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INTRODUÇÃO

I. DELINEANDO CONCEITOS: A ORIGEM DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO


BRASIL, SEUS PRINCÍPIOS E SIGNIFICADO;

1.1 - Contexto Sócio-Econômico e Político do Surgimento da Economia Solidária no


Brasil.

1.2 - Significação da Economia Solidária,

1.2.1 princípios norteadores

1.2.2 empreendimentos que a compõem.

1.2.3 perfil dos Empreendimentos da Economia solidária na Bahia

1.3 - Organização Politica e Institucional da Economia Solidaria no Brasil

II. ENTRAVES AO DESENVOLVIMENTO DOS EMPREENDIMENTOS DA


ECONOMIA SOLIDÁRIA

2.1 - O Serviço Social na assessoria aos empreendimentos da Economia Solidária

2.2 - Estudo de Caso Núcleo de Mulheres em ação

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO I

DELINEANDO CONCEITOS: A ORIGEM DA ECONOMIA SOLIDÁRIA NO


BRASIL, SEUS PRINCÍPIOS E SIGNIFICADO

1.1 Contexto Sócio-Econômico e Político do Surgimento da Economia Solidária no Brasil.

Para tratar do tema proposto, ou seja, os entraves ao desenvolvimento dos


empreendimentos da Economia Solidária é imprescindível conhecer os pressupostos que a
fizeram emergir no Brasil. A Economia Solidária está diretamente ligada às relações de trabalho
e se forjou por conseqüência do modo de produção capitalista e os processos a ele pertinentes.

No Brasil, a crise do trabalho configura-se por uma redução gradativa da mão-de-obra


dos setores primários e secundários concomitante ao crescimento no setor terciário através da
precarização e da informalidade, não da absorção de empregos. Essa condição é resultante das
políticas macroeconômicas e da reestruturação produtiva, característica da globalização
competitiva, que contrastou a concentração de riquezas e o alargamento da pobreza.

Os impactos sociais gerados pelo sistema capitalista, como o crescimento da


desigualdade, a competitividade e a acumulação por parte de uma minoria se revelam na
sociedade através do desemprego estrutural, dentre outros fatores. No Brasil, a partir da
segunda metade dos anos setenta, intensifica-se o desemprego em massa provocado pela
desindustrialização, que eliminou uma grande quantidade de postos de trabalho formal e
instabilizou o emprego por meio da “flexibilização” dos direitos dos trabalhadores, a redução
dos salários e o aumento do exército industrial de reserva.

Singer (2003) destaca que tornou-se característica do capitalismo o aproveitamento


incompleto da capacidade de trabalho do proletariado, ou seja, do que Marx conceituou como
a perpetuação dum “exército industrial de reserva”. Nesse ponto, o capitalismo se distingue
dos demais modos de produção. A razão de ser do desemprego estrutural do capitalismo
deriva diretamente do antagonismo entre compradores e vendedores da força de trabalho.

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Iamamoto (1996) afirma que a “flexibilização do mercado de trabalho”, vem
acompanhada da desregulamentação dos direitos do trabalho e de estratégias de
informalização da contratação dos trabalhadores, atingindo amplos segmentos daqueles que
vivem do trabalho.

Outro fator constituinte do quadro de desemprego é a reestruturação produtiva, que


segundo Cesar (1998), constitui-se como uma resposta à crise de acumulação capitalista, que
encerra uma estratégia de reorganização da produção e dos mercados e como tal, interfere na
organização da sociedade e no conjunto das relações que se estabelecem entre o capital ,
trabalho e o Estado. Esta autora afirma que:

No Brasil, a reestruturação produtiva, longe de substituir as


tradicionais e conservadoras relações de trabalho, vem reforçando-as
com a introdução de novos e modernos padrões de produção. Seus
resultados têm sido os elevados índices de desemprego e a
precarização das condições de trabalho. Este processo, ao contribuir
para a fragilização da organização sindical, afeta as conquistas
históricas dos trabalhadores. (CESAR, 1998, p.118)

Com o desenvolvimento da tecnologia, o uso de maquinário avançado e a substituição


da força de trabalho foram desenvolvidos mecanismos de otimização da produção, visando
maior economia e ampliação da capacidade produtiva, como conseqüência desta
“reestruturação produtiva” ocorre profundas transformações nas relações de trabalho. A
desigualdade social leva a população excluída dos postos formais de trabalho a retomar ou
criar diferenciadas formas de organização do trabalho e da produção, como alternativas de
geração de renda, visando o enfrentamento ao desemprego, pobreza e exclusão social.

