Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bibliografia
Dissertação (Mestrado) – Universidade
Cidade de São Paulo - Orientadora: Profª.
Dra. Ecleide Cunico Furlanetto.
_____________________________
Profa. Dra. Ecleide Cunico Furlanetto
(Universidade Cidade de São Paulo – UNICID)
_____________________________
Profa. Dra. Margaréte May Rosito Berkenbrock
(Universidade Cidade de São Paulo – UNICID)
_____________________________
Prof. Dr. José Carlos Victorino de Souza
(Centro Universitário Módulo – Grupo Cruzeiro do Sul)
COMISSÃO JULGADORA
4
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. José Carlos Victorino de Souza, por fazer parte de um momento
tão importante de minha vida profissional e pela valiosa contribuição no exame de
qualificação. Nossas vidas não se cruzaram por acaso e hoje posso chamá-lo de
amigo.
Maria Georgina.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................13
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................73
REFERÊNCIAS.......................................................................................................76
ANEXOS ................................................................................................................83
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1
PERFIL DOS ENTREVISTADOS ......................................................................56
QUADRO 2
REDE SIMBÓLICA.............................................................................................60
10
Resumo
Abstract
Introdução
“Se o primeiro contato do homem com a comida foi por um impulso de
sobrevivência, hoje essa relação contém aspectos técnicos e simbólicos que
reproduzem valores, costumes e crenças de quem come. Ingredientes e modos de
fazer definem sabores e aparências que se tornam referenciais de uma
sociedade”. (Verônica Ginani, mestre em Nutrição pela UnB).
Relatos nos mostram que o homem cozeu seus alimentos muito antes da
descoberta do fogo, fazendo uso de fontes termais. Segundo Franco, “o homem teria
cozido caça em tais fontes de calor, numa tentativa bem sucedida de devolver-lhe a
temperatura e sabor de presa recém-abatida”.(2001, p. 17)
Após essa descoberta, o homem pôde caçar e cozer no fogo. Para cozinhar,
foi necessário desenvolver utensílios em que os alimentos fossem preparados e
dessa forma começaram a surgir as panelas de pedra e barro. Segundo Leal, “as
vasilhas possibilitavam ferver os líquidos e manter os sólidos em temperatura
constante”. (1998, p.19)
A história da alimentação sofreu muitas mudanças, pois até o século XIX, era
relatada e confundida com a história de alguns alimentos, de forma individualizada.
Portanto, segundo Carneiro, “o gosto diferenciado é o que caracteriza os diferentes
povos e as diferentes épocas de uma mesma cultura”. (CARNEIRO, 2003, p. 124)
O primeiro relato fiel sobre gastronomia data de 1825 e foi escrito por Jean
Anthelme Brillat Savarin, advogado, escritor e gourmet com o título original em
francês Physiologie du Goût, editada dois meses antes de sua morte, traduzido para
o português como Fisiologia do Gosto.1 O autor visava a ordenar harmonicamente
1
Jean Anthelme Brillat-Savarin (1755 – 1826) foi um dos mais famosos gastrônomos franceses de
todos os tempos. Nasceu na cidade de Belley e dedicou-se nos primeiros anos da sua vida ao estudo
do direito, química e medicina, em Dijon, tendo chegado a praticar advocacia na sua cidade natal.
20
os festins. Ofereceu uma série de normas práticas de como proceder para que uma
refeição fosse perfeita.
Savarin tomou como base para seus relatos a gastronomia que foi
desenvolvida nos séculos anteriores e associou ao conjunto de saberes que
desenvolveu sobre a importância do gosto no ato de cozinhar e de se alimentar.
A cozinha da Idade Média era muito luxuosa, porém seus ingredientes eram
simplesmente sobrepostos, não havendo preocupação com as combinações
saudáveis. O importante era como os pratos seriam apresentados, os alimentos que
o compunham não tinham relevância.
Foi na França que, em 1533, Catarina de Médici, uma italiana, casou-se com
o rei Henrique II, tornando-se dessa forma rainha. Ao se mudar para França, levou a
tradição culinária de sua família. Nesse momento, nasceu a gastronomia como
Considerado por muitos como “o pai da dieta baixa em hidrocarbonetos”, Brillat-Savarin é o autor de
frases famosas (“Diz-me o que comes, dir-te-ei quem és” e “a descoberta de uma nova receita faz
21
modelo que perdura como modelo até os dias atuais. Ainda hoje, ninguém estuda,
aprende e ensina gastronomia sem se remeter às técnicas da culinária francesa que
vêm sendo desenvolvidas a partir do século XVI.
mais pela felicidade do gênero humano do que a descoberta de uma estrela”, que constam em sua
obra)
2
Conhecido como "cozinheiro dos reis e rei dos cozinheiros”. Tornou-se conhecido pela simplificação
e codificação do estilo de culinária chamado haute cuisine, a chamada Alta Gastronomia Francesa,
que é o centro da culinária da França. A relevância de Carême na gastronomia deu-se tanto na
prática, quanto na teoria. Credita-se a ele a criação do tradicional chapéu de chef, o “Toque”.
Criou novos molhos e pratos, publicou uma classificação de todos os molhos em grupos, baseado em
4 molhos básicos.
