Você está na página 1de 2

RESUMO DO FILME CRÔNICAMENTE INVIÁVEL: IDENTIDADE NACIONAL E REGIONALIDADE

ALEXANDRE CESAR DE AMORIM BARROS


EMAIL: ale_xan_dre01@hotmail.com

O filme brasileiro Cronicamente Inviável, produzido no ano de 2000, retrata criticamente alguns
aspectos da sociedade brasileira, de forma tragicômica, na rotina de 6 personagens. Entre os temas
trabalhados nesta produção esta: relações de trabalho e dominação, ideologia e alienação,
desigualdade social, a construção da identidade nacional e as disputas regionais no âmbito cultural e
econômico dentro do país.

E o mais interessante: aborda todos esses recortes da realidade mostrando tanto a forma de
explicação do senso comum como a de um senso crítico, geralmente retratado no filme em diálogos
universitários e nos comentários do Alfredo, personagem narrador do filme.

Neste texto, em particular, tratearemos dos dois últimos temas citados: as dispares regionais e a
disputa da narrativa acerca da identidade nacional, ambos intimamente relacionados. Pois, como
veremos, a forma como os sulistas, tanto no dia-a-dia como num meio universitário, além de
reivindicarem para si o fato de o brasil ter progredindo economicamente, também se auto proclamam
produtores e reprodutores da identidade nacional.

Para sermos didáticos, dividiremos as formas de explicação nos parágrafos seguintes entre cenas do
cotidiano e debates acadêmicos/narrativas do Alfredo. E a primeira aparição do tema regionalidade
aprece logo no início numa discussão entre um sem terra e um fazendeiro. Este, acusa os sem terras
de sem todos preguiçosos e que são todos nordestinos vindo ao Sul, denotando um ideia
preconceituosa de que o nordeste é terra de gente que não trabalha, um atraso para o Brasil, e reforça
isso ao concluir: "O Sul é que sustenta a incompetência do Brasil inteiro".

Outra cena também da visão comum do Sudeste/Sul em relação ao norte ocorro numa briga de
transito entre um motorista de ônibus e uma mulher que conduzia um carro. Nesta cena, o carro da
mulher afoga bem em frente ao ônibus e o motorista deste, de cara, diz: "Paulista é foda". Em
seguinte, a mulher desse do carro e vai encontro do motorista e de forma agressiva ao extremo diz:
''Qual é o seu problema? Não tá vendo que meu carro morreu? Cê você encostar um dedo em mim
eu acabo com tua vida de nordestino burro, é por isso que esse brasil não vai pra frente, a gente tem
que aguentar nordestino burro".

Percebe-se neste dois últimos exemplos, o imaginário coletivo dos sulistas perante ao nordeste, uma
região, segundo este pensamento, atrasada e de pessoas preguiçosas e mal educadas. Tudo isso se
encaixa na disputada das narrativas acerca das diferenças regionais e seus respectivos papéis dentro
da nação brasileira.

É retratado no filme também, além das regiões sul e sudeste, o centro oeste e o norte, por meio da
personagem Amanda e pelas viagens e comentários do Alfredo. A Amanda, gerente do restaurante do
seu Luís, nasceu e passou a infância no estado de mato grosso, retratado em contradições: por um
lado visto como um paraíso terrestre e fruto da mistura de branco, negros e índios, por outro como
um lugar atrasado economicamente no fato de a personagem em questão, quando criança, ter
trabalhado na produção de carvão.

Já o norte, numa viagem do Alfredo a Rondônia, revela um lugar onde o homem, segundo ele, expressa
sua vontade de destruição: há cenas prolongadas de desmatamento e queimadas. Ainda nesta região,
este personagem tem um acidente, escorrega num barranco e machuca a perna, ao procurar
atendimento depara com a carência de estrutura e o fato de estar ilhado naquela cidade conotando
o isolamento da região como um todo com relação ao país.

Todo em pensamento regionalista de valorização do sudeste /sul também irá convergir para a ideia
de identidade nacional as vezes baseada na miscigenação social, na crítica a história de exploração do
país e, por vezes, até mesmo na contradição e desigualdade social assim como no tipo ideal do homem
cordial e do jeitinho brasileiro.

Na primeira conversa dentro do restaurante do Seu Luís, a Maria Alice, uma mulher de classe mas
preocupada com as injustiças sociais, questiona que não aguenta ver as desigualdades explicitas na
cidade de São Paulo e o Seu Luís responde que a injustiça social já se tornou elemento cultural peculiar
do Brasil e símbolo de identidade.

Noutro diálogo rotineiro, mas agora entre o a Maria Alice e o seu marido, Carlos, este se caracteriza
por ser aquele personagem típico do 'Jeitinho Brasileiro'. Na conversa chega a afirmar que todos no
Brasil são trambiqueiros e que é uma questão de sobrevivência, pragmático ao extremo diz: "Modelo
de organização gerado pra gerar bagunça, equilibramos meio termo perfeito entre o ócio, a
imobilidade gerada pela confusão e pela bagunça é o que permite o trambique. No brasil todo mundo
é trambiqueiro".

No âmbito mais acadêmico há grupos sociais, as vezes em forma de regiões como havíamos dito, que
ou dizem ser responsáveis pela construção da identidade nacional ou reivindicam participação nesta
construção.

Dos que reivindicam participação esta os indígenas, representados num debate na USP por um
indígena Xavante. Este, no debate análise um livro, não por coincidência, do Alfredo, o personagem
narrador, e opina dizendo que que racionalidade, expressão do mundo moderno, é a necessidade de
superioridade e que o livro é somente mais uma expressão dessa superioridade ao desprezar o
extermínio sistemático dos indígena e que foi esse extermínio sobre o qual surgiu a identidade
nacional. Por isso, segundo o Xavante, a narrativa da identidade nacional deve ser revista e que o índio
tem papel importante na construção desta.

No mesmo debate, o Marcos Rezende diz que o brasileiro é um homem cordial, que age com o
coração, mas que é a miscigenação racial e cultural que eleva o país a uma condição diferenciada do
resto do mundo. Chega a dizer que o brasil é o laboratório da pós modernidade: "uma profusão de
culturas e raças, sem fronteiras". E conclui dizendo que essa expressão do brasileiro é personalizada
no carioca e que estes tem o papel de "garantir a identidade nacional".

Percebe-se com isso que, como havíamos dito, a questão da regionalidade, o imaginário social comum
e acadêmico e a identidade nacional esta completamente imbricada uma noutra e que o filme, muito
rico, trata muito nem este tema.

Você também pode gostar