A Economia Solidária não é definitivamente um fenômeno novo no mundo, sua


origem se deu pouco depois do capitalismo industrial, sempre como enfrentamento a
eminência da exclusão e precarização do trabalho, sua fundamentação está historicamente
calcada na luta das classes populares contra o capitalismo, porém a designação do termo
Economia Solidária e os princípios que lhe são concernentes vem se desenvolvendo no Brasil
a partir do inicio dos anos 80 como afirma Singer:

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A Economia Solidária começou a ressurgir no Brasil, de forma
esparsa na década de 1980 e tomou impulso crescente a partir da
segunda metade dos anos 1990. Ela resulta de movimentos sociais que
reagem à crise de desemprego em massa, que tem seu inicio em 19981
e se agrava com a abertura do mercado interno às importações, a partir
de 1990. Em 1991, tem inicio o apoio de assessores sindicais a
operários que conseguem se apossar da massa falida da empresa que
antes os empregava, formando uma cooperativa de produção, que
retoma as operações e assim “salva” os postos de trabalho até então
ameaçados de fechamento. (SINGER, 2003, P.25)

Como resposta a necessidade de luta pela subsistência por parte da população excluída
a Economia solidária se forjou gradativamente como movimento social, sob forma de
cooperativas e associações. Segundo Singer (2002), muitos dos milhares de pequenos Projetos
Alternativos Comunitários (PAC), financiados pela Cáritas Brasileira para gerar trabalho e
renda de forma associada para moradores das periferias pobre e da zona rural acabaram por
constituir-se em unidades de economia solidária, assumindo a forma de cooperativa ou
associação produtiva. Caracterizando-se inicialmente na zona rural, por empreendimentos
agrícolas, e na zona urbana por empresas em processo de falimento, assumidas por seus
trabalhadores.

No final da década de 80, setores do movimento sindical envolveram-se com o assunto


pela necessidade de lutar a favor da manutenção de postos de trabalho dos milhares de
trabalhadores vítimas do processo de desmonte do parque industrial do país. O resultado dessa
organização foi a reativação de diversas empresas sob a gestão dos trabalhadores. Como
afirma Singer (2002):
Foi uma forma encontrada pelos trabalhadores de se defender da
hecatombe industrial, preservando os seus postos de trabalho e se
transformando em seus próprios patrões. [...] Em 1991, com a falência
da empresa calçadista Makerli, de Franca (SP), que deu lugar a
criação da Associação Nacional dos trabalhadores em empresas de
Autogestão e participação Acionária (ANTEAG). À qual hoje estão
filiadas centenas de cooperativas. A mesma atividade de fomento e
apoio à transformação de empresas em crise em cooperativas de seus
trabalhadores é desenvolvida pela União e Solidariedade das
Cooperativas do Estado de São Paulo.

O Movimento sindical também fomentou a criação de cooperativas através de


assessorias técnicas, programas de financiamento de crédito e a formulação de uma política

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sindical para a Economia solidária em parceria com a ICCO – Organização Intereclesiástica
para a Cooperação ao desenvolvimento, no ano de 1998.

Como explicita Singer (2006) A ADS-CUT Agencia de


Desenvolvimento Solidário, criada em 1999, mobiliza sindicatos em
apoio à Economia Solidária e se empenha na construção duma rede
nacional de crédito solidário, o Dieese - Departamento Intersindical de
estudos Estatísticos, Sociais e Econômicos, assessora todos os
sindicatos brasileiros há mais de 40 anos.