3
Auguste Escoffier ficou conhecido por ter revolucionado os métodos tradicionais da culinária
francesa, tendo sido um dos maiores expoentes da chamada cozinha francesa moderna.Muitas foram
as contribuições de Escoffier para o mundo gastronômico, além das muitas receitas que inventou,
organizou as suas cozinhas por seções onde cada uma era comandada por um chef de partier, além
de ter introduzido o conceito de serviço à russa, servindo um prato de cada vez segundo a ordem do
menu, contrariando o comum serviço à francesa onde os pratos eram servidos todos ao mesmo
tempo.
4
filósofo francês, idealista e socialista utopista, diz que uma sociedade se basta com os prazeres da
comida.
22
Todos nós comemos para muito além do cumprimento de uma função físico-
23
para estreitarmos a relação ser humano e alimento. A estética do gosto deve ser
entendida como parte da experiência gustativa de vida, relacionada à influência
cultural.
Podemos nos alimentar sob vários enfoques, pensando que vivemos na era
das singularidades:
3. Político: como é o caso dos alimentos orgânicos: consumo por crer que esse
tipo de alimento salvará o planeta;
4. Filosófico: vão muito além do aspecto religioso, alimentos que fazem bem ao
espírito;
Rubem Alves, em uma crônica, diz que se fosse arquiteto, suas casas seriam
planejadas em torno da cozinha. A sala de estar, jantar, livros, tevê, som, a
paisagem, tudo num enorme espaço em torno da cozinha. Alimentamo-nos não só
de alimento, mas também dos espaços divididos com os convivas e com suas
experiências de vida. Para Savarin (1995) “a mesa é o único lugar onde nunca se
sente tédio durante a primeira hora”. (SAVARIN, 1995, p.15)
O comportamento humano está ligado ao bom gosto, bom gosto também pela
comida e isso envolve todos os sentidos. Sentidos físicos e culturais ligados à
estética do gosto. Como relata Franco (2001), “o gosto é, portanto, moldado
culturalmente e socialmente controlado”. (FRANCO, 2001, p.24)
Todo esse trajeto desde que o homem dominou o fogo, passando pelos
alimentos crus, depois cozidos até a globalização com a imigração de alimentos, é
que denominamos tradições gastronômicas.
Após sua criação, observa-se que foi percorrida uma longa caminhada
direcionada por leis, pareceres e decretos que legitimaram o processo de
28
permite uma redução de tempo na formação assim como suas matrizes curriculares
vão ao encontro das diferentes formações, condizentes com o mercado de trabalho.
dessas instituições.
A partir dos anos 90, a Gastronomia entrou no Brasil pelas mãos de chefes de
cozinha oriundos da Europa, mais especificamente da França, que vinham ao Brasil
em busca de novos desafios, como explorar produtos brasileiros, principalmente as
frutas da Amazônia e Nordeste. Nesse período, os saberes culinários, apesar de
apreciados, eram desvalorizados pela sociedade brasileira. Aqui não existia mão de
obra qualificada para atuar nesse mercado que cada vez mais se tornava exigente,
profissional e glamouroso.
Como a Gastronomia era uma profissão bem vista e bem remunerada fora do
Brasil, e havia mercado de trabalho, não demorou para que ela passasse a ser mais
bem reconhecida no Brasil.
Dessa forma, foi regulamentada essa profissão que cresce a cada dia no
território nacional, respaldada pelo investimento no setor turístico o que faz com que
os cursos de graduação em gastronomia sejam bastante procurados, apesar de
ainda estarem em fase de consolidação. O mercado está crescendo muito e procura
por profissionais competentes para atender suas demandas.
34
A partir dos anos 30, após a revolução industrial, surgem as demandas por
uma educação pública que exigiram do Estado cumprir seu papel de educador, fato
já ocorrido na Europa no final do século XIX. Educação e escola passam a ser
entendidos a partir dos parâmetros dos ideais democráticos. Neste contexto, a
educação e a escola passam a ser elementos potencializadores do desenvolvimento
do país. O ensino primário é colocado ao alcance das classes populares, cujo
objetivo era oferecer um ensino de qualidade e, conseqüentemente, necessitava de
37
5
Plano de Desenvolvimento Institucional: instrumento de planejamento e gestão que considera a
identidade da IES, no que diz respeito a sua filosofia de trabalho, a missão a que se propõem as
diretrizes pedagógicas que orientam suas ações, a sua estrutura organizacional e as atividades
acadêmicas que desenvolve e/ou pretende desenvolver.
6
Projeto Pedagógico Institucional: constitui-se em um documento construído com a participação da
comunidade acadêmica, que explicita a visão política, filosófica e metodológica que a instituição
assume diante do compromisso com o Ensino, a Pesquisa e a Extensão
40
7
Projeto Pedagógico de Curso: instrumento de concepção de ensino e aprendizagem de um curso.
41
Diante deste cenário, fica claro que a docência se faz ao longo da vida em
diversos contextos sociais. Para Tardif (2002), “... um professor é, antes de tudo,
alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber a
outros.” (TARDIF, 2002, p.31).
Autores como Mizukami (1996), Nóvoa (1992), Isaía (2003) são alguns dos
estudiosos que contribuem nas discussões da temática de formação docente.
