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COESÃO E COERÊNCIA

COERÊNCIA – “seleção de conceitos ou ideias adequados e compatíveis à


sequência do discurso.” “Princípio de homogeneidade que diz respeito ao
sentido global do texto”.

Coerência “é um princípio de homogeneidade que diz respeito ao sentido


global do texto, dado a partir do conhecimento do mundo dos
interlocutores, do modo como transmitem esse conhecimento e das
inferências (permitem deduzir, a partir do conhecimento mútuo, sentidos
implícitos).”

“Um enunciado” só é compreendido quando respeita o princípio da


coerência. A coerência está, portanto, ligada à compreensão, à
interpretação do que se diz ou escreve. Resulta da ligação e relação entre
as partes e o todo, entre as microestruturas e as macroestruturas textuais.

TIPOS DE COERÊNCIA:

Coerência semântica – “Logo que chegou, apresentou os seus


cumprimentos. Depois dos cumprimentos, retirou-se.”

Coerência sintática – “Ficou muito triste com o 19 que tirará a Português.”


(incoerência)

Não pode haver elementos contraditórios com outros conteúdos já


apresentados (mesmo de forma implícita)

Exemplo:

“Todos os estudantes compraram o livro aconselhado para o estudo. Mas


alguns nunca o abriram.”
Coerência estilística – reunião de vários registos num discurso sem que
haja incoerência.

Coerência pragmática – O locutor deve ter em conta o seu interlocutor e


adequar o seu discurso ao dele para que a sequência discursiva não surja
incoerente.

A coerência depende de:

 Saberes compartilhados;
 Competências linguísticas;
 Intencionalidade do autor;
 Capacidade interpretativa do recetor/leitor.

COERÊNCIA TEXTUAL – relação lógica das ideias

Princípios:

1. RECORRÊNCIA – Pronominalização; Repetição; Substituição

lexical; Inferência.

PRONOMINALIZAÇÃO – utilização de um pronome que possibilita, à


distância, a repetição de um sintagma ou até de uma frase, geralmente
através da anáfora, raramente pela catáfora.

Exemplo:

“Os estudantes foram à Disney. Eles  divertiram-se muito.”

“Se o professor lhe  colocar uma questão, o Vítor não responderá.”


REPETIÇÃO – uso de expressões que permitem relembrar um elemento de
uma frase, numa outra sequência textual.

Exemplo:

“A Alexandra comprou um  carro. A cor do  carro é verde”

“O Mário é um jovem educado. Quando se cruza comigo no corredor,  o


Mário  cumprimenta-me sempre.”

SUBSTITUIÇÃO LEXICAL

Exemplo:

“Ontem fizemos  teste a Língua Portuguesa. A  prova  não foi difícil. “

“Comprei um carro  novo. A viatura atinge os 220Km/h.”

INFERÊNCIA – relação estabelecida por meio de conteúdos semânticos


implícitos. Permite deduzir, a partir do conhecimento mútuo, sentidos
implícitos.

Exemplo:
“Estiveste à minha espera? Não, fui com a minha namorada.”

“Amanhã vais ao Porto? – Os maquinistas estão em greve.”

2. PROGRESSÃO – renovação constante da informação semântica.

Exemplo:

“A Sara  foi para a universidade. No regresso, vai passar pela livraria.”

“O Sr. António foi ao tribunal.  Depois  de ser  ouvido pelo juiz,  foi


condenado e  conduzido à prisão.”
3. Relação - relação obrigatória de todos os factos enunciados com a

realidade apresentada no texto.

Exemplo:

“A loja foi assaltada. O alarme foi acionado. A polícia atuou de imediato.”

Coesão

COESÃO TEXTUAL – organização das palavras na frase e em frases, de


acordo com as regras gramaticais ou formais da estruturação da língua.

É um princípio de homogeneidade que diz respeito à conetividade


sequencial dentro de um texto.

“Os processos de sequencialização que asseguram uma ligação


significativa entre os elementos que ocorrem no texto podem ser
encarados como instrumentos de coesão. A entoação, as pausas, a ordem
das palavras, a concordância entre sujeito e predicado, a relação entre o
verbo e os seus complementos, alguns pronomes e conjunções
(coordenação e subordinação), os tempos verbais, os sinónimos, os
hiperónimos são alguns desses instrumentos, assegurando a coesão
textual a diferentes níveis.”

“A coesão de um texto é assegurada por mecanismos lexicais e


gramaticais.”
Entre os lexicais temos
Exemplo:
Sinonímia – “Porque está frio, liguei a chauffage. Mas verifiquei que o
aquecimento não funcionava.”

