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Para ter direito aos benefícios da Previdência Social é preciso ter condição de

segurado ou dependente (como vimos na aulas anteriores) e ter cumprido a


carência para o benefício que se pretende receber dentro de outros requisitos
específicos. Mas o que é CARÊNCIA?

PERÍODO DE CARÊNCIA

Vem disposto na Lei 8213/91

Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes
períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26:

I - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez: 12 (doze) contribuições mensais;

II - aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições
mensais. (Redação dada pela Lei nº 8.870, de 1994)

III - salário-maternidade para as seguradas de que tratam os incisos V e VII do caput do art. 11 e o art. 13
desta Lei: 10 (dez) contribuições mensais, respeitado o disposto no parágrafo único do art. 39 desta Lei; e (Redação
dada pela Lei nº 13.846, de 2019)

IV - auxílio-reclusão: 24 (vinte e quatro) contribuições mensais. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019)

Parágrafo único. Em caso de parto antecipado, o período de carência a que se refere o inciso III será reduzido
em número de contribuições equivalente ao número de meses em que o parto foi antecipado. (Incluído pela Lei
nº 9.876, de 26.11.99)

Art. 27. Para cômputo do período de carência, serão consideradas as contribuições: (Redação dada pela
Lei Complementar nº 150, de 2015)

I - referentes ao período a partir da data de filiação ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), no caso
dos segurados empregados, inclusive os domésticos, e dos trabalhadores avulsos; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 150, de 2015)

II - realizadas a contar da data de efetivo pagamento da primeira contribuição sem atraso, não sendo
consideradas para este fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a competências anteriores, no caso dos
segurados contribuinte individual, especial e facultativo, referidos, respectivamente, nos incisos V e VII do art. 11 e no
art. 13. (Redação dada pela Lei Complementar nº 150, de 2015)

Art. 27-A Na hipótese de perda da qualidade de segurado, para fins da concessão dos benefícios de auxílio-
doença, de aposentadoria por invalidez, de salário-maternidade e de auxílio-reclusão, o segurado deverá contar, a
partir da data da nova filiação à Previdência Social, com metade dos períodos previstos nos incisos I, III e IV do
caput do art. 25 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)

Sendo o sistema previdenciário de caráter contributivo, é justificável a exigência do


cumprimento de carência para a obtenção de determinadas prestações, bem como
a dispensa da carência em outras, em razão da necessidade de manutenção do
equilíbrio financeiro e atuarial do sistema.

A carência tem definição legal (art. 24 da Lei 8213 e art. 26 do Decreto 3048/99): é
o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário
faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos
meses de suas competências.

É o período durante o qual o segurado contribui, mas ainda não tem direito a certas
prestações. Conta-se o período de carência a partir do transcurso do primeiro dia
dos meses de competência das contribuições pagas.

Exemplo: se o segurado paga a contribuição da competência fevereiro


no mês de março, conta-se o período de carência a partir do dia 1º de
fevereiro.

Atenção - Um dia de trabalho no mês vale como


contribuição (carência) para aquele mês, para qualquer
categoria de segurado obrigatório. Portanto, segurado
empregado teve por primeiro dia de trabalho o dia
29 de janeiro de 2015, e foi demitido em 3 de
dezembro de 2015. Para efeito de carência, ele possui
12 contribuições (de janeiro a dezembro), pouco
importando que tenha contribuído proporcionalmente a
poucos dias em janeiro (contratação) e dezembro
(demissão).

CUIDADO! Contagem de carência é diferente da


contagem de tempo de contribuição para efeito de
aposentadoria por tempo de contribuição (APTC)!

No exemplo dado,conquanto possua o segurado 12


contribuições para efeito de carência, para fins de APTC
seu tempo de trabalho é de apenas 10 meses
(de fevereiro a novembro de 2015) e 6 dias
(3 dias trabalhados em janeiro e 3 dias em
dezembro). Para se aposentar (homem, 35 anos de tempo
de contribuição), deverá trabalhar ainda 34 anos, 1 mês
e 24 dias.

Os prazos de carência estão discriminados no art. 25 do da Lei 8213/91 e no art. 29


do Decreto 3048/99.

