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Cidade Construída
Cidade Construída
CORREDORES E SUBÁREAS
Como estudar a forma e projetar a cidade
1ª Edição
ANAP
Tupã/SP
2021
2
EDITORA ANAP
Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos, fundada em 14 de setembro de 2003.
www.editoraanap.org.br
editora@amigosdanatureza.org.br
Ficha Catalográfica
AGRADECIMENTOS
À memória do meu pai, arquiteto, que me motivou para a profissão (aprendi muito com ele).
À memória do amigo, arquiteto Joaquim Manoel Guedes Sobrinho; ele me ensinou a repensar tudo
aquilo que se apresenta como óbvio. Tivemos bons momentos lecionando juntos, na graduação e
na pós, tempo em que na FAUUSP os alunos eram inspirados pela ‘escola paulista’.
Ao arquiteto-professor Gastão Santos Sales, pela amizade de nossas famílias! A troca de ideias
sobre planejamento e projeto urbano, a parceria na busca de temas para trabalhos dos alunos; seu
auxílio para melhorar os diagramas que faço à mão e ele os enriquece aplicando o seu talento com
os meios digitais.
À arquiteta-professora Maria Isabel Imbronito, por nossa amizade! Parceira na condução de
projetos, orientar grupos de pesquisa, nas visitas com alunos para conhecer trechos da cidade e
escrevermos juntos quando o assunto interessa aos dois.
Não dá para esquecer o amigo, arquiteto-professor Eugênio Fernandes Queiroga; ele nunca me
levou muito a sério e às vezes diz ‘você sempre aparece com alguma coisa diferente’. Desde a
PUCCAMP até hoje na FAUUSP admiro seu conhecimento e seriedade.
Foi importante compartilharmos aulas de urbanismo e me tornar amigo do arquiteto-professor
Fábio Mariz Gonçalves, grande desenhista, idealizador de espaços da cidade para um dia se
tornarem lugares.
Agradeço o estímulo recebido de tantos outros colegas, na Universidade de Brasília; Universidade
de São Paulo, na PUC-Campinas e Universidade São Judas Tadeu; nesta, o carinho dos colegas do
programa de pós-graduação.
Lembro da colaboração de profissionais, quando ainda estudantes, que apoiaram a ideia dos
corredores e subáreas; Paulo Eduardo B. Gonçalves, Adriana I. de Lima, Jéssica C. G. Lorellay,
Fernanda C. Silva, Amanda Chyoshi e o Fábio C.N. Martins.
Bem me recordo do convívio de escritório, aprender com os colegas, participar de concursos, se
encantar ao ver um projeto ser desenvolvido até os pormenores e depois seguir para a obra; ser
um arquiteto!
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CORREDORES E SUBÁREAS - 11
SUMÁRIO
PRÓLOGO .......................................................................................................... 13
PREFÁCIO .......................................................................................................... 15
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 21
CAPÍTULO 1
Espaço físico, o suporte das atividades humanas ............................................. 25
CAPÍTULO 2
Forma urbana: o conceito de corredor e subárea ............................................. 39
CAPÍTULO 3
Setores e subsetores da cidade ......................................................................... 59
CAPÍTULO 4
Quadras, lotes e edifícios .................................................................................. 81
CAPÍTULO 5
O traçado em retícula ....................................................................................... 103
CAPÍTULO 6
Os grandes conjuntos habitacionais e o declínio do Moderno ......................... 125
CAPÍTULO 7
A persistência da retícula ortogonal ................................................................. 135
CAPÍTULO 8
Brasil, São Paulo e as retículas ortogonais ........................................................ 143
CAPÍTULO 9
As quadras do Bairro Jardim em Santo André, SP ............................................. 147
CONCLUSÃO
Entenda a trama da cidade para projetar suas partes ...................................... 159
PRÓLOGO
Para formular programas e fornecer um caminho para o projeto urbano em trabalhos dos alunos
do sétimo e oitavo semestre de Arquitetura e Urbanismo na Pontifícia Universidade Católica de
Campinas ao final dos anos 1990 e na Universidade São Judas Tadeu de 2010 em diante, chegamos
ao procedimento dos corredores e subáreas. Foi o resultado de um longo período de maturação
pois, no entremeio desses trinta anos - agora estamos em 2020 - assumimos uma disciplina de
projeto de arquitetura das edificações na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo, que junto aos demais compromissos como profissional arquiteto, nos desviou do foco
de projeto na escala da cidade. Antes de 1990 foi essencial para nossa formação ter passado pelo
Urban Design Program da Graduate School of Architecture, Harvard University (1975-77) onde
tratamos de reunir a prática do urban design com conhecimentos de análise morfológica aplicada
ao estudo da forma da cidade e a seu projeto. Nos anos 1980, como aluno de doutorado da
Universidade de São Paulo e a bolsa de um ano para a Bartlett School of Architecture em Londres,
se abriu uma oportunidade para estudar os projetos de implantação das novas universidades
inglesas, fundadas e construídas nos anos 1960, naquela época com cerca de vinte anos da sua
inauguração. Elas foram em maioria implantadas junto a cidades novas ou a cidades históricas;
pensadas para fomentar a atração pelos sítios históricos e aproveitar os alojamentos de estudantes,
que poderiam ser alugados para turistas se aproveitando do esvaziamento dos dormitórios na
temporada de férias. Estes campi para novas universidades foram projetados por escritórios
ingleses de renome, e conhecê-los foi muito importante para a minha tese de doutorado.
A lembrança desses acontecimentos destaca o quanto a experiência profissional e a acadêmica se
interligam para dar suporte a conceitos e processos relacionados à forma e ao projeto da cidade. O
procedimento dos corredores e subáreas ora apresentado, se por um lado é bom para a análise da
forma urbana pelo viés teórico, de outro serve como um procedimento para trabalhos profissionais
em arquitetura e urbanismo. Para tanto se somou à minha experiência a opinião experimentada e
o estímulo vindo de professores, de profissionais urbanistas e do dia a dia da discussão com os
estudantes sobre os seus projetos. Em 2019 concluímos três textos relatando uma maneira para
conceituar e de proceder em trabalhos relativos à análise da forma urbana que, ao invés de
assumirem o formato de artigos, passaram a fazer parte deste pequeno livro. Foi como um projeto
chegando devagar aos seus pormenores, dentro da lógica de estudar a cidade por partes.
São Paulo, novembro 2020
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CORREDORES E SUBÁREAS - 15
PREFÁCIO
as negociações para definir as bases para a criação de uma empresa capaz de implantar o projeto
no prazo estimado.
Também é usual a posição do arquiteto Macedo pelo aprofundamento do programa de
necessidades, condição fundamental para a sustentação dos projetos urbanos que, segundo ele,
não sobrevivem do desejo de estudantes e arquitetos por espaços livres públicos, mas do
entrosamento entre o espaço, demandas (reais e propostas) e os meios de implementação,
incluindo o diálogo com o poder público. Se a clareza sobre a importância do programa de
necessidades aprofundou-se no Ateliê de Desenho Urbano em Harvard, esteve ainda presente em
pelo menos três experiências profissionais: os projetos para a Faculdade de Tecnologia, Faculdade
de Ciências da Saúde, e do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de Brasília, cujo
financiamento foi do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que exigiu a discriminação
rigorosa dos equipamentos, laboratórios e espaços do edifício. A atenção para as particularidades
programáticas teve origem em trabalhos desenvolvidos no escritório do arquiteto Joaquim Guedes,
reconhecido estudioso das minúcias do programa. Assim, Macedo aciona todo o tempo a sua
experiência em projeto de edifícios e transporta o projeto urbano para uma escala menos abstrata,
baseada na necessidade de desenhar espaços urbanos adequados em escala e propósitos, que não
correspondam a um urbanismo de prancheta e tampouco se restrinjam a um planejamento
baseado em números.
O pensamento do autor também incluiu, nas últimas décadas, temas ligados à qualidade do
ambiente construído e ao desenho voltado a um desenvolvimento sustentável e equilibrado, cuja
agenda foi organicamente incorporada aos processos de pensar o desenho urbano e que, hoje, se
tornam parte fundamental das suas preocupações.
Na base de todo este pensamento, contudo, como professor o autor insiste no estudo dos
elementos urbanos como fundamento analítico para a compreensão das áreas de projeto. Com
uma visão sistemática da forma, fornecida pela Morfologia Urbana, e na busca por compreender
relações subjacentes que orientem o projeto, Macedo ampliou o leque dos conceitos clássicos
adotados pelos autores consagrados neste campo de conhecimento (rua, quadra, lote, edifício,
malha, traçado). O que se apresenta neste livro resulta de longa reflexão sobre como se aproximar
da problemática da forma urbana, e em desvendar as estruturas que relacionam os elementos e as
áreas urbanas entre si. Do aprofundamento metodológico, aperfeiçoado em sala de aula da
Graduação e em pesquisas na Pós-Graduação, destaca-se a estratégia depurada pelo professor para
entendimento da forma urbana que chamou de Corredores e Subáreas.
CORREDORES E SUBÁREAS - 17
Este livro, há tempos, existia como um projeto, no qual Macedo pretendia expor essa contribuição
ao pensamento da cidade. Ele costuma dizer que primeiro esboçou a abordagem dos Corredores e
Subáreas no projeto para Barão Geraldo, em Campinas, desenvolvido na década de 1990 em
convênio entre a PUC-Campinas, a Unicamp e a Prefeitura de Campinas. A área foi objeto dos
estúdios de urbanismo no Curso de Graduação da PUC-Campinas, enfrentada junto aos estudantes
com a colaboração de diversos colegas docentes. Portanto, na ocasião do desenvolvimento do
plano para Barão Geraldo, já havia certo conhecimento acumulado sobre a área devido aos
inúmeros trabalhos de campo. Foi durante este projeto que uma visão acerca da forma urbana,
subdividida por partes, tomou corpo: o caminho do projeto traçou também o método de
Corredores e Subáreas.
Houve um tempo em que Macedo questionava se o procedimento de análise urbana por
Corredores e Subáreas teria o estatuto de “método”. Pretendo, com as devidas desculpas por
adentrar um assunto que mereceria julgamento mais capacitado, me aventurar na questão. A
etimologia informa que método é o caminho que leva a determinado fim. Relacionam-se, então,
caminho e fim: o primeiro é a sequência concatenada de procedimentos, ações, providências; o
segundo coloca-se como um estado ou condição a atingir que, vislumbrada de antemão, interage
com a sucessão e implementação de tais procedimentos.
Podemos indagar inicialmente sobre a finalidade da abordagem por Corredores e Subáreas. O que
se pretende obter, ou como a análise por Corredores e Subáreas nos ajuda a compreender a cidade?
Interações entre elementos naturais, construídos, atividades e pessoas constituem a cidade,
havendo de se considerar certo nível de reciprocidade entre o espaço construído e as forças que o
promovem, habitam, comercializam, transformam. Os limiares desta teia dinâmica (de eventos,
forças, fatos urbanos, pessoas, tempo) são impossíveis de definir. A aplicação dos procedimentos
de leitura através de Corredores e Subáreas permite delimitar áreas ou setores de estudo e
compreendê-los segundo algumas relações funcionais. O método proposto pelo autor é, de certa
maneira, um ponto de partida a-escalar, com base na função relativa dos elementos que interagem
na cidade, para pensar limites práticos de análise e projeto. A conveniência está em suplantar
divisões administrativas, métricas ou históricas e buscar uma constituição própria e orgânica dos
tecidos, segundo a qual as partes se diferenciam conforme sua participação no conjunto, através
da compreensão da organização dos vetores de movimentos, dos fluxos e das áreas que se
disponibilizam em seus interstícios.
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Como bem explica o autor, o papel dos Corredores e Subáreas altera-se em função do recorte e da
escala enfrentados, de modo que o procedimento permanece aberto a adequações para cada caso
em que for aplicado, e sujeito a interpretações e variações no tempo. Ao longo dos anos, o processo
de leitura urbana foi aplicado a diferentes áreas nos ateliês de Urbanismo na Graduação da
Universidade São Judas Tadeu, tornando-se uma prática constante nos estudos realizados nesta
disciplina. Também na Pós-Graduação e em pesquisas de Iniciação Científica foram enfrentadas
diferentes áreas com o objetivo de verificar sua validação.
Além do entendimento e relação das partes da cidade, conforme o procedimento de Corredores e
Subáreas, outros elementos investigados pelo autor contribuem para a leitura das áreas urbanas e
estabelecem relação direta com o Desenho Urbano. São eles: os traçados e malhas que pautam o
desenvolvimento dos tecidos, e o entendimento da quadra enquanto unidade fundamental na
escala do desenho urbano. Macedo dedica especial atenção ao aprofundamento das retículas
ordenadoras dos tecidos urbanos e às tipologias de quadras, temas abordados nos capítulos finais
deste livro.
Assim, com empenho no campo da pesquisa e sempre visando uma aplicação prática em projeto,
Macedo publica suas considerações sobre o método dos Corredores e Subáreas e outros
ensinamentos que compõem este livro, e nos deixa sua valiosa contribuição sobre o tema do
projeto urbano e da leitura da cidade.
INTRODUÇÃO
Do cotidiano de viver e observar como o espaço físico se comporta face ao modo como é utilizado;
de um procedimento sem apego a cientificidade no sentido de buscar apoio em diversos autores;
passamos a considerar como as vias que atravessam trechos grandes da cidade delimitam setores,
e, quando se somam a elas as faixas lindeiras de lotes, o sistema como um todo constituirá um
corredor. Corredores que se interceptam de uma maneira orgânica, como células deixando um
miolo, núcleo este que chamamos de subárea. Este entendimento será ampliado e mais bem
descrito no correr do texto como um processo caracterizado por deduções sucessivas; ou, uma
atitude investigativa aplicada sobre as vias, quadras, lotes e edifícios - VQLE - que constituem os
elementos primordiais do tecido urbano.
Adotamos um setor para estudo localizado no distrito da Mooca, São Paulo; vizinho ao Centro pelo
quadrante Leste, típico das transformações que o tecido da cidade vem sofrendo. E, para associar
argumentos de reforço às nossas ideias sobre a forma urbana, recorremos a informações
bibliográficas no campo da morfologia e do projeto urbano. Agora exposto de maneira sucinta, este
será o assunto central da nossa investigação, na procura de elucidar quais são os procedimentos
para identificar um setor, caracterizar os corredores, as subáreas e os elementos básicos que
desenham a forma da cidade. Trata-se igualmente da persistência histórica do traçado ortogonal
das quadras e a sua relação com a forma orgânica da cidade que cresce enfrentando declives e
aclives, sujeita ao parcelamento do solo e à vontade ou às possibilidades das pessoas, quanto a
seus interesses de proprietários da terra. A descoberta desse procedimento de análise da forma
nos motivou a tratar do ideário do espaço, da mobilidade e dos tipos construídos da cidade como
elementos físicos e daí vem uma aproximação com o campo da morfologia urbana.
Vivemos em um mundo onde o conhecimento tende a ser transdisciplinar, e residimos em um país
de desigualdades sociais, fato que se reflete na qualidade dos espaços urbanos. Por justas razões
se explica porque tantos colegas sensíveis a tais questões, se dedicam à disciplina de planejamento
urbano e regional, que tem a multidisciplinaridade como característica fundamental, onde o
arquiteto pode explorar sua sensibilidade e motivação quanto à questão socioeconômica, e optar
por raciocínio transdisciplinar. Tendência que destacamos por estar relacionada com as
especificidades do vocabulário técnico não só do arquiteto, mas, de profissionais de outras áreas
de conhecimento afins com o urbanismo. Desta maneira, decidimos iniciar com ponderações sobre
as palavras ou expressões utilizadas no dia a dia, que assumem um sentido próprio dependendo do
campo disciplinar, em particular neste trabalho restrito a configuração física dos espaços.
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O capítulo 4 faz referência às vias locais, às quadras, aos lotes e edifícios. O conceito adotado sobre
os elementos urbanos é aplicado ao espaço do distrito da Mooca, um tecido tradicional da cidade.
A investigação se fez com apoio em três subsetores, selecionados para explorar as características
de cada elemento e nos levou a verificação que as quadras e os lotes dos subsetores da malha
tradicional são bastante flexíveis quanto à possibilidades de rearranjo dos lotes e a substituição das
edificações neles existentes por outras contemporâneas, seja por intervenções parciais ou pela
alteração de até uma quadra inteira, no caso dos condomínios fechados.
Nos quatro capítulos iniciais se procura estabelecer os fundamentos da análise da cidade através
dos corredores e subáreas, aplicado a um setor de tecido tradicional, o distrito da Mooca. Em
paralelo se experimentou o procedimento ao selecionar temas para o trabalho dos alunos,
compatíveis com os pressupostos da pesquisa em andamento e no contexto do programa de
iniciação científica e de mestrado da Universidade São Judas Tadeu. Isto nos deu a chance de
estudar partes do tecido da cidade, junto com os alunos e colegas parceiros, no desenvolvimento
da disciplina de graduação. São oportunidades que vimos tendo para conhecer a cidade e observar
o tipo de quadra que chamamos de tradicional, em formato de polígono, com maior frequência
retangulares e área em torno de um hectare.
No capítulo 5, comentamos projetos que são referência, onde aparece material relativo ao formato
das quadras retangulares e sua história.
No capítulo 6, repassamos conceitos relativos ao Urbanismo Moderno. Os grandes conjuntos
habitacionais e o seu declínio. Continuamos no capítulo 6, explorando a persistência da retícula
ortogonal, em tecidos decorrentes de projetos cuja história é recente, onde as preocupações com
o patrimônio, o ambiente e a sustentabilidade se colocam no primeiro lugar em discussões com a
comunidade.
No capítulo 7 retornamos ao Brasil, São Paulo, à retícula ortogonal e a nossa história voltada para
o tema da quadra tradicional. Comentamos sobre a forma de algumas cidades, como preparo para
se desenvolver um estudo de caso sobre a quadra tradicional.
No capítulo 8, desenvolvemos abordagem pela leitura das vias que atravessam e das que
distribuem, sobre as quadras do Bairro Jardim, em Santo André, São Paulo. Mostrar como acontece
no tempo a ocupação de uma quadra típica; a lógica da transformação gradual de uma quadra
tradicional.
Na Conclusão reforçamos a importância da quadra nos traçados urbanos, como se faz o apoio ao
desenho de trechos da cidade, mesmo onde as partes planas são menores. Elas se ajustam às
pequenas declividades e a trechos íngremes, por partes, até onde é ainda possível lotear. Este tipo
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de traçado atende a um leque muito grande de tendências conceituais sobre o projeto da cidade,
suas quadras, a dimensão dos lotes e suas edificações; a complexidade volumétrica que
espontaneamente emerge.
Na redação não utilizamos notas de rodapé ou fim. A bibliografia segue as normas e está reunida
ao final do texto. As figuras estão numeradas por um sistema binário que indica o capítulo e o
número da figura, por exemplo: 5-12, quer dizer capítulo 5, figura 12. Às duas pequenas tabelas
que aparecem no texto foram formatadas como figuras e assim numeradas.
CORREDORES E SUBÁREAS - 25
CAPÍTULO 1
Espaço físico, o suporte das atividades humanas
Refletir sobre o espaço natural e o transformado, o chão onde se vive e se convive no campo e na
cidade, onde se constroem os abrigos para atividades das pessoas e se erguem monumentos, se faz
necessário para explicar o procedimento de análise através dos corredores e subáreas.
Desenvolvem-se conceitos e a verificação deles amplia o entendimento sobre o espaço físico, gera
um referencial de tipos para o projeto urbano. Na cidade existente acontece uma adição ou
substituição de tipos construídos, mas, por princípio se considera para estudo o espaço físico
encontrado hoje. Eles resultaram da paisagem natural, rural e urbana modificadas pela ação
humana no decorrer do tempo. Nas cidades se encontram incontáveis tipos de espaços
estabelecidos para atender as necessidades das pessoas, livres ou construídos, subdivididos e
organizados por agentes controladores como o testemunho de programas urbanísticos e
arquitetônicos representativos da história de cada lugar. A questão do controle influi nas opções
para novas demandas por espaços no tempo, sendo uma noção importante, bem definida pelo
arquiteto-professor N. J. Habraken, no livro The structure of the ordinary, publicado no ano de 1998.
São suas estas palavras traduzidas do idioma inglês:
No texto do professor importa a ideia de considerar ‘as partes materiais que representam os
agentes que agem sobre elas’. O que vem de encontro ao estudo do espaço por partes como
fazemos, através do conhecimento do arcabouço físico de setores da cidade, esperando assim
contribuir para o elenco da multidisciplinaridade formada em conjunto com os demais saberes
interessados nos estudos de Urbanismo.
Nosso chão, natural ou urbanizado, o território, o espaço físico que tentamos compreender se
encontra no município de São Paulo e na sua região metropolitana. Aspecto que interage com a
compreensão dos tecidos urbanos e a tipologia, sendo referência a linha de pesquisa inaugurada
pelo geógrafo-professor Michael R.G. Conzen, que nos anos 1930 iniciou o estudo de parcelas
selecionadas do tecido urbano da cidade de Alnwick, na Inglaterra. Desde então se formou um
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grupo de profissionais ingleses e alemães precursores do que evoluiu sob o título de morfologia
urbana. Conzen é a nossa referência histórica e hoje a multidisciplinaridade aponta para outros
campos do conhecimento a que também tratam das cidades além da geografia e a história; como
a cartografia, sociologia, economia, política, engenharia, arqueologia, estatística, biologia, ecologia
e psicologia, entre outras. Elas cumprem os seus propósitos e ampliam os estudos urbanos
materializados pela arquitetura como a arte de construir, que gera a espacialidade para os
universos multi e transdisciplinar (CONZEN, 1969).
O pensar e o fazer em arquitetura são aqui direcionados para o estudo dos tipos de elementos
urbanos encontrados em contextos diversos. Destarte, junto às outras disciplinas a contribuição da
Arquitetura da Cidade está em estudar os tipos físicos de apoio aos demais conhecimentos que
completam o painel da dinâmica social. Segundo esta ótica, a nossa investigação se utilizou desde
o início de um repertório livre para nominar os vocábulos empregados, mas, ao redigir se observou
que nos confundimos com seus significados e a força com que a semântica das palavras varia entre
as áreas de conhecimento. Assim, veio o interesse de especular sobre qual seria um vocabulário
adequado ao estudo do espaço através de sua forma física, decorrente de projetos desenhados no
passado e aqueles do tempo presente. Foram selecionadas algumas palavras e se procurou o
melhor sentido delas, o que melhor se adequasse ao estudo do espaço físico e outras que poderiam
ser evitadas, devido a possível má compreensão quanto ao seu significado. Desta forma são
apresentadas as palavras que se tornaram usuais em nossos textos e algumas outras que
procuramos evitar, apesar de serem sugestivas e frequentes sobre questões afeitas ao urbanismo.
Para validar o significado de palavras ou expressões aqui adotadas apresentamos as que na
linguagem corrente se identificam com a análise da configuração física da cidade. Iniciamos pelas
já citadas - parágrafos acima - e se espera que as explicações facilitem o leitor, em particular quanto
aos conceitos de via, corredor, subárea e suporte físico, no modo que empregamos os vocábulos.
O estudo do espaço físico natural ou modificado pelas pessoas é assunto do campo da geografia
física, segue para a geografia humana e avança para os estudos de planejamento e arquitetura da
paisagem e um rol de outros saberes científicos. A base de nosso trabalho é o espaço natural
alterado pelos humanos, como na geografia física, com atenção aos tipos de segmentação por
partes e os tipos de arranjo dos espaços e maneiras de construir introduzidas pelas pessoas.
