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Notas de Aula de Resistência dos Materiais

Centro Universitário Augusto Motta


Curso de Engenharia Civil
Prof. Marcos Martins
marcos@unisuamdoc.com.br
madm.unisuam@gmail.com

Conteúdo:

Flambagem de Pilares

Referências:

Timoshenko, S. P. e Gere, J. E.
Mecânica dos Sólidos, vol. 1 e 2
Livros Técnicos e Científicos
Rio de Janeiro, 1983

Hibbeler, R. C.
Resistência dos Materiais, 7ª edição
Pearson Prentice Hall
São Paulo, 2010

30/5/2012

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Índice

1. Flambagem de Pilares (ou Colunas)......................................................................... 3


1.1. Descrição do Fenômeno da Flambagem................................................................ 3
1.2. Carga Crítica.......................................................................................................... 4
1.2.1. Coluna Biapoiada com Carga Centrada......................................................... 4
1.2.2. Carga Excêntrica............................................................................................ 6
1.3. Comprimento Efetivo. ........................................................................................... 9
1.4. Tensões em Pilares. ............................................................................................. 12

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1. Flambagem de Pilares (ou Colunas).

1.1. Descrição do Fenômeno da Flambagem.

Considere o pilar biapoiado apresentado na Figura 1, de eixo idealmente reto e submetido a


uma carga de compressão axial P, sob regime linear elástico, aplicada no centróide da
seção transversal – constituindo um pilar ideal – e submetido também a uma força
transversal no meio do vão que produz um deslocamento δ1. Admitindo que xy seja o
plano de simetria do pilar, observa-se que o mesmo defletirá neste plano.

Figura 1: Pilar ideal biapoiado.

Considere ainda o seguinte procedimento de aplicação da carga P e do deslocamento δ:

1. A carga P é aplicada com um determinado valor;


2. Aplica-se a carga transversal que produz o deslocamento δ;
3. Retira-se a carga transversal aplicada e observa-se o comportamento do
deslocamento δ;
4. Se o deslocamento δ aplicado no passo 3 retornar a zero, aumenta-se a carga P
lentamente e repetem-se os passos 2 e 3, até que o deslocamento δ não retorne mais
a zero.

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Observe que o deslocamento δ não é produzido pela carga P e que a carga transversal que produziu este
deslocamento não está representada na figura. Esse deslocamento é de valor suficiente para caracterizar o
regime de pequenos deslocamentos.

3
De acordo com o procedimento descrito acima, existirá um instante em que o
deslocamento não retornará mais a zero após um determinado valor da carga P. Este
valor é denominado carga crítica e a partir dele, considera-se que a coluna sofre
flambagem. A partir deste instante, uma pequena diminuição do valor da carga P fará
com que a coluna retorne à sua configuração reta inicial; por outro lado, um pequeno
aumento da carga P fará com que o deslocamento aumente indefinidamente.

1.2. Carga Crítica.

1.2.1. Coluna Biapoiada com Carga Centrada.

Considere a situação em que a coluna da Figura 1 está submetida exatamente à sua carga
crítica Pcr e apresenta deflexão transversal. Neste instante, o valor do momento fletor em
qualquer ponto x é dado por:

M ( x ) = Pcr .v( x ) , (1)

onde v é a deflexão lateral do pilar na direção y. O sinal do momento fletor segue a


convenção adotada previamente quando da determinação da linha elástica de vigas, em que
o momento fletor positivo traciona a fibra correspondente ao eixo y positivo.

Observe que na equação (1), o momento fletor é função do próprio deslocamento v


procurado.

Substituindo a função do momento fletor dada em (1) na equação diferencial da linha


elástica, tem-se:

EI .v′′ = − M ( x ) = − Pcr .v( x ) (2)

O que resulta em:

EI .v′′ + Pcr .v = 0 (3)

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Com as condições de contorno:

v(0) = 0 (4)
v( L ) = 0 (5)

A solução da equação diferencial (3) resulta em:

 P   P 
v( x ) = C1 .sen cr x  + C 2 .cos cr x  (6)
 EI   EI 

As condições de contorno implicam em:

v(0) = 0 ⇒ C2 = 0 (7)
 P 
v(L ) = 0 ⇒ C1 .sen cr L  = 0 (8)
 EI 

O resultado da equação (8) pode ser interpretado de duas formas:


 P 
1. C1 = 0 e sen cr L  ≠ 0 , o que implica em v( x ) = 0 , ou seja, a viga permanece
 EI 
reta. Este resultado corresponde à solução trivial da equação diferencial – também
denominada solução homogênea –, ou
 P 
2. C1 ≠ 0 e sen cr L  = 0 , ou seja, o valor da carga crítica tem que ser tal que
 EI 
anule o argumento do seno e o valor da constante C1 representa o maior valor do
deslocamento v( x ) que, no meio do vão, é dado por C1 = δ e portanto,

 P 
v( x ) = δ .sen cr x  (9)
 EI 

Repare que o deslocamento δ na equação (9) não tem valor definido e portanto, esta
solução não representa uma função, mas uma família de funções.

