
cidas e demandarão um intenso esforço de análise nos próximos anos. Azevedo
& Ricardo ( 2 0 0 2 ) sugerem algumas possibilidades: c r e s c i m e n t o demográfico
real das etnias; aumento da porcentagem de indígenas urbanizados que optaram
pela categoria "indígena" (que talvez se classificaram na categoria "pardo" em
censos anteriores); dupla contagem de indígenas nas cidades e nas terras indíge-
nas, devido a constante mobilidade e m algumas etnias; a p a r e c i m e n t o de um
contingente de pessoas que, ainda que não se identificando com etnias específi-
3
cas, se classificaram genericamente c o m o "indígenas" .
O Instituto Socioambiental (ISA) disponibiliza dados populacionais so-
bre os povos indígenas no Brasil, com desagregação segundo etnia. Os dados do
ISA derivam de levantamento feitos nas comunidades por antropólogos, indige¬
nistas e outros profissionais. Segundo Ricardo ( 2 0 0 0 ) , há aproximadamente 2 1 6
povos indígenas, totalizando cerca de 3 5 0 mil indivíduos, menos de 0 , 5 % da po-
pulação nacional brasileira (ver http://www.socioambiental.org). Quanto ao con-
tingente populacional segundo etnia, a maioria (aproximadamente 6 8 % ) é com-
posta por menos de mil indivíduos. As seis etnias c o m mais de 10 mil indivíduos
( G u a r a n i , Kaingáng, Makuxí, Guajajára, T e r é n a e T i k ú n a ) somam conjunta-
3
Para além dos fatores explicativos desse c r e s c i m e n t o , o trabalho de Pereira et al. ( 2 0 0 2 ) ,
que é u m a análise p r e l i m i n a r das características censitárias básicas e m 1991 e 2 0 0 0 da
população residente e m terras indígenas, aponta para alguns dos desafios metodológicos
e teóricos envolvidos na interpretação dos dados dos censos decenais no tocante aos indí-
genas.
Tabela 1
N ú m e r o d e pessoas q u e se a u t o c l a s s i f i c a r a m c o m o "indígenas", s e g u n d o os c e n s o s
de 1 9 9 1 e 2 0 0 0 , por macrorregiões geográficas.
4
Ver t a m b é m o conjunto de estudos de casos incluído no volume organizado por Adams
& P r i c e ( 1 9 9 4 ) . Pagliaro ( 2 0 0 2 ) apresenta u m a informativa revisão dos estudos sobre
demografia indígena no Brasil.
Estatísticas de m o r t a l i d a d e , n a t a l i d a d e e f e c u n d i d a d e r e p o r t a d a s e m a l g u n s
e s t u d o s d e m o g r á f i c o s s o b r e os povos i n d í g e n a s n o Brasil.
2 0 0 1 ) . K m u m a c o m u n i d a d e q u e t o t a l i z a v a 8 2 5 i n d i v í d u o s , o e s t u d o r e v e l o u al-
tas taxas b r u t a s d e m o r t a l i d a d e ( 9 , 1 p o r m i l ) , s u p e r i o r e s às m é d i a s n a c i o n a i s ( 6 , 7
p o r m i l e m 1 9 9 6 ) e i n c l u s i v e a c i m a das cifras m a i s e l e v a d a s d o p a í s , q u e s ã o as
da R e g i ã o N o r d e s t e ( 7 , 8 p o r m i l e m 1 9 9 6 ) . Κ necessário, contudo, proceder a
c o m p a r a ç ã o d e v a l o r e s d e taxas b r u t a s c o m c a u t e l a , pois as m e s m a s s ã o p a r t i c u -
l a r m e n t e i n f l u e n c i a d a s p e l a c o m p o s i ç ã o e t á r i a q u e , n o c a s o dos X a v á n t e , difere
b a s t a n t e d a q u e l a da p o p u l a ç ã o b r a s i l e i r a . P o u c o m a i s da m e t a d e da p o p u l a ç ã o
X a v á n t e ( 5 6 % ) era c o n s t i t u í d a p o r m e n o r e s d e 15 a n o s d e i d a d e ( m e d i a n a d e 13
a n o s ) . Para o país c o m o u m t o d o , a p o r c e n t a g e m era d e a p r o x i m a d a m e n t e 3 0 %
em 1991.
O c o e f i c i e n t e d e m o r t a l i d a d e i n f a n t i l ( C M I ) p a r a os X a v á n t e ( 8 7 , 1 p o r
m i l ) n o p e r í o d o 1 9 9 3 - 1 9 9 7 a p r e s e n t o u - s e m u i t o m a i s e l e v a d o d o q u e a cifra para
5
M e l c h i o r et al. ( 2 0 0 2 ) analisaram a mortalidade indígena no norte do Paraná. No tocan-
te à mortalidade infantil, concluíram que os níveis são bastante mais elevados que os que
se verificam na âmbito regional e nacional e que a tendência ao longo dos anos 1 9 9 0 foi
de aumento, revelando uma piora do nível de saúde indígena.
o Brasil (37,5 por mil em 1996). A maior parte das mortes ( 5 5 % ) foi de crianças
menores de um ano, que correspondiam a aproximadamente 5% da população
total. A elevadíssima mortalidade nos primeiros anos de vida faz c o m que so-
mente 8 6 % das crianças Xavánte sobrevivam até o décimo ano de vida (Souza &
Santos, 2 0 0 1 ) .
A taxa de fecundidade total ( T F T ) calculada para os Xavánte de Sangra¬
douro foi de 8,6 filhos. Tal padrão de alta fecundidade, c o m T F T s da ordem de
7-8 ou mais filhos, tem sido observado em diversas outras populações indígenas
no país (Early & Peters, 1 9 9 0 ; Flowers, 1 9 9 4 ; M e i r e l e s , 1 9 8 8 ; Pagliaro, 2 0 0 2 ;
Picchi, 1994; Werner, 1983) e está associado a intervalos intergenésicos (i.e., en-
tre os partos) curtos, combinados c o m a iniciação da fase reprodutiva no início
da segunda década de vida, por volta dos 13-14 anos, que se estende não raro até
os 40-45 anos. As T F T s reportadas para diferentes grupos indígenas, incluindo os
Xavánte, mostram-se invariavelmente mais elevadas que aquela da população
brasileira. E m 1996, por exemplo, a Τ Ρ T para o Brasil era de 2,3.
Souza & Santos ( 2 0 0 1 ) argumentam que os elevados níveis de mortali-
dade verificados entre os Xavánte o que parece ser uma situação difundida em
muitos outros grupos indígenas no Brasil, tomando-se por base os estudos de ca-
sos disponíveis, exemplifica a condição de marginalidade socioeconômica a que
estão relegados, onde uma das facetas se manifesta por meio das precárias condi-
ções de saneamento de suas aldeias e inadequados serviços de saúde, comprome-
6
tendo principalmente a saúde e a sobrevivência das crianças .
6
Dois estudos recentes baseiam-se e m dados demográficos coletados ao longo de perío-
dos mais amplos. O trabalho de Heloísa Pagliaro ( 2 0 0 2 ) é u m a m i n u c i o s a investigação
das tendências de crescimento, de mortalidade e de fecundidade da população Kayabi do
Parque Indígena do X i n g u , c o m base na análise de dados coletados pela equipe de Rober-
to G . Baruzzi e colaboradores ao longo de várias décadas. C o i m b r a Jr. et al. ( 2 0 0 2 ) apre-
sentam uma análise da dinâmica populacional dos Xavánte de Pimentel Barbosa c o m fo-
co na crise demográfica que se seguiu ao contato.
expansão, ocasionando a instalação de novos regimes econômicos e a diminui-
ção dos limites territoriais, entre outros fatores, levaram a drásticas alterações
nos sistemas de subsistência, ocasionando, via de regra, empobrecimento e ca-
rência alimentar. Além das etnias c o m parcelas expressivas de suas populações
vivendo em áreas urbanas, portanto não mais produzindo diretamente os ali-
mentos consumidos, há atualmente outras habitando áreas nas quais as pressões
populacionais, aliadas a ambientes degradados, c o m p r o m e t e m a manutenção
da segurança alimentar. Há de se m e n c i o n a r t a m b é m a utilização da mão-de-
obra indígena em muitas regiões, c o m o no corte manual da cana-de-açúcar no
Sudeste ou a extração de borracha nativa na Amazônia, em troca de pagamen-
tos ínfimos que não garantem a aquisição de alimentos em quantidade e quali-
dade satisfatórias.
