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Gabriela Aniceto
Fernanda Squassoni Lazzarini
Maria Stella Coutinho de Alcântara Gil
Resumo:
Crianças pequenas com síndrome de Down tem um acentuado
comprometimento no desenvolvimento e na aquisição da linguagem afetando a
comunicação com o outro. Para planejar a promoção da linguagem desta
população, é imprescindível identificar as habilidades existente e as que devem
ser desenvolvidas. O VB-MAPP destina-se a uma avaliação precoce do
repertório verbal de crianças pequenas e tem sido reconhecido e utilizado
como uma ferramenta funcional para avaliar o os pré-requisitos dos
comportamentos que o compõem em indivíduos com desenvolvimento atípico.
O instrumento é dividido em cinco níveis, com 170 marcos de desenvolvimento,
e abarca três faixas de idade 0 -18/18-30/30-48 meses. O objetivo geral desta
pesquisa foi o de descrever o repertório de linguagem de quatro crianças com
síndrome de Down, menores de 48 meses, utilizando o VB-MAPP. Participaram
da pesquisa um menino e três meninas com síndrome de Down, entre 14 e 46
meses, que frequentavam creches ou escola especializada de uma cidade do
interior de São Paulo. O instrumento foi aplicado em encontros realizados nas
instituições frequentadas pelos participantes. A avaliação indicou que o
desenvolvimento de linguagem de cada criança tinha características singulares.
A aplicação do instrumento permitiu identificar as áreas com maiores
comprometimentos e, a partir destes resultados, considerar estratégias de
ensino individualizadas e direcionadas para o desenvolvimento de novas
habilidades.
Palavras-chave: Síndrome de Down. Crianças. Verbal Behavior Milestones Assessment and
Placement Program.
INTRODUÇÃO
O Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program –
VB-MAPP (SUNDEBERG, 2008) tem sido reconhecido e utilizado como uma
ferramenta funcional para avaliar o repertório verbal e os pré-requisitos para os
comportamentos que o compõem em indivíduos com desenvolvimento atípico.
A aplicação dessa ferramenta exige um minucioso planejamento das condições
de aplicação e preparação prévia de materiais selecionados e organizados de
acordo com o repertório a ser avaliado.
Divido em cinco níveis, o VB-MAPP permite a avaliação do repertório
verbal da criança a partir de 170 marcos de desenvolvimento em três níveis 0 -
18 meses; 18-30 meses e 30-48 meses. No conjunto das faixas etárias são
avaliadas habilidades relacionadas ao comportamento de ouvinte, de
emparelhamento auditivo-visual, imitação, bem como os operantes verbais
ecoico, mando, tato, intraverbal e outras habilidades como as de brincar e
comportamentos sociais.
O VB-MAPP é comumente utilizado para identificação de repertórios
verbais de crianças no espectro do autismo ou com problemas de
desenvolvimento, mas, também, pode ser utilizado para avaliar o repertório de
crianças com atrasos do desenvolvimento de linguagem, como as crianças com
síndrome de Down – população desta pesquisa. O instrumento vem sendo
aplicado principalmente por analistas do comportamento, fonoaudiólogos,
psicólogos escolares e educadores especiais para avaliar os pontos fortes e
fracos em habilidades e comportamentos que possam impedir a linguagem e o
desenvolvimento social das crianças. O aplicador deve passar por curso,
treinamento e supervisão para que possa realizar a aplicação de maneira
correta, seguindo os passos necessários descritos no manual do método, tanto
para aplicação como para interpretação dos resultados. Não é um instrumento
que fornece diagnóstico, mas sim um instrumento que permite a realização da
avaliação do desenvolvimento para que, então, se possa propor programas de
promoção do desenvolvimento utilizando os resultados da avaliação para
priorizar as necessidades de intervenção, fornecendo feedback aos pais e a
outros profissionais.