 P 
Considerando-se a equação (9), para que sen cr L  se anule, é necessário que
 EI 

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Pcr
L = n.π , n ∈ N * (10)
EI

Resolvendo-se a equação (10) para Pcr, tem-se:

n 2 .π 2 .EI
Pcr = (11)
L2

O menor valor da carga crítica é obtido quando n = 1, de modo que a carga crítica para a
coluna vale

π 2 .EI
Pcr = (12)
L2

Assim, a equação (9) assume a forma

 π .x 
v( x ) = δ .sen  (13)
 L 

Embora as equações (12) e (13) representem a carga crítica e a equação da linha elástica da
coluna submetida à carga crítica, esta situação é impossível de se obter na prática, visto
que se trata de uma coluna ideal construída com eixo perfeitamente retilíneo e submetida a
carga perfeitamente centrada e alinhada axialmente.

1.2.2. Carga Excêntrica.

Considere agora a coluna da Figura 1 submetida a uma carga excêntrica qualquer menor
que sua carga crítica, Pcr, conforme apresenta a Figura 2. A excentricidade e é medida do
centro de gravidade da seção transversal até a linha de ação das forças axiais.

A função do momento fletor é dada por

M ( x ) = P(e + v( x )) (14)

Portanto, a equação da linha elástica é dada por

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EI .v′′ = − M ( x ) = − P(e + v( x )) (15)

Figura 2: Pilar biapoiado submetido a carga excêntrica.

A solução da (15) é composta pela parcela homogênea, vH, (estudada anteriormente) e


particular, vP, ou seja, v( x ) = vH ( x ) + vP ( x ) , onde,

 P   P 
v H (x ) = C1.sen x  + C 2 .cos x  (16)
 EI   EI 
vP = − e (17)

E portanto, a solução geral vale

 P   P 
v( x ) = C1 .sen x  + C 2 .cos x  − e (18)
 EI   EI 

As condições de contorno são expressas conforme as equações (4) e (5), ou seja,


v(0) = v(L) = 0, o que resulta em

C2 = e (19)
e.[1 − cos(k .L )]  k .L  P
C1 = = e.tg  , k = (20)
sen(k .L )  2  EI

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Substituindo-se os valores das constantes dados pelas equações (19) e (20) na equação da
elástica, (18), tem-se:

  k .L  
v( x ) = e.tg  .sen(k .x ) + cos(k.x ) − 1 (21)
  2  

Portanto, conhecendo-se a excentricidade e e a carga P, é possível calcular a deflexão do


pilar a partir da equação (21). Assim, a deflexão na seção central da coluna, quando
x = L/2, vale

  k.L  
δ = e. sec  − 1 (22)
  2  

A Figura 3 apresenta o comportamento da (22) para diferentes valores de excentricidade.


Da análise da figura, conclui-se que:
1. Se a carga aplicada for nula, a deflexão é nula. Para valores de excentricidades
não-nulos, constroem-se as curvas típicas indicadas no gráfico;
2. A relação entre a carga e a deformação produzida é não-linear e, portanto, o
princípio da superposição não pode ser usado;
3. A deflexão cresce indefinidamente conforme a carga se aproxima do valor crítico,
Pcr.

Figura 3: Diagrama carga-deflexão para o pilar da Figura 2.

O valor da carga crítica é calculado considerando-se o argumento da função secante na


equação (22) tendendo a infinito, o que corresponde ao crescimento indefinido do
deslocamento produzido. Assim,

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 k.L  k.L π
sec  → ∞ quando → ou k.L → π (23)
 2  2 2

De acordo com a relação (23), a carga crítica é dada por:

π 2 . E .I
Pcr = (24)
L2

que corresponde à definição da carga crítica apresentada anteriormente pela expressão


(12).

É importante salientar que a dedução da equação (22) é baseada no regime de pequenas


deformações e comportamento linear elástico.

1.3. Comprimento Efetivo.

Considere-se a coluna apresentada na Figura 4, onde o momento fletor à distância x da


base vale

M = − P.(δ − v ) (25)

onde δ é a deflexão da extremidade livre. A equação diferencial torna-se então

EI .v′′ = − M = P.(δ − v ) (26)

Como a extremidade superior é livre para se deslocar em qualquer direção, é lógico


admitir-se que a flambagem ocorrerá no plano correspondente ao menor momento de

P
inércia – neste caso, considerado como o plano xy. Empregando-se a relação k = ,a
EI
equação (26) pode ser reescrita conforme:

v′′ + k 2 .v = k 2 .δ (27)

cuja solução geral é

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v( x ) = C1.sen(k .x ) + C2 .cos (k.x ) + δ (28)

e submetida às condições de contorno

v(0) = v′(0) = 0 (29)

que resultam em

C1 = 0 e C2 = −δ (30)

(a) (b)
Figura 4: Pilar ideal engastado na base e livre na extremidade carregada: (a) antes de flambar e (b)
geometria na flambagem para n = 1.

