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pré-história

Visões Constelação

do céu
da Ema, povo
Guarani, fonte:
Afonso, 2000

Arqueoastronomia é o conhecimento astronômico E para estudar essas sociedades


Etnoastronomia: que pouco se assemelham a nos-
dos povos antigos. Astros foram referências para a conhecimento sa, podemos contar com a valiosa
contribuição da Etnoastronomia
organização de alguns grupos, influenciando caça, astronômico de que ao estudar o conhecimen-
pesca, coleta e até o posicionamento das aldeias. culturas atuais to astronômico de diferentes
culturas atuais tem colabora-
do para ampliar os referenciais
Texto Cintia Jalles & identificar diversos aspectos do co- da pesquisa. O potencial para este
Maura Imazio da Silveira tidiano desses povos. cosmologia das diversas culturas. estudo no Brasil é favorecido pela
A Astronomia que identifica e es- A Arqueoastronomia reúne existência de grupos indígenas que

a
Arqueologia buscando tuda os corpos celestes torna-se es- esses dois campos específicos do habitam o país. O estudo da astro-
compreender o passado sencial para organização das socie- saber - Arqueologia e Astronomia nomia indígena nos permite ter re-
humano, a partir de restos dades, orientando desde atividades - tendo por objetivo estudar o co- ferenciais para o conhecimento as-
fragmentados da cultura de socie- de subsistência como caça, coleta e nhecimento astronômico dos po- tronômico das sociedades antigas,
dades, trabalha constantemente pesca, até o posicionamento das al- vos antigos e suas possíveis impli- contribuindo no esclarecimento de
com outras disciplinas visando deias, a formação de calendários e a cações em tais sociedades. questões arqueoastronômicas.

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

Constelação cabeça
onça, Povo Dessana, fonte: Olhai céu
e chão
Ribeiro ,1991

Detalhe de pintura rupestre, cópia


para análise, Lapa do Janelão Minas Todo mundo olha para o céu e
Gerais. Acervo da Arqueologia da percebe a imensidão do universo
UFMG (Universidade Federal de bem como uma grande quantida- Pintura rupestre na
Minas Gerais) Comunidade. de de estrelas. Em nossa socieda- Lapa do Mutambal.
de, assim como em outras cultu- Varzelandia, Minas
ras, aprendemos a ver imagens de Gerais. Acervo IAB
acordo com o que nos foi ensinado. (Instituto de Arqueolo-
Na nossa cultura identificamos as gia Brasileira/RJ)
constelações conforme a visão gre-
co-romana.
Por todo o território brasileiro,
encontram-se diversos sítios arque-
ológicos com vestígios relacionados
à Astronomia tendo a arte rupestre vuras eram realizadas por técnica
como principal objeto de investiga- Identificamos de picoteamento e/ou polimento.
ção. A partir de uma análise cada constelações Para realização de ambas foram uti-
vez mais especializada dos vestí- lizados diversos instrumentos que
gios, o arqueólogo procura ob- conforme a visão junto com os pigmentos podem ser
ter informações sobre o modo grego-romana descobertos durante as escavações.
de vida de quem os produziu. Dentre os instrumentos utilizados
A arte rupestre apresenta através para pintura podemos encontrar:
de pinturas, gravuras e esculturas, espátulas em osso, madeira ou ro-
cenas do universo dos grupos pré- máticas) ou combinadas (policro- cha; pincéis feitos de pelos ou vege-
históricos. Motivos com representa- máticas) com tintas obtidas a partir tais; gravetos e borrifadores; paleta
ções astronômicas ocorrem com re- de matérias primas provenientes de para pintura (blocos de rocha, con-
lativa frequência, ficando evidente minerais, vegetais e animais. Para chas, cabaças, cerâmica); seixos
a importância dos astros para estas tanto, triturava-se o mineral e/ou utilizados para triturar pigmentos
populações. Observações celestes vegetal, adicionando água e um fi- ou como batedores, entre outros.
estão implícitas também em regis- xador. As cores eram, predominan- Todo esse material, associado a ou-
tros associados a “sistemas de mar- temente, vermelho (óxidos de ferro tros vestígios nos trazem maiores
cação de tempo”. ou sangue), amarelo (limonita), esclarecimentos sobre os grupos
No passado pinturas eram ela- preto (manganês, grafita, carvão ou que os produziram e o período em
boradas em cores únicas (monocro- jenipapo) e branco (caulim). As gra- que viveram.