Diversas entidades contribuíram para a configuração da Economia solidária no Brasil,


como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que através das cooperativas
agrícolas, subsidiadas pelos PACs, viabilizavam os assentamentos. O movimento criou o
Sistema Cooperativista dos Assentamentos (SCA), contando com diversas cooperativas a
nível nacional, divididas em Cooperativas de produção agropecuária, Prestação de Serviços e
Cooperativas de crédito, fundaram ainda uma escola de formação de técnicos em
cooperativismo.

È importante destacar a participação das Universidades por meio das Incubadoras


Tecnológicas de Cooperativas Populares – ITCP, que surgiram a partir de 1990 e atuam junto
aos grupos produtivos dando apoio administrativo, jurídico-legal, e formação política através
de uma equipe multidisciplinar, formada por assessores técnicos e estudantes das mais
variadas profissões. As ITCPS também viabilizam o acesso a projetos e recursos contribuindo
para o desenvolvimento de associações e cooperativas. Hoje as ITCP’s constituem uma rede
que se reúne para discutir os mais variados temas e o melhoramento e ampliação da sua
atuação.

Em 2001, durante o Fórum Mundial Social na cidade de Porto Alegre, surgiu o Grupo
de Trabalho Brasileiro de ES. Depois de entregue a carta ao presidente Lula no final de 2002,
aconteceu a Primeira Plenária Nacional de ES com a presença de representantes de vários
estados, que discutiram a criação do Fórum Brasileiro de ES. Em junho de 2003, houve a
criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) no Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) pelo então ministro Jaques Wagner. Em 2004 aconteceu o Primeiro
Encontro Nacional de Empreendimentos e em 2006, a Primeira Conferência Nacional de ES,
culminando na criação do Conselho Nacional de ES, consolidando a Economia Solidária no
Brasil.

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1.2 - Significação da Economia Solidária

Seguindo o contexto de enfrentamento dos trabalhadores Brasileiros à precarização,


alienação e exclusão do trabalho, a Economia solidária pode se definir aqui por alternativas
mais equanimes de reprodução da vida, através de valores coletivos, divergentes do sistema
de produção capitalista e paradoxalmente, ligado e imerso nele. Três fatores importantes se
destacam na Economia Solidária, a força de trabalho não é uma mercadoria, o trabalhador não
está alienado ao processo de produção e ao produto e não existe a hierarquia verticalizada da
gestão.

A Economia solidária se definir também por uma nova forma de produção, consumo e
distribuição de riqueza (economia), de base associativista e cooperativista, voltada para a
produção, consumo e comercialização de bens e serviços de modo autogerido, tendo como
finalidade a reprodução ampliada da vida. È o “conjunto de atividades economicas – de
produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas sob a forma de
autogestão” (SENAES,2003:6).

Para o professor Gabriel Kraychete, a Economia Solidária seria:

“... um conjunto de atividades que, diferentemente da empresa


capitalista, possuem uma racionalidade econômica ancorada na
geração de recursos (monetários ou não) destinados a prover e repor
os meios de vida, e na utilização de recursos humanos próprios,
agregando, portanto, unidades de trabalho e não de capital.”
(KRAYCHETE, 2000, pag15)

Segundo Singer, a Economia Solidária é um outro modo de produção, cujos princípios


básicos são a propriedade coletiva ou associada do capital e o direito à liberdade individual.
(SINGER, 2002, pag.10).

A Economia Solidária reafirma a emergência de atores sociais, ou seja, a emancipação


de trabalhadoras e trabalhadores como sujeitos críticos e conscientes, capazes de compreender
e influenciar o seu meio. O carater revolucionário e socialista contido na Economia Solidária
em seus primórdios, através da crítica operária e socialista ao capitalismo, pode se traduzir
contemporaneamente no esforço da Economia Solidária em ir além da geração de trabalho e

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renda, no desenvolvimento da dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural para
a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável.

