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RESUMO
ABSTRACT
Quality education requires the guarantee of a physical environment, here called School
Infrastructure, with conditions for the learning to take place. The objective of this study is to
establish a ranking of school units in need of intervention in the physical conditions in a network
of public units. The multicriteria method adopted was the Analytic Hierarchy Process (AHP), due
to its flexibility when applied to decision-making problems. For this purpose, a questionnaire
composed of technical criteria and sub-criteria was elaborated and applied in 1,230 units in the
State of Rio de Janeiro. The method was then used to rank the critical units. The result made it
possible to support the public manager in the allocation of scarce financial resources in school
facilities, ensuring technical and isonomic choices.
1. Introdução
Maior eficiência, eficácia e transparência na gestão pública vêm se tornando demandas
cada vez mais exigidas pelos cidadãos, expondo a necessidade de mudança por parte dos gestores
públicos, que devem proporcionar maior qualidade de vida para a população. A destinação dos
recursos de maneira planejada e eficaz é um passo importante para conseguir uma nova postura,
concomitantemente com isso, o investimento em ferramentas capazes para aperfeiçoar modelos de
gestão existentes.
No Brasil, a gestão pública passa por um processo de incorporação de novos métodos e
ferramentas para elaboração de diagnósticos, na identificação espacial das áreas de intervenção, no
monitoramento dos programas e na tomada de decisão de modo geral [Januzzi et al., 2009]. Falando
especificamente de problemas com cenários complexos, vários critérios e diferentes avaliações são
necessários para a tomada de decisão. Uma das ferramentas mais utilizadas para sua resolução são
os métodos de decisão multicritério, que consideram os objetivos a serem alcançados de maneira
simultânea levando os diversos critérios inerentes ao problema em consideração, auxiliando, desta
maneira o(s) decisor(es) na escolha final.
Marques et al. [2007] cita a educação pública como determinante na qualidade que se
obtém ou se deseja obter em outros campos da sociedade, tais como o social – no combate à
pobreza, à injustiça e à desigualdade; o cultural – na formação de novos hábitos e valores; o político
– na construção da cidadania ativa e crítica; e o ambiental – na sustentabilidade do planeta e de
todas as formas de vida. Para ser capaz de prover de forma eficiente este essencial serviço, os
gestores precisam ter disponíveis recursos e infraestrutura necessários.
Star [1999] define infraestrutura como um termo amplo que pode ser aplicado a qualquer
sistema, estrutura organizacional ou instalação física que ofereça suporte a uma organização ou
sociedade em geral. Com esta definição, podemos considerar, de maneira simplificada no campo
educacional, infraestrutura como as instalações físicas (escolas) necessárias para o
desenvolvimento didático dos alunos, levando em consideração também fatores de condições
ambientais como temperatura, ventilação e luminosidade [Sommer e Leite, 1973].
Diante de tamanha importância, prezar pela manutenção e melhoria da infraestrutura é
tarefa fundamental para o governo. Quando se refere especificamente à rede de ensino do Estado
do Rio de Janeiro a situação torna-se ainda mais importante, visto que nos últimos anos o governo
passou por uma grande crise econômica, tornando assim a tomada de decisão sobre esses aspectos
uma importante etapa para melhor aplicação de recursos e melhoria na qualidade das instalações
físicas.
Um caso especial é a Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC-RJ) que gerencia em
2020, 1.230 unidades escolares e, aproximadamente, 700 mil alunos, sendo o quarto maior estado
em quantidade de escolas estaduais. Tendo em vista os esforços necessários para gerenciar um
orçamento de aproximadamente R$ 4,8 bilhões, é salutar que problemas com cenários complexos,
vários critérios e diferentes avaliações sejam necessários para a tomada de decisão. Sendo assim,
a manutenção da infraestrutura deve ser considerada como um ponto importante de investimento a
fim de melhorar aspectos das estruturas básicas, físicas e de apoio.
Desta forma, com vistas ao atendimento dos princípios de garantia de acesso e
permanência na escola e padrão de qualidade, previstos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional nº 9.394/1996, art. 3º, I e IX, em consonância com os princípios de gestão escolar
definidos pela SEEDUC-RJ, este estudo busca avaliar a precariedade na infraestrutura das
instituições educacionais da rede estadual e que, consequentemente, necessitam de maior atenção,
através da utilização do método Analytic Hierarchy Process (AHP), proposto por Saaty [1987], em
função de sua flexibilidade quando aplicado a problemas de tomada de decisão.