Doze contribuições mensais: auxílio-doença (incapacidade temporária) e


aposentadoria por invalidez/incapacidade permanente.

Cento e oitenta contribuições mensais: aposentadoria por idade, aposentadoria


por tempo de contribuição e aposentadoria especial.
Na redação original do art. 25, o inc. II da Lei 8213/91 se referia à aposentadoria
por idade, à aposentadoria por tempo de serviço, à aposentadoria especial e ao
abono de permanência em serviço.

Com a extinção do benefício de abono de permanência em serviço, o inc. II foi


alterado pela Lei n. 8.870/94, passando a prever a carência de 180 contribuições
mensais para as aposentadorias por idade, por tempo de serviço e especial. A
aposentadoria por tempo de serviço foi extinta pela EC n. 20/98 e substituída pela
aposentadoria por tempo de contribuição.

Entretanto, a Lei 8213/91 continua com a mesma redação, fazendo referência à


aposentadoria por tempo de serviço.

Com a edição da EC n. 103/2019, as aposentadorias por idade e por tempo de


contribuição deixaram de ser coberturas previdenciárias para os segurados que
ingressarem no RGPS a partir de 13.11.2019, que deverão cumprir requisitos
cumulativos de idade mínima e tempo de contribuição para a aposentadoria
voluntária.

Porém, por muito tempo ainda, as regras antigas serão aplicadas porque a Reforma
da Previdência de 2019 garantiu o respeito ao direito adquirido, de modo que
aquelas regras devem ser estudadas para possibilitar o correto enquadramento do
caso concreto. Há regras de transição para as aposentadorias por idade e por
tempo de contribuição.

Há também regras de transição para os segurados inscritos no RGPS até


24.07.1991, bem como para o trabalhador e o empregador rural. O art. 142 do da
Lei 8213/91 estabelece uma tabela de períodos de carência nessas hipóteses,
levando em conta o ano em que foram cumpridas as condições necessárias ao
deferimento do benefício. Tudo isso porque antes de 1991 exigia-se uma carência
de apenas 60 meses e que foi alterada com a Lei 8213/91.

Dez contribuições mensais: salário-maternidade para a segurada contribuinte


individual, segurada especial e segurada facultativa (art. 25, III, com a redação da
MP n. 871/2019, convertida na Lei n. 13.846/2019). O inc. III do art. 25 foi
introduzido pela Lei n. 9.876/99. A contribuinte individual, a segurada especial e a
segurada facultativa devem cumprir carência de 10 contribuições mensais para
terem direito à cobertura previdenciária de salário-maternidade.

A segurada especial, a que se refere o inc. III, é aquela que contribui como
contribuinte individual, na forma do art. 39, II, do PBPS. Se o parto for antecipado, a
carência de 10 contribuições mensais será reduzida no mesmo número de meses
em que o parto se antecipou.
Exemplo: se o parto se antecipou em 2 meses, reduzem-se duas
contribuições mensais do período de carência, passando a ser, então,
de 8 contribuições mensais.

Se a segurada especial não contribui como contribuinte individual, aplicam-se as


regras do art. 39, parágrafo único, da Lei 8213/91: terá direito ao salário-
maternidade com renda mensal no valor de um salário mínimo, desde que
comprove o exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua, nos 10
meses imediatamente anteriores ao início do benefício.

Não se trata, então, de carência propriamente dita, cujo conceito está ligado ao de
contribuições previdenciárias que, no caso, não são pagas pelo segurado especial
que faz jus aos benefícios previstos no parágrafo único do art. 39 do PBPS(Plano
de Benefícios da Previdência Social – Lei 8213/91).

Para as seguradas contribuintes individual e facultativa, ao contrário do que ocorre


com a segurada empregada (que é dispensada, no caso, do cumprimento da
carência para o salário- maternidade) a exigência do cumprimento da carência
justifica-se para evitar que ingressem no sistema apenas para terem a cobertura
previdenciária do salário-maternidade, sem intenção de nele permanecer.