Conforme Wautier, A economia solidária é orientada do ponto de vista sociológico e


“acentua a noção de projeto, de desenvolvimento local e de pluralidade das formas de
atividade econômica, visando à utilidade pública, sob forma de serviços diversos, destinados,
principalmente, mas não exclusivamente, à população carente ou excluída”. Pode-se dizer
também que é fundada em relações nas quais as práticas de solidariedade e reciprocidade não
são utilizadas como meros dispositivos compensatórios, mas sim fatores determinantes na
realidade da produção da vida material e social. (In: CATTANI: 2003, p.110)

Singer propõe que a economia solidária seja uma estratégia possível de luta contra as
desigualdades sociais e o desemprego: "A construção da economia solidária é uma destas
outras estratégias. Ela aproveita a mudança nas relações de produção provocada pelo grande
capital para lançar os alicerces de novas formas de organização da produção, à base de uma
lógica oposta àquela que rege o mercado capitalista. Tudo leva a acreditar que a economia
solidária permitirá, ao cabo de alguns anos, dar a muitos, que esperam em vão um novo
emprego, a oportunidade de se reintegrar à produção por conta própria individual ou
coletivamente...” (SINGER: 2000 p.138).

O conceito de Economia Solidária segundo Mance agrega a noção não apenas de geração
de postos de trabalho, mas sim uma colaboração solidária que visa a construção de sociedades pós-
capitalistas em que se garanta o bem-viver de todas as pessoas: "...ao considerarmos a colaboração
solidária como um trabalho e consumo compartilhados cujo vínculo recíproco entre as pessoas advém,
primeiramente, de um sentido moral de corresponsabilidade pelo bem-viver de todos e de cada um em
particular, buscando ampliar-se o máximo possível o exercício concreto da liberdade pessoal e
pública, introduzimos no cerne desta definição o exercício humano da liberdade..." (MANCE: 1999,
p.178).

A economia solidária, então, apresenta-se como uma reconciliação do trabalhador com


seus meios de produção e fornece, de acordo com Gaiger (2003), uma experiência profissional
fundamentada na eqüidade e na dignidade, na qual ocorre um enriquecimento do ponto de
vista cognitivo e humano. Com as pessoas mais motivadas, a divisão dos benefícios definida
por todos os associados e a solidariedade, “o interesse dos trabalhadores em garantir o sucesso
do empreendimento estimula maior empenho com o aprimoramento do processo produtivo, a

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eliminação de desperdícios e de tempos ociosos, a qualidade do produto ou dos serviços, além
de inibir o absenteísmo e a negligência” (GAIGER: 2002, p.34).

Nas diversas interpretações dos autores citados pode-se notar algumas convergencias e
divergencias, é consenso a dimensão transformadora da Economia Solidária, bem como seu
caráter socialista enquanto modo de produção coletivo e autogerido, porém faz-se necessário
pontuar que a dimensão ideológica da Economia Solidária suscita muitos questionamentos
entorno do seu “status quo” dentro do sistema capitalista de produção, pois está claro sua
imersão neste sistema.

1.2.1 Princípios norteadores

Aspectos importantes foram sendo incorporados às práticas da Economia


Solidária ao longo do seu desenvolvimento, tornando-se baliza para sua consolidação,
este processo contínuo e dinâmico se altera nas configurações e exigências da
realidade que se apresenta para o movimento e seus atores. Ideologicamente, a
Economia Solidária propõe uma forma diferenciada de qualidade de vida e de consumo, a
partir da integração e da solidariedade entre os cidadãos de todo o mundo.
No Brasil, mesmo com toda a diversidade cultural presente em cada região, foi
possível elaborar, durante a III plenária Nacional de Economia Solidária, em junho de
2003, a carta de princípios da Economia Solidária1, com as seguintes convergências:

[...] Os valores centrais da Economia Solidária são o trabalho, o conhecimento e o


atendimento das necessidades sociais da população, a partir de uma gestão responsável dos
recursos públicos. A Economia Solidária representa instrumento de combate à exclusão
social na medida em que apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e
para a satisfação direta das necessidades humanas, eliminando as desigualdades materiais e
difundindo os valores da ética e da solidariedade;