A metodologia desta pesquisa se caracteriza como aplicada, pois consiste na geração de
conhecimento para ser utilizado de forma prática e focado na solução de problemas considerados
como particularizados ou específicos [Gil, 2007]. Este é também um estudo de cunho quantitativo,
já que a abordagem do problema foi feita por meio de métodos de tomada de decisão multicritério.
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Como estratégia de pesquisa, vamos trabalhar com a aplicação de dados reais, por representar uma
maneira de investigar a efetividade do conjunto de procedimentos pré-especificados pela
metodologia proposta durante a pesquisa.
Este trabalho está organizado em 6 seções. Após esta introdução, a Seção 2 apresenta as
referências bibliográficas sobre o método AHP. A Seção 3 delineia a aplicação. Por fim, a Seção 4
estabelece as considerações finais a respeito da pesquisa, seguida das referências bibliográficas
consultadas.
2. O método AHP
Os Métodos de Tomada de Decisão Multicritério (Multiple Criteria Decision Making,
MCDM) buscam facilitar a tomada de decisão, diminuindo o subjetivismo e tendenciosidade que
acabam surgindo no processo decisório. Segundo Triantaphyllou [2000], esses modelos não tentam
calcular uma solução ótima, mas determinar, através de vários procedimentos de classificação, o
ranking das ações relevantes (alternativas de decisão) que são "otimizados" em relação a vários
critérios, ou ainda tentam encontrar a melhor solução entre as alternativas existentes.
Existem diversos tipos de métodos e diferentes formas de classificação, como quanto ao
tipo de dados utilizados (determinístico, estocástico, fuzzy) ou ainda de acordo com o número de
decisores no processo (unitário ou grupo). De acordo com Martins e Coelho [2012], os métodos
empregados para MCDM mais populares são: Analytic Hierarchy Process, (AHP), de utilização
largamente disseminada, Multi-Attribute Utility Theory (MAUT), Analytic Network Process
(ANP), Technique for Order Preference by Similarity to Ideal Solution (TOPSIS), Elimination
and Choice Expressing Reality (ELECTRE) e Preference Ranking Organization Method for
Enrichment Evaluations (PROMETHEE) entre outros. Todos compartilham de três etapas comuns:
(i) determinação dos critérios e alternativas relevantes; (ii) atribuição de medidas numéricas à
importância relativa dos critérios e aos impactos das alternativas nesses critérios; (iii)
processamento de valores numéricos para determinar um ranking de cada alternativa.
O método AHP foi selecionado no presente trabalho por sua flexibilidade e grande
aplicabilidade em diversos estudos, tais como gerenciamento e seleção de portfólio de projetos
[Gomede e de Barros, 2014], na seleção de produtos Thummala e Rao [2011], na seleção de
fornecedores [Hruška et al.,2014], no problema de facility location [Partovi, 2006], dentre outros.
Apesar da ampla gama de estudos em diversas áreas Subramanian e Ramanathan [2012] ressaltam
a limitação de pesquisa científica sobre o uso do AHP em problemas cuja ênfase seja a da
administração pública, como serviços em hospitais e aplicações na educação. Mesmo tendo poucos
registros na literatura acadêmica, ainda é possível encontrar alguns estudos na área ou que abordem
problemas de cunho social, como o estudo de Al-Barqawi e Zayed [2008] que tem como objetivo
projetar um modelo robusto para avaliar a condição na infraestrutura de sistemas hídricos
utilizando os métodos AHP e Artificial Neural Network (ANN) priorizando o planejamento de
inspeção e reabilitação da infraestrutura existente, ou ainda a pesquisa desenvolvida por Sagwan
[2011] que utiliza o método AHP para justificar economicamente a implementação de sistemas de
manufatura verde, considerando impactos sociais e ambientais, e o trabalho desenvolvido por
Ramirez et al. [2015] buscando soluções para comunidades socialmente vulneráveis, a fim
estruturar a tomada de decisão para problemas sociais em projetos.