Segmentações devidas ao ajuste às condições naturais, a ação humana, de interesses ou de
conquistas à força. Das reconfigurações decorrem os elementos primordiais para a maneira de
analisar que utilizamos.
Estrutura: O vocábulo ‘estrutura’ é aplicado para a forma física do tecido urbano, sistema de
transportes e redes de infraestrutura. Para buscar outros significados se destaca o livro ‘Usos e
sentidos do termo estrutura’, onde o sociólogo - professor Roger Bastide comenta o emprego do
vocábulo em diversas disciplinas e suas variações dentro de um mesmo grupo disciplinar. O
professor considera que:
A expressão ‘estrutura urbana’ procuramos usar pouco em nossos escritos, pois é natural entendê-
la no sentido da tensão social, política e econômica relativa à ocupação do espaço pelas pessoas e
nosso propósito se prende às características em si dos espaços.
Via: As vias estão entre os principais elementos que contribuem para a análise do espaço físico,
rural e urbano. Sempre presentes e imbricadas aos elementos da paisagem são as faixas por onde
as pessoas e as cargas circulam na cidade e no campo. Para efeito de análise da forma da cidade
através dos corredores e subáreas e para sua aplicação nos projetos urbanos classificamos as vias
em três tipos: vias que atravessam, vias que distribuem e vias locais. As vias que atravessam são as
que perfazem grandes trajetos como as rodovias e as vias que cortam setores da cidade. Elas têm
características próprias em relação a quantidade de faixas de rolamento (largura, tráfego de
veículos, pavimentação), canteiros, iluminação, vegetação, sinalização e tipos de veículos que por
elas circulam; para construção requerem uma engenharia especializada. As vias que distribuem
como o nome sugere, fazem as ligações dentro de um setor; modo geral ligam duas vias que
atravessam e quando se tratar de um setor pequeno, nesta escala poderão interagir como se
fossem vias que atravessam, para efeito de estudo. As vias locais saem das que distribuem e levam
aos pontos de interesse da vizinhança. Todas elas têm fortes requisitos técnicos e a
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O processo para edificar as cidades e os edifícios passaram a ter regulamentos oficiais e este é um
belo tema da história. Importante, do qual vamos utilizar apenas o que está presente ou muito
evidente na configuração dos trechos da cidade que estudamos. São diretrizes para recuos,
gabaritos, coeficiente de aproveitamento do lote e taxa de ocupação do terreno, tendo por
referência o município de São Paulo.
Corredor: O deslocamento de pedestres e veículos acontece em espaços ou faixas que são as vias,
se somando quando existem às faixas de domínio das linhas de infraestrutura. No tecido da cidade
estas faixas de espaço público associadas às vias que atravessam ou vias que distribuem ocupam
uma fração significativa do todo. No corredor, os lotes das quadras voltados para a via que o
identifica em geral se diferenciam, pelo uso, ocupação e valor dos imóveis, daqueles voltados para
a via de trás. Em nosso trabalho se considera que a via e o eventual caminho paralelo de
infraestrutura mais as faixas laterais de lotes formam um corredor.
Nos espaços abertos, nas reservas verdes e de ocupação rural consideramos que os cursos de água,
linhas de eletrificadas, oleodutos e as estradas formam corredores cuja largura se define em função
das faixas de domínio estabelecidas para cada uma delas. Segundo o DNIT, Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes:
define-se como faixa de domínio a base física sobre a qual assenta uma
rodovia, constituída pelas pistas de rolamento, canteiros, obras-de-arte,
acostamentos, sinalização e faixa lateral de segurança, até o alinhamento
das cercas que separam a estrada dos imóveis marginais (DNIT, 2009, p.
11).
Fora do perímetro de um aglomerado urbano considera-se o corredor apenas pela faixa de domínio,
mantida a hierarquia oficial de estradas principais e vicinais.
Subárea: Os corredores se interceptam e definem uma linha poligonal acompanhando os fundos
dos lotes. Esta linha forma o perímetro de um fragmento ou miolo do tecido urbano, formado pelas
vias, quadras, lotes e edificações situadas dentro deste perímetro. A fração da cidade assim
identificada se chama de subárea. Analisar os tecidos urbanos através dos corredores e subáreas
nos levou a desenvolver o conceito como um procedimento de trabalho aplicado, o cerne da análise
da forma urbana como aqui se propõe. Os conceitos e procedimentos para a aplicação se faz de
acordo com os elementos básicos do parcelamento: via, quadra, lote e edifício.
Setor: Seja devido aos acidentes do espaço natural (cursos de água, relevo, reservas verdes) ou dos
caminhos abertos pelas pessoas, o espaço físico se apresenta entrecortado em inúmeras partes.
Nas cidades se utilizam maior número de subdivisões devido a necessidade de ocupar frações
menores, mescladas por dois tipos de domínio, o público e o privado. Na análise que fazemos do
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espaço físico se utilizam duas formas para se delimitar um setor: pelo eixo das vias de contorno
(sempre que existam) ou pelo alinhamento das quadras em ambos os lados, deixando a via em
separado. Considerar o sistema viário em separado facilita o cálculo métrico da área das vias no
setor e na cidade e permite aferir a metragem efetiva das vias do setor em apreço. Facilita também
para se aferir o quantitativo de espaços públicos e privados dentro do quadro geral da distribuição
de áreas por setor.
Na determinação dos setores importa se entender as vias que atravessam e as vias que distribuem
como o principal suporte da divisão da cidade em partes. Suporte no sentido de organizar os
corredores e subáreas até as menores partes. Suporte é nossa referência para a explicação do
traçado da cidade tradicional (São Paulo) por uma trama que gera os corredores que atravessam e
distribuem. As vias e mesmo os corredores a elas associados criam um sistema de suportes. A ideia
de suporte vem do professor Habraken que recomenda aos projetistas de grandes conjuntos
urbanos:
O professor cita ‘linhas de desenvolvimento’ como o alinhamento das edificações assentes em vias
públicas ou caminhos principais para pedestres, de onde tiramos a referência para considerar os
corredores que atravessam e distribuem definidos como ‘suportes’ formando a trama delimitadora
dos setores na cidade. Outro aspecto pertinente é visualizar nos setores a faixa lindeira às vias que
atravessam e distribuem cujos lotes tendem a ter maior valor devido seu potencial para oferecer
atividades de uso misto. Por outro lado, seguindo a ideia das faixas como suporte de características
da urbanização, inspirado em Habraken, são importantes os espaços controlados pelas diretrizes
para o recuo de frente e de fundo dos prédios, obrigatória por força das diretrizes urbanísticas
quando estabelecidas pela legislação municipal.
Área protegida: É uma expressão usada para identificar um setor que contenha uma ou mais
subáreas e tenha potencial para se desenvolver através de um projeto urbano. Reportemo-nos às
faixas formadas pelos corredores e neles o sistema de vias, depois a faixa lindeira de lotes voltados
para a via principal, a que define o corredor. Em seguida se considera a faixa de lotes mais interna
voltados para as vias que formam, ou têm potencial para formar um anel de circulação interno. Ela
tem a característica de ser uma via aproximadamente paralela a via do corredor que forma um anel
CORREDORES E SUBÁREAS - 31
interno responsável pela distribuição do fluxo motorizado para as vias locais. Entre a via do corredor
e a distribuidora interna existem as quadras que acompanham o anel, com a peculiaridade do
renque de lotes com frente para o corredor ter maior visibilidade pelos passantes, maior
valorização comercial e por isso procurados para atividades mistas em oposição ao outro voltado
para o anel interno onde o uso misto se houver, será mais rarefeito. A faixa de lotes internos em
setores centrais da cidade, pode ser atrativa tanto para comércio, serviços, residências ou
institucionais de porte menor que os do corredor e às vezes servir como entrada de serviço para
estacionamento dos estabelecimentos de grande porte instalados em um lote com duas frentes (a
do corredor e a da via traseira). Pode-se dizer que o anel de quadras perimetrais do setor forma
uma faixa de transição - buffer zone - protegendo o miolo, em geral de predominância residencial:
a ‘ilha de tranquilidade’ dita por alguns urbanistas. Este tópico se relaciona ao potencial para
desenvolvimento de lugares urbanos significativos e será desenvolvido mais adiante.
Divisa: Disputas entre as nações, grupos sociais e indivíduos por territórios conduziram ao
estabelecimento de fronteiras separando os interesses dos agrupamentos humanos, ela pode ser
um rio ou outro elemento natural; pode ser um muro separando partes de um país ou um país de
outro e pode ser uma cerca entre dois lotes de moradia, em uma tranquila área de vizinhança.
Modo geral esta linha, a divisa. Decorre de tratados entre nações e estados, nos municípios separa
rural e urbano e nestes domínios a divisa é uma linha que define espaços físicos com escrituras
diferentes. A divisão entre propriedades é descrita textualmente com base em levantamento
planialtimétrico, e comprovada pela escritura pública do lote que descreve as interfaces das
parcelas contíguas. Para o desdobramento dos estudos nos campos do urbanismo e da arquitetura
se faz importante o conceito de divisa como a linha que separa fisicamente dois espaços; elas
demarcam propriedades diferentes.
No estudo da forma urbana a linha de divisa entre lotes, a divisa do lote com a via pública e a divisa
de fundo, são constantes que se manifestam para formar a quadra. Por outro lado, existem linhas
decorrentes de diretrizes urbanísticas devidas ao plano da cidade que funcionam como divisas para
novos projetos, como é o caso da obrigatoriedade de haver cinco metros de recuo frontal para as
construções em quase toda a cidade de São Paulo. Ela define uma faixa de transição público-
privado ou vice-versa assente em terreno privado e influi na configuração da cidade. É o tipo mais
elementar de uma divisa que não concerne a propriedade do solo. Em São Paulo existem outras
regulações como esta que não são divisas de propriedades, mas regulam o projeto urbano.
Tipo: No estudo da cidade ao utilizar conceitos de análise da forma urbana, se mantém como o
objeto principal a configuração que o espaço adquire em cada momento da história. Isto permite a
32
identificação dos tipos físicos que pontuam fases possíveis de resgatar até hoje; para o estudo dos
elementos urbanos, dos setores da cidade e seus edifícios. Assim, será possível gerar subsídios
programáticos para os projetos urbanos e de arquitetura contemporânea com respeito ao tecido
tradicional. O estudo de tipos se detém na configuração da cidade atual mas, deve passar por
aqueles elementos urbanos que resistiram ao tempo e são referência para as proposições do
urbanismo e da arquitetura contemporânea. Segundo o arquiteto-professor Aldo Rossi, elementos
urbanos pontuais que deram origem a centralidades, hoje os chamamos de elementos primários;
são os monumentos ou pequenas partes do tecido com forte caráter de absorção do interesse da
população. Uma outra categoria são os trechos urbanizados, em geral áreas residenciais
configuradas pela repetição de tipos elementares que formam um tecido, ROSSI, 1966.
Se considerarmos a conceituação de Rossi como a visão de um intelectual europeu emitida há cerca
de cinquenta anos atrás e a compararmos com o que a arquiteta-professora Brenda C. Scheer
escreve no livro The evolution of urban form: typology for planners and architects, podemos
concluir pela atualidade de Rossi.
refere a abertura de vias, alargamentos, prover espaços para o transporte público ou o redesenho
para acomodar ciclovias ou melhorar os espaços para pedestres e a substituição de elementos da
infraestrutura urbana ou predial por outra atualizada. Devido a este conteúdo não utilizamos como
alternativa para ‘substituição’ a palavra ‘transformação’, pois isto pode confundir conceitos
circunstanciados ao espaço físico, a outros de natureza interdisciplinar, por exemplo, das ciências
sociais cuja ênfase se direciona aos modos das pessoas se apropriarem dos espaços. A realidade, o
caminhar da vida levam ao processo de retroalimentação efetivado pelo ato de idealizar espaços,
construir, ocupar, estabelecer necessidades e substituí-los.
Configuração física: Entende-se como a forma pela qual o espaço se apresenta hoje. Em especial
comparado a datas do passado, todas elas de interesse para a pesquisa. A configuração de hoje
resulta das mutações que ocorreram desde outras épocas, devido às razões explicadas por
disciplinas como a geografia (física e social), história, sociologia, economia e outras.
O espaço se modifica em tempo mais curto no caso de seu proprietário decidir renovar em função
de demandas atuais, ou se altera radicalmente por uma situação de catástrofe ou demolição do
imóvel para construir outro maior no mesmo terreno ou pela junção de vários lotes. A pesquisa
sobre a forma urbana se desenvolve com base no retrato atual das mudanças de configuração dos
espaços, atentos para as regulações urbanísticas que nele influem e são provenientes da sociedade
onde se desenvolvem.
No tópico 1 para indicar a configuração espacial como uma entidade física foram selecionadas doze
palavras ou expressões. Para o tópico 2 foram selecionadas apenas cinco palavras de uso corrente
na literatura sobre as formas de apropriação do espaço ocupado e controlado pelas pessoas. São
frequentemente utilizadas nos relatos que envolvem o uso social do espaço, que no Brasil envolve
urbanistas, planejadores urbanos e arquitetos para citar apenas as áreas afins. Há locais que podem
abrigar mais coisas que pessoas, como os setores para indústrias e serviços da cidade ou mesmo
em áreas de uso misto, onde pode se localizar um galpão para depósito contendo uma quantidade
de coisas que demanda uma área muito maior que aquela da administração. O exemplo do galpão
pode não ser o melhor, mas, ele serve como contraponto para outro, referente ao espaço da cidade
para as pessoas, que é o mote atual dos projetos urbanos e reflete acertadamente a preocupação
de Jan Gehl com a sociabilidade e a saúde da população (GEHL, 2013).
Fizemos a primeira menção ao lugar das coisas para referenciar o planejamento urbano como a
ferramenta do urbanismo que vai estar presente na organização das cidades e abrange todos seus
segmentos. Seja nos lugares da cidade ou em um edifício há um ciclo que retroalimenta o uso e a
34
Nossa disposição maior é para reforçar o conhecimento dos tipos de elementos urbanos e entender
a cidade através do estudo localizado de seus setores, cuja identidade é reforçada pelos corredores
onde se desenvolvem os fluxos e se implantam a maioria das edificações responsáveis pela atração
das atividades básicas de apoio às pessoas. Entre as palavras empregadas para referenciar apenas
o espaço físico e podem ser incompreendidas, comentamos as que empregamos com maior
frequência, como:
Território: O chão do planeta Terra está subdividido entre áreas de preservação e áreas socialmente
ocupadas, os territórios. Habitados ou não, isolados ou em conjunto, os territórios formam
CORREDORES E SUBÁREAS - 35
superfícies de diferentes dimensões, caracterizadas por divisas precisas que são controladas por
alguma entidade de interesse coletivo ou por um indivíduo. Da região ao quarteirão na cidade, as
subdivisões do espaço físico estão sujeitas a alguma forma de controle. Agora ensaiamos nossa
definição para território como: o espaço físico subdividido em partes e socialmente ocupado. Com
isto se subentende as formas de posse pelas pessoas e o direito de propriedade, como mostra a
história e se encaixa no conteúdo do campo do planejamento urbano e regional. O Território possui
tantos significados que sua definição ocupou alguns parágrafos do livro escrito pelo geógrafo-
professor Milton Santos ‘A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção’ (SANTOS, 1996).
Por sua vez, o advogado-professor David Delaney (2005) no livro Territory a short introduction, do
qual traduzimos um pequeno trecho, mostra as nuances entre diferentes maneiras de entender o
território.
O sistema de controle sobre o território se subdivide segundo a propriedade de cada parte e para
este assunto importa a classificação proposta pelos arquitetos-professores Christopher Alexander
e Serge Chermayeff, no livro ‘Community and privacy’, 1963. Eles tratam da linha divisória
entre domínios, o público e o privado. Entende-se por domínio o poder de controle sobre a
propriedade de determinado espaço, pode ser uma entidade, um grupo de pessoas ou uma pessoa
física. Utilizando o conceito de formas de controle sobre os espaços da cidade os autores fazem
uma classificação em seis categorias: urbano-público, urbano semipúblico, grupal público, grupal-
privado, família-privado e individual-privado. As seis categorias definidas por Alexander e
Chermayeff abrangem desde o espaço aberto para todos como uma praça pública, até aquele
bastante individual que é o quarto de dormir (ALEXANDER et al, 1963).
Limite: Para os limites de glebas, seja na escala territorial ou na interurbana, se descreve no cartório
de registro de imóveis uma linha de divisa. Na escala de um território, por exemplo, um município
a linha oficial de divisa pode ser referenciado pelas pessoas independentemente de seu registro,
citando-a de modo informal como se fosse o curso de um rio ou a cumeada de uma cadeia de
montanhas. Torna-se comum dizer que “o município, ou minha fazenda, se limita com o vizinho por
tal rio”. Existem os limites entre propriedades, limites para a subdivisão de um município em
36
distritos e subdistritos, linha que necessariamente não indica a subdivisão que a população utiliza
para separar seu bairro. Um bairro pode ter a indicação de seus limites por vias públicas e por
outros elementos urbanos, como atribuído pela população local, e, dependendo da descrição do
interlocutor o limite do bairro poderá variar.
A literatura recente sobre o espaço para as pessoas trabalha com a ideia de limiar que fica associada
a transição de um espaço público para o privado. São os espaços de transição entre os domínios,
presentes nos edifícios e nas cidades. O arquiteto-professor Hermann Hertzberger explica e mostra
exemplos destas relações, no seu livro Lições de Arquitetura (HERTZBERGER, 1996).
Na década atual a preocupação com a qualidade dos espaços para a convivência das pessoas tomou
força e o livro ‘A cidade ao nível dos olhos: lições para os plinths’, atesta bem tal tendência (GLASER
et al, 2015).
Lugar: O espaço físico vazio é algo à espera de gente para ocupá-lo, pessoas e coisas. Ele encontrará
a razão de existir quando as pessoas se apropriarem dele. Abrigando as pessoas, o espaço poderá
ser um lugar e corresponder a um caráter próprio, o genius loci. Christian Norberg Schulz através
de princípios fenomenológicos nos orienta:
CAPÍTULO 2
Forma urbana, conceito de corredor e de subárea
pelo PNUM, Portuguese Network on Urban Morphology, associado a congênere inglesa ISUF,
International Seminar on Urban Form (OLIVEIRA, 2016). Em Portugal se destaca devido à sua
contribuição maior para a morfologia urbana o grupo de pesquisa Forma Urbis Lab, liderado pelo
professor Carlos Dias Coelho da Universidade Técnica de Lisboa, cujo acervo de experiência se
difunde pela publicação de livros. Em particular o livro Os elementos urbanos, coordenado pelo
professor Coelho, cujos capítulos escritos por especialistas, tem sido referência para os trabalhos
do nosso grupo de pesquisa (COELHO, 2012).
A repercussão dos trabalhos dos autores citados e seus livros, são divulgados tanto na universidade
como no ambiente profissional do arquiteto-urbanista. Por esta razão parece desnecessário pautar
a todo instante cada trecho escrito sobre os corredores e subáreas por justificativas procurando
imbricar o resultado das investigações de campo - de onde realmente emergem os resultados da
nossa pesquisa - com citações de autores conhecidos. Isto se faz quando a aproximação a
determinado autor é indispensável para reforçar o conceito que se procura fixar.
A cidade de São Paulo, doze milhões de habitantes em uma área metropolitana de vinte e dois
milhões evoca estudos de planejamento urbano e regional para determinar padrões de
infraestrutura e de desenvolvimento socioeconômico na escala regional. No extremo oposto o
planejamento referenciado a pequena escala leva a um urbanismo que trata de aspectos locais,
tendendo para o social e político, mas, gerador de subsídios importantes para a análise do contexto
físico local. Isto acontece através da captura das particularidades que ocorrem em pequena escala
e que podem ser agrupadas no contexto de um determinado setor; organizados para alimentar
programas de intervenção e projetos urbanos. O conhecimento dos aspectos locais ‘andando a pé,
olhando e escutando’, fornece material para a escala local do planejamento e para as escalas
maiores, sendo indispensáveis para alimentar os programas de projeto dos setores da cidade. Pode-
se somar a isto formas alternativas do urbanismo insurgente como o movimento Everyday
Urbanism, o Tactical Urbanism e outros, como formas de contribuir para o planejamento do uso de
espaços públicos através de programas que nascem de uma comunidade.
O projeto urbano resulta da decisão do planejamento, da programática de um plano, seja na
dimensão grande ou micro. Deve ser desenvolvido por procedimentos que levem à transformação
do espaço físico com base em programas aprovados pela sociedade. Investigar sobre o espaço como
forma construída segundo propomos objetiva o conhecimento de tipos, serve para fundamentar o
programa e o projeto urbano, alimentar o mecanismo para a implementação do projeto.
CORREDORES E SUBÁREAS - 41
Seja na linguagem técnica ou coloquial é comum se falar região do país, região metropolitana ou
região norte, sul, leste e oeste de um país, município ou cidade. Na escala da cidade utiliza-se o
nome setor para designar suas partes, definidas conforme o objetivo do planejamento: setor
censitário, educacional e outros. São objetivos decorrentes do interesse específico de buscar
informações que subsidiem trabalhos de planejamento. Para a análise da forma da cidade e
programa do projeto urbano, considera-se o setor dimensionado de acordo com a abrangência
apropriada ao tipo da investigação requerida. A cidade é entendida como um setor urbano do
município, dividida em bairros pelos moradores e em distritos segundo os critérios da Prefeitura.
Para os procedimentos de estudo de corredores e subáreas a subdivisão de uma cidade é feita pelos
elementos físicos de permanência no tempo, difíceis de serem removidos: as vias de transporte de
pessoas e cargas, o caminho dos fluídos e da energia e os acidentes geográficos, um morro ou o
mar. Analisar o tecido urbano de traçado tradicional como o da cidade de São Paulo, tendo foco
nos tipos de corredores e subáreas, é facilitado pela subdivisão do espaço em setores, através do
sistema de vias principais. Deste modo são definidos setores da trama urbana articulados para
permitir o melhor conhecimento do todo. Algumas das vias principais de hoje tempos atrás foram
ligações construídas pelas pessoas e assentes no território segundo a lógica do possível: pelo
espigão, meia encosta ou várzea de um curso de água. Ligavam cidades e passavam pelo centro,
onde se situava o mercado, a praça, os prédios públicos e as pessoas conviviam. Com o tempo, as
cidades e áreas rurais se institucionalizaram como municípios. Parte dos caminhos tornaram-se vias
interurbanas ligando cidades próximas e em alguns casos formaram uma região metropolitana. Isto
pode parecer elementar, mas, é para se recordar a maneira da formação de cidades e para
introduzir a ideia de corredores e subáreas, cuja origem está na subdivisão do espaço em setores e
subsetores na medida em que se aprofunda o estudo.
O conceito de região como utilizado pelo arquiteto- planejador Peter Calthorpe tem a ver com os
conceitos que se expõem neste manuscrito. Ele estabelece quatro elementos básicos para o
planejamento regional, que são: centers, centros de cidades ou vilas; districts, área com uma
ocupação principal (universidade e entorno, por exemplo); preserves, espaços abertos rurais e
urbanos; corridors, linhas do sistema natural, infraestrutura e transportes. A partir daí Calthorpe
desenvolveu o método Transit Oriented Development, T.O.D, cuja base é o transporte público
ligando localidades com potencial para desenvolvimento e que hoje é utilizado mundialmente
(CALTHORPE et al, 2001).
42
A figura 2-1 mostra a ocupação de um território pela ilustração de três épocas. Em 1A, a
centralidade (cidade) que se forma no cruzamento de dois caminhos ou vias. Em 1B, o início de uma
rede de conexões. Em 1C, aparece a região metropolitana.