Para os povos indígenas, a garantia da posse da terra extrapola a subsis-
tência propriamente dita, representando elo fundamental na continuidade socio-
cultural. Ainda que c e r t a m e n t e imbricadas, as relações entre posse da terra e
condições nutricionais das populações indígenas são muito pouco conhecidas no
Brasil. Um dado importante é que 4 0 % dos indígenas vivem nas regiões Nordes-
te, Sudeste e Sul, nas quais estão situadas somente cerca de 2% da extensão das
terras indígenas demarcadas no país. Nas regiões Centro-Oeste e Norte, locali-
zam-se 9 8 % da extensão das reservas, e 6 0 % do contingente indígena (Ricardo,
1999). Não surpreendentemente, levantamento realizado em meados da década
de 9 0 revelou que havia graves problemas de sustentação alimentar em pelo me-
nos um terço das terras indígenas do país, acometendo sobretudo grupos locali-
zados no Nordeste, Sudeste e Sul (Verdum, 1995).
Sabe-se muito pouco sobre a situação nutricional dos povos indígenas.
Por exemplo, as três principais pesquisas nacionais que incluíram a coleta de da-
dos sobre o estado nutricional no país ao longo das últimas décadas — o Estudo
Nacional de Despesa Familiar ( E N D E F ) , realizado em 1 9 7 4 - 1 9 7 5 , a Pesquisa
Nacional sobre Saúde e Nutrição ( P N S N ) , em 1989, e a Pesquisa Nacional sobre
Demografia e Saúde ( P N D S ) , em 1 9 9 6 — não incluíram as populações indíge-
nas c o m o segmento de análise específico. Essas são as principais fontes que têm
permitido análises sobre as transformações no perfil nutricional do país no final
do século X X (Monteiro, 2 0 0 0 ) . O desconhecimento acerca da situação nutricio-
nal dos povos indígenas é preocupante, uma vez que, em decorrência das trans-
formações socioeconômicas que atravessam, relacionadas inclusive à garantia da
posse da terra e segurança alimentar, há uma conjuntura de fatores propiciado¬
res do surgimento de quadros de má-nutrição (Santos, 1 9 9 3 , 1995).
A avaliação da situação nutricional de crianças é um instrumento bas-
tante útil na aferição das condições de vida da população em geral, isso porque
há uma íntima associação entre alimentação, saneamento e assistência à saúde,
dentre outros fatores. C o m relação à ocorrência de desnutrição energética-pro¬
téica em crianças indígenas, o que se sabe advém de inquéritos antropométricos
realizados em algumas poucas comunidades, a maior parte das quais localizadas
na Amazônia. E m geral, os resultados apontam para elevadas freqüências de de-
ficits para o indicador estatura para idade (abaixo de -2 escores z das medianas da
referência do National C e n t e r for Health Statistics — N C H S —, recomendada
pela Organização Mundial da Saúde — O M S ) , o que é interpretado c o m o indi-
cativo de desnutrição crônica. Na maioria dos estudos de casos, as freqüências de
baixa estatura para idade superam os valores reportados para crianças não-indíge¬
nas no Brasil ( 1 0 , 5 % em 1996, segundo Monteiro, 2 0 0 0 ) (Tabela 3). Vale salien-
tar que há uma discussão em curso na literatura acerca da validade de utilizar os
pontos de corte preconizados por organismos internacionais, c o m o as recomen-
dações da O M S em relação à adoção das curvas do N C H S , na avaliação nutri-
cional de crianças indígenas (ver Santos, 1 9 9 3 ; Stinson, 1996).
F r e q ü ê n c i a d e c r i a n ç a s i n d í g e n a s c o m b a i x a e s t a t u r a p a r a i d a d e ( < - 2 e s c o r e s z das m e d i a n a s
da r e f e r ê n c i a d o N C H S ) , r e p o r t a d a s e m a l g u n s e s t u d o s c o n d u z i d o s e n t r e p o v o s i n d í g e n a s
n o Brasil p u b l i c a d o s a partir de 1 9 9 0 .
vendo em zonas rurais das regiões Norte e Nordeste (Prado et al., 1995; Santos et
al., 1996), nas quais estão também localizadas inúmeras etnias indígenas.
Quanto a outras carências nutricionais, vale chamar a atenção para o re-
lato de Vieira Filho et al. (1997) acerca da ocorrência de beribéri entre os Xaván-
te, que esses autores associaram a uma dieta baseada quase que unicamente em
arroz beneficiado. Tal registro é particularmente importante, pois sinaliza para
os graves impactos nutricionais que podem advir de mudanças na dieta de gru-
pos indígenas (devido à diminuição da diversidade alimentar).
Essa breve revisão evidencia importantes lacunas no c o n h e c i m e n t o so-
bre a alimentação e a nutrição de povos indígenas, ao mesmo tempo em que si-
naliza para situações preocupantes. O pouco que se sabe deriva de estudos reali-
zados, sobretudo, na Amazônia. Ε provável que vários problemas nutricionais se-
jam particularmente graves em grupos vivendo nas regiões Nordeste, Sudeste e
Sul, entre os quais tendem a ser maiores as dificuldades de sustentação alimen-
tar devido à reduzida extensão de suas terras, e mesmo em decorrência de uma
inserção socioeconomicamente marginal na periferia de centros urbanos.
DOENÇAS INFECTO-PARASITÁRIAS Ε SAÚDE AMBIENTAL
A t í t u l o d e e x e m p l o , u m o l h a r s o b r e as e s t a t í s t i c a s g e r a d a s n a C a s a d e
S a ú d e d o í n d i o d e G u a j a r á - M i r i m , e m R o n d ô n i a , d e s t i n a d a a o a t e n d i m e n t o da
p o p u l a ç ã o i n d í g e n a q u e h a b i t a as b a c i a s dos rios G u a p o r e e M a m o r e , revela q u e
d u r a n t e a p r i m e i r a m e t a d e da d é c a d a d e 9 0 c e r c a d e 4 0 % dos a t e n d i m e n t o s fo-
r a m o c a s i o n a d o s p e l a m a l á r i a . D u r a n t e o m e s m o p e r í o d o , 1 2 % das i n t e r n a ç õ e s
n a C a s a d e S a ú d e d o í n d i o d e P o r t o V e l h o t a m b é m f o r a m d e v i d a s a essa paras¬-
tose ( E s c o b a r & C o i m b r a J r . , 1 9 9 8 ) (ver t a m b é m S á , 2 0 0 3 ) .
O c a s o Y a n o m á m i é p a r t i c u l a r m e n t e ilustrativo de u m a e p i d e m i a de
m a l á r i a q u e se o r i g i n o u a partir da i n v a s ã o d o t e r r i t ó r i o i n d í g e n a por c e n t e n a s d e
g a r i m p e i r o s , o q u e o c o r r e u na s e g u n d a m e t a d e d o s a n o s 8 0 e i n í c i o da d é c a d a
d e 9 0 . E s s e s invasores n ã o s o m e n t e a l t e r a r a m p r o f u n d a m e n t e o a m b i e n t e , c r i a n -
d o c o n d i ç õ e s p r o p i c i a d o r a s para a t r a n s m i s s ã o da m a l á r i a , m a s t a m b é m introdu-
z i r a m c e p a s d o p a r a s i t o ( e m e s p e c i a l d e P. falciparum) resistentes aos q u i m i o t e ¬
r á p i c o s u s u a i s . S e g u n d o P i t h a n et a l . ( 1 9 9 1 ) , d u r a n t e a p i o r fase da e p i d e m i a ,
c e r c a d e 4 0 % dos ó b i t o s r e g i s t r a d o s e n t r e os Y a n o m á m i i n t e r n a d o s n a C a s a d o
í n d i o d e B o a V i s t a f o r a m d e v i d o s à m a l á r i a . N ã o há e s t a t í s t i c a s c o n f i á v e i s s o b r e
o i m p a c t o da m a l á r i a n a s c o m u n i d a d e s Y a n o m á m i m a i s i s o l a d a s , m a s s a b e - s e
que muitas pessoas m o r r e r a m s e m q u a l q u e r a t e n d i m e n t o .