A Economia Solidária é também um projeto de desenvolvimento integral que visa a


sustentabilidade, a justiça econômica e social e a democracia participativa, além da
preservação ambiental e a utilização racional dos recursos naturais. Além disso, a Economia
Solidária exige o compromisso dos poderes públicos com a democratização do poder, da
riqueza e do saber, e estimula a formação de alianças estratégicas entre organizações

1
III plenária Nacional de Economia Solidária, em junho de 2003, a carta de princípios da
Economia Solidária,

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populares para o exercício pleno e ativo dos direitos e responsabilidades da cidadania
(controle social);

O valor central da economia solidária é o trabalho, o saber e a criatividade humanos e não o


capital-dinheiro e sua propriedade sob quaisquer de suas formas;

A Economia Solidária representa práticas fundadas em relações de colaboração solidária,


inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da
atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em
particular;

A Economia Solidária busca a unidade entre produção e reprodução, evitando a contradição


fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade mas exclui crescentes
setores de trabalhadores do acesso aos seus benefícios;

A Economia Solidária busca outra qualidade de vida e de consumo, e isto requer a


solidariedade entre os cidadãos do centro e os da periferia do sistema mundial;

Para a Economia Solidária, a eficiência não pode limitar-se aos benefícios materiais de um
empreendimento, mas se define também como eficiência social, em função da qualidade de
vida e da felicidade de seus membros e, ao mesmo tempo, de todo o ecossistema;

A Economia Solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social, pois


apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a satisfação direta
das necessidades de todos, provando que é possível organizar a produção e a reprodução da
sociedade de modo a eliminar as desigualdades materiais e difundir os valores da
solidariedade humana [...] (III plenária Nacional de Economia Solidária, junho de 2003).

A carta contém ainda princípios específicos que se constituem parâmetros


referentes ao sistema de finanças solidárias, desenvolvimento de cadeias produtivas e a
construção de uma política de Economia Solidária num Estado democrático. Sobre o
sistema de finanças solidárias há que se ressaltar o direito das comunidades e nações à
soberania de suas próprias finanças, acesso popular ao crédito baseados nas suas próprias
poupanças, empoderamento financeiro das comunidades; o controle e a regulação dos fluxos
financeiros para que cumpram seu papel de meio e não de finalidade da atividade econômica;
a imposição de limites às taxas de juros e aos lucros extraordinários de base monopólica.

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Em relação às cadeias produtivas existe um grande esforço no sentido de
ampliação das oportunidades de trabalho e intercâmbio no sentido de articular o
consumo solidário com a produção, comercialização e finanças, de forma dinâmica e do nível
local até o global. As atividades sócio-econômicas mantém-se na suas origens e contexto
imediatos agregando a territorialidade e o desenvolvimento local como marcos de referência,
mantendo vínculos de fortalecimento com redes da cadeia produtiva (produçáo,
comercialização e consumo) espalhadas por diversos países, com base em princípios éticos,
solidários e sustentáveis. A economia solidária promove o desenvolvimento de redes de
comércio a preços justos, procurando que os benefícios do desenvolvimento produtivo sejam
repartidos mais eqüitativamente entre grupos e países.

No que se refere a construção de uma política de Economia Solidária num


Estado democrático, o objetivo é exigir uma maior responsabilização dos Estados
nacionais pela defesa dos direitos universais dos trabalhadores. O respeito à autonomia
dos empreendimentos e organizações dos trabalhadores, sem a tutela de Estados
centralizadores e longe das práticas cooperativas burocratizadas, que suprimem a
participação direta dos cidadãos trabalhadores. Preconiza um Estado
democraticamente forte, empoderado a partir da própria sociedade e colocado ao
serviço dela, transparente e fidedigno, capaz de orquestrar a diversidade que a
constitui e de zelar pela justiça social e pela realização dos direitos e das
responsabilidades cidadãs de cada um e de todos.