O traçado viário, a implantação dos espaços públicos e edificações que moldam a forma urbana
atual acompanharam a história das cidades, foram concebidas como resposta a necessidades e boa
parte foi construída com arte. No texto Condições Históricas do Urbanismo G. C. Argan, afirma “será
preciso considerar o conjunto das exigências práticas como matéria realista que se constitui e
organiza na forma artística e representa a condição da sua existência”, exaltando a questão de
construir com arte desde que se domine o programa de necessidades descrito para um projeto
urbano (ARGAN, 1992).
CORREDORES E SUBÁREAS - 43
No entanto, nem todo tecido urbano é concebido com arte e ser antigo não é garantia de qualidade.
Há o exemplo nada satisfatório do bairro Paraisópolis em São Paulo, onde foi assente um traçado
reticulado ortogonal sobre terreno acidentado, que gerou e causa problemas até hoje devido a
declividade acentuada e irregular das vias em relação a configuração das quadras, lotes e
infraestrutura. Em outros lugares desta cidade a pressa do crescimento fez com que tecidos
urbanos antigos fossem cortados por vias destinadas para a circulação pesada, resultando um
traçado do tipo patchwork mal alinhavado.
São Paulo como outras cidades brasileiras expandiu-se a partir do centro por um sistema de vias
radiais aproveitando caminhos de cotas favoráveis, por cumeadas ou fundo de vales, em retícula
ortogonal ou deformada para acompanhar a declividade, sem deixar pontos convenientes para vias
principais se conectarem a loteamentos novos. O cruzamento das circulações principais mostra-se
como local das edificações de interesse coletivo. É representado pela praça, nó de articulação de
veículos, espaço de passagem, de permanência individual ou de encontro. As vias radiais cortam os
anéis concêntricos, desenhados em diferentes tempos, na expectativa de delimitar perímetros de
expansão urbana. A superfície de cada anel é dividida por setores demarcados pelas radiais que
saem do Centro Histórico (o menor anel) e se desenvolvem até o Anel Rodoviário, figura 2-2. Nesta
figura a linha fina pontilhada representa o limite do município, em destaque aparece o corredor
associado ao anel viário.
44
Traçado viário
A via é um elemento de morfologia urbana, faz parte do quarteto clássico via, quadra, lote, edifício,
VQLE, que caracteriza o tecido urbano de uma cidade, como definido pelo arquiteto-professor
Carlos Dias Coelho:
Coelho diz serem indissociáveis os elementos que compõem o tecido conforme o tempo, a cultura,
e a forma de ocupação, como processo evolutivo próprio de cada território. Para o autor as
limitações que possam ocorrer ao se estudar o tecido urbano desmembrando-o para analisar é
justificado apenas para facilitar a leitura e reconstituir uma interpretação.
Para a análise de tecidos urbanos segundo os corredores e subáreas é suficiente a seguinte
classificação das vias de uma cidade:
• Vias que atravessam, são as que passam tangenciando o setor e o definem. Elas fazem a ligação
com outros pontos da cidade ou, são as vias que cortam o setor dependendo da abrangência da
análise. Como a cidade por definição é um setor do município, nesta escala destacam-se as vias que
atravessam. Na dimensão do bairro, o setor pequeno se identifica por possuir limites determinados
pelas vias que o atravessam tangenciando, são vias que distribuem se consideradas na escala da
cidade
• Vias que distribuem, são vias que fazem conexão com a principal e tem a finalidade de distribuir
o tráfego para as vias locais. Quando a via que atravessa for uma rodovia ou via arterial importante
em geral há uma via paralela para participar do conjunto como via de distribuição e dela o tráfego
se espraia para outras vias de distribuição ou diretamente para as locais. Quando se tratar de uma
via que atravessa de porte menor as vias de distribuição saem delas diretamente, e fazem a ligação
com as vias locais. Uma situação que favorece as subáreas formadas por quadras de lotes pequenos
e que tem resistido a investidas de empreendedores especializados na construção de condomínios
de porte grande aparece quando há uma via de distribuição interna que acompanha o corredor em
um segmento extenso de determinado setor.
• Vias locais são as vias que formam a trama local articulada com as vias de distribuição. Elas se
localizam entre duas vias de distribuição, podem ser do tipo loop saindo e voltando da mesma via,
ou tipo cul-de-sac entrando e saindo pelo mesmo acesso da via de distribuição.
Ao aplicar o procedimento de trabalho resultante destes conceitos é indispensável ter presente a
relatividade da nossa classificação de vias. Dividimos a cidade em setores, no contexto urbanizado
maior as subdivisões são feitas pelas vias que atravessam. Para a identificação de subsetores pode
ser utilizada uma via que distribui, o que é normal quando se reparte o espaço da cidade em
corredores e subáreas.
Corredores
O tecido urbano pode ser identificado pelas passagens de tráfego segundo níveis de importância.
Existe a via expressa, a avenida, a rua principal, a rua secundária e a rua local de um bairro. Elas
são eixos por onde fluem veículos e pedestres, com papéis diferenciados conforme sua inserção na
46
trama urbana; e, para o nosso trabalho passamos a denominá-las de vias que atravessam,
distribuem e locais. Destaca-se o tipo de elemento urbano que associa o espaço da via com as suas
faixas lindeiras de lotes incluindo as edificações; quadra a quadra, para formar o sistema linear que
se chama corredor, figura 2-3.
A via de suporte de um corredor pode se somar a outro elemento urbano também linear; como um
canal, uma linha de alta tensão, ou, uma ferrovia. Tratando-se de um elemento relativamente
estreito como o canteiro central de uma via, ou, o canal estreito de um córrego, sua largura deve
ficar incluída no corredor que contém as faixas lindeiras de lotes. No caso da largura avantajada do
elemento urbano, uma via expressa ou um rio (com frequência aparecem lado a lado), modo geral
quando houver a necessidade de uma ponte ou túnel para atravessá-los, se identifica a presença
de uma ‘barreira’ separando dois setores da cidade, figura 2-4.
Uma situação inusitada para a caracterização de uma barreira é quando se encontra uma faixa de
lotes industriais, ou, de origem industrial, com os fundos para uma ferrovia e a frente para
uma via da cidade. Fato inerente à situação do dos lotes nesta situação precisarem do acesso pela
via que pertence a trama regular da cidade, mas, necessitam ter contato direto com a faixa de
domínio ferroviária para a carga e descarga de mercadorias através dos ramais, com a finalidade de
carga e descarga diretamente no lote industrial.
Semelhante a este tipo, se pode classificar a situação de loteamentos residenciais que possuem
uma faixa de lotes com frente de acesso por uma via de bairro e fundos para um parque, um morro
e às vezes uma praia. Todos estes tipos são utilizados no traçado urbano para otimizar o uso das
vias. Na figura 2-5, da esquerda para direita aparecem as quadras, a via responsável pelo corredor
e a faixa de domínio da ferrovia (interrompida no diagrama).
Subáreas
Na cidade tradicional os corredores se entrelaçam de maneira orgânica resultando atrás deles uma
superfície poligonal cujo contorno é o fundo dos lotes que fazem frente para os corredores. Esta
superfície se chama subárea, para os fins de conceituação e de aplicação dos nossos procedimentos
de análise da forma urbana. A subárea poderá ser grande ou pequena dependendo da distância
relativa dos corredores, que é determinada pelo critério de subdivisão do tecido urbano em setores.
Isto dependerá da abrangência do estudo desejado pois um setor grande poderá incluir vias que
atravessam e um setor pequeno, resultante de subdivisão de outro possuindo apenas vias de
distribuição, poderá ser subdividido mais uma vez por distribuidoras de ordem menor (MACEDO,
2002). A figura 2-7 ilustra o critério de subdividir por setores. Em 7A, o diagrama ilustrativo de uma
subárea grande, configurada por corredores que atravessam a cidade. Em 7B, mostra-se que a
subárea pode ser subdividida em três outras pelos corredores associados às duas vias de
distribuição existentes. Em 7C, demonstra-se que a subárea que contém os cursos de água pode
ser subdividida em três partes, chegando ao ponto de não interessar subdivisões menores para
estudo.
50
Os corredores e as subáreas
Regra geral os lotes situados nos corredores possuem imóveis ocupados por atividades de uso misto
com predominância no térreo de uso comercial e serviços, intercalados por residências,
instituições, indústrias, praças e parques. Há corredores de caráter residencial nos bairros e total
predominância do tipo misto nas áreas centrais de cidades. O corredor pode ter um caráter
particular, como aquele caracterizado por um tipo predominante de comércio: a rua dos
eletrônicos, das confecções ou das noivas. Nos corredores longos a predominância de uso acontece
por trechos, como se observa nas vias de grande extensão da cidade de São Paulo.
CORREDORES E SUBÁREAS - 51
A quadra que acompanha a via responsável pelo corredor, tem a faixa de lotes voltados para o lado
oposto em condição diferenciada daquela do corredor. No caso de ser uma quadra da área central
de uma cidade grande, o uso do solo na via de fundo se assemelha ao do corredor em decorrência
da pujança das atividades de comércio e serviços. No bairro em transformação de industrial para
residencial, comercial e serviços, as plantas industriais maiores cedem lugar para grandes
condomínios residenciais ou mistos, mas, ficam trechos onde os lotes são de dimensão que não
chega a atrair os empreendedores imobiliários, resultando uma complexa e interessante mistura
de tipos edificados.
A figura 2-8 apresenta imagens de áreas de transição, no primeiro plano, e centralidades de uso e
ocupação do solo ao fundo, em São Paulo. Em 8A, aparece o trecho de um bairro onde a densidade
de ocupação dos lotes aumenta na medida da aproximação com a área central e em 8B, a frente
dos lotes voltados para a via-corredor tem no pavimento térreo uso misto de predominância
comercial e serviços. Ela segue até encontrar o centro do bairro onde o volume dos edifícios é
maior.
Em setores afastados da rede viária principal, pode haver vias eleitas como de distribuição onde a
predominância de uso seja residencial. Há situações em que a mudança de uso misto do corredor
para as vias internas da subárea é abrupta, destacando-se a situação da “rua sem saída” ou vila, de
acesso direto por uma via-corredor, onde uma parte das casas passa a ser utilizada para atividades
de serviços. Em outras situações as casas da vila passam a ser comerciais. São Paulo mostra nos
corredores de bairros significativa presença de oficinas e pequenas indústrias misturadas ao
comércio, residências, instituições públicas e privadas.
A figura 2-9, mostra a mudança de uso que frequentemente acontece nos corredores de bairros.
Em 9A aparece um trecho de corredor de origem industrial onde um condomínio de grande porte
se assentou no terreno onde existia uma indústria, os lotes de frente estreita e pouca profundidade
52
devido a existência de uma rua sem saída paralela ao corredor, passaram a ter uso comercial e de
serviços (foto, à direita). 9B mostra uma via-corredor com acentuado contraste do volume e uso
dos espaços. 9C representa a rua-corredor onde as casas, em lotes de frente estreita e pouca
profundidade são mantidas, com a mudança de uso, hoje constituindo exemplo de corredor que
atravessa compatível com a escala de uma vizinhança. A figura 9D representa uma vila em local de
considerável movimento, onde todas as casas se transformaram em lojas.
Através da observação sobre diversas áreas da cidade de São Paulo - trabalho de campo, análise de
tipos e projetos - organizou-se um processo para estudar os elementos urbanos, decorrente dos
conceitos de corredor e subárea. Tem o objetivo de organizar o demonstrativo da situação
presente, analisar a forma urbana, gerar subsídios para pesquisa, planejamento e projeto urbano.
Ao longo da história as vias de São Paulo foram implantadas em função dos aspectos naturais de
relevo e hidrografia, de acordo com a superfície a parcelar, tamanhos previstos de lotes e
diversidade oferecida para possíveis programas de edificações. O loteador das partes a cada projeto
foi e é dependente do programa e finalidade do parcelamento: da grande gleba industrial até o lote
da vila operária; do bairro-jardim até as residências em fileira dos bairros menos nobres. O
elemento estruturador sempre foi o sistema de circulação.
CORREDORES E SUBÁREAS - 53
Com o passar do tempo aconteceram alterações do traçado original da cidade, pela implantação
das grandes avenidas, alargamento de vias, canalização de cursos de água e um grande esforço para
responder às necessidades de espaços para o transporte público e o individual. O tempo trouxe o
conhecimento das questões técnicas relativas às vias da cidade gerando uma classificação rigorosa
de tipos que foram incluídos na legislação urbanística do município desde 1950. O automóvel –
simbolizando a modernidade – sacrificou espaços dos pedestres, parte das calçadas deram lugar a
ampliação das faixas de rolamento. Calçadas que nunca foram de largura generosa na cidade de
São Paulo, ficaram ainda mais estreitas. Muitos dos poucos parques existentes foram retalhados
por força de obras viárias ou pela sua “disponibilidade” para a urgente implantação de edifícios
públicos.
São Paulo acompanha a atual valorização internacional para se circular em espaços abertos,
representada pela “caminhabilidade” ou capacidade para caminhar que é um neologismo, tradução
de walkability e pelo incentivo da bicicleta como meio de transporte. Isto repercutiu no Plano
Diretor Estratégico - 2014 - deste município, através de diretrizes para diminuir o uso dos
automóveis com a finalidade de conquistar parte dos espaços a ele cedidos.
Tornou-se necessário abrir frente para o transporte de alta capacidade e isto vem sendo feito
gradativamente, apesar da estrutura viária desta cidade não facilitar tanto. A urgência para
acompanhar o padrão internacional está centrada no criar espaços para as pessoas – pedestres e
bicicletas - ainda que não possam ser contemplados os que fazem uso de motocicleta para trabalhar
(não há espaço, é impossível agora, dizem os técnicos), apesar de os motociclistas serem hoje os
responsáveis pelo maior número de acidentes fatais em São Paulo. Estes objetivos redundam em
propósitos de projeto reprimidos quanto às possibilidades para realmente transformar os espaços
da cidade, pois demandam grandes e dispendiosas desapropriações. Sobre este assunto existe farta
literatura disponível, que melhor se situa no campo do planejamento e implementação de políticas
públicas.
A parte da cidade escolhida para testar o procedimento de análise decorrente dos conceitos de
corredor e subárea é o distrito da Mooca, na cidade de São Paulo. Distrito, para usar a denominação
utilizada pelo poder público para efeito de planejamento e administração municipal.
O distrito da Mooca é delimitado por vias principais, ele tem a superfície de 7,7km², população
75.724 (PMSP, 2010) e densidade demográfica de 9.834 habitantes por quilômetro quadrado. A
superfície deste distrito corresponde a 0,5% da área do município, que é de 1521km². O perímetro
oficial definido pelo sistema viário corresponde ao interesse desta investigação quanto a subdividir
54
o espaço em setores, tendo apoio nas vias que atravessam e que distribuem. Dentre os noventa e
seis distritos em que se subdivide o município de São Paulo a Mooca ocupa posição a Leste da área
central, sendo classificado entre os distritos de menor superfície. Para efeito da análise da forma
será utilizada a superfície oficial do distrito (7,7km²). Sua contextualização como parte integrante
da área central da cidade está comentada no artigo Patchwork of commercial districts around São
Paulo Core Area, apresentado no SBE/2016, Sustainable Building Environment (IMBRONITO, M.I.;
MACEDO, A.C; SALES, G. S. 2016).
Quanto à compreensão de limites, os moradores mencionam três partes, usando a palavra bairro:
Hipódromo, Alto da Mooca e Parque da Mooca. Nomenclatura que melhor aproxima as pessoas
ao seu local de moradia. Observando a identificação popular foi organizado um diagrama da divisão
da Mooca em oito partes, cinco além das três já citadas, figura 2-10.
Em 10A, o diagrama destaca a Mooca dos demais distritos de São Paulo. Em 10B, segundo uma
classificação oficial, aparecem as localizações aproximadas que dão cunho de lugar ao espaço físico.
São oito partes: 1- Ana Neri; 2- Hipódromo; 3- Cassandoca; 4- Alberto Lyon; 5- Mooca; 6- Alto da
Mooca; 7- Henry Ford; 8- Parque da Mooca. Como procedimento de trabalho se recomenda fazer
um passeio demorado pela área em estudo, para sentir o lugar das pessoas, depois entrar na técnica
analítica dos corredores e subáreas, levando em conta as informações oficiais como uma
importante fonte de referência.
Em nosso trabalho sobre os elementos via quadra, lote, edifício e seus componentes corredor e
subárea, a definição de cada um deles deve ser entendida pelo propósito específico dos
CORREDORES E SUBÁREAS - 55
procedimentos delineados para se conhecer o tecido de modo geral e dar suporte a projetos
urbanos. Para quem pretenda se aprofundar nos estudos de tipologia se recomenda recorrer ao
Laboratório Quadro do Paisagismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo, o Lab QUAPÁ que tem produzido uma ‘cartografia temática’ sobre padrões morfológicos
e espaços livres por quadra, para as cidades da Região Metropolitana de São Paulo (QUEIROGA,
2016).
Para o estudo da forma urbana o distrito foi subdividido em quinze setores, por vias que atravessam
ou distribuem. Os setores são de natureza física e sem preocupação de que coincidam com as
divisões oficiais, ou, com os limites imprecisos que o morador costuma apontar para o seu ‘bairro’.
Os setores foram identificados e numerados de um a quinze, figura 2-11.
Observe-se que os setores de números 1, 12,13, 14 e 15 podem ter seus limites na via de
distribuição que delimita o distrito. No entanto, dependendo do objetivo pode não interessar a
delimitação oficial do distrito, como a nossa opção de estudar a cidade por setores. Sobre este
procedimento um exemplo de fácil visualização é o setor 12, onde o limite oficial do distrito se
encontra muito próximo a via que atravessa. A subdivisão em setores deve ser produto do
conhecimento da área que o pesquisador adquire ao observar o universo urbanizado e do bom
senso para fazer o setor coincidir com uma via que atravessa ou distribui. Estes setores ficam
sujeitos a subdivisões ainda de dimensões menores.
A disposição para analisar o tecido da cidade expressa por este manuscrito vem tanto pelo viés
teórico como pela prática. Nesta o resultado positivo do projeto da forma urbana depende do bom
programa de necessidades, de sua interpretação somada ao talento e suor de uma equipe
interdisciplinar. Dela participa o arquiteto-desenhador e sua equipe, que nem sempre são o mesmo
ou a mesma em todo percurso do desenvolvimento de um projeto. O arquiteto-desenhador
trabalha para buscar resultados satisfatórios quanto aos tipos e a forma da cidade, seu perfil é de
clínico geral e inventor de espaços novos ou transformados. Sua atividade liga-se a história do
ambiente físico e a morfologia urbana na fase de análise de tipos que alimentam o programa de
necessidades e as proposições conceituais; interage com a interdisciplinaridade, sendo o
responsável pelas diretrizes físicas do projeto de Arquitetura da Cidade até sua implantação. O que
ele faz, em resumo compreende a complementação do programa de necessidades inicial em termos
dimensionais, a adequação do programa ao sítio e aos propósitos dos empreendedores.
Mesclam-se no trabalho do arquiteto-desenhador comprometimentos externos à sua
especificidade: o contexto ‘inter’ e ‘transdisciplinar’ inerentes ao desenvolvimento de um projeto.
No entanto sua responsabilidade primeira, como urban designer, é dita com propriedade por Ray
Gindroz, principal do escritório americano Urban Design Associates, UDA: “criar ruas bonitas e
agradáveis, parques e praças nos quais o caráter dos edifícios individuais fique em harmonia com
os outros edifícios, com o tratamento à nível do chão e com a escala do espaço por inteiro”, sem
excluir a participação do urban designer nos procedimentos para implementação do projeto
(GINDROZ, 2.003, p. 7).
Do contexto diversificado do qual deve resultar o projeto urbano nascem diretrizes urbanísticas a
serem implantadas, umas de médio prazo e outras para construção imediata. Estas com a finalidade
de cobrir necessidades ou para incrementar um setor pequeno da cidade, para se tornar embrião
CORREDORES E SUBÁREAS - 57
de outras intervenções como “acupuntura urbana” nos moldes do plano para a cidade de Curitiba.
São estratégias de planejamento onde o espaço é tratado como entidade física, onde interessa a
geometria de suas formas, sua adequada inserção urbana e a viabilidade financeira (LERNER, 2003).
O estudo da forma da cidade através dos corredores e subáreas além do viés acadêmico serve para
a fundamentação das decisões preliminares do que fazer e para a configuração dos espaços nas
etapas subsequentes de um projeto urbano. É ferramenta indispensável para o arquiteto-
desenhador e a equipe de projeto urbano, pois auxilia na fundamentação das propostas para serem
submetidas à sociedade, em particular, aos empreendedores privados e aos agentes públicos.
58
CORREDORES E SUBÁREAS - 59
CAPÍTULO 3
Setores e subsetores da cidade
Preliminares
Na qualificação de uma via, além das características funcionais relativas à engenharia de tráfego,
indispensáveis para facilitar o movimento dos veículos e segurança, há outro elemento móvel
importante que são as pessoas. Protagonistas indispensáveis para o projeto de uma via, primeiro
informando a análise, depois as proposições. Para o projeto de uma via, saindo um pouco da análise
da forma física, importam cinco atributos de qualidade dos espaços: imageabilidade, invólucro,
transparência, complexibilidade e escala humana, segundo a conclusão da equipe de Reid Ewing,
relativa à investigação quantitativa junto às pessoas e realizada através de pesquisa de campo na
América do Norte (EWING, 2013). A via em si pode ser analisada quanto a seus aspectos de
eficiência técnica e funcional, o que se faz correntemente. Quando se considera o invólucro, entra
o elemento tridimensional da qualidade dos espaços; vai se estudar as características do corredor
e da boa caminhabilidade das pessoas, que engloba todos os aspectos da análise, além da
morfológica que é o objeto presente de nosso estudo.
Como exemplo de aplicação dos procedimentos de corredores e subáreas, CS, se escolheu o setor
7 e nele foram escolhidos três subsetores para estudo. A preferência por este setor com área de
85,41ha foi decidida pela peculiaridade de seu tecido urbano estar assente no centro do distrito,
desde uma linha de espigão a nordeste e descer na direção sudoeste até encontrar a ferrovia,
passando por situações diferenciadas do tecido urbano. A declividade que varia de 1 a 7% - em
média 4% - facilitou na faixa do espigão, o traçado original das quadras com o comprimento de 100
m, e neste trecho se encontra a via que atravessa A2. Neste local era prevista a predominância de
imóveis residenciais de padrão alto e médio-alto; descendo a sudoeste uma faixa intermediária de
residências de padrão médio, comércio, serviços, instituições públicas e privadas, mescladas com
ocupação industrial de pequeno porte até chegar na área de várzea – terrenos planos- onde as
ocupações de tipo industrial de médio e grande porte, se somam a pequenas indústrias, moradias
operárias e serviços, nos terrenos mais próximos à ferrovia, figura 3-1.
A área relativa aos setores 2, 3, 4, 7 e 8 define o parque industrial beneficiado por ocupar terras
planas nos dois lados da ferrovia, a noroeste no setor 7 e a sudoeste nos setores 3 e 4. A faixa de
domínio da ferrovia (tracejado) acompanha o eixo de um rio canalizado que é ladeado por vias que
atravessam a cidade e assentes nas cotas mais baixas como mostra a figura 3-1.
No setor 7, pelo conhecimento dos fluxos utilizando sete vias que atravessam (traço grosso) e três
que distribuem (traço estreito) foi possível definir sete subsetores (do 7a até o 7g). Os três
subsetores objeto do estudo são os identificados por 7a, 7b, 7e, conforme a figura 3-2.