Para Tardif (2002), a relação dos professores com os saberes é mediada pelo
trabalho, pela experiência vivida no seu dia a dia, enquanto Severino e Pimenta
(2002) afirmam que ser professor exige uma série de conhecimentos para poder
enfrentar situações incertas, conflituosas, violentas existentes nos espaços
escolares. Pimenta (2002, p.40) ainda defende que o “trabalho docente se constrói e
se transforma no cotidiano da vida social”, para tal pensa-se que o trabalho docente
abarque um cenário geral, além da docência.
cultura e sim ser produtor de sua própria aprendizagem. Para isso é necessário que
esse sujeito se conheça e vivencie processos de ampliação dessa consciência. Isso
implica em vasculhar lugares de que emergem conteúdos significativos e que
provocam emoções que transpassam a própria consciência.
Segundo Tardif (2002), o trabalho docente não é uma prática social por causa
da interação com os alunos, mas porque reflete a cultura e o contexto social ao qual
se inserem, portanto conhecimento pedagógico é importante, mas não pode ser o
único.
“Um professor de profissão não é somente alguém que aplica
conhecimentos produzidos por outros, não é somente um agente de
determinados mecanismos sociais, mas é um ator, sujeito que assume sua
prática e possui conhecimentos e um saber-fazer provenientes de sua
própria prática”. (TARDIF, 2002, p. 230)
Pensamos no sujeito como um ser que tece e é tecido pela história e, ao viver
esses movimentos, atribui sentidos para eles.
Furlanetto (2002) relata que “um símbolo pode ser uma idéia, uma emoção,
um acontecimento ou um objeto que, além de seu significado literal, possui outros
significados ocultos e até mesmo inconscientes”.
Conta-se que, na antiga Grécia, era comum cortar ao meio uma moeda ou outro tipo
de objeto e dar uma parte a um amigo ou hóspede. Conservadas as metades por
tempos indeterminados, era comum reconhecer os descendentes. Na realidade, as
metades colocadas juntas designavam um reconhecimento de um pelo outro.
Aquilo a que nós chamamos de símbolo pode ser um termo, um nome ou até
uma imagem familiar na vida diária, embora possua conotações específicas além de
seu significado convencional e óbvio. Assim, uma palavra ou uma imagem é
simbólica quando implica alguma coisa além de seu significado manifesto e
imediato. Essa palavra ou imagem tem um aspecto inconsciente mais amplo que
não é nunca precisamente definido ou plenamente explicado.
Para Jung existe uma diferença entre signo e símbolo, o primeiro é algo que
pode ser usado no lugar de uma outra coisa, portanto possui uma função
substitutiva. Um símbolo, por sua vez, não substitui algo, ele destaca-se do pano de
fundo da vida por receber projeções que fazem com que ele demande ser
compreendido, nesse sentido sua função é formativa e transformativa.
8
Simplesmente Martha (2001). Martha é uma chef de cuisine, alemã, perfeccionista, que se refugia
na arte culinária para fugir do mundo externo e do convívio com as pessoas. De repente, por uma
fatalidade do destino, ela se vê tendo que dividir seu tempo entre o restaurante onde trabalha e uma
sobrinha de 8 anos.
6 A Festa de Babette (1987). Babette é uma mulher francesa que vai viver em uma pequena cidade
dinamarquesa, onde cuidará de casal de velhos, limpar a casa e cozinhar. E é cozinhando que ela se
sai melhor, preparando grandiosos banquetes.
10
Ratatouille (2007) Conta a história de Rémy, um rato vivendo em Paris, que sonha em se tornar
um chefe de cozinha.
11
Vatel. Um banquete para o rei (2000). Vatel é a história de um cozinheiro (François Vatel)
extraordinário que, por causa de seu talento e grande sucesso, vivia entre dois mundos – em um
purgatório entre o campesinato e a realeza. De qualquer forma, quando Vatel percebe a corrupção da
corte e a traição de seu Príncipe, compreende que não pode continuar a exercer seu papel neste
55
pedagógica
Graduação
Doutorado
Formação
Tempo de
Tempo de
Mestrado
docência
Docente
Idade
Sexo
O material das entrevistas foi lido repetidas vezes para que dele emergissem
os símbolos na fala de cada sujeito em sua atuação docente, dando-lhe sentido .
tal exerce uma ação sobre os atores (Pieri, 2002, p. 84). Ele pode ser tecido de
forma circular delimitando um espaço sagrado interno, distinguindo-o do espaço
externo profano ou assumir a forma espiral que aponta para a conjunção de
elementos já existentes distintos e visíveis na direção de um elemento central ainda
não perceptível racionalmente a não ser como algo que transcende as partes” (op.
cit., p. 14).
A pesquisa simbólica contribui por revelar aquilo que está por trás das
palavras, ou seja, busca compreender o que está latente.
“A gente tem de ter experiência profissional, que isto é muito gratificante nos
longos anos de vida; e a teoria e a prática, elas têm de andar juntas. A
teoria é mais importante que a prática, porque você só é você, você só tem
respostas fundamentadas, redondas ou quadradas, quando você tem uma
boa formação teórica, em qualquer área.” (RATATOUILLE)
“Eu comecei a lecionar há uns 4 anos. Nunca tinha atuado na área. Só que
assim, como executivo, no começo de minha carreira eu trabalhei com
treinamento, dentro da empresa, para grupos pequenos. De certa forma, eu
já tinha tido alguma experiência relacionada, e eu achava que eu servia
para a coisa. Surgiu a oportunidade.” (VATEL)
Diante disso, fica claro que o professor aprende ao longo de sua vida inserido
em diversos contextos sociais.