7
Ver Salzano & Callegari-Jacques ( 1 9 8 8 ) para uma revisão sobre os trabalhos publicados
até o final da década de 8 0 . Mais recentemente, Vieira ( 2 0 0 3 ) apresentou u m a revisão de-
talhada das publicações sobre enteroparasitores c m populações indígenas.
ram prevalências variáveis de infecção por protozoários intestinais, c o m o G i a r ¬
dia lamblia e Entamoeba hystolitica.
As condições ambientais favoráveis à transmissão de helmintos e proto-
zoários intestinais são t a m b é m aquelas que propiciam a contaminação da água
de consumo e dos alimentos por enterobactérias e rotavirus. A presença de diver-
sas cepas patogênicas de enterobactérias e a ocorrência de elevadas taxas de soro-
prevalência para rotavirus têm sido amplamente reportadas para a população in-
dígena em geral, especialmente na Amazônia (Linhares, 1992; Linhares et al.,
1986). E m certas situações, as infecções gastrintestinais chegam a responder por
quase metade das internações hospitalares de crianças indígenas e por até 6 0 %
das mortes em crianças menores de um ano, c o m o sugerem dados dos Xavánte
(Ianelli et al., 1996).
C h a m a a atenção a existência de pouquíssimos estudos sobre a epide-
miologia das leishmanioses em grupos indígenas, considerando-se que, em sua
grande maioria, vivem em áreas endêmicas, e em contextos nos quais podem vir
a interferir nos ciclos enzoóticos do parasita. O único registro de epidemia de
leishmaniose tegumentar documentado na literatura aconteceu entre os Waurá,
no Alto Xingu (Carneri et al., 1963). Outros inquéritos têm apontado para um
padrão no qual predominam reatores fortes à intradermoreação c o m leishmani¬
na, da ordem de 6 0 - 7 0 % , c o m raríssimos casos de d o e n ç a ( C o i m b r a Jr. et al.,
1996b; Lainson, 1988). Deve-se mencionar que surtos de leishmaniose visceral,
de relativa gravidade, têm sido descritos e m Roraima, entre os Makuxí e Yano-
mámi (Castellón et al., 1997).
A oncocercose é outra endemia que, apesar de apresentar uma distribui-
ção na população indígena no Brasil restrita aos Yanomámi e a poucas outras et-
nias situadas na mesma região, alcança elevada prevalência em algumas áreas
(70-80% dos indivíduos em algumas comunidades), requerendo especial atenção
para o seu controle ( C o e l h o et al., 1998; Moraes, 1991; Py-Daniel, 1997; Shel-
ley, 2 0 0 2 ) .
As hepatites constituem importantes causas de morbidade e mortalidade
entre os povos indígenas. Diversos inquéritos têm revelado elevadas prevalências
de marcadores sorológicos para hepatite B . Por vezes, a presença de portadores
crônicos do vírus é numericamente expressiva (Azevedo et al., 1996; Coimbra Jr.
et al., 1996a; A. K. Santos et al., 1995). Nesses casos, não é rara a presença de co-
infecção pelo vírus Delta ( H D V ) , ocasionando óbitos devido a quadros graves de
hepatite aguda. Por exemplo, entre os Mundurukú, no Pará, onde ocorreram vá-
rios óbitos por hepatite, Soares & Bensabath (1991) relataram que cerca de 50%
dos i n d i v í d u o s q u e se e n c o n t r a v a m H B s A g p o s i t i v o s t a m b é m se a p r e s e n t a v a m
positivos para a n t i c o r p o s a n t i - H D V . Λ e p i d e m i o l o g i a da h e p a t i t e C n a s p o p u l a -
ç õ e s i n d í g e n a s a i n d a n ã o foi i n v e s t i g a d a s i s t e m a t i c a m e n t e .
C o i m b r a Jr. et al. ( 1 9 9 6 a ) c h a m a m a a t e n ç ã o para a p r e s e n ç a de i n ú m e -
ras p r á t i c a s c u l t u r a i s d e c u n h o r i t u a l í s t i c o , c o s m é t i c o o u c u r a t i v o ( e s c a r i f i c a ç õ e s ,
t a t u a g e n s , s a n g r i a s , e t c . ) p o r m e i o das q u a i s p o d e o c o r r e r a t r a n s m i s s ã o dos vírus
das h e p a t i t e s Β e D c m sociedades indígenas. Tais práticas, aliadas à interação
c o m g a r i m p e i r o s , m i l i t a r e s e o u t r o s a g e n t e s d e f r e n t e s d e e x p a n s ã o , c o l o c a m as
populações indígenas (em especial alguns grupos) e m condições particularmen-
te v u l n e r á v e i s p a r a a t r a n s m i s s ã o n ã o s o m e n t e d e h e p a t i t e s , c o m o t a m b é m d e
o u t r o s vírus v e i c u l á v e i s p e l o s a n g u e c o m o , p o r e x e m p l o , os retrovirus (ver B l a c k
et al., 1 9 9 4 ; Isliak et al., 1 9 9 5 ; V a l l i n o t o et a l . , 2 0 0 2 e W i i k , 2 0 0 1 para d i s c u s s õ e s
s o b r e o i m p a c t o e a e p i d e m i o l o g i a d e i n f e c ç õ e s p o r HIV e H T L V e m p o p u l a -
ções indígenas).
A p r e e n d e - s e , p o r t a n t o , q u e o c o n t e x t o geral d e m u d a n ç a s s o c i o c u l t u r a i s ,
e c o n ô m i c a s e a m b i e n t a i s n o qual se i n s e r e m os povos i n d í g e n a s n o Brasil d e h o -
j e t e m g r a n d e p o t e n c i a l i d a d e d e i n f l u e n c i a r os perfis e p i d e m i o l ó g i c o s . A revisão
a c i m a s o b r e as p r i n c i p a i s d o e n ç a s i n f e c c i o s a s c parasitárias p r e s e n t e s nas p o p u l a -
ç õ e s i n d í g e n a s lista tão s o m e n t e u n s p o u c o s f r a g m e n t o s d e u m q u a d r o m a i s a m -
plo, c o m p l e x o e multifacetado, a l é m de, e m grande medida, d e s c o n h e c i d o . A
i n e x i s t ê n c i a d e e s t a t í s t i c a s c o n f i á v e i s n ã o p e r m i t e ir a l é m da revisão d e u m c o n -
j u n t o r e l a t i v a m e n t e restrito ( d o p o n t o d e vista g e o g r á f i c o , é t n i c o e e p i d e m i o l ó g i -
c o ) d e e s t u d o s d e c a s o s . Por e x e m p l o , n ã o f o r a m m e n c i o n a d a s i m p o r t a n t e s d o e n -
ças para as q u a i s as i n f o r m a ç õ e s d i s p o n í v e i s n ã o vão m u i t o a l é m d c relatos o r a i s ,
r e s u m o s d e t r a b a l h o s a p r e s e n t a d o s e m c o n g r e s s o s o u r e l a t ó r i o s p r e l i m i n a r e s , se
t a n t o . D e n t r e as m e s m a s , s e m t e n t a r e s g o t a r a q u e s t ã o , m e r e c e m a t e n ç ã o a es¬
q u i s t o s s o m o s e e o t r a c o m a e n t r e i n d í g e n a s n o N o r d e s t e , a h a n s e n í a s e na p o p u l a -
ç ã o i n d í g e n a e m geral ( s o b r e a qual n ã o há p r a t i c a m e n t e i n f o r m a ç ã o n o q u e p e -
se essas p o p u l a ç õ e s e s t a r e m i n s e r i d a s e m c o n t e x t o s s o c i o g e o g r á f i c o s d e m o d e r a -
da a alta e n d e m i c i d a d e ) e a A I D S ( d e n o r t e a sul d o p a í s ) . O t e m a da s a ú d e da
m u l h e r indígena tem sido p o u q u í s s i m o investigado ( C o i m b r a jr. & C a m e l o ,
2 0 0 3 ) , a p e s a r das e l e v a d a s p r e v a l ê n c i a s d c i n f e c ç ã o g i n e c o l ó g i c a por p a p i l o m a v í ¬
rus e Chlamydia r e p o r t a d a s e m a l g u n s e s t u d o s ( B r i t o e t a l . , 1 9 9 6 ; I s h a k et a l . ,
1 9 9 3 ; Ishak & Ishak, 2 0 0 1 ; T a b o r d a et a l . . 2 0 0 0 ) .