CORREDORES E SUBÁREAS - 61
Para os leitores que conhecem a cidade foram nomeados os logradouros. Quem não a conhece
pode prosseguir na leitura tranquilamente pensando sobre as vias que atravessam e que
distribuem, pois, a abstração contribuirá para classificar os tipos com maior liberdade. Em
quaisquer dos casos é indispensável conhecer o sítio através de visitas a pé.
Os indicadores físicos fortes que influem no traçado e em consequência na escolha que se faz entre
as vias que atravessam ou distribuem, são a largura, o comprimento e observações sobre a atração
de comércio e serviços no térreo e a ocorrência de unidades residenciais e escritórios em cima.
Atributos que servem de suporte à classificação utilizada neste estudo para selecionar as vias que
atravessam e as que distribuem.
Para o setor 7 apresenta-se a relação dos tipos das vias que atravessam e distribuem, com a sua
largura, comprimento e a área que elas ocupam. No desenvolvimento da investigação a área
ocupada pelas vias deverá ser cotejada com a área comprometida com os corredores e a superfície
remanescente das subáreas, figura 3-3.
O elemento urbano via (V), já foi objeto de considerações e continuará, pois é o elemento
articulador dos demais. Agora, ênfase maior será dada para análise dos três outros elementos da
arquitetura da cidade, a quadra, o lote e o edifício (QLE), à luz de suas relações com os componentes
corredor (C) e subárea (S).
CORREDORES E SUBÁREAS - 63
Os subsetores 7a, 7b e 7c
As transformações dos bairros industriais no entorno do centro da cidade dando lugar a usos e
tipos de ocupação que se transformam em função da vocação da cidade para ser um centro
internacional de comércio e serviços, torna visível a presença de condomínios no lugar das fábricas,
como ilhas muradas onde os jardins estão sobre as lajes que cobrem as garages. Também sofrendo
transformações segue o tecido regular da cidade, em um contexto em que a quantidade de áreas
verdes públicas é pequena, condição explicável para os bairros industriais de concepção antiga
onde o verde não era um requisito ambiental e muito menos era exigido oficialmente. Apresenta-
se a seguir uma planta geral onde se destacam os subsetores 7a, 7b e 7c sob análise. O setor 7 tem
a superfície de 85,41 ha, os três subsetores somam 37,03 ha o que significa ter a área em estudo
43% do setor 7. Situa-se este procedimento no conceito geral de estudar a cidade por partes: a
pequenina demonstrada pelo subsetor 7a, um trecho caracterizado por ocupação singular como o
66
subsetor 7b e uma parte do tecido que se encontra em acelerado processo de transformação como
o subsetor 7e, destacados na figura 3-5.
As construções desde as cotas altas do espigão até a várzea, tem uma diferenciação visível do modo
como os lotes são ocupados e dos tipos das edificações. Desde as quadras traçadas originalmente
para residências de classe média-alta no espigão (lotes de 600 a 1.500 m²) até a área de várzea
onde se instalaram as plantas das indústrias de grande porte é nítida a gradação dos espaços
ocupados por moradia, comércio e serviços até a industrial. Padrão este que vem sendo alterado
pela saída das indústrias grandes e médias para dar lugar a novos usos, que acarretam
transformações significativas nos espaços existentes e fazem nascer novos tipos de edificação.
O subsetor como fração a ser estudada se assemelha ao conceito de área-estudo conforme foi
definido por Aldo Rossi:
. Aéreas do Google mostrando o espaço do corredor relativo a cada subsetor, com indicação gráfica
da posição das fotos com o observador situado o mais próximo do eixo da via;
. Vista tipo voo de pássaro de cada subsetor, para mostrar sua inserção urbana.
. As fotografias do observador a nível do solo, além das outras ditas acima pelos eixos dos
corredores que atravessam e os que distribuem, devem mostrar os tipos básicos da relação edifício
lote para cada subsetor (seis tipos em relação aos recuos);
. Os dados quantitativos quando necessário devem aparecer individualmente ao longo do texto, ou
quando constituírem um grupo de informações serem formatados como tabelas.
A seguir serão tratados os corredores provenientes da subdivisão do território do setor 7 em
subsetores. Destaca-se o fato de um corredor ser composto por duas faixas contínuas assentes em
setores vizinhos. Sua separação física é feita pelo eixo da via associada ao corredor, que por
definição o delimita. Esta composição híbrida faz do corredor ser uma entidade autônoma, por
explicação anterior, definido pela soma da largura da via, de outros sistemas lineares paralelos
quando existirem, mais as faixas opostas de lotes lindeiros. Interceptando-se, os corredores deixam
‘miolos’, que são as subáreas, podendo este conjunto ser entendido na cidade como um sistema
celular. Para o estudo de um setor isoladamente deve ser respeitada a linha de eixo das vias e se
considerar as faixas dos corredores dentro do setor somada a subárea por eles determinada.
Voltando aos três subsetores em estudo apresenta-se a superfície de cada uma das subáreas, figura
3-6.
O subsetor 7a, com área de 6,09 ha, é uma parte do setor 7. Seu perímetro está representado em
planta na figura 4 por três vias que atravessam A1, A2 e A3 e uma que distribui, D1. A via A1 corta
o distrito no sentido Leste-Oeste sendo um antigo percurso desde a área das grandes indústrias
CORREDORES E SUBÁREAS - 69
para localidades centrais da cidade; a via A2 seguindo o espigão tem o caráter de servir as
localizações a Nordeste e Sudoeste do distrito, marcada na paisagem por ocupar a faixa de terrenos
com cotas elevadas; a via A3, marca os níveis intermediários do setor 7 e no trecho correspondente
ao subsetor 7a ainda não está sendo verticalizada; a via D1 de ligação entre A2 e A3 tem o aspecto
de via distribuidora dos fluxos para as vias locais e apresenta uso misto por transformação de casas
térreas e sobrados existentes, figura 3-7. Em 7A, via A1, Rua da Mooca; em 7B, via A2, Avenida Paes
de Barros; em 7C, via D1, Rua Leocádia Cintra; em 7D, via A3, Rua Canuto Saraiva / Orville Derby.
Para efeito de estudo ao se destacar um subsetor do setor, quando o seu limite for marcado por
uma via de distribuição esta assumirá o papel de via que atravessa, procedimento válido para o
subsetor específico. O subsetor 7a para estudo em separado do setor 7 passa a ter esta
interpretação, figura 3-8. Em 8A, é possível observar que a via D1 passa a ter o padrão de uma via
que atravessa e a via interna deveria ser classificada como via que distribui, por unir duas vias que
atravessam e tem apenas o comprimento de uma quadra. No entanto, ela adquiriu um forte caráter
local, pois não é atrativa para o tráfego de passagem, atende vizinhança sobremaneira residencial
e assim se contextualiza como uma via local. Em 8B, como vislumbre de um projeto a via interna
nomeada como D1a, seja como distribuidora ou local sugere tratar os seus espaços de acesso como
portais de chegada protegendo uma área. Isto pode ser marcado como diretriz para o desenho da
70
via ter caráter único identificado pelos acessos (via e marcos de referência) a serem tratados como
arquitetura da cidade, tudo que um bom projeto de arquitetura poderá explorar, figura 3-8.
As vias que atravessam A1, A2 e A3 de longo percurso fazem ligações entre bairros e possuem um
eficiente sistema de linhas de ônibus de longa distância. Elas definem corredores que estão em
processo de transformação do uso do solo com predominância para comércio, serviços e de
instituições privadas. Os corredores nesta situação são ponteados por edificações com uso para
escritórios e habitações nos pavimentos superiores, além de espaços institucionais e industriais. Na
análise urbana é interessante considerar o balanço entre a área ocupada por corredores e aquela
das subáreas, figura 3-9.
Em São Paulo as subáreas apresentam uso misto, de menor intensidade comparado aos
corredores, presente com a predominância residencial, garante a afirmativa de que o uso misto se
manifesta em toda a cidade. Em 9A, encontra-se o diagrama dos corredores que atravessam o
subsetor 7. Em 9B, como exemplo de diagrama, aparece apenas a porção interna dos corredores
afeta ao subsetor 7a, para acentuar por observação empírica a diferença entre a área ocupada pela
subárea e a totalidade do subsetor.
CORREDORES E SUBÁREAS - 71
Na figura 3-9, o tipo de diagrama usado para a análise da forma urbana chama atenção para o
contraste entre a área ocupada pelos corredores com relação à superfície da subárea.
Procedimento este recomendado para ser utilizado nos estudos da forma urbana para expressar
com força a diferença entre os componentes CS do tecido da cidade. Vale lembrar que o corredor
é um elemento urbano que abrange os dois lados em relação ao eixo da via entre setores contíguos
e que para efeito de estimar dados quantitativos separados por setor, se utiliza as porções internas
ocupadas pelo corredor.
A dimensão pequena do subsetor 7a serviu de apoio para mostrar a relatividade da classificação
que se faz em vias que atravessam, distribuem e locais. Reporte-se a figura 6, onde pela análise do
diagrama 5B, a via D1A poderia ser classificada como via local ou de distribuição. Por opção a
preferência foi considerar esta via como local, devido às características como largura e
comprimento, edificações e arborização, além do fato de ela ter o comprimento de apenas uma
quadra. Os prédios altos nela existentes abrigam condomínios residenciais em lotes grandes e de
pouca profundidade obtidos a partir da agregação de lotes de pouca largura acompanhando o
alinhamento da rua. Condição que sugere o potencial do logradouro para receber diretrizes que
reforcem ainda mais seu caráter de recinto residencial, figura 3-10.
72
Os corredores resultantes de vias que atravessam e das que distribuem são ambos apresentados
em diagramas conjugados, procedimento que será utilizado para os subsetores 7b e 7e. No caso do
subsetor 7a se a via interna - D1a – fosse considerada de distribuição, estaria se prevendo o uso do
solo por atividades mistas em todo o subsetor e não de predominância residencial no miolo como
foi tratado.
A área deste subsetor é 16,27 ha. Ele fica situado entre a via que atravessa de cota mais alta A2, a
via D2, que desce no sentido da ferrovia, a via A3, em cota intermediária e a via D1 que separa o
subsetor 7b de seu vizinho o subsetor 7a. As imagens a seguir retratam o padrão construtivo destas
vias, o tipo da ocupação dos espaços edificados e a arborização nela existente, figura 3-11.
CORREDORES E SUBÁREAS - 73
Em 11A, aparece a via D1 (rua Leocádia Cintra) comentada na descrição do subsetor 7a, na qual se
acrescenta ter um bom potencial para requalificação, principalmente quanto à largura e qualidade
das calçadas. Em 11B, a via A2 (avenida Paes de Barros) em tempo de verticalização, Em 11C, a via
D2 (rua Curupacê), uma típica via de distribuição plena de pontos de uso misto e transformação de
casas para edifícios de meia altura, residenciais ou mistos. Em 11D, a via A3 (rua Canuto Saraiva e
continuidade para a rua Orville Derby), figura 3-11.
Considerado para estudo em separado, no âmbito de 7b as vias D1 e D2 atuam como vias que o
atravessam e no espaço interno do setor 7 funcionam como distribuidoras, vias D1a e D2a,
Para a elaboração dos diagramas dos corredores utiliza-se procedimento semelhante ao do
subsetor 7a, figura 3-12. Em 12A, a planta do subsetor como parte do setor 7. Em 12B, o setor como
unidade autônoma para estudo, onde D1 e D2 fazem as vezes de vias que atravessam.
As vias que atravessam o subsetor 7b no sentido noroeste-sudeste são parte do sistema de ligação
do setor 7 com a cidade e tem importância fundamental para a distribuição dos transportes
públicos do centro da cidade para a zona sul. As vias transversais de distribuição, nordeste-sudeste,
74
fecham o subsetor e servem ao tráfego de acesso local dos transportes públicos. Deve-se observar
a dimensão das subáreas com relação aos corredores em ambos os casos e ponderar que em D1 e
D2 o uso do solo comercial e de serviços é para suprir as necessidades mais próximas dos
moradores, figura 3-13.
Este setor tem uma forte vocação residencial, foi projetado em lotes pequenos, para receber casas
térreas e sobrados, verificando-se as construções em fileiras ou casas geminadas aos pares. Na
formação das quadras se utilizaram formas que reportam as cidades jardins inglesas onde estão
presentes organizações em cul-de-sac e loop. Este traçado com vias estreitas serviu para garantir o
caráter deste setor como uma vizinhança residencial.
CORREDORES E SUBÁREAS - 75
A área deste setor é de 14,67 ha. Fica compreendido entre as vias A1, A3 D3 e A5. Tem a
peculiaridade de ser cortado pela via que atravessa A4, que compõe um binário com a via A5, que
é uma das vias que delimita o subsetor. A via A1- Rua da Mooca – que levou o nome do subdistrito
resultou de traçado antigo e permanece como um extenso caminho de ligação bairro - centro, sem
ter havido alterações substanciais na sua largura de quinze metros. As vias A3, A4 e A5, traçadas
para a distribuição do movimento de caminhões tem dezoito metros de largura e estão assentes na
área das grandes indústrias. Na parte interna do subsetor 7e, a via D3 foi responsável pela
distribuição do tráfego para indústrias que hoje já estão na maioria transferidas para outros locais,
figura 3-14.
As vias estão indicadas na figura 3-15. Em 15A, vias que delimitam o subsetor e definem o seu
perímetro. Em 15B, a subdivisão criada pela via A4 divide o espaço em dois subsetores e observa-
se que a via D3 distribui no trecho entre as vias que atravessam. Este caso é semelhante ao que
acontece no subsetor 7A, reforçado pela observação de que os terrenos remanescentes de
indústria tendem a ser ocupados por condomínios residenciais.
Na figura 3-16, aparecem os corredores, em 16A aqueles relacionados ao perímetro da área e em
16B, onde se considera o binário. Em uma situação como esta, onde os lotes são grandes, se pode
verificar a desproporção das áreas entre as subáreas e os corredores e isto demonstra o grande
potencial para uso misto no subsetor 7A, figura 3-16.
Para se identificar um setor pequeno (área-estudo) seja para o planejamento na esfera dos órgãos
oficiais, seja como resposta a demanda de uma comunidade local, ou pelo interesse de implantar
um empreendimento privado, quanto menor for a parte estudada maior poderá ser a acuidade no
estudo dos tipos de construção relativos aos elementos urbanos; matéria central de interesse neste
manuscrito. No espaço menor, maior atenção poderá ser dispensada às reivindicações por moradia,
a qualidade de vida, gestão e aos requisitos essenciais ao desenvolvimento de um projeto urbano
baseado em um programa que considere as características físicas do local, a disponibilidade
financeira e a vontade de empreender. Requisitos cuja resposta depende de como interpretar com
realidade as demandas e estar atento à capacidade de inventar arranjos de espaços adequados às
pessoas, na linha de uma linguagem de padrões como foi idealizada pelo matemático-professor C.
Alexander [5].
Tem-se o cuidado de não extrapolar o estudo da forma física - morfologia e análise urbana - para
outras áreas do conhecimento, importantes e com certeza urgentes do campo do planejamento
urbano, por isso se retomam os procedimentos de análise do espaço construído.
A atenção é voltada para a implantação das edificações em relação ao lote e a quadra com a
finalidade de identificar situações-tipo. Interessam em particular os casos da existência ou não de
recuos entre o alinhamento da edificação privada ou institucional, em relação a calçada
representativa do espaço público de acesso irrestrito. Interessa o afastamento das edificações em
relação às divisas laterais do lote como fator que individualiza os edifícios e passa caracterizar o
tipo de volume construído da quadra.
Os fundos de lotes representados pelo quintal das casas ou o recuo de fundo das construções em
altura, na sequência de lotes que formam a quadra são relegados a um tratamento à parte de
interesse menor. No tecido tradicional as elevações de frente, até mesmo quando há exigência de
recuos laterais, são pensadas para serem vistas como uma extensa fachada da quadra, em ordem
a caracterizar a forma vista desde o espaço público. Desta maneira as fachadas podem ser
entendidas como o invólucro (enclosure) do logradouro. Este é um dos itens importantes da
composição urbanística tradicional, matéria constante nos dizeres de diversos autores. Da forma
urbana tradicional decorre a interação do espaço edificado e a rua, a entrada principal do imóvel,
a configuração da frente voltada para o logradouro no pavimento térreo como um elemento
regulador daquilo que interessa ou não mostrar no primeiro plano da edificação, seja privada,
condominial ou institucional.
78
Na integração do térreo de uma edificação com o espaço público são seis as possibilidades de
relacionamento, figura 3-17. Em 17A, 17B e 17C os diagramas mostram a projeção horizontal de
edificações construídas no alinhamento da via, comuns no urbanismo tradicional e cujo regramento
perdurou até os anos 1970 na cidade de São Paulo. Possibilidade existente sem impedir aqueles
que optam por recuo maior, como o caso de prédios institucionais ou residenciais em terrenos
grandes. Em 17D, 17E e 17F aparecem diagramas de lotes onde as construções adotam recuo em
relação à calçada, resultantes das diretrizes urbanísticas para o município. Em São Paulo o recuo
mínimo em geral é de cinco metros e existem diretrizes que se aplicam aos lotes de esquina, para
o caso de lotes estreitos e o caso de edificações em fileira. A legislação de 1972 se completa
abrangendo recuos laterais e de fundos e daí se identificam os seguintes mostrados no diagrama
da figura 3-17
Os tecidos urbanos se modificam ao longo dos anos dependendo dos espaços livres ainda possíveis
de serem ocupados, se transformam em construções e se ampliam com partes anexas ou
conjugadas, para receberem as atividades novas requeridas pela sociedade. Este processo de
crescimento acontece de modo simultâneo e o tópico seguinte, como uma conclusão parcial desta
pesquisa, ilustra o processo a partir das transformações do tecido urbano que vem ocorrendo nos
três subsetores em estudo.
abrigar atividades institucionais, mas, sem expectativa de melhora qualitativa do sistema de áreas
verdes.
Decorrente das transformações do tecido tradicional – em toda a cidade de São Paulo - ressalta-se
a ocupação das esquinas por prédios mistos de térreo comercial ou para serviços, sendo comum
em uma quadra, seja residencial ou mista se destacarem os prédios deste tipo, figura 3-18. Em 18A,
edifício comercial térreo construído com recuo para uma das vias que hoje serve como área de
estar, protegido por cobertura leve, versão simplificada de edifício de esquina. Em 18B, comércio
no térreo, residência ou escritórios em cima, um tipo que se repete por toda a cidade. Em 18C, uma
versão contemporânea de imóvel com três pavimentos, cujo proprietário é um pequeno investidor,
ele batizou a lanchonete do térreo por ‘Deu Certo’, fazendo uma clara alusão ao sucesso de seu
empreendimento. Em 18D, esquina com cinco pavimentos, elevadores, o escritório de uma única
empresa em contraste com as edificações em fileira com dois pavimentos do restante da quadra.
Os tipos descritos em 16A e 16C são exemplos escolhidos de bairros de origem industrial fora da
Mooca e atestam a universalidade deste tipo de ocupação em lotes de esquina.
A ocupação das esquinas evolui para o processo de verticalização que se estende por toda a quadra,
testemunho da flexibilidade do parcelamento por lotes pequenos e da ação de empreendedores
de porte diferenciado. O uso misto comparece em toda a cidade de São Paulo. Além de sua
presença efetiva, nos corredores a mistura de usos aparece com frequência nas subáreas. Adapta-
se nas casas térreas e sobrados, em galpões e informa novos programas para projeto de edificações
a serem construídas para tal finalidade.
Observa-se que em alguns distritos da cidade o zoneamento prescreve o uso estritamente
residencial, como é o caso dos bairros-jardim, mas, a realidade mostra a inevitabilidade de vias que
atravessam esses bairros se transformarem em corredores de uso misto, particularmente para o
segmento de serviços. Há pressão dos responsáveis por lojas e escritórios, ocupando
irregularmente residências para forçar o órgão municipal de planejamento a propor modificações
na lei de uso e ocupação do solo. Dando prosseguimento a esta maneira de analisar o tecido urbano
procede-se na pesquisa para o trato mais pormenorizado dos tipos de edificações e seus padrões
de agrupamento, tendo como referência os seis tipos de relação de lote-edificação e sua influência
na forma da cidade.
CORREDORES E SUBÁREAS - 81
CAPÍTULO 4
Quadras, lotes, edifícios
O procedimento para analisar a forma de tecidos urbanos através dos corredores e subáreas vem
sendo demonstrado por sua aplicação em um setor do distrito da Mooca. Nos capítulos 2 e 3 foram
estudados os espaços livres e os construídos, se conceituou a via como definidora de setores e
subsetores, o corredor como resultado da soma de lotes das faixas lindeiras à via que atravessa ou
distribui e, a subárea como o miolo cujo perímetro fica definido pela linha de fundo dos lotes
situados em corredores que se interceptam. Dentre as vias, que atravessam, que distribuem e locais
os dois primeiros tipos têm sido objeto de atenção desde o capítulo 2, pois, elas constituem as
ligações principais e definem os perímetros dos setores e subsetores.
Para objeto específico de investigação foi escolhido o setor 7 da Mooca e três de seus sete
subsetores; conforme discutido no capítulo 3. No setor 7 foram nomeados as vias e os subsetores.
Para avançar no estudo das quadras, lotes e edifícios, QLE, a base da figura 3-4 será novamente
utilizada para facilitar a visualização do conjunto e destacar os três subsetores tomados como
objeto de estudo na figura 4-1.
Neste capítulo será finalizado o estudo dos elementos VQLE: vias, quadras, lotes e edifícios,
incluindo o espaço das subáreas e os percursos locais. Deve-se distinguir as situações de corredor
82
e de subárea, com destaque para o fato de que o renque de lotes que integra o corredor se assenta
em dois setores ou subsetores opostos em relação a via. Em consequência, para o cômputo de
áreas e demais estudos relativos ao espaço de um setor será necessário desmembrar as duas faixas
de corredores, ficando o espaço relativo ao sistema viário à parte, entendido como um espaço
público que atende a setores opostos e irá atender outros setores mais adiante. Em consequência
a tabulação de áreas relativas ao sistema de vias que atravessam e distribuem poderá ser elaborada
quando do levantamento do conjunto de setores por inteiro.
Neste quarto capítulo, serão tratados conceitos e os tipos de QLE, matéria de referência seja para
a pesquisa acadêmica como para a formulação de diretrizes de projeto urbano. O resultado obtido
deixa explícito que o maior conhecimento do lugar incentiva o avanço de ideias e conceitos relativos
à substituição dos elementos urbanos, impostos pelas transformações requeridas pelas pessoas no
andar do tempo. E, como a presente investigação de base física sobre os elementos urbanos se
desenvolve sob a responsabilidade de um arquiteto-desenhador, não se poderia deixar escapar a
oportunidade de ir além da análise acadêmica, e indicar possíveis caminhos de partida para o
projeto, como um porvir dos espaços dos três subsetores. Arquiteto-desenhador, se entende como
o profissional que no desenvolvimento de um projeto tem a responsabilidade de dar a forma física
aos elementos urbanos programados por um grupo de trabalho interdisciplinar.
As quadras
Com frequência nas cidades de tecido tradicional, em áreas de pouca declividade, as quadras são
retangulares ou quadradas. Em São Paulo, as quadras localizadas nos terrenos com inclinação
acentuada, tendem a ser desenhadas em forma de setores de círculo, com vias radiais buscando
centros distantes e isto independe do padrão social a que se destinam. Lembrando as formulações
do biólogo-matemático inglês D'Arcy Wentworth Thompson (1917), pesquisador sobre a
morfologia dos seres vivos e artefatos humanos, esta forma se assemelha a um retângulo
deformado por uma força de origem no centro de um segmento circular. Disto resulta a forma de
trapézio arqueado que possibilita regularidade na subdivisão da quadra e o parcelamento em lotes
pequenos: em aclive a partir da via de cotas mais baixas e em declive para os lotes com acesso pela
via mais alta (THOMPSON, 1917).