Antonímia – “O Joaquim e o Mário são primos da mesma idade. O


Joaquim é muito grande; o seu primo muito pequeno”

Hiperonímia – “As  árvores  são indispensáveis à vida. O pinheiro dá a


resina; o castanheiro as castanhas…”

Hiponímia – “O  cão é um animal mamífero.”

Holonímia – “Ele tem um  automóvel já muito usado. Resolvi oferecer-lhe


um volante novo.”

Meronímia – “Os  pneus  da bicicleta estão furados.”

Entre os gramaticais temos


A ordem das palavras, a concordância entre sujeito e predicado, a relação
entre o verbo e os seus complementos, alguns pronomes e conjunções
(coordenação e subordinação).

Exemplo:
 “Vou ficar em casa não.”
 “As raparigas foi a casa mudar de roupa.”
 “Nós paramos aos navegadores.”
 “Relemos toda a obra, embora nos tivesse agradado imenso.”
 “Rosas, camélias, dálias… todos esses animais perfumavam o
jardim.”
“A coesão constrói-se atendendo às condições requeridas por algumas
palavras (p.e. as regências verbais) na linearização dos enunciados.”

COESÃO

“O termo coesão abrange os processos linguísticos de sequencialização


que asseguram a continuidade de sentido entre diferentes elementos do
texto. […]”

A unidade significativa de um texto é organizada com base na articulação


e interligação de diferentes componentes gramaticais ou lexicais.”

MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL – lexicais e gramaticais

COESÃO GRAMATICAL COESÃO LEXICAL

Coesão Coesão Coesão Coesão Reiteração Substituição


frásica interfrásica temporal referencial
(repetição da mesma (sinónimo/antónimo;
hiperónimo/hipónimo;
palavra ao longo do
holónimo/merónimo)
texto)

Coesão gramatical (revisão):

Coesão frásica – “Eles comem pão com manteiga ao pequeno-almoço.”

Coesão interfrásica – “Eles ficaram de vir hoje, ao anoitecer, mas ainda


não chegaram. De qualquer modo, os quartos ficarão reservados até à
meia-noite.”

Coesão temporal – “Ele saiu depois de eu ter chegado.”

Coesão referencial – “integra a anáfora, a catáfora…”

Coesão lexical (revisão):


A coesão lexical diz respeito à retoma da mesma palavra ou da sua
substituição por outras palavras.

Reiteração – “Eu estive com a Maria na paragem do autocarro, depois vi a


Maria na pastelaria. A partir daí não voltei a encontrá-la.”

Substituição:

 relação de semelhança (sinonímia);


 oposição (antonímia);
 hierarquia (hiperonímia/hiponímia);
 todo/parte (holonímia/meroníma).

Sinonímia- “A minha bicicleta tem um pneu furado. Não posso, por


isso, dar o passeio habitual no meu velocípede.”

Antonímia – “Estou contente, mas tu estás triste.”

Hiperonímia – “Gosto muito de automóveis. Gosto do opel, do citroën,


do bmw…”

Hiponímia - “O cão, o gato e o canário são os animais que tenho em


casa.”

Holónimo – “O carro tem rodas, volante, travões…”

Merónimo – “As folhas e o tronco fazem parte do eucalipto.”

COESÃO LEXICAL (cont.) – família de palavras


Designa-se família de palavras o conjunto das palavras formadas por
derivação ou composição a partir de um radical comum.

Exemplo:

Pedra -pedreira; pedreiro; pedregulho; apedrejar; petrificar; pedra-pomes;


petrologia…

Campo lexical – O campo lexical de uma palavra é um conjunto de


palavras que, associadas entre si pelo seu significado, remetem para um
domínio da realidade, ou representam uma determinada noção.

Exemplo:

MAR - barco; ondas; navio, areia; praia; marinheiro…

Campo semântico – conjunto dos diferentes significados que uma palavra


adquire de acordo com o contexto em que está inserida

Exemplo:

Coração – “Ela tem bom coração”


- “O Toural é o coração da cidade”

- “Ficou com o coração nas mãos”

- “O coração é o órgão vital do corpo humano”

CONEXÃO TEXTUAL
A conexão entre enunciados é estabelecida pelos marcadores discursivos
ou articuladores (do discurso). Os marcadores discursivos (ou
articuladores do discurso) são “elementos linguísticos que orientam a
organização e a estrutura de um discurso ou texto.”