1.2.2 Empreendimentos que a compõem

Neste aspecto serão utilizados os parâmetros do MTE-SENAES, 2004 para a


definição dos empreendimentos da Economia Solidária, admitindo-se porém a
importância da atual discussão sobre o contingente de trabalhadores informais e
individuais e seu papel nesta economia. Segundo o Termo de Referência do Sistema
Nacional de Informações em Economia Solidária (MTE-SENAES, 2004)2, foram
considerados como empreendimentos da economia solidária as organizações que
possuam as seguintes características:

a) coletivas - organizações suprafamiliares, singulares e complexas, tais como:


associações, cooperativas, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes de
trocas, redes e centrais etc;
2
No final de 2003, a SENAES constituiu o Grupo de Trabalho de Estudos e Banco de Dados (ou GT do Mapeamento), que estabeleceu um consenso em torno das
concepções básicas sobre a economia solidária. O trabalho de campo foi realizado durante o ano de 2005, e os seus resultados foram divulgados no primeiro semestre de
2006 e encontram-se disponíveis no site www.mte.gov.br.

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b) cujos participantes ou sócios(as) são trabalhadores(as) dos meios urbano e rural que
exercem coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação dos resultados;

c) permanentes, incluindo os empreendimentos que estão em funcionamento e aqueles


que estão em processo de implantação, com o grupo de participantes constituído e as
atividades econômicas definidas;

d) com diversos graus de formalização, prevalecendo a existência real sobre o registro


legal e;

e) que realizam atividades econômicas de produção de bens, de prestação de serviços,


de fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), de
comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de
consumo solidário.

As primeiras tabulações desta pesquisa permitem delinear as seguintes características


dos empreendimentos associativos:

a) foram identificados quase 15.000 empreendimentos em 2.274 municípios (o que


corresponde a 41% do total de municípios do país), envolvendo mais de 1,2 milhão de
pessoas (possivelmente estes números são maiores, pois o mapeamento não alcançou
todos os municípios em vários estados do país);

b) o trabalho associativo tem sido majoritariamente decorrente do esforço e dos


recursos exclusivos dos próprios trabalhadores. Pode-se supor que a dependência de
recursos dos próprios associados ou de doações cerceia o surgimento e o
desenvolvimento dos empreendimentos, e compromete as condições necessárias à
sutentabilidade dos mesmos. A distância e os percalços entre os passos iniciais para a
organização da atividade e a sua entrada em operação, constitui-se numa “travessia no
deserto”, onde é plausível supor a existência de iniciativas que sucumbem durante o
percurso;

c) a maior parte dos grupos se estruturou a partir nos anos 1990. As principais razões
que motivam a criação dos empreendimentos associativos são a busca de alternativas
de trabalho diante do desemprego, a obtenção de maiores ganhos e de uma fonte
complementar de renda;

d) predominam os empreendimentos que atuam na área rural. Os empreendimentos


que atuam exclusivamente na área urbana correspondem a 33% do total. Os
empreendimentos associativos no meio rural possuem características peculiares em
relação aos tipicamente urbanos. Se, por exemplo, uma atividade de agricultores
familiares não obtém êxito na comercialização coletiva de seus produtos, eles têm a
opção de retornarem à forma tradicional em que se inseriam no mercado, nem que seja
vendendo para o atravessador local. No caso dos empreendimentos urbanos, a
obtenção de resultados positivos adquire uma urgência bem mais intensa para os
associados, sobretudo na situação em que os mesmos não possuem outra fonte de
renda;

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e) apenas 38% dos empreendimentos conseguem pagar as despesas e ter alguma sobra.
Entre os empreendimentos que declararam o ganho dos associados, mais de 50%
recebem o equivalente a até meio salário e 26% entre meio e 1 SM. Embora a
obtenção de uma fonte complementar de renda apareça como um dos principais
motivos para a organização dos empreendimentos, é plausível supor que esta renda
seja a complementação de outra igualmente precária;

f) os produtos e serviços dos empreendimentos destinam-se principalmente para o


mercado, sobretudo os mercados locais. Apenas 6% produzem exclusivamente para o
auto-consumo dos sócios. Como já assinalado, entretanto, os resultados econômicos
obtidos são muito frágeis;

g) quase todos os grupos já receberam algum tipo de assessoria, que se concentram,


sobretudo, nos aspectos técnicos dos empreendimentos e nos princípios do
cooperativismo e do associativismo. Mas os grupos se ressentem, nitidamente, de um
maior apoio na elaboração e entendimento coletivo das condições necessárias à
viabilidade econômica dos empreendimentos;

h) a maior parte dos empreendimentos (60%) tem alguma relação ou participa de


movimentos populares, destacando-se os movimentos comunitários, sindical, de luta
pela terra e de agricultores familiares.