O u t r a q u e s t ã o r e l e v a n t e n o c e n á r i o da s a ú d e d o s p o v o s i n d í g e n a s diz
r e s p e i t o a o s i m p a c t o s das m u d a n ç a s a m b i e n t a i s d e c o r r e n t e s da c o n s t r u ç ã o d e
b a r r a g e n s e h i d r e l é t r i c a s c m suas terras o u n a s p r o x i m i d a d e s , a t i v i d a d e s extrati¬
vistas c o m o o g a r i m p o , o u m e s m o a i n t r o d u ç ã o d c n o v a s t e c n o l o g i a s a g r í c o l a s
p o r m o n o c u l t u r a s . K o i f m a n ( 2 0 0 1 ) m a p e i a a l o c a l i z a ç ã o das p r i n c i p a i s h i d r e l é -
s e u s possíveis i m p a c t o s s o b r e a s a ú d e . E s s e a u t o r d i s c u t e a a s s o c i a ç ã o e n t r e e x p o -
s i ç ã o c o n t í n u a aos c a m p o s e l e t r o m a g n é t i c o s g e r a d o s p e l a s r e d e s d c t r a n s m i s s ã o e
O u t r o agravo a m b i e n t a l c o m c o n s e q ü ê n c i a s i m p o r t a n t e s para a s a ú d e
i n d í g e n a d e c o r r e da c o n t a m i n a ç ã o p e l o m e r c ú r i o u t i l i z a d o n o g a r i m p o d e o u r o ,
a m b o s os s e x o s , m e s m o n o s c a s o s e m q u e os g a r i m p o s e s t e j a m s i t u a d o s fora da
t e r r a i n d í g e n a p r o p r i a m e n t e d i t a . E n t r e os M u n d u r u k ú n o P a r á , p o r e x e m p l o ,
os M a k u x í , K a v a p ó e P a k a a n ó v a ( W a r í ) , c o n f i r m a m a a m p l i t u d e d o p r o b l e m a de
MORBI-MORTALIDADE EM TRANSIÇÃO
U m a d i m e n s ã o p a r t i c u l a r m e n t e p o u c o c o n h e c i d a da e p i d e m i o l o g i a d o s p o v o s
i n d í g e n a s n o B r a s i l , e c o m a m p l o s i m p a c t o s n o p r e s e n t e e f u t u r o , diz r e s p e i t o à
e m e r g ê n c i a de d o e n ç a s c r ô n i c a s não-transmissíveis, c o m o o b e s i d a d e , hiperten-
d o e n ç a s c o m o e l e m e n t o s i m p o r t a n t e s n o perfil d e m o r b i d a d e e m o r t a l i d a d e in-
d í g e n a está e s t r e i t a m e n t e a s s o c i a d o a m o d i f i c a ç õ e s n a s u b s i s t ê n c i a , d i e t a e ativi-
d a d e física, d e n t r e o u t r o s fatores, a c o p l a d a s às m u d a n ç a s s o c i o c u l t u r a i s e e c o n ô -
m i c a s r e s u l t a n t e s da i n t e r a ç ã o c o m a s o c i e d a d e n a c i o n a l . N o b o j o dessas m u d a n -
p s i q u i á t r i c o s q u e , n ã o r a r o , i m p a c t a m s o b r e as c o m u n i d a d e s d e f o r m a d i s s e m i -
n a d a , i n c l u i n d o j o v e n s e a d u l t o s d e a m b o s os sexos. A o c o r r ê n c i a d e s u i c í d i o , al-
n ú m e r o (Krthal, 2 0 0 1 ; Langdon, 1 9 9 9 ; M e i h y , 1 9 9 4 ; M o r g a d o , 1 9 9 1 ; Ρ ο z, 2 0 0 0 ;
Souza et al., neste volume). Observa-se também aumento importante das mortes
por causas externas, sejam essas ocasionadas por acidentes automobilísticos e uso
de maquinário agrícola, c o m o também por violência — em muitos dos casos, as-
sassinatos e mesmo massacres perpetrados por madeireiros, garimpeiros e outros
invasores de terras indígenas ( C I M I , 1 9 9 6 , 1997).
O conhecimento do perfil epidemiológico em transição dos povos indí-
genas, considerando a grande diversidade étnica e regional na qual se inserem,
reveste-se de suma importância para orientar a organização, planejamento e me-
lhoria da qualidade dos serviços de assistência à saúde. E m geral, esses serviços
encontram-se voltados para lidar com determinados grupos de doenças, sobretu-
do as infecciosas e parasitárias, que, historicamente, têm (ou tiveram) maior peso
na morbi-mortalidade indígena.
A literatura sobre saúde das populações indígenas situadas nas Améri-
cas, em particular aquelas localizadas no Canadá e nos Estados Unidos, aponta
para a emergência da obesidade, hipertensão e diabetes mellitus, dentre outras,
c o m o sérios problemas de saúde pública ao longo das últimas décadas, não raro
sobrepujando-se às d o e n ç a s infecciosas e parasitárias (Narayan, 1 9 9 6 ; Szath¬
mary, 1994; West, 1974; Young, 1993). Ainda que esta não seja a situação epide¬
miológica dos povos indígenas no Brasil, há indícios claros de uma transição
em curso.
Povos indígenas vivendo sob regimes de subsistência "tradicionais" (no
que se refere à ecologia e a l i m e n t a ç ã o ) têm atraído o interesse de epidemiólo¬
gos e de antropólogos devido aos baixos níveis tensionais que apresentam em
comparação àqueles verificados nas populações urbanas não-indígenas. Inúme-
ros estudos destacam a ausência da clássica associação entre idade e elevação dos
níveis tensionais em populações indígenas, além da raridade de indivíduos porta-
dores de doenças cardiovasculares (Fleming-Moran & Coimbra Jr., 1990; M a n ¬
cilha-Carvalho et al., 1989; Page, 1974; Vaughan, 1978). As explicações mais co¬
mumente apresentadas enfocam a ausência ou baixa exposição a conhecidos fa-
tores de risco associados à gênese desse grupo de doenças. Contudo, esse perfil
tende a mudar rapidamente conforme os grupos indígenas intensificam seus con-
tatos c o m a sociedade nacional, quando ocorre a introdução do sal, de bebidas
alcoólicas destiladas, de gorduras saturadas e m quantidade, associados à redução
dos níveis de atividade física. Pesquisas conduzidas em várias regiões do mundo
têm documentado a rápida emergência de hipertensão arterial em populações
nativas passando por mudanças em seus estilos de vida (McGarvey & Schendel,
1986; Page, 1974; Sinnett et al. 1992; Vaughan, 1978).