Nunca tinha atuado na área. Só que assim, como executivo, no começo de
minha carreira eu trabalhei com treinamento, dentro da empresa, para
grupos pequenos. De certa forma eu já tinha tido alguma experiência
relacionada, e eu achava que eu servia para a coisa. Surgiu a oportunidade.
Aí vem uma questão muito forte na minha vida. Eu sempre tive muito
sucesso profissional, eu sempre fui muito dedicado àquilo que abracei.
Nunca tinha atuado na área. Só que assim, como executivo, no começo de
minha carreira eu trabalhei com treinamento, dentro da empresa, para
grupos pequenos. De certa forma eu já tinha tido alguma experiência
relacionada, e eu achava que eu servia para a coisa. Surgiu a oportunidade.
Aí vem uma questão muito forte na minha vida. Eu sempre tive muito
sucesso profissional, eu sempre fui muito dedicado àquilo que
abracei.(VATEL)
Paixão. Paixão pelo que eu faço, paixão pelos meus alunos. A cada turma,
eu falo claramente para meus alunos que eu sou apaixonada por eles e que
pela paixão que sinto por eles, eu confio plenamente no sucesso e eu cobro
muito isso deles. Eu sempre digo que o que me move é o amor que sinto
pela profissão que abracei e eu sempre procurei levar para meus alunos a
minha amizade (Martha)
Dom: [do latim donu] S.m. 1. Donativo, dádiva, presente. 2. Dote ou qualidade
natural, inata.
Missão: [do latim mission] S.f. 1. Função ou poder que se confere a alguém para
fazer algo; encargo, incumbência. [...] 5. Obrigação, compromisso, dever a cumprir.
63
Paixão: [do latim passione] S.f. 1. Sentimento ou emoção elevados a um alto grau
de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão. 2. Amor ardente; inclinação
afetiva e sensual intensa.[...] 4. Entusiasmo muito vivo por alguma coisa.
Neste momento a docência que emerge na fala nos relata um significado mais
sonhador do que é ser docente. Cumpre-se aqui a imagem do professor missionário.
Enfim, o discurso do cuidado, do afeto e da vocação, distanciado de questões mais
ligadas às dimensões do profissionalismo e da valorização no mercado do trabalho.
Esse caminho nos leva a dialogar com Alarcão (2004), quando relata que “é
preciso vencer inércias, é preciso vontade e persistência”, e Larrosa(2004) que
relata sobre o professor reflexivo, aqui entendido como “movimento teórico de
compreensão do trabalho docente” (PIMENTA, 2002, p.18), que diz que a
experiência emerge da concepção que um ser tem de sua existência e de sua
essência, relata:
...pensar a experiência a partir da paixão; de uma reflexão do sujeito sobre
si mesmo do ponto de vista da paixão, uma vez que o sujeito da experiência
é um sujeito passional: receptivo, aberto, exposto... Da paixão também se
desprende uma epistemologia, uma ética, uma política e uma pedagogia.
(LARROSA, 2004, p. 24)
Eu converso muito com os alunos. Coisa que toda faculdade que eu fiz eu
nunca tive isso. Eram professores que dominavam os respectivos
conteúdos, mas eram extremamente frios. E eu quando dou uma aula me
esforço demais e o aluno percebe isso. Há uma troca muito grande e não há
dinheiro que pague.(Vatel)
65
Eu ao mesmo tempo que falo com o aluno eu aprendo muito com ele, muito
mesmo. (Ratatouille)
Sendo assim, (...) “as práticas de formação que tomem como referência as
dimensões coletivas contribuem para a emancipação profissional e para a
consolidação de uma profissão que é autônoma na produção dos seus saberes e
seus valores”. (NÓVOA, 1995, p. 27)
oferecia. Então, as coisas aconteceram por acaso, não foi por escolha.
(Babette)
Nos cursos superiores de gastronomia trata-se de uma teoria que deve ser
executada na prática, pois segundo o currículo, as disciplinas são, em sua grande
parte, ministradas num laboratório gastronômico. O relato dos professores, diante
dessa questão faz-se claro.
Mais de prática que teórica. Mas de qualquer forma uma disciplina prática
sempre tem uma introdução teórica. Mas o que eu gosto mesmo é de
disciplina pratica. (Babette)
69
Nesse sentido, Freire (1996) elege uma categoria fundamental para a efetiva
realização da práxis ou de uma nova práxis. Segundo esse autor, a reflexão crítica
sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria-prática, sem a qual a teoria
pode tornar-se “blábláblá” e a prática “ativismo”.
Por fim, um símbolo relatado por um entrevistado, mas que emergiu com
muita força na fala e na formação foi sedução pedagógica. Este símbolo nos
mostrou um momento de prazer ao ser professor.
Eu sou sedutor. Eu seduzo os meus alunos. Eu uso essas qualidades que
eu tenho para seduzir o aluno. O meu interesse não é só cumprir o
cronograma que eu estabeleço no semestre. É óbvio que eu vou cumprir
aquilo tudo. Eu gosto de trabalhar numa escola como a Unitec, que tem um
nível baixo de alunos carentes. Porque eu sinto que posso contribuir mais.