A equação da curva elástica vale, portanto,

v( x ) = δ .[1 − cos(k .x )] (31)

Conforme visto anteriormente (item 1.2.1), a deflexão δ ainda permanece indeterminada


nesta equação. A fim de se obterem mais informações sobre esta deflexão, utiliza-se a
condição de contorno

v (L ) = δ (32)

que produz

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δ .[1 − cos(k .L )] = δ ⇒ δ .cos(k .L ) = 0 (33)

Da relação (33), conclui-se que δ = 0 ou cos(k .L ) = 0 . O primeiro caso implica em coluna


reta, sem flambagem; assim, resta analisar o segundo caso, que implica em

n.π
k .L = , n = 1, 3, 5 ... (34)
2

Para se obter o menor valor da carga crítica, faz-se n = 1 e calcula-se o valor da carga, ou
seja,

π 2 .EI
Pcr = (35)
4.L2

que é o valor da carga crítica para pilar engastado e livre. Comparando-se a expressão (35)
com a expressão (24),

π 2 .EI
Pcr = (24)
L2

conclui-se que o valor da carga crítica para o pilar biapoiado (expressão (24)) é 4 vezes
maior que o valor da carga crítica para o pilar engastado e livre (expressão (35)). Portanto,
a expressão (24) pode ser usada para o caso do pilar engastado e livre, desde que seu
comprimento L seja multiplicado pelo fator 2; ou seja, considera-se que a carga crítica de
uma coluna engastada e livre de comprimento L é a mesma que a carga crítica de uma
coluna biapoiada de comprimento 2L. Tomando-se a coluna biapoiada como referência
para todas as demais, define-se o conceito de comprimento efetivo desta de forma a se
obter a mesma carga crítica que a coluna em questão.

O comprimento efetivo é calculado através do cálculo das cargas críticas das demais
configurações de colunas com referência à coluna biapoiada e o valor do fator entre os
comprimentos, K, pode ser tabelado conforme apresentado a seguir:

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Configuração

K 1,0 2,0 0,5 0,7


Tabela 1: Fatores de comprimento efetivo, K, para cálculo de pilares.

Assim, o valor da carga crítica pode ser calculado para cada caso de apoio conforme a
expressão geral (36):

π 2 .EI
Pcr = (36)
(K .L )2

1.4. Tensões em Pilares.

A tensão média produzida na seção do pilar devido à carga crítica (eq. (36)) é calculada
conforme a equação (37), a seguir:

Pcr π 2 .EI π 2 .E
σ cr = = =
A (K .L )2 ⋅ A ( 2 A
K .L ) ⋅
I
π 2 .E
σ cr = (37)
(K .L r )2

onde

I
r= (38)
A

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é o raio de giração da coluna e a relação

K.L
λ= (39)
r

é o índice de esbeltez efetivo da coluna. Esta relação mede a flexibilidade da coluna e


serve para classificá-la como curta, média (ou intermediária) ou longa (ou comprida).

A tensão crítica, dada pela relação (37) – também conhecida por relação de Euler para
cálculo de tensões em pilares –, é definida por uma hipérbole em função do índice de
esbeltez. Exemplos dessa função para colunas feitas de uma liga comum de aço estrutural
e alumínio são mostrados na Figura 5.

300,0

250,0 88,8; 250,0

200,0 Alumínio
60,3; 190,0
(10 ) MPa

Aço

150,0
3
cr

100,0

50,0

0,0
0,0 50,0 100,0 150,0 200,0
L/r

Figura 5: Tensão crítica em pilar para aço estrutural e liga de alumínio.

A relação de Euler é válida apenas até a intensidade da tensão abaixo do limite de


proporcionalidade do material, pois, caso contrário, a relação tensão-deformação não é
mais linear e a relação Pcr A não é mais aplicada. Assim, as curvas têm que ser limitadas
de acordo com as tensões limites de proporcionalidade correspondentes.

Para o aço, a tensão de escoamento (limite de proporcionalidade) é σp = 250 MPa e o


módulo de elasticidade é E = 200 GPa; para o alumínio, têm-se σp = 190 MPa e

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E = 70 GPa. Substituindo os valores de σp e E na relação (37), os menores índices de
esbeltez aceitáveis para a aplicação da hipérbole no cálculo da carga de flambagem são
(KL r )aço = 89 e (KL r )al = 60,5 . Portanto, para valores de esbeltez maiores que estes, a

relação de Euler pode ser aplicada para se determinar a carga de flambagem; Por outro
lado, para valores menores, a tensão na coluna ultrapassará o limite de proporcionalidade
antes que ocorra a flambagem e a relação de Euler não se aplica.

Ou seja, se a coluna for curta ou intermediária, falhará pelo escoamento do material; caso
contrário – se for longa –, falhará por instabilidade geométrica ou flambagem.

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