As crianças com síndrome de Down apresentam comprometimentos
que, relacionados à síndrome de origem genética, influenciam,
significativamente e diretamente, o desenvolvimento desta população, em
especial a comunicação das crianças pequenas com síndrome de Down com
sua comunidade verbal (ABBEDUTO; WARREN; CONNERS, 2007;
ROBERTS; PRICE; MALKIN, 2007; BUCKLEY, 2008; MUSTACCHI;
SALMONA, 2009; JACOB; SIKORA, 2016). As crianças com síndrome de
Down apresentam déficits tanto no comportamento de falante quanto no
comportamento de ouvinte (ABBEDUTO; WARREN; CONNERS, 2007;
BUCKLEY, 2008; KUMIN, 2012).
Verifica-se a existência de atraso específico no desenvolvimento da
linguagem e da fala, devido às alterações anatomofisiológicas que
comprometem a aquisição fonológica – a hipotonia muscular e as alterações no
aparelho respiratório contribuem para o comprometimento da fala e a
deficiência intelectual, dado que esta interfere diretamente no entendimento de
conceitos da língua e na emissão das palavras, contribuindo para a dificuldade
de uma fala compreensível das crianças com síndrome de Down (ABBEDUTO;
WARREN; CONNERS, 2007; BUCKLEY, 2008; KUMIN, 2012; LIMA;
DELGADO; CAVALCANTE, 2017).
Este último precede a aquisição do comportamento de falante, isto é,
antes mesmo das crianças começarem a falar, elas estabelecem a relação
entre os nomes que a sua comunidade verbal utiliza e os objetos, situações e
ações por meio das interações sociais. Deste modo, ressalta-se que muitos
comportamentos só são aprendidos na situação de interação, na qual se
destaca o papel do comportamento de ouvinte competente em uma
comunidade verbal (SKINNER, 1957).
Considerando que a linguagem tem como função primeira a
comunicação – é por meio dela que as crianças estabelecem e mantêm
relações com os outros indivíduos, comunicando e compreendendo
necessidades, vontades, ideias etc. (ABBEDUTO; WARREN; CONNERS,
2007; OLIVEIRA; GIL, 2007; MCLAUGHLIN, 2010; GIL; OLIVEIRA; SOUSA,
2012), ressalta-se a importância de intervir neste aspecto. Para tanto, é
imprescindível o uso de instrumentos que possibilitem identificar o repertório
atual da criança a fim de elaborar programas de intervenção eficazes que
enfatizem as suas habilidades e, a partir delas, a criança consiga avançar
realizando o potencial de comunicação.
OBJETIVO
Descrever do repertório de linguagem de quatro crianças pequenas com
síndrome de Down, utilizando o Verbal Behavior Milestones Assessment and
Placement Program (VB-MAPP).
MÉTODO
Tratou-se de um estudo descritivo (COZBY,2003) cujo delineamento
constou da aplicação do VB-MAPP com a observação, registro e classificação
dos comportamentos de quatro crianças pequenas com síndrome de Down, em
situações semiestruturadas. A pesquisa foi conduzida de acordo com as
diretrizes e normas que regem os procedimentos éticos na pesquisa científica,
recebendo parecer favorável para sua realização (CAEE No . 1.311.384/2015).
Os responsáveis pelas crianças participantes deste estudo assinaram o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a participação das crianças
no estudo.
Participantes -Três meninas e um menino com idades de 14, 31, 35 e 46
meses respectivamente. A pesquisa foi realizada em uma creche pública e uma
instituição especializada de uma cidade de médio porte do interior de São
Paulo. A fim de garantir o anonimato das crianças, cada participante foi
identificado por um código composto pela letra P mais a idade em meses da
criança ao início da pesquisa, isto é: P14, P31, P35 e P46.
Local e Ambiente - Salas das instituições frequentadas pelas crianças nas
quais elas eram atendidas pelos profissionais da instituição ou sala de aula da
creche.