1.2.3 perfil dos Empreendimentos da Economia solidária na Bahia

O Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, através da Secretaria Nacional de


Economia Solidária - SENAES, tem entre seus objetivos favorecer o desenvolvimento e
divulgação da Economia Solidária. Em 2004, conforme previa o Programa Economia
Solidária em Desenvolvimento (Plano Plurianual 2004-2007 do Governo Federal), teve início
o Mapeamento da Economia Solidária no Brasil. Implementado em duas fases entre 2004 e
2005, o mapeamento identificou Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) e Entidades
de Apoio, Assessoria e Fomento (EAF) em todos os estados. As informações nele coletadas
constituem um retrato da economia solidária no Brasil no ano de 2005, cuja síntese foi
apresentada no Atlas da Economia Solidária no Brasil, lançado em abril de 2006.
Os dados analisados constituem a base do Sistema Nacional de Informações em
Economia Solidária (SIES), composto por um banco nacional de dados e por bases locais de
informações. Em 2006 a SENAES/MTE está promovendo a Fase III do Mapeamento da
Economia Solidária, na qual serão implantados Sistemas Estaduais.
No que se refere à distribuição geográfica, mais de 50% dos Empreendimentos
Econômicos Solidários estão localizados nos 09 estados da Região Nordeste do Brasil. Em
seguida, destaca-se a Região Sul, com cerca de 20% dos EES. Considerando as formas de

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organização desses empreendimentos, predominam as associações, com 60% do total, seguida
dos grupos ainda sem formalização, com 22%; e das cooperativas com 15% do total.

Mapeamento dos EES (Bahia)


Na Bahia, o mapeamento (SIES 2005-2007) alcançou somente cerca de 37%
dos municípios, mas levou nosso estado à terceira posição no ranking nacional com
1.611 empreendimentos identificados, envolvendo cerca de 100.000 trabalhadoras e
trabalhadores.

• 1.131 são Associações e apenas 143 são Cooperativas.

• 1.044 estão localizados em área rural e apenas 252 em área urbana.

Produtos ou Serviços mais produzidos: (Artesanato 13º / Confecções 12º).

Atividades econômicas:

(7º) Artefatos têxteis a partir de tecidos (exceto vestuário).

(14º) Artefatos diversos de madeira, palha, cortiça e material trançado (exceto móveis)

(18º) Artigos de tecido de uso doméstico (incluindo tecelagem)

(20º) Vestuário (exceto roupas intimas, blusas, camisas e semelhantes)

1.3 - Organização Politica e Institucional da Economia Solidaria na Bahia

Na Bahia, no contexto de instalação, em 2007, de um governo estadual com um perfil


democrático e popular, que valoriza os movimentos sociais, foi criada de forma inovadora a
Superintendência de Economia Solidária (Sesol), vinculada à Secretaria do Trabalho,
Emprego, Renda e Esporte (Setre). Sua criação resultou de uma manifestação encaminhada
por carta do Fórum Baiano de Economia Solidária ao recém-eleito governador, Jaques
Wagner, reivindicando a criação de uma esfera institucionalizada no estado para assumir a
responsabilidade de implementar uma política estadual de apoio e fomento à economia
solidária na Bahia.