P o u c o se s a b e a c e r c a da e p i d e m i o l o g i a da h i p e r t e n s ã o e m p o p u l a ç õ e s
i n d í g e n a s n o B r a s i l . A m a i o r i a d o s e s t u d o s s o b r e n í v e i s t e n s i o n a i s foi r e a l i z a d a
e m g r u p o s q u e a i n d a se m a n t i n h a m r e l a t i v a m e n t e i s o l a d o s ( F l e m i n g - M o r a n &
n a i s ( C a r d o s o e t a l . , 2 0 0 1 ; C o i m b r a Jr. e t a l . , 2 0 0 1 ; F l e m i n g - M o r a n e t a l . , 1 9 9 1 ) .
O c a s o d o s X a v á n t e da a l d e i a d e E t é n i t é p a ( o u P i m e n t e l B a r b o s a ) , e m
M a t o G r o s s o , ilustra b e m e s s e p r o c e s s o ( C o i m b r a e t a l . , 2 0 0 1 , 2 0 0 2 ) . N o i n í c i o
dos a n o s 6 0 , os X a v á n t e f o r a m e s t u d a d o s p o r u m a e q u i p e c o n s t i t u í d a p o r m é d i -
c o s e a n t r o p ó l o g o s ( N e e l et a l . , 1 9 6 4 ) . C e r c a d e 3 0 a n o s d e p o i s , o m e s m o g r u p o
foi r e e s t u d a d o e os r e s u l t a d o s a p o n t a m c l a r a m e n t e p a r a u m a t e n d ê n c i a d e a u -
m e n t o dos n í v e i s t e n s i o n a i s s i s t ó l i c o s e d i a s t ó l i c o s ( T a b e l a 4 ) . E m 1 9 6 2 , as pres-
sões s i s t ó l i c a s e d i a s t ó l i c a s e s t a v a m n a faixa d e 9 4 - 1 2 6 c 4 8 - 8 0 m m H g , r e s p e c t i v a -
m e n t e , e n ã o f o r a m o b s e r v a d o s c a s o s d e h i p e r t e n s ã o . E m 1 9 9 0 , as m é d i a s sistóli-
cas e d i a s t ó l i c a s m o s t r a r a m - s e m a i s e l e v a d a s e m a m b o s os s e x o s e f o r a m d e t e c t a -
dos c a s o s d e h i p e r t e n s ã o . A i n d a c m 1 9 9 0 , n o t o u - s e t a m b é m u m a c o r r e l a ç ã o p o -
nas m a i s diversas r e g i õ e s d o m u n d o , c m p a r t i c u l a r n a A m é r i c a d o N o r t e , O c e a -
nia e P o l i n é s i a ( K u n i t z , 1 9 9 4 ; Y o u n g , 1 9 9 3 ) . E m r e l a ç ã o aos p o v o s i n d í g e n a s n o
d e c r i a n ç a s ( D u f o u r , 1 9 9 2 ; S a n t o s , 1 9 9 3 ) . A i n d a q u e n ã o s e j a m d i s p o n í v e i s da-
dos e p i d e m i o l ó g i c o s c o n f i á v e i s para c a r a c t e r i z a r a o c o r r ê n c i a e a d i s t r i b u i ç ã o d e
o b e s i d a d e nas p o p u l a ç õ e s indígenas n o Brasil de forma satisfatória, de alguns
a n o s para c á t e m s u r g i d o u m n ú m e r o c r e s c e n t e d e e s t u d o s q u e c h a m a m a a t e n ¬
Tabela 4
COMENTÁRIOS FINAIS
8
S o b r e o processo de distritalização da saúde indígena, ver, entre outros, Athias & M a -
chado ( 2 0 0 1 ) , G a r n e l o & S a m p a i o ( 2 0 0 3 ) , Langdon ( 2 0 0 0 ) , b e m c o m o outros capítulos
neste volume, c o m o os de D i e h l e colaboradores e de G a r n e l o & Brandão.
p o v O S i n d í g e n a s n o B r a s i l . D e s n e c e s s á r i o e n f a t i z a r q u e a e x i s t ê n c i a de registros
e p i d e m i o l ó g i c o s s i s t e m á t i c o s será d c g r a n d e valia para fins d o p l a n e j a m e n t o , i m -
p l e m e n t a ç ã o e a v a l i a ç ã o d e s e r v i ç o s e de p r o g r a m a s d e s a ú d e . I n f o r m a ç õ e s c o n -
fiáveis s ã o t a m b é m i m p r e s c i n d í v e i s para v i a b i l i z a r a n á l i s e s s o b r e as m ú l t i p l a s e
c o m p l e x a s i n t e r e l a ç õ e s e n t r e d e s i g u a l d a d e s s o c i a i s , p r o c e s s o s a ú d e - d o e n ç a e et¬
n i c i d a d e . C o m o t i v e m o s a o p o r t u n i d a d e d e s a l i e n t a r a n t e r i o r m e n t e s o b r e os p o -
vos i n d í g e n a s , "... coeficientes de morbi-mortalidcide metis altos... fome e desnutri-
ção, riscos ocupacionais e violência social são apenas alguns dos múltiplos reflexos
sobre a saúde, decorrentes da persistência de desigualdades" ( C o i m b r a Jr. & S a n -
tos, 2 0 0 0 : 1 3 1 ) . T a i s c o n h e c i m e n t o s , g e r a d o s c o m b a s e e m p a r c e r i a s e n t r e p e s -
quisadores, l i d e r a n ç a s i n d í g e n a s e provedores de serviços dc saúde, são funda-
m e n t a i s para o e m b a s a m e n t o d e a t u a ç õ e s p o l í t i c a s , i n c l u s i v e p o r p a r t e das c o -
m u n i d a d e s i n d í g e n a s , e d e i n t e r v e n ç õ e s na á r e a da s a ú d e . Espera-se a i n d a q u e , a
partir da c r e s c e n t e p a r t i c i p a ç ã o i n d í g e n a n o s vários s e g m e n t o s d o s i s t e m a d e saú-
d e , f u t u r a m e n t e e l e s p r ó p r i o s v e n h a m a fazer uso c r e s c e n t e dessas i n f o r m a ç õ e s
c o m vistas a d e f i n i r p r i o r i d a d e s e i m p l e m e n t a r e s t r a t é g i a s m a i s a d e q u a d a s d e
a t u a ç ã o dos s e r v i ç o s d e s a ú d e j u n t o às suas c o m u n i d a d e s .
Referências
parasites among Karitiana Indians from Rondτnia state, Brazil. Revista do Instituto
de Medicina Tropical de São Paulo, 3 4 : 2 2 3 2 2 5 .
F L E M I N G M O R A N , M . & C O I M B R A Jr., C . Ε . Α ., 1 9 9 0 . Blood pressure studies among
Amazonian native populations: A review from an epidemiological perspective. So-
cial Science and Medicine. 3 1 : 5 9 3 6 0 1 .
F L E M I N G M O R A N , M . ; S A N T O S , R. V. &· C O I M B R A Jr., G . Ε . Α ., 1 9 9 1 . Blood pres
sure levels of the Suruí and Zoró Indians o f the Brazilian Amazon: G r o u p — and
sexspecific effects resulting from body composition, health status, and age. Human
Biology, 6 3 : 8 3 5 8 6 1 .
F L O W E R S , Ν '. M., 1 9 9 4 . Crise e recuperaçăo demográfica: Os Xavánte de Pimentel Bar
bosa, Mato Grosso. In: Saúde e Povos I n d í g e n a s (R. V. Santos & C . E . A. C o i m b r a
Jr., orgs.), pp. 2 1 3 2 4 2 , Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.
F R A N C O , L. J . , 1 9 8 1 . Aspectos Metabólicos da População Indígena do Alto Xingu. Tese
de Doutorado. Săo Paulo: Escola Paulista de Medicina.
F R A N C O , L. J . , 1 9 9 2 . Diabetes in Brazil: A review of recent survey data. Ethnicity and
Disease, 2:1 58165.
FUNASA ( F u n d a ç ă o Nacional dc S a ú d e ) , 2 0 0 2 . Política Nacional de Atenção à Saúde
dos Povos Indígenas. 2ª Ed. Brasília: FUNASA/Ministério da Saúde.