Eu procuro de uma certa forma passar para eles valores de vida,
conhecimento que eu tenho de viagens, de um monte de coisas que eu vi
na vida. Então a aula se torna interessante porque você vai cortando a
monotonia da disciplina com assuntos que você vai trazendo e que vai
chamando a atenção do aluno e vai despertando o aluno para outras coisas.
Tive uma homenagem na Universidade e uma aluna chegou para mim e
disse: - Professor quando alguém muda sua vida é muito importante falar
para essa pessoa. E você mudou a minha vida. Hoje em dia eu to fazendo
um curso de Marketing por causa de suas aulas -. E esse tipo de
depoimento já aconteceu comigo várias vezes. De o aluno se apaixonar por
aquele conteúdo, que isso faz parte de todo esse processo de sedução que
eu faço com a classe. E esse processo eu posso exercitar melhor nas aulas
de História da Gastronomia. Sou muito teatral na sala de aula e os alunos
vibram. O mais importante é você estimular o aluno e fazer ele ir atrás.
Eu converso muito com os alunos. Coisa que toda faculdade que eu fiz eu
nunca tive isso. Eram professores que dominavam os respectivos
conteúdos, mas eram extremamente frios. E eu quando dou uma aula me
esforço demais e o aluno percebe isso. Há uma troca muito grande e não há
dinheiro que pague. (Vatel)
espanto ou até mesmo escândalo. “Como é possível imaginar que uma coisa tão
perversa como essa esteja ocorrendo em nossas salas de aula?” Como é possível
afirmar que os professores lançam mão de um procedimento dessa dimensão?
4. Considerações Finais
Dos quatro professores que fizeram parte desta pesquisa, três não possuem
formação específica para docência e somente um a tem. Dessa forma, se buscou
saber como esses docentes chegaram à docência, o que os mobilizou para ensinar.
Referências
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 3. ed. São
Paulo: Cortez, 2003.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. 16ª ed. Campinas:
Papirus, 1989.
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala.48ª ed. São Paulo: Global, 2006
77
PENIN, Sonia. MARTÍNEZ, Miquel. Profissão docente. São Paulo: Summus, 2009.
T.L.S.: The Times Literary Supplement. London: [Times Newspapers Ltd.], n. 5443,
july/2007. Destaque: Marguerite Duras – “Fear and maternity” by Emilie
Bickerton.
T.L.S.: The Times Literary Supplement. London: [Times Newspapers Ltd.], n. 5447/8,
august/2007. Destaque: J. M. Coetzee – “Initial contacts” by Elizabeth Lowry.
T.L.S.: The Times Literary Supplement. London: [Times Newspapers Ltd.], n. 5452,
september/2007. Destaque: Hannah Arendt – “A people apart” by Steven E.
Aschheim.
T.L.S.: The Times Literary Supplement. London: [Times Newspapers Ltd.], n. 5454,
october/2007. Destaque: “Real antiquity” by Ferdinand Mount.
81
ANEXOS
83
Entrevista 1.
Perfil:
1. Martha
2. Mestre em Educação pela UNIMEP.
Atua na docência há 38 anos, sendo 6 anos no CST Gastronomia.
Disciplina: Didática no curso de Docência em Gastronomia - Pós graduação (Lato
Sensu).
Português para Gastronomia no curso de graduação tecnológica.
Eu acho que não foi uma escolha minha, foi a docência que me escolheu. Eu
comecei muito criança a me dedicar a leitura, me apaixonei pela literatura e por isso
escolhi i curso de Letras. Mas já na infância eu sempre procurava passar para as
outras pessoas tudo aquilo que eu lia. Ali acho que comecei já de certa forma a dar
aulas sobre o que eu lia. Dali para frente foi assim uma coisa tão natural que quando
eu percebi eu estava numa sala de aula. Foi, parece que a vida me encaminhou
para a docência e não uma escolha minha determinada que era o ser professora.
Então me senti professora.
Foi uma preocupação muito grande quando assumi as aulas de língua portuguesa
na Gastronomia em fazer com que os alunos percebessem a importância de falar
corretamente e de escrever corretamente, porque normalmente os alunos,
principalmente na época em que comecei a dar aulas. Os alunos tinham uma
pretensão: queriam aprender a cozinhar. O restante, pra eles, era supérfluo. E eu
me deparei com a seguinte situação: Como um profissional da Gastronomia poderia
elaborar uma receita, dar uma explicação ou treinar os próprios funcionários,
participar de entrevistas? Atualmente é tão comum se ligar a televisão e se ver aí
profissionais apresentando pratos, bem ou não tão bem elaborados, mas eles estão
na mídia. Eu dizia para os meus alunos: - se um dia vocês forem se apresentar num
programa de televisão ou numa entrevista de jornal, uma revista especializada... se
84
cometerem erro de português não digam que eu fui sua professora, porque eu nego.
Se eu quero ensiná-los, eu quero realmente que vocês apliquem. Com essa
preocupação, eu comecei a trabalhar elaboração de cardápios, trabalhando
ortografia, elaboração de receitas, além da ortografia, a elaboração de texto, modo
de preparo era fundamental aí eu tive uma inspiração: eu passei a trabalhar com
eles histórias infantis. Os alunos tinham que ler as histórias, fazer os resumos, aí já
estavam exercitando a leitura e a elaboração de texto. Só que as histórias nem
sempre traziam uma situação de refeição, então neste caso os alunos deveriam criar
uma situação de refeição e elaborar um cardápio para completar o trabalho. E
felizmente foi um trabalho desenvolvido de uma forma tão alegre! Os alunos no inicio
ficaram meio apreensivos, mas depois passaram a desenvolver a atividade de
forma tão espontânea e com tanta alegria e com tanta disposição que os trabalhos
saíram de forma maravilhosa. Nós tivemos um resultado extraordinário. Tanto que
eu tenho os trabalhos guardados e a nossa pretensão é colocar todos num volume.