A Sesol, aproveitando a formulação da equipe de transição de Jaques Wagner, deu con-


sistência e implementou o Programa Bahia Solidária: mais Trabalho e Renda, cujo objetivo é
promover o fortalecimento e a divulgação da economia solidária mediante políticas
integradas, visando à geração de trabalho, renda, inclusão social e promoção do
desenvolvimento justo e solidário. Os recursos destinados ao programa no exercício do Plano
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Plurianual (PPA) 2008-2011 giram em torno de R$ 157,6 milhões,1 um valor expressivo,
levando em conta o que vem sendo direcionado a políticas de apoio e fomento à economia
solidária, seja no âmbito nacional, estadual ou municipal. Parte desse recurso é proveniente
do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza do Estado da Bahia (Funcep).

O Programa Bahia Solidária, prevê ações de fomento, formação, divulgação e crédito


produtivo aos trabalhadores e trabalhadoras da economia solidária da Bahia, promovendo
ações e instrumentos para a organização e sustentabilidade de empreendimentos econômicos
solidários. Ao lado disto, também vêm sendo realizados trabalhos no sentido da
implementação de um marco jurídico específico para a economia solidária, através da
formatação do projeto de lei que cria a Política Estadual de Fomento à Economia Solidária
no Estado da Bahia e o Conselho Estadual de Economia Solidária.

A operacionalização do Bahia Solidária é feita através das três coordenações que


compõem a Sesol: a Coordenação de Fomento (Cofes), a Coordenação de Formação e
Divulgação (COFD) e a Coordenação de Microcrédito e Finança Solidária (Comfis).
Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento.

As Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento à Economia Solidária são aquelas


organizações que desenvolvem ações nas várias modalidades de apoio direto junto aos
empreendimentos econômicos solidários, tais como: capacitação, assessoria, incubação,
assistência técnica e organizativa e acompanhamento.

No âmbito da formação e divulgação estão as ações relativas à formação dos


trabalhadores, gestores públicos e entidades de apoio e fomento. As ações referem-se à
implantação de incubadoras de empreendimentos econômicos solidários, atividades de
formação de educadores para atuação em economia solidária, divulgação da economia
solidária no estado, realização e apoio de eventos de economia solidária, apoio ao
mapeamento nacional dos empreendimentos econômicos solidários e a construção do marco
legal da economia solidária da Bahia.

O formato assumido pelas incubadoras no Estado da Bahia é inédito no Brasil. No


âmbito federal já vem sendo desenvolvido pela Senaes o Programa Nacional de Incubadoras
de Cooperativas Populares (Proninc), voltado para implantação e manutenção de estruturas
de incubação em universidades públicas brasileiras. Apesar de guardar muitas semelhanças
com o Proninc, algumas particularidades diferenciam o projeto baiano:

a) a possibilidade de investimento direto ao empreendimento incubado (em máquinas e


equipamentos, por exemplo) com recursos do projeto submetido, atendendo, inclusive, a
uma demanda histórica desse segmento;

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b) a inclusão, como proponente na execução, além das universidades públicas, de
universidades privadas e organizações da sociedade civil com experiência no apoio a grupos
solidários;

c) a diferenciação em três modalidades de incubadora – universitárias, territoriais e


temáticas, no segmento aquicultura e pesca e artesanato; e

d) a estratégia de divulgação e sensibilização, que contou com visitas técnicas a 12 territórios


de identidade do Estado da Bahia, envolvendo cerca de 200 pessoas, entre entidades de apoio
e fomento, universidades e gestores, com o intuito de realizar uma sensibilização acerca da
temática da economia solidária, bem como a realização de reunião com os pró-reitores de
extensão das universidades baianas.

Para a operacionalização das incubadoras de empreendimentos econômicos solidários,


tem-se buscado a articulação entre entidades públicas e privadas. O processo inicial da
construção do projeto contou com a participação de representantes do Fórum Metropolitano
de Cooperativas Populares, das redes Universitária de Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativas Populares (ITCP) e Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho
(Unitrabalho), da Fundação Banco do Brasil e de outras instâncias públicas em diversas
reuniões do Comitê Propositivo. Para a implementação do projeto foi assinado um convênio
entre a Setre, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) e a Secretaria
de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), no montante total de R$ 4 milhões, sendo R$ 3,4
milhões da Setre, R$ 500 mil da Fapesb e R$ 100 mil da Secti.

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