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Petroglifo, La-
jedo do Cadena
II. Conceição do
Araguaia, Pará.

edithe Pereira

Área de investigação recente


Outros tipos de vestígios que litar o manuseio dessas cópias os mostra de material arqueológico
podem ser encontrados com re- mesmos são reduzidos e digitali- Descobertas com motivos astronômicos pro-
lação à Arqueoastronomia são as zados para estudo e publicação. de sítios com venientes desta região. Realizou
estruturas megalíticas e alinha- No Brasil, a Arqueoastrono- ainda uma Oficina de Arqueo-
mentos de pedras, pouco comuns mia é uma área do conhecimento estruturas astronomia, onde um grupo
na Arqueologia brasileira. Recen- recente que, desde os anos 80, megalíticas de astrônomos e arqueólo-
temente, foram descobertos sítios vem se definindo como área es- gos de diferentes instituições
arqueológicos com estruturas pecífica de investigação. A partir do país se reuniu com o objetivo
megalíticas no Amapá, que estão de alguns trabalhos pioneiros de conhecer o material existente
sendo pesquisados pelos arqueó- realizados por arqueólogos e as- projeto de pesquisa inicialmente em diversos estados brasileiros
logos do IEPA. trônomos que começaram a se elaborado para estudar registros (Pará, Tocantins, Paraíba, Bahia,
Uma vez coletado, o material interessar e a registrar os vestí- astronômicos encontrados na Minas, Paraná). Como conse-
segue para o laboratório a fim de gios de conteúdo aparentemente arte rupestre do norte de Minas quência um curso de astronomia
ser mais bem estudado. O traba- astronômico em diversos sítios Gerais, o Museu de Astronomia básica para arqueólogos foi rea-
lho do arqueólogo no laboratório arqueológicos brasileiros, des- e Ciências Afins (MAST) em par- lizado, em 2000, visando contri-
abrange uma análise detalhada cortinou-se um vasto campo de ceria com o Instituto de Arqueo- buir na coleta de dados de futuros
das cópias dos painéis coletados investigação para esta nova disci- logia Brasileira (IAB) organizou, trabalhos em sítios arqueológicos
em campo. Com objetivo de faci- plina. Desta forma, a partir de um no ano de 1998, uma primeira relacionados com o tema.