A literatura sobre o desenho de quadras, em maioria, tem atenção voltada para aquelas de
ocupação residencial. Certamente porque o tipo de organização das áreas de moradia e a superfície
necessária são elementos decisivos no projeto do espaço urbano e isto não foi diferente em São
Paulo. Elas influem na escolha da implantação dos demais espaços da cidade, particularmente
quando comparado ao posicionamento das indústrias. Nesta cidade é fácil notar no entorno do
CORREDORES E SUBÁREAS - 83
centro tradicional como os ricos foram para os lugares mais altos e a classe laboriosa pontuou as
zonas industriais de terrenos planos das várzeas dos rios, misturadas com as glebas adequadas para
a implantação das indústrias de grande porte. Localização compreensível para o tempo em que os
empreendedores não se preocupavam com a qualidade do ambiente urbano. Na apresentação do
Setor 7, capítulo 2, este assunto já foi tratado, agora faz-se lembrar que junto ou muito próximo
aos setores industriais estão trechos loteados para as residências de trabalhadores. Como hoje em
dia os bairros industriais estão sendo reutilizados para abrigar o segmento de classes de renda
média e alta, e outros serviços da cidade global, acompanhados de atividades para comércio e
serviços, elas se misturam com as locações existentes das indústrias de porte médio e de oficinas.
Além dos espaços residenciais, a ocupação atual requer localizações para escritórios, lojas, galpões
para manufaturados; exigindo áreas livres e verdes que no tempo das grandes indústrias não se
considerava necessário.
A acelerada transformação do uso e ocupação dos espaços em São Paulo, acontece sobre um tecido
do tipo tradicional, onde é difícil alterar o traçado, até mesmo para a implantação das obras
indispensáveis à trama de infraestrutura. Hoje em dia, junto a rede de transportes públicos o plano
diretor municipal estimula a previsão para áreas de empreendimentos de uso misto de grande
porte. São Paulo seguindo o modelo de outras megacidades desponta para a construção de
conjuntos híbridos, integrados aos modais de transportes, com serviços, moradia e seus
complementos. A diversidade destas construções é gerada através de programas para prover
abrigo para as pessoas segundo novas circunstâncias. Processo que acaba por enriquecer e dar
complexidade à forma urbana, ao reparcelamento das quadras existentes, que são flexíveis o
suficiente para suportar transformações significativas em seu interior. Em algumas situações elas
ficam vizinhas e passam a dar continuidade a construções programadas para ocupar espaços
compartilhados com o das estações de transporte, trem, metrô e ônibus, associados a habitação,
comércio, serviços e seus espaços complementares, passam a formar os ditos conjuntos
condominiais híbridos (ARPA et al, 2014).
O conhecimento detalhado do sistema de quadras, não se desvincula dos lotes e dos edifícios, QLE,
pois envolve interesses privados exigindo se analisar setor por setor da cidade e os subsetores em
separado. Para isto o caminho pode ser:
. Usar como ponto de partida os corredores, definidos pela soma da faixa lindeira de lotes mais a
largura da via e da faixa de superfície exigida para a infraestrutura de superfície, quando houver.
84
. Mostrar os corredores significa destacar o contraste do espaço ocupado por eles com relação à
subárea. Como exemplo deste estudo servem os subsetores 7a, 7b e 7e, cujo diagrama de
corredores e subáreas pode ser observado na figura 4-2.
. Tomar em consideração o perímetro do subsetor definido pelo alinhamento das quadras que
acompanham as vias limítrofes.
Pode-se estudar o subsetor como uma entidade independente e aí se considera apenas a faixa de
corredor dentro do subsetor a que ele pertence. A faixa de corredor formada pelo renque de lotes,
edifícios e espaços não construídos desta faixa é cortada quadra a quadra pelas vias que adentram
o subsetor. Deve-se considerar que a faixa de lotes voltada para a via interna constitui um espaço
intermediário entre a via do perímetro e a subárea, figura 4-3.
. Quando ocorre um binário como acontece no Subsetor 7e, as faixas de corredores de cada via se
emendam e passam a representar mais espaços de corredor, reduzindo a dimensão da subárea.
CORREDORES E SUBÁREAS - 85
Observamos que as vias (que atravessam, de distribuição e locais) e seus complementos (canal,
linha de energia, ...) devem ser considerados em separado no cálculo de áreas. Isto porque interessa
saber qual é o seu percentual de ocupação com relação ao total da cidade, do distrito, do setor e
subsetor, conforme o grau de abrangência da análise.
O Subsetor 7a tem uma área de 5,7 ha e pode ser classificado no rol de pequena dimensão, para o
caso do desenvolvimento de um projeto urbano É cortado por uma única via, que através de seus
dois acessos, edifícios e arborização configuram um saudável ambiente urbano entre as duas
quadras de trezentos e cinco metros de comprimento que compõem o subsetor. As ponderações
relativas à quadra agora serão ampliadas para se explorar as peculiaridades do sistema VLQE. Na
figura 3-7 do capítulo 3, a via que atravessa o setor 7a aparece com a designação A2a como deveria
ser do ponto de vista estritamente técnico. No entanto, por razões da vizinhança se classificou esta
via como local. Sua designação oficial é Rua Olímpio Portugal, tem comprimento de 305 m, largura
86
de 16 m (calçadas de 3 m e leito carroçável de 10 m), e ocupa no subsetor a área de 4.880 m². Isto
corresponde a 8% da área total do subsetor, figura 4-4.
do espaço local. A via A2a, Olímpio Portugal pode ser um exemplo, talvez extremo, da situação em
que uma via que atravessa passa a ser local.
A segunda lição se refere a como enfatizar o viés da Olímpio Portugal como via local, o que induz
uma postura projetual. Ou seja, marcar os acessos nas duas extremidades numa extensão
aproximada de 20 m, reduzindo nestes trechos a caixa da via para 6 m, portanto, com as calçadas
em cada trecho de acesso passando para 5 m. Resultam áreas de calçadas de cinco por vinte metros
boas para serem tratadas, mais as faixas de rolamento de seis metros com uma pavimentação
diferenciada, vegetação, mobiliário urbano e sinalização.
O subsetor tem área de 10,70 ha, representando boa dimensão para um projeto urbano. O seu
traçado foi feito para abrigar um programa de lotes residenciais. Ele possui vias de distribuição e
locais compatíveis com este programa que resultam da aplicação de tipos de arranjos em loop e em
cul-de-sac, usuais nos projetos das cidades jardins europeias e norte-americanas. Este subsetor tem
a particularidade de ter sido projetado pelo engenheiro civil - urbanista Jorge de Macedo Vieira na
década de 1940, autor dos planos para a cidade Maringá e de Águas de São Pedro e que se pautava
na concepção das cidades jardim (MENEGUETTI, 2009).
Esta forma de arranjo do tecido urbano fica visível na vista aérea do subsetor 7b, figura 4-6.
Assentes em lotes estreitos e de pouca profundidade as edificações residenciais variam entre os
tipos casa térrea ou casa assobradada construídas na divisa frontal, algumas vezes apresentando
recuos de frente e parte delas também com recuo lateral. Identificou-se por visitas ao local que
cerca de setenta por cento das edificações não apresenta recuos frontais, nem laterais, conferindo
a quadra uma fachada longitudinal de muros e frente de casas, onde as cores e texturas variadas
88
das paredes externas ressaltam os limites de cada propriedade, figura 4-7. Em 7A o exemplo de cul-
de-sac, em 7B o loop.
Quanto ao loteamento tipo cidade-jardim projetado por Vieira, se observa que não existem áreas
verdes significativas para uso comum dentro dele, com certeza pelo fato de a área ter sido
programada apenas para oferecer um número previsto de lotes residenciais. Onde há o recuo de
cinco metros, este espaço que seria um jardim de transição da casa com a rua passa a ser um piso
impermeável destinado ao estacionamento do carro da família, figura 4-8.
fora a circulação dos veículos de passagem. Em princípio tal desenho daria uma boa estrutura para
uma gleba de até trinta hectares, como mostra o diagrama onde o setor formado por vias que
atravessam e distribuem define corredores (faixas pontilhadas) e existe um anel formado por uma
via interna a subárea que funciona como de distribuição para as quadras envolvidas e tem ligação
com as vias dos corredores em poucos pontos (realçadas em preto), figura 4-9.
Este Subsetor tem área de 13,80 ha. Delimitado pelas vias A1, Rua da Mooca, A3, Orville Derby, A5,
Borges de Figueiredo e D3, Rua Guaratinguetá, representa uma fração do tecido, razoavelmente
conhecida pela população da cidade, conforme as indicações dos tópicos a seguir.
. A estação ferroviária da Mooca está situada no eixo da Rua Guaratinguetá. A Rua Borges de
Figueiredo é o local de diversos imóveis tombados pelo serviço de patrimônio histórico.
. Por existir uma sequência significativa de quadras onde o tombamento de fileiras de casas
construídas para operários (térreas ou dois pavimentos) foi definido no sentido de manter os
terrenos e sua volumetria de acordo com a situação original.
. Por haver interesse de instituições privadas virem a ocupar prédios antigos pelo sistema de retrofit
e aumento da área construída.
. Por haver o interesse de empreendedores imobiliários em construir condomínios residenciais
nos terrenos liberados pelas plantas industriais.
. Por ser a natureza do lugar rica de elementos que favorecem a ‘imageabilidade’ e sejam capazes
de absorver novas atividades, culturais, de lazer e convivência na escala da vizinhança, da cidade,
nacional e internacional.
. Observar que a rua Borges de Figueiredo, sigla A5, forma um binário com a rua Padre João Antônio
de Oliveira, sigla A4. No entanto, para definir o perímetro externo do subsetor se
utilizou a via A5.
92
. Considerar o plano para a Nova Estação da Mooca, que vai transferi-la para a confluência da
ferrovia com a Rua da Mooca, sigla A1. A atual ficará como ponto de referência histórica e mais um
atrativo para a Rua Borges de Figueiredo, figura 4-11.
O Subsetor 7e, tem ocupação alta formada por prédios de condomínio residencial, em terrenos
grandes como demonstra a figura 11. Isto aponta para uma ocupação de forma gradativa dos lotes
menores com a saída de indústrias. Os galpões de oficinas são resilientes dado a boa localização
para as atividades de serviços ou depósitos e fazem uma boa mistura de uso com as residências
existentes. Na figura 4-11, paralela aos trilhos, aparece a via A5, Rua Borges de Figueiredo que
auxilia a via A4 na distribuição dos fluxos até aos terrenos da faixa lindeira da ferrovia.
Lotes e edifícios
Para os lotes e as edificações é fundamental a análise dos tipos de projeção do pavimento térreo
em relação às divisas de frente e laterais do lote. Quanto a divisa de fundo em geral os proprietários
deixam um recuo: o mínimo exigido, ou maior ou constroem uma edícula cuja área, recuo em
relação ao prédio principal e altura são regulamentados por lei. Para mostrar os tipos de situação
da superfície edificada em projeção horizontal e suas relações com as divisas dos lotes laterais e a
CORREDORES E SUBÁREAS - 93
calçada foi elaborado o diagrama apresentado no capítulo 3, figura 3- 17. Tratou-se naquele
momento da relação do pavimento térreo com a divisa de frente do lote. Agora serão consideradas
as peculiaridades de cada tipo, que dependem do volume construído acima do pavimento térreo e
se faz a descrição dos tipos presentes na citada figura do capítulo 3. São seis casos distintos que
relacionam a planta do térreo à sua proximidade com as divisas de frente e laterais do lote:
Quando não há recuo de frente são três:
- Edificação sem recuo de frente e sem recuos laterais;
- Edificação sem recuo de frente e recuo lateral em uma das divisas do lote;
- Edificação sem recuo de frente e recuo lateral nas duas divisas do lote;
Quando há recuo de frente:
- Edificação com recuo de frente e sem recuos laterais;
- Edificação com recuo de frente e recuo lateral em uma das divisas do lote;
- Edificação com recuo de frente e recuo lateral nas divisas laterais do lote.
Sobre os seis tipos de embasamento, ocupando ou não toda a projeção horizontal, é possível erigir
um volume vertical ou um conjunto de edifícios desde que sejam respeitadas as diretrizes
municipais para o local. O volume vertical poderá ser igual a sua projeção em planta – o prédio
saindo do chão, uma torre como se diz e este é o caso de o embasamento estar contido na projeção
do edifício. O caso mais frequente é o do volume vertical, ficar assente sobre um embasamento de
maior área. Este piso é acessível nos terrenos grandes dos condomínios e poderá ser tratado por
jardins e equipamentos para lazer. Nos lotes menores no espaço que resta sobre o embasamento
é colocado um telhado ou laje tratada por material impermeabilizante e térmico. Em São Paulo
chama-se de sobressolo a laje que cobre o embasamento. Nos condomínios residenciais o
sobressolo é utilizado como um espaço coberto nas projeções dos blocos verticais, espaço onde a
visita se dirige para os elevadores e os salões sociais. Na parte descoberta do sobressolo ficam os
jardins e espaços de convivência para crianças e adultos.
Salienta-se a tendência de os trabalhos de tipologia destinarem maior atenção aos tipos
residenciais ou de edifícios mistos para comércio e serviços no térreo; além de praças e
monumentos. Atribuímos o fato pela razão destes estudos em maioria serem devidos a autores-
professores europeus, onde a base de estudo são áreas consolidadas das cidades de tecido
histórico. A este respeito, no contexto norte-americano indo além da tipologia clássica, vale
lembrar os estudos da arquiteta-professora da Universidade de Utah, Brenda Case Sheer no livro
The evolution of urban form, typology for planners and architects (SCHEER, 2010).
94
Em São Paulo, no distrito da Mooca e em outros de origem industrial situados no entorno do Centro
tradicional, verifica-se que o tipo galpão industrial, a começar pelos pequenos destinados às
oficinas ou depósitos, se multiplicam até as plantas industriais de médio e grande porte. Devido a
saída de boa parte das indústrias observa-se que o tecido urbano, marcado pela diferenciação dos
tamanhos de lotes, apresenta construções para diversos usos: centros comerciais, postos de
serviços e hipermercados, instituições públicas e privadas, estacionamentos, venda de automóveis
e outros; alguns apresentam uma forte articulação com o transporte público e são chamados de
‘híbridos’ Para efeito de classificação todos recaem no diagrama dos seis tipos de projeção
horizontal.
Descreve-se a seguir as características dos tipos correntes das edificações na área estudada e que
se encontram em toda a cidade de São Paulo.
Os tipos de edificações
Na integração do térreo de uma edificação com o espaço público são seis as possibilidades de
relacionamento. Em São Paulo o recuo mínimo em geral é de cinco metros e existem diretrizes que
se aplicam aos lotes de esquina, para o caso de lotes estreitos e o caso de edificações em fileira. A
legislação se completa abrangendo recuos laterais e de fundos.
Estas características relacionam os lotes com os edifícios e resultaram nas seis situações típicas.
Tipo 01 – Edificação sem o recuo frontal e sem os recuos laterais.
A edificação é implantada com a testada do edifício seguindo o alinhamento da calçada, passeio
público, tendo as paredes laterais encostadas nas divisas do lote. Este tipo é chamado na prática,
de edificação em fileira ou prédio geminado. Percebe-se nesse caso ausência de quesitos básicos
quanto a normas de desempenho das edificações, como insolação e ventilação. Quando diversas
casas são construídas por um único empreendedor é comum o emprego da parede de meia, ou
seja, duas casas em sequência possuírem uma única parede, figura 4-12.
CORREDORES E SUBÁREAS - 95
Para os corredores comerciais se ressalta a importância do recuo de cinco metros, exigido pela
legislação, como alternativa para estacionar automóveis e outros veículos de pequeno porte usados
para serviço
Tipo 05 – Edificação com recuo frontal e lateral de um dos lados. São as edificações que pertencem
ao grupo de construções mais novas, onde a presença dos recuos consolida uma tipologia ímpar,
esse tipo possui quantidade mediana de unidades, totalizando apenas trinta e duas. Atendem às
diretrizes da legislação atual, figura 4-15.
Tipo 06 – Edificação implantada com recuo frontal e recuos laterais.
Representando este tipo encontram-se casas de alto padrão no corredor que atravessa o subsetor
7b - Avenida Paes de Barros – e hoje em dia são poucas. Em sua maioria as residências se tornaram
empresas, como a do exemplo, ou, deram lugar a edifícios residenciais ou de serviços, vistos no
segundo plano da foto, figura 4-16.
O edifício alto pode ser projetado assente sobre uma base de maior projeção horizontal e segue a
orientação para recuos estabelecida pelo poder público. Há o caso do edifício onde os pavimentos
em altura têm a mesma dimensão do embasamento. Os prédios de gabarito alto de construção
após 1972 atendem as restrições do zoneamento, que permite o embasamento encostar nas divisas
e os blocos verticalizados respeitarem os demais recuos regulamentados, figura 4-17.
98
pequenos espaços da cidade, que se enriquece pelo sentir onde vivem tantos grupos sociais, apesar
do recorte voltado para o espaço físico. A partir deste conhecimento, até caminhando em paralelo,
se deve prosseguir montando os mapas e a compilação de dados pelos processos digitais, que darão
riqueza de detalhes aos trabalhos de pesquisa e de projeto urbano.
Neste capítulo 4, onde se completa o estudo do quarteto VQLE, é possível se refletir sobre a
flexibilidade que a quadra tradicional oferece quanto às opções para a geração de tipos de lotes e
edifícios, sempre pensando na substituição por novos construtos, para atender as demandas de
ordem social que se sucedem. Há também uma história para ser contada sobre as diretrizes
urbanísticas que influem nos aspectos físicos, que, em tempos passados foi consequência de
preocupações com a salubridade dos imóveis, o volume das construções, para mais tarde se chegar
na questão de como fazer os veículos motorizados circularem e acharem estacionamento. Hoje se
levanta a bandeira dos pedestres em recintos públicos, a ‘cidade para as pessoas’ mesmo em
cidades onde o transporte público ainda não está bem resolvido. Neste processo se destaca o
gradativo aumento da área ocupada pelo sistema de circulação nas cidades, das áreas públicas. Em
muitas cidades do mundo há uma reserva razoável de espaços verdes, incluindo as praças públicas
que se sustentam bem quanto a nova onda no sentido de se valorizar a vida em espaços de uso
coletivo; sem contar com a tradição da facilidade do acesso público a recintos de propriedade
privada.
Na legislação urbana de São Paulo - 2014 - foram introduzidos tópicos para estimular ainda mais a
facilidade de acesso público a locais de controle privado. O que sugere tipos de edificações já
existentes nos locais centrais da cidade, onde a concentração de pessoas é grande estimulando a
ver vitrines voltadas para calçadas, galerias comerciais ligando duas ou mais vias, até o centro
comercial ocupando uma quadra inteira. Com certeza são princípios que mexem com os lotes e a
maneira de construir novos ou substituir os edifícios nas quadras. No processo de transformação
as vias persistem, as faixas de rolamento de veículos motorizados são reduzidas a favor das
bicicletas e dos pedestres e em geral afetam pouco as quadras, sem modificar sua forma.
Ao longo do processo de conhecer a cidade por partes, seus elementos urbanos afloram e às vezes
se delineia uma área com potencial para ser desenvolvida como um special district. Neste caso
logo devem ser reunidas informações contundentes que justifiquem o projeto urbano para serem
apresentadas a sociedade. Vamos mostrar outro exemplo, além dos relacionados com áreas
protegidas que foram apresentados no início deste capítulo. Trata-se do ‘Corredor Cultural da
Mooca- CCM’, nome inventado para este projeto. Originado da observação prospectiva sobre o
CORREDORES E SUBÁREAS - 101
espaço determinado pelo binário composto pelas vias sequenciais Orville Derby- Canuto Saraiva (3)
e a rua João Antônio de Oliveira (A4) até a Rua Borges de Figueiredo (A5). A figura anterior 4-1
permite contextualizar o espaço sugerido para o projeto urbano CCM. Suas qualidades foram
valorizadas no tópico deste capítulo ‘VQLE: aprendendo com o Subsetor 7e’.
Pode-se chegar a um portfólio completo do possível corredor cultural e motivar a sociedade para
participar deste empreendimento. Desde alterar o nome do projeto para algo mais sugestivo do
que o simulado para promover a implantação desta parte da Mooca como um ‘distrito especial’.
Em seguida deve ser criada uma empresa para tratar do desenvolvimento local, promover o projeto
urbano e ir atrás de parceiros novos para sua implementação em um prazo determinado. A
propósito deixamos a indagação: quem detonaria este processo, a ser finalizado entre doze a
quinze anos?
Vamos dar uma ideia de como o espaço específico desta via pode ser desenvolvido, se integrar com
o entorno e se transformar em um lugar de interesse cultural e turístico da cidade de São Paulo,
conformando um distrito especial, como indicado pela linha pontilhada na figura 4-18.
A linha com tracejado forte representa a ferrovia. O diagrama acima é alto explicativo: as vias que
atravessam A3 e A4 ficariam responsáveis pelo tráfego maior de ônibus e demais veículos. A via
Borges de Figueiredo, A5, passaria ser a ‘via que atravessa’ no contexto do CCM, de tráfego local,
alimentada pelas transversais desde a via A4. A ideia central do projeto é a Rua Borges de
Figueiredo, A5, ser o palco dos acontecimentos significativos ligando a diversidade de tipos de uso
e formas de apropriação dos espaços já existentes e outros que poderão ser programadas para este
corredor. Oferecer seu trajeto para transportes leves de âmbito local, se somando aos atributos de
animação do corredor cultural.
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No segmento de cultura e sociabilidade a Borges tem que ir muito além de ser entendida apenas
como um local onde existem prédios históricos, uma universidade privada que se instalou em um
deles, vai ter uma nova estação ferroviária, a atual poderá ser tombada e ser usada para eventos,
tem a Rua Guaratinguetá para ser melhorada como ligação de pedestres até a Igreja São Rafael.
Portanto, tem tudo para ser valorizada como um recinto onde há gente morando, trabalhando e
passeando; paulistanos, brasileiros e turistas estrangeiros, figura 4-19.
A foto acima é um detalhe de um extenso grafite, painel desenhado no muro de acesso a atual
Estação da Mooca. Por este acesso se vislumbrando essa obra de arte pública desde a Rua Borges
de Figueiredo até a Estação serve para inspiração de um porvir desejado para o Corredor Cultural
da Mooca, CCM.
Nos capítulos seguintes vamos sair de São Paulo e dar um passeio pelo urbanismo de outros tempos
e lugares, movidos pela ideia de entender e se convencer de como a quadra ortogonal persiste e se
adapta a diversas formas de construir os espaços: são questões de morfologia e do estudo de
projetos urbanos. Enfatizar as três fases do Urbanismo, o planejamento urbano, a organização de
planos setoriais e o projeto urbano, como urban design, ou seja, ter começo, meio e fim; pois deverá
ter um processo de implementação que faça a construção acontecer por volta de doze anos. Vamos
começar com a questão das quadras, ou a porção de espaço acessível por vias de circulação, ser
subdividida permitindo haver vários proprietários de lotes, ter apenas um dono ou ser inteirinha
uma praça pública.
CORREDORES E SUBÁREAS - 103
CAPÍTULO 5
O traçado em retícula
destinava. Como princípio foram destinados aos ‘cidadãos’ os lotes maiores, os ‘metecos’ ficaram
com os lotes médios e pela discriminação social coube aos ‘escravos’ os lotes menores. Como os
escravos circulavam a pé, coube a eles a mancha menor dos recortes da península onde se assentou
a cidade. O centro administrativo e comercial ficou na parte mais central do conjunto urbano
projetado, figura 5-1 (MOHOLY-NAGY, 1968, p 81-87).