Vamos ver. Assim que for possível....
Depois disso, eu comecei a dar aulas em escolas do Estado e dar aulas na Grande
São Paulo (dei aula em São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) e depois
em São Paulo mesmo, vim dar aula em ensino médio. Fui me aprofundando, fui me
dedicando muito aos cursos de literatura. Até que também tive um convite para dar
aulas em faculdade, que era nova.
e) Como organiza/ planeja sua prática e no que se baseia? Fale um pouco sobre
sua atuação docente.
85
É meio difícil falar da atuação. Eu sempre digo que o que me move é o amor que
sinto pela profissão que abracei e eu sempre procurei levar para meus alunos a
minha amizade. E os alunos sempre perceberam isso. Até hoje, quando preparo as
minhas aulas, eu procuro, junto com o conteúdo que eu preciso passar, levar algo
que possa acrescentar um pouquinho mais a cada um. Então às vezes comento de
livros que esteja lendo, filmes que tenha visto, músicas que me trazem alguma
mensagem. Textos que eu recebo. Eu acho que isso vai acrescentando não só para
mim. Procuro fazer que os alunos participem disso. Então eu não me limito a
planejar, a preparar apenas o conteúdo propriamente dito, eu procuro sempre
apresentar algo mais que possa trazer alguma contribuição para o aluno profissional
e o aluno pessoa, humano, carente de uma série de coisas. Isso eu tenho a
preocupação muito grande de levar para os alunos.
Paixão. Paixão pelo que eu faço, a paixão pelos meus alunos. A cada turma, eu falo
claramente para meus alunos que eu sou apaixonada por eles e que pela paixão
que sinto por eles, eu confio plenamente no sucesso e eu cobro muito isso deles. Eu
sempre digo que eles são muito capazes e precisam mostrar pra mim e pra que eu
não me frustre também. E eu tenho tido respostas extraordinárias. Eu confio muito
nos meus meninos. Eu acho que é uma troca de muito respeito, de muita admiração.
E acima de tudo de muito carinho. Isso é muito difícil hoje em dia ter dos alunos e
que eles também tenham essas respostas pra gente. Eu faço o possível pra cultivar
isso nos meus meninos.
h) Depoimento espontâneo:
Eu queria elogiar o trabalho, o tema que a Rosana escolheu, porque é uma das
minhas preocupações também. Com a formação de profissionais. De três anos pra
cá, dando aula em curso de docência na Gastronomia, eu vejo como essa área
principalmente tem carência de professores de Gastronomia e não simplesmente
chefes, eles podem ser grandes conhecedores do assunto, ter assim um cabedal de
conhecimentos de receitas, de elaborações, de decomposições de sabores, enfim,
de técnicas todas que eu não domino. Mas infelizmente a educação propriamente
dita é deixada de lado na maior parte das vezes. E isso conta muito na hora de você
dar uma aula, porque os alunos, embora sejam de gastronomia, entram num curso
superior para aprimorar os conhecimentos, mas continuam sendo alunos
necessitando de professores que entendam todas essas necessidades, além do
entendimento propriamente de gastronomia.
Parabéns pra você. Sempre comentamos muito entre nós sobre a importância da
formação do professor, principalmente da formação do professor de Gastronomia.
Fico feliz por ainda participar de uma pesquisa de mestrado.
86
Circundação
a) Seu trabalho em sala de aula é baseado em sua
experiência profissional, em sua experiência experiência
acadêmica ou na sua teoria na área gastronômica? acadêmica
h) Depoimento espontâneo:
Entrevista 2.
Perfil:
1. Babette
2. Especialista em Docência em Gastronomia pela HOTEC.
Atua na docência no CST Gastronomia há 06 anos e 23 anos na área de
restaurantes de coletividade.
Disciplina: Cozinha Brasileira, Cozinha Fria, Cozinha de Criação, Técnicas e
Práticas de Cozinha
e) Como organiza/ planeja sua prática e no que se baseia? Fale um pouco sobre
sua atuação docente.
A gente tem de preencher o plano de ensino, tem de pensar em que forma a gente
vai constituir essa aula. Mas eu vou muito em cima das experiências. O quanto já
cozinhei na vida, quanto participei de cursos. Eu procuro tirar da experiência prática
mesmo. É lógico que tem de fazer consulta em livros, pesquisar um pouco. Mas
91
Circundação:
a) Seu trabalho em sala de aula é baseado em sua
experiência profissional, em sua experiência acadêmica
ou na sua teoria na área gastronômica? Experiência
Rosana, muito mais em experiência profissional, eu fiz um
caminho de primeiro trabalhar em restaurante, para depois
fazer um curso de Gastronomia.
O que me facilita dar aulas hoje em dia é ter tido uma
92
vivência em cozinha.
calcada
experiência
f) Quais as bases que você classificaria como prática.
sustentação de sua prática docente?