G A R N E L O , L. & SAMPAIO, S., 2 0 0 3 . Bases sócioculturais do controle social em saúde
indígena. Problemas e questőes na Regiăo Norte do Brasil. Cadernos de Saúde Públi-
ca, 19:311317.
G H O D E S , D . M . , 1 9 8 6 . D i a b e t e s in A m e r i c a n Indians: A growing p r o b l e m . Diabetes
Care, 9 : 6 0 9 6 1 3 .
G O M E S , Μ . P., 1 9 8 8 . Os índios e o Brasil: Ensaio Sobre um Holocausto e Sobre uma No-
va Possibilidade de Convivência. Petrópolis: Vozes.
G U G E L M I N , S. A. & S A N T O S , R. V , 2 0 0 1 . Ecologia h u m a n a e antropometria nutricio
nal de adultos X a v á n t e , M a t o Grosso, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 17:313
322.
G U G E L M I N , S. Α .; S A N T O S , R. V. & L E I T E , M . S., 2 0 0 1 . Crescimento físico de crian
ças indígenas xavantes de 5 a 10 anos de idade, Mato Grosso. ]omal de Pediatria, 11:
1722.
IANELLI, R. V , 1 9 9 7 . Epidemiologia da Malária em uma População Indígena do Brasil
Central: Os Xavánte de Pimentel Barbosa. Dissertaçăo de Mestrado, Rio de Janeiro:
Escola Nacional de Saúde Pública, F u n d a ç ă o Oswaldo Cruz.
IANELLI, R. V , 2 0 0 0 . Epidemiologia da malária e m populaçőes indígenas da Amazτnia.
In: Doenças Endêmicas: Abordagens Sociais, Culturais e Comportamentais ( R . B .
Barata & R. B r i c e n o L e ó n , orgs.), pp. 3 5 5 3 7 4 , Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.
IANELLI, R. V ; C O I M B R A Jr., C . E . A. & S A N T O S , R. V , 1 9 9 6 . Perfil de morbimortali¬
dade entre os índios Xavánte de M a t o Grosso. Revisto da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, 2 9 ( S u p . 1):256.
IANELLI, R. V ; H O N Σ R I O , Η . Α .; LIMA, D . C.; L O U R E N Ç O D E O L I V E I R A , R.; SAN
T O S , R. V. & C O I M B R A Jr., C . Ε . Α ., 1 9 9 8 . Faunal composition and behavior o f
A n o p h e l i n e mosquitoes on the Xavánte Indian Reservation o f P i m e n t e l Barbosa,
Central Brazil. Parasite, 5:3746.
ISHAK, M . G . & ISHAK, R., 2 0 0 1 . O impacto da infecçăo por Chlamydia em populaçőes
indígenas da Amazτnia brasileira. Cadernos de Saúde Pública, 17:385396.
ISHAK, M . O . G . ; ISHAK, R.; C R U Z , A. C . R . ; S A N T O S , D . Ε . M . & S A L G A D O , U.,
1993. Chlamydial infection in the Amazon region o f Brazil. Transactions of the Roy-
al Society of Tropical Medicine and Hygiene, 87:6062.
ISHAK, R.; H A R R I N G T O N , W . J . ; A Z E V E D O , V. Ν .; E I R A K U , Ν . ; ISHAK, Μ . Ο . &
HALL, W. W., 1 9 9 5 . Identification o f h u m a n Τ cell lymphotropic virus type IIa in-
fection in the Kayapó, an indigenous population o f Brazil. A I D S Research and Hu-
man Retrovirus, 11:813819.
K O I F M A N , S., 2 0 0 1 . G e r a ç ă o e transmissăo de energia elétrica: Impacto nas naçőes indí
genas do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 1 7 : 4 1 3 4 2 3 .
K O I F M A N , S.; FERRAZ, I.; VIANNA, T . S.; SILVEIRA, C . L.; C A R N E I R O , Μ . T . ; KOIF-
MAN, R. J . ; F E R N A N D E Z , C . & B U L C Ă O , A. C , 1 9 9 8 . C a n c e r clusters a m o n g
young Indian adults living near power transmission lines in B o m Jesus do Tocantins,
Pará, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 14(Sup. 3):161172.
KUNITZ, S. J . , 1 9 9 4 . Disease and the destruction o f indigenous populations. In: Compan-
ion Encyclopedia of Anthropology ( T . Ingold, ed.), pp. 2 9 7 3 2 5 , London: Routledge.
L A I N S O N , R., 1 9 8 8 . E c o l o g i c a l interactions in the transmission o f the leishmaniasis.
Philosophical Transactions of the Royal Society of London, 3 2 1 B : 3 8 9 4 0 4 .
L A N G D O N , E . ] . , 1999. O que beber, c o m o beber e quando beber: O contexto sociocul¬
tural no alcoolismo entre as populaçőes indígenas. In: Saúde, Saberes e Ética: Três
Conferências sobre Antropologia da Saúde ( E . J . Langdon, org.), pp. 117, Floria
nópolis: Programa de PósGraduaçăo em Antropologia Social, Universidade Federal
de Santa Catarina.
L A N G D O N , F . J . , 2 0 0 0 . Salud y pueblos indígenas: Los desatíos en el c a m b i o de siglo.
In: Salud γ Equidad: Una Mirada desde Ias Ciências Sociales (R. B r i c e n o L e ó n , M.
C . S. Vlinayo & C . F . A. C o i m b r a Jr., orgs.), pp. 1 0 7 1 1 7 , Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz..
L A R S E N , C . S. & M I I . N F R , G . R. (eds.), 1 9 9 4 . In the Wake of Contact: Biological Re-
sponse to Conquest. New York: WilevLiss.
L E I T E , M., 1998. Avaliação do Estado Nutricional da População Xavánte de São José, Per-
ra Indígena Sangradouro-Volta Grande, Mato Grosso. Dissertaçăo de Mestrado, Rio
dc Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundaçăo Oswaldo Cruz.
LIMA, P., 1 9 5 0 . Níveis tensionais dos índios Kalapalo e Kamaiurá. Revista Brasileira de
Medicina, 7:787788.
LINHARES, A. C , 1992. Epidemiologia das infecçőes diarréicas entre populaçőes indíge
nas da Amazτnia. Cadernos de Saúde Pública, 8:1 21128.
LINHARES, A. C ; SALBE, Ε . Y . ; GABBAY, Υ . Β . &· NAKAUTH, G . Μ ., 1986. Prevalence
of rotavirus antibody a m o n g isolated South American Indian c o m m u n i t i e s . Ameri-
can Journal of Epidemiology, 123:699709.
L O U R E N Ç O D E O L I V E I R A , R., 1 9 8 9 . S o m e observations on the mosquitoes of Indian
settlements in X i n g u National Park, M a t o Grosso state, Brazil, with emphasis on
malaria vectors. Revista Brasileira de Biologia, 4 9 : 3 9 3 3 9 7 .
MAGALHĂES. Ε ., 2 0 0 0 . O Estado e a Saúde Indígena. A Experiência do Distrito Sanitá-
rio Yanomámi. Dissertaçăo de Mestrado, Brasília: Universidade de Brasília.
M A N C I L H A C A R V A L H O , J. J . B A R U Z Z I , R. G . ; H O W A R D , Ρ . Ε ; P O U L T E R , Ν .;
;
R.; E L L I O T T , P. & S T A M L E R , J . , 1 9 8 9 . Blood pressure in four remote populations
in the I N T E R S A L T study. Η ypertension, 14:238-246.
MARTINS, S. J. & M E N E Z E S , R. C . , 1994a. Evoluçăo do estado nutricional de menores
de 5 anos em aldeias indígenas da tribo Parakană, na Amazτnia oriental brasileira
( 1 9 8 9 1 9 9 1 ) . Revista de Saúde Pública, 28:18.
MARTINS, S. J. & M E N E Z E S , R. C . , 1994b. Infecçăo malárica mista entre os indígenas
Parakană. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 2 7 ( S u p . 1 ):274.