Hipodamo concretizou o que hoje se chama de zoneamento. Por seus princípios de urbanismo e a
racionalidade do desenho demonstrada, os conceitos introduzidos por Hipodamo se aplicam em
diferentes contextos e por isso muitos estudiosos atribuem a
ele ser o primeiro arquiteto-urbanista. Suas ideias sobre a organização física e social de uma cidade
perduraram na Grécia. O tipo de distribuição ordenado pela malha ortogonal se difundiu e três
séculos depois Alexandre, o Grande apoiado por Dinocrates seu arquiteto, planejaram a cidade de
Alexandria tendo por referência o traçado ortogonal, a partir do qual o imperador usando sua
genialidade, pôs em prática algumas inovações. Na capital do império, a distância entre as ruas
deixou de ser uniforme, se introduziu o conceito das vias principais terem maior largura por razões
funcionais, e servirem para simbolizar o percurso para encontrar os lugares principais, como o
porto, a biblioteca (maior do mundo por muito tempo!) e outros. Nos grandes eixos foram dispostas
CORREDORES E SUBÁREAS - 105
colunatas criando longos trechos no tipo de galeria coberta, um espaço de transição para o interior
dos prédios. Na figura 5-2 foram colocadas imagens para ilustrar estes fatos. Em 2A, uma
perspectiva que ilustra como seria a cidade no tempo de Cleópatra (51 AC - 30 AC). Em 2B, a foto
da via que atravessa a cidade costeando o mar, com colunata de grande altura, hoje no roteiro
turístico de Alexandria.
Figura 5.2: O traçado ortogonal e a vista pelo eixo de uma via que atravessa.
Longe de pretender contar em detalhes a história dos tecidos em malha e apesar da sua
importância, tomamos a liberdade de avançar séculos adiante para pontuar outros traçados que se
tornaram icônicos.
Fundada em 1733, Savannah se localiza na margem do Rio Savannah, distante trinta e dois
quilômetros do Oceano Atlântico, onde o rio deságua. Localização estratégica na época – inclusive
por razões de segurança - porque Savannah deveria se tornar um importante porto da costa do
106
Atlântico sul. O mapa datado de 1815 (oitenta e dois anos após a inauguração) mostra como a
cidade foi implantada junto ao rio, em direção aproximada Norte-Sul, figura 5.3.
A cidade de Savannah, última capital do império britânico na América do Norte foi projetada pelo
estadista e reformista inglês James Edward Oglethorpe, intelectual imbuído dos ideais do
Iluminismo, no século XVIII e simpatizante do movimento abolicionista norte-americano (1830). O
traçado para a cidade, situada em um espaço natural de 281,5 quilômetros quadrados, se baseou
na procura do equilíbrio entre as atividades rurais e como viver bem na cidade; sua população atual
é de 145.862 (2018).
O traçado de Savannah foi pensado para haver um módulo, o ward (subdivisão, tendo
representatividade na cidade) com superfície de dois e meio hectares, uma porção de espaço
(‘super-quadra’) que se repete como um padrão de ocupação territorial. O ward é subdividido em
quatro partes para residências (tythings) e cada parte possui uma viela (lane) para acesso de
serviços, separando duas carreiras de lotes. Um ‘tything’, do inglês antigo, ou tithing, corresponde
a uma pequena divisão administrativa, preservada até hoje na Inglaterra e antigamente constituída
por dez homens e suas famílias. Chamamos atenção pelo modo como o desenho urbano resulta do
programa de organização social.
Cada lote tem cerca de doze e meio metros de frente e dezoito de fundo. As alas ou grupos de
residenciais são nomeadas pela localização a Noroeste, Nordeste, Sudoeste e Sudeste (Northwest,
Northeast, Southwest e por Southeast Tything). Existem quatro quadras para atividades
institucionais (públicas ou privadas), separadas duas a duas e pela praça central do ward, nomeadas
por Northwest, Northeast, Southwest e por Southeast Trust Lot. Dois a dois os yards são
contornados por vias públicas, que contam com generosas calçadas e a praça central com seus
principais acessos de configuração axial, figura 5.3. Em 3A se reproduz uma planta de 1815 (oitenta
e dois anos desde a inauguração da cidade) e, em 3B aparece o diagrama conceitual do ward.
A área central de Savannah faz parte de um plano regional (the Oglethorpe Plan) que previa nos
arredores da área central das cidades; parques, fazendas e vilas. Segundo se demonstra pela
história, a área urbanizada cresceu muito e transformou o equilíbrio urbano-rural preconizado por
James E. Oglethorpe, assunto tratado pelo historiador-professor Thomas D. Wilson como uma
questão da evolução do processo de urbanização (WILSON, 2012, p 163-172).
Pela planta da cidade de 1815 se pode ver a previsão das ocupações para as vilas agrícolas e de
pecuária junto a área urbanizada, favorecendo o caminhar a pé entre um possível local de moradia
na cidade e o trabalho rural, figura 3A.
CORREDORES E SUBÁREAS - 107
Na área da ocupação tradicional pelos wards destaca-se as vias que atravessam e as que distribuem
a circulação de veículos, o que reforça o conceito do traçado em retícula. Sobre a foto aérea
observar as linhas finas e as grossas. Cumpre lembrar que naquele tempo não existiam automóveis
e o espaço das vias era para pedestres e veículos à tração animal. Por reconhecimento em foto do
Google (11.07.2020) se pode observar que para vinte e um wards (84 ha) foi ocupada uma
superfície de cento e cinquenta hectares. A diferença ficando para as vias que atravessam,
distribuem e demais áreas públicas, figura 5-4.
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Na análise do plano geral deve ser considerado que os wards tem a dimensão de 2,5ha (quadrado
de 150 m de lado). A implantação da cidade a partir de 1830 começou com seis wards, em seguida
mais dois e as etapas prosseguiram em módulos de dois conjuntos de quatro wards. Cada praça
possui um marco de referência no centro, ponto focal para enfatizar a composição paisagística
clássica. De uma a outra praça o marco visual, pode ser uma grande escultura ou um chafariz, que
marca a centralidade reforçada pela clareira que se forma ao redor e serve para orientar o caminho
dos pedestres, entre um exuberante entorno arborizado, figura 5-5.
CORREDORES E SUBÁREAS - 109
Nas quadras destinadas para as residências (tythings) observa-se que os lotes podem ser
subdivididos e na faixa de recuo, existente como diretriz para o alinhamento dos imóveis é
permitido serem instaladas escadas de acesso a residências no primeiro piso, ficando o térreo como
um porão visitável, o basement da edificação principal. Este tipo de arranjo está representado pelas
fotos. Para exemplificar, mostra-se um prédio de esquina destinado a pessoas de renda mais alta
que o citado antes, que em verdade são dois imóveis: um com janelas marrom e o outro na cor
preto. Nestes imóveis, o pavimento térreo funciona ou pode funcionar para locação em separado,
figura 5.6. Em 6A, casas em fileira e em 6B residências assobradadas e geminadas.
No distrito histórico de Savannah existe uma grande variedade de tipos construtivos, estilos de
época e das dimensões dos imóveis, dada a liberdade para a construção de imóveis residenciais; e
de edifícios institucionais. No Massie Heritage Center, um local destinado a história do urbanismo
e arquitetura de Savannah, existe uma sequência de painéis com uma classificação de tipos, pelos
estilos da arquitetura, desde os primórdios do município que supera a quantidade de duas dezenas.
Caso fosse possível cruzar esta informação sobre os estilos com o projeto dos espaços físicos; como
tipos de arranjos espaciais, o número de casos seria muito maior.
110
O plano de Oglethorpe é exemplar para o estudo da evolução dos traçados urbanos em malha.
Serve de referência para o projeto conceitual proposto por Frank Lloyd Wright em 1935, que
preconizava que cada família pudesse ter pelo menos um acre de terra (4.050 m²), ou seja, um
espaço para plantar ou ter uma pequena criação junto a moradia.
Savannah é uma referência histórica para o conceito de superquadra e de área de vizinhança do
Movimento Moderno, particularmente, quanto ao conceito de superquadra desenvolvido pelo
arquiteto-urbanista Lúcio Costa para o plano piloto para Brasília nos anos 1950.
CORREDORES E SUBÁREAS - 111
Manhattan, um dos cinco burgos (distritos) do município de New York, como fruto do
desenvolvimento e da expectativa da população de ali se erguer uma grande cidade - em particular
de pessoas com visão comercial - com recursos privados foi desenvolvido em 1807 um plano diretor
físico para toda a ilha (59,10 km²). O chamado The Commissioners’ Plan, foi objeto de grande
polêmica na cidade onde as pessoas diziam que construir ruas com dinheiro público para favorecer
grupos comerciais que já estavam prontos para investir em grandes edifícios não era justo, além de
que o plano apresentado era uma retícula ortogonal monótona. Resultou que sua oficialização pelo
município foi acontecer pouco mais de três anos depois, com a designação de The Commissioners’
Plan of 1811.
As quadras de Manhattan foram definidas em função de uma dimensão julgada adequada na época,
um retângulo de 50 a 70 m, por 150 a 200 m traçadas com a lateral maior no sentido transversal da
ilha. Isto levaria a configuração de um feixe de vias longitudinais paralelas espaçadas de no máximo
200 m, largura boa para a distribuição das linhas de transporte coletivo por vias principais, e, a
largura das quadras máxima de 70 m, que ofereceria opções favoráveis ao deslocamento
transversal dos pedestres. Este padrão de quadras foi considerado bom também para o
parcelamento em lotes, quanto à comercialização e para a construção de edifícios altos. Quando
houvesse interesse o acesso poderia se fazer pelas duas ruas distanciadas por oitenta metros.
Também se admitia a junção de quadras para formar uma superquadra onde as passagens internas
seriam ajustadas pelo projeto e responsabilidade do empreendedor; na atualidade um bom
exemplo é o empreendimento corporativo Rockefeller Center. Sobre as características do tecido da
ilha deve se considerar a questão da ‘monotonia’ e a distribuição de espaços verdes onde se ressalta
a luta da comunidade por uma grande área verde: um parque como os da Europa, como diziam os
nova-iorquinos. Tais demandas resultaram na aquisição da gleba e em estudos desde 1836, que se
desenvolveram para a inauguração do Central Park, completo em 1873. O Central Park de 341 ha
foi projetado por uma equipe coordenada pelo arquiteto-botânico Frederick Law Olmsted e se
tornou uma referência internacional para o paisagismo de espaços urbanos.
O parque central da cidade se situa como um elemento urbano importante para a quebra da
excessiva ortogonalidade do tecido da ilha. Soma-se a ele em Manhattan o pré-existente bairro de
Greenwich Village, preservado apesar do seu traçado transversal ao sentido da grande retícula,
figura 5-7. Em 7A, o plano aprovado em 1811 e em 7B uma foto aérea onde pode ser visto um
trecho das retículas do plano e o encontro com o tecido de Greenwich Village.
112
Figura 5-7: The Commissioners Plan 1807/ 1811 e, quadras no Sudoeste de Manhattan
A implantação dos edifícios na maior parte da ilha é variada quanto à altura, ao volume das
construções e à diversidade dos tipos construtivos. Percebe-se isto pela análise da foto seguinte,
que realça as diferenças de altura e da forma dos prédios. Para quem caminha pelas calçadas largas,
acompanhado pelo vai e vem dos veículos de um lado e de outro pelas variadas fachadas, há um
enquadramento dos visuais que oferece variedade para o olhar de cada trecho que se percorre. Na
foto, onde mostramos a parte Sul do Central Park pode se observar esta característica, que é ainda
mais forte nas avenidas retratadas em portfólios para os turistas, figura 5-8.
CORREDORES E SUBÁREAS - 113
Como locais que amenizam o efeito da malha regular existem as praças públicas e os pocket-parks
da iniciativa privada, que constituem pontos atrativos entre os prédios. Manhattan, personifica o
dizer ‘The big apple’ pela força da sua centralidade de forte interesse internacional e, para o que
nos interessa - tecidos urbanos em malha - utilizarmos a referência norte-americana para enfatizar
a ideia de flexibilidade que possuem as configurações deste tipo. As quadras relativamente
pequenas e o tamanho de lotes variado, são tipos que permitem diversidade no volume das
construções, como apontamos ao estudar o setor 7 do distrito da Mooca e se repete em São Paulo
de modo geral.
O ‘ensanche’ de Barcelona
O projeto para a expansão da área urbana de Barcelona, objeto de concurso público nos anos 1850
teve como resultado a proposta da equipe de responsabilidade do engenheiro-urbanista (e político)
Ildefons Cerdá. Foi um plano forte como ideia, abrangendo uma área de expansão maior que cinco
vezes o sítio da cidade existente, o ‘Ensanche’ chamado pelos catalães. Baseava-se no lançamento
de extensa malha constituída por vias com largura de 20, 40 e 60 m e quadras de formato regular
com 113 m de lado e com chanfros a quarenta e cinco graus nas esquinas (aproximadamente 12.000
m²). Um sistema em retícula interceptado por dois eixos transversais à maneira da Paris do Barão
Haussmann, articulados por uma praça central, a Plaça dels Paisos Catalans. A novidade do plano
foi a configuração das quadras, que eram associadas a tipos, conforme alternativas para a
implantação das edificações, bem apresentadas por diagramas e acompanhadas de quantitativos
114
desde a largura das vias, critérios para a definição da volumetria (em planta e elevação), densidade
demográfica e indicações para a engenharia de infraestrutura, figura 5- 9.
As cinco quadras voltadas para a avenida beira-mar são parte do perímetro destinado a Vila
Olímpica e foram projetadas com inspiração nos diagramas do plano de 1850. Uma reverência, só
possível porque a entidade paraestatal empreendedora dos jogos era a gerenciadora de todo o sítio
destinado ao centro olímpico e, não houve interesses comerciais que exigissem o parcelamento das
quadras em lotes ou impedissem o projeto das ‘superunidades’ com baixa taxa de ocupação do
solo, figura 5-11.
Pela observação das figuras 10 e 11 se demonstra que a ideia de inserir pátios verdes de acesso
público no interior da quadra, em maioria, não aconteceu com a largueza preconizada pelo plano.
Fato decorrente do seu processo de implementação que deveria atender as diretrizes relativas ao
desenho da rua, da quadra, do lote e dos edifícios, mas, a realidade mostrou a necessidade de
existir lotes de tamanho viável para os pequenos empreendimentos, o que afetou a ideia do grande
pátio verde em diversos locais da cidade – com certeza os menos nobres. O emblemático projeto
para Barcelona se desenvolveu em um tempo - metade do século XIX - quando ainda não se pensava
nas benesses dos veículos motorizados.
Dando outro salto na história, chegaram os automóveis, os ônibus, os ônibus cada vez maiores e os
monotrilhos. Eles foram tomando os espaços das ruas, até a revolta contra eles pela bandeira das
CORREDORES E SUBÁREAS - 117
cidades caminháveis, saudáveis e sustentáveis. Nesta evolução o mundo passa pelos conceitos das
cidades jardim, do urbanismo moderno, do novo urbanismo e dos contemporâneos (top-down e
bottom-up). O fato é que a circulação, ou mobilidade de veículos, motorizados, sem motor e de
pedestres nas cidades passou a ser de fundamental importância no planejamento, planos e projetos
urbanos.
Brasília e as superquadras
A superquadra do Urbanismo Moderno como concepção de espaço objetiva reunir uma quantidade
de famílias para habitar e compartilhar equipamentos que por natureza devem estar junto às
residências; fora aqueles para as atividades comerciais e de serviços previstos em vias que
distribuem, próximas, mas não juntas às habitações. Ao reunir um conjunto de quatro
superquadras, acompanhada por seus equipamentos de conveniência o arquiteto-urbanista Lúcio
Costa estabeleceu uma ‘unidade de vizinhança’ e junto a elas os equipamentos (como o cinema, ou
a escola secundária) de natureza setorial, mais acessível por todos da cidade. Organização do
espaço que corresponde ao conceito de unidade de vizinhança típico das cidades-jardim, que juntas
- três a cinco destas unidades- complementadas por outras áreas de interesse comum, formam uma
neighborhood unit (cerca de 64ha); configuração correspondente a um pequeno bairro no Brasil
(FARR, 2008, p.118).
O traçado da unidade de vizinhança do Urbanismo Moderno difere daquele das primeiras cidades-
jardim, em princípio por seu tipo de inserção urbana. Letchworth (1905) e Welwyn Garden City
(1920), as primeiras cidades-jardim inglesas foram concebidas para 30.000 habitantes no tempo
em que havia nenhuma preocupação com o efeito negativo do transporte motorizado: conviviam
a carroça, a carruagem e os primeiros automóveis. Brasília foi concebida para 700.000 habitantes
(anos 1950) num tempo em que as calçadas das cidades tradicionais começavam a se amesquinhar
para dar lugar à circulação motorizada. Neste sentido, Brasília foi contemporânea através de seu
sistema de circulação hierarquizado e das superquadras. Os conceitos de cul-de-sac e de loop, até
então encontrados nas cidades tradicionais e recriados pelas cidades-jardim, voltaram a ter
presença no plano urbanístico de Brasília. Nas superquadras a entrada se faz por um único espaço
de acesso e nos 5,76 ha de área, onde estão os blocos residenciais sobre pilotis, a circulação é
distribuída para grupos de prédios de forma independente usando o conceito do viário local
inspirado nas cidades-jardim.
A unidade de vizinhança foi produto de repartir os espaços urbanos conforme grupos de atividades
que as pessoas exercem na cidade. Isto caracterizou o ideário do Movimento Moderno e os projetos
nele baseados que contrariam em muito a cidade tradicional, principalmente quanto à segregação
de atividades. O que não impede a descoberta e permitir que nos tecidos tradicionais se criem
aglomerados que, mesmo tendo seus equipamentos de conveniência misturados, possam ter um
ambiente enriquecedor de convívio humano. Neste sentido lembramos que os wards projetados
em 1733 para a cidade de Savannah caracterizam um tipo de tecido urbano orientado por retícula
ortogonal, onde o ward (200x200 m = 4 ha) pode ser considerado uma superquadra (equivale a
quatro quadras tradicionais de 100x100 m) com a característica de ser um espaço de uso misto.
CORREDORES E SUBÁREAS - 119
Ainda a respeito de Savannah, chamamos atenção para que no traçado em retícula ortogonal foram
previstas vias de maior largura em função dos trajetos maiores, servindo como organizadores do
espaçamento entre grupos de wards; sua função era valorizar visualmente as vias principais e não
dar uma resposta ao volume de tráfego como fator determinante, como hoje em dia se faz. Em
Manhattan, de acordo com o plano de 1811, as vias traçadas no sentido longitudinal da ilha foram
projetadas mais largas devido aos percursos serem mais longos e, em função da demanda por
transporte coletivo já prevista naquela época.
No plano de Brasília a circulação entre as áreas setorizadas das atividades urbanas; residencial, à
administrativa do país e a do governo local, tomaram a forma de avião: o eixo gregário residencial
arqueada perpendicular ao eixo monumental. As vias que atravessam e as que distribuem,
particularmente no eixo residencial (ou rodoviário, simbólico da ligação Norte-Sul do país) fazem o
papel de delimitar duas fatias da cidade: a porção Oeste e a Leste. Situação que facilitou a
numeração das vias; de um lado se usou a inicial W (Oeste), do outro a inicial L (leste): W1, W2, W3,
... L1, L2, L3, ..., figura 5-13.
Na figura 13A, as superquadras SQS 308-307 e 108-107, mostram o desenho divulgado pela
CODEPLAN, Companhia de Planejamento do Distrito Federal, onde aparece a sequência de vias
desde o Eixo Rodoviário Sul, ERS até a W3S. A primeira paralela ao eixo rodoviário é W1- Sul, é uma
‘via que distribui’, pois, através das vias de comércio local, faz a ligação com as vias W2 e W3-Sul.
Ela é interrompida a cada quatro superquadras. A via W2 é uma via de distribuição bloqueada em
vários pontos para servir de preferência a unidade de vizinhança e servir como apoio à via W3- Sul,
que é uma ‘via que atravessa’ proporcionando uma extensa ligação viária. A faixa de lotes entre
ela e a W2 é ocupada por edificações de uso misto, forte atividade comercial à moda do que
acontece em uma cidade de tecido tradicional. Na figura 13B, foto do Google, procuramos uma
vista de toda a unidade de vizinhança. Brasília é representativa de um plano baseado na
contribuição da hierarquização do sistema de circulação, para garantir resguardo aos locais de
vizinhança.
As questões relativas ao traçado viário e sua relação com as quadras da cidade são fatores
importantes para os procedimentos de análise da forma urbana através dos corredores e subáreas,
em particular nos traçados em retícula. As vias de ligação nas duas escalas, a que atravessa e a que
distribui, devem ser entendidas como canais de movimento que tornam realidade o corredor no
contexto urbano, de expansão da cidade ou rural. Vimos como em Brasília acontece a sucessão do
trânsito desde o eixo rodoviário (via que atravessa) até a entrada da superquadra; que difere da
quadra tradicional por não ser parcelada, sendo considerado o ‘lote’ a projeção horizontal do
prédio.
Da superquadra, do seu ajuntamento com outras para formar a unidade de vizinhança, se verifica
a intenção de ligar o local de residência às vias de distribuição e de o separar vias das que
atravessam.
Em Brasília o princípio do zoneamento é considerado importante ao ponto de haver um local
específico para o comércio local nas entre quadras. Localização que faz sentido na medida que no
plano da cidade são os trechos finais das vias que atravessam pelas passagens inferiores o eixo
rodoviário. A via comercial das entre quadras são alternadas na sequência de superquadras das
faixas de numeração 100 com as de numeração 300, o que torna o traçado reticular mais complexo.
Na figura 14A pode-se avaliar esta configuração do sistema viário.
O entendimento da relação entre a quadra, que proporciona os locais de maior permanência das
pessoas, com as vias que permitem o acesso a elas, se modificou na medida que o urbanismo
evoluiu em função das novas soluções viárias. Isto aconteceu em menor escala nas soluções
provenientes dos conceitos de cidade-jardim, em consequência de as vias de acesso possuírem
CORREDORES E SUBÁREAS - 121
largas faixas verdes laterais interligadas com vias de distribuição. O que permite que se integrem
de uma maneira orgânica com as áreas de vizinhança, ajustando-se suavemente aos contornos do
terreno natural.
Nos projetos desde as cartas do Movimento Moderno, passou a influir decisivamente no urbanismo
a racionalidade no traçado do sistema viário, plano e projeto, onde a separação das vias por
categorias passou a ser um elemento auxiliar no projeto de áreas a urbanizar e isto foi importante.
A investigação que desenvolvemos leva em conta como um dado da realidade a classificação
detalhada das vias, de responsabilidade do órgão municipal, apesar da redução que se faz para os
três tipos: atravessar, distribuir e chegar a uma trama local. Devido à prevalência que o traçado
viário assumiu desde o Moderno adotamos por referência temporal em nosso estudo os meados
dos anos 1930 (Carta de Atenas). Primórdios de uma maneira de pensar em edifícios e cidades que
iria influenciar os projetos de arquitetura e urbanismo na Europa em outros países, o Brasil em
particular, depois do pós- segunda grande guerra (1945). A estabilidade política, social e econômica
posterior à guerra permitiu a retomada do desenvolvimento e de novos projetos. O Movimento
Moderno na arquitetura e no urbanismo se estabeleceu em definitivo, e agora existe uma vasta
literatura sobre o assunto. Afirmamos que na escala da cidade ele alcançou o apogeu no continente
americano, com a realização espetacular da cidade capital do Brasil, inaugurada em 1960.
compactas (Cumbernold). Em Milton Keynes, devido aos estudos que caminhavam adiantados na
área de engenharia de tráfego, foi utilizado o resultado preconizado como o melhor daquele tempo,
onde a distribuição da circulação que atravessa o sítio de uma cidade deveria ser traçada em grelha.