A AHP, proposta por Saaty [1987], é uma ferramenta de tomada de decisões, que pode
auxiliar no ajuste de prioridades e torna a decisão racional, e não intuitiva e subjetiva. Segundo
Abreu e Campos [2007], o método visa solucionar os seguintes tipos de problema: dado um
conjunto de 𝑚 alternativas, separar estas em classes equivalentes e fornecer uma pré-ordenação
que exprima as posições relativas destas de acordo com 𝑛 critérios. Para isto, de acordo com Lucena
[1999], Trevizano [2005] e Saaty [2008] o método AHP tem como base a representação de um
problema complexo através da estruturação hierárquica, objetivando priorizar os fatores na análise
das diversas alternativas, sendo formado por três etapas basicamente:
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3. Aplicação
O estado do Rio de Janeiro (RJ) está localizado na região sudeste do Brasil, sendo
composto por 92 munícipios. A região conta com 15.989.929 habitantes, área territorial de 43.782
km² e densidade demográfica de 365,23 hab/km² (IBGE 2010). A Secretaria de Estado de Educação
(SEEDUC-RJ), gerencia aproximadamente um orçamento de R$ 4.8 bilhões para atender cerca de
700 mil alunos distribuídos em 1.230 unidades escolares. Se comparada a rede estadual do RJ com
outros estados brasileiros, é a quarta maior em números de alunos.
Tendo em vista os esforços para gerenciar esta rede de ensino, é salutar que lidar com
problemas com cenários complexos, vários critérios e diferentes avaliações seja necessário para a
tomada de decisão. Desta forma, a manutenção da infraestrutura deve ser considerada como um
ponto importante de investimento a fim de melhorar aspectos das estruturas básicas, físicas e de
apoio aos estudantes fluminenses.
Através da descentralização de recursos financeiros para as Unidades Escolares,
conforme Resolução SEEDUC 5.722 de 18 de fevereiro de 2019, as escolas estaduais são
responsáveis pela manutenção, conservação e pequenos reparos da infraestrutura física das
instalações de ensino. De acordo com o portal da transparência do Estado do Rio de Janeiro, no
ano de 2019, foram realizados repasses financeiros de aproximadamente R$ 102 milhões para o
suporte a autonomia das unidades de ensino.
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ETAPA 1:
A estruturação hierárquica do problema que permite que questões complexas sejam
decompostas em níveis e agrupadas em conjuntos mais simples, registrados os relacionamentos
para se chegar à escolha final. Neste contexto, no nível 1, tem-se o Objetivo final que para esta
aplicação é priorizar as Unidades Escolares com Necessidade de Intervenção em Infraestrutura.
O Nível 2 é compreendido pelos problemas como: Ausência de Esquadria da Janela,
Bancada quebrada e/ou solta, Bueiros sem tampa, Cerca Rompida / Faltando uma parte,
Enferrujado/corrosão, Espaço interditado com laudo, Espaço sem uso por suspeita de risco aos
alunos, Existência de cupins, Falta de ventilação, Fiação exposta, Forro danificado, Infiltração,
Instalações elétricas próximas ao encanamento de gás, Janela com esquadria danificada, Janela
com vidro quebrado, Mangueira de gás ressecada, Muro ou cerca inclinado, Muro Rompido /
Faltando uma parte, Odor constante de queimado nos quadros de disjuntores, Pia quebrada e/ou
solta, Pintura danificada, Pisos e Azulejos danificados, Problema generalizado no telhado,
Problemas no transformador interno de energia, Queda de energia frequentemente, Rachaduras,
Rachaduras (Parede/Teto/Piso), Rachaduras em fachada e/ou muro, Reparo de pequenos telhados,
Reparo e substituição de telhas quebradas, Reparo no quadro de Disjuntores, Reparo/limpeza de
calhas e/ou dutos, Vazamento de água, Vazamento de gás, Vazamento na caixa de água,
Vazamento na cisterna e Vergalhões expostos.
O Nível 3 foi estabelecido os ambientes que podem ocorrer os problemas, sendo:
Almoxarifado, Área de Circulação, Auditório, Banheiro e Vestiário, Cerca, Coordenação, Cozinha,
Despensa, Direção, Elétrica, Encanamento e Conexões de Gás, Fachada, Laboratório de Ciências
da Natureza, Laboratório de Informática, Muro, Pátio, Quadra, Refeitório, Sala de Aula, Sala de
Leitura, Sala de Leitura, Sala de Professores, Sala de Recurso, Sala de Vídeo, Sala do Grêmio,
Secretaria e Telhado.