Eu gosto muito de ser professora. Eu acho que é uma Gosta de
maneira de não sair da cozinha. Estar na cozinha sem estar ensinar porque
na cozinha. Porque lógico que a “batida” do restaurante é gosta de fazer,
uma “batida” completamente diferente de laboratório. Então laboratório
como eu gosto muito de fazer, eu gosto muito de ensinar. E substitui
tudo que a gente gosta de fazer, gosta que os outros cozinha.
aprendam também.
Então acho que isso que acabei gostando. Depois também
ter feito a pós-graduação, ter convivido com pessoas que são Formou-se
professores há muito mais tempo que eu. Você vai tirando professora com
um pouco de cada um e vai formando o seu lado profissional. base nas
A gente vai se apaixonando de pouco. Como comigo eu não experiências
escolho ser professora, eu me tornei professora você vai como aluna,
aprendendo no dia a dia. observando
Tenho o primeiro professor que tive na faculdade como outros
exemplo, ele era muito rígido, ele falou que me dava tarefas professores
que ele percebia que eu era capaz de cumprir, por isso ele
me puxava. Muito aprendi com ele e tenho ele como espelho
até hoje.
Entrevista 3.
Perfil:
3. Ratatouille
Mestre em Comunicação Social e Relações Públicas pela USP
Atua na docência no CST Gastronomia há 10 anos, tendo como outra atividade
chefe de cozinha e proprietário do restaurante “Na Cozinha”. Ministra aulas também,
como convidado, nos cursos de Pós graduação (Lato Sensu).
forte. Eu ao mesmo tempo que falo com o aluno eu aprendo muito com ele, muito
mesmo. Eu lembro de uma coisa que eu gosto de falar muito e até me emociona
[parada/choro] ninguém valoriza professora primaria. A professora primária é mal
paga, é o pior lugar pra ela. Eu aprendi a ler e a escrever com quatro anos, na minha
casa.
e) Como organiza/ planeja sua prática e no que se baseia? Fale um pouco sobre
sua atuação docente.
Bom, eu sou muito desorganizado. Todo mundo sabe disso. Eu tenho uma
velocidade muito grande. Eu consigo acumular tudo num dia. E hoje me orgulho,
porque sou visto pelos jornalistas como um professor de Gastronomia que usa a
literatura brasileira para falar do porco. Literatura brasileira é muito rica desde a
senzala. Eu tive a oportunidade de escrever um livro recente que chama “Comida é
Arte” e eu falo do milho de todos os elementos que alimentam e deixam à margem.
Eu analiso as obras ligada à gastronomia. As obras são releituras. Um quadro da
Tarsila colocou cebola, cebolinha... Não existe esta cena, porém lembra Tarsila. Foi
desenhado por um aluno e eu me orgulho porque é fruto meu, ele aprendeu a
pensar. O professor tem de saber pensar e fazer os meninos pensarem. Prática é
isso. Eu sou muito desorganizado, mas alinho o pensamento e formalizo. Este
mesmo aluno agora está fazendo um livro sobre Cordel. A cozinha de Cordel.
Aguarde.
Sou uma pessoa extremamente desorganizada, mas eu consigo planejar, dentro da
minha loucura, e as pessoas que me acompanham, conseguem verbalizar aquilo
que eu peço.
descobri muita coisa depois que conclui o mestrado na USP. Não é fácil sair, lá você
aprende de verdade, eles te dão o céu e a terra e você aprende a ser autodidata. E
você se vira, você sabe que a minha paixão é Canclini e Ortiz. E aí eu consegui com
esses dois ter minhas veias escritas na docência.
g) Depoimento espontâneo:
Estudem. Escrevam o que já sabem. Registrem. Busquem conhecimento.
Aproveitem oportunidade. Saibam otimizar este conhecimento e dividir também.
Somar e dividir são muito importantes. Somar, dividir, multiplicar é coisa bem
aritmética, mas são bem importantes, mas isso faz parte do dia a dia da gente.
Lutem pelos seus ideais. Temos muita responsabilidade com esta geração nova.
Eles só querem cozinhar com a barriga no fogão. E a cozinha não é só isso. Eles
dizem que cozinham bem e eu digo que é obrigação. Agora sem técnica... A técnica
é a teoria. O cliente não quer saber se a omelete foi feita com carinho se ela foi
queimada nas pontas. Então eu estou muito orgulhoso do Brasil que já tem grandes
chefes como Mara Sales, Alex Atala, Rodrigo Oliveira, que é um menino e eu, que já
estou velho. Nós todos estamos falando coisas importantes para o país. A teoria da
cozinha brasileira.
Há um erro educacional achar que uma faculdade forma. Eu não acredito em cursos
de 2 anos. O aluno acha que sabe, é teimoso e inconsistente. Então o que falta
neles: teoria.
Circundação:
a) Seu trabalho em sala de aula é baseado em sua
experiência profissional, em sua experiência
acadêmica ou na sua teoria na área gastronômica?
Parabéns Rosana por estar fazendo o mestrado. a teoria e a
Parabéns pela escolha de seu trabalho e parabéns pela pratica, elas tem
pergunta, porque é difícil, pelo menos na minha de andar juntas. A
concepção pessoal, separa estes itens, todos estão teoria é mais
juntos. A gente tem de ter experiência profissional, queimportante que a
isto é muito gratificante nos longos anos de vida; e a pratica, porque
teoria e a pratica, elas tem de andar juntas. A teoria évocê só é você,
mais importante que a pratica, porque você só é você, você só tem
você só tem respostas fundamentadas redondas ou respostas
quadradas, quando você tem uma boa formação teórica, fundamentadas
em qualquer área. redondas ou
quadradas,
quando você tem
uma boa formação
teórica, em
b) Você é docente de disciplina prática, teórica ou qualquer área.
prática e teórica?