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Registros
e difusão
Com objetivo de levar ao pú-
blico resultados de pesquisas di-
vulgando o tema organizou-se à
exposição itinerante “Olhando o
céu da pré-história - Registros Ar-
queoastronômicos no Brasil” que
apresenta um panorama geral da
pesquisa arqueoastronômica no
país, reunindo alguns estados
brasileiros que apresentam vestí-
gios arqueológicos com motivos
astronômicos (fotos). Esta exposi-
ção foi realizada em 2004/5 pelo
Museu de Astronomia e Ciências
Afins (MAST/MCT) e teve a par-
ceria institucional do Museu Para-
ense Emílio Goeldi (MPEG/MCT)
e do Instituto de Arqueologia Bra- Megalitos de
sileira (IAB), reunindo esforços Calçoene-Ama-
com pesquisadores do Observa- pá. Fonte: Cabral
tório do Valongo/UFRJ, Museu & Saldanha.
Nacional/UFRJ, UFPR e o setor de
Arqueologia do Museu de Histó-
ria Natural da UFMG, no intuito
de melhor desenvolver a pesqui-
sa arqueoastronômica no Brasil. ções para gerarmos conhecimento sistematização dos dados arque-
A exposição foi exibida também propriamente arqueoastronômico Registros ológicos que fazem referência ao
no Museu Paraense Emílio Goel- pois, até o momento, poucas in- astronômicos são tema, pois ainda necessitamos de
di (MPEG/MCT) em 2008/09, no terpretações arqueoastronômicas maisfrequentesdo muitas informações para que pos-
SESC em São José dos Campos e são possíveis sobre esse tipo de samos, no futuro, transformar a
no Rio Centro no Rio de Janeiro registro arqueológico. que supúnhamos Arqueoastronomia em uma área
em 2009. Para aprofundar o con- A divulgação de novas e di- de estudo definida e amplamente
teúdo da mostra foi editado um ferenciadas informações alusivas pesquisada no Brasil.
catálogo/livro que se encontra ao tema - inicialmente apresentado
disponível nas instituições pro- através das exposições - propiciará tizar registros de motivos astronô-
motoras. a identificação de outros elemen- micos, que além de reunir maior Cintia Jalles é mestre em arqueolo-
Uma vez reunido este vasto ma- tos que poderão ser eficazes no quantidade de material para ser gia e pesquisadora da Coordenação
terial por ocasião da elaboração entendimento da pré-história bra- analisado, comparado e avaliado, de História da Ciência do Museu de
desta última exposição, pudemos sileira, bem como fornecer dados propiciará a integração (Arque- Astronomia e Ciências Afins (MAST/
observar que imagens recorrentes para uma comparação necessária ologia, Etnologia e Astronomia) MCT).
de motivos astronômicos são en- a compreensão do conhecimento de pesquisadores e instituições Maura Imazio da Silveira é doutora
contradas com maior frequência astronômico destas populações. através do intercâmbio dos dados em arqueologia, pesquisadora da
do que supúnhamos em diferentes Pretendemos dar sequência à coletados sobre o tema. É com Coordenação de Ciências Humanas
regiões do país. Certamente, ainda pesquisa, elaborando um banco essa finalidade que propomos dar do Museu Paraense Emílio Goeldi
necessitamos de muitas informa- de dados com objetivo de sistema- continuidade ao levantamento e (MPEG/MCT).

caminhos para aprofundamentos

 Afonso, G. 2000. Cd - Arqueo- no Brasil: estudos, problemas Ciência Hoje – Amazônia: p.14-23. o cosmos: visões de Arqueo-  Cabral, M. & Saldanha, J. 2010.
astronomia brasileira. UFPR. e possibilidades. Anais do VI  Jalles, C. 1997. Arqueoastrono- astronomia no Brasil. Museu As estruturas megalíticas na foz
 Beltrão, M.C.M.C. 1991. Região Seminário Nacional de História mia no Município de Varzelândia de Astronomia e Ciências Afins do Amazonas. 2008. Fonte site
arqueológica de Central: a As- da Ciência e da Tecnologia. - MG: uma proposta de estudo. MAST/MCT, Pré-print. crookscape (Gema - Grupo de
tronomia do homem pré-histó- Sociedade Brasileira de História Anais do VI Seminário Nacional  Jalles, C. & Imazio, M. 2004. Estudos do Megalitismo Alente-
rico brasileiro. Revista Geográfica da Ciência, Rio de Janeiro. de História da Ciência e da Tec- Olhando o céu da Pré-História. jano ).
Universal, n. 203.  Ribeiro, B. & Kenhíri, T. 1991. nologia. Sociedade Brasileira de Registros Arqueoastronômicos  Megalitos de Calçoene-Amapá.
 Carvalho, E.T. & Jalles, C. 1997. Chuvas e constelações: calendário História da Ciência, Rio de Janeiro. no Brasil. MAST e MPEG/MCT, Site: www.crookscape.org/tex-
Pesquisas em Arqueoastronomia econômico dos índios Dessana.  Jalles, C. 1999. O homem e 2004.48p. Il. tjun8/text.html

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