M c G A R V E Y , S. T . & S C H E N D E L , D . E . , 1 9 8 6 . B l o o d pressure o f S a m o a n s . In: The
Changing Samoans: Behavior and Health in Transition (P. T. Baker, J. M . Hanna &
T . S. Baker, eds.), pp. 3 5 0 3 9 3 , New York: Oxford University Press.
MEIHY, J. C. S. B . , 1994. Α morte c o m o apelo para a vida: O suicídio Kaiowá. In: Saúde
e Povos Indígenas (R. V. Santos & G E . A. C o i m b r a Jr., orgs.), pp. 2 4 3 2 5 1 , Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz.
M E I R E L E S , D. M . , 1 9 8 8 . Sugestőes para uma análise comparativa da fecundidade em
populaçőes indígenas. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, 5:120.
M E L C H I O R , S.C.; S O A R E S , D.A.; A N D R A D E , S . M . & Κ Λ Υ Ο Κ Ο , R . M . , 2 0 0 2 . Avaliaçăo
da mortalidade de grupos indígenas do norte do Paraná — 1 9 9 0 a 1 9 9 9 . Informe
Epidemiológico do S U S , 11:6168.
MIRANDA, R. Α .; XAVIER, F. B . & M E N E Z E S , R. C , 1 9 9 8 . Parasitismo intestinal e m
uma aldeia indígena Parakană, sudeste do Estado do Pará, Brasil. Cadernos de Saúde
Pública, 1 4 : 5 0 7 5 1 1 .
M O N T E I R O , C . Α ., 2 0 0 0 . Evoluçăo da desnutriçăo infantil nos anos 9 0 . In: Velhos e No
vos Males da Saúde no Brasil: A Evolução do País e de suas Doenças ( C . A. Montei
ro, org.), pp. 3 7 5 3 9 2 , Săo Paulo: Editora Hucitec.
M O R A E S , M . A. P., 1 9 9 1 . O n c o c e r c o s e entre os índios Y a n o m á m i . Cadernos de Saúde
Pública, 7:503514.
M O R A I S , Μ . B . ; F A G U N D E S N E T O , U. L.; M A T T O S , A. P. & BARUZZI, R. G . , 2 0 0 3 .
Estado nutricional de crianças índias do Alto Xingu em 1 9 8 0 e 1 9 9 2 e evoluçăo pon¬
deroestatural entre o primeiro e o quarto anos de vida. Cadernos de Saúde Pública,
1 9 : 5 4 3 5 5 0 .
M O R G A D O , A. F., 1 9 9 1 . Epidemia de suicídio entre os GuaraníKaiwá: Indagando suas
causas e avançando a hipótese do r e c u o impossível. Cadernos de Saúde Pública, 7:
585598.
M O U R A , R. C.; F É , N. F. & S O A R E S , A. R., 1 9 9 4 . Há transmissão intradomiciliar da ma-
lária nas habitações indígenas tradicionais na Amazônia? Revista da Sociedade Brasi-
leira de Medicina Tropical, 2 7 ( S u p . 1):5.
NARAYAN, Κ . Μ . V., 1 9 9 6 . Diabetes mellitus in Native Americans: T h e problem and its
i m p l i c a t i o n s . In: Changing Numbers, Changing Needs ( G . D . S a n d e f u r , R. R.
Rindfuss & B . C o h e n , e d s . ) , pp. 2 6 2 2 8 8 , W a s h i n g t o n , D C : N a t i o n a l A c a d e m y
Press.
N E E L , J . V . ; SALZANO, F. M . ; J U N Q U E I R A , P. C ; K E I T E R , F. & M A Y B U R Y L E W I S ,
D . , 1 9 6 4 . Studies on the Xavante Indians o f Brazilian M a t o Grosso. American Jour-
nal of Human Genetics, 16:52140.
O L I V E I R A , J . P., 1 9 9 7 . Pardos, mestiços ou c a b o c l o s : O s índios nos censos nacionais no
Brasil ( 1 8 7 2 1 9 8 0 ) . Horizontes Antropológicos, 3:6083.
O L I V E R , W . J . ; C O H E N , Ε . L. & N E E L , J . V., 1 9 7 5 . Blood pressure, sodium intake and
sodium related h o r m o n e s in the Y a n o m a m o Indians, a "nosalt" culture. Circula-
tion, 5 2 : 1 4 6 1 5 1 .
O P S (Organización Panamericana de la Salud), 1 9 9 8 . La salud de los pueblos indígenas.
In: La Salud en las Américas ( O P S , org.), P u b l i c a c i ó n C i e n t í f i c a 5 6 9 , v. 1, pp. 9 5 -
105, Washington, D C : O P S .
PAGE, L . , 1 9 7 4 . Hypertension and atherosclerosis in primitive and acculturating soci-
eties. In: International Symposium on Hypertension (J. C . Hunt, ed.), pp. 1-12, New
York: Health Learning Systems.
PAGLIARO, H., 2 0 0 2 . A Revolução Demográfica dos Povos Indígenas: A Experiência dos
Kaiabi do Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso (1970-1999). Tese de Doutorado,
São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo.
PEREIRA, Ν . O. M . ; F L O R I D O , A. C . & F E R N A N D E S , Μ . Z., 2 0 0 2 . População residen-
te em terras indígenas: características básicas censitárias — 1 9 9 1 e 2 0 0 0 . In: X I I I
Congresso da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, O u r o Preto, M i n a s
Gerais, 4 a S de novembro. 13 de J u n h o de 2 0 0 3 <http://\v\v\v.abcp.org.br/XII[en
contro/ Anais_Abep_2()02/trabalhos.litin>.
P I C C I I I , D., 1 9 9 4 . Observations about a central Brazilian indigenous population: The
Bakairi. South American Indians Studies, 4:3746.
PITHAN, Ο . Α .; C O N E A L O N I E R I , V. E. & M O R G A D O , Α ., 1 9 9 1 . A situaçăo de saúde
dos índios Yanomami. Cadernos de Saúde Pública, 7:563580.
Ρ Ο Ζ , J. D., 2 0 0 0 . C r τ n i c a de uma morte anunciada: D o suicídio entre os Sorowahá. Re-
vista de Antropologia, 4 3 : 8 9 1 4 4 .
PRADO, M. S.; AASSIS, Α . VI.; MARTINS, M. C : NAZARK, M . P.; R E Z E N D E , I. F. Β . &
C O N C E I Ç Ă O , Μ . Κ ., 1995. I lipovitaminose Α em crianças de áreas rurais do semi
árido baiano. Revista de Saúde Pública, 2 9 : 2 0 9 2 1 2 .
PYDANIEL, V., 1997. O n c o c e r c o s e , uma endemia focal no hemisfério norte da Amazτ
nia. In: Homem, Ambiente e Ecologia no Estado de Roraima (R. I. Barbosa, K. J. Fer
reira &' K. G . Castellón, orgs.), pp. 1 1 11 55, Manaus: Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazτnia.
RIBAS, D. 1..; S G A N Z E R L A , A; Z O R Z A I T O , J. R. & Ρ Η Ι Ι ,Ι Ρ Ρ Ι , S. T . , 2 0 0 1 . Nutriçăo e
saúde infantil de uma comunidade Teréna da regiăo CentroOeste do Brasil. Cader-
nos de Saúde Pública, 17:323331.
R I B E I R O , D . , 1 9 5 6 . C o n v í v i o e c o n t a m i n a ç ă o : Efeitos dissociativos da d e p o p u l a ç ă o
provocada por epidemias em grupos indígenas. Sociologia, 18:350.
R I B E I R O , D., 1977. Os índios e a Civilização: A Integração das Populações Indígenas no
Brasil Moderno. Petrópolis: Vozes.
RICARDO, C. Α ., 1996. A sociodiversidade nativa contemporânea no Brasil. In: Povos In-
dígenas no Brasil 1 9 9 1 / 1 9 9 5 ( C . A. Ricardo, org.), pp. i\ii, Săo Paulo: Instituto So¬
cioambiental.