Classificação dos marcadores discursivos


Estruturadores Ordenação em primeiro lugar, por outro
da informação lado, por fim, finalmente,
depois, em seguida…

Conetores aditivos ou sumativos além disso, ainda, também,


do mesmo modo, pela mesma
razão…
conclusivos e explicativos por consequência, portanto,
de modo que, por
conseguinte, por isso, em
conclusão, em síntese,
assim…
contrastivos ou todavia, no entanto, porém,
contra-argumentativos não obstante, ainda assim, de
qualquer modo, em todo o
caso, apesar de…

reformuladores explicação e retificação por outras palavras, ou seja,


isto é, quer dizer…

Operadores reforço argumentativo e de concretização de facto, na realidade, na


discursivos verdade, por exemplo, mais
concretamente…

Marcadores ouve, olha, atenção, presta


conversacionais atenção, olha lá…

Conetores discursivos são uma classe de marcadores discursivos que


interligam enunciados ou sequências de enunciados de maneira a
estabelecerem relações semânticas e pragmáticas entre as estruturas
discursivas, tanto na oralidade como na escrita.

Se falhar a coerência semântica, o discurso será incoerente.


Ele é prudente. Fez tudo com muita descrição.
Se falhar a coerência sintática, também haverá incoerência.
Sentiu-se muito contente com a nomeação e, por isso, não a aceitou.

Para que a sequência discursiva não apareça incoerente também a


coerência estilística e a coerência pragmática têm de ser respeitadas.

PROGRESSÃO TEMÁTICA

«Em qualquer texto (informativo, expositivo, argumentativo…) deve haver


“avanços” na informação prestada (“progressão temática”). Se assim não
for, o texto torna-se repetitivo, enfadonho, desinteressante, sebáceo (isto
é, com “banha” a mais para tão pouco “músculo”.) Ao conhecimento dado
como adquirido (partilhado pelos interlocutores) tem de acrescentar-se
algo de novo.

À medida que a novidade se vai incorporando no “conhecimento”, vai-se


buscando informação nova que, por sua vez, passará a fazer parte do
universo conhecido (ou tema). Quando um elemento da frase assume o
lugar de tema, por exemplo, encabeçando a ordem da frase, fala-se em
“tematização” ou (“topicalização”)»

Progressão – renovação constante da informação prestada

A progressão temática permite e contribui para a coerência e a coesão


textuais.

Progressão temática, coesão e coerência interagem em simultâneo.

Há três modos de progressão temática: de tema linear; de tema


constante; de temas derivados

PARÁGRAFO
O parágrafo é a forma de organização de um texto, caracterizada pela
unidade das ideias nele incluídas, possuindo sentido completo e
independência sintática. Pode ser constituído por uma ou várias frases
mais ou menos extensas.

O parágrafo é marcado graficamente por se iniciar em nova linha, com um


espaço maior à esquerda, e é delimitado por ponto final, de interrogação,
de exclamação ou reticências.

A divisão do texto em parágrafos dá indicações sobre a estrutura


semântica do enunciado; normalmente, um parágrafo corresponde a um
desenvolvimento da unidade temática.

DEIXIS

Os linguistas, sobretudo a partir de Émile Benveniste e de Roman


Jakobson, falam de deixis e de deíticos (mostrar, apontar com o dedo,
indicar) a propósito dos demonstrativos (mostrar, aparecer): este esse,
aqueles mostram-nos a maior ou menor distância a que o objeto de
referência está situado relativamente ao enunciador. Também os
advérbios de lugar e de tempo são deíticos, pois também eles nos
“mostram” a localização espacial e temporal das entidades a que nos
referimos.

«A deixis (palavra importada do grego antigo, com o significado de “acção


de mostrar”) é uma das formas de conferir ao seu referente a uma
sequência linguística, situando um enunciado no espaço e/ou no tempo
em relação ao enunciador.
É uma forma de designar o tipo de relação referencial que se estabelece
entre uma expressão linguística (dita deítica) e um elemento da situação
de enunciação. O modelo deste tipo de referência é o signo eu, que
designa, no enunciado, a pessoa que diz “eu”.»

Há três espécies de deíticos:

Deíticos pessoais (de 1.ª e 2.ª pessoas, predominantemente) - eu, me,


mim, tu, te, ti, você, nós, nos, vós, vos, vocês que designam as pessoas da
interação.

Eu estou contente. E tu?

São também deíticos pessoais os vocativos e os determinantes e


pronomes possessivos (de 1.ª e 2.ª pessoas, predominantemente) - meu,
minha, meus, minhas, nosso, nossa, nossos, nossas; teu, tua, teus, tuas,
vosso, vossa, vossos, vossas.