As alternativas são todas as unidades escolares que terão a verificação dos critérios e
subcritérios envolvidos no processo de tomada de decisão. Após a definição do objetivo principal,
dos critérios, dos subcritérios e alternativas, é possível estruturar a hierarquia do modelo conforme
ilustrada na Figura 1.
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ESPAÇO
... FIAÇÃO
PROBLEMAS: 37 INTERDITADO INFILTRAÇÃO RACHADURAS
EXPOSTA
COM LAUDO
INCIDÊNCIAS: 270 .. .. .. ..
. . . .
BANHEIRO E VESTIÁRIO BANHEIRO E VESTIÁRIO SALA DE AULA REFEITÓRIO
ALTERNATIVAS: ...
ESCOLA 1 ESCOLA 2 ESCOLA 3 ESCOLA 1.230
1.230
ETAPA 2:
A Etapa 2 refere-se em montar a matriz entre os critérios e subcritérios estabelecidos. Na
sequência são comparados entre si os critérios e os subcritérios para determinar a importância
relativa de cada elemento para a obtenção do resultado, utilizando a escala de Saaty [1987]
referenciada na Tabela 1. A Figura 2 ilustra a matriz desenhada bem como os julgamentos
realizados por uma equipe multidisciplinar composta por Engenheiros, Professores, Inspetores
Escolares e Analistas da SEEDUC-RJ. Cabe destacar, que a comparação par-a-par dos critérios e
subcritérios busca aferir, à luz do objetivo final, qual é o elemento mais importante e qual a
intensidade dessa importância.
ETAPA 3:
Nesta etapa foi estabelecida a posição de cada unidade escolar diagnosticada através
somatório da pontuação das incidências. A hierarquização é exemplificada na Tabela 2, totalizando
a aplicação em 1.142 unidades. Cabe ressaltar que não fizeram parte do estudo as unidades
escolares compartilhadas com outra rede de ensino, as unidades que comtemplam apenas cursos
semipresenciais e as unidades prisionais.
5. Conclusão
Este artigo apresentou a aplicação do método AHP que serviu de auxílio aos gestores
públicos na seleção de unidades escolares com prioridades de intervenções nas instalações físicas.
Pode-se observar que o método conseguiu atingir o objetivo final de ranquear as unidades escolares
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mais críticas da rede estadual para que o gestor consiga tomar suas decisões com mais
assertividade.
Observou-se que dentre as decisões diárias para manter as condições de estrutura da
unidade escolar é necessária a definição de critérios de avaliação, poisa decisão envolve vários
aspectos que impactam em muitas áreas da instituição. Desta forma, reforça-se a necessidade do
uso de uma ferramenta de apoio multicritério, objetivando englobar critérios e reduzir a
subjetividade da decisão.
É importante ressaltar que o método AHP é mais uma ferramenta que os gestores públicos
podem utilizar de forma racional e comparar ao longo do tempo. Com isso, é possível dar celeridade
e otimizar a aplicação dos repasses de manutenção e de recursos oriundos de diferentes parcerias
às unidades escolares, assegurando uma alternativa isonômica, alheia a interesses particulares,
minimizando o risco de tendenciosidade do processo decisório. Desta forma, maximiza o interesse
da comunidade escolar em detrimento do individual.
Os dados gerados são comparáveis ao longo do tempo, ou seja, pode-se acompanhar a
evolução das intervenções no âmbito de rede e de uma unidade escolar. Desta forma, gera-se uma
série histórica que permite uma análise longitudinal da utilização dos recursos financeiros na
manutenção de infraestrutura escolar.
É importante também salientar a desconsideração da utilização de um único inspetor
respondente para os formulários como limitações encontradas no estudo. Poderia ter maior
consistência caso as informações não fossem provenientes de uma única fonte, possibilitando o
cruzamento de informações e maior acuracidade dos dados coletados.
Como sugestões para trabalhos futuros, recomenda-se mesclar o método AHP com outros
métodos de tomada de decisão. Este intuito visa atingir maior assertividade no resultado trazendo
o método matemático cada vez mais próximo da infraestrutura escolar encontrada na realidade.
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