R I C A R D O , C . A. (org.), 2 0 0 0 . Povos Indígenas no Brasil / 9 9 6 / 2 0 0 0 . Săo Paulo: Instituto
Socioambiental.
SA, D. R., 2 0 0 3 . Malária em 'lerras indígenas Habitadas pelos Pakaanova (Wari'). Esta-
do de Rondônia, Brasil. Estudo Epidemiológico e Entomológico. D i s s e r t a ç ă o de
Mestrado, Rio de Janeiro: Kscola Nacional de Saúde Pública, F u n d a ç ă o Oswaldo
Cruz.
SALZANO, F. M . & C A L L E G A R I J A C Q U E S , S. VI., 1 9 8 8 . South American Indians: A
Case Study in Evolution. Oxford: Clarendon Press.
SAMPAIO, Μ . R . T U R C O T T E , S.; MARTINS, V. E; C A R D O S O , E. M. & BURATTINI,
;
Μ . N., 1996. Malaria in the Indian reservation of "Vale do Javarí", Brasil. Revista cio
Instituto de Medicina iropical de São Paulo, 38:5960.
S A N T O S , A. K. ISHAK, M. O.; S A N T O S , S. E G U E R R E I R O , J. K. & ISHAK, R., 1995.
; ;
A possible correlation between the host genetic background in the epidemiology of
hepatitis Β virus in the Amazon region o f Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo
Cruz,90:435441.
S A N T O S , K. C. O.; CÂMARA. V. V I ; BRABO, F . S.; L O U R E I R O , E. C . B.; J E S U S , I. M.;
FAYAL, K. & SACICA, F., 2 0 0 3 . Avaliação dos níveis de exposição ao mercúrio entre
índios Pakaanóva, Amazônia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 19:199-206.
S A N T O S , L. M.; BATISTA F I L H O , M. & DINIZ, A. S., 1996. Epidemiologia da carência
de vitamina A n o Nordeste do Brasil. Boletín de la Oficina Sanitaria Panamericana,
1 2 0 : 5 2 5 5 3 7 .
S A N T O S , R. V . , 1 9 9 1 . Coping with Change in Native Amazonia: A Bioanthropological
Study of the Cavião, Suruí, and Zoró, Tupí-Mondé Speaking Societies from Brazil.
P h . D . Dissertation, Bloomington: Indiana University.
S A N T O S , R. V., 1 9 9 3 . C r e s c i m e n t o físico e estado nutricional de populaçőes indígenas
brasileiras. Cadernos de Saúde Pública, 9 ( S u p . 1):4657.
SANTOS, R. V., 1995. Nutriçăo e povos indígenas. In: Mapa da Fome entre os Povos Indíge-
nas no Brasil (II): Contribuição à Formulação de Políticas de Segurança Alimentar Sus-
tentáveis ( I N E S C , P E T I / M N , ANAÍ/BA, Ação da Cidadania C o n t r a a F o m e , a M i -
séria e pela Vida, orgs.), pp. 2 2 - 2 4 , Brasília: Instituto de Estudos S ó c i o - E c o n ô m i c o s .
S A N T O S , R. V. & C O I M B R A Jr., C . Ε . Α ., 1 9 9 1 . S o c i o e c o n o m i c transition and physical
growth o f T u p í - M o n d ê Amerindian children o f the Aripuanã Park, Brazilian Ama-
zon. Human Biology, 63:795-820.
S A N T O S , R. V. & C O I M B R A Jr., C . E . A. (orgs.), 1 9 9 4 . Saúde e Povos Indígenas. Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz.
S A N T O S , R. V. & C O I M B R A Jr., C . Ε . Α ., 1 9 9 6 . S o c i o e c o n o m i c differentiation and body
morphology in the Suruí o f Southwestern Amazonia. Current Anthropology, 3 7 : 8 5 1
8 5 6 .
S A N T O S , R. V. & C O I M B R A Jr., C . Ε . Α ., 1 9 9 8 . O n the (un)natural history o f the Tupí
M o n d é Indians: Bioanthropology and c h a n g e in the Brazilian Amazonia. In: Toward
a Biocultural Synthesis: Political-Economic Perspectives in Biological Anthropology
(A. G o o d m a n & T . Leatherman, eds.), pp. 2 6 9 2 9 4 , Ann Arbor: Michigan Universi
ty Press.
S A N T O S , R. V ; C O I M B R A Jr., C . Ε . Α .; F L O W E R S , Ν . M . & SILVA, J . P., 1 9 9 5 . Intesti
nal parasitism in the Xavante Indians, Central Brazil. Revista do Instituto de Medici-
na Tropical de São Paulo, 37:145-148.
S A N T O S , R. V. & E S C O B A R , A. L. (eds.), 2 0 0 1 . S a ú d e dos povos indígenas no Brasil:
Perspectivas atuais. Cadernos de Saúde Pública, 17(2) (número temático).
S A N T O S , R. V ; F L O W E R S , Ν . M.; C O I M B R A Jr., C . E . A. & G U G E L M I N , S. Α ., 1 9 9 7 .
Tapirs, tractors, and tapes: T h e changing e c o n o m y and ecology o f the Xavánte Indi
ans o f Central Brazil. Human Ecology, 2 5 : 5 4 5 5 6 6 .
S E R A F I M , Μ . G . , 1 9 9 7 . Hábitos Alimentares e Nível de Hemoglobina em Crianças Indí-
genas Guarani, Menores de 5 Anos, dos Estados de São Paulo e do Rio de J a n e i r o .
Dissertação de Mestrado, São Paulo: Escola Paulista de Medicina.
S H E L L E Y , A. J . , 2 0 0 2 . H u m a n onchocerciasis in Brazil: An overview. Cadernos de Saúde
Pública, 18:1167-1177.
SILVA, Μ . F., 1994. A demografia e os povos indígenas no Brasil. Revista Brasileira de Es-
tudos Populacionais, 11:261264.
S I N G , Κ . Α .; H R Y H O R C Z U K , D . ; PASCHAL, D . C . & C H E N , Ε . Η ., 1 9 9 6 . Environmen-
tal exposure to organic mercury a m o n g the M a k u x i in the Amazon Basin. Interna-
tional Journal of Occupational and Environmental Health, 2:165-171.
S I N N E T T , P. F.; KEVAU, I. H. & T Y S O N , D . , 1 9 9 2 . Social change and the e m e r g e n c e o f
degenerative cardiovascular disease in Papua N e w G u i n e a . In: Human Biology in
Papua New Guinea: The Small Cosmos ( R . D . Atemborough & Μ . P. Alpers, eds.),
pp. 3 7 3 3 8 6 , Oxford: Clarendon Press.
S O A R E S , M . C . & Β E N S Α Β Α Τ Η , G . , 1 9 9 1 . Tribos indígenas da Amazτnia O r i e n t a l c o
m o populaçăo de risco para a hepatite D ( D e l t a ) . Revista do Instituto de Medicina
Tropical de São Paulo, 3 3 : 2 4 1 2 4 2 .
S O U S A , A. O.; S A L E M , J . I.; L E E , F. K.; V E R Ç O S A , M . C ; C R U A U D , P.; B L O O M , Β .
R.; L A G R A N G E , P. Η . & DAVID, Η . L., 1 9 9 7 . An e p i d e m i c o f tuberculosis with a
high rate o f tuberculin anergy a m o n g a population previously unexposed to tuber-
culosis, the Yanomámi Indians o f the Brazilian Amazon. Proceedings of the National
Academy of Sciences of the USA, 9 4 : 1 3 2 2 7 1 3 2 3 2 .
SOUZA, L. G . & S A N T O S , R. V , 2 0 0 1 . Perfil demográfico da populaçăo indígena Xaván
te de SangradouroVolta G r a n d e , M a t o G r o s s o , Brasil ( 1 9 9 3 1 9 9 7 ) . Cadernos de
Saúde Pública, 17:355365.
S P I E L M A N , R. S . FAJANS, S. S.; N E E L , ] . V ; P E K , S.; F L O Y D , J . C . & O L I V E R , W . J . ,
;