Deíticos Espaciais: determinantes e pronomes demonstrativos – este,


esse, aquele (e seus femininos e plurais), isto, isso, aquilo; advérbio
apresentativo “eis”; advérbios de lugar ou referências espaciais - aqui, ali,
acolá, lá, cá, além, daqui…à esquerda, à direita…

Deíticos Temporais: advérbios de tempo – hoje, amanhã, ontem, então,


depois; referência temporais – na véspera, neste momento; desinências
verbais de tempo presente, passado ou futuro

Nós andávamos na escola.

Eu irei à França.
Eu falo italiano.

“Deixis pessoal – assinala o locutor e o interlocutor do enunciado;

Deixis espacial – marca o espaço da enunciação;

Deixis temporal – marca o momento da enunciação”

Deítico Pessoal

Eu tomo um café e tu comes um bolo


Eu dito, tu escreves e ele lê

Nós lemos o romance e tu (vós) conta(i)s a história

Nós lemos o romance e ele(s) conta(m) a história

Eu quero que ele desapareça! Não quero que tu me desobedeças!

O meu caderno e as tuas chaves estão no carro

Os meus amigos e as tuas primas foram à praia

Aqui estou, Manuel!

Esta pessoa é digna da minha admiração

Aquela pessoa incomoda-me

As vossas mãos, Reverência, são abençoadas por Deus

Que me queres, a mim, ó Joaquim Maiato?

Eu, António, declaro-te meu ajudante. ------- Sr. António, declaro-o meu aprendiz.

Deítico Espacial

Aqui está o teu livro ------ Eis o teu livro

Ali fica a Joana, tu ficas aqui e o António continua aí --- não exige, no momento de
enunciação, a presença física da Joana nem do António.
Aquela cadeira é mais segura do que esta.

Deítico Temporal

Ontem fui ao cinema. Hoje estou cansado.

Telefonar-te-ei amanhã.

Pronomes deíticos versus pronomes anafóricos/catafóricos

Tu ficas aqui e eu vou para ali. --- “Tu” e “eu” são deíticos

Estão aqui a Filomena e o Francisco. Ela fica ali e ele aqui. ---- “Ela” e “ele” são
anafóricos

Elas são desastradas! Com efeito, a Isabel parte tudo o que lhe aparece; a Maria esbarra-
se em todos os móveis. --- “Elas” é um pronome catafórico.

EXEMPLO DE INCORRETA UTILIZAÇÃO DOS DEÍTICOS E DAS


CONSEQUENTES PERTURBAÇÕES NA SEMÂNTICA DA FRASE
“Aquela pedra que vês aqui, trouxe-a desta pedreira que vês além.”

CONTEXTUALIZAÇÃO / COTEXTUALIZAÇÃO

CONTEXTO – conjunto de factos, de circunstâncias em que se insere uma


situação, um acontecimento. ENQUADRAMENTO, CONJUNTURA. Uma
obra deve ser analisada no contexto em que foi produzida: + familiar, +
internacional, + nacional, + histórico, político, social.

Corresponde ao contexto extratextual ou situacional , isto é, às


circunstâncias que envolvem a produção das frases ou dos textos.

Da conjugação dessas entidades resultam os enunciados.

O contexto extratextual ou situacional costuma ser designado,


simplesmente, por contexto e inclui o conhecimento do mundo.
Os elementos exteriores ao texto, fundamentalmente de caráter
pragmático (situação, etc.), que influem de uma ou de outra forma nos
processos de compreensão e produção textual têm a ver com o contexto
situacional.

CONTEXTO – conjunto de elementos linguísticos que rodeia, que envolve


uma palavra, uma frase ou parte de um enunciado, e que determina o seu
valor, o seu sentido. As palavras devem ser analisadas em contexto.

Corresponde, neste caso, ao contexto intratextual

1. O contexto verbal, em relação a um qualquer elemento na


sequência textual, é o conjunto das unidades que precedem o
elemento linguístico ou o seguem. Neste sentido, contexto é
sinónimo de cotexto.
2. O contexto espácio-temporal é o conjunto dos elementos
situacionais – extralinguísticos – no seio dos quais se situa o ato de
enunciação da sequência linguística. É a situação de enunciação que
precisa as condições de produção de um enunciado: O ano passado
eu fui a Paris.

“O ano passado” e “a Paris” são elementos, em emprego deítico, que


situam o tempo e o espaço em relação ao “eu”, sujeito da enunciação.

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