No diagrama que mostra o plano para Milton Keynes destacam-se as vias definidoras da malha, a
via Grafton Street (Sudoeste), onde se desenvolve uma longa faixa de terra destinada a implantação
de indústrias, e a Saxon Street, que segue paralela a anterior e chega até outra área também para
indústrias, mas, de formato compacto e localizada ao Sul. No sentido Noroeste-Sudeste o polígono
onde se encontra Oldbrook se completa pelas paralelas Childs Way e Chafron Way. Estas quatro
vias que atravessam formam um polígono de oitenta e seis hectares que é a área aproximada da
área de vizinhança Oldbrook (destacada na figura 14, deste capítulo). Foi escolhida para exemplo
por situar-se na vizinhança do Centro (quadras menores no diagrama). As quadras da área de
vizinhança, destinadas ao uso e moradia e seus equipamentos se situam nos espaços centrais, longe
das rodovias e articuladas ao Centro. O centro da cidade se caracteriza por sua retícula de
dimensões menores obtida pelas vias que distribuem, tributárias de vias que atravessam, figura 5-
14.
O plano de Milton Keynes tomamos como uma referência importante para ilustrar o conceito de
vias que atravessam e distribuem, extrapolando o conceito de corredor aplicado aos tecidos
tradicionais, pois, diferentemente deles os corredores são ladeados por faixas verdes e o comércio
e serviços foram planejados de maneira concentrada em locais estratégicos, fora dos
entroncamentos viários. O diagrama da figura 5-15, elaborado pela municipalidade - Urban
Planning Office – mostra o sistema completo em malha de forma sintética e é um bom exemplo de
desenho para ser utilizado em projetos urbanos. Sobre ele destacamos na cor preto um setor que
se chama Oldbrook, o que para nós brasileiros poderia ser considerado um bairro, com
aproximadamente cinquenta hectares de área.
CORREDORES E SUBÁREAS - 123
Fonte: Diagrama do Urban Planning Office, M. K. Destaque em preto do autor. Commons Wikimedia.
O setor Oldbrook localizado junto ao Centro, com suas quadras pequenas, é delimitado por um
contorno de vias e faixas verdes com os acessos por pontos bem identificados e com dispositivos
apropriados para a redução da velocidade dos veículos nos espaços de acesso ao setor. Destaca-se
a preocupação de ‘proteger’ o lugar das casas, o setor definido pelas vias que atravessam e são
ladeadas por faixas de vegetação, os corredores verdes. O desenho das quadras internas segue a
tradição das cidades jardim, figura 5-16. Em 16A aparece o bairro como um todo. Em 16B, se
destaca um subsetor, algo equivalente a uma superquadra de Brasília.
124
CAPÍTULO 6
Os grandes conjuntos habitacionais e o declínio do Moderno
Nosso estudo é sobre a forma dos tecidos e o projeto urbano, restrito ao contexto brasileiro e a
algum conhecimento estendido para a Europa e América do Norte. Nisto importa considerar que
desde o final dos anos 1950 a crítica ao Movimento Moderno começou a se fazer forte, apontando
para a sua falência. O descontentamento dos moradores de grandes conjuntos habitacionais e os
consequentes problemas sociais, levou a demolições de grande porte. Algumas delas se referem a
projetos elaborados por escritórios que são referência internacional de Arquitetura e isto nos
interessa quanto as decisões à nível programático de realizá-los. No pós-guerra mundial enquanto
se desenvolviam processos de pré-fabricação, políticos e planejadores urbanos decidiam onde e
como construir habitações para todos. Chegou-se em muitos países a decisão de construir
conjuntos habitacionais de grande porte e foi a oportunidade para muitos bons arquitetos
trabalharem sob a égide modernista que vinha se aperfeiçoando desde os anos 1930, através de
diversos congressos internacionais.
Com as melhores intenções, apoiados na engenharia, na arquitetura e nos urbanistas, diferentes
países decidiram resolver o déficit habitacional através do conceito de construir unidades
residenciais com área útil pequena, mas, contrabalançadas por espaços generosos ao ar livre
generosos. Foi a influência do cânone modernista, explicado por teorias contundentes.
Construídos, bem divulgados pelos meios de comunicação, modelo para estudantes e arquitetos,
os grandes conjuntos habitacionais não se mostraram ser bons lugares para a vida das pessoas e
alguns foram demolidos. Chegou-se desta maneira ao final Urbanismo Moderno (JENCKS 1985).
Referimo-nos aos grandes conjuntos para salientar que a maior razão deles terem vindo ao chão, o
terreno voltar a ficar vazio, caracteriza um processo de substituir construções cujo programa de
necessidades estava inadequado com a natureza do local. Nos dois casos tomados como exemplo
faltou a integração com o local no sentido de abrigar diferentes tipos de uso do solo e abrir para a
cidade tipos diversificados de áreas livres e verdes. Selecionamos dois casos icônicos com o intuito
de mostrar que, os terrenos grandes devem ter suas construções programadas para serem parte
de um ambiente urbano, ou seja, um distrito especial inserido no contexto de um setor ou subsetor
da cidade. Os conjuntos habitacionais demolidos eram projetos de arquitetura para residências,
com equipamentos sociais exclusivos.
O conjunto Robin Hood Garden representa o caso de substituição ainda hoje em curso. Localiza-se
no bairro Poplar, parte leste de Londres (London E14). O projeto de arquitetura foi de
126
responsabilidade do escritório de Peter e Alison Smithson, e passou a ser uma referência para os
conceitos estabelecidos pelo Movimento Moderno. Influenciou arquitetos -professores e por
extensão
O conjunto ocupa uma quadra de três hectares em formato de trapézio e se caracteriza por dois
blocos e um espaço verde entre eles. O bloco maior acompanhava (foi demolido) a via pelo lado
Oeste com cerca de cento e quarenta metros de comprimento e dez pavimentos de altura. O outro
acompanha o alinhamento da via à Leste com cento e quinze metros de comprimento e sete
pavimentos, com prazo já estabelecido para ser demolido. Esta configuração proporcionou um
pátio interno grande, o paisagismo criando ondulações no terreno gramado e bosquetes - pequenas
áreas arborizadas - implantados de maneira esparsa.
A figura a seguir mostra os principais elementos urbanos do sítio. Quadra (3 ha) em forma de
trapézio é formada por uma via que atravessa no sentido Oeste-Leste, e passa pela aresta menor
do trapézio (Poplar High Street); pela via que atravessa a quadra pelo lado Oeste, a Preston Street;
pela via de distribuição de 185 m de comprimento que forma a base maior do trapézio; e, fechando
o trapézio aparece a via local passando pelo lado Leste da quadra, chamada Robin Hood Lane; ela
é auxiliar da via maior que atravessa, figura 6.1.
Em 6.1A aparecem os dois blocos do projeto original em uma foto do Google Earth de 2009. Em
6.1B aparece a situação atual com o bloco original voltado para a via local Robin Hood Lane e os
novos blocos projetados. Cumpre observar a via de distribuição interna que foi introduzida entre a
Poplar High Street e via existente que forma a base maior do trapézio. Ela permite que os acessos
aos prédios novos aconteçam por uma via local do tipo ‘lane’ com a vantagem de o jardim interno
do projeto anterior ficar mais acessível e seguro para os pedestres.
CORREDORES E SUBÁREAS - 127
O projeto dos Smithsons data do final dos anos 1960, foi inaugurado em 1972 e a demolição do
primeiro bloco aconteceu entre 2012 e 2017. O novo projeto para a quadra trapezoidal está
previsto ser implantado até 2021.
É importante assinalar que a renovação desta quadra, foi planejada desde os anos 1990, como parte
integrante de um projeto urbano chamado Blackwall Reach Development que se estende para um
trecho de doze hectares, como está indicado na figura 6-2. O estudo de caso foi escolhido para
128
ilustrar o que vimos argumentando no sentido do projeto urbano ser parte da cidade, se integrarem
ao tecido local e oferecerem variados tipos de habitação. A área de doze hectares comparada a
outros projetos permite dizer que facilita a interação entre os participantes, facilita a
implementação do projeto urbano, segundo o princípio de se reduzir o aporte de dinheiro público.
da boa orientação solar, Leste- Oeste, também adequada quanto aos ventos, levou ao projeto de
prédios paralelos na parte maior do conjunto. Na porção de área menor onde os apartamentos
eram maiores, destinados para famílias em uma faixa de renda mais alta, foi utilizado o esquema
em Y que leva a diferentes direções para as fachadas. Duas alternativas para implantação dos
prédios, usuais por escritórios europeus representativas do Urbanismo Moderno, que não
conduzem a espaços de uso coletivo de boa qualidade, figura 6-3.
Após a demolição (1972-1976) o destino de Pruitt Igoe foi o de permanecer como um espaço
desocupado. As fotografias aéreas mostram que os setores Norte e Noroeste da cidade tem um
tipo de tecido caracterizado por quadras pequenas e de baixa ocupação. Neste contexto a
implantação dos prédios de onze pavimentos com população de nove mil e quinhentos habitantes,
CORREDORES E SUBÁREAS - 131
em apartamentos pequenos formando uma ilha isolada foi um dos fatores fortes que levou a ação
de destruí-los. Há outras razões citadas como a indisponibilidade financeira para a implantação de
serviços de apoio e o agenciamento mal resolvido dos espaços abertos, que se somam ao tipo de
inserção urbana deste conjunto habitacional (TRANCIK, R. 1986).
A foto abaixo, não datada (provável ser por volta de 1980) foi tirada na direção Noroeste – Sudeste
e permite se considerar correta esta orientação, pela posição em que se encontra o Gateway Arch
construído em 1965 e localizado no Gateway Arch National Park, a menos de três mil metros de
distância de Pruitt-Igoe. O arco cujo projeto datado de 1947 é de autoria do arquiteto finlandês
Eero Saarinen, se distingue por seus cento e noventa e dois metros de altura. Ele simboliza um
portal de entrada para o Oeste norte americano e se passaram dezoito anos até o início da sua
construção (1965). Chamamos atenção para a demora com que ocorre a disponibilidade financeira
do município de Saint Louis para grandes empreendimentos urbanos, e por pressuposto Pruitt Igoe
foi uma exceção, provavelmente se valendo da dotação de verbas especiais para o segmento de
habitação. Hoje estamos a quarenta e cinco anos da demolição e os trinta e sete hectares de Pruitt
Igoe se mantém vazio entre as quadras de baixa taxa de ocupação do setor Norte de Saint Louis,
figura 6-4.
Como uma paródia hoje se poderia dizer que o arco simboliza a vontade para desenvolver as
porções Norte e Sul da cidade, onde a ocupação é rarefeita e de pouco interesse imobiliário para
curto prazo. Hoje (2020) se percebe a vontade do poder público de Saint Louis para desenvolver a
132
área onde se encontra Pruitt Igoe, não é mais através da decisão pontual para resolver um déficit
habitacional, e sim por um plano urbanístico abrangendo o setor Norte da cidade. O urbanismo
passa a ser feito percorrendo suas etapas operacionais de planejamento urbano, plano e projeto,
Recentemente em Saint Louis o grupo oficial de planejamento e o Land Clearance for
Redevelopment Authority (Autoridade de Desobstrução de Terras para Reurbanização), entidade
criada para eliminar e prevenir a praga durante a reforma da comunidade, decidiu negociar a área
de Pruitt-Igoe com um grupo imobiliário privado. A empresa de origem no próprio estado do
Missouri, The Mckee Group especializada em estratégias para a implantação de empreendimentos
imobiliários está interessada na negociação, segundo mostra a jornalista de Saint-Louis Maria
Altman que publicou:
O empreendedor Paul McKee garantiu por três anos a opção para comprar
por U$ 1 milhão a antiga gleba de Pruitt-Igoe, na cidade de St. Louis. Essa
garantia está para expirar no final deste mês. Mas, a Autoridade de
Liberação de Terras para Reestruturação da Cidade, estendeu a opção de
McKee pela segunda vez em três anos, durante uma reunião fechada
(ALTMAN, 2016).
As partes Norte e Sul da cidade são separadas por uma faixa de pujante desenvolvimento urbano
com a largura média de mil e seiscentos metros e que canaliza o movimento veicular principal na
direção leste-oeste, até à margem do rio Missouri. Esta faixa de ocupação intensiva é marcada pela
Market Street, uma designação recorrente nas cidades americanas da via de comércio central. Em
Saint Louis ela é do tipo boulevard e permite visuais focadas no Gateway Arch. No diiagrama esta
área foi destacada na côr lilás, figura 6-5
Na parte Norte envolvendo as quadras onde os lotes são pequenos, ao redor do antigo Pruitt Igoe,
uma parcela vazia, despontam projetos pequenos e a empresa The Mckee Group tem comprado
lotes pequenos de maneira esparsa na area. Assinalamos na foto da parte Norte da cidade os
setores no entorno área livre deixada pela demolição e o espaço abrangido por setores da cidade
estabelecidos através do procedimento para analisar tecidos urbanos por partes. Na verdade um
exercício para demonstrar o critério da subvisão da cidade pelas vias que atravessam, com base na
foto do Google Earth e alguns percursos de verificação passeando pelo Street View. Foram
identificados seis setores e o de número 5 é a parcela Pruitt Igoe. Apenas por pesquisas na Internet
verificamos que o Grupo Mckee tem adquirido imóveis esparsos na região e se interessam em
adquirir o setor Pruitt Igoe. Isto sinaliza a necessidade de um plano da área toda e a identificação
de special districts que seriam pilotos para o desenvolvimento estruturado dos seis setores e a
integração com a faixa central de Saint Louis.
CORREDORES E SUBÁREAS - 133
entendidos como uma cidade. A gleba remanescente da demolição com a visão do urbanismo
sustentável, certamente passará ser considerada como um projeto urbano formado por núcleos
menores integrados a um subsetor, estes a setores e os setores à cidade como um todo. Em nosso
exemplo são seis setores que deverão gerar subsetores criteriosamente associados a vias que
distribuem (NEWMAN; JENNINGS, 2008).
A experiência de estudar o caso de Pruitt Igoe faz lembrar da implantação dos grandes conjuntos
habitacionais mono funcionais em bairros afastados da cidade de São Paulo nos anos sessenta,
onde eles permaneceram por terem densidade de ocupação relativamente baixa. Em São Paulo
temos o caso do Edifício São Vito, uma proposta de verticalização para habitação subsidiada no
Centro de São Paulo que como os casos da Inglaterra e dos EUA mostrados neste capítulo,
progrediu para o insucesso e a demolição.
CORREDORES E SUBÁREAS - 135
Capítulo 7
A persistência da retícula ortogonal e a sustentabilidade
Prosseguindo com nossa atenção para o traçado de cidades, onde a preocupação com o desenho
da quadra sempre toma lugar, vamos para um estágio de revisão do Moderno e pautada nos tipos
do Novo Urbanismo. Este movimento se propagou nos EUA e se assemelha discretamente ao que
vem sendo desenvolvido na Europa, por muitos arquitetos, com vista aos parâmetros de
sustentabilidade. De forma discreta, na medida que as preocupações do Novo Urbanismo são
oportunas, mas, se atêm a itens de externalidade da sustentabilidade como o uso de carros
elétricos, andar de bicicleta, economia de água ou a aproximação com aspectos da paisagem
natural. Esta seria a prática convencional já ampliada pelos europeus. O arquiteto-professor
Douglas Farr fornece um alerta:
A versão original do livro data de 2008 e isto importa para localizar o pensamento de Douglas Farr
no tempo. A questão da sustentabilidade é muito importante, mesmo que levemente ela passe a
influir nos novos projetos, é um fator que tem repercussão na configuração do tecido urbano e,
portanto, nos estudos de morfologia, objeto de nosso trabalho.
O Novo Urbanismo eclodiu nos anos 1980 e após diversos congressos, seus propósitos ficaram
expressos pela Carta do Novo Urbanismo de 1996, cujo conteúdo envolve itens desde a região até
o quarteirão e de sustentabilidade associada ao contexto urbano e regional (MACEDO, 2006).
O bairro de Seaside - município de Walton, Noroeste do estado da Flórida, projetado e com sua
construção iniciada em 1990, passou a ser um exemplo da urbanização preconizada pelo grupo dos
novos urbanistas e se tornou o marco referencial deste movimento. O projeto desenvolvido pelo
escritório Duany, Platter-Zyberk Architects, apresenta um repertório de ideias com base na tradição
das cidades-jardim e com tipos urbanos das cidades de tecido tradicional. Aspectos que são de
136
interesse para a nossa postura de valorizar e aprender o que há de bom, em relação a repensar os
tecidos tradicionais e adicionar mais informações a nossos estudos de morfologia urbana. Quanto
aos parâmetros de sustentabilidade o Novo Urbanismo deu um passo nesta direção, Seaside,
apesar de ser um local voltado para turistas, população flutuante de classe média, teve a concepção
do seu masterplan baseada nas preocupações básicas com a sustentabilidade, que posteriormente
apoiaram a Carta de princípios do grupo dos novos urbanistas (MACEDO, 2016b), figura7-1.
Seaside é uma unincorporated master-planned community (local ainda sem jurisdição oficial), tem
a dimensão - 33ha - equivalente à bairro pequeno de cidade grande, com a população no entorno
de oito mil e quinhentos, sendo uma parte de moradores permanentes.
O padrão do tecido urbano em seus aspectos morfológicos se expressa pelos quatro diagramas
desenvolvidos pelo escritório dos arquitetos Duany, Plater-Zyberk, figura 7-2. Em 2A o esquema da
trama viária, onde se deve observar que a gleba de frente para o Golfo se estende até a praia. Em
2B estão marcados os edifícios de acesso público, áreas de acesso controlado como lotes dos
prédios públicos e as passarelas de transposição das dunas (são seis pontos). Em 2C, os espaços
públicos e privados. Em 2D, a projeção dos prédios (figure ground).
CORREDORES E SUBÁREAS - 137
As ruas de Seaside foram projetadas para os pedestres, bicicletas (pedal e motor) e pequenos
veículos elétricos; os proprietários de carros de tamanho convencional são estimulados a estacionar
e utilizar os meios leves de locomoção. As quatro fotos da figura 7-3 ilustram aspectos de Seaside
relativos à circulação e aos tipos de habitação. Estas variam desde os bangalôs até as casas de alto
custo - ‘pé na areia’ - e se observa a recorrência das townhouses, algumas adaptadas para pousadas,
tipo bed and breakfast. Em 3A aparece um percurso que, desde a praia galga a duna pôr passarela,
atravessa a autoestrada e adentra Seaside. Em 3B aparece o prolongamento do percurso anterior
dentro do bairro; em 3C uma casa de porte médio (existem menores) e em 4D uma townhouse
como pousada.
De nosso ponto de vista esta village norte-americana esboça o que poderia haver de bom para um
ambiente de veraneio, com lições para o meio urbano quanto aos tipos de quadras, a hierarquia
das circulações. Julgamos haver um problema quanto ao acesso direto para as quadras através da
rodovia 30A, que com atual e o progressivo aumento do volume de tráfego na rodovia e o sucesso
do setor de comércio e serviços na frente da praça principal gera sério desconforto para a circulação
motorizada, para os pedestres e bicicletas. Assunto comentado com mais detalhes no artigo
Learning from Seaside’s master plan, mencionado acima como referência.
138
Na Europa, certamente pelo rigor das guerras que os países passaram desde o início do século XX,
se reflete na arquitetura e no urbanismo um apego à economia, à racionalidade dos sistemas de
infraestrutura urbana e das construções. Isto é um dos fatores que permitiu aos europeus a
passagem com tranquilidade para a situação de maior atenção como hoje se dá para as questões
relativas à sustentabilidade. Uma importante iniciativa foi o Conselho dos Arquitetos Europeu -
Council of European Architects, CEA - promover a elaboração de um manual para sustentabilidade
em diferentes idiomas, The Green Vitruvius, mantido o nome universal na versão portuguesa (CEA,
1999).
No plano internacional há bairros ou setores da cidade, neighborhoods, que foram projetados como
ambientes sustentáveis. São diversos projetos que assim poderiam ser classificados, não apenas na
Europa. Destacamos como país pioneiro a Suécia, onde, em Estocolmo são de nosso interesse os
bairros Hammarby Sjöstad e Järla Sjö, devido à natureza de seus tecidos urbanos e o caminho que
CORREDORES E SUBÁREAS - 139
eles fornecem para valorizar a malha ortogonal, o que reforça sua persistência em projetos para
atender a objetivos diferenciados, nas mais variadas culturas.
No plano diretor para Hammarby (1996) coordenado pela municipalidade de Estocolmo e
desenvolvido por um grupo multidisciplinar de urban design, foi previsto o traçado em retícula
ortogonal, direcionada por setores, assentadas na leve inclinação do sítio e recortadas
acompanhando a forma ditada pela margem irregular do lago, figura 7-4.
As quadras são pequenas (2.500 m²), médias (7.500 m²) e grandes (12.500 m²) e as edificações nas
quadras seguem os alinhamentos das vias deixando pátios chegando próximo e abertos à vista
para o lago. No conjunto do traçado interessa observar a acomodação que é feita com o terreno,
deixando sempre vias locais de topo com a margem do lago para facilitar a drenagem. Estas são
diretrizes (guidelines) que se percebe por uma análise rápida do traçado deste projeto, figura 7-5.
As vias locais, em duas mãos de direção, chegam próximo ao lago e observa-se que a vegetação
está plantada em pontos marcados no leito da via, deixando espaço para dois automóveis
estacionarem entre elas. Desta forma as calçadas ficam com sua faixa pavimentada livre para os
pedestres. As edificações alinhadas com as calçadas seguem o gabarito de altura do tipo térreo
mais três pavimentos e uso misto. O bairro tem vocação para atividades industriais, além da
residencial, de comércio e serviços, com localizações distribuídas, mas, implantadas de preferência
140
em um setor de centralidade localizado ao Sul de Hammarby, com ligação por uma via que
atravessa o bairro e chega até a rodovia.
Järla Sjö
A municipalidade de Nacka, distrito de Estocolmo, no início dos anos 1970 encomendou um projeto
para reurbanizar o bairro Järla Sjö sob sua jurisdição (área de 27ha e população prevista de 25.000).
A proposição escolhida por concurso foi de cunho modernista e previa grandes edifícios articulados
entre si. Discutido, o plano foi rechaçado pela comunidade após longo período de discussões.
Disto resultou a preservação dos galpões industriais antigos e de um pequeno edifício institucional;
associada à implantação de quadras que possibilitasse a construção de edifícios em lotes de
tamanho médio (térreo e no máximo mais três pavimentos). Para coordenação e detalhamento do
novo plano abrangendo requisitos de sustentabilidade, foi selecionado o escritório dos arquitetos
Vernon Gracie e Håkan Jersenius.
A ilustração a seguir, figura 7-6, mostra um banner explicativo deste processo de seleção, que
demorou até a comunidade de Järla sentir a real possibilidade para sua implementação (MACEDO,
2008).
Na escala local Järla Sjö possui uma escola para ensino elementar e médio, creches, lojas,
restaurantes, facilidades para esportes e serviços. De amplitude regional se destaca o centro de
comércio e serviços, resultante do aproveitamento de galpões industriais com a adição em sua
continuidade de novos espaços comerciais e um deck de madeira na borda do lago fazendo a ligação
entre as duas partes do bairro, figura 7-7.