Vinte e quatro contribuições mensais (art. 25, IV, do Lei 8213/91): auxílio-
reclusão, benefício que NÃO DEPENDIA de carência até a edição da MP n.
871/2019, convertida na Lei n. 13.846/2019. Assim, a carência de 24 meses deverá
ser cumprida nas hipóteses em que o recolhimento do segurado à prisão ocorra a
partir de 18.01.2019.

CONTAGEM DO PERÍODO DE CARÊNCIA

■ Segurado empregado ■ A partir da data da filiação ao RGPS


■ Segurado empregado doméstico
(LC n. 150/2015)
■ Segurado trabalhador avulso

■ Segurado contribuinte individual ■ A partir da data do recolhimento da


■ Segurado facultativo primeira contribuição sem atraso
■ Segurado especial que contribui
como contribuinte individual

Os segurados empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual têm a seu


favor a presunção que decorre do § 4º do art. 26 do Decreto 3048/99 no que tange
ao cômputo do período de carência. A presunção beneficia também o empregado
doméstico, principalmente após a edição da Lei Complementar n. 150/2015. Cabe
ao empregador o recolhimento das contribuições do segurado empregado, inclusive
o doméstico, e do trabalhador avulso. Considera-se, então, presumido o
recolhimento porque é feito pelo empregador.

A partir da competência abril/2003, essa presunção também favorece o contribuinte


individual quando as contribuições são dele descontadas pela empresa à qual
prestar serviço. Esse dispositivo decorre do art. 216, I, a, do Decreto 3048.

Para os segurados contribuinte individual, facultativo e segurado especial — desde


que recolha como contribuinte individual ou facultativo (art. 200, § 2º, do Decreto
3048/99) — o período de carência é computado a partir da data do efetivo
recolhimento da primeira contribuição sem atraso. Contribuições anteriores
recolhidas com atraso não são consideradas para efeito de carência.

Para o segurado especial, que não esteja inscrito no sistema como contribuinte
individual, insistimos, não há comprovação de carência, mas, sim, de efetiva
atividade rural. Para o RPS (art. 28, § 1º), esse período é comprovado na forma do
seu art. 62, que traz extenso rol de documentos hábeis à comprovação da atividade
rural. Porém, a partir de 1º.01.2023, a comprovação será feita, exclusivamente,
pelas informações constantes do CNIS (art. 38-A e 38-B da Lei n. 8213/91).

DISPENSA DO PERÍODO DE CARÊNCIA

Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:

I - pensão por morte, salário-família e auxílio-acidente; (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)

II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de
doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de
alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência
Social, atualizada a cada 3 (três) anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou
outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado; (Redação dada
pela Lei nº 13.135, de 2015)

III - os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39, aos segurados especiais referidos no inciso VII do
art. 11 desta Lei;

IV - serviço social;

V - reabilitação profissional.

VI – salário-maternidade para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e empregada


doméstica. (Incluído pela Lei nº 9.876, de 26.11.99)

O sistema previdenciário é eminentemente contributivo, o que faz com que a regra


geral seja a do cumprimento de carências. Há situações em que a cobertura
previdenciária é devida sem que a carência seja cumprida.
São as hipóteses taxativamente enumeradas no art. 26 da Lei 8213/91, e art. 30 do
Regulamento da Previdência Social RPS – Decreto 3048/99, em que o
cumprimento da carência é dispensado, tal como acontece no campo dos seguros
privados.

MEMORIZE

A Lei n. 8.213, de 1991,art. 26, dispensa o requisito


da carência nos casos de: (1) pensão por morte; (2)
(2) salário-família; (3) auxílio-acidente; (4) auxílio-doença e
aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e
de doença profissional ou do trabalho; (5) benefícios do segurado especial (6)
reabilitação profissional; (8) serviço social (9) salário-maternidade,
para as seguradas: empregada, trabalhadora avulsa e
empregada doméstica

a) Pensão por morte, salário-família e auxílio-acidente.