Instrumento, material e equipamentos - Verbal Behavior Milestones
Assessment and Placement Program (VB-MAPP) (SUNDEBERG, 2008): é
dividido por área avaliada e por nível, isto é, para o Nível 1 que compreende a
faixa etária de 0 a 18 meses são elencadas nove áreas de avaliação - mando,
tato, ouvinte, Percepção Visual e Emparelhamento com o modelo (VP/MTS),
brincar, social, imitação, ecoico e vocal; o Nível 2 compreende a faixa etária de
18 a 30 meses e é formado por 12 áreas - mando, tato, ouvinte, VP/MTS,
brincar, social, imitação, ecoico, Ouvinte Respondendo por Função, Recurso e
Classe (LRFFC), intraverbal, atividades em grupo e estruturas linguísticas e o
Nível 3, faixa etária de 30 a 48, contempla 13 áreas, sendo: mando, tato,
ouvinte, VP/MTS, brincar, social, imitação, ecoico, LRFFC, intraverbal,
atividades em grupo e estruturas linguísticas e habilidades matemáticas
iniciais.
Foram utilizados notebook e brinquedos das instituições frequentadas pelas
crianças.
CONCLUSÃO
A aplicação do VB-MAPP permitiu destacar o desenvolvimento da
linguagem, observando o quanto o desenvolvimento dessa área estava
comprometido em crianças com síndrome de Down, ou seja, sabe-se que as
crianças apresentam comprometimento na área da linguagem, e foi possivel
identificar exatamente em qual área seria necessário planejar intervenções
especificas. O desenvolvimento da linguagem em crianças com síndrome de
Down tem as mesmas etapas daquele descrito para crianças sem a síndrome,
mas com algum atraso ao qual se acrescenta um conjunto de
comprometimentos anatomofisiológicos que interferem na produção da fala. O
atraso específico da aquisição da linguagem acontece a par do
comprometimento da aquisição fonológica, pois além da deficiência intelectual
há, também, a hipotonia muscular e o comprometimento do aparelho
respiratório dessas crianças (LAMÔNICA; FERREIRA, 2012; MAYER;
ALMEIDA; LOPES-HERRERA, 2013).
Há carência de instrumentos e/ou testes de avaliação validados e
adaptados para a população infantil do Brasil. Tal carência sugere que é
importante identificar e selecionar os testes e inventários que potencialmente
caracterizam o repertório de desenvolvimento da linguagem de crianças, como
Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program.
Em especial, destacou-se a falta de instrumentos e/ou testes específicos
para levantamento de repertório de crianças pequenas com síndrome de Down.
Desse modo, para que se realizasse tal estudo foi necessária a utilização de
instrumento desenvolvido para as crianças com autismo (VB-MAPP). Tal fato
pode ser considerado negativo para o campo de pesquisa em questão, uma
vez que testes ou instrumentos de avaliação voltados para crianças com
síndrome de Down poderiam abordar especificidades da síndrome, como o
atraso na aquisição e desenvolvimento da linguagem. Assim, estes testes ou
instrumentos poderiam fornecer dados mais específicos sobre a síndrome,
possibilitando o desenvolvimento de programas de ensino ou outras
intervenções mais direcionados às dificuldades apresentadas por essa
população.
Embora essa carência de instrumentos ou testes para crianças com
síndrome de Down tenha sido verificada, pretende-se que o levantamento das
habilidades e comportamentos possam propiciar novas pesquisas na área de
aquisição de linguagem de crianças com síndrome de Down, de modo a olhar
para as especificidades da síndrome e em cada criança com síndrome de
Down. Além disso, este estudo possibilita que novas avaliações sejam
realizadas, a fim de que se possa obter mais informações sobre o repertório
dessas crianças e, com base nos dados coletados, propor programas de
intervenções para a promoção do desenvolvimento de crianças com síndrome
de Down, em especial, da linguagem.
As avaliações dessa pesquisa foram ao encontro com a literatura da
área sobre o desenvolvimento de crianças com síndrome de Down, em
especial o desenvolvimento da linguagem. Entretanto, novos estudos são
necessários para uma compreensão extensiva e aprofundada do
desenvolvimento global das crianças com síndrome de Down. Estes
contribuiriam para uma descrição rigorosa das características do
desenvolvimento das crianças com síndrome de Down.
REFERÊNCIAS
ABBEDUTO, L.; WARREN, S.F.; CONNERS, F.A. Language development in
Down syndrome: from the prelinguistic period to the acquistion of literacy.
Mental Retardation and Developmental Disabilities, v.13, p. 247-261, 2007.