CORREDORES E SUBÁREAS - 141
A planta industrial remanescente é datada de 1860, uma fábrica de turbinas desativada nos anos
sessenta do século XX. Passou por cuidadoso trabalho de restauro para fazer parte do centro
comercial que se instalava e hoje o conjunto vem a ser um marco de referência para Estocolmo.
Järla Sjö, projetada como uma cidade-jardim, tem quadras pequenas retangulares, a menor 50x70
m, e diversas quadras irregulares abertas, sem muita padronização. Entre as edificações de até
quatro pavimentos, se destacam as localizadas na beira do Lago Nacka, figura 7-8.
A polêmica movida em torno do plano desde 1970, teve como fundamento a discussão não
favorável para o enfoque Moderno e o passar do tempo fez com que se consolidasse a escolha do
plano de parcelamento do solo em quadras retangulares ou irregulares se acomodando a
topografia local. As desavenças que privilegiaram a proposta respeitosa com a cultura do lugar e
pautada em critérios de sustentabilidade prevaleceu e, como na época se procurava determinar
um local para o primeiro encontro sobre o Novo Urbanismo Europeu, por estes motivos a escolha
foi pelo bairro Järla Sjö, situado a 8 km do centro de Estocolmo (MACEDO, 2009).
CORREDORES E SUBÁREAS - 143
CAPÍTULO 8
Brasil, São Paulo e as retículas ortogonais
No Brasil, o traçado ortogonal veio com a colonização portuguesa e este assunto é apresentado e
desenvolvido teoricamente pelo arquiteto-professor Manoel C. Teixeira no livro A forma da cidade
de origem portuguesa. Este autor mostra que a forma da cidade de origem portuguesa,
particularmente, no caso dos modelos geométricos justifica-se por três razões: a preocupação de
inscrever os traçados urbanos em uma ordem universal expressa pelo rigor da geometria; a
associação que se estabelecia entre a regularidade, a beleza da cidade e um bom governo; e o
pragmatismo associado à opção por uma estrutura mais regular, mais fácil de implantar, de
construir e de gerir (TEIXEIRA, 2012, p. 55).
Em muitas cidades localizadas próximo ao oceano ou na várzea de rios, onde a declividade é amena,
o sistema de implantação por retículas ortogonais foi empregado. Quando conveniente, o formato
quadrado é modificado para quadras alongadas, como nas áreas destinadas às oficinas e serviços
gerais. Considerando a topografia as quadras são arqueadas ou a retícula é assente em mais do que
uma direção para melhor se assentarem ao relevo dos terrenos.
Opções pelo traçado em retícula aparecem em locais de relevo aproximadamente plano indo até
encontrar uma barreira física, que acontece nas situações de declividade acentuada, curso de água,
ou, ambos. Fortaleza, Ceará, apresenta o caso de pequena declividade, para lembrar uma entre as
cidades brasileiras, figura 8-1.
A planta desta cidade, datada de 1875, mostra como a retícula ultrapassa a barreira e prossegue,
mostrando aberturas para sempre se prolongar. Este exemplo é de uma opção de projeto pouco
comum, a persistência para manter a direção sempre regular do traçado em malha, facilitada pelo
terreno plano e com certeza, oficializada pelo plano diretor da cidade. Em outros sítios devido a
acidentes do terreno, não apenas devido à topografia, mas, a outros interesses do proprietário e
do técnico responsável pelo traçado, o sentido da retícula pode variar de direção.
144
A visão retrospectiva de projetos desde Mileto até Brasília demonstra a facilidade do emprego, a
flexibilidade do traçado em malha e sua adaptabilidade a programas necessários para atender
diferentes sociedades em diferentes séculos. Nos exemplos deste texto pode-se ressaltar como a
versátil quadra de Mileto (1 ha) é reinterpretada em Savannah para se adaptar a um módulo de
repetição maior (2,5 ha), com vias locais internas ao perímetro desenhando pequenas quadras; em
Brasília o módulo de repetição passa para 8 ha e em Milton Keynes a malha ordenadora do projeto
passa a 100 ha, devido a precedência ser dada ao sistema viário que atravessa a cidade. Estas
transformações do tipo original concebido por Hipodamo de Mileto, ao longo do tempo são
comentadas com propriedade por Joan Busquets, arquiteto-professor visitante de Harvard que
deixou, em relatório de pesquisa sobre cidades em malha, o depoimento a seguir:
Da nossa observação própria lançamos a hipótese de que os traçados em malha retangular, e, com
mais propriedade as retangulares com largura até oitenta metros e comprimento por volta de cento
e cinquenta metros (usual no Brasil) tem boa capacidade para subdivisão em lotes.
146
CORREDORES E SUBÁREAS - 147
Capítulo 9
As quadras do Bairro Jardim, em Santo André, São Paulo
Quando a aluna e hoje arquiteta Amanda Chyoshi, cidadã de Santo André, foi bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, atendendo a um programa de quatro semestres
oferecido pelo Conselho Nacional de Pesquisas, na Universidade São Judas Tadeu, ela contribuiu
com a nossa investigação sobre as quadras de formato ortogonal, ou, base do nomeamos por tecido
do tipo tradicional. Como procedimento de trabalho se aplicou o princípio de análise da forma
urbana através dos setores, vias, corredores e subáreas. Foi selecionado como área-estudo um
setor, situado em um distrito do município de Santo André, chamado Bairro Jardim. Definido o
setor por vias que atravessam a pesquisa se centrou na flexibilidade que o traçado em retícula
possibilita para a ocupação dos espaços da cidade e em áreas a urbanizar. No caso do Bairro Jardim
a atenção foi dispensada para as maneiras de parcelar uma quadra em lotes e suas transformações
com o tempo. Para embasar esta opção se fez vista sobre o projeto de cidades de tecido tradicional
e outras contemporâneas que apresentassem variações deste critério. Material colhido a mais
tempo e utilizado nos capítulos precedentes, resultante de referências bibliográficas, de viagens e
por vezes assuntos anteriores, por nós apresentados através de artigos. A constatação de fundo
está centrada no princípio que a demanda para usos novos ao passar do tempo induz as
transformações das quadras, enriquece a configuração do tecido e oferece opções para o
redesenho, em particular, do limiar entre os espaços privados representados pelos lotes e o espaço
das vias públicas. Como se poderia dizer: esse é o mote do desenho urbano contemporâneo!
(SPECK, 2012).
O Bairro Jardim foi inicialmente desenvolvido por força da implantação de um parque industrial no
município de Santo André, condição facilitada pela existência da linha férrea que beira o Rio
Tamanduateí e as terras planas de várzea. Hoje, em decorrência da desativação das plantas
industriais de grande porte, o transporte pela ferrovia se destina ao fluxo de pessoas e não é mais
preferencial para as cargas. O tecido urbano cuja transformação é lenta, se mantém com os trechos
de quadras grandes consolidadas onde estavam as indústrias e quadras regulares destinadas a
outras atividades. Pairavam indústrias de grande porte hoje os terrenos vazios, alguns ainda com
galpões, aproveitados por empreendedores privados que visam os negócios imobiliários e
instalações para serviços, particularmente do segmento residencial. Decorre também a valorização
dos terrenos menores, antes residências térreas e sobrados, agora prédios residenciais pontuados
por comércio e serviços. Interesses que vão de encontro com a notória a atração de famílias para
148
habitar o bairro em estudo, por conta da sua localização privilegiada na cidade. Destacam-se no
bairro o Parque Celso Daniel, o Shopping Grand Plaza, boas escolas da rede pública e privada e duas
vias que atravessam e são parte da definição do setor, a Avenida Dom Pedro II e a Avenida
Industrial, figura 9-1.
Na figura 1A, se observam as glebas da extensa quadra acompanhando a ferrovia. Em 1B, o trecho
do primeiro plano da foto, ainda de predominância horizontal e a seguir as quadras verticalizadas.
As transformações do sistema viário relativamente pequenas, não afetam o traçado das quadras
assim se mantendo a retícula original. Neste processo, a quantidade de habitantes aumenta e o uso
do solo é modificado; a forma dos lotes nas quadras existentes e o volume das construções, se
CORREDORES E SUBÁREAS - 149
transformam com rapidez. Aparecem arranjos novos agregando lotes no interior das quadras sem
a alteração do seu perímetro. Sobre a planta do bairro foi escolhido o perímetro do setor pelas vias
que atravessam e a subdivisão em oito subsetores, figura 9-2.
Os procedimentos de análise aplicados subentendem o setor como uma porção do tecido urbano
delimitado por vias e no caso em estudo o setor tem a superfície de 127 ha. O estudo do sistema
viário coloca em evidência as vias que atravessam e as vias de distribuição resultantes da análise
relativa de sua hierarquia. A área ocupada pelas vias é de 28 hectares. No estudo leva-se em
consideração questões como: fluxo, largura da rua e principalmente sua extensão. A partir destes
parâmetros, é possível identificar as ‘vias que atravessam’ e as ‘vias que distribuem’. Quatro vias
que atravessam (Av. Prestes Maia, Av. Industrial, Viaduto Antônio Adib Chammas e Rua das
Figueira), definem o contorno da área-estudo formando um grande retângulo. Uma quinta via
(Avenida Dom Pedro II) que atravessa longitudinalmente pelo meio do setor serviu para a divisão
em setores. No sentido transversal se considerou vias de distribuição que a realidade as mostra
configurarem o viário principal formando retângulos que variam de 600 a 1.000 m e lembram as
quadrículas grandes, com a separação do tráfego de passagem, da cidade de Milton Keynes. Destas
decisões para subdividir o setor em estudo, resultaram oito subsetores.
Nas quadras subdivididas em lotes pequenos – 75 a 250 m² – e médios até 500 m², no traçado
original eles se destinavam às residências. Muitas casas foram construídas e o tempo fez com que
150
se adaptassem para comércio e serviços, e, é comum na parte detrás dos lotes haver uma edícula
antes separada e hoje emendada ao bloco principal. Lotes justapostos são utilizados para
construções maiores como estabelecimentos comerciais, alguns baixos - loja no térreo e acima mais
dois pavimentos para moradia ou escritórios - outros, em altura para residências ou escritórios,
apresentando ou não comércio no térreo. Como construções maiores se identificam os conjuntos
de edifícios altos em lotes agregados para constituir um maior. As transformações produzem uma
interessante variação volumétrica na quadra, reforçada pelo atendimento a diretrizes para os
recuos das edificações solicitadas pela prefeitura do município. A legibilidade da face da rua onde
isto acontece ganha em complexidade, entendida no contexto pouco exigente em relação aos
elementos urbanos exigidos pela nossa sociedade. Quatro exemplos da relação das edificações com
as vias aparecem na figura 9-3. Em 3A, quadra pertencente a uma via que atravessa e se transforma,
mostrando construções antes residências de alto padrão no corredor, hoje transformadas para
comércio e serviços e prédios residenciais cujo acesso é pela via de trás, onde há menos trânsito.
Em 3B, na via que atravessa, comércio no térreo e escritórios em cima. Em 3C, transformação lenta
em via local, sem substituição das partes existentes, Em 3C, uma via local onde foi construído um
edifício alto.
CORREDORES E SUBÁREAS - 151
O estudo dos tipos leva em consideração a importância de cada via, com respeito a cidade e quanto
ao subsetor estudado. Assim, uma via que distribui o trânsito pode ser considerada via que
atravessa, quando analisada no âmbito de um subsetor. Há tamanho de lotes variados em faixas
lindeiras de um corredor. No Bairro Jardim se destaca o lote do parque, que pertence a dois
corredores que atravessam, além de outros lotes que aumentam a mancha do corredor (indústrias)
em contraste com os lotes de pequena profundidade dos corredores associados às vias cujas
quadras apresentam os lotes típicos, figura 9-4.
152
As quadras do setor em estudo podem ser representadas em forma de diagrama e suas dimensões
se destacam por este meio. Total de cinquenta e oito quadras que perfazem 99 ha.
A primeira parte desta investigação se refere à ocupação do espaço físico em planta, às vezes, se
recorrendo a volumetria apenas para verificar aspectos particulares da sua projeção horizontal. A
seguir, uma planta mostra os espaços que deveriam estar livres (desocupados) referentes aos
recuos frontais das edificações, somados a largura das vias. Ou seja, o diagrama mostra em branco
as faixas correspondentes a soma das vias mais os recuos, ressaltando em preto a porção das
quadras onde se pode construir. Em uma simulação, se a área resultante dos recuos exigidos de
cinco metros para as vias que contornam uma quadra de 10.000 m² for reduzida do total da quadra,
o espaço livre resultante será de 8.100 m². Deste número deverá se suprimir a área resultante da
obrigatoriedade de recuos laterais, de fundos e eventuais restrições adicionais para a garantia da
insolação e ventilação de cada edificação. No diagrama se simulou as vias - calçada mais a faixa de
rolamento - se adotando como média 16 m de largura, somado aos cinco metros de recuo em cada
lado, figura 9-5.
CORREDORES E SUBÁREAS - 153
Em adição ao diagrama das quadras é interessante considerar outro para mostrar a projeção
horizontal das edificações, seguindo o roteiro usualmente recomendado para os trabalhos de
Morfologia Urbana. Este tipo de diagrama anuncia o estudo do tecido urbano, que deverá ser
complementado e ajustado em função de dados do local, figura 9-6.
Por meio da técnica figure ground, é possível destacar a forma da projeção de cada edificação e em
consequência avaliar o contraste com relação às áreas livres, fundo em branco. No Bairro Jardim
durante a realização deste estudo foi possível compreender a diferença entre as ocupações
consolidadas através de pequenas edificações em contraste com as novas de maior projeção
horizontal, as construções irregulares e os ditos ‘puxadinhos’ típicos da nossa cultura de
permissividade.
154
Modo geral estas são construções de edifícios em altura que utilizam uma parte significativa da
superfície do lote para a garagem, cuja laje de cobertura é para ser entendida como um ‘sobressolo’
ajardinado e distribuidor do movimento das pessoas para o acesso a diferentes blocos do
condomínio. Existem as edificações de baixo gabarito com grande projeção horizontal como os
supermercados, revendedoras de veículos e ginásios de esporte, escolas e hospitais, que aparecem
no figure ground ocupando uma projeção horizontal expressiva. Nas fotos a seguir se pode observar
algumas características das relações público-privado comuns no Bairro Jardim e repetitivas na
região de São Paulo, figura 9-7. Em figura 7A, observar o muro do condomínio, a parede da garagem
em segundo plano e em seguida o prédio. Em 7B, uma via de distribuição com casas recuadas e
grades.
Quanto ao tamanho dos lotes a predominância é daqueles entre 250 m² e 1.000 m², no total de
setenta lotes (total aferido 41.242 m²); os lotes entre 1.001 a 2.500 m² vêm em seguida sendo
dezesseis no total (23.279 m²), seguidos por um lote maior de 2.501 m² e quatro lotes no total de
68.783 m².
Os terrenos vazios são em maioria utilizados para estacionamento, visto que a área apresenta
grande atividade comercial e de serviços, figura 9-8. Em 8A, lote de área grande na espera por
empreendimento privado. Em 8B, estacionamento sempre que houver lotes disponíveis.
Classificamos as quadras três dimensões, as ‘pequenas’ medindo de 0 a 7.500 m² destacadas na
figura em cor clara, as quadras ‘médias’ de 7.500 m² à 12.500 m² em tom intermediário e as quadras
‘grandes’ maiores que 12.500 m², na tonalidade escura, figura 9-9.
Quadra de estudo
Para o que se pretende demonstrar através do estudo das quadras retangulares, selecionamos no
Bairro Jardim uma quadra para servir como referência. Trata-se de consolidar ideias que vimos
ensaiando no correr do estudo, sobre a flexibilidade e as possibilidades para transformação que as
quadras retangulares apresentam. Chamamos esse tipo de ‘quadra tradicional’, seja em
Manhattan, em Fortaleza ou em São Paulo.
Depois da certeza de estar razoavelmente familiarizado com o Bairro Jardim, selecionamos uma
quadra de referência que pudesse expressar as questões ligadas a transformação dos lotes e de sua
volumetria. Ela se localiza no setor 8, entre as vias Avenida Dom Pedro (na foto à direita), Rua das
Caneleiras (abaixo), Rua das Aroeiras (a esquerda) e Alameda Gaspar Nogueira (uma das vias
laterais do Parque Celso Daniel), figura 9-10.
Com dimensão de 130 por 110 m (área 14.300 m²) a quadra retangular foi inicialmente desenhada
para lotes residenciais, as construções seguiram os recuos frontais de acordo com as diretrizes
oficiais e o gabarito ficou entre um e dois pavimentos. Há lotes de 300 m² (10x30 m), o que chama
atenção para que o público-alvo do loteador era da classe média (talvez, o pessoal administrativo
de empresas). A quadra foi subdividida inicialmente em módulos de 10 m no sentido da lateral de
130 m e nos outros lados foram desenhados lotes maiores. Nas laterais de 100 m lotes os tem
profundidade de 65 m (talvez para galpões), e, pela foto atual se percebe as subdivisões que
restaram no miolo da quadra. Voltado para a Rua das Caneleiras há um edifício residencial de torre
única com vinte e um pavimentos mais o térreo, isolado no lote com recuo frontal de cinco metros
e significativo recuo em uma das laterais. Vizinho ao prédio há um lote (2.162 m²) - dois lotes
agregados por um único proprietário - que possui acesso por duas ruas e hoje utilizado para
estacionamento, com certeza, na espera de um grande empreendimento. Os lotes voltados para a
avenida Dom Pedro II sofreram as mudanças de uso esperadas para um ambiente de passagem de
forte vocação comercial, agora com adaptações para estabelecimentos comerciais (restaurantes e
outros), mas, de potencial para verticalização, figura 9-11.
Em 11A aparece a Rua das Caneleiras com o edifício de 21 pavimentos, em 38B a Rua das Aroeiras
ao fundo a Rua das Caneleiras, em uma vista que hoje é possível por haver apenas um edifício na
quadra, que foi uma das razões da seleção desta quadra para o estudo.
158
CORREDORES E SUBÁREAS - 159
CONCLUSÃO
Entenda a trama da cidade para projetar suas partes
época resultaram desenhos interessantes, sem muita preocupação com a propriedade da terra, de
manutenção das áreas, de políticas públicas abertas para viabilizar o projeto urbano. Neste sentido
Cerdá em Barcelona teve melhor resultado trabalhando com maior abertura da quadra, sugeriu
diretrizes urbanísticas simples, apesar das questões que levantamos sobre a rigidez do desenho que
induziu alterações, devido à necessidade haver de lotes estreitos e eliminar o pátio central onde a
renda das famílias fosse pequena.
Trabalhamos o princípio de que a quadra tradicional possibilita diversas configurações e alterações
do seu parcelamento, razão da permanência e da obtenção de maior complexidade nos espaços
quando acompanhada por diretrizes edilícias nascidas de um bom conceito para o projeto urbano.
As possibilidades decorrem do parcelamento da quadra em lotes, com frente pequena nas
implantações mais antigas, quase sempre pensados no formato residencial, fato que hoje em dia
facilita os agrupamentos requeridos para empreendimentos de maior porte.
Acreditamos que o planejamento urbano resulta do entendimento da região e vai chegando até o
bairro, mas, o oposto é válido e muito instrutivo, pois segmentos de bairro e comunidades
localizadas podem oferecer informações sobre os lotes e arranjos de espaços para o projeto
urbano. São a fonte geradora para ideias originais de planejamento e projeto urbano.
Nas cidades apontadas como sustentáveis, por exemplo, Portland - EUA, que se notabilizou pelo
constante cuidado com fatores de sustentabilidade, o traçado dos seus setores foi projetado em
malha ortogonal numa época em que tal atributo era pensado pelo seu lado prático. Característica
que facilitou a implantação pioneira do sistema Transit Oriented Development, T.O.D, hoje
difundido mundialmente. Outro exemplo é Milton Keynes, cidade apresentada por ser um caso em
que se espelha o entendido como uma situação ideal para organizar os espaços urbanos através da
mobilidade. As vias que atravessam formam uma malha que favorece o estabelecimento de áreas
de vizinhança segundo o ideal da neighborhood bem equilibrada e um centro de cidade fácil de
acessar, de uso diversificado incluindo habitações. Trazendo o conceito para a trama tradicional de
São Paulo, poderia se dizer que a ideia de vizinhança projetada para Milton Keynes tem sua
contrapartida nas áreas protegidas, conforme conceituamos, pois elas apresentam: circulação
local, uso misto e áreas livres bem distribuídas. Ou seja, em alguns distritos de São Paulo se pode
selecionar trechos do tecido urbano, como o dos exemplos citados, com potencial para serem
redesenhados como áreas protegidas.
O Novo Urbanismo trouxe o interesse para a retomada do tecido urbano tradicional em projetos
novos. Nos EUA, para localizações de subúrbio ou em vazios urbanos, mostrou a vantagem da maior
densidade de ocupação do solo e o consequente adensamento populacional. O projeto do bairro
CORREDORES E SUBÁREAS - 161
Seaside espelha este padrão, com suas quadras retangulares e os cortes em diagonal típico do
urbanismo tradicional. Representa a procura necessária e indispensável para agregar no projeto os
aspectos ambientais e da ecologia, como questões de base para o Urbanismo desde suas etapas de
planejamento, elaboração de planos e projetos.
Na cidade tradicional se encontra a ordenação do traçado ditada pela história, pela lógica (às vezes
falta dela) de crescer por pequenos incrementos, pelas fissuras impostas por obras viárias de
grande porte ou pela implantação dos condomínios fechados, sejam residenciais, institucionais ou
industriais. Chega-se assim a São Paulo, palco de nossos estudos sobre a forma dos tecidos urbanos
onde a realidade atual é a matéria prima, se dispõe da história da cidade e dos tantos projetos que
deram sentido à sua arquitetura. Pelo estudo desta cidade consolidamos o procedimento para
entender os traçados urbanos com base nas vias que atravessam, nas vias que distribuem e nos
movimentos em direção às vias locais. Os conceitos de setor, corredor e de subárea foram
derivados da observação de como as pessoas se apropriam do solo acessível segundo as três
categorias de vias. São Paulo apresenta um conjunto de tecidos urbanos influenciados pela lógica
socioeconômica e política; não seguindo completamente as regras impostas por planos diretores
elaborados e reelaborados em períodos relativamente grandes, sob a responsabilidade de órgãos
oficiais. O planejamento é que vai se desenvolvendo para consolidar as tendências engendradas
pela realidade.
Os planos são conservadores, consolidam, ampliam ou reduzem zonas de uso e ocupação do solo,
acompanham a inevitável tendência para a expansão do uso misto dos espaços; o zoneamento é
atualizado como instrumento da consolidação de tendências observadas na época do plano. Um
plano importante porque trouxe inovações quanto aos instrumentos de controle urbanístico,
inspirado em conceitos do T.O.D (Transit Oriented Development), se valeu da tendência
internacional para valorizar o sistema de transportes, estabeleceu políticas públicas para os
logradouros e teve um verniz de participação popular, foi o Plano Diretor Estratégico do Município
de São Paulo, PDE 2014. No entanto, ainda não há abertura para os projetos de área localizadas do
tipo - special districts - que necessitam a participação igualitária entre público e privado. Na cidade
de São Paulo existem espaços pequenos, subsetores, de predominância residencial ou de uso misto
que se prestam para este tipo de intervenção, as áreas protegidas descritas no capítulo 4, para as
quais demos destaque, além de outros que podem ser apresentados por grupos privados de
interesse no mercado imobiliário.
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CORREDORES E SUBÁREAS - 163
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