Das duas. Quando vou dar aula teórica, eu gosto de dar
junta. Mas as vezes, dependendo da maturidade ou eles são
imaturidade da classe, principalmente em gastronomia deslumbrados
que os alunos são muitos jovens, eles são deslumbrados com a beleza que
com a beleza que é a gastronomia, porque é uma é a gastronomia,
profissão muito bonita. Só que não é bem assim como a porque é uma
mídia “pinta”. A coisa é muito mais pesquisada, é um profissão muito
98
Entrevista 4.
Perfil:
4. Vatel
Especialista em Gerenciamento de Negócios pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing
Atua na docência no CST Gastronomia há 04 anos, e 18 anos como executivo de
multinacionais e empresários.
Disciplina: História da Gastronomia, Empreendedorismo e Marketing
Circundação:
i) Seu trabalho em sala de aula é baseado em sua
experiência profissional, em sua experiência
acadêmica ou na sua teoria na área gastronômica?
j) Por que você escolheu ser professor? como executivo,
no começo de
Eu comecei a lecionar uns 4 anos. Nunca tinha atuado na minha carreira eu
área. Só que assim, como executivo, no começo de trabalhei com
minha carreira eu trabalhei com treinamento, dentro da treinamento.
empresa, para grupos pequenos. De certa forma eu já
tinha tido alguma experiência relacionada, e eu achava
que eu servia para a coisa. Surgiu a oportunidade. Aí vem
uma questão muito forte na minha vida. Eu sempre tive Montou o próprio
muito sucesso profissional, eu sempre fui muito dedicado negócio –
àquilo que abracei. E quando eu era executivo, eu Restaurante
gostava daquilo, ganhei muito dinheiro, viajei muito. Com
26 anos já era gerente, com 34 anos já era diretor da Montagem do
Ericsson e que eu não gostava daquele ambiente de Cardápio, ficha
trabalho, daquela competição nociva, uma série coisas. técnica,
Até que surgiu a oportunidade de eu sair da Ericsson,
montar meu negócio, como sempre gostei de
Gastronomia e aí que as coisas começam fechar, eu
montei um restaurante com um sócio (Carême).
Montamos um negócio do zero, construímos uma marca
durante 3 anos. Toda parte de construção, não só de
cardápio, com ficha técnica, sem nunca ter estudado Restaurante não
Gastronomia eu já entendi a que precisava ter ficha deu certo.
técnica, tinha que ter fator de correção. Tenho tudo salvo
no até hoje no computador.
Toda parte de seleção de cardápio fui que fiz, fui eu que
fui atrás. Muito em função da minha experiência
internacional, que era um restaurante de delivery de
cozinha internacional. Só que é assim, o restaurante não
deu certo, ou melhor, ele tinha um tempo de maturação
do negócio muito longo, por ser só delivery. Por mais que
tivéssemos uma estrutura de custos reduzida, a questão
do delivery onera demais os seus custos. Você tinha que
ter uma base de clientes muito grande para ter um
volume de faturamento relativamente alto para pagar os
seus custos. Por 2 anos e meio com o restaurante aberto,
a gente foi colocando dinheiro todos os meses. E tendo
uma reserva e vendo diminuir, eu e me sócio, tudo bem surgiu a
104
que cada vez punha menos, mas a gente via que não oportunidade de
teríamos fôlego. trabalhar na
Eu querendo vender e meu sócio não. Visão de gestão Unitec, eu vi um
diferente. Conflitos administrativos diários. Até que anúncio no jornal,
chegou um ponto que meu sócio aceitou vender e a gente eles precisavam
praticamente deu o restaurante para o cozinheiro. Ele de professor de
pagou o estoque. Pra minimizar o nosso prejuízo. Um Marketing com
pouco antes disso, mais ou menos uns 6 meses antes, experiência em
surgiu a oportunidade de trabalhar na UNITEC, eu vi um gastronomia.
anúncio no jornal, eles precisavam de professor de
Marketing com experiência em gastronomia. Eu sempre gostei de interagir
gostei de interagir com as pessoas e vem uma coisa com as pessoas
muito espiritual minha. Eu sei que tenho uma missão
aqui, e essa missão é ajudar as pessoas e é muito Docência como
engraçado. Quando tinha 3 anos, meu pai era médico, ele missão
ganhava muita amostra grátis e uma vez ele ganhou uma
amostra grátis de um sedativo que vinha num piãozinho .
Eles deixaram (pai e mãe) a amostra grátis encima de um
armário, saíram e eu fiquei com a empregada. Peguei o
piãozinho e tomei tudo. Entrei em coma em último grau.
No 2ºdia meu pai ligou pra casa, chorando, dizendo que
eu ia morrer. Esse tempo que eu fiquei em coma, eu tive Sou professor de
uma viagem. Eu fui pra uma outra dimensão, eu poderia disciplina teórica.
ter morrido, se eu quisesse, eu não morri porque eu não
quis. Eu tenho essa missão de ajudar o próximo.