Na redação original do inc. I do art. 26, estavam incluídos a pensão por morte, o
auxílio-reclusão e os pecúlios. Estes últimos foram excluídos do inc. I pela Lei n.
9.876/99. A pensão por morte e o auxílio-reclusão foram excluídos pela MP n.
664/2014 a partir de 1º.03.2015. Porém, nessa parte, a MP n. 664 não foi
convertida em lei, de modo que a pensão por morte e o auxílio-reclusão
continuaram sendo benefícios que independiam de carência. Porém, o dispositivo
foi modificado pela MP n. 871/2019, que passou a exigir carência também para o
auxílio-reclusão. O salário-família e o auxílio-acidente são benefícios pagos ao
segurado.

b) Auxílio-doença (incapacidade temporária) e aposentadoria por


invalidez/incapacidade permanente nos casos de acidente de qualquer
natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como
quando concedidos em razão das patologias elencadas no inc. II do art. 26 do
PBPS-8213/91 e do inc. III do art. 30 do RPS-Decreto 3048/99.

A regra para a concessão do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez é a


exigência de carência de 12 contribuições mensais. Porém, a lei enumera
taxativamente as hipóteses em que esses benefícios são concedidos
independentemente do cumprimento de carência, restritas às hipóteses de a
contingência se originar: de acidente de qualquer natureza ou causa, de doença
profissional ou do trabalho, de doenças especificadas em lista ministerial oficial,
desde que acometam o segurado após sua filiação ao RGPS.

Atualmente está em vigor a Portaria Interministerial MPAS/MS n. 2.998, de


23.08.2001, que relaciona as doenças ou afecções que excluem a exigência de
carência para a concessão de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez aos
segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS): tuberculose ativa;
hanseníase; alienação, mental; neoplasia maligna; cegueira, paralisia irreversível e
incapacitante; cardiopatia grave; doença de Parkinson; espondiloartrose
anquilosante; nefropatia grave; estado avançado da doença de Paget (osteíte
deformante); Síndrome da Deficiência Imunológica Adquirida (AIDS); contaminação
por radiação, com base em conclusão da medicina especializada; e hepatopatia
grave.

O acidente de qualquer natureza ou causa está definido no parágrafo único do art.


30 do Decreto 3048/99: é aquele de origem traumática e por exposição a agentes
exógenos (físicos, químicos e biológicos), que acarrete lesão corporal ou
perturbação funcional que cause a morte, a perda ou a redução permanente ou
temporária da capacidade laborativa.

c) Benefícios concedidos aos segurados especiais, no valor de um salário


mínimo (art. 39, I, do PBPS).

Os benefícios garantidos aos segurados especiais, independentemente do


PAGAMENTO de contribuições, são os relacionados no art. 39, I, do PBPS:
aposentadoria por idade, aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, auxílio-
reclusão, pensão por morte, e auxílio-acidente (a partir da Lei n. 12.873/2013, na
forma do art. 86 do PBPS-Lei 8213/91), todos com renda mensal igual a um salário
mínimo. Os segurados especiais estão dispensados do cumprimento de carência
quando se trata dos benefícios de valor mínimo assegurados no inc. I do art. 39,
porque não estão obrigados a contribuir. Porém, para ter direito a esses benefícios,
devem comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma
descontínua, pelo período correspondente ao da carência do benefício. O exercício
da atividade na verdade funciona como uma “carência”, mas não no sentido estrito
de contribuição.

Período de atividade rural anterior à competência novembro de 1991 - Na vigência


da legislação anterior ao advento da Lei n. 8.213/91, o trabalhador rural não era
segurado obrigatório do RGPS, a não ser quando submetido ao regime celetista. O
Regime Geral de Previdência Social foi criado pela Constituição Federal de 1988 e
instituído pela Lei n. 8.213/91 com caráter eminentemente contributivo, que não
permite sejam computados como tempo de contribuição períodos em que o
trabalhador rural não participava do custeio. A proibição está expressa no art. 55, §
2º, do PBPS-8213/91, e no art. 26, § 3º, do RPS-Decreto 3048/99. Embora seja
permitido computar o tempo de serviço rural anterior ao PBPS, não é possível
contá-lo para efeitos de carência.
d) Salário-maternidade para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e
empregada doméstica.

As seguradas empregada, trabalhadora avulsa e empregada doméstica têm em seu


favor a presunção de que seu ingresso no sistema previdenciário tem ânimo
definitivo e não o intuito de cobertura apenas para a contingência maternidade,
ficando preservado o equilíbrio financeiro e atuarial do RGPS.

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